terça-feira, 29 de novembro de 2016

Crítica - A Chegada (2016)

Título: A Chegada ("Arrival", EUA, 2016)
Diretor: Denis Villeneuve
Atores principais: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael Stuhlbarg, Forest Whitaker, Tzi Ma
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=rNciXGzYZms
Nota: 9,0
Ficção-científica e "quebra-cuca" de primeira

Na última década vários cineastas nos mostraram pontos de vista bem heterodoxos sobre a existência humana. Como exemplos, tivemos a Fonte da Vida (2006) de Darren Aronofsky, O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) de David Fincher, Sr. Ninguém (2009) de Jaco Van Dormael, A Árvore da Vida (2011) e Amor Pleno (2012) de Terrence Malick, e Boyhood: Da Infância à Juventude (2014) de Richard Linklater.

Mas desses exemplos acima, apenas dois conseguiram efetivamente me emocionar e transmitir sua visão: Fonte da Vida e Boyhood. Bem, a partir de agora posso adicionar um terceiro filme na relação: A Chegada, do ótimo diretor canadense Denis Villeneuve. Um filme que, entretanto, tem de longe a roupagem científica mais pesada dentre todos os citados anteriormente.

Na história, 12 objetos gigantes alienígenas pousam na Terra em tentativa de comunicação. O que eles querem? É aí que entra a melhor linguista estadunidense, Louise Banks (Amy Adams), para tentar traduzir a mensagem dos ETs.

Como a humanidade se comportará frente a este evento? Como iniciar uma conversação entre duas espécies totalmente desconhecidas e diferentes entre elas? São respostas que A Chegada mostra de maneira consideravelmente verossímil.

O filme começa de maneira bem lenta, com trilha instrumental bem pesada, lembrando em momentos o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968). Por exemplo, boa parte do segmento inicial do filme mostra Louise dentro de uma sala tentando se comunicar - sem sucesso - com os visitantes espaciais.

Com o desenrolar da trama, entretanto, o filme começa a ganhar velocidade e tensão. Há uma corrida contra o tempo para evitar uma guerra causada - como sempre - pela burrice humana. Sentimento de urgência e suspense são adicionadas de maneira gradativa e perfeita pelo diretor, até culminar no final surpreendente, emocionante, e ao mesmo tempo, de compreensão não muito fácil. E olha que A Chegada até tenta facilitar seu entendimento para o grande público, criando uns pequenos "exageros" de roteiro em troca de uma explicação mais palatável.

Não irei comentar muito mais sobre o filme para não dar spoilers; ainda assim, explico que toda a trama - adaptada do conto "Story of Your Life", escrito em 1998 por Ted Chiang - tem como base uma única e simples teoria científica, garantindo portanto o título que darei ao A Chegada: um dos melhores filmes de ficção científica deste século. Nota: 9,0.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica - Pequeno Segredo (2016)

TítuloPequeno Segredo (Brasil / Nova Zelândia, 2016)
Diretor: David Schurmann
Atores principais: Mariana Goulart, Erroll Shand, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Júlia Lemmertz, Marcello Antony
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=X_qAIqyZK8g
Nota: 5,0
Com um desfecho belíssimo, o difícil é chegar até ele

Em teoria Pequeno Segredo deveria ser um filme interessante: baseado em um drama real da família Schurmann (a primeira família brasileira a circunavegar o mundo em um veleiro), e sendo a indicação nacional para o Oscar 2017, este "currículo" chama a atenção.

Mas o que vemos nas telas fica longe de um bom filme. Em primeiro lugar, Pequeno Segredo lembra muito uma novela da Globo. E não é pela presença de Júlia Lemmertz e Marcello Antony, que pouco parecem em cena. Pequeno Segredo lembra novelas pela sua fotografia característica, pelos diálogos artificiais e piegas, pelos atores ruins, a presença constante de product placement, pela trilha sonora enfadonha e melodramática. Aliás, o filme lembra tanto novela que tem até seus "núcleos": o núcleo da família Schurmann, em SC; e o núcleo gringo, que se divide entre o Pará e a Nova Zelândia.

Pequeno Segredo dura intermináveis, desnecessárias e enfadonhas duas horas. Entretanto, faltando cerca de 20 minutos para o filme acabar, algo surpreendente acontece: há uma reviravolta e descobrimos enfim qual é o "segredo" do título do filme.

É então que a história muda da água podre para o vinho. Onde antes não havia nenhuma coesão, agora os fatos se encaixam trazendo sentido; enfim é fornecido ao espectador motivos para ter alguma empatia com os personagens. E enfim a trilha sonora dramática e as câmeras lentas tem algum propósito narrativo.

O final de Pequeno Segredo é excelente, bastante comovente. Ainda assim, não é suficiente para apagar a péssima viagem que foi chegar até ele. Até porque, notem que a grande força da história está no seu "segredo"; que não será surpresa nenhuma para quem já conheça a vida dos Schurmann; ou quem tenha lido sobre este filme na Wikipedia. Em suma, para aproveitar algo desta obra, não veja nada sobre ela além deste texto!!!

Não é tão difícil entender porque Pequeno Segredo foi o indicado brasileiro ao Oscar. Afinal, é um filme "feito pra gringos": conta com vários diálogos em inglês, atores internacionais (e o mais famoso deles - Fionnula Flanagan - é bem conhecida), e se preocupa em apresentar um pouco do nosso lado "das selvas"... mostra como é diferente e pobre a vida do Norte brasileiro; ao mesmo tempo que nós temos as qualidades e virtudes do "bom selvagem"... tudo bem estereotipado. Por outro lado, é difícil aceitar que um filme com direção e roteiro tão problemáticos seja considerado o melhor filme nacional do ano.

Com começo e meio catastróficos, o final de Pequeno Segredo é tão bom que justifica que ele seja assistido. É uma história real que merece ser conhecida. Ainda assim, se seu desfecho "salvou" a experiência de assistir o filme, não foi suficiente para salvar sua nota. Nota: 5,0

sábado, 12 de novembro de 2016

Crítica - Doutor Estranho (2016)

TítuloDoutor Estranho ("Doctor Strange", EUA, 2016)
Diretor: Scott Derrickson
Atores principais: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=DavLd8Nj2TQ
Nota: 7,0
Apresentando o Multiverso usando um Multiverso

Chega aos cinemas o décimo quarto filme (!) da grande história contada pelo Universo Cinematográfico Marvel, inciado em 2008. O novo herói da vez é o Doutor Estranho. Na trama, o genial e arrogante cirurgião Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) sofre um acidente e perde o uso de seu instrumento mais importante: suas mãos. Desesperado por uma cura, Strange acaba viajando pra o Oriente em busca de tratamentos alternativos. É quando ele encontra a Anciã (Tilda Swinton) e seu grupo de monges super-poderosos. Inicia-se então o treinamento de Stephen ao mesmo tempo em que a Terra recebe nova ameaça global.

Doutor Estranho é certamente a produção da Marvel de maior deslumbre visual até agora. Ótimos efeitos especiais, imagens incríveis em constante movimento, cenas que parecem alucinações. Um espetáculo! E o bom é que estas imagens proporcionam ótimas cenas de ação - afinal, boa parte do filme são perseguições e lutas.

Direção e roteiro fazem um trabalho excelente ao explicar conceitos místicos e complexos de uma maneira simples e sem muito didatismo.

Outra grande qualidade de Doutor Estranho é seu protagonista. O carismático "Benedito" mostra mais uma vez sua grande versalidade e qualidade como ator, personificando de maneira bastante convincente o personagem dos quadrinhos.

Doutor Estranho é um filme de Origens bem interessante, com potencial de agradar todo tipo de público - como todo filme Marvel - mas que também como todo filme Marvel, possui seus defeitos.

Em primeiro lugar, como já citado acima, o roteiro é simples demais, focando demais na ação em detrimento do desenvolvimento dos personagens. Apenas o protagonista Stephen Strange nos é apresentado de maneira decente. Todos os demais personagens são mal explorados; o que é um enorme desperdício quando lembramos que o filme conta com atores de talento comprovado, como por exemplo Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams e Tilda Swinton. Alías, Tilda Swinton é a única dos coadjuvantes que brilham na tela com ótima caracterização. Por outro lado, os sub-aproveitados Ejiofor, McAdams e Mikkelsen são tão mal tratados que até passam por momentos constrangedores.

Outro problema já recorrente nos filmes da Marvel é o péssimo timing de suas piadas. Mais uma vez testemunhamos momentos dramáticos ou heróicos serem jogados no lixo graças a algum alívio cômico para fazer o filme voltar a ser "engraçadinho". Lamentável. Doutor Estranho tem as piadas mais fora de contexto do Universo Marvel desde Homem de Ferro 3, com o agravante que Strange não era para ser o palhaço que Tony Stark é.

Mas o que mais me chamou a atenção em Doutor Estranho é a ironia - seria este o termo? - que o filme que deveria ser o mais diferente dentre todos da Marvel é na verdade o que mais caminha pelo conhecido, bebendo de muitas fontes famosas do universo Pop. É um filme que apresenta aos espectadores o Multiverso Marvel através de múltiplos universos de outras franquias. Afinal, o filme é um amálgama de referencias (sejam visuais ou de enredo) como A Origem, Spawn, Highlander, Dr. House, Matrix, e mais alguns outros que não posso citar para não estragar a surpresa do final do filme - que por sinal é muito bom.

"Ah, mas o Doutor Estranho foi criado na década de 60, muito antes das obras citadas acima". É verdade, mas este Dr. Estranho apresentado nas telas é diferente do personagem original. É a velha questão do que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Graças a mesma fórmula utilizada em todos seus filmes, a Marvel mais uma vez consegue ter sucesso - em público e diversão - com um personagem de pequena expressão da editora, quase desconhecido do grande público. Doutor Estranho chegou para se tornar verdadeiramente famoso dentro do mundo dos super-heróis. E vai conseguir. Nota: 7,0.


Obs 1: a Anciã celta interpretada pela ótima Tilda Swinton é uma modificação do Ancião, feiticeiro tibetano que nos quadrinhos é o verdadeiro mentor do Doutor Estranho. Por que a Marvel mudou o gênero e nacionalidade de seu personagem? Simples: dinheiro! A alteração foi feita para que o filme não fosse censurado pelo governo chinês, cujo país representa 18% da arrecadação mundial dos filmes da editora. Referências ao Tibete (que a China não reconhece como região independente) e a orientais estereotipados certamente seriam barradas. O medo de ser proibido pela China é o mesmo motivo que fez com que o personagem Mandarim também tenha sido ocidentalizado - para fúria dos fãs - em Homem de Ferro 3.

Obs 2: o filme contém duas cenas pós-créditos, sendo a última provavelmente importante para o futuro do Doutor Estranho nos cinemas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Dupla-Crítica: O Lagosta (2015) e Jogo do Dinheiro (2016)

O primeiro é um filme que injustamente nem chegou aos cinemas brasileiros. O outro é um que conseguiu desembarcar por aqui, mas apesar das estrelas presentes não emplacou nas bilheterias. Vamos à mini crítica de mais dois interessantes títulos!


O Lagosta (2015)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principais: Colin Farrell, Rachel Weisz, Olivia Colman, Angeliki Papoulia, John C. Reilly, Léa Seydoux, Ben Whishaw

O Lagosta, dirigido e escrito pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos é um filme bem diferente, mas não pela maneira com que é filmado: tecnicamente ele se assemelha bastante aos atuais filmes indie estadunidenses que conseguem captar várias estrelas para seu elenco.

O que é realmente diferente em O Lagosta é seu roteiro, simplesmente maluco, bizarro. Com o intuito de criticar o quanto o ser humano se comporta de maneira absurda (principalmente em termos de relacionamentos e na criação e cumprimento de leis), Lanthimos nos apresenta um futuro onde pessoas adultas não podem ficar sem um par romântico. Caso isto aconteça (seja porque você não encontrou ou não se interessou por uma "alma gêmea", ou ainda, porque seu cônjuge acaba de morrer e você agora se encontra sozinho), os solteiros são levados a um hotel especial onde têm 45 dias para encontrar seu novo amor. Caso isto não aconteça, o solitário humano é transformado em um animal à sua escolha (o nome do filme se deve ao fato do protagonista principal, David (Colin Farrell) ter escolhido virar uma lagosta caso fracasse no amor).

O filme se desenvolve trazendo uma sucessão de acontecimentos estranhos e inesperados. E por estas características, temos uma trama inteligente que faz o espectador ansiar a todo momento pelo que há por vir. Em O Lagosta vemos algumas boas atuações, mas a única de grande destaque é da competente Rachel Weisz, que a meu ver poderia ter ficado mais tempo em cena.

O Lagosta é uma ficção excelente para quem curte futuros distópicos e humor negro. O filme só não leva nota maior pois para mim ele é tão "maluco" que suas críticas à sociedade se diluem em meio a tanta bizarrice. Infelizmente um filme tão bom como esse não chegou nos cinemas brasileiros. Mas já pode ser assistido por aqui comprando-o em diversos serviços de streamingNota: 7,0


Jogo do Dinheiro (2016)
Diretor: Jodie Foster
Atores principais: George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito

Três grandes estrelas de Hollywood (Jodie Foster na direção, George Clooney e Julia Roberts como atores principais) se reúnem em um suspense que mistura os assuntos de mercado financeiro e programas sensacionalistas da TV.

Na história Lee Gates (Clooney) tem seu programa ao vivo de TV invadido por um desesperado Kyle (Jack O'Connell), armado e vestindo um colete repleto de bombas. A exigência do criminoso? Entender porque ele e milhões de estadunidenses perderam dinheiro na bolsa através de uma surpreendente queda da "empresa do momento", que inclusive fora recomendada publicamente por Gates.

Jogo do Dinheiro tem uma grande qualidade: roteiro e direção fazem um trabalho excelente para manter o clima de tensão durante todo o filme. Jodie aparenta ter aprendido muito bem a lição de "como dirigir um thriller de suspense" com David Fincher, quando estrelou o excelente O Quarto do Pânico (2002), dirigido por ele.

O problema com Jogo do Dinheiro é o que acontece em sua metade final. O ótimo clima de suspense continua intocado nesta parte... porém, a história fica cada vez mais inverossímil. E tão ruim quanto aos absurdos da trama são os vários clichês: Clooney é o malandro com coração de ouro; Julia Roberts é a grande diretora que é a única que consegue controlá-lo; a polícia é bastante incompetente; e finalmente, temos a cota de vilões unidimensionais malvadões que expõem seus planos malignos para todos.

Pelos nomes envolvidos, Jogo do Dinheiro poderia ter uma ótima bilheteria, mas o fraco roteiro contribuiu para que isto não acontecesse. Ainda assim, o filme deu lucro: de um orçamento de US$ 30 milhões, arrecadou US$ 100 mi. Para mim, um cenário justo: este filme não merece grandes conquistas, mas também não merece dar prejuízo. Nota: 6,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...