quarta-feira, 24 de março de 2021

Crítica - Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)

Título: Liga da Justiça de Zack Snyder ("Zack Snyder's Justice League", EUA / Reino Unido, 2021)
Diretor: Zack Snyder
Atores principais: Ben Affleck, Gal Gadot, Ray Fisher, Henry Cavill, Jason Momoa, Ezra Miller, Jeremy Iron, Diane Lane, Zheng Kai, Amber Heard, Silas Stone, Ray Porter, Peter Guinness, Connie Nielsen, J. K. Simmons
Nota: 8,0

Bem melhor que a versão anterior, mas prova que Zack Snyder não pode fazer filmes de super-heróis clássicos

Depois de muita expectativas dos fãs enfim chega a versão estendida de Zack Snyder do filme Liga da Justiça (2017) para o público.

Caso você não saiba o que é este filme, resumidamente, Snyder era o diretor do filme da Liga, supostamente já havia terminado suas filmagens e estava começando a pós-produção quando abandonou o projeto devido o triste e então recente suicídio de sua filha, Autumn. Em seu lugar assumiria Joss Whedon, que para fazer um filme mais curto e "leve", gravou novas cenas e mexeu bastante no roteiro original. Foi a versão de Whedon que chegou aos cinemas e teve uma aceitação apenas mediana da crítica e público.

Alguns meses depois do lançamento de Liga da Justiça, Snyder começou a usar as redes sociais para divulgar partes do seu material inédito do filme. Não demorou muito para que seus fãs começassem a pressionar a Warner para que o Snyder Cut (a versão do Snyder) fosse lançado, movimento imediatamente apoiado pelo diretor, que afirmava que o filme estava pronto. Depois de muito tempo negando, a Warner aceitou liberar o filme e, quatro anos depois eis que a Liga da Justiça de Zack Snyder é lançada mundialmente via HBO Max.

Esta crítica será diferente, pois falarei um pouco sobre o filme novo, mas principalmente irei comparar as duas versões (o que revelará alguns spoilers, principalmente do filme original), e também falarei um bocado sobre o diretor/roteirista Zack Snyder.


Primeiro, e mais importante que tudo, a resposta que todos queriam saber é que sim, a Liga da Justiça de Zack Snyder é bem melhor que a versão dos cinemas de Joss Whedon. Os personagens são bem melhores apresentados, a trama principal é melhor explicada (agora fica claro que a morte do Superman foi o que acordou as Caixas-maternas, e porque os heróis queriam arriscar a ressuscitá-lo), as batalhas são ainda maiores e mais incríveis... até a trilha sonora melhorou um pouco, ainda que seja porque Snyder tenha reciclado várias músicas boas de filmes passados.

Os personagens mais beneficiados pelas mudanças foram o Flash (Ezra Miller), o Ciborgue (Ray Fisher) e seu pai Silas Stone (Joe Morton), e o vilão principal Lobo da Estepe (Ciarán Hinds). O Flash fica menos "palhaço" e passa a ser útil na batalha final; o Ciborgue passa a ser o personagem principal da trama. Do Lobo da Estepe falarei mais adiante. Por outro lado, houve um - e apenas um - personagem que piorou: o Aquaman (Jason Momoa). Embora a batalha solo dele tenha ficado melhor, ele perdeu minutos em cena e passou a ser o personagem "chato e pessimista" do filme.

Após assistir com prazer as longas 4h de filme, fica evidente que não daria nunca para lançá-lo nos cinemas. Oras, o filme só ficou bom ao desenvolver personagens e trama de maneira apropriada, e simplesmente não dá pra colocar algo tão longo na telona, ainda mais porque as suas primeiras 2h 30min  são bem lentas, cansativas. Eu mesmo assisti o filme em duas partes, assisti metade à tarde, e terminei o restante à noite.

Vale a pena comentar que o filme tem duas partes bem distintas e minha escolha de assistí-lo em partes foi acertada. A parte inicial, de apresentação dos heróis, os mostra como verdadeiros deuses, muito acima dos humanos, em cenas repletas de slow-motion. Já na segunda parte isso muda muito, não só com a chegada de mais cenas de ação e de diálogos rápidos, mas principalmente por mostrar todos os heróis com seus defeitos e medos.

Aliás, me corrigindo, esse Liga da Justiça de Zack Snyder não foi 2 filmes em 1. Foram 3 em um só: um para corrigir partes do Batman vs Superman, outro para apresentar todos os personagens da Liga, e outro para enfim contar a história da invasão do Lobo da Estepe. Muita coisa diferente para mostrar de uma tacada só, totalmente inviável para os cinemas!

Mas não é só pela duração do filme que concluí no título deste texto que Zack Snyder PRECISA abandonar os heróis clássicos da DC. Ele simplesmente não consegue entender o que é ser um herói. Já teve 3 filmes como diretor+roteirista para isso, e nunca conseguiu. Por exemplo: se o Snyder Cut melhorou em muitos aspectos a versão anterior, teve um ponto que ele não só não melhorou, como piorou: trata-se da batalha final com o Lobo da Estepe após a chegada do Superman. Em ambos os filmes, a luta perde totalmente a graça porque o Superman é muito mais forte que o vilão... mas agora, na versão de Snyder, o que os heróis fazem com o vilão após este já estar derrotado é simplesmente inaceitável... testemunhamos uma enorme covardia, para não falar outras coisas piores.

O resultado final da Liga da Justiça de Zack Snyder é um filme muito bom, o ápice da carreira deste diretor. E o filme poderia receber até uma nota maior minha... se não fosse o epílogo...


Ah, o epílogo... depois de passar 3 horas consertando suas bobagens passadas, Zack Snyder resolve ser Zack Snyder e estragar tudo novamente. Por que ele faria isto com sua própria obra? Seria o ego? Seria sua megalomania? Seria uma aposta para fazer os fãs fazerem campanha para uma continuação? Ou a soma de tudo isso? O fato é que após encerrar sua visão da Liga muito bem, ele resolve continuar filmando e começar a contar a história do filme seguinte!!

Snyder não sabe quando parar de gravar, quando parar de gastar dinheiro. Para que esta sua versão chegasse nesta forma que vimos, foram gastos mais 70 milhões de dólares (!!) em efeitos especiais, edição e novas cenas... e isso porque o rapaz disse que o filme já estava pronto... tsc, tsc.

Certamente boa parte desta bolada foi gasto no visual do Lobo da Estepe, e neste caso, ficou bom... a armadura do vilão chega quase a ser um personagem próprio dentro do filme. Ainda assim, um dinheiro gasto por puro capricho. Mas o que mais me irrita é que muitas das cenas deste indesculpável epílogo foram gravadas justamente DEPOIS, gastando estes 70 milhões. Dentre elas: temos a cena do Batman falando com o Caçador de Marte, que é uma cena ok, mas depois temos a cena do insuportável Lex Luthor de Snyder com o Exterminador, onde Lex conta para ele que Batman é o Bruce Wayne (o que estraga em muito o status quo do universo DC), e para finalizar, temos a cena em que o Coringa de Jared Leto simplesmente humilha o Batman, em uma cena revoltante para quem é fã do Morcegão.

E sabem qual é a historia que Zack continua neste filme aqui, e que na cabeça dele seria uma trilogia? Uma em que o Superman enlouquece e ajuda Darkseid a dominar a Terra... uma cópia da história do jogo de videogame Injustice: Gods Among Us. Ou seja, não bastando ter feito 3 filmes com o Azulão, e em nenhum deles mostrar uma mísera cena onde o Superman comete um ato de bondade, agora ele será o vilão (e assassino) por um filme inteiro!!! Se uma das maiores críticas aos filmes do Snyder pela DC é que ele exagera no sombrio, no clima depressivo, na violência, imaginem o que seria essa continuação!! 

Com seu Liga da Justiça de Zack Snyder, o diretor prova ser capaz de entregar ótimas produções... mas para isso, que não seja com heróis clássicos... ou no comando de uma franquia inteira. Zack não dá conta, ele não compreende heroísmo, não consegue ser conciso. Para o bem e felicidade de todos, que Zack Snyder continue fazendo seus filmes, mas usando personagens novos que ele mesmo crie, ou ainda, se for usar personagens já existentes, que pelo menos faça filmes de vilões ou anti-heróis. Porque a Luz definitivamente não faz parte de sua mente. Nota: 8,0

domingo, 21 de março de 2021

Crítica Netflix - Mank (2020)

Título: Mank (idem, EUA, 2020)
Diretor: David Fincher
Atores principais: Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins, Arliss Howard, Tom Pelphrey, Sam Troughton, Ferdinand Kingsley, Tuppence Middleton, Tom Burke, Charles Dance
Nota: 7,0

Filme traz Herman J. Mankiewicz como herói e se contém nas críticas

Filme produzido pela Netflix, Mank ganhou reconhecimento público semana passada, quando a Academia de cinema estadunidense concedeu ao filme 10 indicações ao Oscar 2021, número bem superior aos demais concorrentes. Sua história é sobre Herman J. Mankiewicz, roteirista famoso por Cidadão Kane (1941), apontado com certa frequência como o melhor filme de todos os tempos.

Na verdade, Mank é um filme de bastidores "duplo": a história se divide mostrando um Herman que já sofre considerável rejeição dos estúdios de Hollywood, e que se encontra recluso e imobilizado em uma fazenda, se recuperando de um acidente de carro, e em paralelo correndo contra o tempo escrevendo o roteiro de Cidadão Kane. A outra parte percorre pelo cinema dos anos 30, mostrando a vida dentro das grandes companhias e como Mankiewicz chegou até aquela situação em sua carreira.

E a "resposta" é que Mankiewicz teve sua carreira prejudicada pelo alcoolismo, e por ser uma pessoa de opinião forte que não se calava diante de injustiças. Ao final do filme, Mank (Gary Oldman) é retratado como um herói, por ter conseguido superar os vícios, a pressão dos poderosos Louis B. Mayer (Arliss Howard) e William Randolph Hearst (Charles Dance), e por "enfrentar" seu contratante Orson Welles (Tom Burke). Porém este triunfo não é compartilhado com os fatos reais, já que após Cidadão Kane, Herman continuou com os problemas de antes: seus vícios, e sendo um profissional errático longe de seus tempos áureos.

Tecnicamente o filme é muito bom, a fotografia em branco-e-preto é excelente, assim como a trilha sonora, os figurinos, e o design de produção. Porém sua edição, com várias idas e vindas entre "presente" e "passado", somada à uma introdução menor do que o necessário aos diversos personagens da trama, faz com que Mank não seja tão fácil de acompanhar por um espectador que não conhece a história real das personalidades apresentadas.

Ironicamente, em um filme sobre um grande roteirista, o que menos gostei foi seu roteiro. Não que seja ruim, mas a meu ver, Mank traz uma história "leve" demais. Apesar de seus vícios, não chegamos a ver Mankiewicz efetivamente sofrer por eles; ao insinuar uma Hollywood cruel nos anos 30, onde empregados são explorados e os estúdios seguem os interesses de políticos conservadores, são poucas as cenas onde "de fato" vemos estas maldades sendo aplicadas. Minha maior decepção foi o pouco que se comentou da vida de William Randolph Hearst: afinal, Cidadão Kane foi feito especificamente para criticá-lo... queria entender o porquê disso em detalhes, e não consegui respostas.

Mank chega a ser historicamente bastante fiel em vários pontos, mas em outros não. Por exemplo, as cenas de Mankiewicz "brigando" contra a manipulação nas eleições são todas inventadas, e o fato de Orson Welles ter oferecido dinheiro ao roteirista para tirar seus créditos de Cidadão Kane é um boato que nunca foi provado ou mesmo comentado por Welles ou Mankiewicz na vida real.

Se o filme peca ao não ser marcante ou contundente em qualquer coisa que faça, pelo menos é uma obra bem agradável de se assistir. O filme é dinâmico e as vezes até bem humorado. Não é uma surpresa tão grande, portanto, que Mank tenha sido tão bem visto pela Academia dos Oscars... afinal, ela ama histórias que auto homenageiam o cinema... e se for pra fazer isto sem colocar seus grandes nomes do passado em situações complicadas, para eles melhor ainda. Nota: 7,0

quinta-feira, 18 de março de 2021

Crítica - Mulher-Maravilha 1984 (2020)

 

Título: Mulher-Maravilha 1984 ("Wonder Woman 1984", Espanha / EUA / Reino Unido, 2020)
Diretora: Patty Jenkins
Atores principais: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright, Connie Nielsen, Lucian Perez, Gabriella Wilde
Nota: 4,0

A DC Comics parece querer perder dos filmes da Marvel de propósito...

Poucas vez na história um filme teve um nome tão apropriado como este Mulher-Maravilha 1984. Não apenas pelo bom figurino e ambientação simulando os anos 80, mas principalmente, porque o filme parece ter sido feito em 1984: um roteiro mais inocente e deslocado da realidade, o colorido, a maneira com que as cenas são filmadas... com bem mais closes e ambientes fechados do que o padrão atual para filmes de "aventura". Ao assistir este novo lançamento da DC, a impressão que se tem é uma verdadeira volta ao passado.

Porém, se a volta aos anos 80 é bem reproduzida, ela é feita recuperando algumas das piores características das produções da época: efeitos especiais (e são muitos) mal feitos, personagens caricatos com atuações exageradas, drama e humor misturados sem sentido, erros de continuidade... e um roteiro que literalmente parou no tempo... Sabem aquela série do Batman com Adam West dos anos 60? Hoje ele nos diverte porque seu absurdo roteiro nunca se preocupou com a realidade... e este Mulher-Maravilha 1984 faz o mesmo que tantos filmes oitentistas fizeram (e justamente por isso envelheceram muito mal para os dias atuais): tem o mesmo roteiro simplório dos anos 60 porém tentando se levar a sério.

É simplesmente inacreditável que ainda hoje se gaste 200 Milhões de Dólares para fazer um filme tão ruim. Dá a impressão que a DC Comics quer perder da concorrente Marvel de propósito. Uma vergonha. Mulher-Maravilha 1984 provavelmente tentou surfar em duas ondas atuais: o saudosismo pela cultura pop das décadas passadas (bem explorado nas franquias Guardiões da Galáxia e Stranger Things) e o empoderamento feminino. Pena que falha miseravelmente em ambos.

Para começar, porque são tendências contraditórias: de que adianta querer mostrar ao mundo uma heroína forte e independente, se ao simular os anos 80 ela é totalmente apaixonada e dependente do galã? De que adianta voltar ao passado para recuperar dele apenas as partes ruins? O que fez Patty Jenkins (uma das poucas diretoras famosas de Hollywood, e também diretora do primeiro filme) para prestigiar as mulheres aqui? Desta vez, a diretora também co-escreve o roteiro (primeira vez que ela atua como roteirista desde 2003, quando era uma desconhecida) e não aproveita o momento... aparentemente o único "toque feminino" no texto é ele ficar discutindo sobre roupas e moda. Triste.

Outro exemplo de trazer coisas ruins dos anos 80 é a infeliz cena da criação do "Jato Invisível"... fato desnecessário pelo próprio roteiro já que tempos depois a Mulher Maravilha aprende a voar. Esta cena seguinte não só é bem mal feita em termos de efeitos especiais, como contradiz o que vimos nos filmes cronologicamente posteriores em que a heroína aparece: afinal, tanto em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) quanto em Liga da Justiça (2017) ela não voa.

Mulher-Maravilha 1984 recebeu 2 indicações ao Framboesa de Ouro 2021, incluindo uma de "pior filme continuação"... e olha, foi bem merecido. Dentre todas as longas e enfadonhas 2h30min de projeção, o único momento que verdadeiramente apreciei no filme foi o das cenas pós-créditos com Lynda Carter, a primeira Mulher Maravilha da TV. Menos mal, né? Melhor ficar feliz por um minuto do que nenhum. Nota: 4,0

segunda-feira, 15 de março de 2021

Saiu hoje a lista de indicados para o Oscar 2021! Veja aqui um resumo do que é mais relevante, e como assistir vários destes filmes em sua casa!


Saiu hoje! A lista de indicados o 93º Academy Awards, vulgo Oscar 2021. Como fato principal e histórico - porém totalmente compreensível devido a pandemia de Covid-19 - pela primeira vez as empresas de streaming dominaram as indicações: a Netflix ficou em primeiro lugar, com 35 indicações, seguida do Amazon Prime, com 12 indicações. E apenas em terceiro lugar começam a aparecer os estúdios de cinema, com Disney e Warner empatadas com 8 indicações cada.

Para indicados a Melhor Filme, temos oito nomes. Segue abaixo a lista dos filmes, com o total de indicações recebidas de cada um ao lado, entre parênteses:

Por enquanto, destes 8, apenas Os 7 de Chicago já teve crítica publicada aqui no Cinema Vírgula. Mank, foi outro filme que já assisti, e publicarei sua crítica no final de semana.

Até o dia da cerimônia chegar - 25 de Abril - certamente irei assistir vários outros filmes e contar para vocês aqui sobre eles. E nem precisa esperar meu texto... vários filmes você pode assistir do conforto da sua casa: Mank e Os 7 de Chicago podem ser assistidos na Netflix, e o O Som do Silêncio no Amazon Prime.

E mesmo que ainda não estejam concorrendo ao prêmio de Melhor Filme, da Netflix receberam múltiplas indicações Dois Papas, Era Uma Vez Um Sonho, A Voz Suprema do Blues e Relatos do Mundo; e do Amazon Prime tivemos também Borat: Fita de Cinema Seguinte e Uma Noite em Miami. Quase todos estes já receberam críticas minhas. Só clicar nos links!

Continuando com os principais destaques das indicações, pela primeira vez na história tivemos duas diretoras indicadas entre os 5 candidatos de Melhor Direção: Chloé Zhao (por Nomadland) e Emerald Fennell (por Bela Vingança); além disto, sendo chinesa, Chloé é a primeira diretora "não branca" a receber esta indicação.

Se ano passado a Coréia do Sul fez história de consagrando com o filme Parasita, ela foi prestigiada mais uma vez, agora com Steven Yeun e Youn Yuh-Jung sendo indicados respectivamente ao prêmio de Melhor Ator e de Melhor Atriz, ambos pelo filme Minari. São as primeiras indicações para sul-coreanos em atuação.

E encerrando os destaques, com nova indicação à Melhor Atriz, Viola Davis (A Voz Suprema do Blues) bateu o recorde de atriz negra com mais indicações ao Oscar (agora são 4). Lembrando que este mesmo filme tem a última aparição de Chadwick Boseman (o saudoso e falecido Pantera Negra), e ele também recebeu indicação: está disputando o Oscar de Melhor Ator.

Quer se manter informado sobre os filmes do Oscar até a cerimônia no final de Abril? Continue acompanhando o Cinema Vírgula!

sábado, 13 de março de 2021

Dupla Crítica Filmes Netflix - A Escavação (2021) e Pelé (2021)


Mais dois lançamentos da Netflix, que embora envolvam pessoas famosas, não tiveram muito destaque nas mídias especializadas. O primeiro é uma história de ficção, embora sobre um fato histórico real. E o segundo é um documentário sobre nosso Rei Pelé. Confiram!



A Escavação (2021)
Diretor: Simon Stone
Atores principais: Carey Mulligan, Ralph Fiennes, Lily James, Johnny Flynn, Ben Chaplin, Ken Stott, Archie Barnes

A história real por trás de A Escavação é muito interessante: uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX, um barco funerário anglo-saxão com mais de 200 artefatos enterrados, com 1500 anos de idade. E tão incrível quanto, foi descoberto graças a uma cidadã "comum", entusiasta da arqueologia.

Entretanto, e infelizmente, este filme sobre a descoberta passa longe de ser igualmente empolgante. Mesmo a presença de 4 atores britânicos bem conceituados e de considerável sucesso Hollywoodiano não foram capazes de compensar o fraco roteiro. Carey Mulligan e Ralph Fiennes até estão muito bem, uma das melhores coisas de A Escavação; porém Lily James e Ben Chaplin são tão mal aproveitados que dá até raiva.

As paisagens do campo britânico são maravilhosas, e o filme transpira um convincente amor pela arte e a arqueologia. Porém, nem mesmo "a estrela desta história", que seriam os objetos arqueológicos encontrados na escavação, ganha muita atenção. Passamos o filme todo ouvindo o quanto aquela descoberta é fantástica, mas não vemos quase nada do que foi retirado. Muito decepcionante. Ao invés de focar na arqueologia, ou até no momento histórico da época (começo da 2a Guerra Mundial, que inclusive é propagandeado no trailer mas também é ignorado pelo filme), a trama se preocupa mais em ficcionar sobre os personagens... aí temos então um amor platônico entre os personagens de Mulligan e Fiennes e o infeliz casal de Lily e Ben Chaplin: a esposa mal amada porque seu marido é secretamente gay. Tudo invenção, em um melodrama mal construído.

Como mérito, A Escavação é uma boa ode de amor à arqueologia, e serve também para levar o mundo a redescobrir esta importante descoberta arqueológica. Se o filme falha ao não mostrar os objetos escavados, pelo menos em termos de figurinos e cenários é bastante preciso e interessante. Além disto, é uma boa oportunidade para vermos o bom trabalho de Ralph Fiennes e do arqueólogo real que ele interpreta, Basil Brown. Finalizando, a bela fotografia é outro considerável atrativo de A Escavação, mas mesmo com estas qualidades listadas neste parágrafo, A Escavação se apresenta como um filme apenas médio que não faz jus à descoberta que o inspirou. Nota: 6,0.



Pelé (2021)
Diretores: Ben Nicholas, David Tryhorn
Atores principaisPelé

Coube a um grupo de ingleses, e não de brasileiros, trazer para a Netflix um documentário exclusivo sobre o Rei do Futebol. Não é surpresa, entretanto, visto que nosso país relembra tão mal sua própria história.

E por falar em história, é justamente o choque da passagem do tempo a primeira cena do filme Pelé: com seus 80 anos, o Rei aparece em cena andando com muita dificuldade e um andador, em direção à cadeira onde ele irá contar sua história. Além da idade, o ídolo passou por uma cirurgia mal sucedida nos quadris, e agora ele passa maior parte do tempo em uma cadeira de rodas.

E então o filme começa a contar, principalmente, sobre os "bastidores" da carreira de Pelé. São 5 atos: seu início como jogador, e depois, as 4 Copas do Mundo disputadas. Sim, enquanto as histórias são contadas - não só por Pelé, mas também por mais uma dezena de convidados - temos imagens de suas partidas (e diga-se de passagem, MAIS uma vez as pessoas poderão ter a oportunidade de VER que só o que o Pelé fez na Copa de 1958 já foi mais que o Messi e o Cristiano Ronaldo fizeram em toda carreira); mas ainda assim, o destaque do filme fica mais para o fora de campo.

Um dos "defeitos" desta obra é que mesmo escolhendo apenas 5 passagens da carreira do jogador, o filme é curto demais para contar sobre elas, ou ainda, explicar o impacto de Pelé no futebol e no Brasil. Em outras palavras, você assiste a Pelé, conhece e se encanta com o jogador, mas ainda assim quando o filme acaba você não fica com a impressão de que aprendeu sobre ele.

Outra característica curiosa deste Pelé é a sua politização: durante todo o filme há uma narrativa paralela sobre o "fantasma da ditadura" e a "omissão" de Pelé a respeito. Este foco não deixa de ser interessante, onde por exemplo no país há toda uma nova geração que, por desconhecimento, acha que a ditadura não foi ruim. Neste sentido, é bom que Pelé relembre a opressão do passado. Por outro lado, as "acusações" a Pelé são injustas... alguns convidados, como principalmente Juca Kfouri, o defendem convincentemente; ainda assim a edição é um pouco injusta com o Rei do Futebol, e o filme não chega a inocentá-lo. Por mim, Pelé não merecia isto.

Pelé também impressiona pela sua humildade e simplicidade, tanto nas cenas do passado como nos depoimentos atuais, vários deles bem emocionados. Mas novamente, a edição não consegue ser favorável ao ex-jogador, concluindo sua história com um tom muito mais melancólico do que triunfante.

Apesar de seus problemas, o pouco que Pelé mostra sobre a história do nosso futebol e da nossa política é bastante interessante e instrutivo, mesmo sendo apenas um "recorte". Para quem gosta então destes assuntos, o filme é uma obra que merece e precisa ser assistida. Nota: 6,0

quarta-feira, 10 de março de 2021

Crítica Netflix - Relatos do Mundo (2020)


Título
: Relatos do Mundo ("News of the World", China / EUA, 2020)
Diretor: Paul Greengrass
Atores principais: Tom Hanks and Helena Zengel
Nota: 7,0

Bom faroeste com recado político atual

Ainda que não seja uma produção Netflix (seu direito de exibição foi comprado para exibição via streaming no mundo todo menos EUA), Relatos do Mundo é mais um lançamento de Faroeste que chega em nossas TVs, desta vez com a estrela Tom Hanks como grande nome e protagonista.

Nesta história que se passa alguns anos após o fim da Guerra Civil Estadunidense (ou seja, por volta do ano de 1870), e baseada em um livro de mesmo nome, conhecemos a vida do Capitão Kidd (Tom Hanks), que viaja pelo país lendo notícias de jornal em público em troca de dinheiro. Em uma de suas viagens ele encontra a menina Johanna (Helena Zengel), que há muitos anos foi sequestrada pelos índios Kiowa e a criou como tal. Kidd coloca como sua missão atravessar os EUA para levar a garota até seus verdadeiros familiares.

Se trata portanto de um road movie, mas que por se tratar de faroeste, como geralmente acontece, mostra o pior do ser humano. A diferença aqui é que os defeitos escolhidos para criticar fazem referência ao mundo atual: racismo, violência à mulher, e manipulação da população através de notícias (que nem sempre são verdadeiras).

As atuações de Hanks e da menina Helena são boas e o grande atrativo do filme. Helena Zengel, aliás, é favorita a receber alguma das indicações de Melhor Atriz Coadjuvante no Oscar desse ano (vamos descobrir se isto vai se realizar daqui há poucos dias, em 15 de Março). Mas embora eu tenha gostado bastante do trabalho da garota, não acho que mereceria tanto.

Em termos técnicos o filme também não decepciona, principalmente pela boa música e boa fotografia. O diretor Paul Greengrass, bem mais conhecido pelos filmes da franquia Bourne, também faz um bom trabalho.

Relatos do Mundo mistura faroeste, política e a humanidade da atuação de Tom Hanks para entragar um filme tocante, as vezes tenso, e com certo recado político e moral. Dentre os poucos filmes que têm chegado até nós devido o confinamento necessário pela pandemia de Covid-19 - e que acaba de alcançar a marca de 1 ano - é um dos melhores lançamentos que vi recentemente. Nota: 7,0.

domingo, 7 de março de 2021

Crítica Amazon Prime - Um Príncipe em Nova York 2 (2021)


Título: Um Príncipe em Nova York 2 ("Coming 2 America", EUA, 2021)
Diretor: Craig Brewer
Atores principais: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan, KiKi Layne, Shari Headley, Wesley Snipes, James Earl Jones, John Amos, Teyana Taylor, Vanessa Bell Calloway, Paul Bates
Nota: 5,0

A nostalgia é a única coisa boa deste caça-níqueis

Assim que fiquei sabendo que este filme seria lançado, corri para assistir a sua primeira produção, Um Príncipe em Nova York (1988). Apesar do grande sucesso de público na época, a verdade é que o filme nunca foi tão bom... embora tivesse seus momentos divertidos e trouxesse pela primeira vez um Eddie Murphy maquiado fazendo vários personagens de gênero e idade diferentes (sim, isso um dia foi uma novidade). E, para piorar, Um Príncipe em Nova York envelheceu mal, graças a seu roteiro simplório e inocente, que desagrada ainda mais hoje em dia. Mesmo assim, é um filme de qualidade suficiente para você passar um bom tempo em uma "Sessão da Tarde".

Quando vi o primeiro trailer de Um Príncipe em Nova York 2, já fiquei bem desconfiado: para quem assistiu ao primeiro filme, imaginar que o Príncipe Akeem teria deixado um filho bastardo em NY chega a ser ofensivo. Até tentei dar uma chance... pensei que apesar da "forçação" inicial o restante da trama poderia compensá-la, ou ainda, que o ator que faria o "novo" príncipe poderia ser uma grata surpresa. Nem um nem outro: a trama é ainda pior que a do filme anterior, e o ator que faz o filho de Akeem, Jermaine Fowler, é fraco e sem carisma.

Uma pena. Até porque o esforço da produção para reviver o sucesso do passado foi considerável: além de figurinos e cenários muito bons, eles conseguiram trazer praticamente todo elenco do primeiro filme. O único personagem relevante que não retornou foi a Rainha, mas só porque a atriz Madge Sinclair infelizmente faleceu cedo, em 1995. E é justamente neste apelo às lembranças do passado que Um Príncipe em Nova York 2 mais agrada, além do carisma do elenco original. A única chance de assistir esta continuação e se divertir um pouco é tendo o primeiro filme fresco na memória.

E se o elenco original agrada tanto, é difícil entender porquê os novos personagens são tão fracos... após mais de 30 anos de ausência, bem que daria para pensar em uma trama melhor... Aliás, um filho bastardo nem era necessário, já que a trama sequer passa nos EUA, ficando na maior parte em Zamunda. Esta escolha de localidade tem prós e contras: se por um lado agora aprendemos e rimos mais da cultura deste povo sui generis, por outro lado o filme perde a chance de fazer piadas comparando os EUA de hoje com o de 3 décadas atrás.

Após alguns dias de lançamento, as notícias mostram que Um Príncipe em Nova York 2 não agradou nem a crítica especializada como o público em geral. Como conclusão, ele entra para a história como outra boa oportunidade desperdiçada, e é uma experiência razoavelmente agradável apenas para quem se lembra bem do primeiro filme. Nota: 5,0.



PS: não posso deixar de comentar que o primeiro filme, Um Príncipe em Nova York, tem uma das melhores "aparições especiais" de todos os tempos: em um determinado momento, o Príncipe Akeem presenteia dos velhos mendigos com uma quantidade enorme de dinheiro vivo. E quem são esses mendigos? São os atores Don Ameche e Ralph Bellamy continuando seus papéis dos (agora) falidos ex-milionários irmãos Duke após os eventos do filme Trocando as Bolas (1983), que também tinha Eddie Murphy como um dos protagonistas e é um filme beeem mais divertido que estes dois do Príncipe.

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...