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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Crítica Netflix - O Poço 2 (2024)

Título: O Poço 2 ("El Hoyo 2", Espanha, 2024)
Diretor: Galder Gaztelu-Urrutia
Atores principais: Milena Smit, Hovik Keuchkerian, Natalia Tena, Óscar Jaenada
Nota: 6,5

Bem pior que o primeiro, bem melhor do que estão avaliando

O dinheiro move a humanidade. Então, claro, cinco anos após o surpreendente filme espanhol O Poço, sucesso de crítica e audiência, a Netflix lança sua continuação O Poço 2, mantendo mesmo diretor e roteiristas, porém agora com outra história e elenco.

Se o primeiro filme criticava brilhantemente a divisão da nossa sociedade em uma hierarquia verticalizada, O Poço 2 até mantém seu propósito de crítica social, porém de um jeito menos inspirado. Os temas, entretanto, são outros. Agora a denúncia é mais direcionada a regimes autoritários, principalmente ao mostrar como as pessoas perdem completamente sua humanidade ao seguir cegamente leis destes sistemas.

Se em O Poço temos prisioneiros vivendo em algo muito próximo do caos, vemos que aqui em O Poço 2 os detentos se auto organizaram, criando um sistema de leis muito rígido, onde cada pessoa pode comer apenas sua própria comida. E em caso de desobediência, a punição é aplicada com violência extrema...

O Poço 2 têm uma grande desvantagem que é a de só fazer sentido caso você tenha assistido o primeiro filme (e isso meio que acontece com esta minha crítica, em menor escala). E ainda comparando com o filme anterior, aqui os personagens recebem bem menos desenvolvimento, com apenas 3 deles recebendo alguma atenção, com destaque mesmo apenas para a protagonista Perempuán (Milena Smit).

Mas talvez o ponto mais fraco de O Poço 2 é o como a fome se tornou um aspecto irrelevante no filme. Se em O Poço nos desesperamos junto com os personagens, aqui parece que ficar um mês sem comer e sobreviver é algo normal...

A parte final da história mais uma vez é dúbia, deixando em aberto se tudo o que vimos é uma experiência "pós morte" ou algo real. Para ser sincero (ver meu PS no final deste artigo), O Poço 2 pende ainda mais para um "Purgatório" do que o primeiro filme (já pararam para pensar que o poço ter 333 andares - metade de 666 - é coincidência demais?).

De qualquer forma, por mais que O Poço 2 seja um "caça-níquel" da Netflix, ao final percebemos que ele foi feito para ser um "par" do primeiro filme, e o expande não em sua mitologia ou qualidade, mas em suas críticas sociais. Reitero o subtítulo que coloquei no começo deste artigo: O Poço 2 está abaixo do filme anterior, mas é melhor do que está sendo avaliado por aí e, para quem gostou do primeiro, ainda vale a pena não deixar passá-lo. Nota: 6,5.



PS - mais sobre o final do filme (vários spoilers - leia por sua conta): aquilo que vemos, da existência de uma sala só com dezenas crianças, onde uma é escolhida dentro de um ciclo e colocada sempre no último andar para potencialmente ser levada a superfície, para mim é irreal demais, é quase como uma "prova" de tudo ser um "pós-morte". Outro ponto: a presença em O Poço 2 de alguns personagems de O Poço, em especial Goreng (protagonista do filme anterior), Trimagasi, Imoguiri e Baharat, nos revela de maneira surpreendente que este novo filme na verdade ocorre temporalmente ANTES do primeiro.

domingo, 10 de novembro de 2024

Crítica - Megalópolis (2024)

Título
Megalópolis ("Megalopolis", EUA, 2024)
Diretor: Francis Ford Coppola
Atores principais: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire, Grace VanderWaal, Dustin Hoffman
Nota: 5,0

 Um caótico épico que se transformou em manifesto

Embora tenha chegado em poucas salas no Brasil (mas não tão poucas assim) Megalópolis está entre nós! (e já no meio da sua segunda semana!). A tão polêmica obra autoral e megalomaníaca de Francis Ford Coppola, que durou 4 décadas para ser concluída (clique aqui para saber um pouco mais de sua história), estreou em terras nacionais em 31 de Outubro.

Na trama, que se passa no atual Século 21, somos apresentados à gigantesca Nova Roma, que apesar de ter um prefeito - o conservador Frank Cicero (Giancarlo Esposito) - tem status de país. Também em Nova Roma reside Cesar Catilina (Adam Driver), um arquiteto futurista que também é uma espécie de "Ministro do Design" (em termos de arquitetura). A dupla, com suas idéias totalmente opostas, acaba se envolvendo em constantes brigas, ao mesmo tempo que o povo já está bastante insatisfeito com Cicero, mas também não confia muito em Cesar. Para "apimentar" ainda mais a situação, Julia Cicero (Nathalie Emmanuel), filha do prefeito, começa a trabalhar com o arquiteto e se apaixonar por ele. E Clodio Pulcher (Shia LaBeouf), um invejoso primo de Cesar, começa a planejar para destruir o arquiteto e tomar seu poder.

Todo o começo acima parece bem... romano. E de fato, não à toa, quando Coppola teve as ideias iniciais para seu filme no comecinho dos anos 80, seu objetivo era fazer um paralelo entre a queda do Império Romano com uma futura queda dos EUA transportando para uma Nova York atual a história da Conspiração Catilinária (onde, olhem só... o senador romano Lúcio Catilina arquiteta um complô contra o então cônsul Cícero).

Porém, a impressão que tenho é que depois que Megalópolis nos contextualiza em seu universo, que mistura nosso mundo com o romano, boa parte dos seu conceitos originais são esquecidos. E então o desfecho do filme foi transformado em um recado de Coppola pensando nas aflições atuais... coisas que ele só poderia estar pensando quando ele efetivamente começou a filmar o que foi agora para os cinemas, ou seja, a partir de 2022. Pois por exemplo, temos um personagem vítima de edição de imagem; ou uma pessoa que não é da política se candidatando e dizendo não ser nem de direita nem de esquerda... sendo "do povo" (hummm... em que eleição recente eu vi isso mesmo?).

Esqueça esse pano de fundo romano... até temos algumas intrigas aqui, um bocado de Romeu e Julieta ali, mas o que Megalópolis realmente fala é que a democracia falhou, a tecnologia atual falhou, o capitalismo falhou... em suma, a sociedade humana atual falhou como um todo.

E o mais interessante, não vemos nem um Cícero ("da direita") nem um Cesar ("da esquerda") serem maus... a mensagem de Coppola é que não é mais possível que eles melhorem o mundo na atual sociedade, mesmo que eles queiram. E qual a solução apontada por Megalópolis? Um vago e utópico "tecnologia e arte".

Pois é, o desfecho de Megalópolis é um verdadeiro manifesto, com Cesar declamando coisas do tipo "a sociedade corrompe" seguido de "o homem é bom", e que devemos abandonar o passado e pensar só no futuro... tecnologias novas, artes novas, idéias novas, tudo novo. De fato, na teoria tudo maravilhoso. Mas não há nenhuma explicação prática para como se ao menos começar a fazer isso. É apenas otimismo, e mais nada.

Inclusive, tudo indica que Coppola realmente não tem a menor idéia de como seria este mundo do futuro, já que vimos muito pouco da tal Megalópolis de Cesar no filme... apenas alguns esboços de idéias, imagens genéricas de prédios "diferentões"... ou demonstrações que parecem mais magia que ciência. De "prático" mesmo só uma versão de luz daquelas esteiras móveis que já temos nos aeroportos. O senhor Francis Ford se mostra bem ruim em Ficção Científica...

Como filme, Megalópolis tem bons momentos, sejam de espetáculo visual, de boas atuações, mas igualmente, tem momentos péssimos, várias cenas desconexas e/ou outras sem nenhum sentido, em especial as que contém os "delírios mentais" de Cesar.

Como resultado final, não deixa de ser admirável que Coppola queira ter deixado como seu "último legado" (já que este pode ter sido seu último filme) uma obra com trechos visualmente memoráveis, uma narrativa incomum, e com um importante e ousado alerta apocalíptico dele para a humanidade, mostrando que ele se preocupa com nosso futuro (e tenha gasto mais de 100 milhões de dólares próprios para isso). Por outro lado, ao mesmo tempo Megalópolis é uma obra caótica, meio prepotente, desnecessariamente longa, difícil para assistir, e que entra na lista de trabalhos mais fracos do diretor. Nota: 5,0.


PS: Segundo Coppola, uma das inspirações para o personagem arquiteto Cesar e suas idéias dentro do filme vieram da cidade de Curitba e do ex-governador do Paraná, Jaime Lerner, que governou o estado entre 1994 e 2002. O diretor estadunidense esteve em Curitba em 2003 e ficou impressionado com as soluções diferentes para mobilidade urbana e sustentabilidade que encontrou no local.

sábado, 26 de outubro de 2024

Crítica - Tipos de Gentileza (2024)

Título
Tipos de Gentileza ("Kinds of Kindness", EUA / Grécia / Irlanda / Reino Unido, 2024)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principais: Emma Stone, Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Yorgos Stefanakos, Hong Chau, Joe Alwyn, Mamoudou Athie, Hunter Schafer
Nota: 5,0

Yorgos encerra sua Lua de Mel com o público

2024 começou muito bem para o diretor grego Yorgos Lanthimos, já que mesmo com seu Pobres Criaturas não levando o Oscar de Melhor Filme, a produção teve 11 Indicações, venceu 4 Estatuetas, agradou muita gente, ganhou bastante atenção da mídia mundial, e enfim o fez ter bom reconhecimento. Então, o fato dele ter um novo filme - Tipos de Gentileza - estreando poucos meses depois da premiação, certamente despertou a curiosidade de todos.

Porém... os filmes de Yorgos Lanthimos sempre foram BEM estranhos. Acontece que Pobres Criaturas trazia bastante humor e dialogava diretamente com o empoderamento feminino, duas características que ajudaram seu filme ficar popular. Mas Tipos de Gentileza não traz nenhum destes dois aspectos, e então, seu novo filme volta a ser uma obra... "apenas" estranha.

Imagino que tanto Yorgos quanto seus produtores já tinham receio de Tipos de Gentileza podia não receber boa aceitação do público, já que o enredo do filme sempre foi tratado com bastante segredo. O próprio trailer do filme, como se vê no link acima, não nos revela nada. E de fato, Tipos de Gentileza foi mal de bilheteria, e chegou rapidamente nos streamings: no caso do Brasil, está na Disney+ / Star+.

Tipos de Gentileza, na verdade, são três histórias distintas, sem qualquer relação entre elas, com os mesmos atores interpretando diferentes personagens em cada uma das três tramas. Ok, há uma tênue ligação entre as três histórias, o mesmo personagem secundário R.M.F. (interpretado por Yorgos Stefanakos) está presente em todas elas (e inclusive ele aparece citado no título das três), mas é só.

Na primeira história, temos Willem Dafoe fazendo um personagem que controla nos mínimos detalhes a vida de um submisso personagem interpretado por Jesse Plemons. A segunda, na minha opinião de longe a pior de todas, é meio que um conto de terror onde Jesse Plemons interpreta um policial que acredita que sua esposa, interpretada por Emma Stone, foi substituída por uma impostora.

Finalmente, na terceira e última trama, os personagens de Jesse Plemons e Emma Stone são integrantes de uma seita lideradas pelos personagens de Willem Dafoe e Hong Chau, sendo que a primeira dupla está em busca de uma jovem que foi profetizada capaz de ressuscitar os mortos. Esta é a melhor das três narrativas, e talvez por ter um final bem interessante, acabe deixando na platéia uma "última impressão" de que o filme foi melhor do que ele realmente é.

Difícil entender porque o filme se chama Tipos de Gentileza sendo que nenhum personagem de nenhuma história demonstra qualquer gentileza em qualquer momento. Todos são frios e egoístas, o que torna uma experiência ainda mais difícil para o espectador conseguir gostar do que viu. As três histórias, como disse no começo deste artigo, são bem "estranhas". E isto desperta a constante curiosidade de quem assiste, e claro, é uma qualidade. Mas não passa disso, não há profundidade ou alguma lição a aprender aqui. Um possível tema comum para os três contos é que eles são protagonizados por pessoas que estão emocionalmente perdidas, e buscam a felicidade / realização apenas no outro.

O melhor de Tipos de Gentileza acaba sendo sua fotografia, outra qualidade bastante comum nos filmes deste diretor. Resumindo, diria que o filme não é bom nem ruim; é sim "diferente" e um pouco difícil de assistir, principalmente em seu começo. E isso é muito pouco para uma obra que reuniu novamente Yorgos Lanthimos e Emma Stone poucos meses depois de termos visto o ótimo Pobres Criaturas. Nota: 5,0.

sábado, 12 de outubro de 2024

Crítica - Coringa: Delírio a Dois (2024)

TítuloCoringa: Delírio a Dois ("Joker: Folie à Deux", Canadá / EUA, 2024)
Diretor: Todd Phillips
Atores principais: Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson, Catherine Keener, Zazie Beetz, Steve Coogan, Harry Lawtey, Leigh Gill, Jacob Lofland, Sharon Washington
Nota: 5,0

Filme entrega tudo o que seu público não queria

Cinco anos depois do excelente primeiro filme, o diretor Todd Phillips e o ator Joaquin Phoenix retornam com Coringa: Delírio a Dois. O título dá indícios de que não será apenas uma continuação, e sim, uma nova história dividindo o protagonismo com a personagem "Arlequina" interpretada pela cantora Lady Gaga, tanto é assim que o filme foi anunciado como "mais ou menos musical".

Na história, continuação imediata do filme anterior, vemos um deprimido Arthur Fleck / Coringa (Joaquin Phoenix) preso no Asilo Arkham pelos seus crimes, onde é frequentemente zombado pelos guardas. Porém, em dado momento, ele conhece a também detenta "Lee" Quinzel (Lady Gaga) - em nenhum momento ela é chamada de Arlequina no filme - que se mostra estranhamente aficionada por ele. Não demora muito para que Arthur se apaixone obcecadamente por ela, que por sua vez, retribui. Em meio a tudo isso, o promotor público Harry Lawtey (Harvey Dent) resolve submeter Arthur à pena de morte. E com isso, ele enfrenta um julgamento público para decidir seu destino.

Coringa: Delírio a Dois até começa bem, e seus segmentos musicais fazem sentido, pois não só refletem os delírios dos personagens do Coringa e "Arlequina", como também representam de modo adequado o sentimento de estar apaixonados.

Porém, quando o filme chega na parte do julgamento no tribunal, ele piora muito rapidamente, em tudo. No caso especificamente das cenas musicais, que já cansaram o espectador pelo excesso, pouca variação, e qualidade duvidosa, vão ficando cada vez mais desassociadas com o enredo do filme, o que é bem decepcionante e irritante. Ah, e a maneira como o julgamento termina é péssima, muito inverossímil. Um Deus ex machina de fazer chorar.

Em termos técnicos, o melhor de Coringa: Delírio a Dois é a sua fotografia, mantendo o nível do filme anterior, e talvez até o superando. Nas atuações, Lady Gaga não compromete e Joaquin Phoenix está muito bem... mas me pergunto: o que seria dele atuando neste filme sem o cigarro? Ele passa uns dois terços do filme fumando... é um artifício até meio constrangedor... Isso sem contar que, sendo ele um detento, é completamente absurdo imaginar que ele teria tanto acesso a tanto cigarro como seu personagem tinha no filme.

Não vou contar aqui o desfecho de Coringa: Delírio a Dois, mas ele me lembrou imediatamente de duas franquias dos cinemas. A primeira foi Tropa de Elite, por fazer um segundo filme para "explicar para o público que tudo que ele entendeu no primeiro filme estava errado". E a segunda foi Matrix, cujo detestável quarto filme propositalmente quis desconstruir muito do que foi feito na trilogia original.

As diferenças desse Coringa 2 para Matrix 4 é que em Matrix, Lana Wachowski quis humilhar tanto o estúdio quanto seu público. Já em Coringa, acho que foi mais culpa dos egos de Todd Phillips e Joaquin Phoenix mesmo... porém, a desconstrução feita aqui foi ainda maior: definitivamente este Coringa de Coringa: Delírio a Dois não é o Coringa dos quadrinhos, contrariando o filme anterior, que se esforçava, ainda que de maneira um pouco hesitante, manter certa coerência com as HQs.

Como um todo, se pensarmos no filme como a história de um romance de duas pessoas perturbadas, ele não é ruim. A trama chega até ser boa. Porém - e são muuuuitos poréns - Coringa: Delírio a Dois nega tudo o que fez o primeiro filme ser ótimo, é lento, longo, e bastante chato de assistir. Promete ser uma história de Coringa e Arlequina mas pouco lembra estes personagens. Resumindo, é um filme que nunca deveria ter existido, e mais um que infelizmente mancha a reputação do universo cinematográfico da DC. Nota: 5,0.


PS: o filme não tem cenas pós-créditos, mas curiosamente tem um breve desenho animado (sobre o Coringa) antes de começar.

sábado, 28 de setembro de 2024

Crítica Netflix - As Três Filhas (2023)

Título
: As Três Filhas ("His Three Daughters", EUA, 2023)
Diretor: Azazel Jacobs
Atores principais: Carrie Coon, Natasha Lyonne, Elizabeth Olsen, Rudy Galvan, Jovan Adepo
Nota: 8,0

Um relato atual e emocionante sobre vínculos famíliares

As Três Filhas é um drama estadunidense de produção independente que, após ser ter sido exibido (e muito bem recebido) no Festival Internacional de Toronto de 2023, teve os direitos de distribuição mundiais comprados pela Netflix.

A história mostra o reencontro de três irmãs bem diferentes: a "controladora" Katie (Carrie Coon), a "espiritual" Christina (Elizabeth Olsen), e a "desajustada" Rachel (Natasha Lyonne), que se reúnem no apartamento desta última para passar os últimos dias com o pai, já em cuidados paliativos devido ao câncer.

A angustiante situação da iminente perda do pai, somado ao aparente descaso de Rachel faz com que as irmãs entrem rapidamente em conflito, principalmente um Katie versus Rachel. Mas com o passar da história, vemos que nem tudo é o que parece.

O trio de atriz principais está muito bem e é um grande atrativo para As Três Filhas. Porém, o roteiro também é muito bom. É particularmente interessante constarmos que mesmo elas sendo irmãs, e que no fundo se amem e se importem umas com as outras, mal têm contato no dia-a-dia, e mal conseguem se relacionar entre elas, mais brigando do que qualquer outra coisa. Um triste retrato do mundo atual, onde vivemos na correria, atolados em nossos próprios problemas, e cada vez mais perdemos a capacidade de demonstrar nossos sentimentos, ou de pensar em alguém fora de sua casa, sejam outros familiares ou amigos.

E o desfecho de As Três Filhas dá uma resposta-alerta bem clara para esta falta universal de amor que vivemos, de modo emocionante, mas sem ser piegas. Para um filme que injustamente foi pouco divulgado dentro da Netflix, mesmo tendo três atrizes conhecidas, esta é uma pérola escondida que não deve ser ignorada. Nota: 8,0.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Crítica - Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice (2024)


Título
Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice ("Beetlejuice Beetlejuice", EUA, 2024)
Diretor: Tim Burton
Atores principais: Michael Keaton, Winona Ryder, Catherine O'Hara, Jenna Ortega, Justin Theroux, Willem Dafoe, Monica Bellucci, Arthur Conti
Nota: 7,0

Besouro Suco está de volta, e melhor que no filme original!

Demorou 36 anos, mas ele voltou! O fantasma (ou seria "demônio"?) Beetlejuice (ou  Besouro Suco se você assistiu a versão dublada da Sessão da Tarde) retorna aos cinemas com o diretor Tim Burton e boa parte do elenco original.

Para compreender e se divertir com este Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice, não é obrigatório ter assistido o filme inicial de 1988, MAS para aproveitá-lo de verdade, é bastante recomendável que você o faça.

Para quem não sabe do que se trata, neste filme clássico o casal Adam e Barbara Maitland sofrem um acidente e morrem precocemente, ficando com suas "almas" presas a mansão onde moram. Então, chegam os novos moradores, a família Deetz: o empresário Charles (Jeffrey Jones), sua filha adolescente gótica e depressiva Lydia (Winona Ryder), e sua nova esposa Delia (Catherine O'Hara), que se considera artista e é a madrasta de Lydia. Com Delia querendo reformar totalmente a mansão e destruir tudo o que os Maitland construíram, o finado casal resolve convocar o maluco fantasma Beetlejuice (Michael Keaton) para afugentar a família humana. Porém, não apenas este fantasma é completamente fora do controle, como ele decide casar a força com Lydia. Arrependidos, Adam e Barbara Maitland se unem a Lydia para derrotá-lo.

Do primeiro filme, retornaram os personagens de Lydia (Winona Ryder), a madrasta Delia (Catherine O'Hara), e claro... Beetlejuice (Michael Keaton). Para mais detalhes do motivo dos demais protagonistas não terem retornado, leia meu P.S. no final do texto. Juntaram-se ao elenco Jenna Ortega fazendo o papel de Astrid Deetz, filha de Lydia, e outros vários personagens. Na trama desta continuação, eventos levam a família Deetz (Delia, Lydia e Astrid) retornarem após muitos anos à mansão do primeiro filme. E lá Astrid acaba se envolvendo em um grande perigo fantasmagórico... quem poderá ajudá-los? Besouro Suco!

Antes de começar a crítica em si, um alerta. Apesar de Os Fantasmas Ainda se Divertem 2 ser uma comédia (e bem divertida aliás), ela tem humor mórbido e algumas cenas com corpos dilacerados. Portanto, NÃO é um filme para crianças. Sua indicação oficial é para maiores de 14 anos. E eu recomendo fortemente para apenas maiores de 12 anos.

Enfim dando minha opinião sobre o novo Os Fantasmas Ainda se Divertem... em geral as continuações são piores né? Felizmente não é o que acontece aqui. Este novo filme supera o anterior em todos os aspectos, trazendo uma história mais elaborada, com mais reviravoltas e piadas, e um elenco mais numeroso e talentoso. O roteiro ainda expande melhor a mitologia deste universo, por exemplo explicando outros destinos possíveis do pós vida além do ficar sendo fantasmas...

Outro ponto positivo é o Design de Produção, todo o visual, cenários, são extremamente parecidos ao filme original, inclusive os efeitos especiais, o que aliás foi uma "exigência" de Michael Keaton para voltar a franquia. Segundo palavras do ator, ele só toparia voltar se "o uso de CGI, a tecnologia usada para criar imagens e auxiliar nos efeitos especiais, fosse o mínimo possível". E de fato, a maior parte dos efeitos é realizada com stop motion, assim como o filme da década de 80. Porém aqui eles são feitos com uma qualidade bem superior.

Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice não é perfeito, entretanto. Por exemplo, ainda que ele explique um pouco alguns conceitos do filme anterior durante a história, para ajudar os novatos na franquia, eu entendo que ele deveria ter feito isso mais vezes e de modo mais claro. Outro aspecto contestável é o personagem interpretado por Monica Bellucci. É verdade que sua presença contribui para o desenvolvimento do próprio Beetlejuice e de outros personagens coadjuvantes; porém ao mesmo tempo, sua presença parece descolada daquele universo.

Ainda que tenha uma história sem se desviar da fórmula usada para os filmes do gênero, felizmente revemos em Os Fantasmas Ainda se Divertem - Beetlejuice Beetlejuice aquele humor meio "maluco" meio "bizarro" de Tim Burton, que embora até estivesse razoavelmente recente em nossas memórias graças ao seu seriado Wandinha, nos cinemas já estava ausente há muitos anos. Reitero que o filme é bastante divertido, principalmente se você tiver assistido o filme anterior.

Por enquanto o público tem aprovado a volta de Besouro Suco e o novo Beetlejuice Beetlejuice já é uma das maiores bilheteiras do ano. Ótima notícia. Estamos todos merecendo nos distrair / rir um pouco. Nota: 7,0.


PS: segundo Tim Burton, os personagens Adam Maitland (Alec Baldwin) e Barbara Maitland (Geena Davis) não estão no novo filme simplesmente porque ele gostaria de focar a história apenas na família Deetz, explorando a relação de três gerações presente naqueles personagens. Já o personagem de Charles Deetz (Jeffrey Jones) que é citado a todo momento mas nunca aparece, foi preso em 2003 por estar em posse de pornografia infantil. Embora já tenha saído da prisão, hoje o ator vive recluso e aposentado.

domingo, 8 de setembro de 2024

Crítica - Hellboy e o Homem Torto (2024)

Título
Hellboy e o Homem Torto ("Hellboy: The Crooked Man", Alemanha / EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Brian Taylor
Atores principais: Jack Kesy, Martin Bassindale,Jefferson White, Adeline Rudolph, Joseph Marcell, Leah McNamara, Hannah Margetson
Nota: 6,0

Hellboy abraça o Terror, mas terá dificuldades para encontrar seu público

Hellboy está de volta aos cinemas. Em seu quarto filme, e em seu segundo reboot. Dentre todos eles, é o filme de produção mais barata e com maior envolvimento do criador de Hellboy, o quadrinista Mike Mignola. E conforme eu já havia avisado mês passado, desta vez ele volta com um filme de terror.

A história de Hellboy e o Homem Torto é baseada na obra em quadrinhos de mesmo nome (Hellboy: The Crooked Man) de 2008, que inclusive venceu na época o prêmio Eisner (o "Oscar" dos quadrinhos) de melhor minissérie do ano. Aqui no Brasil, esta minissérie já foi publicada 3 vezes - a última delas dentro do excelente encadernado Hellboy Omnibus - Histórias Curtas n° 1 - porém sempre com o nome de Hellboy: O Vigarista.

Na trama que se passa em 1958, Hellboy (Jack Kesy) e Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph), uma agente novata da B.P.D.P., caem por acidente em uma pequena comunidade rural dos Montes Apalaches, comunidade essa dominada por bruxas e liderada por um demônio local conhecido como o Homem Torto. A história é bem parecida com a HQ original, e as modificações - todas para pior - são para acrescentar mais cenas de ação ou para justificar a presença de Jo Song, que não aparece nos quadrinhos.

Como dito anteriormente, Hellboy e o Homem Torto é acima de tudo um filme de Terror. Um filme bem sombrio e melancólico, aliás. Portanto, quem vai ao cinema esperando um filme de super-herói, vai se decepcionar (na minha sessão, por exemplo, que já não havia muita gente, um casal se retirou no meio do filme, e eu imagino ser este o motivo).

A história/roteiro de Hellboy e o Homem Torto é boa e interessante. Porém, é aí que chegamos naquilo que o dinheiro pode comprar. A trama sofre por estar acompanhada de profissionais que não são lá o melhor que Hollywood pode oferecer. Começando pelo diretor e roteirista, Brian Taylor: seu currículo traz os filmes Adrenalina, com Jason Statham, que são ok, e os pavorosos Motoqueiro Fantasma e Jonah Hex. Ou seja, ele até sabe fazer filmes de ação, mas foi no melhor dos casos de mediano para ruim em filmes de super-herói que mexem com terror e sobrenatural... exatamente a mesma coisa que temos em Hellboy (o que me leva a perguntar... quem foi o "Jênio" que contratou esse cara?). Vejam: aqui Brian Taylor até consegue trazer em seu filme um bom clima de tensão, com alguns bons sustos, mas esta não é sua melhor especialidade.

A história em si também poderia ser muito melhor explicada, coisa que acontece nos quadrinhos de forma rápida e simples. A trama de Tom Ferrell (Jefferson White) e sua relação com o Homem Torto é confusa no filme, culpa de roteiro e edição que poderiam ser bem melhores. Para piorar, o elenco não ajuda. Por exemplo, Hellboy faz algumas "piadas" ao longo do filme, e elas sequer são percebidas pelo espectador, não somente pela falta de habilidade e mão pesada do diretor, mas também pela falta de expressividade e carisma do ator Jack Kesy.

Ainda assim, apesar de tanta falta de esmero, Hellboy e o Homem Torto é um filme que deve agradar os fãs do personagem, afinal, o filme acaba sendo bem fiel aos quadrinhos. E o problema deste Hellboy é justamente este: temos uma história que originalmente é um bom conto de terror de um personagem de quadrinhos e que se tivesse caído em mãos competentes, poderia ser algo mais, como por exemplo, uma obra diferente para conquistar o público de filmes de suspense/terror que nunca tinham ouvido falar deste personagem das HQs. Infelizmente, não foi o caso.

Hellboy e o Homem Torto acaba pagando o preço de ser uma produção modesta, e apesar de interessante, com bons momentos, e muito superior ao filme anterior, acaba mais parecendo uma produção feita de fãs para fãs. Nota: 6,0.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Crítica - Deadpool & Wolverine (2024)

Título
Deadpool & Wolverine (idem, Austrália / Canadá / EUA / Nova Zelândia, 2024)
Diretor: Shawn Levy
Atores principaisRyan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin, Rob Delaney, Matthew Macfadyen
Nota: 7,0

Deadpool continua bom, porém restringindo mais o seu público

Após um tempo maior que o esperado (fato comentado pelo próprio Deadpool dentro do filme), ou seja, seis anos depois de Deadpool 2, o super-herói mais insano da Marvel está de volta aos cinemas, e desta vez ele não veio sozinho, já que está co-protagonizando esta nova obra com Wolverine.

Na trama da vez de Deadpool & Wolverine, um aposentado Wade Wilson / Deadpool (Ryan Reynolds) descobre que a linha temporal de seu universo vai se destruir no futuro, devido a recente morte do Wolverine. Porém, esta destruição, que só aconteceria daqui vários séculos, vai ser acelerada pelo Sr. Paradoxo (Matthew Macfadyen), que quer apressar o fim desta realidade para acontecer em questão de dias. Então Deadpool tem a idéia de buscar um outro Wolverine, de outra realidade, para seu mundo e com isso evitar a destruição. É assim que ele encontra e traz um Wolverine (Hugh Jackman) nada cooperativo para "ajudá-lo".

Confuso? Um pouco... e piora, já que tudo relacionado à trama principal de Deadpool & Wolverine (e as explicações pseudocientíficas do que está acontecendo) é no melhor dos casos razoável. Por outro lado, em termos de ser emocionante e "heróico", o roteiro já é melhor, satisfatório. Mas então, no que o filme é realmente bom? Oras, nas centenas de piadas e nas cenas de ação! Que aliás, é exatamente o que um filme do Deadpool precisa ser!

Deadpool & Wolverine, assim como os dois filmes anteriores, felizmente entrega muito bem o que dele se espera. Portanto aqui temos ótimas cenas de ação, com pelo menos três cenas de lutas bem interessantes. Já em termos de humor, mais uma vez Deadpool é uma metralhadora de piadas, com um adicional interessante: a interação entre ele com um velho e rabugento Wolverine acabou combinando bem, rendendo ótimos momentos.

Se você gostou dos dois primeiros filmes de Deadpool, vai gostar também deste aqui. Porém o quanto você conseguirá realmente desfrutar deste Deadpool & Wolverine, vai depender mais do que nunca da sua bagagem de conhecimentos sobre o universo de filmes de super-heróis.

Primeiro porque Deadpool & Wolverine aposta muito na nostalgia, e neste sentido, há muitas (muitas mesmo) participações especiais. Não citarei nenhuma aqui para não dar spoilers, mas este filme se dedica bastante espaço a referenciar filmes de super-heróis Marvel anteriores ao MCU, ou seja, antes de 2008. Outra referência que ajudará é se você tiver assistido o seriado Loki (2021). Além disso, esse é o primeiro filme Deadpool produzido pela Marvel, após a Fox ter sido comprada pela Disney (que já era dona da Marvel)... e a quantidade de piadas sobre isso é enorme, chega até irritar.

Provavelmente por não ter muito o que se contar em termos de história, este Deadpool 3 também é disparado onde ele faz a quebra da Quarta parede, o que também fica um pouco cansativo. As piadas da cultura pop - e principalmente sobre super-heróis - são tantas, que chegam a um novo patamar: há até boatos e desejos de fãs sendo realizados no filme. O problema é que se você não está por dentro deste universo, não vai se divertir tanto. Deadpool & Wolverine é bem menos "universal" que os filmes anteriores. Não apenas por demandar conhecimento prévio para compreensão de boa parte das piadas, mas também por não ter uma história "universal" como base; aqui não temos nenhum romance (a personagem Vanessa, da brasileira Morena Baccarin, mal aparece) o que deve diminuir o interesse do público feminino e de pessoas para fazerem "programa de casal".

O Dogpool dos quadrinhos (2010) e o dos filmes, interpretado por Peggy

Há ainda uma última crítica que quero fazer antes de ir para o encerramento. Vejam: quanto mais "louco" Deadpool for, melhor. Agora, o que Ryan Reynolds tem que aprender é que ele também ser "maluco" na vida real não me interessa e trazer isso para o filme só vai piorá-lo. Por exemplo, a presença do "Dogpool" e das múltiplas versões de Deadpool, estão facilmente entre as piores piadas do filme e são puro capricho do ator, e só serviram pra deixar a história desnecessariamente mais longa. O Dogpool foi interpretado pelo cachorro Peggy, que na vida real ficou famoso ao ganhar, ano passado, o título de "cachorro britânico mais feio". Então Ryan Reynolds se divertiu com a história, gostou do cachorro, e cismou que iria colocá-lo no filme de qualquer jeito. 

Em resumo, Deadpool & Wolverine repete a fórmula dos dois primeiros filmes e também repete suas qualidades. Porém toma uma decisão bem arriscada ao, desta vez, fazer piadas tão específicas ao mundo dos filmes de super-heróis, limitando seu público. Porém, na prática, as bilheterias não mostram "erro" nenhum, já que as projeções para este Deadpool 3 são de que já na próxima semana ele ultrapasse a marca de US$ 1 bilhão de bilheteria mundial, o que já o tornaria o filme mais lucrativo da franquia. Para mim, como produto final, Deadpool & Wolverine é ótima diversão, porém claramente inferior ao primeiro filme, e do mesmo nível do segundo. Nota: 7,0.


PS: ao final de todos os créditos, temos uma cena extra, que apesar de bem curta, é interessante e com alguma relevância para trama do filme.

domingo, 21 de julho de 2024

Crítica - Meu Malvado Favorito 4 (2024)

Título: Meu Malvado Favorito 4 ("Despicable Me 4", EUA, 2024)
Diretor: Chris Renaud
Atores principais (vozes): Steve Carell, Kristen Wiig, Will Ferrell, Joey King, Sofía Vergara, Stephen Colbert, Chloe Fineman, Steve Coogan, Pierre Coffin, Chris Renaud
Nota: 7,0

Ainda vale a pena envelhecermos junto com Gru

Começando com o Meu Malvado Favorito (2010), a franquia do "vilão bonzinho" Gru e seus Minions já era composta por uma trilogia de filmes e mais dois spin-offs, fora uma lista considerável de curtas. Havia alguma dúvida se teríamos um novo filme, mas ele enfim chegou. E, acreditem, mesmo sem seu quarto filme, Meu Malvado Favorito já era a franquia de animação que mais arrecadou dinheiro na história dos Cinemas, bem a frente de Shrek e Toy Story (respectivamente o 2º e 3º lugares).

Na nova história, Gru tem um novo integrante na sua família, Gru Jr., o bebê que é o primeiro filho biológico de Gru e Lucy. Porém, para azar do casal, o supervilão Maxime Le Mal, que estava preso há anos com Gru sendo responsável pela sua apreensão, acaba de fugir da prisão, e agora busca vingança contra toda sua família.

Um dos principais elogios que posso fazer para a franquia de Meu Malvado Favorito é já que seus donos não param de produzir novos filmes para continuar faturando, pelo menos a história de seus personagens - especialmente de Gru - continua avançando. Em cada filme algo o status quo da vida de Gru muda, e a alteração da vez é a chegada de um novo filho, de certa forma o primeiro. Então, é como também fizéssemos parte da família do Malvado Favorito, estando ao seu lado há tanto tempo, e continuando a viver novas experiências junto com ele.

Depois de um ótimo primeiro filme, um bom segundo, e um terceiro filme onde Gru e sua trupe já começava a perder seu encanto (e isso inclui até os Minions), este Meu Malvado Favorito 4 se recupera e temos aqui um filme bem melhor e mais engraçado que o anterior. Pior que o primeiro, mas no mínimo igual ou mais engraçado que o segundo. O roteiro foca bastante em Gru e Gru Jr., dando pouco espaço para os demais personagens antigos, porém com um pouco mais espaço para os personagens novos. Talvez isto tenha sido boa notícia para os Minions, entretanto, já que as participações dos mesmos, em geral, são certeiras e hilárias.

Apesar de ser uma aventura bastante divertida e engraçada, há um alerta a se fazer para Meu Malvado Favorito 4: ele é bem parecido com o filme Os Incríveis (2004), da Pixar. Sim, é verdade que neste último temos uma família de super-heróis e aqui não, mas ainda assim, as semelhanças são bem grandes... a estrutura do roteiro, a aparência e os trejeitos de Gru Jr. em comparação com o bebê Zezé, as motivações do vilão... Isto certamente aumenta a sensação de que "já vi esse filme antes", mas ainda assim, não diminui as risadas e diversão. Nota: 7,0.

sábado, 6 de julho de 2024

Crítica Netflix - Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (2024)

Título
Um Tira da Pesada 4: Axel Foley ("Beverly Hills Cop: Axel F", EUA, 2024)
Diretor: Mark Molloy
Atores principais: Eddie Murphy, Joseph Gordon-Levitt, Taylour Paige, Kevin Bacon, Judge Reinhold, John Ashton, Paul Reiser, Bronson Pinchot
Nota: 7,0

Enfim Eddie Murphy resgata parte de sua magia do passado

Continuando outra das tendências que ressurgiu nos últimos anos, que é a de continuar uma franquia de filmes dos anos 80, Eddie Murphy está de volta fazendo o papel do descolado e desobediente policial de Detroit, Axel Foley, com seu Um Tira da Pesada. Após uma trilogia de filmes que saiu nos anos 1984, 1987 e 1994, a série volta exatos 30 anos depois, com este Um Tira da Pesada 4: Axel Foley não lançado nos cinemas, e sim apenas na Netflix.

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley aposta bastante na nostalgia, e em vários momentos faz questão de lembrar dos filmes anteriores, principalmente em diálogos. Além disto, traz de volta alguns dos outros principais atores clássicos além de Eddie Murphy: a dupla de policiais "Billy" Rosewood (Judge Reinhold) e John Taggart (John Ashton) está ao lado de Foley como sempre, além do Detetive Jeffrey Friedman (Paul Reiser), que esteve nos dois primeiros filmes, e Serge (Bronson Pinchot) que esteve nos filmes 1 e 3.

Porém toda esta trupe está mais para figuração, pois na verdade além de Murphy, para este Um Tira da Pesada 4: Axel Foley temos uma nova geração de co-protagonistas (o que me inclusive faz desconfiar de futuros planos para um Um Tira da Pesada 5...): sua filha Jane (Taylour Paige) e o jovem policial Bobby (Joseph Gordon-Levitt). Na história, Jane, que é advogada em Beverly Hills, tenta inocentar um cliente da acusação de matar um policial, e ao ser ameaçada de morte por isso, então seu pai Axel deixa Detroit pela quarta vez e vai até lá em seu auxílio.

Felizmente, em Um Tira da Pesada 4: Axel Foley vemos Eddie Murphy voltando a fazer com seu personagem o que lhe tornou famoso (e divertido): que é "meter o louco" para causar um efeito surpresa nas pessoas e com isso conseguir seus objetivos. Infelizmente o ator continua muito mais "sisudo" do que era nos anos 80, mas ainda assim, depois de muito tempo, como é bom constatar que finalmente Eddie Murphy voltou a fazer um bom filme e voltou a fazer rir.

Não esqueçam, entretanto, que Um Tira da Pesada 4: Axel Foley é um filme policial, apesar de todo o humor... então haverá várias mortes e tiroteios, como qualquer filme do gênero dos anos 80 tinha. Aliás, talvez por aqui termos um constante conflito pai-filha, este filme é mais tenso e melancólico que qualquer outro filme da franquia Um Tira da Pesada (pelo menos do que me lembro... não assisto os filmes clássicos deles há mais de uma década), ainda assim, para quem gosta de filme de ação com humor, e/ou quem já está acostumado com a franquia Um Tira da Pesada, não tem como não se divertir ou se decepcionar. Os anos 80 voltaram para deleite dos saudosistas. Nota: 7,0.

domingo, 23 de junho de 2024

Crítica - Divertida Mente 2 (2024)

Título: Divertida Mente 2 ("Inside Out 2", EUA / Japão, 2024)
Diretor: Kelsey Mann
Atores principais (vozes): Amy Poehler, Maya Hawke, Kensington Tallman, Liza Lapira, Tony Hale, Lewis Black, Phyllis Smith, Ayo Edebiri
Nota: 6,5

Nove anos depois, Divertida Mente se atualiza e se repete

Nove anos depois, a garota Riley e suas cinco emoções - capitaneadas pela Alegria - estão de volta. Neste meio tempo, a Riley do desenho não envelheceu todos estes anos... ficou mais velha apenas alguns deles, apenas o suficiente para acabar de se tornar adolescente.

E é este o enredo de Divertida Mente 2, com a chegada desta fase da vida, chegam novas emoções, mais complexas: a Inveja, o Tédio, a Vergonha, e a Ansiedade, que acaba sendo uma das principais personagens do filme, e atuando praticamente como vilã. Assim como no filme anterior, ele tenta explicar o comportamento "real" dos humanos com as aventuras dos personagens-emoções. Por isso, temos aqui uma tentativa de explicar porque uma pessoa pode mudar tanto de personalidade em sua fase adolescente, e assim como o "inimigo" de Riley no filme anterior era a depressão, agora o "inimigo" é a ansiedade, uma atualização para o tempo de hoje.

E assim como Divertida Mente, esta continuação diverte, emociona, e agrada todo tipo de público, das crianças aos adultos. Porém, "copia" o filme anterior até demais. Por exemplo, com cinco minutos de filme, descobrimos que Alegria já desaprendeu a importante lição do filme anterior (tsc, tsc), e então, vamos ter que reaprender com ela tudo de novo... As metáforas do mundo "de dentro da cabeça" funcionam menos nesta continuação (ainda que não comprometam), e fazem menos sentido que no primeiro filme. Aliás, nem mesmo as novas emoções fazem tanto sentido, sendo o pior caso o da Inveja, que só demonstra a sua própria emoção uma vez no filme todo, e fora isto, só está lá para atuar como capanga da Ansiedade.

Se o roteiro é uma "cópia piorada" do primeiro filme, por outro lado ele é mais "infantil" e com mais piadas. Então, acredito que os pequenos irão gostar um pouco mais deste filme aqui que do anterior.

Feito com menos cuidado nos detalhes e em sua própria mitologia do que o primeiro filme, Divertida Mente 2 não ousa, mas transporta seu mundo com bastante realismo (e competência) para o universo de inseguranças e mudanças dos adolescentes, entregando um filme bom o suficiente para agradar a todos que gostaram do primeiro Divertida Mente. Os fatos, inclusive, corroboram com minha afirmação, já que o filme já é a produção de maior bilheteria de 2024. E isso que ele mal acabou de chegar nos cinemas... Nota: 6,5.


PS: Divertida Mente 2 possui duas cenas pós-créditos, uma bem em seu começo, e outra quase no seu final, sobre o "Grande Segredo". Ambas são engraçadinhas, porém, descartáveis.

sábado, 15 de junho de 2024

Crítica Netflix - As Cores do Mal: Vermelho (2024)

Título
: As Cores do Mal: Vermelho ("Kolory zla. Czerwien", Polônia, 2024)
DiretorAdrian Panek
Atores principais: Jakub Gierszal, Maja Ostaszewska, Zofia Jastrzebska, Andrzej Konopka, Przemyslaw Bluszcz, Wojciech Zielinski, Andrzej Zielinski, Jan Wieteska
Nota: 7,0

Filme de suspense policial sucesso da Netflix é violento porém competente

Normalmente eu iria deixar passar este filme polonês As Cores do Mal: Vermelho, produção original Netflix. Porém, resolvi assistí-lo por dois motivos: ele está fazendo sucesso (na sua semana de estréia ele foi o 2º filme mais assistido mundialmente na plataforma, só perdendo para Atlas), e também porque está sendo bastante elogiado pelos sites especializados nacionais.

A trama é baseada no livro de mesmo nome, escrito em 2019 pela escritora polonesa Małgorzata Oliwia Sobczak. Atualmente As Cores do Mal é uma série de 4 livros: Vermelho (2019), Preto (2020), Branco (2021) e Amarelo (2024). Todos eles trazem como um dos personagens o promotor / investigador Leopold Bilski (interpretado aqui pelo ator Jakub Gierszal). Mas apesar de ser uma série de livros, o filme conta uma história completa e independente, sem deixar qualquer ponta solta.

Na trama deste As Cores do Mal: Vermelho, a jovem Monika (Zofia Jastrzebska) é encontrada morta em uma praia, e com os lábios arrancados, exatamente a mesma descrição de um crime ocorrido naquela mesma cidade pouco mais de uma década atrás. Porém ao investigar o novo assassinato, tanto o investigador Leopold quanto a juíza Helena Bogucka (Maja Ostaszewska), mãe da falecida Monika, vão descobrindo fatos novos e surpreendentes tanto do crime atual, quanto do crime do passado.

Mais do que qualquer coisa, As Cores do Mal: Vermelho é um filme bastante pesado de se assistir. Bem pesado. Por exemplo ele não tem receio de mostrar o corpo mutilado de Monika, e também, não alivia quando mostra várias cenas de tortura física e psicológica que ela passou antes de morrer. O nome As Cores do Mal não é a toa... há muitos personagens realmente maus neste filme. E com a direção não nos dando praticamente nenhuma pausa ou alívio para respirar ou refletir, somado-se a uma trilha sonora sombria e constante, a experiência é um bocado incômoda.

O roteiro de As Cores do Mal: Vermelho conta com algumas coincidências exageradas, várias reviravoltas (e algumas que achei previsíveis), mas ainda assim, consegue em alguns momentos surpreender. E, o mais importante: é muito competente em prender a atenção (e a tensão) do expectador. Estamos a todo momento querendo saber o que vai acontecer a seguir, e também, temendo pela vida dos personagens.

Ainda que não seja essa maravilha toda que boa parte dos sites nacionais de cultura pop vêm comentando, As Cores do Mal: Vermelho é de fato um bom filme de suspense policial, bem violento, e com bastante ênfase no suspense. Ainda que não se arrisque a fazer nada fora do usual em termos de narrativa, o filme felizmente foge da repetitiva fórmula padrão dos filmes caça-níquel da Netflix. Nota: 7,0.

domingo, 26 de maio de 2024

Crítica - Furiosa: Uma Saga Mad Max (2024)

TítuloFuriosa: Uma Saga Mad Max ("Furiosa: A Mad Max Saga", Austrália, 2024)
Diretor: George Miller
Atores principaisAnya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke, Alyla Browne, George Shevtsov, Lachy Hulme, Nathan Jones, Josh Helman, David Collins, Angus Sampson
Nota: 8,0

"Igual" mas ao mesmo tempo diferente de Mad Max 4, George Miller acerta de novo

Nove anos depois da estréia de um dos filmes de maior nota aqui em meu blog, Mad Max: Estrada da Fúria (2015), o diretor George Miller retorna com uma prequela do mesmo, Furiosa: Uma Saga Mad Max. Não tivemos a mesma atriz de Furiosa e o ator de Immortan Joe de volta para este filme, porém alguns outros atores retornaram.

Na história, vemos Furiosa ainda criança (Alyla Browne) morando em um local ainda verde e não estragado pela devastação que o planeta se encontra. Porém, quando seu mundo é invadido por alguns motoqueiros da gangue do Dr. Dementus (Chris Hemsworth), ela é capturada e passa a viver com o bando. Mas Dementus quer continuar expandir seus domínios e poder, e posteriormente, seu caminho se encontra com o de Immortan Joe (Lachy Hulme), um líder ainda mais poderoso com ele. Os conflitos entre ambos afetarão diretamente a vida de Furiosa, que acabará presa na Cidadela de Immortan. Depois de algum tempo, e agora adulta, Furiosa (Anya Taylor-Joy) aproveitará tudo o que aprendeu para enfim se vingar de Dementus.

Se nove anos atrás Miller surpreendeu entregando um espetáculo único, agora ele surpreende um pouco ao não nos decepcionar e entregar um filme praticamente tão bom quanto. Fotografia, coreografias, tudo continua extraordinário, e este Furiosa: A Mad Max Saga certamente é outro épico de ação que entra para a história. Porém, ainda assim, comparando com o filme anterior, ele é mais... comportado.

Em Mad Max: Estrada da Fúria temos praticamente duas horas de ação sob quatro rodas e uma trilha sonora muito barulhenta. E em Furiosa: A Mad Max Saga também temos tudo isso, mas não ocupando o filme todo. Claro, novamente temos várias cenas de ação sob rodas de tirar o fôlego, mas agora temos mais história, mais diálogos, mais localidades. E isto aliás é bem surpreendente para mim, que imaginava que não iria ver história nenhuma, já que se fez propaganda que a Furiosa fala apenas 30 vezes no filme todo. Pois é, ela não fala tanto, mas há vários personagens, e vários diálogos.

Em outras palavras agora há mais roteiro, e um pouco menos de ação e barulho. Há momentos em que até não há trilha sonora... uma direção completamente oposta ao filme anterior. E ainda sobre o roteiro, apesar de algumas falhas e clichês, em mais de uma vez ele não seguiu o caminho que eu esperava, me surpreendendo. Outro ponto positivo.

Anya Taylor-Joy ficou muito bem como Furiosa, o que mais uma vez comprova o quão boa e versátil atriz ela é. E outro que vai muito bem é Chris Hemsworth, que com uma prótese no nariz e um sotaque estranho em nenhum momento nos lembra o Thor, mostrando que também é bom ator. Inclusive, recomendo assistirem o filme no idioma original, para ouvirem o sotaque diferente dele.

Se em Mad Max 4 o filme nos mostra como é o mundo apocalíptico dentro da Cidadela, este Furiosa nos mostra como é o mundo fora dela, um filme completando o outro. E se na história anterior tivemos um pouco de crítica social, aqui isto é esquecido, mas pelo menos o personagem de Furiosa é desenvolvido, como se esperaria de um filme leva seu nome.

Para quem ficou encantado anos atrás com Mad Max: Estrada da Fúria, é um deleite constatar que podemos ter agora uma experiência similar. Ainda que Furiosa: A Mad Max Saga seja um pouco inferior ao filme anterior, é um privilégio ter a oportunidade de ver novamente um mundo de Mad Max de George Miller nos cinemas. Nota: 8,0.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Crítica Netflix - A Batalha do Biscoito Pop-Tart ("Unfrosted", EUA, 2024)

Título
A Batalha do Biscoito Pop-Tart ("Unfrosted", EUA, 2024)
Diretor: Jerry Seinfeld
Atores principais: Jerry Seinfeld, Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Max Greenfield, Hugh Grant, Amy Schumer, Peter Dinklage, Christian Slater, James Marsden, Jack McBrayer, Thomas Lennon
Nota: 6,5

Seinfeld estréia como diretor com filme ágil e divertido

Após quase quatro anos sem produzir novo material de comédia, Jerry Seinfeld está de volta, agora estreando como diretor, mas também produzindo e co-roteirizando o maluco e totalmente fictício A Batalha do Biscoito Pop-Tart.

Na história, que se passa nos anos 60, As empresas de alimentos Kellogg's e Post dominam o mercado de cereais para café da manhã, entretanto com a Kellogg's tendo a clara liderança. Porém a Post aparenta estar prestes a lançar um produto que pode mudar isto, o que faz um dos principais funcionários da Kellogg's, Bob Cabana (Jerry Seinfeld) e o dono da empresa Edsel Kellogg III (Jim Gaffigan) não medirem esforços para lançarem algo revolucionário antes, o que viria ser os Pop-Tarts (para saber um pouco mais sobre o que é um Pop-Tart, clique aqui, onde já expliquei a respeito, recomendo).

Se A Batalha do Biscoito Pop-Tart fosse avaliado pela quantidade de piadas, seria uma das melhores comédias de todos os tempos, afinal, literalmente não ficamos mais do que 5 segundos em cena sem alguma piadinha sendo disparada em tela, seja ela dita por algum personagem, ou alguma piada visual. Temos portanto, literalmente centenas de gracejos, dos mais diversos temas... muitos são trocadilhos com o mundo dos cereais, mas vários outras são piadas cotidianas, ou da cultura pop em geral. Há também uma quantidade gigantesca de personagens que são trazidas para o filme, e um exemplo emblemático da enorme mistura de assuntos, piadas e personagens é ter o ator Jon Hamm aparecendo e fazendo paródia de si mesmo interpretando uma "cópia" de seu personagem da famosa série Mad Men, que também se passa nos anos 60.

O resultado final de tantas piadas sendo metralhadas na cara do espectador é um filme divertido, dinâmico, e para toda a família... mas que também, não se arrisca, e pouco tem de memorável. O mais próximo disso são as participações de Hugh Grant, que quebram um pouco o ritmo alucinado do filme e é, de fato engraçado. A Batalha do Biscoito Pop-Tart acaba cumprindo seu papel de divertir e entreter, mas não espere nada mais do que ficar com um sorriso no rosto. Nota: 6,5


PS: segundo Seinfeld, aparentemente Hugh Grant é um pouco como seu personagem na vida real, já que o comediante deu algumas entrevistas "falando mal" de seu companheiro de filmagem, dizendo que é difícil trabalhar com Grant, que ele leva tudo a sério, que eles brigaram várias vezes, que ele quer trabalhar tudo certinho, e deu um exemplo de que mesmo após já terem oferecido o papel pra o Hugh, ele fez questão de gravar um vídeo caseiro interpretando o personagem e mandar para ele (Jerry) avaliar. Mas, contemporizando, Jerry disse que quando não está no modo trabalho, Hugh Grant é um cara ótimo, que eles jantaram algumas vezes juntos, e que ele foi uma das companhias mais agradáveis para se jantar que já teve na vida.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Crítica - Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024)

TítuloGhostbusters: Apocalipse de Gelo ("Ghostbusters: Frozen Empire", Canadá / EUA, 2024)
Diretor: Gil Kenan
Atores principaisMckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Kumail Nanjiani, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Bill Murray, William Atherton, Emily Alyn Lind, James Acaster, Logan Kim, Celeste O'Connor, Patton Oswalt, Annie Potts
Nota: 6,0

Caça-Fantasmas continua a divertir, mas precisa parar de querer ser 10 filmes em um

Três anos depois do ótimo Ghostbusters: Mais Além (2021), temos uma sequência para o semi-reboot da franquia Ghostbusters, misturando a "clássica" e a "nova" geração, e trazendo muitas homenagens e saudosismos.

Sendo continuação direta do filme anterior, desta vez as formações novas e antigas dos Caça-Fantasmas precisam se unir para impedir que uma antiga e poderosa entidade de nome Garraka, cujos poderes vêm do frio, liberte e lidere um exército de fantasmas para destruir a humanidade.

Vamos primeiro às boas notícias: mais uma vez temos aventura, humor e fantasmas de maneira divertida como todo Caça-Fantasmas. E pensando no futuro da franquia, temos novidades, como o agora rico Winston (Ernie Hudson) ter secretamente criado uma equipe de pesquisadores para estudar e aperfeiçoar novos equipamentos para a luta contra os espíritos. Além disso, pela primeira vez vemos um fantasma aparentemente "humano e bonzinho", Melody (Emily Alyn Lind), o que leva o filme a um importante questionamento: o que acontece com os fantasmas enquanto eles estão aprisionados? É ruim? Eles sofrem?

E, como no filme anterior, o melhor dele é a neta de Egon, Phoebe Spengler (Mckenna Grace), não só pelo carisma e delicadeza da jovem atriz, mas principalmente, porque seu personagem parece ser o único que realmente entende o legado de ser uma Caça-Fantasmas e o levar a sério.

Mas apesar da diversão de sempre, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é ao mesmo tempo o filme mais sério, menos engraçado e menos assustador de toda a franquia. Um dos motivos disso é seu excesso de diálogos e personagens. A foto do início deste artigo dá uma pequena amostra da quantidade de atores que precisam dividir a tela...

Porém mais que isso, o verdadeiro problema é que Ghostbusters: Apocalipse de Gelo quer contar muitas histórias ao mesmo tempo. Ao invés de focar apenas na história de aventura de "salvar o mundo do fantasma da vez", o roteiro ao mesmo tempo também quer comentar sobre adolescentes ficando adultos, o personagem de Paul Rudd querer ser aceito como pai, a "nova" geração com dificuldades em assumir o cargo enquanto a "velha" geração não quer aceitar a aposentadoria, fora as muitas homenagens aos filmes dos anos 80 (além do monte de personagens que voltaram em Ghostbusters: Mais Além, desta vez também voltou o prefeito Walter Peck (William Atherton)).

É muito assunto para um filme só... e o resultado é um roteiro um bocado cansativo que acaba não discutindo nenhum dos temas com nenhuma profundidade.

Ainda assim, apesar de seus excessos, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo deve agradar os fãs da franquia e, se tiver boa bilheteria mundial, deverá receber mais uma continuação, a qual eu espero REALMENTE, tenha menos personagens, e abracem de vez o tempo presente. Nota: 6,0

O filme tem tantos personagens que a principal e melhor deles, Phoebe Spengler pela Mckenna Grace, não estava na cena da foto-título deste artigo. E como é bacana ver que ela é fã da franquia desde criança. Deve ser muito bom fazer parte do seu sonho.


domingo, 21 de abril de 2024

Crítica - Guerra Civil (2024)

TítuloGuerra Civil ("Civil War", EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Alex Garland
Atores principaisKirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Jefferson White, Stephen McKinley Henderson, Nick Offerman, Sonoya Mizuno, Nelson Lee, Jesse Plemons
Nota: 7,0

Road movie bom e tenso, mas falta um algo mais

Acaba de estrear no mundo todo o filme Guerra Civil, que promete causar polêmica principalmente nos EUA, afinal, ele se baseia em um fictício futuro próximo onde os Estados Unidos estão em plena guerra interna: as "Forças Ocidentais Separatistas", composta por alguns estados e lideradas pelo Texas e Califórnia, lutam para derrubar do poder o atual governo dos EUA. Não é detalhado em nenhum momento os motivos para o conflito, porém é citado que o atual Presidente age como um ditador, não respeita a democracia, e se encontra atualmente no terceiro mandato seguido.

Na história, o conflito está caminhando para o fim, e a dupla de jornalistas de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst) e Joel (nosso brasileiro Wagner Moura) planejam se deslocar de Nova York até a capital Washington DC para conseguir uma entrevista exclusiva com o Presidente (Nick Offerman), antes que ele seja morto ou deposto. Junto a eles se juntam Sammy (Stephen McKinley Henderson) um velho jornalista do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem e inexperiente fotógrafa que sonha ser uma fotojornalista de guerra tão famosa quanto Lee.

Porém a jornada não será fácil, primeiro, claro, por estarmos em plena guerra; mas para piorar, o exército do governo estadunidense não tem sido muito tolerante com a imprensa. Estamos então diante de um road movie bem tenso, com várias cenas de violência, e com um sentimento de angústia, urgência e tensão muito bem executados.

Para minha surpresa, mais do que focar no conflito em si, Guerra Civil foca na vida dos profissionais de imprensa que fazem a cobertura de dentro dos conflitos. É realmente chocante e surpreendente constatar como é o trabalho destas pessoas. O perigo que elas se expõe é quase igual a dos soldados em batalha, e para você também sentir isso com as ótimas sequencias de ação e imagem que temos no filme, recomendo fortemente que você vá ver Guerra Civil nos cinemas, e não na sua casa.

Vamos agora as minhas primeiras ressalvas. Claro que os jornalistas de guerra podem morrer a qualquer momento. Mas será que é mesmo como está mostrado no filme? Lee dá bronca na novata várias vezes que ela tem que se cuidar, usar capacete e colete; porém, o grupo todo faz isso poucas vezes... capacetes? Uma vez no filme todo. Aliás, em Guerra Civil não faria mesmo diferença, pois assim como em muitos filmes do gêneros, mesmo estando de colete, para qualquer soldado, basta um tiro e eles morrem instantaneamente. Outra coisa que não me convence são os soldados permitirem o pessoal de imprensa caminhar o tempo todo ao lado deles. Eles não fazem barulho? Não atrapalham movimentação? Linha de tiro? Uma coisa é, você como jornalista estar a metros da ação, ou há segundos depois da ação. Agora, estar o tempo todo dentro da ação... não faz muito sentido.

Cada local onde o grupo passa durante sua jornada rende imagens e situações bem fortes e interessantes, de fato, o filme é bom tanto quanto em roteiro quanto em imagens. A fotografia é excelente, tanto que sou obrigado a fazer outra crítica... para mim há um certo fetiche pelas cenas de guerra, armas, violência... ok, entendo que houve a tentativa do diretor de demonstrar o valor e a beleza no trabalho de um fotógrafo ao conseguir a "imagem perfeita", porém, entendo que haveria outras maneiras de se explorar isto.

Guerra Civil acaba sendo visual demais, a meu ver. Há poucos diálogos, pouco debate sobre o que realmente está acontecendo. Nas entrelinhas, a mensagem até é simples, que aquele conflito é o resultado final de tudo que a extrema direita vêm plantando ao longo de anos nos EUA e mundo... mas o roteiro é bastante cuidadoso em não levantar esse debate. Até a escolha dos estados líderes da "insurgência": Texas (tradicionalmente conservador) e Califórnia (tradicionalmente liberal) estarem do mesmo lado é proposital para não haver polarizações. É como se o filme fosse criado para trazer esse assunto à tona, mas na hora de sua entrega, saísse a francesa...

O mais fraco de Guerra Civil é seu desfecho, a meu ver. O final é clichê e o comportamento de seus personagens um pouco incoerente. Como pontos altos, temos suas várias cenas de ação e tensão, e a atuação de Kirsten Dunst. Como ela está excelente aqui... ela parece mesmo ser a tal fotojornalista Lee, de tão convincente.

Eu estava com uma alta expectativa por Guerra Civil e talvez por isso tenha ficado um pouco decepcionado. Ele teve oportunidade de fazer algo marcante, mas na hora "h" se esquivou ou apelou para o senso comum. De qualquer forma, é uma experiência cinematográfica bem impressionante e um filme muito bom. Se não saí do cinema extremamente satisfeito, pelo menos é como dizem, mais importante que o destino é a viagem. Nota: 7,0

terça-feira, 5 de março de 2024

Crítica - Anatomia de uma Queda (2023)

TítuloAnatomia de uma Queda ("Anatomie d'une Chute", França, 2023)
Diretora: Justine Triet
Atores principaisSandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado-Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth, Saadia Bentaieb, Messi
Nota: 8,0

Filme mistura tribunal, "whodunnit" e reflexão com eficiência

O filme francês Anatomia de uma Queda tem sido um dos mais elogiados e premiados filmes não-estadunidenses em 2023 e 2024. Cinco indicações para o Oscar, vencedor do cobiçado Palma de Ouro em Cannes (ou seja, o prêmio de Melhor Filme), vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme em língua não-inglesa, dentre várias outras premiações. Além disso, com esta obra, a diretora francesa Justine Triet conseguiu ser a terceira mulher a levar a Palma de Ouro. Ela também está indicada ao Oscar de Melhor Direção e ao Oscar de Melhor Roteiro Original - sendo em ambos os casos a primeira vez de uma mulher francesa.

Na história temos a escritora alemâ Sandra (Sandra Hüller) que mora isolada em um chalé numa montanha, com seu marido o Samuel (Samuel Theis) e filho Daniel (Milo Machado Graner), sendo este praticamente cego. Em uma manhã Samuel é encontrado morto, fora de casa, e devido a dúvida se houve um crime ou acidente, Sandra é levada a julgamento.

É então que a trama mistura cenas de tribunal, um bocado de whodunnit (e sim, o filme é muito bem montado de modo que ficamos o tempo todo tentando adivinhar o que aconteceu), problemas de relacionamento familiar, e uma interessante reflexão sobre culpa e justiça.

Um outro forte fator positivo de Anatomia de uma Queda é sua atriz principal, a alemã Sandra Hüller, em excelente atuação, pela qual merecidamente ela recebeu uma indicação ao Oscar (Sandra também é uma das principais atrizes de Zona de Interesse, outro dos indicados ao Oscar de Melhor Filme). Aliás, falando em Oscar e diversidade de países, usando a "desculpa" de que a personagem de Sandra é alemã e o seu marido é da França, eles se falam em inglês como "idioma comum". Então, mesmo sendo um filme francês, pouco mais de metade dos diálogos estão em inglês. Certamente isto ajudou a ampliar o número de indicações de Anatomia de uma Queda em festivais de língua inglesa.

E mesmo já sendo um bom filme de suspense, com boas atuações, o que pra mim diferencia Anatomia de uma Queda é sua exposição sobre a "realidade" versus "o que é dito". Por exemplo, a meu ver o advogado da acusação era bem mais competente e convincente do que o da defesa; os depoimentos de Daniel foram parciais; Sandra manteve o tempo todo a versão de uma família feliz, mas as evidências mostravam um oposto assustador. E vou mais além, será que ela estava "mentindo"? Ou realmente acreditava naquilo, baseada em sua própria percepção da realidade? Cada uma destas "versões" potencialmente prejudica a "verdade" influenciando o Juri... e isto me incomodava profundamente. Mas... já pensaram no que seria exatamente "a Verdade"? E já perceberam que estas distorções e nuances estão presentes na vida real em todo julgamento, todos os dias?!

Continuarei avançando nestas reflexões... mas para isto, terei que comentar sobre o final do filme. Portanto, se você não quiser ler alguns spoilers de impacto consideráveis, pule o próximo paragrafo, e vá direto para o seguinte. 

O desfecho de Anatomia de uma Queda é... inclusivo. Não dá para saber ao certo se Sandra é inocente ou não. Será que foi suicídio? Se sim, há até a possibilidade de que Samuel tenha gravado o áudio de sua briga com a intenção de prejudicá-la. Para mim é bem claro que o filho, Daniel, acaba escolhendo tomar o partido da mãe. E neste caso... seria correto deixar alguém tão jovem e tão envolvido emocionalmente como testemunha? Mas ao mesmo tempo, estando ele na casa, seria correto deixá-lo de fora? O fato é que apesar de toda investigação e julgamento, nunca saberemos o que realmente aconteceu, e elas tanto poderiam levar alguém inocente para a prisão, quanto também ter deixado um assassino livre. E situações "inconclusivas" como esta existem na vida real a todo momento. Isto é perturbador, se pararmos para refletir. E analogamente, deixando as leis de lado, o mesmo se pode dizer a respeito dos dramas pessoais, traumas familiares... nunca saberemos o que ocorreu no interior de cada indivíduo.

Para o público geral, que está acostumado com os filmes estadunidenses, talvez haja um pouco de desconforto, no sentido de achar Anatomia de uma Queda um pouco parado, ou com muitos diálogos. Já para o público padrão que gosta de filmes de suspense (mas sem ação), tribunal, ou "adivinhe o assassino", Anatomia de uma Queda deverá agradar bem. E finalmente, para alguém que está procurando um filme mais denso, que te leve a pensar, este aqui poderá agradar bastante. Nota: 8,0.



PS: repararam que o último nome que coloquei na lista de atores principais é o Messi? Mas não se trata do famoso jogador de futebol argentino, e sim, do cachorro Messi, que atuou como o cachorro-guia "Snoop" no filme. Ele foi uma atração a parte em todos os festivais onde Anatomia de uma Queda participou, e inclusive, foi o vencedor do Palm Dog Award em Cannes: sim, desde 2001 lá existe uma premiação para a melhor atuação canina do ano, seja ela real ou de animação. Abaixo você pode conferir Messi exibindo seu prêmio, que é representado por uma coleira de couro com os escritos "Palm Dog".

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