sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Dupla Crítica Filmes Netflix - O Irlandês (2019) e História de um Casamento (2019)

Outros dois filmes de produção Netflix, sendo que ambos partilham várias qualidades em comum: diretores famosos, filmes de muuuuuuuuuitos diálogos, muitos elogios da crítica especializada, e altíssimas chances de múltiplas indicações para o futuro Oscar 2020. Confira uma breve crítica de cada um deles!


O Irlandês (2019)
Diretor: Martin Scorsese
Atores principais: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Harvey Keitel, Ray Romano, Bobby Cannavale, Anna Paquin, Stephen Graham

Baseado no livro I Heard You Paint Houses (2004) de Charles Brandt, a realização de O Irlandês é um enorme feito. Scorsese tentou fazer este filme por mais de 10 anos, e felizmente encontrou na Netflix sua casa. Aliás, se este filme saísse por um estúdio de cinema, dificilmente seria aceita a sua duração de 3h e 39 min. Portanto, mesmo que seja um "desperdício" ter um filme com fotografia e design de produção (cenários, objetos decorativos, etc) tão bons sendo exibidos apenas em "telinhas", pra mim é justamente porquê O Irlandês foi feito para um streaming que ele consegue ser tão único e tão incrível cinematograficamente.

Reunindo pela primeira vez em um mesmo filme Martin Scorsese, Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci, a turma mostra mais uma vez que sabe fazer (e muito bem) filmes de Máfia. A história de O Irlandês é basicamente toda a história adulta de Frank "O Irlandês" Sheeran (De Niro), que se tornou um "faz-tudo" da máfia estadunidense - mais especificamente prestando serviço para Russell Bufalino (Joe Pesci) - a partir dos anos 50.

A grande diferença deste filme para os demais filmes do gênero feitos por Scorsese é que aqui os personagens são reais; a história é real. É muito interessante ver o quanto a máfia estadunidense realmente mandava no país, e a relação dos mesmos com a família Kennedy e com o sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino), um dos homens mais poderosos dos EUA em sua época. Quer saber como John F. Kennedy e Jimmy Hoffa morreram? Bem, Frank Sheeran lhe dará a sua versão dos fatos.

Talvez por ser um filme histórico, mas principalmente porque hoje temos um Martin Scorsese bem mais velho e experiente, comparando com Os Bons Companheiros (1990) ou Cassino (1995), O Irlandês é um filme bem mais contemplativo, com bem menos ação, pouca violência explícita. Outra enorme diferença é que aqui os mafiosos não são tratados com glamour: vemos o pesado e cansativo dia-a-dia dos homens do crime. Tudo está muito longe de ser diversão e alegria.

O Irlandês é uma aula de cinema. Direção, atuações, produção... tudo muito impressionante. E o roteiro também é ótimo. Mas, mesmo com o pedido de Scorsese para que o filme seja visto "em tela grande e de uma vez só", é muito difícil assistí-lo assim; tanto pela sua longa duração como também pelo seu ritmo lento.  O Irlandês, portanto, não deverá agradar a todos. Mas para quem consegue admirar um cinema bem feito, filmes históricos, filmes de máfia, a nova produção de Scorcese é um deleite. Nota: 8,5

História de Um Casamento (2019)
Diretor: Noah Baumbach
Atores principais: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern, Alan Alda, Ray Liotta, Azhy Robertson

Quem não acompanha muito as notícias sobre o mundo do cinema vai se surpreender com o fato a seguir: História de Um Casamento está sendo tão elogiado (e até mais) que O Irlandês. A nova produção de Noah Baumbach segue as mesmas características de seus outros filmes: muitos diálogos, cenas cotidianas, personagens marcantes e a relação entre eles.

História de Um Casamento conta o "começo do fim" do casamento entre os artistas Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson). O amor entre ambos acabou, e agora começam as disputas e os problemas de uma separação.

Como seu grande mérito, História de Um Casamento conta sua história de uma maneira absurdamente real e sem tomar partido. Tanto Charlie quanto Nicole tem seus momentos de leves "vilões" e leves "vítimas"... mas nenhum dos dois é julgado pelo roteiro. No final, ambos perdem bastante. Somente ganham - e muito - os insensíveis advogados. Como disse, bem real.

Contando com boas atuações (dos protagonistas) e ótimas atuações (de alguns dos coadjuvantes), o bom roteiro História de Um Casamento de não me encantou tanto quanto encantou a crítica especializada. E sinceramente, a explicação que vejo é que somente se você passou por um processo de de divórcio o filme vai realmente te tocar. Como não é o meu caso, fico com os votos de que História de Um Casamento é sim um bom filme, mas não vai tão além disto. Nota: 7,0

sábado, 21 de dezembro de 2019

Crítica - Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019)

Título: Star Wars: A Ascensão Skywalker ("Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker", EUA, 2019)
Diretor: J.J. Abrams
Atores principais: Daisy Ridley, e mais um montão de gente que não é importante por não ser a Daisy Ridley
Uma tragédia mais que anunciada

Eu já desconfiava que a conclusão da grande saga Star Wars seria insatisfatória desde que terminei de assistir Star Wars: Os Últimos Jedi. Após um bom filme VII, que trouxe algumas novidades interessantes, veio Rian Johnson com seu Episódio VIII para destruir tudo o que era mais importante do filme anterior: dizer que os pais de Rey não são ninguém e que a origem dela não é importante, matar o vilão Snoke de maneira estúpida, e ainda, iniciar uma forçada aproximação de Rey com o odiado do público Kylo Ren.

Depois vieram as primeiras notícias de Star Wars: A Ascensão Skywalker: trailers vagos e ruins, boatos de regravações emergenciais três meses antes do filme estrear, e para completar o cenário ruim, o anúncio do retorno do personagem do Imperador Palpatine.

Com este cenário, confesso que estava com baixas expectativas para Star Wars: A Ascensão Skywalker. Mas para minha surpresa, o filme foi abaixo da minha previsão mais pessimista.

O filme se divide em dois temas bem claros: um é reapresentar todos os personagens e localidades da saga (literalmente) por simples fan service, e o outro é finalmente revelar os segredos de Rey... sua verdadeira origem e seu destino.

E é o final da saga pessoal da nossa heroína a única pequena parte que presta neste Episódio IX, por trazer novidades e reviravoltas. Mas nem isto é feito de maneira ideal: há sim uma grande e surpreendente reviravolta (que aliás não faz muito sentido), mas depois dela, todas as surpresas são meio que previsíveis dada a alta quantidade de "pistas de roteiro" que J.J. Abrams deixou em suas cenas.

Como filme, Star Wars: A Ascensão Skywalker é uma enorme bagunça. Não há história suficiente para se fazer um longa metragem, tudo acontece de maneira absurdamente corrida, regras básicas de espaço e tempo são quebradas o tempo todo... aparentemente todos os personagens são oniscientes e onipresentes: eles se movem de um lugar pra outro do universo em um piscar de olhos, e eles também enxergam uns aos outros o tempo todo, não importa qual a distância entre eles... fo**-se o conceito de "campo de visão".

Reconheço que seria uma tarefa quase impossível - e admirável - encerrar a saga Star Wars dando coesão para tudo o que aconteceu em seus 9 filmes... principalmente conseguir trazer uma coerência completa após os eventos de direção contrária do Episódio anterior. Porém a tentativa de J.J. e sua trupe de realizar este milagre não somente falha, como exagera - em muito - em repetir os filmes passados.

Hoje fica claro que não houve nenhum planejamento decente da Disney e Lucasfilms para realizar a trilogia final (o que é um absurdo, aliás, dado o tamanho da franquia envolvida). Ao invés de querer dar coesão em 9 filmes ao mesmo tempo, a obrigação de Star Wars: A Ascensão Skywalker deveria ser apenas garantir uma consistência para os 3 filmes finais, fechando a trilogia como um todo. Porém, foi feito o oposto disto! Através do pior roteiro de toda a saga, o Episódio IX propositalmente contraria o Episódio VIII, e pior ainda, de uma maneira que referencia porém enfraquece os atos heroicos dos filmes de IV a VI.

Finalmente, chega a beirar o inacreditável o quanto diretor J. J. Abrams e a presidente da Lucasfilms Kathleen Kennedy - os principais nomes por trás desta nova trilogia - não conseguem compreender os gostos do público que gosta de Star Wars. E presenciei uma cena que simboliza muito isto:

Eu assisti o filme em uma das últimas fileiras do cinema, e de lá eu conseguia ter uma visão geral de toda a sala. Em uma determinada cena do filme, cerca de um terço da platéia (e eu inclusive) levou a mão ao rosto em triste desaprovação. Nunca na minha vida vi tantas pessoas fazerem um "facepalm" ao mesmo tempo. Inesquecível.

E é justamente com imagens de "facepalm" que encerro minha crítica. Nada mais apropriado e emblemático para o desfecho que deram para a saga Star Wars. Como parte de uma franquia, Star Wars 9 recebe nota ZERO. Como filme isolado, recebe Nota: 4,0.




Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...