sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Comentando Star Wars 7 e Jurassic Park 4


O assunto do dia, é claro, é o primeiro teaser oficial de Star Wars 7. Aproveitando o gancho, irei comentar também sobre o primeiro trailer de Jurassic Park 4, que saiu terça-feira, 3 dias atrás. São duas importantes franquias que estão voltando. Vamos a elas?


Teaser de Star Wars - O Despertar da Força


Se você ainda não viu, clique neste link para assistir o teaser oficial de Star Wars 7.

Resumidamente... o trailer impressiona positivamente no design. Bastante fiel a franquia, mas ao mesmo tempo, visualmente mais belo. Além disso, o teaser faz jus à sua definição. Diretamente da wikipedia: "teaser (em inglês "aquele que provoca" (provocante) (...) é uma técnica usada em marketing para (...) aumentar o interesse de um determinado público alvo a respeito de sua mensagem, por intermédio do uso de informações enigmáticas no início da campanha."

E é exatamente isto. Bem curto, as imagens não mostram nada de conclusivo, mas entregam várias imagens bem surpreendentes, que certamente deixaram os fãs com a pulga atrás da orelha. Eis algumas delas:

1) Já de início, se ouve uma voz dizendo: "Houve um despertar (na Força). Você sentiu?". A frase, aparentemente é dirigida para o personagem do ator John Boyega, que aparece logo em seguida, vestido de stormtrooper. Mas como? Star Wars Episódio II: Ataque dos Clones nos disse que todos estes soldados são clones de Jango Fett, o que não é o caso. E como assim um stormtrooper sentir a Força? Seria ele um Jedi? Ou um Sith?

2) Apresentado como um "representante do lado negro", o personagem da foto acima exibe seu surpreendente sabre de luz. Ela é uma montante, aquela espada longa da Idade Média. Notem que não foi nenhum acidente um sabre de luz deste tipo não aparecer em nenhum dos outros 6 filmes, pois afinal, o design dos Jedis remete aos samurais. Por que o desvirtuamento deste conceito? E seria uma polêmica associação de que a Igreja e os Cruzados fossem "do mal"? (agora sou eu quem estou sendo o teaser hehe)

3) Eles aparecem por poucos segundos. Mas podemos ver uma tropa de stormtroopers e vários Tie-Fighters. A única conclusão possível: o Império persiste. Mas como? Eles não foram derrotados em o Retorno de Jedi? Mas 30 anos depois eles ainda estão por aí. Vamos esperar qual a explicação para isto. Particularmente, espero que siga a linha do "derrotamos o Império, mas eles estão voltando". Porque se mostrarem que mesmo após as mortes de Vader e Palpatine o Império não "caiu", seria um enorme desrespeito ao final da trilogia clássica.

4) É a primeira coisa que vejo com J.J. Abrams na direção que não tem flare (o reflexo da luz contra as lentes) rsrsrs. Será que ele se conteve desta vez? Neste link, uma brincadeira de como será o Star Wars na mão do JJ.

A resposta para todas as perguntas acima? Só em Dezembro de 2015, quando o filme estréia nos cinemas. :)


Trailer de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros


Se você ainda não viu, clique neste link para assistir o trailer oficial de Jurassic Park 4.

O teaser de Star Wars não me deixou nem empolgado nem desanimado, apenas...  mais curioso. Não posso falar o mesmo do trailer de Jurassic World, que me deixou bastante preocupado.

O início dos rumores sobre Jurassic Park 4 data de 2001, quando o terceiro filme estreava nos cinemas. Ao longo dos anos, Steven Spielberg disse ter algumas ideias para o mesmo - em um tom mais sombrio - e que gostaria muito de dirigi-lo.

Quase 15 anos depois o filme vai mesmo sair... com Spielberg apenas na produção. A direção (e roteiro) ficou ao cargo do desconhecido - e praticamente estreante - Colin Trevorrow.

Vou direto ao ponto: a trama basicamente mostra que há um dinossauro extremamente perigoso à solta... E ele é um dinossauro geneticamente alterado, uma mistura de várias espécies (!?!?). Como assim? Mas que idéia idiota é esta? Jurassic Park 4 mais parece que será um filme B de terror do que qualquer outra coisa.  Decepcionante. Que pelo menos não tenhamos um híbrido com humanos... aí seria uma cópia mal feita de Alien 4.

E há mais pontos de preocupação: não só os efeitos especiais aparentam não terem evoluído em relação ao filme anterior, como todas as cenas do "parque" (o portão, o tanque copiando o Sea World) ficaram bastante artificiais. Além disto, admito que Chris Pratt convence como "cara sério" no trailer. Mas será que no filme ele vai conseguir se manter esta credibilidade dramática, mesmo sendo o  Peter Quill em Guardiões da Galáxia? Não sei.

Resumindo: não gostei nada do que vi. Alias, minto, o trailer tem uma coisa boa: a ultra belíssima Bryce Dallas Howard, que volta em seu primeiro filme após sua segunda gravidez.

Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros estréia nos cinemas em Junho de 2015.



PS: quem ainda não viu, hoje também foi a data em que faleceu Roberto Bolaños. Ele foi sim, dentro da simplicidade e sensibilidade de seus roteiros, um gênio. Não poderia deixar de homenageá-lo em meu blog. Obrigado por tudo!

domingo, 23 de novembro de 2014

Crítica - Elena (2012)

TítuloElena ("Elena", Brasil / EUA, 2012)
DiretoraPetra Costa
Atores principais: Elena Andrade, Petra Costa

Misturando documentário, biografia e drama, Elena é triste, comovente, e excelente

Com 1 ano e meio de atraso, enfim assisto Elena, filme nacional que chegou aos cinemas em maio de 2013, sendo bastante elogiado e premiado. Neste documentário, as primeiras cenas mostram Petra (a diretora do filme) indo a Nova York visitar os lugares que sua irmã mais velha Elena frequentava. É o início da biografia da personagem-título, que passa a nos ser apresentada através de cenas em VHS da família, filmadas nos anos 80. Com o passar do tempo, acabamos conhecendo a história de ambas: Petra e Elena de certa forma se misturam, ambas seguindo o mesmo caminho, da busca pela arte.

Narrado em primeira pessoa, na maior parte por Petra, Elena é uma colagem de imagens: sejam fotos, sejam as cenas antigas em VHS, ou as cenas de hoje: filmadas todas em plano bem fechado, geralmente desfocadas, nos deixando muito próximos de Petra, acompanhando sua melancolia e angústia.

Elena é consideravelmente curto, com 80 minutos de duração. Da mesma forma, minha crítica será curta. E diferente. Pois para não estragar as surpresas do filme, antecipo a conclusão do meu texto para depois, através de um breve "PS", comentar sobre mais alguns poucos detalhes.

Sensível e triste - sensações reforçadas pela ótima montagem / trilha sonora - é impossível assistir Elena sem sentir empatia pelas irmãs. Comovente, principalmente por ser uma história real, o filme - que na verdade deveria se chamar Elena e Petra - é tão envolvente e humano que se torna uma ótima pedida para quem também aprecia o cinema como arte. Nota: 8,0.

PS: (só leiam este texto APÓS assistir o filme: ele contém spoilers) É tocante ver o sentimento de dor e culpa de Petra e sua mãe, mesmo elas não sendo culpadas de nada. Quando o filme termina, temos vontade de abraçar Petra, consolando-a. Achei bem diferente um mesmo filme tratar dos sentimentos de "quem morre" e de "quem fica". Desta maneira, ao mesmo tempo que a diretora é extremamente bem sucedida em fazer uma belíssima homenagem à irmã, que outrora desconhecida, agora tem sua arte chegando a todos, por outro lado, ao mostrar todo o sofrimento que Elena causou, fica no ar algo levemente contraditório. Mas convenhamos... existe algo mais contraditório que a vida? :)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Crítica - Debi & Lóide 2

TítuloDebi & Lóide 2 ("Dumb and Dumber To", EUA, 2014)
Diretores: Bobby e Peter Farrelly
Atores principais: Jim Carrey, Jeff Daniels, Rob Riggle, Laurie Holden, Rachel Melvin, Kathleen Turner

Envelhecido, mas ainda proporcionando boas risadas

O tempo passa. Eu era adolescente, e lembro muito bem de assistir o primeiro Debi & Lóide nos cinemas. Até hoje é um dos filmes que mais me fez rir. Foi com certo espanto que percebi que Debi & Lóide 2 chegou aos cinemas após exatos 20 anos do filme original. 20 anos! Se você também viu o primeiro filme quando ele foi lançado, meus parabéns, você também está ficando velho. Mas não se preocupe, você tem uma pequena vantagem em relação à "molecada". Embora não seja obrigatório, ter assistido o filme anterior (e lembrar-se dele, claro), faz diferença: algumas das piadas fazem referência ao filme de 1994.

Cada vez mais recluso, é portanto curioso saber que a idéia da continuação veio de Jim Carrey. Conta a lenda que 5 anos atrás o ator assistiu o primeiro filme novamente, em um hotel, e se convenceu que Debi & Lóide era tão bom que merecia uma continuação. Não foi difícil convencer seu parceiro Jeff Daniels e os diretores Bobby e Peter Farrelly para o projeto. Os amigos Debi e Lóide teriam nova aventura na telona.

Debi & Lóide 2, é resumidamente, muito parecido com seu antecessor. Ambos seguem a estrutura de um road movie. Se antes tínhamos a dupla seguindo uma garota até Aspen, agora temos Debi (Jeff Daniels) e Lóide (Jim Carey) indo até o Texas atrás da filha perdida de Debi... e porque não... também atrás de um rim.

Não é só a estrutura que é parecida. O conhecido humor nonsense, ás vezes negro, ás vezes escatológico, dos irmãos Farrelly também está de volta. E com os mesmos defeitos e qualidades de sempre, agrada, proporcionando boas piadas.

A grande diferença entre os dois Debi & Lóide é basicamente sua velocidade. Envelhecidos (tanto os atores, fisicamente, quanto o conceito de seus personagens), no primeiro filme o ritmo era alucinante, em Debi & Lóide 2 as coisas são mais lentas, quase não há cenas de humor físico, por exemplo. Elas foram substituídas por um número maior de piadas verbais, de trocadilhos. E se no primeiro filme haviam ótimas piadas surgindo o tempo todo, agora continuamos com piadas sensacionais... porém espalhadas espaçadamente ao longo da história.

Resumindo Debi & Lóide 2 em uma frase: "é bem parecido com o anterior, mas sua média de "piadas boas por minuto" é bem menor.

Jeff Daniels e Jim Carey estão irrepreensíveis. Principalmente o último, que se em sua aparência fica nítido o seu envelhecimento, o mesmo não pode dizer da energia que ele traz para seu personagem. Palmas para Carey! Mantendo o mesmo entusiasmo do passado, pelo menos "por dentro" dá para se afirmar que nem Debi nem Lóide envelheceram um mísero minuto nestes 20 anos.

Se a dupla principal está muito bem, o elenco coadjuvante não agrada. Porém, há um novo personagem que merece elogios. Não vou dizer quem é para não estragar a surpresa, mas ver um terceiro personagem que consegue ser tão crivelmente ingênuo quanto os dois protagonistas é um bônus bem bacana para o filme.

A conclusão é que, mantendo a tradição de ser inferior ao filme original, Debi & Lóide 2 é pelo menos bom o suficiente para matar a saudade dos seus fãs. E se levarmos em conta a atual fase dos cinemas, onde é cada vez mais difícil encontrar uma boa comédia, Debi & Lóide 2 se torna um filme ainda mais elogiável. Nota: 7,0

PS 1: Olhando os créditos... eis que aparece o nome de Bill Murray. Quando vi o filme, não encontrei o ator em nenhum momento. Falta de atenção minha? Não... Bill está escondido até demais! Chamar um nome famoso para não ser percebido é meio estúpido... mas enfim, vai entender o humor dos Farrelly. Vejam aonde estava Bill Murray neste link.

PS 2: Seguindo esta modinha emburrecedora de cada vez mais dublados e menos legendados, pela primeira vez meu site traz um trailer dublado. Isto porque não há, simplesmente, um trailer oficial legendado. Uma vergonha. Um detalhe: assisti o filme legendado é há vários trocadilhos intraduzíveis para o português. Como assisti no idioma original, pude desfrutar dos mesmos. Já quem foi assistir dublado... perdeu estas piadas. E eu digo com prazer: bem feito! 

PS 3: Na verdade, já existiu em Debi & Lóide 2. Ele foi feito em 2003 e se chamava Debi & Lóide 2: Quando Debi Conheceu Lóide . Não contando com ninguém da equipe original (nem os atores, nem os diretores, escritores, nada), o filme é um lixo completo, e foi merecidamente ignorado por este novo lançamento.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Você precisa conhecer a nova versão de Cosmos!


Há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante... o prestigiado cientista estadunidense Carl Sagan trouxe para a TV a série Cosmos. Na verdade, não foi tão distante assim: o ano era 1980. Foram 13 episódios, ao estilo documentário, que apresentavam para um mundo leigo muitos conceitos sobre ciência e astronomia. Escrito e estrelado por Sagan, a série foi um sucesso mundial e certamente marcou toda uma geração. Pergunte para seus pais. Eles irão lembrar deste programa. E falar bem :)

Sagan nos deixou em 1996, e desde então sua esposa Ann Druyan (escritora e co-produtora da série Cosmos original) tentou trazer uma nova versão da série para a TV, com objetivo de mostrar ciência para uma nova geração. Foram anos de tentativa, batendo de porta em porta de emissoras dos EUA. Sem sucesso.

Para sua missão, Ann tinha ao seu lado nomes como o famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson, e em 2009 eles ganharam um importante aliado: Seth MacFarlane, o irreverente criador de Family Guy e American Dad. Demorou alguns anos, mas Seth não apenas ajudou no financiamento da série como conseguiu que a Fox (onde ele mesmo já possui seus shows) enfim aceitasse a exibir a nova versão do programa: Cosmos: A Spacetime Odyssey. E é deste maravilhoso seriado que quero falar.

Sendo exibida a partir de março de 2014, Cosmos: A Spacetime Odyssey igualmente fala de ciência e astronomia, igualmente possui 13 episódios, mas não se tratam dos mesmos episódios do Cosmos original. Alguns assuntos são parecidos, mas na prática, Cosmos: A Spacetime Odyssey é bem mais uma continuação do que um reboot.

O apresentador do programa, substituindo Carl Sagan, é o próprio Neil deGrasse Tyson. Você deve conhecê-lo, mas não pelos motivos certos. Você já deve ter visto os memes inspirados nele, que reproduzo abaixo. Mas "zoeiras" a parte, não se engane. Neil é um cientista muito respeitado e um bom apresentador. Recomendo que vocês vejam o vídeo que ele explica porque não há muitas mulheres na ciência.

Neil deGrasse Tyson e seus memes

E o seriado em si? Espetacular. Mesmo com sendo o assunto "ciência", tudo é apresentado de maneira simples e eficiente. Nada de blábláblás enfadonhos. Tudo é bem interessante. Os roteiros não jogam simplesmente os conceitos científicos na tela: eles aparecem como parte de uma história. Sempre há um conto por traz de tudo o que acontece. Aprendemos da maneira mais divertida possível, o storytelling.

Além da interessante narrativa, o seriado também apresenta ótimos efeitos visuais, sejam de imagens do espaço, ou ainda, de histórias sendo contadas através de animações muito bem adequadas feitas pelo MacFarlane.

Assistindo o seriado, aprendi muitas coisas... dentre elas:
  • Que existem mais planetas "órfãos" vagando por aí (planetas que não estão orbitando alguma estrela) do que planetas "normais", que como o nosso, giram em torno do Sol.
  • Que a Terra já teve 5 grandes extinções em massa (pelo menos 80% da vida da terra morreu), e a dos dinossauros foi apenas a mais recente delas.
  • Que as contribuições de Halley foi muito muito mais importantes do que apenas "descobrir o cometa que leva seu nome".
  • Que foram os humanos que "inventaram" os cachorros, eles não vieram da "natureza".
  • Que um cientista chamado Frank Shuman tinha em 1913 um projeto de transformar todo o Saara em uma grande usina solar, suficiente para gerar energia para o planeta todo, e inclusive já havia conseguido financiamento dos governos inglês e alemão... Mas que foi cancelado devido o surgimento da indústria do petróleo e devido o início da Primeira Guerra Mundial.

E muito muito mais.

Para quem gosta de aprender sobre a vida, o universo e tudo mais, fica a recomendação desta série imperdível.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Crítica - Interestelar (2014)

Título: Interestelar ("Interstellar", EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Christopher Nolan
Atores principais: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Mackenzie Foy, Michael Caine
Apesar do final problemático, filme é obrigatório para os fãs de ficção científica

O diretor Christopher Nolan abusou do mistério ao divulgar seu novo trabalho, Interestelar, sua primeira ficção científica espacial. Com uma sinopse vaga e traillers de tom épico que pouco revelavam da trama, a expectativa sobre o filme só aumentou. Enfim nos cinemas, Interestelar tem momentos grandiosos mas é irregular, fato que me fez deixar a projeção com sentimentos mistos.

O filme é dividido em três atos bem definidos. No primeiro, em um futuro apocalíptico, somos apresentados a um planeta Terra árido e tomado pela poeira, cuja capacidade de gerar alimentos diminui a cada ano. A humanidade está fadada a extinção. É uma recado ecológico / político que - especialmente para nós que vivemos em um seco sudeste brasileiro - não dá para ignorar.

Sob este cenário conhecemos Cooper (Matthew McConaughey) e sua família, que assim como todos os demais habitantes do planeta, se dedicam a agricultura, tentando minimizar o problema da fome. Também ex-engenheiro e ex-piloto, não demora muito para que ele e sua filha Murphy (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) serem contatados pelo o que sobrou da Nasa. Lá eles encontram os cientistas Brand (Anne Hathaway) e seu pai, o professor Brand (Michael Caine), que convocam Cooper para liderar uma última e arriscada missão para o ser humano: a busca por um outro planeta habitável fora do Sistema Solar. Sendo mais longa que deveria, e abusando em alguns momentos do sentimentalismo, esta parte do filme não empolga muito, mas é eficiente e necessária para o espectador desenvolver empatia com os personagens.

Chega então o segundo ato, o ponto alto do filme, onde Cooper e sua tripulação saem ao espaço em busca de nossa nova casa. É neste ponto que o filme lembra razoavelmente 2001 - uma Odisséia no Espaço (1968), o qual Nolan disse ser fã e citou como uma de suas inspirações para Interestelar.

Felizmente, Interestelar não é tão lento como 2001, mas a maneira com que foi filmado tem várias semelhanças: belíssimas cenas espaciais, o cuidado em apresentar uma viagem o mais "real" possível, sempre utilizando os conhecimentos científicos mais atuais como base, Isso sem contar algumas homenagens visuais / de design que são evidentes (o formato dos robôs remetem aos monólitos de 2001, por exemplo). Além de tudo isto, os dois filmes compartilham muitos temas comuns: o futuro da humanidade, a fragilidade do homem perante o espaço, o sentido da vida, o contato com povos extraterrestres, o uso da inteligência artificial, etc.

Esta parte do filme reflete o que há de melhor na ficção científica, e certamente agradará em muito os fãs. É uma pequena aula de astronomia. Assuntos como buracos negros, teoria da relatividade, tudo é explorado: principalmente, o efeito colateral que faz com que envelheçamos bem mais devagar sob alta velocidade ou alta gravidade, e as consequências dramáticas que isto causa aos personagens.

Até que chegamos ao terceiro e último ato. Christopher Nolan tem duas características marcantes para seus roteiros: uma, a de trabalhar com tramas paralelas. Ele repete isto em Interestelar e a faz de maneira magistral, usando este recurso para criar duas sequencias de tirar o folego.

E outra de suas características é criar um roteiro inteligente, cheio de pequenos mistérios, onde enfim, ao final, temos uma grande revelação que explica tudo o que nos intriga. Também temos isto aqui, mas neste ponto Nolan falha duplamente. Primeiro, porque ele exagera nas "dicas" ao longo da história, e com isto eu não fiquei surpreso com a "revelação final", já a tinha previsto. Mas principalmente, o problema não é o QUE ele revela, e sim COMO ele revela, de uma maneira forçada, absurda (diria impossível) e piegas (para mais detalhes, leiam meu "P.S." ao final do texto).

A conclusão da história, portanto, é uma grande contradição. Se por um lado, no desfecho, temos o prazer intelectual de ver que tudo o que o roteiro mostrou se encaixa com extrema perfeição, peça por peça, por outro lado temos a decepção de ver que Nolan simplesmente ignora a abordagem racional exibida no filme até então.

Em termos técnicos, Interestelar agrada. Ele é visualmente inferior que Gravidade (2013), porém mesmo assim as cenas espaciais são bonitas, principalmente no formato iMax, para o qual o filme foi feito. Além disto, vale a pena ressaltar o intenso uso de trilha incidental composta por Hans Zimmer, que causa dois efeitos: o aumento da sensação de angústia / desconhecido, e também, uma sensação de que nossa mente está "viajando", como se estivéssemos fora de nossa realidade.

Encerrando, o filme ainda nos presenteia com atuações muito boas, principalmente de Matthew McConaughey (o cara não para de mandar bem), Jessica Chastain e... do ator que interpreta o misterioso Dr. Mann, que não vou revelar aqui quem é para não estragar a surpresa.

Com altos e baixos, Interestelar perdeu a oportunidade de ser um marco nos filmes de ficção científica, mas mesmo assim ele tem momentos marcantes que atingem este status. Apesar do final problemático, pequenos furos de roteiro e alguns personagens caricatos, os conceitos científicos e filosóficos que o filme apresenta são tão interessantes que elevam seu resultado final.

Certamente Interestelar será comentado por anos no mundo da ficção espacial, e exatamente por isto, para os fãs do gênero é obrigatório assisti-lo. Já para quem não é fã, também vale a pena conferi-lo já que o filme é bom. Mas uma importante ressalva: a história é bem complexa e requer um esforço considerável para assisti-lo: são quase 3 horas de duração, onde é necessário prestar bastante atenção nas várias explicações ao longo da história para não perder nenhum detalhe. Nota: 7,5





PS: "Os problemas do desfecho" (alerta: só leiam este parágrafo DEPOIS de assistir o filme, ele revela partes importantes do fim). A conclusão é falha porque não é possível um humano entrar em um buraco negro sem morrer esmagado muito antes de alcançá-lo, porque não dá para a Murphy ter concluído sozinha sobre quem era "o fantasma", porque tudo o que é dito sobre o "amor" é forçado e artificial demais, porque ela nos leva a dois paradoxos temporais que poderiam ser melhor resolvidos, e finalmente, porque o acesso à 5a dimensão é um Deus Ex Machina dispensável. Curiosidade: perceberam que quando Cooper retorna ao sistema solar, já séculos no futuro, a humanidade ainda não se mudou para o novo planeta? E mais: nem precisaria, pois já está salva e espalhada pelo sistema solar em grandes estações. Porém a coitada da Dra. Brand continua lá, sozinha no espaço, com a missão de povoar o planeta com os embriões humanos. Será que um dia a humanidade toda se mudará para lá... ou será que a Dra. Brand foi vítima da maior pegadinha da história de nossa civilização? Fica a pergunta. :)

domingo, 9 de novembro de 2014

Crítica - Boyhood: Da Infância à Juventude (2014)

Título: Boyhood: Da Infância à Juventude ("Boyhood", EUA, 2014)
DiretorRichard Linklater
Atores principaisEllar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater
Passagem do tempo é a verdadeira protagonista desta incrível experiência cinematográfica

O diretor estadunidense Richard Linklater já demostrou anteriormente seu interesse pelos relacionamentos humanos através da passagem do tempo. Em sua trilogia formada por Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), o diretor mostrou em  cada um dos três filmes o mesmo casal, formado pelos atores Ethan Hawke e Julie Delpy.

Mas agora, em Boyhood, Linklater leva este conceito em outro nível. Em um único filme, 12 anos de gravações (filmando 3 ou 4 dias por ano) mostram a vida do garoto Mason (Ellar Coltrane). Coltrane, que começou a filmar com apenas 6 anos, gravou suas últimas cenas já com 18. Acompanhar na tela seu envelhecimento é impressionante (e já se pode perceber uma fração disto com a foto acima). O mesmo processo acontece, claro, com os demais integrantes de sua família: sua mãe (Patricia Arquette), seu pai biológico (Ethan Hawke) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater, curiosamente, filha do diretor).

Não há exatamente uma história definida em Boyhood. O enredo é basicamente acompanhar cenas cotidianas de Mason ao longo de sua infância e adolescência. Seu início escolar, passando pelo colegial e depois, faculdade. Sua relação com cada um de seus padrastos. Seu primeiro emprego, sua primeira namorada. Nada é especialmente "marcante", "épico". Não acontece nenhuma tragédia, nenhum grande evento. Tudo é... trivial.

O que vale portanto, não são os acontecimentos em si, em sim a viagem através do tempo. E Richard Linklater faz questão de pontuar as cenas "historicamente", fazendo muitas citações com as mudanças externas ocorrendo neste período, que vai de 2002 a 2013. Então, vemos referências que vão da febre dos livros de Harry Potter a Crepúsculo, do Gameboy ao Wii, de Britney Spears a Lady Gaga, de Bush a Obama.

Tecnicamente muito bem executado, com belíssima fotografia, enquadramentos sempre pertinentes, Boyhood praticamente não possui trilha sonora, o que só reforça a sensação de estarmos vendo algo "real", e não uma fantasia. É admirável a consistência e coesão das gravações ao longo de 12 anos. Ou ainda, ver todas as transformações físicas (e de figurino) dos personagens de maneira compatível com seu envelhecimento e com suas respectivas histórias no filme.

Sendo também o roteirista, Richard Linklater adora discutir em seus filmes, através de diálogos, sobre "a vida, o universo e tudo mais". Porém não é o que ele faz aqui desta vez. Seu foco realmente são os fatos cotidianos, mostrando mais imagens do que diálogos. Por exemplo, ele nos mostra Mason recebendo de seus avós texanos, como presentes pelo aniversário de 15 anos, uma Bíblia e uma espingarda. Mas não há nenhum diálogo sobre as implicações disto. Os "debates" ficam todos na cabeça do espectador.

Mas Linklater não resiste o tempo todo e deixa alguns de seus diálogos filosóficos lá perto do desfecho do filme, onde ele critica por exemplo como estamos nos perdendo nas tais redes sociais, ou ainda, explicita a frustração vivida pela mãe de Mason, que consta que mesmo tendo passado por tanto na vida, ela já viveu mais da metade dos seus anos e mesmo assim não se sente realizada, e provavelmente, nunca se sentirá.

Ainda sobre o roteiro, vale a pena citar que ele também era revisto/escrito ano a ano, e que incorporou para si algumas experiências pessoais dos atores e do diretor. Por falar em atores, o filme traz belas atuações do trio principal Ellar Coltrane, Patricia Arquette e Ethan Hawke. Mas é para Patricia Arquette que dou meus maiores elogios.

Uma verdadeira "capsula do tempo", Boyhood é uma experiência única e imperdível para os amantes de cinema e de arte. Por outro lado, devido sua lentidão e longa duração (2h45min de filme), certamente não agradará aos espectadores que só apreciam no cinema os blockbusters de entretenimento. Nota: 8,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...