sábado, 27 de janeiro de 2024

Dupla Crítica Filmes Netflix - A Sociedade da Neve (2023) e Maestro (2023)


Hoje vamos de dois lançamentos da Netflix, que somados têm NOVE indicações ao Oscar 2024. Mas será que apesar do prestígio entre os críticos, eles são mesmo assim tão bons? Confira a seguir!


A Sociedade da Neve (2023)
Diretor: J.A. Bayona
Atores principais: Enzo Vogrincic, Matías Recalt, Agustín Pardella, Felipe González Otaño, Luciano Chatton, Valentino Alonso, Francisco Romero, Agustín Berruti, Andy Pruss

A história (real) do avião de passageiros uruguaio, que 1972 caiu na Cordilheira dos Andes e mesmo assim deixou alguns sobreviventes é inspiradora. E exatamente por isto já inspirou alguns filmes, documentários, e séries de TV. O mais famoso deles até então fora produzido por Hollywood, trata-se de Vivos, de 1993, com direção de Frank Marshall (Congo) e Ethan Hawke (Antes do Amanhecer) como principal protagonista.

Agora, via Netflix, temos pela primeira vez uma adaptação desta história com produção de apenas países de língua espanhola (no caso Espanha, Chile e Uruguai) que conseguiu alcançar fama mundial. Na direção temos a presença de J. A. Bayona, diretor espanhol que já dirigiu filmes famosos (e Hollywoodianos) como O Impossível (2012) e Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016).

A Sociedade da Neve é bem feito tecnicamente, e se não temos efeitos especiais "espetaculares" ou cenas de ação "grandiosas", ao menos todas elas são bem críveis. O roteiro é bom, e a própria história real do acidente ajuda, pois é uma história incrível de amizade, cooperação, coragem, generosidade e superação.

Porém há um ponto famoso da história deste acidente do Força Aérea Uruguaia 571 que sempre causa divisões, e aqui também ele trouxe prós e contras. É a questão de que, para sobreviver, as pessoas tiveram que se alimentar dos restos dos falecidos. E o lado positivo disso em A Sociedade da Neve é que isso é comentado de maneira bastante respeitosa, nada sensacionalista, e o impacto psicológico deste ato nos personagens não é ignorado (e nem poderia, dado sua importância). O lado negativo é que em nome desse "respeito" as consequências desse problema / dilema foram atenuadas, diminuindo sua carga dramática. Alguns debates religiosos que ocorreram durante e após o acidente, que entendo serem histórica e culturalmente relevantes, foram completamente ignorados. Em suma, o filme foi alterado para ficar mais "leve" para o público em geral.

E claro, mesmo sendo "amenizado", este A Sociedade da Neve continua sendo uma história pesada, mas ao mesmo tempo inspiradora, e certamente que o fará refletir. Para quem gosta deste tipo de filme, é uma ótima pedida. Recebeu indicações aos Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" e de "Melhor Maquiagem e Penteados". Nota: 7,0.



Maestro
 (2023)
DiretorBradley Cooper
Atores principais: Bradley Cooper, Carey Mulligan, Matt Bomer, Vincenzo Amato, Greg Hildreth, Sarah Silverman, Maya Hawke

Maestro deveria contar a biografia de Leonard Bernstein (1918 – 1990), que ao assumir a direção da Filarmônica de Nova York, conseguiu se tornar o primeiro maestro estadunidense a receber reconhecimento mundial, além de também ser um prolífico e famoso compositor.

E o filme até faz isso, mas o deixa em segundo plano duplamente. Primeiro, porque aqui o que mais se mostra da vida de Leonard (Bradley Cooper), são seus relacionamentos, em especial a sua tumultuada relação com sua esposa Felicia Montealegre (Carey Mulligan). E segundo porque Maestro não foi feito realmente para contar a história de Bernstein, e sim, para que o egocêntrico Bradley Cooper pudesse se exibir imitando Leonard Bernstein.

Sendo também produtor e diretor do filme, Bradley Cooper também quis se exibir na parte técnica do filme: Maestro é exibido o tempo todo no formato 4:3, o formato mais "quadradão" que tínhamos nos cinemas até a década de 50 e nas TVs de tubo. Além disso, os 50 primeiros minutos, onde temos o Bernstein "jovem", são em branco-e-preto. Depois, há um corte, e pulamos para os anos 70, onde vemos um Leonard "cinquentão" e o filme passa a ser colorido (porém bastante carregado nas cores, também tentando imitar os filmes da respectiva época), e vamos assim até o final.

Sim, apesar das próteses no nariz e nas orelhas, a atuação de Bradley Cooper está muito boa, de fato. Ele se esforça para imitar os mesmos trejeitos e gestos, e até mesmo o timbre de voz do Leonard Bernstein real. Ainda assim, não considero uma imitação perfeita: ao imitar a voz mais grave do Bernstein "velho", Cooper acaba falando como se estivesse "com o nariz entupido" - coisa que o verdadeiro Leonard não fazia - prejudicando a dicção do personagem, e o tornando muito irritante.

Outra limitação na atuação de Cooper é que ela praticamente não varia, as emoções são sempre as mesmas, não variam. O mesmo não pode ser dito de Carey Mulligan, está sim o grande e único brilho de Maestro, ela consegue variar entre a menina fofa apaixonada e a mulher desesperada de maneira brilhante e convincente.

Com uma carreira extremamente bem sucedida, vencedor de dezenas de prêmios importantes, uma personalidade narcisista porém carismática e popular, a história de Leonard Bernstein deveria ser naturalmente interessante de se ouvir. Porém Bradley Cooper e seu ego conseguiram a enorme façanha de torná-la insuportavelmente chata. E pior, via filme não aprendi praticamente nada da obra deste artista... basicamente, o roteiro me ensinou que ele foi "um cara famoso por coisas que não vi, e que maltratou bastante a esposa com seus casos extraconjugais". Será que esse deveria ser o legado para Bernstein nesta suposta "homenagem"?

Maestro está concorrendo ao Oscar em 7 indicações, dentre elas a de Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Roteiro. Sendo que para mim estas duas últimas estão mais para uma piada. Nota: 4,0.

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