“Premissa básica falha e casal romântico desnecessário transformam em
razoável um filme que poderia ser bom”
Mesmo antes de seu lançamento, “Jogos Vorazes” não me
interessou. Também baseado em série de livros, o filme se promovia como “sucessor
de Harry Potter e Crepúsculo”, ou seja, a idéia para vendê-lo não era que o
filme será bom; e sim, que será bastante assistido. Lamentável.
Ironicamente, mudei de idéia ao ver que “Jogos Vorazes”
chegou a completar quatro semanas no topo da bilheteria dos EUA. Fui então vê-lo
no cinema em nome da curiosidade (e da manipulação que deu certo).
A história se passa em um futuro pós-apocalíptico, onde após
uma longa guerra o acordo de paz obrigou as 12 colônias rebeldes a entregar
anualmente um rapaz e uma moça (ambos entre 12 a 18 anos) como tributo à
Capital, dominante. Estes 24
adolescentes são jogados numa selva repleta de armas e animais, sob forma de um
reality show mundial, o tal “Jogos Vorazes”. Com o objetivo de matar seus
oponentes, vence os jogos o único jovem sobrevivente.
Segundo o filme, a “desculpa” oficial para os Jogos Vorazes
é manter as colônias pacificadas, relembrando-as de “quem manda”. Ao mesmo
tempo, segundo palavras do Presidente da Capital: ‘”sabe por que simplesmente
não os executamos todos de uma vez? É preciso um vencedor para lhes dar
esperança”.
Infelizmente, não faz sentido. Ao longo do filme, vemos que
as colônias 1 e 2 tratam os jogos como profissão, como maneira de ascensão
social. Treinam para vencer e geralmente vencem. Em outras palavras, os jogos
não servem para oprimi-los. Já as colônias restantes sofrem com os filhos que
perdem anualmente, e eventualmente se revoltam com as mortes, ou seja, os jogos
não os “pacificam”.
Se a premissa básica é falha, pelo menos o enredo traz algumas qualidades. Apesar de se passar no “futuro”, a manipulação do
povo burro pela mídia é explícita no filme e igual a que existe nos dias de
hoje. Igualmente vemos o mau gosto e a falta de ética dos reality shows. As
regras são modificadas a todo momento, seja para agradar o povo, ou
principalmente, para agradar os donos do programa. A semelhança com os reality
shows reais (inclusive os brasileiros) não é uma coincidência.
Saindo do debate e passando para a ação, as cenas de batalha
e sobrevivência são bem interessantes. As situações criadas – e as maneiras que
a protagonista principal Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) se adapta a elas
- são outro ponto alto da história. A "selva" possui uma fotografia bonita, e as várias cenas de violência ficam mais na sugestão do que na exibição, o que também foi uma boa escolha.
Jogos Vorazes seria um bom filme se mantivesse o foco nas
suas qualidades acima. Mas ele não segue esta fórmula e investe no clichê, ao
enfiar em seu final um desnecessário romance. Apresentado inicialmente como uma
maneira de se jogar o jogo e atrair a preferência do público, de uma hora para
outra Katniss parece se apaixonar de verdade, o que não faz nenhum sentido.
Mais ainda, o filme termina sem esclarecer se aquilo foi amor real ou não.
Aliás, o filme se baseia demais no ponto de vista da
protagonista. Quase sempre vemos tudo por seu olhos – não necessariamente por
uma câmera em 1ª pessoa, mas sim em câmeras onde Katniss Everdeen é filmada bem
de perto – o que traz vantagens e desvantagens. Como positivo o filme é bem
sucedido em nos transportar para dentro dos Jogos; como negativo ficamos tão
confusos quanto a personagem ao se deparar com algumas reviravoltas que jamais
são explicadas. Fico em dúvida se isto é falha da adaptação para as telas, ou
se a falha é mesmo do livro.
O resultado final é um filme razoável que podia ser melhor,
mas que pelo menos entretém. E a conclusão que chego sobre o real motivo da
existência dos “Jogos Vorazes” é o dinheiro. Dinheiro para os organizadores e
patrocinadores dos jogos da Capital; e principalmente – já saindo das telas -
dinheiro para a autora do livro e os produtores do filme.
Nota – 6,0.
2 comentários:
Acho que você escreveu essa crítica enquanto eu estava no cinema ontem assistindo esse filme... hehehe. Fiquei curioso em ver se tudo aquilo está no livro.. quem sabe um dia eu leio. As cenas de ação são bem tensas e nos prendem, dando até uma certa agonia, mas sem chocar. Achei esse aspecto muito bacana, que prende agente boa parte do filme....
Até conheço quem já leu o livro, mas ainda não pude perguntar o quanto ele é fiel ao filme. E sim, as cenas de ação são mesmo boas e não explicitar a violência é um bônus, que vai na contramão do que vemos por aí. Quem disse que para prender nossa atenção precisamos de sangue literalmente? :)
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