terça-feira, 29 de setembro de 2020

Crítica Netflix - Cobra Kai (Primeira Temporada)

Estamos em Abril de 2013: em um episódio da oitava temporada de How I Met Your Mother, o "peculiar" personagem Barney Stinson revela com honestidade que um dos seus maiores ídolos de infância era o Karatê Kid. Mas não, ele não falava de Daniel "San" Larusso (Ralph Macchio) que inclusive ele odiava, e sim de Johnny Lawrence (William Zabka), que em sua visão, era o "garoto do caratê" a qual o título do filme se referia. Barney acreditava que Johnny era um grande herói injustiçado, e ele não se conformava que o restante do mundo não percebia isto.

Pouco mais de cinco anos depois, em Maio de 2018, estréia no YouTube Premium o seriado Cobra Kai, uma continuação direta - mas passada nos dias atuais - do filme inicial da franquia Karatê Kid, de 1984. E não é que para a surpresa do mundo, Barney estava certo? Pois de certa maneira, Johnny Lawrence é o "mocinho" da série.

A história começa nos mostrando o Johnny atual, uma pessoa perdida, fracassada, mas ao mesmo tempo, que também possui bondade. E então passamos a ver os eventos de Karatê Kid - A Hora da Verdade sob seu ponto de vista. E isto se torna uma experiência bem interessante, já que a história é recontada de uma maneira 100% coerente com o filme original. Vejam: Johnny não era de fato "o mal"; por exemplo, no filme ele reconhece humildemente a derrota após perder pra Daniel. E em contrapartida, meio que Daniel San "roubou" mesmo a namorada de Johnny. 

Na primeira temporada de Cobra Kai o filme original é revisitado de várias formas. Não apenas através da visão de Lawrence recontando os momentos principais, como também através de flashbacks, e principalmente, através dos adolescentes da série. As experiências de Daniel e Johnny são repetidas por Miguel (Xolo Maridueña) e Robby (Tanner Buchanan). E no que a primeira vista Miguel seria Johnny e Robby seria Daniel, na verdade não é assim! Os dois garotos são uma mistura dos dois antigos caratecas.

E isso é o maior elogio para se fazer ao roteiro de Cobra Kai: não há o maniqueísmo padrão. Todos os personagens fazem coisas boas e coisas ruins. Todos erram, todos acertam. E assim é a vida real. Esta mudança é muito corajosa e bem sucedida, até porque, repito novamente, nada que é mostrado contradiz os filmes. Mesmo as ações "ruins" de Daniel e as ações "boas" de Johnny.

Os novos personagens adolescentes trazidos para a franquia não me empolgam: em geral não os acho bons atores, e entendo que todos são mal desenvolvidos (eles mudam de atitude e personalidade de maneira muito rápida, sem muita explicação). Ainda assim, reconheço que eles são muito importantes para as relevantes mensagens que Cobra Kai quer passar: todos têm seus bons dias e maus dias; ninguém é 100% bom ou 100% mau; todo bem e todo mal que você faz tem consequências, e ponto final. Mais ainda: como é fácil e perigoso manipular as pessoas; a frase "não existe maus alunos, apenas maus professores" e revisitada na prática o tempo todo na série. E é a pura realidade, com a ressalva de se você for o "aluno" da relação, e agir como um manipulado, isso vai sim ter consequências pra você.

Em termos técnicos, a série é em geral bem feita, sem problemas relevantes. A qualidade da coreografia das lutas varia muito, há boas lutas e outras bem ruinzinhas. Em termos de trilha sonora a série é bem sucedida ao alternar com qualidade a nostalgia e a atualidade. O mesmo não pode ser dito em relação ás locações e figurinos... nisto a nostalgia faz um pouco de falta e quando usada não é feito de maneira orgânica, tudo é feito de maneira muito explícita, com os personagens quase "gritando" um "lembra desse objeto aqui do primeiro filme"?

Cobra Kai foi feito para atender todo tipo de público, tanto os antigos fãs da franquia quanto os jovens que conhecerão Karatê Kid pela primeira vez. E isto é uma decisão acertada comercialmente já que a série está fazendo sucesso para todas as idades.

E digo mais uma vez que entendo e concordo com os motivos de trazer personagens adolescentes para a série. MAS, ao mesmo tempo, esta "junção" é o maior dos defeitos de Cobra Kai: para os "velhões" que viveram a adolescência nos anos 80/90, acompanhar as histórias do "núcleo teens" da série e seus clichês de colegial americano é algo bem chato; eu, por exemplo, não suporto. Por outro lado, os iniciantes que não conhecem nem viveram os filmes originais, perdem bastante das referencias da série... e elas são muitas (mesmo)!

Portanto, acho difícil alguém conseguir gostar / aproveitar 100% da série. Por outro lado, é difícil que ela não te agrade em vários aspectos. Cobra Kai têm duas temporadas disponíveis e está com a terceira anunciada para estrear em Janeiro de 2021. A série acaba de ser renovada para a 4ª temporada, mas seus produtores querem mais: chegar pelo menos até a 5ª temporada e fazer filmes derivados. Com o sucesso que o programa tem feito na Netflix, é bem possível que isto se concretize um dia.

sábado, 26 de setembro de 2020

Crítica Netflix - Enola Holmes (2020)

Título
Enola Holmes (idem, Reino Unido, 2020)
DiretorHarry Bradbeer
Atores principais: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Louis Partridge, Burn Gorman, Adeel Akhtar, Susan Wokoma
Divertida e agradável aventura para todas as idades

A carismática atriz da Eleven de Stranger Things está de volta em outra produção Netflix, o filme Enola Holmes, onde ela interpreta a irmã mais nova de Sherlock Holmes, uma personagem que simplesmente não existe na literatura oficial do famoso detetive britânico (ela foi criada em 2006 pela escritora estadunidense Nancy Springer para uma série de 6 livros).

Na história, Enola (Millie Bobby Brown) viveu toda a infância isolada junto com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter), até que no dia em que completa 16 anos quando sua mãe simplesmente desaparece sem avisar, deixando para a filha apenas uma vaga pista sobre seu paradeiro. Então seus irmãos Sherlock (Henry Cavill) e Mycroft Holmes (Sam Claflin) aparecem para ajudá-la a encontrar a mãe perdida, porém como Mycroft quer colocar Enola em um internato, a garota foge de casa e parte em busca pela mãe sozinha.

Para quem espera ver algo digno das aventuras do Sherlock Holmes original, Enola Holmes te deixará bastante decepcionado. Primeiro porque a descaracterização dos personagens Mycroft e Sherlock é enorme, os dois pouco se parecem com o apresentado nos livros. E segundo porque embora o filme seja sim de "detetive", com Enola assumindo o papel de investigadora, ele é muito mais um filme de ação e aventura do que qualquer outra coisa relacionada a mistério ou tramas policiais.

Millie Bobby Brown é sem dúvida simpática, talentosa e carismática, e somente pessoas assim seriam capazes de conduzir este Enola Holmes. De maneira "fofa", o filme é narrado pela protagonista, que frequentemente quebra a quarta parede falando diretamente com o espectador.

Com um ritmo bem acelerado, o filme constantemente traz flashbacks curtos para enfatizar suas cenas de humor; outro recurso bastante usado é a inserção de rápidas colagens com diagramas e fotos "divertidas" para explicar o que está acontecendo. Bastante ação, boa fotografia e figurino, Enola Holmes é feito para não desagradar e certamente não desagrada, pelo contrário.

É um filme relevante? Não é. Mas é bem divertido e um bom passatempo. Bem humorado, agitado, pra todas as idades, e dando destaque a força e capacidade feminina. Nota: 6,0

domingo, 20 de setembro de 2020

Conheça a nova Ms. Marvel, seus ótimos quadrinhos, e porquê você vai ouvir bastante dela a partir de agora

 

Hoje em dia a maioria das pessoas conhecem a Capitã Marvel, alter ego de Carol Danvers, super-heroína da Marvel Comics interpretada pela excelente Brie Larson nos cinemas. Porém, quando ganhou sua primeira revista em quadrinhos própria, em 1977, Carol era chamada de Ms. Marvel.

Mas desde 2014 o nome Ms. Marvel se refere a outra pessoa bem diferente, e apesar de ser uma personagem muito bacana, somente agora ela passará a ser conhecida pelo grande público. Para começar, a nova Ms. Marvel é um dos principais destaques do jogo de videogames Marvel's Avengers lançado mundialmente no começo deste mês de Setembro para PlayStation 4, Xbox One e PCs. Devido a isso já está se tornando comum ver a personagem em várias mídias da cultura Nerd, e aliás, a foto dela acima é retirada do jogo.

E não para por aí: em 2019 a Disney anunciou que a Ms. Marvel teria seu seriado live action na TV, porém tudo foi adiado devido ao Covid-19. Porém nesta última semana as notícias sobre esta futura série voltaram a aparecer: Ms. Marvel acaba de contratar oficialmente seus roteiristas e diretores, deverá iniciar suas gravações ainda no final deste ano, para estrear com exclusividade na plataforma de streaming Disney+ em algum momento de 2021.

Mas quem é a nova Ms. Marvel? Trata-se de Kamala Khan, uma adolescente de família paquistanesa (embora ela já tenha nascido em solo estadunidense), que ganhou super poderes "Polimórficos" após ser exposta em uma estranha névoa rosa mutagênica. Não é tão fácil descrever os poderes da nova Ms. Marvel, o próprio nome "polimórfico" já mostra que nem seus criadores sabem direito... de qualquer forma, Kamala Khan é muito poderosa, pois consegue esticar seu corpo como elásticos, ficar de qualquer tamanho, mudar seu corpo para assumir a aparência de qualquer outra pessoa, e além de tudo isso, possui força e fator de cura super humanos.

Ms. Marvel / Kamala Khan é bem diferente do que vemos nos quadrinhos estadunidenses pois ela é muçulmana, e suas histórias são escritas pela sua co-criadora G. Willow Wilson: mulher, e igualmente  uma muçulmana nascida nos EUA. Sendo uma ótima escritora, Wilson consegue trazer para os quadrinhos com bastante realismo o preconceito que os seguidores do Islã sofrem nos EUA.

G. Willow Wilson escreve tão bem que consegue misturar de maneira crível as angústias de uma adolescente comum - suas paixões, seus deveres - com partes de ação e "porrada" comuns em qualquer super-herói, além de assuntos como religião e política para todas as idades. E, o mais legal de tudo: embora a Ms. Marvel saia "no braço" com seus vários inimigos, na maioria das vezes ela os derrota usando a inteligência, não sua força física.

Dentre os desafios que a Ms. Marvel já enfrentou, temos problemas familiares, difamação e chantagem via redes sociais, campanha eleitoral para prefeito da sua cidade (Jersey City), o medo de não ser aprovada pelos Vingadores ou pela própria Capitã Marvel (de quem é muito fã) e ainda seguir seu coração e ir contra eles algumas vezes, entender como seus poderes funcionam, etc. E, algo muito importante: em suas aventuras Ms. Marvel demostra um verdadeiro heroísmo que infelizmente não está presente na maioria das histórias de super-heróis atuais.

Após 57 edições mensais e mais algumas poucas ediçoes extras, e considerando que já havia "cumprido seu papel" com a personagem roteirizando-a por mais de 5 anos, Wilson passou o bastão para o também escritor muçulmano e estadunidense Saladin Ahmed. Com sua chegada, a revista se passou a chamar "The Magnificent Ms. Marvel".

O melhor é que TODAS as ótimas histórias da fase de G. Willow Wilson na Ms. Marvel estão disponíveis no Brasil. No total são 12 encadernados, sendo o primeiro de título "Ms. Marvel: Nada Normal" e o último de nome "Ms. Marvel: O Quociente". Publicados pela Panini Comics, os encadernados são de capa dura, papel de luxo, e mesmo assim custam menos de R$ 35 cada em sites de livrarias da Internet. Se você quer ler algo bacana sobre uma personagem feminina, ou simplesmente quer ler algo diferente e bastante contemporâneo, as revistas da Ms. Marvel são uma excelente pedida!


PS.: Miss, Ms. ou Mrs.? Qual a diferença entre estes pronomes de tratamento ingleses? Miss e Ms. (ambos são lidos como "mis") são usados a princípio para mulheres solteiras. Miss é usado para mulheres jovens, ou para mulheres não casadas abaixo dos 30 anos. Já Ms. é um pronome "neutro", usado para mulheres acima dos 30 não casadas, ou ainda, quando você simplesmente não sabe se a pessoa em questão é casada ou não, independente da idade.

Note que para a Ms. Marvel original, Carol Danvers, o pronome Ms. faz todo sentido. Porém para Kamala Khan o mais correto seria usar o "Miss". É por isto que embora Kamala seja majoritariamente escrita como Ms. Marvel, em algumas raras vezes ela também aparece como Miss Marvel.

Já o Mrs. (leia-se "misses") se refere a mulheres casadas. É um pronome bem formal, que indica respeito, também bastante usado para apresentar um casal: "Mr. e Mrs. <sobrenome da família do marido>".

sábado, 12 de setembro de 2020

Star Trek: Lower Decks é o melhor seriado de Jornada nas Estrelas dos últimos 21 anos!


A franquia de Jornada nas Estrelas, ou Star Trek no original, não apenas revolucionou a história da ficção científica e da TV no mundo todo, como também tem novos episódios produzidos para a telinha quase sem interrupções desde 1966 até hoje.

O melhor de seus títulos ainda é a série original, de Kirk, Spock e Dr. McCoy, produzida entre 1966 e 1969. Porém pode se dizer que o período de maior sucesso foi o início dos anos 90, onde nada menos que três seriados distintos eram produzidos simultaneamente: A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager.

No século XXI foram várias as tentativas de reviver as glórias do passado, seja em qualidade ou em audiência. Mas nenhuma chegou perto: Enterprise (2001 a 2005), Discovery (2017 até hoje), Short Treks (2018 até hoje) e Picard (2020) têm seus bons momentos, mas nunca me empolgaram.

Porém parece que as coisas começam a mudar com Star Trek: Lower Decks, uma animação lançada pelo canal estadunidense de TV CBS em agosto deste ano, e contando até agora com 6 episódios (são previstos 10 para a primeira temporada). Do que vi até agora, é a melhor série da franquia desde Deep Space Nine!

O conceito do seriado é bem curioso... mostrar a vida dos integrantes dos "decks inferiores", ou seja, os protagonistas não são as pessoas mais importantes de uma nave estrelar, e sim seus "trabalhadores braçais" de patente mais baixa. Como vimos no primeiro episódio, eles sequer possuem alojamentos próprios, dormindo em beliches nos corredores. As histórias se passam na nave U.S.S. Cerritos, que por sua vez também não tem nada de glamouroso... como o próprio seriado diz, "uma das naves menos importantes da Federação". Inclusive as cenas de abertura / créditos iniciais da série são uma grande piada com a Cerritos, somente mostrando a nave fracassando, seja em batalhas ou em simples viagens.

Sim, fazendo jus ao que se espera de uma animação, Star Trek: Lower Decks foca bastante na comédia, mas ainda assim traz em cada episódio bastante aventura e ficção científica, o que é o que se espera da franquia. Cada episódio traz uma aventura diferente, e segue uma estrutura muito parecida com as histórias apresentadas sobre as equipes do Capitão Kirk e do Capitão Picard.

Apesar dos traços limpos e coloridos, o seriado entretanto não é para crianças, e sim apenas de adolescentes para cima, assim como quase tudo de Star Trek. Só há um "defeito" em Lower Decks, que é o fato de que para apreciá-lo você necessariamente terá que ter assistido no mínimo algumas dezenas de episódios tanto da série Original quanto da Nova Geração para conseguir entender todas as constantes referências. É uma produção feita para fãs bem humorados de Jornada nas Estrelas, que constantemente tira sarro da franquia mas sem ao mesmo tempo exagerar ou desrespeitá-la, e sem perder o espírito de aventura.

Os dois principais personagens são os alferes "Brad" Boimler, um jovem todo "certinho" que sonha em ser capitão de uma nave, e Beckett Mariner, seu completo oposto, que por tanto desrespeitar regulamentos, acaba sempre sendo rebaixada a posição de alferes. São os dois personagens de uniforme vermelho da imagem acima.

Outros dois personagens importantes são os também alferes Sam Rutherford (um engenheiro que acabou de implantar um olho ciborgue no rosto e ainda não se acostumou com isso) e a alferes D'Vana Tendi (assistente da enfermaria). Rutherford é ultra empolgado com tecnologia; já Tendi é ultra empolgada com... bem, com tudo. Eles também são vistos na foto acima.

Porém Lower Decks "trapaceia" um pouco em sua premissa ao também nos mostrar os personagens de mais alta patente da U.S.S. Cerritos, ainda que como coadjuvantes. As interações entre os personagens dos "decks inferiores" e dos "decks superiores" existem principalmente porque Boimler é constantemente solicitado para fazer serviços para a capitã da nave Carol Freeman, e seu imediato, Jack Ransom; e também - oras oras - porque Beckett é a filha da Capitã. Os dois podem ser vistos na foto ao final deste artigo, ambos também com uniformes vermelho. Curiosidade: T'Ana, a médica chefe da U.S.S. Cerritos, é da espécie Caitian, um tipo de felino humanoide que foi introduzido originalmente na franquia via o primeiro desenho animado de Star Trek, produzido de 1973 a 1974. No caso, se tratava da tenente M'Ress, que as vezes substituía a tenente Uhura como oficial das comunicações.

Gosta de Star Trek? Faça um favor a você mesmo e assista Star Trek: Lower Decks!



Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...