A espera acabou! Depois de muita expectativa e material promocional, foi data a largada para a nova fase da DC Comics nos cinemas, agora capitaneada por James Gunn. E já começo parabenizando ele, diretor e roteirista deste Superman, pelo fato de que apesar da divulgação de trailers com 100% de cenas reais do filme (sendo um deles uma versão estendida de 5 minutos), ter me surpreendido bastante com a trama apresentada, bem diferente do que eu imaginava.
A história começa com letreiros... ficamos sabendo que há 3 semanas atrás o Superman (David Corenswet) impediu a Borávia de invadir Jarhanpur (duas nações fictícias), e que neste momento ele acaba de sofrer sua primeira derrota em batalha. E então começam as imagens: o vemos, já muito machucado, na Antártida se arrastando até a Fortaleza da Solidão para se recuperar. Não demora muito para descobrimos que Lex Luthor (Nicholas Hoult) está por trás de tudo isso...
James Gunn traz em seu roteiro, como motivações de Luthor para derrotar Superman, uma soma de narcisismo com xenofobia com oportunidade de enriquecer a qualquer custo. E o faz de maneira muito bem feita, também traçando paralelos com a vida real, especialmente com Trump e a extrema direita estadunidense. Portanto, há um casamento perfeito quando Lex usa tantas vezes a palavra "alien" em seus discursos de ódio (mesma palavra que Trump usa atualmente para descrever imigrantes ilegais), e há também um destaque em Luthor manipulando as mídias sociais com "robôs" e desinformação.
E por falar em mídias sociais, antes que vocês sejam enganados pelas mídias sociais do mundo real, as críticas que Superman faz à extrema direita são de fato as mais explicitas que já vimos em um filme até hoje. Porém, param no parágrafo que escrevi acima. Como um todo, politicamente, o filme é até "bem comportado". Ele não procura se envolver em polêmicas. "Ah, mas ele é claramente anti-guerra e mostra os empresários ricos como malvados"... Sim. As histórias do Superman são assim desde seu nascimento, há mais de 80 anos atrás... Então falar que o filme é "woke" e etc é puro mimimi...
Superman também traz bons efeitos especiais e boas lutas, mas... são bem menos lutas do que eu esperava. A que mais gostei sequer teve a participação do Homem de Aço, aliás... foi uma luta solo do Senhor Incrível (Edi Gathegi). Também para minha surpresa - por se tratar de um filme de James Gunn, o filme poucos momentos cômicos. Inclusive, o primeiro terço do filme é psicologicamente bem tenso, o que imagino deverá causar um certo incômodo em boa parte do público que, sendo fã de filmes de super-heróis, não está acostumado com isso.
Falando de atuações e personagens, enfim temos Lex Luthor digno! O personagem é bem escrito, e a atuação de Nicholas Hoult é muito boa! Já o Superman... David Corenswet não é lá um grande ator, mas pelo menos agora vemos de volta um Super-Homem que é bondoso e ingênuo; eu gostava de Henry Cavill no papel... mas na verdade a versão de Zack Snyder para o Superman era infelizmente um personagem de muita ação com poucos sentimentos ou profundidade. E Lois Lane (Rachel Brosnahan): a atriz também está muito bem no papel; já a personagem é... diferente do que estamos acostumados a ver nas últimas décadas. Ela é inteligente como sempre, porém ao invés de enérgica e falante, vemos uma Lois um pouco mais introvertida e sábia.
Encerrando os pontos fortes do filme, Superman também consegue trazer bons momentos emotivos, trabalhando bem os momentos heróicos, os momentos "família", e os momentos românticos.
Mas... o filme também tem seus problemas. E não são poucos. Para começar, a trama em Superman é um pouco confusa e pouco coesa. Por exemplo, as cenas emocionantes e as ótimas atuações que elogio nos dois parágrafos acima... elas nem sempre se encaixam; o filme peca bastante pela falta de ritmo. É como se individualmente, Superman fosse bem sucedido em nos transmitir seu otimismo e esperança; porém no filme como um todo, não. Falta harmonia.
Eu imagino que parte da "culpa" por este desarranjo é que assim como o filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), este aqui também teve que em paralelo apresentar novos personagens e iniciar um novo universo. Por isso mesmo que além do Superman, aqui também temos mais 4 super-heróis (Mulher Gavião, Lanterna Verde, Senhor Incrível e Metamorfo). O filme consegue ser bem sucedido ao dar um bom destaque a muitos de seus vários personagens, inclusive seus vilões. De qualquer forma, aqui tivemos o clássico "mais é menos".
Também entendo que há um grande exagero nas tecnologias desenvolvidas por Lex Luthor. Elas são tão avançadas que sinceramente fica difícil acreditar que o Superman, ou qualquer outro herói, poderia derrotá-lo. Outros problemas: as lutas que ocorrem dentro do "universo de bolso" são péssimas, não fazem sentido e mal dá para se enxergar alguma coisa; ao longo de todo o roteiro temos várias "pequenas cenas" que só foram inseridas para criar efeito cômico ou heróico e são bem pouco críveis... só dá mesmo para dar um desconto porque, afinal, estamos falando de um filme de um super-herói de quadrinhos.
Somando prós e contras, o saldo de Superman é positivo. Um bom filme, que resgata os conceitos clássicos do herói, e se faz relevante por, ao mesmo tempo, dar um importante recado político e por ser um promissor pontapé para o novo universo de heróis da DC nas telonas. Nota: 7,0.
PS: o filme possui duas cenas pós créditos. A primeira, já em seu começo, dura apenas alguns segundos e é mais um "pôster" do que uma cena propriamente dita; já a segunda, ao final de tudo, é uma cena cômica que sinceramente, não valeu toda a espera.
PS2: Superman faz algumas citações à Supergirl que são referência direta ao que acontece na excelente HQ Supergirl: Mulher do Amanhã, que já elogiei aqui no blog algumas vezes. Lembrando que o filme da Supergirl, que está previsto para 2026, originalmente também se chamava Supergirl: Mulher do Amanhã, mas agora foi reduzido oficialmente para apenas "Supergirl". Ainda assim, a referência aumenta a minha esperança para que o futuro filme tenha sim muito desta ótima obra. Fico na torcida.