segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica - Sob a Pele (2013)

Título: Sob a Pele ("Under the Skin", EUA / Reino Unido / Suiça, 2013)
Diretor: Jonathan Glazer
Atores principais: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Adam Pearson

Em filme lento e angustiante, a nudez de Scarlett fica em segundo plano

Sob a Pele é apenas o 3º filme do diretor inglês Jonathan Glazer, de 49 anos, que começou sua carreira na direção chamando atenção com Sexy Beast (2000), que chegou a ter uma indicação a Oscar. Misturando drama, terror e ficção científica, Sob a Pele é um daqueles filmes preconceituosamente chamados de "filme de arte", e certamente seria ignorado pelo grande público se não fosse por um detalhe: trazer a nudez total de Scarlett Johansson, assunto que "bombou" na Internet. E olhe que apesar de toda a repercussão, mesmo assim o filme veio ao Brasil em poucas salas. Por exemplo, em Campinas-SP onde moro, há mais de 50 salas de cinema e Sob a Pele só foi exibida em uma delas. Por 5 dias.

Se serve de consolo, as pessoas que iriam aos cinemas pelas cenas de nudez sairiam decepcionadas. Scarlett é belíssima, sem dúvida, mas suas cenas sem roupa são curtas, muito mais tensas do que sexy, e ainda, não são exatamente o foco do filme. Ah, mas não são cenas gratuitas. Elas se encaixam perfeitamente no contexto do filme.

Na história - levemente baseada num livro de Michel Faber de mesmo nome - Scarlett Johansson é uma alienígena recém chegada à Terra, e que utiliza beleza e sedução para atrair vítimas masculinas para sua casa, onde são mortas e cuja carne é aparentemente levada ao seu planeta de origem (o destino dos corpos não é claramente explicado, como muita coisa no filme também não é). Ela é auxiliada por um motociclista (Jeremy McWilliams), também alienígena, que também observa/avalia de longe seu trabalho.

O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira é onde vemos a personagem de Scarlett à caça. Ela escolhe homens solteiros, sozinhos, cujo "sumiço" passaria despercebido. Já aí temos uma interessante análise humana. Pois algumas de suas vítimas se interessam por ela, outras não, algumas são supérfluas, outras não.

Então acontece algo imprevisto: a alienígena encontra como presa um jovem portador de neurofibromatose, que possui um rosto inflado e deformado. Solitário, impossibilitado de qualquer contato com mulheres devido sua doença, algo faz a personagem de Scarlett questionar suas ações, o que a leva a libertá-lo imediatamente antes de seu assassínio. Curiosamente, o ator que faz este papel, Adam Pearson, realmente possui a deformidade. O que vemos não é maquiagem, e sim, seu rosto verdadeiro, fato que torna o filme ainda mais comovente.

É então que entramos na segunda e última parte, onde a alienígena precisa fugir do seu ex-comparsa e, ao mesmo tempo, começa a "descobrir" seu corpo humano, passando por experiências distintas durante sua fuga. De caçadora, ela se torna a presa. E em vários níveis. Então acompanhamos sua jornada até ao marcante desfecho.

Extremamente lento, praticamente sem diálogos, mas dando bastante destaque para a fotografia e trilha sonora, Jonathan Glazer filma de uma maneira que fica no meio termo entre Stanley Kubrick e Lars Von Trier. É uma câmera, digamos, contemplativa. De certa maneira, vemos o mundo ao redor com o mesmo estranhamento da personagem principal, a alienígena de Scarlett, que aliás atua bem, mas não a ponto de impressionar.

Um pouco perturbador, Sob a Pele definitivamente não é o filme que agrada o grande público, mas que apesar da trama simples, tem seus méritos pela experiência sensorial e, principalmente, por nos levar a questionar a natureza humana, e também, o eterno conflito da beleza interior vs beleza exterior. Nota: 7,0

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