terça-feira, 23 de junho de 2015

Crítica - Leviatã (2014)

Título: Leviatã ("Leviafan", Rússia, 2014)
Diretor: Andrey Zvyagintsev
Atores principais: Elena Lyadova, Vladimir Vdovichenkov, Aleksey Serebryakov, Roman Madyanov
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=R4CvTylnHP0
Nota: 7,0

Corrupção é o Leviatã dos tempos atuais

O nome Leviatã vem da Bíblia, mais especificamente do Livro de Jó, e dele é dito ser "o mais poderoso dos monstros aquáticos". Deus ensina a Jó - em um diálogo repetido dentro do filme: "... quem o resistiria face a face? Quem pode afrontá-lo e sair com vida debaixo de toda a extensão do céu? (...). Quando se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam. (...) O ferro para ele é palha, o bronze pau podre".

Dos tempos bíblicos para cá, muita coisa mudou. Se o protagonista Kolya (Aleksey Serebryakov) sofre tanto quanto Jó, no filme russo Leviatã ele não tem nenhuma redenção. E ao invés de um monstro gigantesco imbatível vindo do mar, aqui o Leviatã é a Corrupção que assola não apenas a Rússia, mas toda a humanidade. A imagem do esqueleto de uma baleia exposta nas areias de uma praia é símbolo de que por mais poderoso que seja o titã marinho, ele não tem a menor chance contra a podridão humana que se encontra na terra.

Na história, que se passa em uma cidadezinha do litoral norte da Rússia, Kolya é um pai de família que briga na justiça para não ter as terras desapropriadas pelo corrupto prefeito Vadim (Roman Madyanov). Para isso, conta com a ajuda de seu ex-companheiro de exército Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), que é advogado em Moscou.

Não demora muito para perceber que absolutamente todos que estão ao redor de Kolya são corruptos: Polícia, Tribunal de Justiça, e até mesmo a Igreja Ortodoxa, todos estão do lado do prefeito Vadim. Com um tom bastante pessimista, não pensem que o "cidadão comum" está livre deste mal. Dmitriy, Kolya, sua esposa Lilya (Elena Lyadova), seus amigos de trabalho: todos são corruptíveis.

E basicamente, isto é Leviatã: uma denuncia forte e pesada da falência do Estado e Igreja russos através da ótica dos sofrimentos cotidianos de uma família.

Com boa fotografia e boas atuações - principalmente do casal protagonista - Leviatã foi indicado ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro em 2015 mas não levou. Porém venceu o prêmio equivalente a este no Globo de Ouro, e também trouxe de Cannes o prêmio de Melhor Roteiro. Ainda sobre seu texto, confesso que senti falta de "algo a mais" do que simplesmente expor a tragédia dos personagens. Mas isto não muda o fato de que o roteiro é muito bom e tocante.

Leviatã causou bastante polêmica na Rússia, gerando revolta das autoridades locais, tanto governo quanto Igreja. No caso do primeiro, a revolta é ainda mais justificável se levarmos em conta que 35% da verba do filme foi verba estatal.

Outro motivo para as críticas do governo foi o fato de que todos os personagens seguem o esteriótipo conhecido no ocidente: o povo russo é mostrado como sendo formado por pessoas frias, violentas, corruptas, e que bebem vodca o tempo todo.

Particularmente, não conheço a Rússia, então não sei como eles são na realidade. Mas imagino, fazendo um paralelo com o Brasil, que é o mesmo caso onde se mostram nos nossos filmes que todo brasileiro é "alegre, ladrão e sem vergonha". Não somos todos assim.

E continuando com este paralelo, assistir Leviatã certamente tem um impacto grande para nós brasileiros. A corrupção e falência do Estado são notícias diárias em nosso país. Apenas não chegaram em um nível tão alto quanto mostrado em Leviatã. Ou será que chegaram? Seria a Rússia o Brasil do futuro ou do presente? Que alguém nos ajude. Pelo menos em Leviatã, este alguém não existe. Nota: 7,0

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