sexta-feira, 31 de julho de 2015

Critica - The Babadook (2014)

Título: The Babadook ("The Babadook", Austrália / Canadá, 2014)
DiretorJennifer Kent
Atores principais: Essie Davis, Noah Wiseman
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=mxylXl9wrck
Nota: 5,0
Muito bem dirigido, filme de terror sensação da Internet tropeça no roteiro

Filme de terror psicológico dirigido pela atriz australiana Jennifer Kent - sua estréia como diretora e roteirista em longa-metragem - The Babadook fez bastante sucesso via cópias piratas pela Internet em 2014. Sendo um filme independente de baixo orçamento, ele sequer chegou aos cinemas brasileiros. Eis então que no começo de junho deste ano, ele enfim chegou a nosso país de maneira oficial, via Netflix.

Na história, vemos a mãe solteira Amelia (Essie Davis), que cada vez mais tem problemas com o comportamento errático de seu filho de seis anos, Samuel (Noah Wiseman), obcecado em se preparar para se defender de um terrível monstro que está prestes a chegar. Não surpreendentemente, um dia ela encontra um estranho livro de fábulas em sua casa, intitulado "Mr. Babadook", o qual ela lê para seu filho ao colocá-lo para dormir. Basicamente, o livro diz algo como: "o Senhor Babadook vai se aproximar cada vez mais de você, lentamente, até que você morra. Não tem volta.". E é então que mãe e filho começam a ser progressivamente assombrados por esta entidade.

Nada original, certo? E, de fato, o roteiro é o ponto fraco do The Babadook. Por outro lado, o filme é muito bem dirigido. Filmado o tempo todo com cores frias, do cinza ao azul, uma casa velha realmente assustadora, lentes e enquadramentos "estranhos" que emulam com perfeição o ponto de vista do olhar de uma pessoa extremamente cansada e insone; não dá para negar que em termos de atmosfera, o filme é extremamente bem sucedido em nos transmitir uma sensação de medo, de que "algo está muito errado".

Reitero que tecnicamente o filme é muito bom. Mesmo tendo na imagem o seu destaque, até a trilha sonora agrada bastante. Ela é discreta, e contribui para o clima de suspense sem apelar para os clichês do gênero.

Dividido em três atos, The Babadook falha por encantar com sua atmosfera de terror apenas em seu segundo segmento. Ele é realmente assustador. Porém, no primeiro, há menos suspense e nada de sobrenatural, é mais uma história de uma mãe com dificuldades de lidar e ajudar seu filho difícil. Já o ato final é bem fraco, bastante decepcionante.

Aclamado no festival de Sundance, e em geral bastante elogiado pela crítica especializada, The Babadook tem sido elevado por supostamente ser uma bem sucedida metáfora para a depressão (no caso da mãe) e/ou na metáfora para o autismo (no caso do filho). De minha parte, contesto parcialmente ambas as associações.

O suposto autismo da criança faz sentido no primeiro ato. Mas, a partir do segundo (quando a mãe termina de ler o livro), o garoto é completamente descartado pela trama. Já a depressão da mãe se sustenta por mais tempo, e é uma associação que também convence. Entretanto, para este caso, há duas contradições: a cena final e o fato de que mãe e filho sofrem os efeitos de conviver com a tenebrosa entidade. E ele não está sofrendo depressão, portanto... "Ah, mas é tudo alucinação de Amelia": sim, ao pensar deste jeito, a tese da depressão não teria furos; entretanto, o roteiro do filme enfraquece ainda mais. Prefiro, então, não seguir por este caminho.

The Babadook foi tão elogiado que talvez pela alta expectativa que eu tinha antes de assisti-lo, isto pode ter prejudicado minha avaliação. Portanto, para quem é fã de filme de suspense (e não de terror), acho interessante conhecê-lo. Para mim, apenas o segundo ato (muito bom) valeu a pena. Restou a sensação de algo com ótimo potencial ser mal aproveitado. Nota: 5,0

terça-feira, 21 de julho de 2015

Entenda os Joões dos contos de fadas (que nunca são Johns, geralmente são Jacks e deveriam ser Jacós)

Não são apenas os super-heróis de quadrinhos que estão constantemente sendo reinventados nos cinemas. Outro gênero muito comum de filmes são as adaptações dos "contos de fadas" (que não necessariamente possuem fadas - são geralmente contos infantis fantásticos do folclore europeu).

E um personagem bem frequente nestas adaptações é o intrépido João. Nos últimos três anos, você pôde encontrá-lo em João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013), Jack, o Caçador de Gigantes (2013) e Caminhos da Floresta (2014).

Correto? Não, há algo errado: a frase acima está incorreta pois que os "Joões" dos filmes citados são personagens distintos. Toda esta confusão se deve a uma má tradução dos nomes destes protagonistas aqui no Brasil.

Vamos então aprender a distinguir os "Joões" e suas respectivas histórias?

João e o Pé de Feijão é uma história do folclore inglês, e certamente, a mais famosa dentre todas as histórias do "João". Publicada pela primeira vez em 1807, seu nome no original é Jack and the Beanstalk. Nela, um menino pobre vai ao mercado e troca a única renda da família, uma vaca, por feijões mágicos. Feijões estes que, ao plantados, geram um pé de feijão gigante que o leva a um reino acima das nuvens, onde ele encontra um gigante mau e sua esposa. É o gigante que fala “Fa-fi-fo-fum!”, e de quem João rouba uma harpa de ouro e a famosa gansa que bota ovos de ouro (exato: não é uma galinha).

João o Matador de Gigantes (Jack the Giant Killer) é outra fábula inglesa, ainda mais antiga, e publicada pela primeira vez em 1711. Nela os gigantes coexistem com os humanos na terra mesmo, e a história acontece durante o reino do Rei Arthur. Sozinho, o jovem fazendeiro João (que é bem mais velho que o João do Pé de Feijão) consegue matar o gigante que comia o gado dos fazendeiros da região. Após a façanha, ele recebe o título de “Matador de Gigantes” e acaba fazendo disto seu meio de vida. Ele acaba vivendo várias aventuras e matando vários gigantes, sendo que para cada gigante morto João toma posse (ou é presenteado) de algum item mágico. São estes itens que tornam sua missão cada vez mais fácil e menos absurda. João acaba conhecendo o filho do Rei Arthur, vira Cavaleiro da Távola Redonda, e finalmente, termina sua história casando com a filha de um Duque, que fora resgatada por ele das mãos de um... adivinhem?... gigante.

Note que a tradução nos dois contos acima do nome do herói para João não está errada, afinal Jack é considerado uma variação de John (João em inglês). E o significado do nome John / João é “Deus é Gracioso”. Porém Jack também é considerado uma tradução do hebreu Jacob: o nosso Jacó. E o significado do nome Jacó é: “vencedor, cheio de energia, astuto”. Muito mais correto e próximo do aventureiro (e nem sempre honesto) Jack das fábulas, não? Portanto, aqui no Brasil o correto seria que todo Jack fosse traduzido como Jacó.

João e Maria é outra história "de Joões" que é bem famosa. Agora, deixamos o folclore inglês e partimos para o folclore alemão. O conto de João e Maria (Hänsel und Gretel, no original) foi registrado pelos Irmãos Grimm em 1812. Na história, dos irmãos são abandonados na floresta pelos pais, que não tem condições de sustentá-los. Perdidos, eles são atraídos por uma casa feita inteiramente de doces, cuja habitante é uma bruxa, que os aprisiona. Ao final, os irmãos conseguem matar a bruxa e voltar para casa dos pais, agora com provisões suficientes para viver pro resto da vida.

Curiosamente, apesar do nome bem diferente - Hänsel - a tradução para nosso idioma também não está errada, já que Hänsel é uma variante de Johannes, que por sua vez é o equivalente ao John inglês e ao João português.

Existem vários outros Jack's da literatura inglesa, e muitos deles sequer são humanos. Alguns nem tiveram o nome traduzido para o português, mas mesmo assim você já deve ter ouvido falar deles. Eis mais dois exemplos:
  • Stingy Jack / Jack-o'-lantern: aqui Jack é um bêbado vagabundo e mal caráter que fez um pacto com o diabo para não ir ao inferno. Ao morrer, por ser mau, não foi aceito no céu. Mas também, pelo pacto, não foi ao inferno. Desta maneira, ele é um morto-vivo preso em nosso mundo. A Jack-o'-lantern (aquela lanterna típica do Halloween feita com uma casca de abóbora no formato de uma cabeça humana) é baseada em sua história.
  • Jack Frost: é a geada sob forma humana. Aparece em diversos poemas e contos da língua inglesa desde o século XIX.

Note que todos os Joões / Jacós / Jacks (e o Hänsel) acima são completamente diferentes uns dos outros. Entretanto, o escritor de quadrinhos Bill Willingham teve a divertida idéia de fazer para seu ótimo título, Fables (ou Fábulas, publicado atualmente no Brasil pela Panini), que todas estas aventuras dos Jacks foram mesmo vividas por uma única e mesma pessoa: o desonesto Jack Horner. Mas isto é outra história.

Fechando então com os 3 filmes do início deste texto: o João de João e Maria: Caçadores de Bruxas é o Hänsel de Hänsel und Gretel; já o Jack de Jack, o Caçador de Gigantes é uma mistura dos dois Jacks: Jack and the BeanstalkJack the Giant Killer - note que neste filme ele já é adulto. E finalmente, em Caminhos da Floresta, o João é uma versão mais fiel do menininho João que temos em Jack and the Beanstalk.

Que este texto tenha dissipado todas as dúvidas "joonísticas" de uma vez por todas. :)


PS: ah, e João, em russo, é Ivan. E este fato não contribuiu em nada na minha motivação para escrever este texto. :)

domingo, 12 de julho de 2015

Crítica - Enquanto Somos Jovens (2014)

TítuloEnquanto Somos Jovens ("While We're Young", EUA, 2014)
Diretor: Noah Baumbach
Atores principais: Ben Stiller, Naomi Watts, Adam Driver, Amanda Seyfried, Charles Grodin
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=3wzLmJdeCMg
Nota: 5,0
Sem grandes emoções, além de não entregar o que promete

Sabiam que Enquanto Somos Jovens estreou nos cinemas brasileiros no mês passado? Pois é. Em parte por ter chegado aqui via uma distribuidora pequena (Mares Filmes), em parte pela grande concorrência de blockbusters como Jurassic World, o fato é que este foi um filme que passou desapercebido em território nacional.

Mas valia a pena tê-lo assistido? Não muito. Apesar de nomes famosos como Ben Stiller, Naomi Watts e Amanda Seyfried, Enquanto Somos Jovens não engrena. Pelo próprio nome do filme, e pelos trailers, o suposto tema do filme é do casal quarentão Josh e Cornelia (Stiller e Watts), desiludidos com o rumo de suas próprias vidas, conhecerem e se encantarem com um casal hipster de vinte e poucos anos: Jamie e Darby (Adam Driver, Amanda Seyfried). Assim, o casal "velho" passa a se comportar como jovens descolados.

E, de fato, este é o tom do filme em seu começo. Entretanto, esta premissa não é bem explorada: mais passamos o tempo conhecendo os personagens e seus universos do que propriamente vemos discussões a respeito do amadurecimento e do choque de gerações. E nisto de conhecermos os personagens, aprendemos que Josh é um cineasta fracassado, apaixonado por documentários, mas que está há 8 anos sem lançar nada, trabalhando de maneira preguiçosa em sua "grande obra".

É então que o foco do filme passa a ser a carreira do personagem de Stiller. Se por um lado com isto o filme ganha dramas e reviravoltas bem mais interessantes, por outro, esquece-se a trama vendida, e todos os demais atores. Sim: é um filme de Stiller e, como sempre, ele é irritante e sem carisma.

O tema de "adultos versus adolescentes" só é retomado na conclusão do filme, onde - ó, que surpresa - o casal mais velho entende que amadurecer faz parte da vida. De novidade mesmo, é que o diretor e roteirista Noah Baumbach não alivia para os hipsters: os mesmos são apresentados como pessoas rasas e nada espontâneas.

Baumbach, que também possui a mesma idade de "quarenta e poucos anos" dos protagonistas, é mais conhecido como roteirista do que diretor. Ele co-roteirizou dois filmes (A Vida Marinha com Steve Zissou (2004) e O Fantástico Sr. Raposo (2009)) do ótimo Wes Anderson. Mas mesmo esta sua maior carreira no roteiro não foi suficiente para ele entregar um bom roteiro em seu próprio filme. Em geral expositivo, seu texto alterna entre monotonia e alguns trechos interessantes. É pouco. Nota: 5,0

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...