segunda-feira, 28 de julho de 2014

O incrível primeiro longa-metragem de animação (ou quase isto)


Que tal um pouco de história do Cinema? O primeiro longa metragem da história, em live-action (filmagem de pessoas reais), foi filmado surpreendentemente ainda no século XIX, em 1897, apenas 2 anos depois da primeira exibição cinematográfica dos irmãos Lumière, com seu curta La Sortie de l'usine Lumière à Lyon ("A Saída da Fábrica Lumière em Lyon").

Este filme, estadunidense, intitulado The Corbett-Fitzsimmons Fight é considerado documentário, já que basicamente registrava a luta (real) de boxe ocorrida entre os dois lutadores cujo nomes aparecem no título. Foram incríveis 1h e 40min de projeção.

O próximo grande passo seguinte aconteceu em 1906, na Austrália, com o filme The Story of the Kelly Gang. Com cerca de 60 min, foi o primeiro drama em longa-metragem e nos trazia a narrativa da vida de Ned Kelly, polêmico criminoso do país no final dos anos 1870. A partir de 1910 os longas começaram a ser produzidos em maior quantidade. Por exemplo, por volta de 1915, a produção anual nos EUA já chegava na casa das centenas.

Já estava na hora, portanto, dos longa-metragens chegarem às animações. O nome do filme que levaria o título de "primeiro longa-metragem" da animação é alvo de controvérsia. Para alguns, foi Creation, filme estadunidense de 1915, feito por Pinto Colvig. Curiosidade: Colvig é muito mais famoso por outros dois fatos: ele foi o primeiro intérprete do palhaço Bozo, e também, a primeira voz do Pateta, da Disney.

Para a maioria, o primeiro longa foi argentino, denominado El Apóstol, feito em 1917 por Quirino Cristiani. A animação era uma pesada sátira ao então presidente "hermano" da época, Hipólito Yrigoyen. Foi sucesso de público e crítica, e a técnica utilizada foi a de animação de recortes.

Creation e El Apóstol compartilham uma essencial semelhança: nenhum deles sobreviveu ao tempo, infelizmente. O que nos leva ao filme que é o verdadeiro tema deste post.

O longa-metragem de animação mais antigo e que ainda existe é um filme alemão de 1926, intitulado Die Abenteuer des Prinzen Achmed ("As Aventuras do Príncipe Achmed"), escrito e dirigido por Lotte Reiniger.

A história é baseada em alguns contos do clássico "Livro das Mil e Uma Noites", em especial, do conto The Story of Prince Ahmed and the Fairy Paribanou. Com cerca de 65 minutos de duração, o filme levou cerca de 4 anos para ser feito. Toda esta demora tem uma explicação: inventada pelo próprio Reiniger, a técnica utilizada foi a de animação de silhuetas, que consiste em uma técnica de stop-motion onde cada quadro é uma "foto" da projeção de cartões de papel contra a luz. Para entender melhor como foi feito, só mesmo assistindo:

O resultado é algo visualmente espetacular. E qualquer um pode conferir esta preciosidade histórica e visual no YouTube. No vídeo abaixo você assiste o filme completo (o filme é mudo, e as poucas partes escritas possuem legendas em inglês). É só clicar abaixo... e se impressionar!






segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica - Sob a Pele (2013)

Título: Sob a Pele ("Under the Skin", EUA / Reino Unido / Suiça, 2013)
Diretor: Jonathan Glazer
Atores principais: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Adam Pearson

Em filme lento e angustiante, a nudez de Scarlett fica em segundo plano

Sob a Pele é apenas o 3º filme do diretor inglês Jonathan Glazer, de 49 anos, que começou sua carreira na direção chamando atenção com Sexy Beast (2000), que chegou a ter uma indicação a Oscar. Misturando drama, terror e ficção científica, Sob a Pele é um daqueles filmes preconceituosamente chamados de "filme de arte", e certamente seria ignorado pelo grande público se não fosse por um detalhe: trazer a nudez total de Scarlett Johansson, assunto que "bombou" na Internet. E olhe que apesar de toda a repercussão, mesmo assim o filme veio ao Brasil em poucas salas. Por exemplo, em Campinas-SP onde moro, há mais de 50 salas de cinema e Sob a Pele só foi exibida em uma delas. Por 5 dias.

Se serve de consolo, as pessoas que iriam aos cinemas pelas cenas de nudez sairiam decepcionadas. Scarlett é belíssima, sem dúvida, mas suas cenas sem roupa são curtas, muito mais tensas do que sexy, e ainda, não são exatamente o foco do filme. Ah, mas não são cenas gratuitas. Elas se encaixam perfeitamente no contexto do filme.

Na história - levemente baseada num livro de Michel Faber de mesmo nome - Scarlett Johansson é uma alienígena recém chegada à Terra, e que utiliza beleza e sedução para atrair vítimas masculinas para sua casa, onde são mortas e cuja carne é aparentemente levada ao seu planeta de origem (o destino dos corpos não é claramente explicado, como muita coisa no filme também não é). Ela é auxiliada por um motociclista (Jeremy McWilliams), também alienígena, que também observa/avalia de longe seu trabalho.

O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira é onde vemos a personagem de Scarlett à caça. Ela escolhe homens solteiros, sozinhos, cujo "sumiço" passaria despercebido. Já aí temos uma interessante análise humana. Pois algumas de suas vítimas se interessam por ela, outras não, algumas são supérfluas, outras não.

Então acontece algo imprevisto: a alienígena encontra como presa um jovem portador de neurofibromatose, que possui um rosto inflado e deformado. Solitário, impossibilitado de qualquer contato com mulheres devido sua doença, algo faz a personagem de Scarlett questionar suas ações, o que a leva a libertá-lo imediatamente antes de seu assassínio. Curiosamente, o ator que faz este papel, Adam Pearson, realmente possui a deformidade. O que vemos não é maquiagem, e sim, seu rosto verdadeiro, fato que torna o filme ainda mais comovente.

É então que entramos na segunda e última parte, onde a alienígena precisa fugir do seu ex-comparsa e, ao mesmo tempo, começa a "descobrir" seu corpo humano, passando por experiências distintas durante sua fuga. De caçadora, ela se torna a presa. E em vários níveis. Então acompanhamos sua jornada até ao marcante desfecho.

Extremamente lento, praticamente sem diálogos, mas dando bastante destaque para a fotografia e trilha sonora, Jonathan Glazer filma de uma maneira que fica no meio termo entre Stanley Kubrick e Lars Von Trier. É uma câmera, digamos, contemplativa. De certa maneira, vemos o mundo ao redor com o mesmo estranhamento da personagem principal, a alienígena de Scarlett, que aliás atua bem, mas não a ponto de impressionar.

Um pouco perturbador, Sob a Pele definitivamente não é o filme que agrada o grande público, mas que apesar da trama simples, tem seus méritos pela experiência sensorial e, principalmente, por nos levar a questionar a natureza humana, e também, o eterno conflito da beleza interior vs beleza exterior. Nota: 7,0

domingo, 6 de julho de 2014

Crítica - O Grande Hotel Budapeste (2014)

Título: O Grande Hotel Budapeste ("The Grand Budapest Hotel", Alemanha / EUA, 2014)
DiretorWes Anderson
Atores principaisRalph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Jude Law, Saoirse Ronan, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Mathieu Amalric, Edward Norton, Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Tom Wilkinson, Léa Seydoux, Bill Murray, Harvey Keitel

Mais um divertido filme de Wes Anderson

Dentre os poucos diretores da atualidade que produzem os tais filmes "autorais", o estadunidense Wes Anderson é definitivamente um deles. Seus filmes possuem muitas características em comum, mas, principalmente, são filmes de um humor rápido e de personagens bizarros, e que sempre nos divertem muito.

Como sempre, a história é contada de maneira acelerada, com muitos cortes, várias cenas onde os atores aparecem estáticos e milimetricamente no centro da tela, como tudo se fosse uma pintura. Cores fortes, cenários improváveis, bastante coloridos, e muitos, muitos personagens, todos eles no mínimo excêntricos. Repare acima na lista de atores principais e perceba que também em O Grande Hotel Budapeste não há economia em personagens. Ótimos nomes de Hollywood aparecem mais uma vez reforçando a qualidade das obras de Wes Anderson.

O Grande Hotel Budapeste começa com um interessante exercício de narrativa, em camadas. Vemos uma menina, na fictícia república de Zubrowka de hoje, abrindo o livro sobre o hotel símbolo de seu país, e então somos transportados ao prefácio escrito pelo "autor" (Tom Wilkinson), que por sua vez, quando o livro começa, nos transporta aos anos 60 nos explicando sobre sua entrevista com o dono do hotel, o milionário Moustafa (F. Murray Abraham), que conta sua história.

E são as aventuras do jovem Moustafa na década de 30 - na época um jovem mensageiro de nome Zero (Tony Revolori) - e seu chefe, o concierge Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), que são a verdadeira trama do filme. Ao longo da projeção, vemos como a propriedade do hotel passou para Gustave, que por sua vez, passou para Zero.

Notem que por mudar para a década de 30, o formato da tela vai para 1,37:1 (um formato quase quadrado, emulando o cinema daquela época, artifício também utilizado em O Artista). Estes "detalhes" são cuidados com esmero em O Grande Hotel Budapeste. O figurino e o cenário são muito bem feitos, nos convencendo da volta ao passado.

Com diálogos afiados e bastante humor, os 100 minutos de projeção passam num piscar de olhos, o que é um ótimo sinal. Comparando com o que considero as melhores obras do diretor, os filmes Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e Moonrise Kingdom (2012), O Grande Hotel Budapeste é o melhor tecnicamente. Por outro lado, o roteiro não me cativou tanto. Ao contrário dos outros dois filmes citados, aqui a história envolve muito mais cenas de ação, e o sentimento dos personagens não é tão aprofundado, o que nos leva a um certo distanciamento dos protagonistas. Mesmo assim, o lado emocional não é descartado. Por exemplo, é trágica a situação de Monsieur Gustave, um homem "civilizado" que perde tudo com a chegada da guerra.

Contando com um enorme e talentoso elenco coadjuvante (e com ótimas atuações dos protagonistas Tony Revolori e Ralph Fiennes), se para mim O Grande Hotel Budapeste não é a melhor obra de Wes Anderson, no mínimo mostra que ele está tecnicamente cada vez melhor. E mais, reforça que seus filmes são sempre divertidos, imperdíveis. Quem ainda não conhece o trabalho deste diretor, corra aos cinemas! Você não irá se arrepender. Nota: 7,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...