domingo, 27 de setembro de 2015

Crítica - Ex-Machina: Instinto Artificial (2015)

Título: Ex-Machina: Instinto Artificial ("Ex-Machina", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Alex Garland
Atores principais: Domhnall Gleeson, Oscar Isaac, Alicia Vikander
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=HtBuBJxDlU8
Nota: 8,0
Ficção Científica entrega reflexões, bom suspense e ótimas atuações

Mesmo que o número de filmes produzidos por ano aumente, a tendência atual é que o número de filmes exibidos nos cinemas diminua. Isto porque ao povoar múltiplas salas repetindo a exibição do mesmo blockbuster, os filmes independentes perdem cada vez mais espaço, gerando vítimas. É o triste caso deste virtuoso Ex-Machina: Instinto Artificial, que não conseguiu chegar aos cinemas, indo direto para DVD (ele chegará às lojas em Outubro mas já pode ser comprado e assistido no Brasil via streamings como o YouTube).

Na história, Caleb (Domhnall Gleeson) é um programador e foi sorteado para passar uns dias na casa de seu empregador - e gênio da informática - Nathan (Oscar Isaac). Lá ele é convidado a avaliar se o avançado androide construído em segredo por Nathan - Ava (Alicia Vikander) - consegue ser o primeiro ser artificial a passar pelo Teste de Turing (ou seja, se mostrar indistinguível de um ser humano).

O filme vai além da ciência ao colocar o elemento "opressão" em jogo. Devido a questões de confidencialidade, Caleb é sujeito a condições absurdas de confinamento. Não que Nathan maltrate seu convidado, mas ele exerce uma pressão psicológica imensa sobre o programador. E a questão não se suaviza com o tratamento dado a Ava: ela é tratada como uma máquina descartável o tempo todo pelo seu criador. E a medida que Caleb vai se convencendo que Ava tem "sentimentos", os debates morais e científicos vão crescendo de maneira natural e brilhante.

Ex-Machina marca a estréia do britânico Alex Garland com diretor, ele que já tem carreira bem sucedida como escritor de filmes também de ficção científica, como Extermínio (2002) e Sunshine - Alerta Solar (2007). E é uma estréia muito boa. Garland vai bem na direção e no roteiro.

Como direção, Alex traz para seu filme enquadramentos pertinentes - fechados, que aumentam a sensação de enclausuramento dos personagens - e uma fotografia muito boa com efeitos especiais bem críveis em se tratando de um filme de baixo orçamento. Mas se Ex-Machina vai bem na imagem, não se pode dizer o mesmo do seu som. Certamente o grande defeito do filme é sua trilha sonora. Aqui Garland mostra uma mão pesada, e a trilha ambiente é barulhenta, incômoda, alta, ocupando praticamente todos os minutos do filme. É como se o som tentasse representar um "torpor" do personagem principal; situação esta que não faz sentido com o que se apresenta na tela.

E se o roteiro é bem feito, há o alerta de que os diálogos são irregulares. Há bons e maus momentos; os piores acontecem justamente nos momentos das citações científicas. De qualquer forma, é através das imagens e das ações e reações dos personagens que conseguimos ver toda a qualidade filosófica por trás de Ex-Machina.

As atuações do trio principal são muito boas, e aumentam a qualidade do filme. Como curiosidade, em alguns momentos achei a jovem atriz sueca Alicia Vikander extremamente parecida com as irmãs Mara (Rooney e Kate). Até achei que podiam ser parentes; mas não, sequer são do mesmo país (risos).

Ex-Machina: Instinto Artificial é um filme lento, tenso, psicológico, e que assim como toda boa ficção científica nos faz refletir. Como sua nota final, eu lhe daria um 7,5. Mas nesta tendência minha de não dar mais notas quebradas, como prêmio pela sua originalidade, a nota será aumentada para 8.0.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crítica - Que Horas Ela Volta? (2015)

Título: Que Horas Ela Volta? ("Que Horas Ela Volta?", Brasil, 2015)
Diretor: Anna Muylaert
Atores principais: Regina Casé, Michel Joelsas, Camila Márdila, Karine Teles, Lourenço Mutarelli
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Dffs46VCJ_g
Nota: 8,0
Brilhante, ao expor diversos dramas sem ser piegas e com poucos clichês

Que Horas Ela Volta? estreou nos cinemas há um mês. Em muitos lugares, até saiu de cartaz. Mas... voltou! O novo filme da diretora e roteirista Anna Muylaert (Durval Discos, Castelo Rá-Tim-Bum, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias) teve uma justíssima sobrevida graças ao boca-a-boca positivo do público, e também ao destaque dado pela mídia nacional, que mostra notícias sobre a boa recepção do filme no exterior, as quais se incluem os festivais de Berlim e Sundance onde recebeu prêmios importantes.

Na história, Val (Regina Casé) deixa sua casa e sua filha pequena Jéssica (Camila Márdila) em Pernambuco e parte para São Paulo em busca de emprego. Trabalhando há mais de 10 anos como babá e empregada doméstica para os patrões Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), Val não vê a filha desde então. Então, um fato muda tudo: Jéssica vem a São Paulo para prestar vestibular e morar com a mãe. O fato de Val morar em um quartinho na mansão dos patrões é o estopim para vários conflitos posteriores.

Ao contrário do que a sinopse acima induz, Que Horas Ela Volta? não trata apenas das questões de diferenças de classes, da hipocrisia dos ricos e da complicada relação empregado-patrão. Graças a um roteiro brilhante de Muylaert (no qual trabalhou por vários anos), o filme também aborda famílias disfuncionais, diferenças entre gerações, traição, ascensão social, regionalismo... há até espaço para umas cutucadas no atual custo de vida brasileiro.

Todos estes assuntos são colocados sem sentimentalismo e quase sem clichês. O "quase" precisa ser empregado devido aos personagens dos patrões: caricatos; mas que ainda assim, não comprometem o filme.

Que Horas Ela Volta? usa muitos planos fechados, ambientes internos, mas sem o uso de closes. Desta maneira temos uma estudada cumplicidade sobre tudo o que acontece: conseguimos observar ao mesmo tempo não apenas o comportamento de Val e sua filha, como também de todos os integrantes da casa, até os outros empregados. O pouco uso de trilha sonora também contribui com a sensação de realismo trazida pelo filme.

Regina Casé - que dividiu com Camila Márdila o prêmio de melhor atriz dramática em Sundance - de fato está muito bem. Porém, não é uma atuação espetacular. De qualquer forma, seu trabalho é admirável: conhecida nacionalmente pelo esteriótipo de "comediante nordestina" ela foge desta sua antiga persona com maestria e carisma. Aliás, por falar em comédia, Que Horas Ela Volta? tem suas (muito boas) pitadas de humor, mas não se enganem, este é um filme povoado basicamente de dramas.

Em tempos onde o brasileiro sofre de má-estima devido as péssimas notícias sócio-econômicas que infestam os noticiários, ver um filme 100% nacional tão bem escrito é um alento. O Brasil continua produzindo pessoas e materiais inspiradores. Vamos acreditar mais em nós mesmos! Nota: 8,0

PSQue Horas Ela Volta? já nasceu favorito a ser nosso filme candidato para o Oscar 2016. E eu diria que é um dos filmes com maiores chances de vitória em anos! Vai levar? Aí, admito, será difícil. Não por que lhe falta qualidade. Mas por que julgo que o tema escolhido já está um pouco desgastado entre a Academia. Espero estar errado!

PS 2: Este é meu post 200 no blog. Fico feliz que este marco tenha acontecido com um filme tão bacana!

domingo, 6 de setembro de 2015

Crítica - Expresso do Amanhã (2013)

Título: Expresso do Amanhã ("Snowpiercer", Coréia do Sul / EUA / França / República Checa, 2013)
Diretor: Joon-ho Bong
Atores principais: Chris Evans, Kang-ho Song, John Hurt, Tilda Swinton, Jamie Bell, Octavia Spencer, Ah-sung Ko
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=okeVv_MQLTk
Nota: 5,0
Imprevisibilidade é a grande qualidade desta ficção pós-apocalíptica

Não deixa de ser estranho que a distribuidora PlayArte tenha colocado Expresso do Amanhã nos cinemas brasileiros somente agora, já que o filme é de 2013 e estreou na maior parte dos cantos do mundo ainda no primeiro semestre de 2014.

O filme é dirigido pelo sul-coreano Joon-ho Bong, que vem ganhando ao longo dos anos público e fama no ocidente, graças a trabalhos como O Hospedeiro (2006) e Mother - A Busca Pela Verdade (2009). Este, entretanto, é seu primeiro trabalho nos EUA e já nasceu repleto de estrelas hollywoodianas. Completam o elenco os também coreanos Kang-ho Song e Ah-sung Ko, que trabalharam com Joon Ho anteriormente.

Baseado na graphic novel francesa Le Transperceneige, a história de Expresso do Amanhã mostra que para acabar com o aquecimento global a humanidade lançou na atmosfera o composto CW7... que funcionou bem demais, congelando todo o planeta e praticamente extinguindo todas as formas de vida. Os poucos humanos sobreviventes estão confinados dentro de um trem em movimento, projetado para durar "para sempre". Vivendo há 18 anos nos "últimos vagões", em um ambiente de grande confinamento e pobreza, Curtis (Chris Evans) é o líder de uma revolta que objetiva levar seu povo até "o primeiro vagão", e controlar o trem trazendo igualdade a todos.

A verdade é que para assistir Expresso do Amanhã o espectador precisa ter uma enorme suspensão de descrença. Mesmo vendido como ficção científica, o universo montado dentro do trem é repleto de absurdos e furos de roteiro. Claro, todo esta fraca ambientação foi criada apenas para ser usada como metáfora para os conflitos sociais atuais: a separação entre pobres e ricos, a diferença enorme de qualidade de vida entre eles. No aspecto da crítica social, Expresso do Amanhã funciona bem; seja pelo debate filosófico ao final do filme, ou pela denúncia ao colocar atores negros apenas entre os pobres.

É uma pena ver, entretanto, que os problemas com o roteiro vão além do inverossímil universo criado em Expresso do Amanhã. Exageros surgem também nos pequenos detalhes, como por exemplo, no início do filme, onde vemos uma mulher atingida na nuca por um sapato arremessado sangrar devido a este fraco golpe... e na testa!

A fotografia do filme é bonita, e o design de produção, principalmente no que se refere a construção dos vagões - cada um deles possui um visual / função bem distinta - também tem destaque positivo. Entretanto, novamente as falhas aparecem. Por exemplo, ao percorrer pelo trem temos até vagões discoteca, mas não temos vagões dormitórios. Aonde estas centenas de pessoas dormem?

Curiosamente, todas esta falhas e absurdos acabam tendo um lado bastante positivo: a imprevisibilidade. Esta, talvez, a maior qualidade de Expresso do Amanhã. A cada vagão explorado, não temos a menor idéia do que vamos encontrar pela frente. Há muita surpresa e bizarrice. Em um cinema atualmente tão repetitivo, é agradável e raro ser surpreendido.

Aliás, ainda sobre estas "falhas" na história, o longo diálogo explicativo da parte final - que lembra bastante aquela conversa que Neo tem com o Arquiteto em Matrix Reloaded - consegue, de fato, explicar algumas coisas que outrora não faziam sentido. Mas também não só deixa de explicar muito, como também gera novos furos, como por exemplo, uma insinuação sobre o passado do personagem de Tilda Swinton que só funcionaria se ela tivesse menos de 25 anos, o que não acontece.

Fraco como ficção científica, mas razoável como drama e filme com bastante ação, Expresso do Amanhã somando todos seus prós e contras se torna um filme aceitável e com cenas visualmente marcantes. Nota: 5,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...