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domingo, 28 de abril de 2024

Curiosidades Cinema Vírgula #021 - Saiba o que é Typecasting e conheça atores que sofreram com ele


Reparem nas quatro pessoas da imagem acima. Qual o nome das duas primeiras? Embora elas sejam as fotos dos atores Ralph Macchio e Matt Leblanc, e não as dos seus personagens, aposto que ao vê-las você não pensou nos nomes reais deles, e sim, em "Daniel San" e "Joey".

E agora, vamos as duas pessoas seguintes. Não importa em que filme ou seriado você viu Michael Cera atuar, mas aposto que o personagem dele era alguém tímido que em qualquer cena aparece constrangido e louco para sair de lá; e não importa em que filme você assistiu Michelle Rodriguez... ela fazia o papel de uma mulher corajosa / valentona / boca-suja (e que tem boas chances de morrer no final). Tudo isso é Typecasting.

Typecasting é o nome que se dá ao processo em que um ator ou atriz se torna fortemente identificado a um determinado personagem, ou a um tipo de personagem com as mesmas características.

Há quem consiga aceitar o ocorrido e lucrar milhões com isto. Porém, muitas vezes isto nem é opção... temos vários exemplos em que um determinado ator ou atriz fica tão fortemente associado com certo papel, que depois dele fica muito difícil encontrar trabalho para atuar com qualquer outro personagem. Ou seja, é praticamente uma aposentadoria forçada.


O elenco clássico de Star Trek. Acima, da Esq. para Dir: George Takei (Sr. Sulu), Nichelle Nichols (Tenente Uhura) e James Doohan (Scotty); E Abaixo: Walter Koenig (Sr. Chekov), DeForest Kelley (Dr. McCoy), William Shatner (Capitão Kirk) e Leonard Nimoy (Sr. Spock)

O elenco clássico de Jornada nas Estrelas (Star Trek)

Um exemplo muito famoso de Typecasting é o elenco do seriado original de Star Trek. Após a fama, todos eles ficaram enormemente associados aos personagens que fizeram. Com exceção de William Shatner e Leonard Nimoy, nenhum outro ator conseguiu emprego que não fosse associado a Jornada nas Estrelas. E mesmo sendo uma exceção, Leonard Nimoy se incomodava demais com a fama de seu personagem, e por isso em 1975 ele até chegou a lançar, como sua primeira autobiografia o livro intitulado "Eu Não Sou Spock".

Shatner conseguiu trabalhar em vários seriados, mini-séries e filmes. Por exemplo na década de 80 ele foi um policial na série Carro Comando (5 temporadas) e nos anos 2000 um advogado em Justiça Sem Limites (também 5 temporadas). Mas os outros integrantes do grupo... Walter Koenig teve uma participação relevante em uma temporada no também seriado de ficção espacial Babylon 5 e mais nada; George Takei acabou encontrando espaço sendo dublador de animações. E foi só isto... o restante do grupo viveu apenas com o dinheiro vindo de convenções, homenagens e participações especiais relacionadas a Jornadas nas Estrelas.


Cena do excelente Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Jim Carrey e Adam Sandler

O maior exemplo que vivenciei de uma pessoa lutando contra o Typecasting foi Jim Carrey. A primeira metade dos anos 90 serviu para consolidar Carrey como o melhor e maior astro da comédia mundial da época, e com isso veio a fama, o dinheiro, o prestigio. Mas aparentemente isso não era tudo... após alguns anos no topo, Jim queria também ser reconhecido pela sua habilidade na atuação, e quis provar para o mundo que era capaz de papéis que não fossem com o objetivo de fazer rir. Então ele tentou mudar o rumo de sua filmografia atuando em vários filmes de drama, como por exemplo: O Show de Truman - O Show da Vida (1998), O Mundo de Andy (1999), Cine Majestic (2001) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004). E ele até conseguiu levar dois Globos de Ouro para casa, um por O Show de Truman e outro por O Mundo de Andy. Mas nunca foi sequer indicado ao Oscar e, em geral, não foi muito elogiado e admirado pela imprensa em sua fase "séria", o que lhe gerou uma decepção que perdura até hoje.

Um outro comediante que tenta ser reconhecido pelo seu talento como ator é Adam Sandler. E vejam como são as coisas... embora Sandler seja notadamente inferior a Carrey tanto atuando em comédias como em dramas, eu não duvido que em breve ele receba a indicação ao Oscar que Jim nunca recebeu. É que Adam Sandler tem seus trunfos. Primeiro, uma lista enorme de amigos que estão sempre fazendo "lobby" a seu favor: David Spade, Kevin James, Drew Barrymore, Chris Rock, Steve Buscemi, Rob Schneider, Salma Hayek e Maya Rudolph são algum deles. E segundo, nada menos que a poderosa Netflix. Seus 3 filmes "sérios" até agora foram produzidos por ela: Jóias Brutas (2019), Arremessando Alto (2022) e O Astronauta (2024).

 

The Rock, Dave Bautista e John Cena

Brutamontes apenas em filmes de ação

Os dois maiores astros "brutamontes" dos Cinemas nos anos 80 foram certamente Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Pelo físico invejável de ambos, eles basicamente participavam de filmes de ação. Acho curioso que quando os dois tentaram sair do Typecasting, eles tomaram caminhos completamente diferentes. Schwarzenegger sequer tentou o drama e foi pra comédia... e até não foi mal (por exemplo Irmãos Gêmeos (1988) e Um Tira no Jardim de Infância (1990)). Já Stallone quando enveredou na comédia foi um retumbante fracasso, disparadamente os piores filmes de sua carreira (lembram de Pare! Senão Mamãe Atira (1992)?). Ele se deu melhor nos dramas, principalmente com as franquias Rocky e Creed, e inclusive ganhou duas indicações de atuação a Oscar por isso.

Um exemplo bem recente de "brucutus" que sofrem com Typecasting e também reagiram de forma diferente a isto são Dwayne "The Rock" Johnson, Dave Bautista e John Cena, todos eles ex-lutadores de Luta Livre profissional dos EUA (WWE). Dwayne tentou atuar em filmes de ação, em comédias, em dramas, e apesar das atuações pífias em geral fez bastante bilheteria e dinheiro... então, hoje em dia parece que nem se preocupa mais em atuar, só é ele mesmo nos filmes... Já John Cena, após fracassar em vários filmes de ação "sérios", parece ter enfim se encontrado nas comédia de ação, com o ótimo seriado Pacificador.

E finalmente, Dave Bautista é um dos mais famosos e recentes casos de alguém de encarar a difícil missão de brigar contra o Typecasting. Após alguns papéis como brutamontes, seja em ação ou comédias de ação (vide a trilogia dos Guardiões da Galáxia) ele também tem tentado filmes de outros gêneros, como de drama (Batem à Porta (2023)) e ficção científica (Blade Runner 2049 (2017) e Duna (2021)), e continua tentando cada vez mais fugir do papel de "valentão burro". Será que ele vai conseguir algum dia? Só o tempo dirá...



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

PS 2: Para conhecer outros termos interessantes do mundo do cinema, clique aqui.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Assisti Bombástica: A História de Hedy Lamarr (2017)


Um dos artigos deste ano que mais me impressionou quando fiz minhas pesquisas para escrevê-lo, foi o que contou um resumo da história da atriz e inventora Hedy Lamarr, que publiquei no dia 8 de Março, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

No final daquele texto, comentei que havia um documentário feito sobre ela há alguns anos atrás, mas que não ficou famoso, nem chegou aos cinemas. Trata-se de Bombástica: A História de Hedy Lamarr, de 2017 (Bombshell – The Hedy Lamarr Story no original).

Pois bem, eu acabei assistindo este documentário no Youtube dias atrás e posso dizer que ele é ótimo! Recomendo muito para todos assistirem! E, porque assisti-lo, duas coisas aconteceram. A primeira, foi a criação deste texto, onde irei contar muito rapidamente sobre o que o filme se trata. E a segunda, é que aprendi coisas novas sobre Hedy Lamarr e com isso revisei meu texto escrito em Março. Ele recebeu algumas pequenas correções, novas fotos, mas principalmente, foi ampliado em 3 parágrafos, contando novas passagens muito interessantes.

Portanto, quem já leu, convido a ler novamente meu texto Especial Dia Internacional da Mulher: Atriz e inventora, conheça a incrível (e conturbada) história de Hedy Lamarr. E quem ainda não leu, se prepare para ler e se surpreender!



Sobre o documentário Bombástica: A História de Hedy Lamarr

Apesar de ser uma produção modesta para os padrões de um filme atual (US$ 1,5 milhões), o documentário Bombástica: A História de Hedy Lamarr (veja o trailer oficial - em inglês - no vídeo acima) teve o envolvimento de alguns nomes famosos de Hollywood. Por exemplo, a atriz Susan Sarandon é uma das produtoras executivas; a atriz Diane Kruger e os cineastas Peter Bogdanovich e Mel Brooks são alguns que aparecem em vários momentos dando opiniões.

Seus filhos Anthony Loder e Denise Loder-DeLuca também aparecem bastante e dão importantes depoimentos. E enquanto as pessoas contam a história de Hedy, como em todo bom documentário, há diversas filmagens e fotos ilustrando o que está sendo falado.

Mas a provável "cereja do bolo" de Bombástica: A História de Hedy Lamarr são os áudios de uma entrevista inédita e até então "perdida", que ela deu ao repórter Fleming Meeks da Forbes Magazine, em 1990, repassando sobre toda sua vida em 4 fitas cassetes de gravação. Então, temos a oportunidade de também ouvir a própria Lamarr através de sua voz dar a sua versão em boa parte dos acontecimentos.

E ainda que Hedy tenha se despedido desta vida de um jeito um bocado triste e melancólico, me emocionei com as últimas palavras dela nesta entrevista, as quais reproduzirei aqui. Ela recita partes de um poema de nome The Paradoxical Commandments ("Os Mandamentos Paradoxais"), escrito em 1968 por Kent M. Keith, professor e escritor estadunidense.

A seguir, com tradução minha para o português, os trechos que ela recitou. Se você quiser ler o poema completo no idioma original, basta clicar neste link. Fiquem então com estes conselhos de Hedy Lamarr. ;)


As pessoas são ilógicas, irracionais e egocêntricas.
Ame-as mesmo assim.

Se você fizer o bem, as pessoas irão te acusar de segundas intenções egoístas.
Faça o bem mesmo assim.

Os maiores homens e mulheres com as maiores ideias podem ser derrubados pelos menores homens e mulheres com as menores mentes.
Pense grande mesmo assim.

O que você gasta anos construindo pode ser destruído durante uma noite.
Construa mesmo assim.

Dê ao mundo o melhor que você tem e você levará um chute nos dentes.
Dê ao mundo o melhor que você tem mesmo assim.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Crítica - Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (2024)

TítuloGhostbusters: Apocalipse de Gelo ("Ghostbusters: Frozen Empire", Canadá / EUA, 2024)
Diretor: Gil Kenan
Atores principaisMckenna Grace, Paul Rudd, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Kumail Nanjiani, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Bill Murray, William Atherton, Emily Alyn Lind, James Acaster, Logan Kim, Celeste O'Connor, Patton Oswalt, Annie Potts
Nota: 6,0

Caça-Fantasmas continua a divertir, mas precisa parar de querer ser 10 filmes em um

Três anos depois do ótimo Ghostbusters: Mais Além (2021), temos uma sequência para o semi-reboot da franquia Ghostbusters, misturando a "clássica" e a "nova" geração, e trazendo muitas homenagens e saudosismos.

Sendo continuação direta do filme anterior, desta vez as formações novas e antigas dos Caça-Fantasmas precisam se unir para impedir que uma antiga e poderosa entidade de nome Garraka, cujos poderes vêm do frio, liberte e lidere um exército de fantasmas para destruir a humanidade.

Vamos primeiro às boas notícias: mais uma vez temos aventura, humor e fantasmas de maneira divertida como todo Caça-Fantasmas. E pensando no futuro da franquia, temos novidades, como o agora rico Winston (Ernie Hudson) ter secretamente criado uma equipe de pesquisadores para estudar e aperfeiçoar novos equipamentos para a luta contra os espíritos. Além disso, pela primeira vez vemos um fantasma aparentemente "humano e bonzinho", Melody (Emily Alyn Lind), o que leva o filme a um importante questionamento: o que acontece com os fantasmas enquanto eles estão aprisionados? É ruim? Eles sofrem?

E, como no filme anterior, o melhor dele é a neta de Egon, Phoebe Spengler (Mckenna Grace), não só pelo carisma e delicadeza da jovem atriz, mas principalmente, porque seu personagem parece ser o único que realmente entende o legado de ser uma Caça-Fantasmas e o levar a sério.

Mas apesar da diversão de sempre, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é ao mesmo tempo o filme mais sério, menos engraçado e menos assustador de toda a franquia. Um dos motivos disso é seu excesso de diálogos e personagens. A foto do início deste artigo dá uma pequena amostra da quantidade de atores que precisam dividir a tela...

Porém mais que isso, o verdadeiro problema é que Ghostbusters: Apocalipse de Gelo quer contar muitas histórias ao mesmo tempo. Ao invés de focar apenas na história de aventura de "salvar o mundo do fantasma da vez", o roteiro ao mesmo tempo também quer comentar sobre adolescentes ficando adultos, o personagem de Paul Rudd querer ser aceito como pai, a "nova" geração com dificuldades em assumir o cargo enquanto a "velha" geração não quer aceitar a aposentadoria, fora as muitas homenagens aos filmes dos anos 80 (além do monte de personagens que voltaram em Ghostbusters: Mais Além, desta vez também voltou o prefeito Walter Peck (William Atherton)).

É muito assunto para um filme só... e o resultado é um roteiro um bocado cansativo que acaba não discutindo nenhum dos temas com nenhuma profundidade.

Ainda assim, apesar de seus excessos, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo deve agradar os fãs da franquia e, se tiver boa bilheteria mundial, deverá receber mais uma continuação, a qual eu espero REALMENTE, tenha menos personagens, e abracem de vez o tempo presente. Nota: 6,0

O filme tem tantos personagens que a principal e melhor deles, Phoebe Spengler pela Mckenna Grace, não estava na cena da foto-título deste artigo. E como é bacana ver que ela é fã da franquia desde criança. Deve ser muito bom fazer parte do seu sonho.


domingo, 21 de abril de 2024

Crítica - Guerra Civil (2024)

TítuloGuerra Civil ("Civil War", EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Alex Garland
Atores principaisKirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Jefferson White, Stephen McKinley Henderson, Nick Offerman, Sonoya Mizuno, Nelson Lee, Jesse Plemons
Nota: 7,0

Road movie bom e tenso, mas falta um algo mais

Acaba de estrear no mundo todo o filme Guerra Civil, que promete causar polêmica principalmente nos EUA, afinal, ele se baseia em um fictício futuro próximo onde os Estados Unidos estão em plena guerra interna: as "Forças Ocidentais Separatistas", composta por alguns estados e lideradas pelo Texas e Califórnia, lutam para derrubar do poder o atual governo dos EUA. Não é detalhado em nenhum momento os motivos para o conflito, porém é citado que o atual Presidente age como um ditador, não respeita a democracia, e se encontra atualmente no terceiro mandato seguido.

Na história, o conflito está caminhando para o fim, e a dupla de jornalistas de guerra Lee Smith (Kirsten Dunst) e Joel (nosso brasileiro Wagner Moura) planejam se deslocar de Nova York até a capital Washington DC para conseguir uma entrevista exclusiva com o Presidente (Nick Offerman), antes que ele seja morto ou deposto. Junto a eles se juntam Sammy (Stephen McKinley Henderson) um velho jornalista do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem e inexperiente fotógrafa que sonha ser uma fotojornalista de guerra tão famosa quanto Lee.

Porém a jornada não será fácil, primeiro, claro, por estarmos em plena guerra; mas para piorar, o exército do governo estadunidense não tem sido muito tolerante com a imprensa. Estamos então diante de um road movie bem tenso, com várias cenas de violência, e com um sentimento de angústia, urgência e tensão muito bem executados.

Para minha surpresa, mais do que focar no conflito em si, Guerra Civil foca na vida dos profissionais de imprensa que fazem a cobertura de dentro dos conflitos. É realmente chocante e surpreendente constatar como é o trabalho destas pessoas. O perigo que elas se expõe é quase igual a dos soldados em batalha, e para você também sentir isso com as ótimas sequencias de ação e imagem que temos no filme, recomendo fortemente que você vá ver Guerra Civil nos cinemas, e não na sua casa.

Vamos agora as minhas primeiras ressalvas. Claro que os jornalistas de guerra podem morrer a qualquer momento. Mas será que é mesmo como está mostrado no filme? Lee dá bronca na novata várias vezes que ela tem que se cuidar, usar capacete e colete; porém, o grupo todo faz isso poucas vezes... capacetes? Uma vez no filme todo. Aliás, em Guerra Civil não faria mesmo diferença, pois assim como em muitos filmes do gêneros, mesmo estando de colete, para qualquer soldado, basta um tiro e eles morrem instantaneamente. Outra coisa que não me convence são os soldados permitirem o pessoal de imprensa caminhar o tempo todo ao lado deles. Eles não fazem barulho? Não atrapalham movimentação? Linha de tiro? Uma coisa é, você como jornalista estar a metros da ação, ou há segundos depois da ação. Agora, estar o tempo todo dentro da ação... não faz muito sentido.

Cada local onde o grupo passa durante sua jornada rende imagens e situações bem fortes e interessantes, de fato, o filme é bom tanto quanto em roteiro quanto em imagens. A fotografia é excelente, tanto que sou obrigado a fazer outra crítica... para mim há um certo fetiche pelas cenas de guerra, armas, violência... ok, entendo que houve a tentativa do diretor de demonstrar o valor e a beleza no trabalho de um fotógrafo ao conseguir a "imagem perfeita", porém, entendo que haveria outras maneiras de se explorar isto.

Guerra Civil acaba sendo visual demais, a meu ver. Há poucos diálogos, pouco debate sobre o que realmente está acontecendo. Nas entrelinhas, a mensagem até é simples, que aquele conflito é o resultado final de tudo que a extrema direita vêm plantando ao longo de anos nos EUA e mundo... mas o roteiro é bastante cuidadoso em não levantar esse debate. Até a escolha dos estados líderes da "insurgência": Texas (tradicionalmente conservador) e Califórnia (tradicionalmente liberal) estarem do mesmo lado é proposital para não haver polarizações. É como se o filme fosse criado para trazer esse assunto à tona, mas na hora de sua entrega, saísse a francesa...

O mais fraco de Guerra Civil é seu desfecho, a meu ver. O final é clichê e o comportamento de seus personagens um pouco incoerente. Como pontos altos, temos suas várias cenas de ação e tensão, e a atuação de Kirsten Dunst. Como ela está excelente aqui... ela parece mesmo ser a tal fotojornalista Lee, de tão convincente.

Eu estava com uma alta expectativa por Guerra Civil e talvez por isso tenha ficado um pouco decepcionado. Ele teve oportunidade de fazer algo marcante, mas na hora "h" se esquivou ou apelou para o senso comum. De qualquer forma, é uma experiência cinematográfica bem impressionante e um filme muito bom. Se não saí do cinema extremamente satisfeito, pelo menos é como dizem, mais importante que o destino é a viagem. Nota: 7,0

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Breaking news! Golden Axe e Quentin Tarantino são as grandes surpresas da semana!

Semana com duas notícias bem surpreendentes, tanto que resolvi divulgá-las por aqui! Vamos para as bombas?

Golden Axe: o desenho!?

Uma das minhas franquias favoritas de videogame quando eu era criança era Golden Axe, um dos primeiros jogos de  beat 'em up de "capa e espada" da história, feita pela SEGA. Eu até já escrevi um artigo sobre ele.

Pois eis que foi anunciado no começo desta semana que o canal Comedy Central encomendou uma temporada de animação com 10 episódios de Golden Axe. A série terá produção conjunta da CBS Studios, Sony Pictures Television e Original Film. A SEGA, por sua vez, está dando seu aval ao desenho e atua na produção executiva.

A série animada de Golden Axe será uma criação de Mike McMahan (criador e roteirista de Star Trek: Lower Decks) e Joe Chandler (roteirista de American Dad!). O tom do desenho será de comédia, e ele foi apresentado como: "acompanhe os guerreiros veteranos Axe Battler, Tyris Flare e Gilius Thunderhead enquanto eles mais uma vez lutam para salvar Yuria do gigante malvado Death Adder, que aparenta nunca se manter morto. Felizmente, desta vez eles têm o inexperiente e despreparado Hampton Squib ao seu lado.".

Então, além de confirmar os três personagens mais clássicos da franquia - o anão Gilius Thunderhead, a feiticeira Tyris Flare e o bárbaro Ax Battler - durante o anúncio também foram citados os personagens Chronos Lait, a pantera antropomórfica que apareceu apenas no jogo Golden Axe III, e um inexperiente e otimista aventureiro de nome Hampton Squib criado especificamente para esta animação.

Empolgados? Eu estou... curioso.


E não teremos mais Críticas...

O cineasta Quentin Tarantino anunciou em 2022 que seu próximo filme - seu décimo como diretor - seria também seu último. O filme se chamaria The Movie Critic (O Crítico de Cinema, em tradução livre), se passaria em 1977 e teria Brad Pitt como protagonista.

A história se basearia em um crítico de cinema real, que escrevia em uma seção de uma revista adulta que Tarantino gostava de ler quando adolescente. Além da premissa curiosa, havia boatos que o diretor gostaria de ter o elenco de Pulp Fiction de volta, o que significaria a presença de John Travolta e até de Bruce Willis, que devido sua doença atual, talvez aparecesse apenas em imagens de arquivo. A produção estava prevista para começar em Agosto deste ano, para lançar o filme em 2025.

Estava... pois nesta quarta-feira o site Deadline anunciou com exclusividade que Tarantino desistiu oficialmente de The Movie Critic. Ainda insatisfeito com o roteiro, ao invés de reescrevê-lo (mais uma vez), o diretor / roteirista resolveu abandonar o projeto de vez e agora passa a procurar uma nova idéia para sua despedida nos cinemas...

sábado, 6 de abril de 2024

Curiosidades Cinema Vírgula #020 - O que é um filme Blockbuster? Conheça a história da origem desta expressão e outras curiosidades associadas

Filmes Blockbuster (também traduzidos no Brasil como Arrasa-quarteirão) são filmes de longa-metragem feitos por grandes estúdios que se tornam muito populares e bem-sucedidos financeiramente. Porém com o passar do tempo o termo também passou a significar filmes em que se espera ter estes resultados, ou seja, que são criados para ser um Blockbuster, contando com um enorme orçamento para sua produção e uma gigantesca campanha de marketing associada.

Como exemplos de filmes Blockbusters deste século, podemos citar os filmes da franquia Harry Potter, Star WarsMissão: Impossível e Os Vingadores.


A origem do termo e sua associação com filmes

A origem do termo blockbuster é triste, pois foi criado como apelido para um tipo de bomba usada pelas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial. Eram uma das bombas convencionais mais fortes até então, lançadas por aviões bombardeiros ingleses, e tinham o poder de "destruir um quarteirão inteiro", daí o seu nome / apelido.

A primeira vez que o termo blockbuster foi usado para filmes foi em 1943, para promover o filme Bombardeio (Bombardier no original), um filme de guerra sobre... bombardeiros. "O arrasa-quarteirão de todos os programas de ação e suspense!" ("The block-buster of all action-thrill-service shows!"). Em outras palavras, o termo ainda era um trocadilho, e não tinha o sentido atual.

Com o fim da guerra, a palavra blockbuster havia sumido do vocabulário das pessoas. Até que em 1948 a famosa revista Variety voltou a usar o termo em um artigo sobre filmes de grande orçamento. A partir daí, então, os estúdios passaram a usar esta palavra para promover seus filmes "épicos", ou seja, obras espetaculares, grandes em custo e escala. Como exemplos, filmes como Sansão e Dalila (1949), Quo Vadis (1951), Ben-Hur (1959) e Cleópatra (1963) foram produções propagandeadas na época como blockbusters.


O primeiro Blockbuster moderno

O termo blockbuster sofreria nova atualização em 1975, com o filme Tubarão (Jaws no original), de Steven Spielberg. Agora, também se adicionava ao termo sua relevância no cotidiano das pessoas, que passavam a comentar sobre o filme em todos os lugares. E mais ainda, pela primeira vez também o termo passou a significar filas de pessoas dando volta no quarteirão para entrar nos cinemas.

Tubarão, claro, foi o filme de maior bilheteria daquele daquele ano, e dois anos depois Star Wars de George Lucas faria algo ainda muito maior, com seu filme ficando em cartaz nos cinemas por mais de um ano. Estava criada a "era do Blockbuster", ou ainda, a era dos "Blockbusters de verão", já que estes filmes eram lançados nesta época do ano, para aproveitar o maior público nas ruas. A partir de então os blockbusters passaram a ir além das telas, sendo culturais, e recebendo investimento massivo de produtos e propaganda.

Desde Tubarão e até os dias atuais os grandes estúdios tentam todo ano lançar e lucrar centenas de milhões com seu "novo blockbuster", escolhendo e reservando um grande-mega lançamento cinematográfico... embora se formos pensarmos literalmente no tempo de "hoje", a indústria do Cinema tenha sofrido um certo golpe em suas pretensões após a pandemia do Covid-19.


E houve outro...

Ah, e Blockbuster também já foi o nome da maior rede de locadora de filmes e videogames do mundo, dominando o mercado por cerca de duas décadas, passando pelas eras do VHS ao DVD. Porém com o surgimento da Netflix e sites aluguéis on-line (sim, a empresa do som "tudum" começou assim), e posteriormente com a Netflix inaugurando os serviços de streaming, que virariam o novo padrão deste segmento de entretenimento, a empresa entrou em um rápído declínio global a partir do final dos anos 2010. MAS ainda existe UMA loja Blockbuster em atividade (sim, em pleno 2024!), e ela inclusive se aproveita bastante do fato para ser, ela mesma, um ponto turístico e lucrar com isso.

A "última Blockbuster" fica em uma cidade de 100 mil habitantes de nome Bend, estado de Oregon, nos EUA. É dela a foto que aparece no topo deste artigo. E inclusive a loja chegou até a ganhar um filme-documentário, The Last Blockbuster, de 2020.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

segunda-feira, 11 de março de 2024

Resumo, curiosidades, e meus pitacos sobre os vencedores do Oscar 2024


E tivemos ontem a noite a 96ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, ou como foi mais popularmente divulgado, os Oscars 2024. E confirmando seu favoritismo, o grande vencedor da premiação foi Oppenheimer, não só por ter vencido o Oscar de Melhor Filme, mas também por ter levado o maior número de estatuetas: sete no total.

Já a "prata" da noite ficou com Pobres Criaturas, que levou para casa quatro estatuetas. E fechando a lista dos filmes que venceram mais de um prêmio - e agora sim temos uma surpresa - tivemos dois Oscars para Zona de Interesse, nosso "bronze": o de Melhor Filme Estrangeiro e o de Melhor Som. Porém mesmo esta "novidade" é um bocado decepcionante, afinal, tanto Oppenheimer quanto Zona de Interesse falam da Segunda Guerra Mundial, e juntos, levaram nove Oscars. Será que um dia veremos a Academia parar de "babar" para este tema?

E, a partir de agora, em tópicos, uma série de curiosidades e "pitacos":
  • Em sua terceira indicação, e agora com 58 anos, Robert Downey Jr. finalmente levou seu primeiro Oscar para casa, o de Melhor Ator Coadjuvante, como Lewis Strauss em Oppenheimer.
  • Outro que demorou para ter seu talento reconhecido foi Wes Anderson, que enfim venceu seu primeiro Oscar! Porém quis a Academia que fosse via o prêmio de Melhor Curta-metragem, por seu A Maravilhosa História de Henry Sugar (mas ele não esteve na cerimônia para receber o troféu, infelizmente...).
  • Já a cantora Billie Eilish precisou esperar bem menos, pois quando venceu o Oscar de Melhor Canção Original junto com seu irmão Finneas, por "What Was I Made For?" de Barbie, ela se tornou aos 22 anos pessoa mais jovem a ganhar duas estatuetas, superando o recorde da atriz Luise Rainer, que aos 28 anos ganhou em 1938 seu segundo Oscar como Melhor Atriz.
  • Os cinco indicados ao Oscar de Melhor Fotografia (e quem venceu foi Oppenheimer) misturaram cenas coloridas com preto-e-branco.
  • Fiquei bastante satisfeito com os vencedores de Melhor Roteiro Original (Anatomia de uma Queda) e Melhor Roteiro Adaptado (Ficção Americana). O primeiro por ser bom, inovador e de várias camadas; e o segundo, pois conforme antecipei na minha crítica, exigiu bastante adaptação da obra original.
  • O Oscar de Melhores Efeitos Visuais foi para o japonês Godzilla Minus One, o primeiro Oscar da história da franquia. Independente de ser justo ou não (eu nem vi o filme ainda para ter uma opinião), achei um "tapa na cara" dos funcionários do ramo. Afinal, em uma época em que vemos notícias frequentes onde os funcionários de efeitos especiais dos grandes estúdios são explorados e obrigados a cumprir prazos absurdos e inumanos, ver que os velhinhos da sua categoria ainda por cima resolvem premiar um filme estrangeiro de baixo orçamento...
  • O anfitrião Jimmy Kimmel vinha fazendo uma noite morna e esquecível... até que no final do programa trouxe dois momentos memoráveis... o primeiro foi colocar no palco o ator John Cena praticamente pelado para anunciar o prêmio de Melhor Figurino, e o segundo, foi retrucar ao vivo um tweet do ex-presidente Donald Trump, que o criticava pela sua performance daquela noite com um "I’m surprised you’re still up - isn’t it past your jail time?" (algo como, estou surpreso que você ainda está acordado... já não passou da sua hora de dormir? Porém ele troca a palavra "bed" (cama) por "jail" (cela, de prisão)... ficando como "já não passou da sua hora de ir preso?), para aplausos da maioria do público.
  • Um dos melhores momentos da noite foi Emma Stone recebendo o Oscar de Melhor atriz por Bella Baxter em Pobres Criaturas. Bastante emocionada, é legal ver que apesar de excelente atriz, a fama não subiu em sua cabeça.
  • Por outro lado, um dos piores momentos foi a maneira com que Al Pacino anunciou o Oscar de Melhor Filme. Ok que a Academia queira dar a honra a grandes nomes do passado para ser o anunciante do "premio máximo"... mas custa ensaiar esse momento antes? E ver se o escolhido pode seguir um roteiro a risca? O critério pra apresentar tem que ser um "bom apresentador" e não um "merecedor de homenagem", pois se tem um momento em que não deveria abrir espaços para erros ou improvisos, é esse...
  • E para encerrar, o vencedor do Oscar de Melhor ator foi Cillian Murphy como Oppenheimer. Ele atuou bem sim, mas o melhor do ano pra mim foi Leonardo DiCaprio em Assassinos da Lua das Flores e ele sequer estava entre os indicados! Só que mais justo e importante de que Cillian Murphy ganhar, foi ver o egocêntrico Bradley Cooper perder. E melhor ainda, seu filme Maestro não levou NENHUM Oscar pra casa. Choooooooooooora Bradley Cooper!

sexta-feira, 8 de março de 2024

Especial Dia Internacional da Mulher: Atriz e inventora, conheça a incrível (e conturbada) história de Hedy Lamarr

Hedy Lamarr (Hedwig Eva Maria Kiesler) nasceu em Viena (Áustria) no dia 9 de novembro de 1914. Curiosa por natureza, e também incentivada pelo pai, já criança costumava desmontar as coisas para ver como funcionavam. De família judia, por ser filha de um banqueiro pôde receber educação particular, sendo que com cerca de 10 anos já era uma boa bailarina, pianista e falava quatro idiomas. Aos 16 anos ela começou a atuar em filmes pela Europa, mas seria dois anos depois, aos 18, onde ganharia fama graças ao polêmico filme checo Ecstasy (1933).

Traumático para a atriz, Ecstasy ficou famoso com Hedy interpretando aquela que é considerada a primeira cena de orgasmo da história do Cinema mundial, além de trazer algumas cenas de nudez. Em entrevistas posteriores, Lamarr contou que foi duplamente enganada. Ingênua e ansiosa para fazer o filme, acabou assinando contrato sem o ler direito, e quando ela se recusou a tirar a roupa a pedido do diretor Gustav Machatý, ele disse que então ela teria que pagar por todas as filmagens até então se fosse desistir da produção. E mais ainda, para "tranquilizá-la", prometeu que as filmagens seriam de longe, o que não permitiriam o espectador perceber muitos detalhes. Foi apenas depois que as tomadas foram feitas que Hedy viu que as cenas foram filmadas em close.

No mesmo ano de 1933, Hedy iniciaria o primeiro de seus seis casamentos, com Friedrich Mandl, um rico austríaco fabricante de munições e armas. Seu marido, absurdamente controlador, acabou com sua carreira de atriz e praticamente a mantinha presa em casa, em cativeiro (além de tentar infrutiferamente destruir as cópias do filme Ecstasy). E ainda piora: sendo simpatizante de Mussolini e Hitler, seus clientes, Mandl frequentemente a levava para reuniões nazistas. Lamarr só sairia deste pesadelo em 1937, através de um plano engenhoso e quase "cinematográfico".

Foram meses de planejamento: primeiro ela pediu ao marido para ter uma criada à sua disposição, criada esta que Hedy escolheu especificamente para ter o mesmo porte, altura e cor de cabelo. A fuga aconteceu na noite de um jantar importante, onde Lamarr aproveitou para colocar em seu corpo todas as jóias que possuía. Em dado momento, fingiu passar mal, e junto com a criada se retirou para descansar. Então Hedy colocou a criada para dormir com um sonífero, roubou e vestiu seu uniforme, e assumindo o "papel" de sua empregada, saiu da casa sem despertar suspeitas. Ela então fugiria de lá de bicicleta com suas jóias, deixando a Áustria para a França, e posteriormente, para a Inglaterra.

O tempo sem atuar não fez o mundo esquecê-la. Tanto que a maior inspiração para o visual de Branca de Neve, na inovadora animação de 1937 da Walt Disney, foi justamente ela. Hedy Lamarr inspirou não apenas a aparência, como também os estilos de maquiagem e penteado da personagem. Em 1938 ela se mudaria para os EUA, e já com um contrato assinado com a MGM para ser atriz em Hollywood.

Hedy Lamarr chegou aos Estados Unidos sendo promovida como a "mais bela mulher do mundo", alcunha que a acompanhou por muitos anos da carreira. Apesar dos esforços da MGM em transformá-la em uma grande estrela, o plano não deu tão certo. As bilheterias de seus filmes acabaram alternando entre desempenhos bons e ruins. Hedy não era uma atriz excepcional, mas ela também era prejudicada por ser escalada apenas para o mesmo papel de mulher bela e sedutora, além de ser colocada propositalmente em alguns filmes menores por Louis B. Mayer. Insatisfeita, Lamarr deixou a MGM e em 1946 produziu o primeiro dos seus filmes, Flor do Mal (The Strange Woman no original), em um movimento bem ousado para a época, especialmente em se tratando de mulheres.

Em seus últimos trabalhos ela se alternou entre filmes independentes (alguns produzidos por ela mesma) e filmes de grandes estúdios, sendo um destes o seu maior sucesso de público, o épico Sansão e Dalila de 1949, da Paramount Pictures, onde ela fazia o papel da Dalila, claro (ver foto abaixo). No total foram quase 30 filmes em solo estadunidense, no período entre as décadas de 30 a 50.

Se durante o dia Hedy era a bela atriz, a noite ela era a inventora, e passava parte do seu tempo em sua casa, se distraindo com as invenções mais diversas. A maioria de suas criações eram soluções práticas para problemas cotidianos, como por exemplo uma caixa de lenços de papel para depositar lenços usados, uma coleira de cachorro que brilhava no escuro, ou uma cadeira para ser acoplada no chuveiro, para que as pessoas que não conseguissem ficar em pé pudessem tomar banho e depois girar para se secar.

Hedy conheceu - e até teve um breve relacionamento - com Howard Hughes: aviador, engenheiro e empresário. Ele lhe deu de presente um "mini laboratório", que Lamarr instalou em seu trailer e com isso também podia se entreter durante o intervalo das gravações dos filmes. Quando Hughes reclamou a Hedy que achava que os aviões ainda eram lentos, ela estudou a respeito e baseando-se na aerodinâmica de peixes e aves, devolveu a ele um projeto para novas asas, à qual Howard replicou que ela era um gênio. Durante a guerra, com objetivo de fazer chegar refrigerantes aos combatentes, com a ajuda de dois químicos emprestados por Hughes, Hedy tentou compactar e transformar a Coca-Cola em pastilha, para ser consumida após dissolvida em água. Porém, ela não conseguiu contornar o problema de que a composição da água que as pessoas bebiam variava de região em região, e então sua tentativa fracassou, como ela mesmo admitiria aos risos. 

Porém a grande invenção de Hedy Lamarr, a qual ela desenvolveu junto com seu amigo e compositor musical George Antheil, foi o sistema que seria batizado de “salto em freqüência”. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, e Hedy pensava em... torpedos. Ela estava bastante chocada com um episódio onde um torpedo alemão afundou um navio britânico com refugiados, matando 77 crianças.

Na época se tentava controlar a direção dos torpedos via rádio, e se a (única) frequência da transmissão fosse detectada, a arma era facilmente interceptada. Conta a história que em uma noite, Hedy e George "brincavam" de dueto em frente a um piano, com ela repetindo em outra escala as notas que ele tocava. Então, Lamarr teve o "estalo" de que poderia fazer o mesmo com transmissões de rádio: se o emissor e o receptor mudassem constantemente de frequência, os dois poderiam se comunicar sem medo de serem interceptados.

Os infelizes anos ao lado Friedrich Mandl permitiram que Hedy Lamarr também aprendesse sobre tecnologias relacionadas a armamentos, e isto ajudou no desenvolvimento de sua nova invenção, algo que iria permitir o disparo de torpedos com mais precisão e sem aparecer nos radares dos inimigos. A criação de Hedy e George Antheil foi patenteada e eles a levaram para a Marinha estadunidense, para que fosse usada na Guerra o quanto antes. Porém, por preconceito e machismo não apenas sua idéia foi recusada, como também lhe disseram que se ela quisesse mesmo contribuir na Guerra, que usasse sua beleza para fazer campanhas e propagandas para vender bônus de guerra. E mesmo recebendo este tratamento, assim ela o fez, sendo que Lamarr ajudou a vender quase 25 milhões de dólares dos tais bônus.

A tal invenção de Hedy Lamarr foi ignorada completamente pela Marinha até 1962, quando foi usada por eles na Crise dos Mísseis em Cuba. E somente nos anos 80 os militares liberaram a tecnologia para ser utilizada comercialmente. Desta forma, o tal sistema de “salto em freqüência” foi a base para tecnologias de hoje como WiFi, Bluetooth, e GPS.

Hedy Lamarr não recebeu nenhum tostão por sua invenção em toda sua vida (estima-se que ela valeria 30 bilhões de dólares em valores atuais). E somente em 1997 ela e George receberam um primeiro grande reconhecimento público pela sua criação, o EFF Pioneer Award, concedido pelo Electronic Frontier Foundation para pessoas que fizeram "contribuições importantes para a eletrônica". Hedy morreria três anos depois (em janeiro de 2000), com George Antheil já tendo falecido em 1959.

Uma outra homenagem interessante é que em 2005 os inventores e empresários alemães Gerhard Muthenthaler e Marijan Jordan proclamaram o dia 9 de novembro (dia do nascimento de Hedy) como sendo o Dia do Inventor. Embora não tenha sido seguida por todo o mundo, principalmente países de língua alemã como a Alemanha, Áustria e Suíça adotaram esta data.


Conforme as décadas iam passando, ela foi ficando cada vez mais melancólica e pessimista, e algumas de suas declarações que ficaram famosas foram “Meu rosto foi minha ruína”, e "Qualquer garota pode ser glamourosa. Tudo que você precisa fazer é ficar parada e parecer estúpida.".

Hedy Lamarr passou as duas últimas décadas de sua vida cada vez mais reclusa, em sua casa na Flórida, vivendo apenas com uma pequena aposentadoria e de uma pensão do Sindicato dos Atores. Com as pessoas comentando sobre o declínio de sua beleza, Lamarr realizou algumas cirurgias plásticas, porém não teve bons resultados e isto aumentou ainda mais sua reclusão. Em seus últimos anos, seu contato com o mundo exterior era basicamente via telefone, onde ela passava horas diárias conversando com familiares e amigos.

Em 2017 tivemos o lançamento do filme-documentário estadunidense Bombástica: A História de Hedy Lamarr (Bombshell: The Hedy Lamarr Story), que passou com sucesso por alguns festivais importantes (sendo o de Tribeca o maior deles). Mas ele teve exibições modestas em cinemas e nem chegou ao Brasil. O documentário também chegou a ser exibido nos EUA via canais PBS e Netflix.

Eu assisti Bombástica, e posso afirmar que é muito bom, recomendo! Ainda assim, como se pode notar, não tivemos um filme realmente "grande" sobre Hedy Lamarr, sendo adequadamente divulgado e lançado nas Telonas do mundo todo. Porém, vídeos e textos como este meu, resgatando sua história e contribuições felizmente estão ficando mais frequentes. Então quem sabe... que um dia ela tenha na própria Hollywood uma produção digna em reconhecimento pela sua inteligência e contribuições. Até lá, divulguem este artigo! ;)



PS: já leu os outros artigos especiais aqui do Cinema Vírgula sobre o Dia Internacional da Mulher? Se ainda não, aproveite e clique nos links abaixo!

2022: conheça Roberta Williams e suas revoluções para o mundo dos Videogames

2020: Lucille Ball e seu enorme legado para a cultura POP

quarta-feira, 6 de março de 2024

Anatomia de uma Queda - Reflexões


Há alguns anos atrás, publiquei no Cinema Vírgula a primeira participação de um convidado, onde minha amiga e psicóloga Vanessa Calderelli escreveu um texto sobre reflexões sobre o ótimo filme Meu Pai. E para minha alegria, ela está de volta, hoje para trazer suas reflexões sobre outro filme excelente: Anatomia de uma Queda.

Reforço que o texto irá contar bastante coisa sobre o enredo de Anatomia de uma Queda, portanto, só fará sentido para quem já viu o filme. E é isto... aproveitem! :)



Anatomia de uma Queda

O que faz uma pessoa cair? Após 2h30 de um filme denso saí do cinema com essa pergunta martelando na minha cabeça. 

O filme começa com o encontro de uma jovem pesquisadora com Sandra, que aparentemente descontraída abre espaço em sua residência para uma entrevista, o tema da entrevista não fica claro ao expectador, à medida que as perguntas se iniciam o volume de uma música reproduzida no andar superior da casa por Samuel, marido de Sandra, impede que o encontro aconteça. A impressão inicial é que cada vez que uma pergunta acontecia o ‘barulho’ aumentava. A sensação é de incômodo, que permanece no decorrer da trama, quase como se fosse possível enxergar com um borrão o que estava se passando ali. 

Um ato agressivo do marido para impedir a esposa a dar entrevista? Um ato defensivo para se proteger do barulho que o conteúdo da entrevista causava nele? A ambivalência sentida nesta primeira cena percorre todo o filme. Uma melodia que parece agradável no primeiro tom, mas vai se tornando incômoda pela repetição das notas graves.  

Como disse anteriormente, o filme é denso e se desenrola a partir da morte do homem / pai / marido / escritor / professor. Não se sabe nada sobre ele até então, apenas que ouve som alto quando precisa pensar. Na primeira cena em que aparece seu corpo está estatelado no chão de sua casa, na neve. Seu filho o encontra morto, uma cena desesperadora. 

A partir desta cena a narrativa se desenvolve. O que aconteceu ali? 

Uma investigação, um indiciamento, um julgamento. Ele se jogou ou ela fez isso. É isso que está em questão. Assassinato ou suicídio. Cenário frio, gelado. A casa por terminar. O menino com seu cão. A mulher com uma tensão disfarçada. A música alta que impede a atenção e o pensamento. Entrevista interrompida. Vida interrompida. A sequência dos acontecimentos não foi essa descrita aqui por mim, mas tudo inicialmente acontece num caos ordenado ou numa ordem caótica. Me parece que o filme todo se dá assim. Conhecemos a história do casal em fragmentos, no julgamento da mulher / esposa / mãe / escritora e escrevo assim pois são estes os papéis que estão sendo julgados, o tempo todo. A violência na entrelinha do dia a dia, a depressão, a dificuldade de lidar com a vida, com as culpas, com a impotência, com a relação. O que não é visto ou o que é negligenciado?

Há uma tragédia que precede a tragédia. O atropelamento do filho Daniel quando tinha 4 anos, sob os cuidados do pai, que imerso em seu próprio mundo se descuidou do horário da escola. Aqui é possível perceber a dinâmica do casal pré-acidente, que como qualquer outro casal, faz combinados para que as funções de cuidado sejam divididas entre pai e mãe, revezando-se nas tarefas parentais. Após o acidente que deixou Daniel com a visão muito comprometida pelo rompimento do nervo ótico, várias questões emergem na relação conjugal. Um jogo de projeções e culpas, cobranças, traição, depressão. A dificuldade de comunicação entre Sandra e Samuel que originalmente não falam a mesma língua, ela alemã e ele francês, e provavelmente diferenças culturais para lidar com afetos e emoções não possibilitou um espaço continente para lidar com o acidente do filho. A família se comunicava em inglês, pois havia morado em Londres desde o nascimento de Daniel. Este é também um aspecto importante no julgamento, em qual idioma a emoção pode ser contada.

O filme é sobre a anatomia de uma queda, mas eu diria que é mais sobre uma dissecação da relação conjugal que precisa ser ouvida, vista e sentida nas minucias, no detalhe. De uma dor que não pode ser contada em vida e precisou da morte para isso. Dentre juízes, promotores, testemunhas, réu e advogados é o jogo de acusações e defesas que faz tanto mal... lembrei da música Grito de Alerta do Gonzaguinha. 

Não é possível deixar de comentar que Daniel se apresenta desde o início com uma surpreendente lucidez, sem negar o sofrimento. Decide acompanhar todo o julgamento. Cego, praticamente inicia sua própria investigação utilizando outros recursos para compreender o que causou a morte seu pai, evitar que sua mãe seja presa e explicar a sua própria tragédia, a cegueira.  Mostra coragem, perspicácia e sensibilidade. Muito provavelmente precisou desenvolver habilidades para lidar com a dinâmica narcísica dos pais e ao mesmo tempo que houve o investimento deles em sua própria independência. Aos olhos da mãe (fala dita ao final do julgamento) “ele está crescendo e bem”, aos olhos do pai culpa, por se sentir impotente. No caso de Daniel, não há como minimizar a dor, fazer isso seria negar todas as suas percepções a cerca do que acontece a sua volta, inclusive sua surpresa sobre o que acontecia na intimidade relacional dos pais (diferenças e divergências comuns a muitos casais).

Assassinato ou suicídio? O que faz uma pessoa cair, senão o que não pode mais ser sustentado?  Sempre há indícios... sempre. No caso do filme, a vida e a intimidade do casal são expostas para o júri como vísceras na aula de anatomia, o cadáver exposto no centro, quem apresenta no centro e quem assiste ao redor. Isso foi algo que me chamou a atenção. A fala estarrecedora do filho no final do julgamento dizendo que não são os fatos que justificam o caso, mas o que leva aos fatos. Deixa todos de boca aberta no final, inclusive a juíza.

Uma cena importante no julgamento é a do psiquiatra que acompanhava Samuel. Ele descreve o ponto de vista do paciente a respeito das queixas sobre a relação conjugal, é testemunha da acusação. Sandra se defende dizendo que se a terapeuta dela estivesse ali certamente falaria também das queixas dela em relação ao marido. As queixas individuais sempre são sobre pontos de vistas parciais. A questão que está sendo investigada no filme diz respeito à dinâmica do casal, portanto só seria possível de serem analisadas de forma preventiva e dinâmica numa sessão onde ambos estivessem, portanto, numa terapia de casal. A partir disso seria possível buscar compreender e cuidar dos motivos que levaram o casal à crise, buscando uma saída mais saudável, que não a morte.

Ninguém sabe o que acontece numa relação até que a dinâmica e a problemática seja exposta. As gravações em áudio, em especial a última, ambivalente e contraditória, não teria sido a forma póstuma de comunicar seu sofrimento? Uma carta suicida ou uma acusação à esposa? A cena da discussão que está no áudio é muito angustiante, principalmente porque revela algo comum aos casais em crise. Que cena! 

Algo da ordem do insuportável é o que fica exposto, é o que leva à morte, é a marca do vazio que fica na queda, no gelado da neve, na casa inacabada, nas vidas dos que ficam. No luto de uma relação impossível de lidar em vida. Naquilo que provoca a queda dos que vivem e dos que morrem. 

Anatomicamente não se vê a emoção, nem o que liga uma pessoa à outra. Tais emoções só podem ser enxergados nos vínculos e nas marcas daqueles que vivem, antes da queda ou na dor daqueles que sobrevivem a ela.


Vanessa T. Calderelli é psicóloga clínica há 20 anos, psicanalista de casal e família. Mestre em Psicologia Clínica Social pela Puccamp. Especialista em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae e pela Unicamp. Terapeuta voluntária do Napc (Núcleo de Atendimento e Pesquisa da Conjugalidade e Família) do Instituto Sedes Sapientiae. Membro da ABPCF (Associação Brasileira de Psicanálise de Casal e Família).

terça-feira, 5 de março de 2024

Crítica - Anatomia de uma Queda (2023)

TítuloAnatomia de uma Queda ("Anatomie d'une Chute", França, 2023)
Diretora: Justine Triet
Atores principaisSandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado-Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth, Saadia Bentaieb, Messi
Nota: 8,0

Filme mistura tribunal, "whodunnit" e reflexão com eficiência

O filme francês Anatomia de uma Queda tem sido um dos mais elogiados e premiados filmes não-estadunidenses em 2023 e 2024. Cinco indicações para o Oscar, vencedor do cobiçado Palma de Ouro em Cannes (ou seja, o prêmio de Melhor Filme), vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme em língua não-inglesa, dentre várias outras premiações. Além disso, com esta obra, a diretora francesa Justine Triet conseguiu ser a terceira mulher a levar a Palma de Ouro. Ela também está indicada ao Oscar de Melhor Direção e ao Oscar de Melhor Roteiro Original - sendo em ambos os casos a primeira vez de uma mulher francesa.

Na história temos a escritora alemâ Sandra (Sandra Hüller) que mora isolada em um chalé numa montanha, com seu marido o Samuel (Samuel Theis) e filho Daniel (Milo Machado Graner), sendo este praticamente cego. Em uma manhã Samuel é encontrado morto, fora de casa, e devido a dúvida se houve um crime ou acidente, Sandra é levada a julgamento.

É então que a trama mistura cenas de tribunal, um bocado de whodunnit (e sim, o filme é muito bem montado de modo que ficamos o tempo todo tentando adivinhar o que aconteceu), problemas de relacionamento familiar, e uma interessante reflexão sobre culpa e justiça.

Um outro forte fator positivo de Anatomia de uma Queda é sua atriz principal, a alemã Sandra Hüller, em excelente atuação, pela qual merecidamente ela recebeu uma indicação ao Oscar (Sandra também é uma das principais atrizes de Zona de Interesse, outro dos indicados ao Oscar de Melhor Filme). Aliás, falando em Oscar e diversidade de países, usando a "desculpa" de que a personagem de Sandra é alemã e o seu marido é da França, eles se falam em inglês como "idioma comum". Então, mesmo sendo um filme francês, pouco mais de metade dos diálogos estão em inglês. Certamente isto ajudou a ampliar o número de indicações de Anatomia de uma Queda em festivais de língua inglesa.

E mesmo já sendo um bom filme de suspense, com boas atuações, o que pra mim diferencia Anatomia de uma Queda é sua exposição sobre a "realidade" versus "o que é dito". Por exemplo, a meu ver o advogado da acusação era bem mais competente e convincente do que o da defesa; os depoimentos de Daniel foram parciais; Sandra manteve o tempo todo a versão de uma família feliz, mas as evidências mostravam um oposto assustador. E vou mais além, será que ela estava "mentindo"? Ou realmente acreditava naquilo, baseada em sua própria percepção da realidade? Cada uma destas "versões" potencialmente prejudica a "verdade" influenciando o Juri... e isto me incomodava profundamente. Mas... já pensaram no que seria exatamente "a Verdade"? E já perceberam que estas distorções e nuances estão presentes na vida real em todo julgamento, todos os dias?!

Continuarei avançando nestas reflexões... mas para isto, terei que comentar sobre o final do filme. Portanto, se você não quiser ler alguns spoilers de impacto consideráveis, pule o próximo paragrafo, e vá direto para o seguinte. 

O desfecho de Anatomia de uma Queda é... inclusivo. Não dá para saber ao certo se Sandra é inocente ou não. Será que foi suicídio? Se sim, há até a possibilidade de que Samuel tenha gravado o áudio de sua briga com a intenção de prejudicá-la. Para mim é bem claro que o filho, Daniel, acaba escolhendo tomar o partido da mãe. E neste caso... seria correto deixar alguém tão jovem e tão envolvido emocionalmente como testemunha? Mas ao mesmo tempo, estando ele na casa, seria correto deixá-lo de fora? O fato é que apesar de toda investigação e julgamento, nunca saberemos o que realmente aconteceu, e elas tanto poderiam levar alguém inocente para a prisão, quanto também ter deixado um assassino livre. E situações "inconclusivas" como esta existem na vida real a todo momento. Isto é perturbador, se pararmos para refletir. E analogamente, deixando as leis de lado, o mesmo se pode dizer a respeito dos dramas pessoais, traumas familiares... nunca saberemos o que ocorreu no interior de cada indivíduo.

Para o público geral, que está acostumado com os filmes estadunidenses, talvez haja um pouco de desconforto, no sentido de achar Anatomia de uma Queda um pouco parado, ou com muitos diálogos. Já para o público padrão que gosta de filmes de suspense (mas sem ação), tribunal, ou "adivinhe o assassino", Anatomia de uma Queda deverá agradar bem. E finalmente, para alguém que está procurando um filme mais denso, que te leve a pensar, este aqui poderá agradar bastante. Nota: 8,0.



PS: repararam que o último nome que coloquei na lista de atores principais é o Messi? Mas não se trata do famoso jogador de futebol argentino, e sim, do cachorro Messi, que atuou como o cachorro-guia "Snoop" no filme. Ele foi uma atração a parte em todos os festivais onde Anatomia de uma Queda participou, e inclusive, foi o vencedor do Palm Dog Award em Cannes: sim, desde 2001 lá existe uma premiação para a melhor atuação canina do ano, seja ela real ou de animação. Abaixo você pode conferir Messi exibindo seu prêmio, que é representado por uma coleira de couro com os escritos "Palm Dog".

domingo, 3 de março de 2024

Crítica - Duna: Parte Dois (2024)

TítuloDuna: Parte Dois ("Dune: Part Two", Canadá / EUA, 2024)
Diretor: Denis Villeneuve
Atores principaisTimothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Léa Seydoux, Christopher Walken, Josh Brolin, Souheila Yacoub, Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling
Nota: 8,5

Duna encerra o primeiro livro com grande espetáculo cinematográfico

Dois anos e meio atrás, após assistir o primeiro filme de Duna, eu disse que poderíamos estar diante "da primeira parte de uma saga única e espetacular". E com este Duna: Parte Dois, Denis Villeneuve atinge em cheio as minhas expectativas. Sua continuação supera em tudo o filme anterior: aqui temos mais história, mais cenas espetaculares e ambiciosas, mais reviravoltas e emoção.

Sendo continuação direta do filme anterior, Duna: Parte Dois termina a história contada originalmente pelo primeiro livro da saga Duna, escrito em 1965 por Frank Herbert. E não, não dá para assistir este filme sem ter antes assistido o primeiro, de 2021. Mas ele está disponível em vários lugares, como por exemplo no Prime Video e no Max - antigo HBO.

Aqui vemos Paul "Muad'Dib" Atreides (Timothée Chalamet) continuando a ganhar influência entre os Fremen, com o objetivo de iniciar uma revolta para tomar de volta o poder do planeta Arrakis. Porém seu sucesso não apenas chama a atenção dos atuais inimigos, o clã Harkonnen, como também chama atenção do Imperador (Christopher Walken) e de sua filha, a Princesa Irulan (Florence Pugh). Em paralelo a tudo isso, e alheias ao fato de que Paul ainda está vivo, as Bene Gesserit continuam articulando fortemente nos bastidores...

Sem a necessidade do primeiro filme de introduzir seu universo, e com ainda mais tempo de tela (2h e 46min contra 2h e 35min), Duna: Parte Dois consegue desenvolver melhor seus personagens - inclusive dando espaço para novos deles. Lady Jessica (Rebecca Ferguson), por exemplo, que pareceu um pouco perdida no primeiro filme, agora está muito bem utilizada. De certa forma então, este filme até "corrige" pontos do filme anterior. Se no primeiro filme tínhamos um maior foco no controle das pessoas através da força e poder econômico, aqui vemos um foco maior no controle através da religião. Ambos são igualmente poderosos e assustadores. E a velha e corrupta política está no interior de tudo isso, claro.

Também há mais tempo para apresentar novas localidades, algumas visualmente bem impressionantes, seja de batalhas, ou o mais surpreendente, de templos antigos. Novamente, é como se tivéssemos reunido o melhor de Star Wars com Game of Thrones... com o detalhe que a saga de Duna foi escrita décadas antes, deixando claro quem foi a inspiração, e quem são as "cópias".

Denis Villeneuve conseguiu deixar seu Duna com um visual e uma trilha sonora bem diferente e marcantes, e que se houver justiça, ficarão gravados na história da cultura Pop. Ele conseguiu afinal, de seu modo, adaptar um dos tais livros "inadaptáveis". Duna 1 e 2, em geral, acabam sendo bem fiéis ao primeiro livro da saga. Duna: Parte Dois, entretanto, tem mais "licenças poéticas" que o primeiro filme. Uma delas, por exemplo, é a personagem de Léa Seydoux, Lady Margot, cuja história no livro é completamente diferente da deste filme, e provavelmente isto foi feito para mudanças ainda maiores para o filme três.

Um terceiro filme?? Sim. Pois se for pra falar de algum defeito em Duna: Parte Dois, seria este. Não satisfeito em encerrar a história do livro um, o desfecho deste filme acaba avançando em um evento do livro dois, Messias de Duna. E aí temos um gancho gigantesco para uma continuação... O lado negativo? Esta modificação fez com que a história meio que exija um novo filme. O lado positivo é que se vier mesmo um terceiro filme, e for da qualidade deste... nós cinéfilos e/ou amantes de ficção científica temos muito a agradecer. Nota: 8,5.


P.S.: Duna: Parte Dois não tem cena pós créditos. Outra coisa: faça um favor a você mesmo, assista a este filme NOS CINEMAS!!!!

sexta-feira, 1 de março de 2024

Crítica - Ficção Americana (2023)

TítuloFicção Americana ("American Fiction", EUA, 2023)
Diretor: Cord Jefferson
Atores principaisJeffrey Wright, Tracee Ellis Ross, John Ortiz, Erika Alexander, Leslie Uggams, Adam Brody, Keith David, Issa Rae, Sterling K. Brown, Myra Lucretia Taylor, Raymond Anthony Thomas
Nota: 8,0

Filme bem diferente de temática negra, mas universal e com ótimo final

Assim como Os Rejeitados, este Ficção Americana também é um drama cotidiano que está sendo vendido / apresentado como uma comédia, mas que entretanto pouco nos faz rir. Aliás, em Os Rejeitados até temos uma ou outra gracinha... mas em Ficção Americana não. É que em ambos os filmes, o tal humor não é direto, está presente apenas em seu intenso sarcasmo e ironia.

Ficção Americana é baseado no livro Erasure (2001) do escritor estadunidense Percival Everett. A história nos apresenta Thelonious "Monk" Ellison (Jeffrey Wright), um respeitável e muito inteligente professor e escritor afro-americano. Porém, seus livros não são populares pois não são "negros o suficiente", segundo seus editores. Ao mesmo tempo, um dos maiores sucessos de vendas atuais é We's Lives in Da Ghetto, livro da escritora Sintara Golden (Issa Rae), um enorme amontoado de estereótipos, onde seus afro-americanos vivem todos na violenta, sexual e pobre periferia, falando muitas gírias e palavrões. É então que Monk, em protesto, escreve sob pseudônimo um livro para ironizar obras como as de Sintara... porém seu livro vira sucesso de vendas... e inclusive de críticas(!), deixando tudo cada vez mais confuso e complexo para nosso protagonista.

Ficção Americana é um filme... diferente. Pois apesar do tema principal ser claramente criticar toda a sociedade (e não apenas a sociedade branca, mas a negra também) por consumir e realimentar os estereótipos de raça, este assunto acaba diluído ao longo da trama. Afinal, na maior parte do tempo estamos acompanhando o cotidiano de Monk, com seus problemas de relacionamentos amorosos e familiares, com ele tendo que lidar com a recente doença degenerativa da mãe devido a idade, etc.

O filme acaba passando por vários problemas da vida adulta em geral, e faz isso de modo tão natural que as vezes parece até esquecer seu propósito crítico anti-racismo inicial. Tanto que, no começo de seu desfecho, quando o filme abruptamente retoma a questão do estereótipo racial com toda a força, estranhei e até torci o nariz... mas foi por pouco tempo, já que o final é simplesmente genial, espetacular!

Ficção Americana está indicado a 5 Oscars, dentre eles ao de Melhor Filme, e outra indicação que faço questão de destacar é a de Melhor Roteiro Adaptado, já que a estrutura do livro é bem incomum e exigiu bastante trabalho de adaptação. Quanto a indicação de Melhor Ator para Jeffrey Wright, não acho que neste filme em específico sua atuação seja fora de série (mas ele está muito bem, claro); porém ele é um ator bem competente e versátil, então fico feliz com sua primeira indicação pela Academia.

Dentre todos os filmes deste Oscar com indicação para Melhor Filme, Ficção Americana foi o último a chegar no Brasil. Ele ACABA de estrear no Amazon Prime Vídeo. Quem está procurando por um filme bom e diferente, não perca a oportunidade de conferir. Nota: 8,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...