domingo, 22 de outubro de 2023

Crítica Netflix - A Queda da Casa de Usher (minissérie)


Médio como terror, bom como série, ótimo como homenagem a Poe

Mike Flanagan é "o cara" das séries de terror da Netflix. Como diretor, produtor e roteirista, ele fez para a empresa de streaming: A Maldição da Residência Hill (2018), A Maldição da Mansão Bly (2020), Missa da Meia-Noite (2021), e agora este A Queda da Casa de Usher.

Destes, assisti apenas A Maldição da Residência Hill, que é realmente muito bom. Aliás, foi mesmo um trabalho tão bom e impressionante que garantiu a Flanagan ser, no ano seguinte, o diretor e roteirista do filme Doutor Sono (2019), continuação de O Iluminado (1980).

Mais do que qualquer coisa, este A Queda da Casa de Usher, que conta com 8 episódios com cerca de uma hora cada, é uma grande homenagem aos trabalhos do escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809 – 1849). Em teoria a série é uma adaptação do conto de mesmo nome, porém, o conto de Poe é curto, de algumas poucas páginas, e embora reproduzido com alguma fidelidade, toda uma nova trama foi criada para esta série de modo a preencher tantos capítulos.

É aí, então, que entra a tal homenagem que disse anteriormente. Literalmente todos os personagens do seriado têm seu nome retirados de algum conto de Edgar Allan Poe. E com exceção do primeiro episódio, os demais têm como título o nome de algum conto do escritor, sendo que a trama de cada capítulo também segue levemente os acontecimentos da obra original de mesmo nome. Os nomes dos episódios/contos são: A Máscara da Morte Rubra, Os Assassinatos na Rua Morgue, O Gato Preto, O Coração Delator, O Escaravelho de Ouro, O Poço e o Pêndulo, e O Corvo.

Como fio condutor de tudo isto, temos a trama da série, que são as mortes que estão acontecendo com a família Usher. A história mostra os milionários irmãos Madeline Usher (Mary McDonnell) e Roderick Usher (Bruce Greenwood), donos da gigantesca empresa farmacêutica Fortunato vendo os filhos de Roderick morrendo em estranhos acidentes, um a um. Há mais dois personagens muito importantes na trama: o procurador da justiça Auguste Dupin (Carl Lumbly), e uma mulher que se apresenta como Verna (Carla Gugino), que aparenta estar por trás de todas as mortes. Desde o começo fica claro que ambos possuem um passado com os irmãos Usher, e vamos entendendo, através de flashbacks ao longo da série, tudo o que aconteceu.

Assim como tem sido constante em seus trabalhos em termos de produção - e principalmente fotografia - A Queda da Casa de Usher é excelente. Porém, como terror a obra falha. Sim, temos várias cenas de corpos em pedaços, ou outras coisas desagradáveis... mas a série não consegue gerar tanta tensão. Um dos motivos é que para cada uma das diversas mortes que acontecem, temos que Roderick Usher visualiza os mortos antes... o que não deixa de ser um desanimador spoiler do que acontecerá mais para a frente naquele episódio. Achei uma decisão muito ruim de roteiro esta.

Outra coisa que A Queda da Casa de Usher não alcança é a empatia com seus personagens, pois todos eles são seres humanos terríveis, pavorosos... mas isso na verdade não deixa de ser uma qualidade... afinal, que ótimo elenco temos aqui! E eles conseguem nos "convencer" que são detestáveis. Aliás, vários dos atores aqui também estão presentes em todas as outras séries de Mike Flanagan na Netflix, como por exemplo a própria (e sempre excelente) Carla Gugino, mas também Henry Thomas (o eterno menino Elliott, de E.T.), Rahul Kohli, Katie Parker e Kate Siegel. Esta última aliás é casada com Flanagan na vida real. E uma participação bastante relevante, que não posso deixar de citar, em seu primeiro trabalho com Mike, é nosso Luke Skywalker, Mark Hamill, que aqui faz um papel bem diferente, como um sinistro advogado da família Usher.

Kate Siegel e Mike Flanagan

Resumindo meu sentimento com A Queda da Casa de Usher: o primeiro episódio é bastante instigante, mas depois a série perde bastante em termos de suspense e terror. Não demora muito para percebermos que cada capítulo terá uma morte cuja surpresa é "estragada" rapidamente com a visão premonitória de Roderick Usher. Mesmo assim, a série continua prendendo seu interesse, seja pelas boas atuações, ou principalmente, porque você quer entender o passado dos Usher, que é contado aos poucos. Agora, se você der sorte de conhecer os contos originais de Poe, aí sim terá um prazer extra, que é observar, a cada episódio, como ele foi alterado para os tempos modernos.

Mas A Queda da Casa de Usher deixa seu melhor para o fim, que é realmente muito bom! O último episódio junta todas as pontas soltas de maneira muito satisfatória, além de fazer críticas sociais, políticas, comportamentais... e emocionar. Aliás, é também principalmente neste último episódio em que a grande maioria do conto A Queda da Casa de Usher é "de fato" adaptado.

Dentre todos os trabalhos de Mike Flanagan na Netflix, só posso comparar A Queda da Casa de Usher com A Maldição da Residência Hill, e neste caso a Residência Hill continua insuperável. É que esta última é bem melhor principalmente nos quesitos terror / suspense e trilha sonora. Ainda assim, A Queda da Casa de Usher é uma ótima produção que vale a pena ser assistida, principalmente se você pensar nela como drama / suspense e não terror; ou ainda, se você for grande entendedor de Edgar Allan Poe. E se eu não assisti os demais trabalhos de Flanagan na Netflix, no Imdb neste momento A Queda da Casa de Usher aparece com a segunda melhor nota dentre seus trabalhos, ficando atrás apenas da A Maldição da Residência Hill. Outro indício de sua boa qualidade.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Dupla Crítica Filmes Netflix - O Conde (2023) e Camaleões (2023)

Seguimos com mais críticas de filmes recentes da Netflix, para quem curte filmes mais sombrios. Um lançado no mês passado, e outro lançado agora mesmo, em Outubro. Vamos a eles?



O Conde (2023)
Diretor: Pablo Larraín
Atores principais: Jaime Vadell, Gloria Münchmeyer, Alfredo Castro, Paula Luchsinger, Stella Gonet

Filme chileno anunciado como comédia de humor sombrio, O Conde tem muito poucos momentos de humor, e muitas críticas e sarcasmos dedicados ao falecido ditador Augusto Pinochet e toda sua família. Na trama, descobrimos que o ex-general chileno forjou sua morte em 2006, e que vive até hoje recluso, em uma casa de campo, longe de tudo e todos.

Mais ainda, Augusto Pinochet na verdade é um vampiro, com cerca de 250 anos de idade, e seu repentino desejo de morrer "de verdade" somado a uma recente onda de assassinatos na capital Santiago, onde as vítimas tem seus corações arrancados, são os dois principais condutores da trama.

O Conde é filmado em preto-e-branco, tendo em sua fotografia sua melhor qualidade, já que o roteiro está longe de ter algo criativo. Vemos que Pinochet é um vampiro, que ele é cruel e desumano, assim como toda sua família... temos também algumas críticas a Igreja, mas fica nisto. Realmente nada fora do esperado para o tema. Um ponto que pode ser surpreendente para o brasileiro "comum", é a importante presença de Margaret Thatcher na história. Mas para o espectador chileno, que sabe muito bem que a "Dama de Ferro" da vida real foi aliada de Pinochet, e um ser humano tão odioso quanto, novamente, nada fora do comum.

Em resumo, como filme O Conde não é uma experiência ruim de se assistir (até longe disto), mas é algo que não acrescentará nada em sua vida. Um mero passatempo, na simples definição da palavra. Nota: 5,0.



Camaleões
(2023)
Diretor: Grant Singer
Atores principaisBenicio Del Toro, Justin Timberlake, Eric Bogosian, Alicia Silverstone, Domenick Lombardozzi, Frances Fisher, Ato Essandoh, Karl Glusman, Sam Gifford, Matilda Lutz

Com uma tradução de título muito infeliz (Reptile, no original, faz mais sentido), Camaleões é um filme de investigação policial de roteiro ficcional, embora seja baseado muito levemente em um assassinato real, a da corretora de imóveis canadense  Lindsay Buziak.

Na trama, o policial Tom Nichols (Benicio Del Toro) ainda está se adaptando a recém mudança de cidade junto com sua esposa Judy (Alicia Silverstone), e acaba sendo encarregado da investigação do estranho e brutal assassinato de uma corretora de imóveis, Summer (Matilda Lutz).

A história conta com um número enorme de reviravoltas, boa parte previsíveis, porém a boa notícia é que algumas são inesperadas, o que garante a diversão. O diretor estreante em filmes Grant Singer (ele já foi diretor de dezenas de vídeos musicais) consegue fazer um bom trabalho de ambientação, trazendo bom clima de tensão e suspense durante toda a produção.

Mas para mim, o melhor mesmo de Camaleões é rever os "sumidos" Benicio Del Toro e Alicia Silverstone. O primeiro pela sua atuação e presença em tela, e a segunda pelo seu carisma e beleza. Sempre achei a Alicia muito bonita, e ela continua linda, pena que desde seu auge dos anos 90, é difícil vê-la em produções relevantes. E aqui, ainda está atuando bem.

Camaleões é um filme de suspense policial bem competente e acima da média. Ainda que longe de ser memorável, para quem curte o gênero é uma boa pedida. Nota: 6,5.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Crítica Netflix - A Maravilhosa História de Henry Sugar (2023) e outros curtas de Roald Dahl

Título: A Maravilhosa História de Henry Sugar ("The Wonderful Story of Henry Sugar", EUA / Reino Unido, 2023)
DiretorWes Anderson
Atores principaisBenedict Cumberbatch, Ralph Fiennes, Ben Kingsley, Richard Ayoade, Dev Patel, Rupert Friend
Nota: 7,0

Agora via Netflix, Wes Anderson multiplica sua visão através de Roald Dahl

Conforme eu havia antecipado em minha crítica de Asteroid City, este A Maravilhosa História de Henry Sugar é um curta-metragem (37 minutos), e o primeiro trabalho exclusivo de Wes Anderson para a Netflix. Mas o que eu não esperava, e fui muito surpreendido, era que este filme seria apenas o primeiro (e maior) de quatro curtas lançados diariamente pelo diretor na Netflix. Após ele, vieram O Cisne, O Caçador de Ratos, e Veneno, estes três com 17 minutos de duração cada.

E as quatro histórias têm algo muito importante em comum: todas são adaptações de contos do autor britânico Roald Dahl (1916–1990). Dahl já teve várias de suas obras adaptadas para os cinemas, e principalmente, suas obras infantis, como por exemplo: A Fantástica Fábrica de Chocolate, Matilda e O Bom Gigante Amigo, dentre outros. Mas Roald não foi famoso apenas pelas suas histórias infanto-juvenis, mas também, por contos para adultos, sendo que estes em geral eram mais sinistros, geralmente contendo humor ácido e finais surpreendentes. Características aliás que não podem ser muito atribuídas ao A Maravilhosa História de Henry Sugar, mas que certamente devem ser atribuídas aos outros três contos que saíram na Netflix. Quanto a estes 3 últimos, eles não são nada recomendado para crianças.

Para todos os quatro curtas, Wes Anderson preservou sua maneira bem incomum e característica de filmar, e também usou o mesmo grupo de atores em todos eles, além da mesma maneira narrativa: nos 4 filmes os personagens principais narram em voz alta muitas das ações que vemos em tela, e também tudo o que todos os personagens falam e pensam. O resultado final é quase um meio termo entre um livro filmado e um teatro.

Todos os curtas de Roald Dahl adaptados nesta leva por Anderson são no mínimo bons e interessantes, mas os três mais curtos são mais mórbidos e menos elaborados, com o A Maravilhosa História de Henry Sugar, portanto, acabando sendo o melhor. Com bastante dinamismo e sarcasmo, ela conta a história de Henry Sugar (Benedict Cumberbatch), um trapaceiro que após ler um livro sobre Imdad Khan (Ben Kingsley), que dizia enxergar sem usar os olhos, resolveu então tentar fazer o mesmo.

Como curiosidade, estas não foram as primeiras vezes de Wes Anderson com os contos de Roald Dahl, já que ele já havia adaptado um de seus contos antes, em seu filme de animação O Fantástico Sr. Raposo (2009). Anderson, aliás, é bisneto de Edgar Rice Burroughs, criador de Tarzan e John Carter. Já que ele gosta tanto de adaptar livros, me pergunto por que ainda não fez nada com o material de seu parente mais famoso...

A Maravilhosa História de Henry Sugar (principalmente) e os outros curtas (O CisneO Caçador de Ratos, e Veneno) são rápidas e excelentes maneiras de conhecer melhor Wes Anderson e Roald Dahl. Aproveitem, é uma ótima oportunidade e desta vez, pelo tamanho das produções, nem se pode usar a desculpa do "não tenho tempo". Nota: 7,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...