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domingo, 11 de maio de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #041 - Reese Witherspoon: feminista, entusiasta e adaptadora de livros


A atriz Reese Witherspoon é bem conhecida mundialmente. Hoje com 49 anos e com atuações em cerca de 40 filmes, ela provavelmente ficará para sempre no imaginário popular pelas suas participações nas comédias Legalmente Loira (2001) e Legalmente Loira 2 (2003), e também no drama musical Johnny & June (2005), do qual aliás ela venceu o Oscar de Melhor Atriz.

Porém Reese também é empresária e produtora, onde aliás tem trabalhado mais do que na função de atriz nos últimos anos. Estes outros "aspectos" da pessoa Reese Witherspoon não são muito conhecidos pelo público brasileiro. Portanto, comentarei um pouco deles aqui no Cinema Vírgula. ;)

Seu lado empresária e produtora se iniciou no ano de 2000, quando ela, juntamente com Debra Siegel, fundaram a Type A Films, uma empresa para produzir filmes. Inclusive, os dois Legalmente Loira já seriam produzidos por esta companhia. Em 2012 houve uma fusão da Type A Films com a também produtora Make Movies de Bruna Papandrea, para criar uma nova empresa chamada Pacific Standard. Sob o nome da Pacific Standard foram produzidos filmes como Garota Exemplar e a série da HBO Big Little Lies. Em 2016, Witherspoon e Papandrea se separariam, com Witherspoon ficando com o controle total da empresa.

Em 2015, Reese Witherspoon lançaria seu segundo empreendimento: a Draper James, uma linha (e loja) de roupas e objetos de decoração inspirados no sul dos EUA (ela é da Louisiana, um dos estados desta região estadunidense).

E finalmente, em 2016, Witherspoon e Seth Rodsky fizeram uma joint venture da Pacific Standard com uma empresa chamada Otter Media. Nascia então a Hello Sunshine: uma empresa focada em produzir, para diversas mídias (cinema, TV, etc), histórias protagonizadas por mulheres.

Como exemplos de séries, a Hello Sunshine produziu The Morning Show (Apple TV), Recomeço (Netflix) e Daisy Jones & The Six (Prime Video). Já em filmes, temos como exemplos Um Lugar Bem Longe Daqui (de 2022, mas que acabou de chegar na Netflix), Um Presente da Tiffany (Prime Video), Na Sua Casa ou na Minha? (Netflix) e Casamentos Cruzados (lançado recentemente na Prime Video).

E ainda tem mais. Reese Witherspoon criou em 2017 seu próprio "clube de livros", o Reese's Book Club. Nele, todo mês, a atriz mensalmente indica um livro para seus seguidores. Os livros também sempre possuem mulheres como protagonistas, e Reese garante que é realmente ela quem faz a indicação dos títulos. Como curiosidade, as indicações do seu book club costumam ser elogiados devida sua diversidade, e também por serem obras bem recentes de autores que em geral ainda não são famosos; por exemplo uma boa parcela delas foram os livros inaugurais de seus respectivos escritores!

Claro que Reese e a Hello Sunshine não iriam perder a oportunidade, e alguns dos seus livros indiciados já foram adaptados em séries ou filmes por eles mesmos, algo que está se tornando cada vez mais comum. É o caso, por exemplo, dos já citados Um Lugar Bem Longe Daqui e Daisy Jones & The Six, e também de Little Fires Everywhere (Prime Video) e A Última Coisa que Ele Me Falou (Apple TV+).

Seu book club é um negócio milionário, disparando a venda de qualquer um de seus livros escolhidos, gerando bastante conteúdo associado nas mídias sociais, além é claro, de estimular o hábito da leitura principalmente entre o público feminino.

A título de curiosidade, em 2021 Witherspoon vendeu a Hello Sunshine para uma dupla de executivos por estimados 900 milhões de dólares, porém com ela e a antiga CEO Sarah Harden continuando a mandar na empresa normalmente. Já em 2023, Reese vendeu 70% da Draper James, onde ela permanece como acionista minoritária e membro do conselho.

Caso queira saber todos os livros que o Reese's Book Club já indicou na vida, é só clicar aqui (está tudo em inglês). As 4 indicações mais recentes estão na imagem mais acima.

Já viu algum filme / série / livro produzido por Reese Witherspoon? Agora não tem desculpa. Só pegar um nome aqui neste artigo e começar. :)



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Crítica - Thunderbolts* [ou agora seria *Os Novos Vingadores?] (2025)

Título
Thunderbolts* (idem, EUA, 2025)
Diretor: Jake Schreier
Atores principais: Florence Pugh, Sebastian Stan, Julia Louis-Dreyfus, Lewis Pullman, David Harbour, Wyatt Russell, Hannah John-Kamen, Geraldine Viswanathan, Olga Kurylenko
Nota: 7,0

Nova Viúva Negra e os Thunderbolts lutam contra a Depressão

Eu tinha curiosidade sobre o quanto este filme Thunderbolts* seria diferente dos demais trabalhos da Marvel. Afinal, eles fizeram um bom esforço em associá-lo à A24, produtora de filmes e séries queridinha do mercado atual, e responsável por filmes consideravelmente "alternativos". Como exemplos de suas produções: Midsommar - O Mal Não Espera a Noite (2019), A Baleia (2022), X - A Marca da Morte (2022), Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022) e Guerra Civil (2024). 

A tentativa de associação entre marcas de Marvel e A24 para este filme foi tal, que chegaram a fazer um trailer especificamente para isto, destacando que Thunderbolts* teria atores que já trabalharam na A24 (Florence Pugh, Sebastian Stan e Julia Louis-Dreyfus), assim como roteiristas (Jake Schreier e Joanna Calo), editor (Harry Yoon), diretores de fotografia, diretora de produção e compositora (Andrew Droz Palermo, Grace Yun e Son Lux respectivamente).

E como resultado final, Thunderbolts* de fato é o filme menos Marvel de todos. Porém, não conseguiu ser muito A24, no que voltarei mais adiante. Na história, vemos a diretora da CIA, Valentina de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus) sendo investigada por atividades ilegais e, colocando sua contratada Yelena Belova / Viúva Negra (Florence Pugh) para destruir as provas e instalações que a comprometesse.

Porém Yelena é conduzida a uma missão suicida, pois ela também é uma "evidência" das atividades ilegais de Valentina, que portanto a quer morta. E o mesmo acontece com outros ex-contratados da diretora da CIA, que escapam da armadilha, e se unem virando os Thunderbolts.

E qual é o vilão que eles enfrentam? Bem, além da própria Valentina, seria o personagem Bob / Sentinela (Lewis Pullman)... porém na verdade o que eles estão mesmo enfrentando é a depressão. Inicialmente representada na melancolia da personagem de Yelena, e posteriormente, na "desesperança" encontrada nela e em Bob.

Então é neste aspecto em que Thunderbolts* se difere de todos os outros filmes da Marvel. O inimigo é uma doença, é um sentimento, é algo que você carrega. E o filme martela várias vezes que a cura é pedir ajuda, é não ficar sozinho. E é bom passar esta mensagem.

E por ter este tema, o filme é um pouco sombrio, com vários diálogos e menos ação do que o padrão Marvel... mas as "mudanças" param por aí. Como qualquer outro filme do MCU (Universo Cinematográfico Marvel), a produção é repleta de piadas, de atos heróicos e de efeitos especiais, e isso mesmo com os personagens não tendo muitos poderes sobre-humanos.

Quem rouba a cena em Thunderbolts* é Florence Pugh, não apenas pela qualidade de sua atuação, mas também pelo seu tempo em tela. Yelena é o fio condutor da trama, e temos aqui algo muito próximo do que seria um filme só seu... O que nos leva a um problema: a Marvel continua incapaz de "recomeçar" um ciclo de verdade, e sempre depende de seu gigantesco passado de filmes e séries. Claro, Thunderbolts* é um filme de história fechada e independente. Porém, metade de seus personagens vêm do filme Viúva Negra (2021), e a outra metade, do seriado Falcão e o Soldado Invernal (também 2021). Dá pra entender e curtir o filme sem ter assistido estas obras? Dá. Mas principalmente sem ter assistido Viúva Negra e sem conhecer o passado de Yelena Belova, um pouco se perde, até para compreender melhor a depressão da personagem, ponto central deste filme.

Diferente, e falando quase exclusivamente de um único tema (depressão), Thunderbolts* acaba sendo um bom filme, menos Marvel, mas até por ainda ser bastante intrínseco ao mundo de super-heróis, acaba ironicamente sendo mais DC do que A24. E depois de vários filmes ruins da "Casa das Idéias", é bom ver que este não é um deles. Nota: 7,0.


PS1: muito se especulava o motivo de ter um " * " no título do filme de Thunderbolts*. E não demorou muito para sabermos a resposta. Quatro dias após o seu lançamento mundial nos cinemas, ou seja nesta segunda-feira dia 05/05, a Marvel fez uma ação comercial "mudando" o nome do filme, que agora não é mais Thunderbolts*, e sim *Os Novos Vingadores. Abaixo segue o vídeo com o elenco do filme fazendo a revelação da "surpresa". Na minha opinião, uma estratégia de marketing meio idiota... mas vamos ver se ela terá algum impacto nas bilheterias...

PS2: Thunderbolts* possui duas cenas pós créditos. A primeira, curta e bobinha, aparece no começo da rolagem de créditos. Já a segunda, consideravelmente longa, acontece no final de todos os créditos e antecipa algumas coisas do futuro do MCU... o principal delas, é um considerável spoiler sobre o Quarteto Fantástico. Quero ver se eles vão mesmo manter na cronologia o que foi mostrado na cena, ou se vão simplesmente ignorá-la no futuro.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #040 - A Piada do Palhaço Pagliacci


Uma piada bem famosa dentro da Cultura Pop é a piada do Palhaço Pagliacci, contada por Alan Moore em seu clássico dos quadrinhos Watchmen (1986-87), facilmente uma das melhores HQs sobre super-heróis de todos os tempos. Em sua obra, Moore nos apresenta este texto quando o personagem Rorschach compara Pagliacci ao herói de nome Comediante (ver um trecho na imagem acima). A descrição completa deste gracejo vem a seguir:


Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.

O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”

O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

Esta triste anedota virou até meme, e por exemplo graças ao seu desfecho melancólico, foi bastante relembrada durante a morte do ator e comediante Robin Williams, devido suicídio, em 2014. O "Paradoxo do Palhaço Triste", em que palhaços e comediantes bem sucedidos, ao mesmo tempo sofrem de ansiedade, depressão, solidão e outros distúrbios mentais, é um fenômeno existente na vida real e estudado pela psicologia. 

Mas o que poucos sabem é que a tal piada do Palhaço Pagliacci não foi inventada por Alan Moore. Aliás, ela já possui alguns séculos de idade. Também há o detalhe que em italiano, pagliacci é o plural de pagliaccio, a palavra “palhaço”. Além de que Pagliacci também é o nome de uma famosa ópera italiana do final do séc XIX, onde seu protagonista Canio é um ator infeliz e ciumento que atuava como palhaço e foi traído pela esposa com o amigo.

De todo este contexto, podemos imaginar que Moore intencionalmente optou por adaptar as versões predecessoras da piada colocando o nome de Pagliacci em sua obra para representar a classe dos atores de comédia em geral.


Como exemplos de versões anteriores da piada do Palhaço Pagilacci, por exemplo podemos encontrá-la dentro do conto The Comic ("O Cômico"), escrito e publicado pelo estadunidense Ralph Waldo Emerson  em 1875 (onde neste caso o "paciente" se chamava Carlini); e também dentro do poema Reir Llorando ("Rindo Chorando"), do escritor mexicano Juan de Dios Peza (1852-1910):

Certa vez, um homem com uma expressão sombria procurou um médico famoso: "Eu sofro", disse ele, "de uma doença tão terrível quanto essa palidez do meu rosto".

(...)

Tome este conselho como uma receita hoje: Somente vendo Garrik você poderá se curar.

(...)

Assim disse o doente, ele não me curou; Eu sou Garrik!... Mude minha receita.


Outras versões desta mesma história são menos curiosas e mais tristes, pois remetiam a pessoas reais. No poema acima, já se especulava que Garrik fosse uma referência ao ator, mímico e palhaço inglês Joseph Grimaldi (1778-1837), que embora tenha sido um grande sucesso em sua época, teve uma vida difícil e passou seus últimos anos no alcoolismo e depressão. 

O "Garrik" de Dios Peza poderia até não ser Grimaldi, mas a versão da piada que mais corria pelos anos 1910 colocava Grimaldi nominalmente como sendo o palhaço da história. Já nos anos 1930, a versão mais popular da mesma anedota colocava como protagonista o palhaço "Grock", mesmo nome artístico de Charles Adrien Wettach (1880-1959) um palhaço suíço que foi um dos maiores artistas europeus de sua geração.

Com registros escritos desde pelo menos o ano de 1814, a estrutura do conto que hoje conhecemos como a piada do Palhaço Pagliacci, graças a Alan Moore e a natureza humana, deverão se manter para a posteridade.



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sexta-feira, 4 de abril de 2025

Crítica Netflix - The Electric State (2025)

Título
: The Electric State (idem, EUA, 2025)
Diretores: Anthony Russo, Joe Russo
Atores principais: Millie Bobby Brown, Chris Pratt, Ke Huy Quan, Stanley Tucci, Woody Norman, Giancarlo Esposito, Jason Alexander
Nota: 5,0

Irmãos Russo colocam em dúvida o futuro dos filmes de Entretenimento

Neste mês de Março tivemos na Netflix a estréia do filme The Electric State, baseado em uma obra de quadrinhos sueca de mesmo nome, publicada em 2018. Antes mesmo de sua estréia, ele chamava a atenção do mundo do entretenimento por outros motivos: primeiro, por ser produzido e dirigido pelos "Irmãos Russo", para quem a Marvel Studios confiou a responsabilidade de planejar e produzir os dois próximos filmes dos Vingadores. Além disto, trata-se do filme disparadamente mais caro feito pela Netflix, com custos estimados em US$ 320 milhões; o que aliás coloca The Electric State entre os 15 filmes mais caros da história.

A expectativa de todos, portanto, era se Netflix e Irmãos Russo iriam entregar algo digno do tamanho investimento... e a resposta infelizmente foi um retumbante "não". Embora The Electric State não esteja indo tão mal em audiência, em termos de críticas sua recepção tem sido catastrófica.

A história se passa nos anos 90 de um planeta Terra "alternativo", pois nele aprendemos que décadas atrás os robôs já começaram a ser utilizados para fazer os trabalhos dos humanos, dos pesados aos domésticos, sendo cada vez mais explorados e mal tratados... até que se rebelaram. Houve então uma guerra e a humanidade estava com tudo perdido, até que surgiu um salvador... Ethan Skate (Stanley Tucci), um gênio da informática que descobriu uma maneira de colocar os humanos para lutar remotamente controlando trajes mecânicos armados através de uma poderosa rede mundial sem fio.

Desta maneira, os humanos mudaram os rumos da batalha e derrotaram os robôs, que foram todos presos ou destruídos. Já os humanos passaram a viver em função da tal rede e seus trajes mecânicos. Neste contexto, a jovem Michelle (Millie Bobby Brown) recebe em sua casa a visita do robozinho Cosmo, pedindo ajuda e dizendo ter a mente de seu irmão Christopher (Woody Norman), morto vários anos atrás. A dupla então sai em busca de respostas, fugindo simplesmente "de todo o sistema".

A única parte dos tais US$ 320 milhões que foram bem investidas foram nos efeitos especiais, mais especificamente nos robôs, de visual retrô bem variado, e acabam parecendo bem "reais". O filme não tem tanta ação, mas as poucas batalhas até são boas. O design de produção de todo universo de The Electric State - boa parte digital - em geral é bem feito e impressiona.

Já o dinheiro gasto no elenco consideravelmente famoso foi um bocado desperdiçado... Millie Bobby Brown até está bem, mas não é seu melhor filme... Chris Pratt e Ke Huy Quan, geralmente carismáticos, desta vez não comovem. Mas o pior foi feito com Giancarlo Esposito: seu personagem, que começa sendo um dos mais interessante da trama, encerra sua participação de modo simplesmente revoltante.

A pior parte de The Electric State é seu roteiro. Como trama e filme de aventura, diria ser um filme mediano da Sessão da Tarde. Daqueles para assistir sem compromisso, quando você está entediado e não encontrou nada melhor pra fazer... porém, com um agravante... aqui temos alguns furos na trama realmente grotescos. Algo que reduziria a recomendação do filme para infantil.

E ver que este é o resultado final de um investimento de US$ 320 milhões é bastante assustador. Não só para nós, consumidores, mas para a indústria de filmes, e principalmente, seus investidores. Filmes que custam centenas de milhões de dólares estão diminuindo, hoje em dia costumam cada vez mais serem apenas de continuações de franquias já consagradas. Ano a ano, no Oscar, temos mais filmes independentes (leia-se "baratos") entre os indicados (lembrando que o grande vencedor deste ano, Anora, foi um filme independente que custou US$ 6 milhões). E aí quando temos uma franquia nova se arriscando com este alto orçamento, vemos essa "coisa" de qualidade bem duvidosa?

E isto que estamos falando de um projeto capitaneado pelos "Irmãos Russo", que já estão acostumados com filmes Blockbusters, e estão trabalhando em The Electric State há pelo menos 5 anos. Será que eles têm capacidade para tocar os futuros filmes Vingadores: Destino (2026) e Vingadores: Guerras Secretas (2027)? Se eu fosse acionista da Marvel, nessas horas estaria beeeem preocupado. Fracassos assim comprometem o futuro de grandes filmes de fantasia e ficção científica... fica cada vez mais raro vê-los em produção... mesmo atualmente já estão quase restritos aos filmes de Super-Heróis.

Concluindo, The Electric State é um filme de aventura mediano. Não chega a ser enfadonho, mas não traz nada de verdadeiramente interessante em sua história. Seu melhor são os pitorescos e visualmente interessantes personagens robôs. Como diria o Chaves, "teria sido melhor ir ver o filme do Pelé". Nota: 5,0.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #036 - Sabiam que a "espada de Excalibur" existe na vida real?


Um dos temas bastante comuns da literatura medieval européia foram os Contos do Rei Arthur, ou melhor dizendo, as histórias do Ciclo Arturiano. E, quase tão famosa quanto este mítico personagem, há também a sua espada Excalibur, a qual às vezes são atribuídos poderes mágicos, e que também, na maioria das vezes está associada à soberania legítima da Grã-Bretanha.

Ainda sobre a Excalibur, há duas versões sobre sua origem. Uma dela, mais tardia (meados do Séc. 13), diz que Arthur a recebeu de presente da Dama do Lago, uma fada (ou se preferir, bruxa) de nome Viviane (ou se preferir, Nimue), sendo uma esta uma espada mágica e indestrutível forjada na mítica ilha de Avalon. Outra, diz que a espada ficava encravada em uma pedra, e que ninguém conseguia tirá-la de lá. E apenas quem merecesse ser o "verdadeiro Rei da Inglaterra" conseguiria realizar a façanha. Então um Arthur ainda jovem tentou removê-la da pedra e o fez com facilidade, tornando-se Rei. A primeira referência desta versão é de um poema francês de 1200, onde Arthur retira uma espada de uma bigorna que está em uma pedra de um cemitério de uma igreja.

Esta segunda explicação para a origem inspirou, por exemplo, a criação do livro infanto-juvenil The Sword in the Stone (1938) do escritor britânico T. H. White, que por sua vez foi adaptada em 1963 pela Disney em um filme de animação chamado A Espada Era a Lei, que é de onde tiro a imagem-título acima. Quem ainda não viu esse desenho, recomendo muito. Além de divertidíssimo, tem uma das batalhas mágicas mais épicas da história, entre o Mago Merlin e a Madame Min.


Galgano Guidotti e a "Excalibur" real

A "Espada na Pedra" do mundo real

E para quem pensa que o conto da "Espada na Pedra" é 100% fábula, vamos para o que é hoje o pequeno município de Chiusdino, na região italiana da Toscana.

Em 1148 nascia Galgano Guidotti, filho de um senhor feudal, e que na vida adulta era um cavaleiro impiedoso que também vivia uma vida, digamos... impura. Até que, segundo a lenda, por volta de 1180, ele começou a ter sonhos com Arcanjo Miguel, que lhe dizia para mudar de vida. Em um sonho em específico, Miguel o levou à colina de Montesiepi, e disse para Guidotti construir uma casa para a glória de Deus, desistir de suas posses mundanas e viver como um eremita.

Ainda no sonho, Guidotti retrucou dizendo que isso seria tão difícil quanto cortar uma pedra com sua espada, e para "provar" seu ponto, resolveu cortar uma pedra ao seu lado. Porém sua espada cortou a pedra como se fosse manteiga.

Continuando a história contada pela tradição local, dias depois Guidotti estava cavalgando, e seu cavalo passou a recusar suas ordens e acabou o levando à Montesiepi, ou seja, onde as imagens do seu sonho ocorreram. Entendendo como um sinal divino, um comovido Galgano quis colocar uma cruz no local. Porém ele não tinha uma cruz com ele e, em vez disso, mergulhou sua espada em uma pedra próxima. A espada, que deslizou dentro da pedra facilmente, ficou com a maior parte da lâmina enfincada, e com isto o que restou para fora da pedra ficou parecendo uma cruz.

Para decepção de sua família, Galgano Guidotti viveu o resto de sua curta vida (ele morreu em 1181) como um eremita e dedicado a Deus, conforme os sonhos lhe haviam pedido. Em 1185 o Papa Lúcio III santificou o homem (desde então São Galgano) e uma capela redonda foi construída em volta da espada para preservá-la, onde ela está até hoje.

Cappella di San Galgano a Montesiepi

Também dizem as lendas que muitos tentaram retirar a espada de Galgano da pedra, e não conseguiram. E que entre sua morte e a construção da capela, um ladrão tentou roubar a espada mas foi completamente devorado por lobos, sobrando-lhe apenas as mãos e braços. Os ossos da mãos e braços do "ladrão" também se encontram conservadas dentro da Capela de Montesiepi.

A Ciência não pode comprovar estes relatos lendários, mas as análises feitas em 2001 por cientistas da Universidade de Pavia atestam que tanto a espada como os ossos são de fato do Século 12, ou seja, estão de acordo com a época vivida por Galgano Guidotti.

Também não é possível afirmar que há uma relação entre a lenda Arturiana da espada de Excalibur e a história de São Galgano. Entretanto, os primeiros textos em que a Excalibur aparece como sendo retirada de uma pedra, aparecem apenas algumas décadas depois da morte de Galgano Guidotti. Portanto, dá para desconfiar que isto não seja apenas "coincidência".

Galgano Guidotti e sua espada em detalhe



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segunda-feira, 3 de março de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #035 - Conheça quais são as grandes premiações internacionais do Cinema e quais filmes brasileiros já brilharam nelas!



É isso! O Brasil acaba de levar seu primeiro Oscar! E isso aconteceu ontem, graças ao Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui! Portanto nada mais justo este artigo temático! ;)

Antes do evento de ontem, o Cinema Brasileiro já havia brilhado muitas outras vezes ao redor do mundo ao longo de sua história! Abaixo você vai saber quais são as maiores premiações internacionais do Cinema além do Oscar, e todos os filmes brasileiros que já venceram seus respectivos prêmios máximos. Isso é apenas uma amostra do nosso potencial como indústria cinematográfica.



Palma de Ouro (Festival de Cannes)

Provavelmente o segundo maior prêmio do mundo do Cinema, a Palma de Ouro é entregue em Cannes, na França. O Festival de Cannes se iniciou em 1946, sendo que seu prêmio máximo de "melhor filme", a Palma de Ouro, começou a ser entregue em 1955. O primeiro e único filme brasileiro a vencer este prêmio é o Pagador de Promessas, de 1962, escrito e dirigido por Anselmo Duarte, filme este que também foi o primeiro a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional.

Curiosidade: a primeira edição deste Festival era para acontecer em 1939, inclusive tendo Louis Lumière como presidente. O Festival inclusive chegou a ter a primeira noite de eventos, porém no dia seguinte, em 01 de Setembro, a Alemanha invadiu a Polônia, e a programação então foi adiada... depois cancelada... com o Festival de Cannes retornando apenas décadas depois.


Leão de Ouro (Festival de Veneza)

O Festival Internacional de Veneza é o festival de Cinema em vigor mais antigo do mundo, sendo iniciado em 1932. Já seu prêmio máximo de "melhor filme", o Leão de Ouro, passou a ser entregue a partir de 1949. O Brasil nunca conseguiu levar um Leão de Ouro para casa, mas em 1981, o filme Eles Não Usam Black-tie, de Leon Hirszman e Gianfrancesco Guarnieri venceu o Grande Prêmio do Júri, que é o segundo prêmio mais importante do evento, logo abaixo do Leão de Ouro. É a única premiação do Festival de Veneza levada por brasileiros até hoje.

Curiosidade: a origem do Festival de Veneza não é muito "elogiável", já que ele foi criado pelo empresário e político Giuseppe Volpi para desenvolver o cinema Italiano... mas também para ajudar a promover o governo fascista em vigor na época.


Urso de Ouro (Festival de Berlim)

Encerrando a trinca dos "Grandes Festivais" (que junto com Cannes e Veneza, formam o trio de festivais mais importantes da Europa), este festival, também apelidado de Berlinale, ocorre desde 1951. Seu prêmio máximo, o Urso de Ouro, está presente desde o início do festival, e o Brasil já levou ele duas vezes! A primeira com Central do Brasil, de Walter Salles, em 1998, e o segundo com Tropa de Elite, de José Padilha, em 2008.

Curiosidade: assim como nos festivais de Cannes e Veneza, o Festival de Berlim tem convidado nas últimas décadas personalidades da indústria cinematográfica de nacionalidades diversas para seu júri. Sua "diferença" é ser considerado mais diversificado e politizado que os outros dois. Por exemplo para ser presidente do Júri, já tivemos recentemente a britânica Tilda Swinton, a italiana Isabella Rossellini, o holandês Paul Verhoeven, os estadunidenses M. Night Shyamalan, Meryl Streep e Kristen Stewart.


Globo de Ouro

Encerrando a minha lista de maiores premiações internacionais do Cinema, chego ao Globo de Ouro, segunda maior premiação estadunidense. Que aliás, é uma premiação bem diferente das outras. Primeiro, porque ela é dada pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, ou seja, são jornalistas estrangeiros que fazem especificamente a cobertura de notícias de Los Angeles para o mundo. Segundo que é uma premiação que premia Cinema e TV... e terceiro, que eles separam as premiações de Cinema em duas categorias: temos os filmes "de Drama", e os filmes "de Comédia ou Musical".

O evento existe desde 1944, e seu(s) prêmio(s) máximo(s) são o Globo de Ouro para Melhor Filme de Drama, e Globo de Ouro para Melhor Filme de Comédia ou Musical. O Brasil nunca levou nenhum destes prêmios, mas já levou dois Globos de Ouro pra casa. Em 1998, Central do Brasil com Fernanda Montenegro venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira. E agora mesmo, na mais recente edição de 2024, sua filha Fernanda Torres levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme Dramático. Na foto inicial do artigo podemos ver a atriz exibindo seu inédito troféu.



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Brasil vence o primeiro Oscar de sua história!


O dia 02 de Março de 2025 entra para a História do Cinema Brasileiro ao se tornar o dia onde nosso país venceu sua primeira estatueta do Oscar.

E a conquista veio através do Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui. O filme  nacional ainda estava indicado em mais duas categorias, a de Melhor Filme e a de Melhor Atriz, porém perdeu ambas para Anora. É importante ressaltar que isso não diminui em nada esta grande vitória, temos que comemorar bastante!!

Para quem ainda não viu, no vídeo abaixo temos toda a sequência do momento da entrega do nosso primeiro Oscar!

sábado, 1 de março de 2025

O Oscar 2025 será NESTE domingo! Conheça aqui os favoritos e minha análise sobre as chances brasileiras!


Neste 02 de Março de 2025, amanhã, um Domingo de Carnaval(!), teremos a cerimônia de entrega do 97º Academy Awards, vulgo Oscars 2025. Abaixo segue a lista dos 10 filmes que disputam o prêmio máximo de Melhor Filme, ordenados pelo número somado de indicações recebidas (entre parênteses). Você pode clicar nos links dos nomes para ler as críticas feitas aqui pelo Cinema Vírgula. Dos 10 nomes acabei não assistindo 3, com o detalhe que Um Completo DesconhecidoNickel Boys estrearam no Brasil apenas nesta Quinta-feira(!), o primeiro deles nos cinemas, e o segundo no Prime Video:
Dentre os filmes que receberam múltiplas indicações, mas não a de Melhor Filme, lideram em número Nosferatu (4), Sing Sing (3) e Robô Selvagem (3).

Esta edição tem um interesse bem especial para nós brasileiros, afinal, nosso Ainda Estou Aqui, de Walter Salles e Fernanda Torres, estará disputando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Atriz (para Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional.

E a Rede Globo está acreditando que vai dar "samba", afinal, não só decidiu após muitos anos voltar transmitir o Oscar ao vivo (ao invés de um atraso de algumas horas para não interferir na sua programação), como optou transmitir o Oscar na TV aberta apesar dos desfiles de Carnaval! Mas será que o Brasil tem chance mesmo de ganhar algum dos prêmios e levar para casa nosso histórico primeiro Oscar? Vejam a seguir o que acho das chances brasileiras em cada uma das 3 categorias.


O Oscar de Melhor Filme

Não vejo a menor chance de Ainda Estou Aqui levar o prêmio máximo. E o mesmo digo para Emilia Pérez, que descarto devido sua alta rejeição e polêmicas. Como já expliquei no passado, esta categoria é diferente, e muitas vezes não vence o "melhor votado", e sim, o "menos rejeitado". Exatamente por isso, acredito que o Oscar de Melhor Filme vai ficar entre Anora ou Conclave, que são, dentre os filmes de maior número de indicações, que não possuem nenhuma polêmica jogando contra.

Entretanto, a meu ver, ainda há um terceiro candidato correndo por fora que pode levar esta tão cobiçada estatueta. Trata-se de O Brutalista, cuja campanha se enfraqueceu pelo uso de IA. Se ele vencer, é porque a Academia optou por passar uma mensagem mais política, pró imigrantes e antinazismo, em recado ao governo Trump.

Mas é um cenário improvável. Aliás, eu estou imaginando que durante a cerimônia do Oscar teremos sim algumas cutucadas contra Trump, mas ficará só nisso, acredito numa edição menos politizada desta vez... o próprio fato do apresentador escolhido ser Conan O'Brien, menos combativo, me passa essa sensação. Dito tudo isto, estou apostando em uma vitória para Anora.


O Oscar de Melhor Atriz

Mais uma vez Karla Sofía Gascón e seu Emilia Pérez ficam de fora do páreo, e não somente porque Karla falou todas aquelas atrocidades em seu Twitter anos atrás, mas também porque ela disse que "pessoas da equipe de Fernanda Torres" estavam ativamente ajudando a difamá-la. Atitude essa que quase a excluiu da disputa pelo prêmio (pelas regras do Oscar, um candidato não pode falar mal dos concorrentes, sob pena de eliminação).

E aí o bicho pega, por que a disputa é tripla e acirradíssima entre Mikey Madison (Anora), Demi Moore (A Substância) e nossa Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui). As três dividiram os prêmios de Melhor Atriz ao longo da temporada de premiações, o que deixa tudo indefinido. E cada uma tem seus motivos particulares para ser a escolhida:

Demi Moore, pela sua idade e carreira, ao nunca ter vencido a estatueta e estar meio sumida do estrelato há um certo tempo, sua vitória seria uma daquelas histórias de redenção e superação que Hollywood tanto ama; já Fernanda Torres é provavelmente quem entregou uma atuação mais completa das três concorrentes, além de que sua vitória seria uma reparação à injustiça feita com sua mãe em 1999... e a Academia também gosta de histórias de "corrigir erros"; finalmente Mikey Madison representa uma nova geração e Anora, que se como imagino vá levar o Oscar de Melhor Filme, faz todo sentido para o evento que este filme leve várias estatuetas. Então, a de Melhor Atriz também poderia ser uma delas.

Estou torcendo muito muito muito pela Fernanda Torres, acho que ela tem chances reais, ainda mais se o Brasil não levar o Oscar de Melhor Filme Internacional. Mas ainda assim, acho que aqui vai dar Demi Moore. 


O Oscar de Melhor Filme Internacional

E finalmente, o Oscar para os que não são estadunidenses. Por tudo que Ainda Estou Aqui é bom e Emilia Pérez não é; por tudo que Ainda Estou Aqui foi elogiado e Emilia Pérez criticado, o filme brasileiro deveria ser o franco favorito. Porém, infelizmente, não é o caso. Nesta categoria, Emilia Pérez ainda é forte concorrente.

Apesar de toda a repercussão negativa que Emilia Pérez recebeu nos últimos dois meses - e por motivos justos - o filme francês continuou vencendo a maioria dos prêmios de "Melhor Filme Internacional" deste mesmo período. Bem preocupante. Em outras palavras, o lobby e o dinheiro da Netflix continuam falando bem forte nas premiações. Somando-se a isso, o fato de que a atriz Karla Sofía Gascón, que está "sumida" do público há um bom tempo para evitar novas polêmicas, ter confirmado sua presença na cerimônia, não seria um sinal de que Emilia Pérez vai vencer algum prêmio? - perguntaria meu lado conspiracionista rs.

Ainda assim quero manter meu otimismo e apostar que será aqui que o Brasil vencerá seu primeiro Oscar. Acho que nesta categoria vai dar Ainda Estou Aqui. Se perdermos aqui, sonho em ver Fernanda Torres vencendo sua categoria mais tarde... de um jeito ou de outro, quero manter o otimismo de que o Brasil vai encerrar este Oscar levando alguma estatueta para casa.


E o que mais??

Não vou dar meus palpites para todas as categorias restantes, mas vou dar meus pitacos para mais algumas principais.

Melhor Direção: Coralie Fargeat(*) (A Substância); Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emilia Pérez); Melhor Ator: Adrien Brody(*) (O Brutalista); Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Verdadeira Dor); Melhor Trilha Original: Wicked; e Melhor Animação: Flow.

(*)Comentários: para Melhor Direção, os favoritos são, em ordem: Sean Baker (Anora) e Brady Cobert (O Brutalista) em segundo. Mas eu vou apostar na Coralie para ser "a maior surpresa" deste Oscar; para Melhor Ator, está rolando nos EUA um boato meio bizarro... que muitos votantes não votaram no Ralph Fiennes (Conclave) porque achavam que ele já tinha vencido o Oscar antes, e só depois de votarem, descobriram - em arrependimento - não ser o caso... E o pior de toda esta história é que Adrien Brody já venceu o Oscar antes! Se não fosse por esse rumor, confesso que teria apostado em Ralph como vencedor, porém, não é mais o caso.


Lembrando, a cerimônia do Oscar será neste Domingo, 2 de Março, a partir das 21h (horário de Brasília) no tapete vermelho e às 22h a entrega dos prêmios. Com transmissão na TV aberta pela Rede Globo, e pela TNT / Max em canais fechados.


E vocês, quais são seus palpites? Acham que o Brasil leva algo? Deixem nos comentários!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Crítica - O Brutalista (2024)

Título
: O
 Brutalista ("The Brutalist", Canadá / EUA / Reino Unido, 2024)
Diretor: Brady Corbet
Atores principais: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Ariane Labed, Stacy Martin, Emma Laird, Isaach de Bankolé, Alessandro Nivola
Nota: 6,0

Grandiosidade faz com que filme se perca em sua história

Tendo estreado nos cinemas brasileiros na Quinta-feira passada, O Brutalista entra na véspera da cerimônia do Oscar como um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Filme 2025.

A história de O Brutalista, fictícia, nos apresenta László Tóth (Adrien Brody), um judeu-húngaro sobrevivente do Holocausto e arquiteto modernista (leia mais sobre isto no meu P.S. ao final deste artigo), que imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial consegue emigrar para os Estados Unidos, mesmo que isto signifique separar de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e de sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy). Algum tempo após chegar nos EUA, ele acaba sendo contratado pelo milionário Harrison Van Buren (Guy Pearce), para comandar um enorme e ambicioso projeto.

Dada esta descrição inicial, é difícil classificar O Brutalista. Ele é bem longo (quase 3h30min de projeção) e por opção bem ousada de seu diretor/roteirista Brady Corbet, acaba tratando de muitos assuntos. Aqui vemos a luta e questionamentos de um refugiado judeu, a busca do sonho americano, a crueldade e arrogância da classe rica, e ainda comentar de passagem sobre racismo, brigas de casal, vício em opióides e até... História e Arquitetura.

Em termos da trama, parece que temos dois filmes distintos. No primeiro ato, onde os personagens são apresentados, O Brutalista ainda consegue se manter interessante para o espectador. Porém no segundo ato, quando Erzsébet e Zsófia chegam aos EUA, a história parece se perder completamente, com o roteiro não sabendo mais que história contar. E, deixando claro, isto nem é culpa das novas personagens que chegaram. Até porque depois que Felicity Jones chega, ela acaba fazendo a única personagem interessante que resta em O Brutalista, já que nesta parte dois o personagem de Adrien Brody entra em uma descendente e se torna rapidamente intragável.

Portanto depois de um primeiro ato bem interessante e promissor, a única coisa que salva do roteiro segundo ato - confuso e com várias bizarrices - é que pelo menos ele não é previsível. Se prepare para situações incomuns. Por outro lado, se o roteiro de O Brutalista derrapa, ele vai muito bem em outros aspectos técnicos.

A fotografia (o que inclui os diversos modos de filmagem) e a trilha sonora de O Brutalista são ambas bem impressionantes. E inclusive, ambas são fundamentais para que este filme possa ser classificado como "épíco" mesmo sem ter cenas grandiosas de ação, ou mesmo de cenografia.

O Brutalista está indicado a 10 prêmios do Oscar 2025 e tem boas chances de levar alguns deles, ainda que uma certa polêmica possa prejudicar suas chances: trata-se do fato do uso de Inteligência Artificial no uso de um "aperfeiçoamento" no sotaque húngaro dos atores. Você pode aprovar ou reprovar, achar hipocrisia ou não, mas o fato é que "hoje" parte de Hollywood ainda não vê IA com bons olhos. Gostei bastante da atuação de Guy Pearce aqui, pra mim é a melhor atuação dele desde Amnésia (de 2000), só que não acho que ele leve o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante... todo mundo fala que o irmão de Macaulay Culkin, Kieran Culkin, é quem vai levar esta.

O Brutalista é outro filme desta safra do Oscar 2025 que é adorado pela crítica especializada mas que não vejo como agradar tanto o público em geral. Muito longo, muito lento, e até chato, seus pontos positivos vão mais pela trama inusitada e aspectos técnicos excelentes do que pela história em si. Nota: 6,0.


P.S.: por que Brutalista? É de se imaginar que o filme se chama "O Brutalista" porque o roteiro quer associar László Tóth com o estilo Brutalista. E faria sentido. O Brutalismo é um estilo arquitetônico que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Suas principais características são o concreto exposto, sem adorno, e o uso de formas geométricas gigantes e ousadas.

O problema, é que segundo a comunidade arquitetônica o filme não mostra quase nada da arquitetura Brutalista, e quando o faz, faz de modo errado. Mais uma polêmica pro filme lidar...

O prédio do MASP, na cidade de SP, é um exemplo da arquitetura Brutalista

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Crítica - Emilia Pérez (2024)


Título
Emilia Pérez (idem, Bélgica / França, 2024)
Diretor: Jacques Audiard
Atores principais: Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramírez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro, Emiliano Hasan
Nota: 6,0

Entretenimento não tão ruim, mas artificial

Enquanto desfilava pelos festivais de Cinema, Emilia Pérez era um dos filmes do ano. Elogiado pela crítica especializada, e sendo promovido com caminhões de dinheiro pela Netflix, que ainda está em busca de vencer uma da principais estatuetas do Oscar (ainda que neste filme ela só esteja distribuindo, não o produziu). O filme recebeu nada menos que 13 indicações ao Oscar 2025, e por isso despontava como o favorito a levar o prêmio de Melhor Filme. Mas foi só o público geral começar a assisti-lo, e os problemas começaram...

... mas antes de entrar nesse tema, vamos falar sobre o que Emilia Pérez se trata. É um filme musical que se passa no México atual, onde temos um dos maiores chefes do narcotráfico do país, Juan "Manitas" (Karla Sofía Gascón), que resolve abandonar sua vida atual e ser a pessoa que sempre quis ser desde que nasceu, uma mulher. Então, ele contrata Rita (Zoe Saldaña) que o ajuda em todo o complexo plano que culmina em seu "sumiço" do México e cirurgia de redesignação de gênero para o feminino. Anos depois, e já estabelecida como Emilia, ela retorna ao seu país, onde acaba ajudando vítimas do tráfico, mas também entra em conflitos com sua antiga esposa, Jessi (Selena Gomez).

Como entretenimento, Emilia Pérez não é ruim. Produzido de modo dançante, dinâmico, colorido (e brega), ele foi feito justamente para agradar. Pelo tipo de história que conta, e repleto de diálogos, nem deveria ser um musical... porém seu diretor, o francês Jacques Audiard, queria que o filme fosse uma "Ópera", e então temos vários diálogos em que as pessoas começam a cantarolar do nada, e param de cantarolar igualmente da mesma forma, sem nenhuma explicação; ou ainda, em que qualquer evento banal pode virar um "mini clipe", algo como se fosse um vídeo do TikTok, com dançarinos brotando do além. E apesar de tanto nonsense, ainda assim há alguns momentos musicais bons. Aliás, importante destacar, há bem menos musical em Emilia Pérez do que eu esperava.

Os dois personagens principais, o de Zoe Saldaña e o de Karla Sofía Gascón acabam sendo suficientemente interessantes, e na verdade, Zoe Saldaña é a melhor coisa de Emilia Pérez. De QUALQUER uma das 13 indicações ao Oscar que este filme recebeu, a única que não será injusto ele vencer será a de Melhor Atriz Coadjuvante para Zoe.

Mas se Emilia Pérez não é tão ruim e é até aceitável (mas bem cafona), seu problema é que ele é muito artificial. Ao começar de sua produção, que tenta vender um México mas mal tem integrantes mexicanos ou até mesmo falantes de espanhol. Algo que me impressionou bastante é como todos os cenários do filme são genéricos. Embora as cenas de Emilia Pérez se passem se passem no México (e alguns países da Europa) dos dias atuais, as localidades são tão sem identidade (e tudo é filmado em plano fechado justamente para não percebermos detalhes do ambiente) que o filme igualmente poderia dizer que as cenas estavam acontecendo, por exemplo, na Austrália nos anos 2000.

Outro ponto que deixa Emilia Pérez artificial é que se trata de uma história fictícia. E para piorar, o personagem Manitas / Emilia Pérez é apresentado como um herói. Oras, é totalmente aceitável mostrar uma história de arrependimento e redenção, mas é complicado pegar tão leve com alguém responsável por tantas mortes e atrocidades. A trama também é bem inverossímil: quando Manitas ressurge no México como Emilia Pérez, e ela aparece em rede nacional investindo seu dinheiro e em campanha para recuperar a história de mortos e desaparecidos pelo tráfico, ninguém questiona sobre seu passado, ou a impede de revirar tantos "esqueletos do armário". Como assim?? Isso jamais aconteceria no mundo real.

Ah, sim. Agora vamos falar da repercussão de Emilia Pérez quando foi assistido pelo público em geral: os mexicanos odiaram, pois se sentiram ofendidos pela caracterização estereotipada, e pelo modo "leve e cômico" que o tema das mortes pelo narcotráfico no país foram tratados; a comunidade trans também reclamou dos estereótipos e erros mostrados no filme e o rejeitou. E todas as acusações são justas, infelizmente.

Há uma cena bem emblemática que resume e exemplifica o parágrafo acima. No meio do filme, há um momento em que Emilia está ao lado de seu filho - que não sabe que ela é seu pai - e então o garoto comenta: "você tem o mesmo cheiro do papai", sendo que o cheiro de uma pessoa trans muda após a terapia hormonal. E logo em seguida, a criança começa a cantarolar que pessoas (de trabalho similares ao seu pai) cheiram a "menta, mezcal, guacamole e cigarro".

E como nada que já esta ruim não pode piorar, alguns de seus realizadores se mostraram ser péssimas pessoas: o diretor Jacques Audiard deu declarações racistas e xenófobas, como por exemplo: "O espanhol é um idioma de países modestos, de países em desenvolvimento, de pobres e migrantes.". Já Karla Sofía Gascón teve tweets antigos revelados, e bem... descobrimos que ela simplesmente falava mal do mundo inteiro, menos da comunidade trans. Sobrou para os negros, árabes, pro pessoal do Oscar, e até pra sua colega de filme, Selena Gomez. Seus tweets foram tão graves e geraram tanta repercussão negativa que no começo de Fevereiro Karla foi removida oficialmente pela Netflix de toda promoção oficial do filme.

Concluindo, Emilia Pérez não é esse 8 ou 80 em que se dividiu a Internet. É um filme que os pseudointelectuais acharam uma grande obra de arte, mas que para nós mortais, é como se fosse uma animada peça teatral para passarmos o tempo. Em suma, Emilia Pérez peca principalmente pelo compromisso com a realidade. Algo muito importante no momento em que passamos atualmente, e que sobra em seu concorrente Ainda Estou Aqui. Nota: 6,0

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #034 - Akira Kurosawa e o Efeito Rashomon


O cineasta japonês Akira Kurosawa, um dos grandes nomes do Cinema de todos os tempos, é popularmente mais lembrado pelo seu filme Os Sete Samurais (1954), cuja história inclusive é frequentemente "copiada" por Hollywood (a última "cópia" famosa foram os recentes e PAVOROSOS filmes Rebel Moon de Zack Snyder).

Porém a lista de filmes de Kurosawa que marcaram a história do Cinema vai bastante além d"Os Sete Samurais", "Kagemusha, a Sombra de um Samurai" (1980) e "Ran" (1985) - o motivo de eu ter citado estes dois últimos é que eles completam a "trinca" de filmes mais premiados internacionalmente deste diretor.

Quero falar de Rashomon, de 1950, que foi tão revolucionário em termos de roteiro, que sua influência foi muito além do Cinema, como veremos a seguir.

Na história de Rashomon, que se passa no Japão medieval, temos o encontro de um lenhador, um sacerdote e um transeunte se abrigando de uma forte tempestade em um portão em ruínas. Dois deles foram testemunhas de um julgamento ocorrido dias atrás, de um bandido que teria assassinado um samurai e estuprado sua esposa. Eles acabam conversando sobre os depoimentos apresentados no julgamento, que foram três: o do bandido, o da mulher, e o do samurai (através de uma médium). Mas também ouvem um quarto depoimento, o do lenhador, que acaba confessando ter visto o crime. O curioso é que cada uma das 4 histórias possui diferenças bem relevantes entre elas.

De cara, Rashomon já traz características muito incomuns para a época, como por exemplo, contar sua história de forma não-linear. Além disto, em cada uma das quatro histórias, o comportamento de cada um dos personagens (e atores) é completamente diferente.

Mas a grande e mais revolucionária idéia do filme é que Rashomon se encerra sem dizer qual das quatro histórias é a "correta", o que faz com que tanto os personagens quanto os espectadores se despeçam frustrados e confusos.

E se pararmos para refletir no que estas contradições e frustrações significam... o quanto elas são tão presentes no mundo real... Se considerarmos tudo isso pra valer, será que é possível confiar verdadeiramente em qualquer pessoa?


O impacto Rashomon

Antes de Rashomon o mundo não dava muito atenção a filmes japoneses, porém a partir dele, tanto o Cinema Japonês como Akira Kurosawa passaram a ter relevância internacional. E por exemplo, já de cara o filme venceu o prêmio máximo do Festival de Veneza em 1951, o Leão de Ouro, e venceu também em 1952 o Oscar de Melhor Filme em Língua não-Inglesa.

Kurosawa
No cinema, são incontáveis os filmes que passaram a usar as idéias de Rashomon em seus roteiros. E isso em uma ou duas etapas: a primeira, mais óbvia e direta, é contar uma mesma história por pontos de vistas diferentes; e a segunda, é de encerrar filmes sem nos contar "a verdade", seja porque seu desfecho é ambíguo, múltiplo, aberto ou incompleto.

E não é só isso. O filme Rashomon foi tão revolucionário que passou a ser usado / citado / estudado em outras áreas da ciência humana, e até virou um termo: "Efeito Rashomon". Ele é estudado por exemplo na biologia, antropologia, filosofia e direito.

O "Efeito Rashomon" pode ser descrito como o modo em que as pessoas descrevem um mesmo evento de uma maneira diferente e contraditória, seja porque interpretam o mundo de modo diferente, e / ou descrevem em defesa de interesse próprio, ao invés de descrever uma verdade objetiva.

Como exemplos de filmes bem mais recentes que usam o "Efeito Rashomon" temos Herói (2002), Garota Exemplar (2014) e Anatomia de Uma Queda (2023), todos ótimos! Entretanto fica a ressalva que destes, apenas o último acaba se mantendo fiel ao não revelar uma "versão única e correta" em seu fim.

E vocês já tinham ouvido falar do "Efeito Rashomon"? E do filme? Se não o assistiram, fica a recomendação, mesmo sendo em branco e preto e feito na década de 50, está facilmente na minha lista de melhores filmes orientais que já assisti até hoje.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Dupla Crítica Filmes de Animação - Wallace & Gromit: Avengança (2024) e Robô Selvagem (2024)


Desta vez vamos com as críticas de duas das animações que estão entre as cinco indicadas ao Oscar de Melhor Filme de Animação 2025. E uma delas é a que (por enquanto) estou torcendo para vencer o prêmio! Saiba qual delas continuando com a leitura abaixo. Caso queira ser preparar para o Oscar e assistir os filmes antes da cerimônia (em 02 de Março), Wallace & Gromit: Avengança está disponível na Netflix. Já Robô Selvagem, como não está mais nos cinemas, por enquanto só pode ser alugado, ou no Prime Video, ou no Apple TV+ ou no YouTube.



Wallace & Gromit: Avengança (2024)
Diretores: Merlin Crossingham, Nick Park
Atores principais (vozes): Ben Whitehead, Peter Kay, Lauren Patel, Reece Shearsmith, Diane Morgan

A franquia Wallace & Gromit é beeem conhecida pelos britânicos, mas curiosamente, apesar de sua boa qualidade, não faz muito sucesso por aqui no Brasil. Seu estúdio, a Aardman Animations, especializada em stop-motion de "bonecos de massinha", também tem outros personagens que já chegaram em nossos cinemas, como por exemplo Piratas Pirados! e A Fuga das Galinhas.

Em 2005 a Aardman lançou a Wallace & Gromit nos cinemas pela primeira vez: Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais e... levou o Oscar de Melhor Animação de 2006! Mas eles demoraram longos 19 anos para voltarem com a dupla às telonas. E embora mais uma vez estejam no páreo para levar a cobiçada estatueta dourada, acho que desta vez não vencerão...

Na história de Wallace & Gromit: Avengança, novamente vemos o atrapalhado inventor Wallace e seu fiel e inteligente cachorro Gromit tentando ajudar a vizinhança de alguma ameaça, digamos, animal. O filme começa com uma cena do passado, onde vemos Wallace e Gromit prendendo o pinguim Feathers McGraw após este roubar o valioso Diamante Azul do museu da cidade. Então há um corte para os dias atuais e vemos o pinguim vilão planejando ao mesmo tempo: fugir da prisão, se vingar de seus captores e roubar novamente a famosa pedra preciosa.

Wallace & Gromit: Avengança tem uma história interessante, e apesar da opção por cores escuras e clima sombrio, acaba sendo bem humorado e com várias boas piadas. A história é meio que um amálgama de aventura policial com James Bond para toda a família, e como resultado final, um bom passatempo. Como "defeito", o filme peca por ser bom em praticamente tudo mas não ser ótimo ou memorável em praticamente nada. Por isso que não aposto em sua vitória na vindoura cerimônia dos Oscars. E também por isso, ele leva Nota: 7,0.



Robô Selvagem (2024)
DiretorChris Sanders
Atores principais (vozes): Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor, Bill Nighy, Stephanie Hsu, Matt Berry, Ving Rhames, Mark Hamill, Catherine O'Hara

A história deste Robô Selvagem, que se passa em um futuro próximo, mostra a história da robô de serviços Rozzum 7134, que devido um acidente aéreo, acaba caindo em uma floresta isolada, tendo que (sobre)viver por lá. Com o tempo, "Roz" acaba se tornando amiga da raposa Astuto e mãe adotiva do filhote de ganso Bico-Vivo. Confesso que o trailer de Robô Selvagem me enganou, pois em nenhum momento dele vemos que os animais falam (o que é o caso), já que Roz rapidamente "aprende" a falar com os bichos da floresta. E isto de fato deixa o filme bem mais "fábula" do que a ficção científica que eu imaginava, porém, de maneira nenhuma isto é um defeito.

A história de Robô Selvagem é bastante emocionante, e trata de amizade, superação, e para "Roz", os desafios vão além dela ter que aprender viver sozinha no meio do nada: ela também precisa aprender a ser mãe. Já aviso, ao assistir, preparem seus lenços! Robô Selvagem adapta uma série de livros infanto-juvenis de mesmo nome, do autor estadunidense Peter Brown, cujo 4º volume será publicado neste ano de 2025.

Direção e roteiro ficaram a cargo de Chris Sanders, que também esteve por trás da criação de obras como Lilo & Stitch, Os Croods e Como Treinar o Seu Dragão. Como história, talvez este Robô Selvagem seja seu melhor trabalho. Já em termos de animação propriamente dita, o filme é bom, mas não alcança a perfeição dos desenhos da Pixar, ou mesmo de alguns desenhos da própria DreamWorks (que fez este Robô Selvagem).

Por enquanto Robô Selvagem é o meu filme queridinho para o Oscar de Melhor Filme de Animação 2025, pois é o que mais gostei. Porém eu ainda não assisti o filme letão Flow, que também é de animaizinhos e também está sendo bastante elogiado. Nota: 8,0.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #033 - Conheça os dois prêmios Oscar que o Brasil "venceu" mas não levou

Daqui pouco menos de duas semanas, mais precisamente no Domingo dia 02 de Março, teremos a cerimônia de entrega do Oscars 2025, e nós brasileiros estamos na expectativa de, com as 3 Indicações conquistadas por Ainda Estou Aqui, ver o Brasil levar aquele que está sendo amplamente divulgado como sua primeira estatueta do Oscar.

Porém o que nem todos sabem é que há pelo menos duas estatuetas que não são consideradas vitórias brasileiras, mas poderiam... e a seguir comento sobre elas.


Em 1960, o filme Orfeu Negro (1959), que no Brasil também tem o nome de Orfeu do Carnaval, venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Aliás, o filme também venceu a Palma de Ouro (Festival de Cannes) de 1959 e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1960.

Vejam: estamos falando de um filme com atores brasileiros, falado em português, filmado no Brasil, com roteiro baseado em uma peça de Vinícius de Moraes, e de uma co-produção entre Brasil, França e Itália. Mas apesar de tudo isso, este Oscar é computado como tendo ido para a França, já que para as regras da época (e não só do Oscar, mas também nas de Cannes e do Globo de Ouro), o que valia era a nacionalidade do diretor do filme, que no caso, se tratava do francês Marcel Camus.

Hoje, as regras para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro são outras. Cada país indica apenas um filme para a Academia, e um dos seus critérios de elegibilidade (que no caso também "comprova sua nacionalidade") é: "o país candidato deve confirmar que a produção artística do filme foi, em grande medida, realizada por cidadãos ou indivíduos residentes em seu país.". Já quanto a Orfeu, ele chegou a ter uma nova versão nos cinemas, de nome apenas Orfeu (1999), dirigido por Cacá Diegues, que faleceu semana passada, em 14 de fevereiro de 2025, aos 84 anos.


Já em 1993 Luciana Arrighi venceu o Oscar de Melhor Direção de Arte (que hoje tem o nome de Oscar de Melhor Design de Produção) pelo filme Retorno a Howards End (1992). Ela nasceu em 1940 na cidade do Rio de Janeiro e viveu no Brasil até os 2 anos de idade. Mas... não é brasileira.

Filha de um diplomata italiano com uma modelo australiana, ela tem a cidadania destes dois países, porém não tem a cidadania brasileira. Até poderia ter se o quisesse (as leis brasileiras lhe garantem este direito), mas não tem. Após sair do Brasil, Luciana passou sua infância na Austrália, e após se formar por lá, foi para a Europa, onde trabalhou e estudou em diversos países, trabalhando em filmes, na TV (pelo canal inglês BBC), teatro e ópera.

Por não ter cidadania brasileira e se considerar "australiana", o Oscar de Retorno a Howards End também não é "nosso". Luciana Arrighi também recebeu mais duas indicações ao Oscar de Melhor Direção de Arte, que no caso, acabou não vencendo. Foram pelos filmes Vestígios do Dia (1993) e Anna e o Rei (1999). Ainda viva e com seus 85 anos, você pode ver uma foto de Luciana no topo deste artigo.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? Toda segunda-feira tem uma nova! É só clicar aqui!

Especial Michael Jackson 15 anos - Do Moonwalk ao Moonwalker

E vamos a minha segunda homenagem a Michael Jackson neste ano em que se completou 15 anos de sua partida, e novamente, em outra data especi...