domingo, 26 de novembro de 2023

Crítica - Napoleão (2023)

Título
Napoleão ("Napoleon", EUA / Reino Unido, 2023)
Diretor: Ridley Scott
Atores principaisJoaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Ben Miles, Ludivine Sagnier, Matthew Needham, Sinéad Cusack, Édouard Philipponnat, Rupert Everett
Nota: 6,0

Bastante irregular, filme consegue ser interessante nos pontos altos

Em 2004, com seu Alexandre, o diretor Oliver Stone entregou um épico longo, com muitos altos e baixos, escolheu um ator como protagonista que não combina muito com seu personagem principal, e como resultado final, mais desagradou que agradou os críticos. E em 2023 podemos fazer a mesma descrição para este Napoleão de Ridley Scott.

Apesar de ser um personagem bastante famoso e com farto material histórico, filmes sobre Napoleão não são tão frequentes, e este aqui opta por contar a história deste famoso líder francês a partir do início da Revolução Francesa. Vemos sua rápida ascensão: ainda um coronel do exército, mas que liderou o vitorioso Cerco de Toulon, e com o apoio do líder revolucionário Paul Barras (Tahar Rahim), Napoleão (Joaquin Phoenix) se catapultou a líder da França em poucos anos. E, antes mesmo de chegar ao topo do poder, iniciou seu relacionamento com a viúva aristocrata Joséphine de Beauharnais (Vanessa Kirby), com quem futuramente se casaria e seria o grande amor de sua vida.

A partir daí a relação entre Napoleão e Josephine acaba sendo o fio condutor da trama, e a história de Napoleão passa a ser, em sua grande maioria, ou sobre cenas do conturbado relacionamento do casal, ou com o estadista em batalhas, lutando com seu exército. As cenas de batalhas são todas excelentes, visualmente impressionantes, brutais, muito bem feitas, e que mostram o gênio estratégico-militar de Napoleão. Já as cenas dele com sua esposa alternam bons e maus momentos... e agora terei que falar dos atores.

Não há dúvidas que Joaquin Phoenix é um ótimo ator, porém em sua carreira ele sempre brilhou mais interpretando personagens confusos, medrosos... aspectos que ele traz moderadamente para seu Napoleão. É aceitável que ele seja assim diante de Josephine (afinal, como se mostra nas cartas reais que temos dele para ela, Napoleão se mostrava apaixonado e dependente emocionalmente), mas não em público, ou em batalhas. Fora cenas em que Joaquin ri, ou faz algumas ações "inesperadas", que a meu ver são improvisos e estragam a credibilidade da cena. Somente nas cenas finais vemos um Napoleão com comportamentos mais condizentes do que se esperaria, o que mostra que Phoenix até teria capacidade de fazer um bom Bonaparte, porém, na prática, ele passou a maior parte do filme interpretando um Joaquin Phoenix. Por outro lado, Vanessa Kirby está excelente. Não apenas consegue transmitir muita credibilidade em seu papel, como "se vira" bem nas reações perante os imprevistos de Joaquin.

Em termos de design de produção, Napoleão não é perfeito, mas não deixa de ser muito bom, reproduzindo muito bem os figurinos, e principalmente, as locações da época. Porém, historicamente falando, o filme fica muito aquém. Primeiro pelas suas ausências. As cenas são "jogadas" rapidamente ao espectador, sem praticamente nenhum contexto, nenhuma explicação, e muita coisa importante da história de Bonaparte foi deixada de lado (basicamente, como dito anteriormente, só temos Josephine e batalhas). Mas o pior, é que mesmo do "pouco" que é contado, temos várias distorções e erros históricos. Minhas maiores revoltas estão para o segmento em que Napoleão está no Egito. Não, ele não atirou nas Pirâmides, e não, ele não voltou para casa devido às traições da esposa (aliás, ele estava lá com uma amante). Estas duas "mentiras" distorcem bastante a imagem do Napoleão real, infelizmente.

Ah, e a palavra "pouco" ganhou aspas no meu parágrafo anterior pois apesar de cortar tanto da história de Napoleão, ainda assim o filme tem extensas 2h e 38min de duração. Mas ao fazer um filme bem dinâmico e indo sempre "direto ao ponto" (até demais), pelo menos Ridley Scott faz com que o espectador passe por essas horas rapidamente.

Como resultado final, volto ao meu parágrafo inicial: Napoleão é uma obra grandiosa e interessante, porém irregular, assim como foi o Alexandre de Oliver Stone. Porém, entre estes dois filmes, prefiro levemente o último, por ser mais exótico e ter menos erros históricos. Nota: 6,0.


PS: se Ridley Scott "contou pouco" de Napoleão em sua versão para os cinemas (e isso foi proposital, pois segundo ele mesmo as pessoas começam a ficar desconfortáveis após 2h de projeção, "bum ache factor" nas palavras de Scott, algo como "fator de dor na bunda"), é sabido que existe uma versão de pouco mais de 4 horas do filme. O que ainda não foi confirmado é se ela vai sair na Apple TV+. Cá entre nós, acredito ser questão de tempo... imagino que eles só estão esperando o filme sair de cartaz dos cinemas para anunciarem oficialmente.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Dupla Crítica Filmes Netflix - O Assassino (2023) e As Ladras (2023)

Mais dois filmes bem recentes da Netflix, ambos do mundo dos "assassinos" ou "ladrões" de aluguel, e com mais semelhanças entre eles do que pode parecer em um primeiro momento. Um filme é estadunidense, o outro, francês. Qual dos países levou esta disputa? Confira abaixo!


O Assassino (2023)
Diretor: David Fincher
Atores principais: Michael Fassbender, Tilda Swinton, Charles Parnell, Arliss Howard, Sophie Charlotte, Sala Baker

Após fracassar em público com seu primeiro filme na Netflix, Mank (2020), o ótimo diretor David Fincher está de volta ao streaming com O Assassino, baseado em uma pouco conhecida série de quadrinhos franceses de mesmo nome (Le Tueur, no original).

Na história, o personagem vivido por Michael Fassbender é apresentado como um frio e ultra competente assassino profissional, que mata as vítimas apenas pelo dinheiro, sem se importar com qualquer condição ética ou moral. Porém, após falhar em uma de suas missões, e ser penalizado por isso, o Assassino sai em busca de vingança contra todos que participaram de sua punição.

Para quem gosta de filmes policiais que misturam ação e suspense, O Assassino é um programa que vai certamente agradar, sem dúvidas. As cenas de tensão são bem feitas, as cenas de ação idem (e como bônus, de uma forma bastante realista), e tecnicamente o filme também é muito bom, contando com boa fotografia, locações e ângulos de câmeras bem variados.

Repito, para quem gosta de filmes do gênero, assistir O Assassino não tem erro. Porém, apesar de várias qualidades, a produção também tem seus defeitos. Para começar, seu roteiro não é lá essas coisas... a "vingança" aplicada contra o Assassino não faz sentido; a personalidade oscilante do protagonista não combina com a imagem de "máquina perfeita" que o próprio filme tenta nos apresentar. Michael Fassbender também não ajuda muito, sendo pouco expressivo, e mais fazendo caretas de "cansado" e "assustado" do que qualquer outra coisa.

E, encerrando os pontos ruins, O Assassino não traz nada realmente novo. Se o filme tivesse sido feito por um diretor de pouca expressão ele receberia mais elogios, porém, como ele foi feito pelo mesmo diretor que já nos entregou Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995), Clube da Luta (1999), Zodíaco (2007) e Garota Exemplar (2014) dentre outros, dele eu espero bem mais, então apesar de ser um bom filme a sensação final é de uma leve decepção. Conclusão: a melhor maneira de desfrutar O Assassino é gostar de filmes de ação de vingança e esquecer que ele foi feito por Fincher. Nota: 6,5.

PS: Sophie Charlotte, a atriz que faz o papel de Magdala, a namorada do Assassino, é brasileira e já participou de várias novelas por aqui, como por exemplo Malhação, Babilônia e Todas as Flores.



As Ladras (2023)
Diretora: Mélanie Laurent
Atores principaisAdèle Exarchopoulos, Mélanie Laurent, Manon Bresch, Isabelle Adjani, Félix Moati, Philippe Katerine

Se o filme anterior pecou pela falta de originalidade, felizmente não podemos dizer o mesmo deste francês As Ladras. O filme, que traz um grupo de assaltantes para fazer seu "roubo da vez", mistura ação, humor, aventura, mas foge do comum por ter como protagonistas um grupo de mulheres. O filme é mais voltado para o público feminino, e também traz algumas cenas mais tocantes; a troca de homens por mulheres é realmente bem vinda, com piadas e situações engraçadas e curiosas.

Mélanie Laurent, que é uma das protagonistas, também dirige As Ladras, este que é seu nono longa metragem como diretora. E assim como O Assassino, este filme também é uma adaptação de história em quadrinhos, no caso, da história A Grande Odalisca (2012), de Jérôme Mulot. Na trama, Carole (Melanie Laurent) e Alex (Adèle Exarchopoulos) são competentes ladras que há muito tempo trabalham para a Madrinha (Isabelle Adjani), e agora querem se aposentar, pedido rejeitado pela chefona. A dupla topa fazer um "último trabalho", onde outras coisas além da futura aposentadoria estão em jogo.

Apesar de ter várias cenas de ação, tiroteios e mortes, o forte de As Ladras acaba sendo mesmo o humor e a relação entre as ladras Carole, Alex e Sam (Manon Bresch), sendo assim, dá para dizer que é um filme "leve". Com bastante diálogos (como boa parte dos filmes franceses), a qualidade e carisma das atrizes também contribui para a produção funcionar bem. As Ladras também conta com uma trilha sonora curiosa, com várias músicas latinas cantadas.

Dando destaque principalmente à liberdade e força feminina, As Ladras é um filme divertido, que me surpreendeu positivamente, e só me decepcionou um pouco no seu final, mas não comprometendo o resultado como um todo. Nota: 7,0.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

A Sete Palmos, uma das melhores séries de todos os tempos, agora está na Netflix (junto com outros 5 seriados da HBO)


Há poucos dias atrás estreou na Netflix o espetacular seriado A Sete Palmos (Six Feet Under no original), que na verdade se trata do relançamento de uma produção original HBO, série esta que foi originalmente exibida por lá em 5 temporadas, entre 2001 e 2005.

A trama acompanha a história da família Fisher a partir do momento em que seu patriarca morre; pois é quando ele deixa sua empresa - uma casa funerária - para que seja administrada pelos seus dois filhos: Nate (Peter Krause), o mais velho, que é obrigado a voltar as pressas de Seattle para assumir a missão, e David (Michael C. Hall - que futuramente iria protagonizar o seriado Dexter), e que ao longo da série vai se descobrindo (e assumindo) ser homossexual. Também completam a família a mãe Ruth (Frances Conroy), uma mulher infeliz que sempre foi reprimida em seu papel de mãe e esposa, e Claire Fisher (Lauren Ambrose), a filha mais nova, que por ser de outra geração e ter pensamentos mais progressistas entra em constante conflito com os demais familiares.

Não posso testemunhar se o começo de A Sete Palmos é realmente bom, pois comecei assistir a série a partir da terceira temporada (naquela época, no "tempo das cavernas", não existiam streamings, então você tinha que se programar para a série no dia e horário certo que os episódios passavam, na TV a cabo, e para assistir o que eles exibiam, e não o que você planejava assistir). Mas posso dizer, pelo que vi empolgadíssimo das três últimas temporadas que A Sete Palmos é uma obra diferenciada, muito acima da média, e até hoje uma das melhores séries que já vi na minha vida.

Além de uma qualidade técnica impressionante, e ótimos atores, seu verdadeiro diferencial é a surpreendente narrativa: cada episódio começa com a morte de uma pessoa diferente (que acaba sendo atendida pela casa funerária Fisher). Então, já aí temos, em cada capítulo, uma maneira diferente de ver a morte, seja pelo lado religioso, filosófico, ou ainda mais mundano, como de justiça, de sorte ou azar, de ironia... há sempre o "fantasma" da finitude humana pairando no ar de modo inteligente, profundo, e o que é melhor, não mórbido.


E em paralelo, claro, vamos acompanhando também a cada episódio os dramas da família Fisher e a evolução como pessoa de cada personagem. É aí que vemos temas como infidelidade, sociedade, religião, homossexualidade e feminismo. Outra curiosidade é que o episódio final de A Sete Palmos é amplamente reconhecido como um dos melhores finais de séries de todos os tempos, opinião que eu também assino embaixo.

Com seus 63 episódios, A Sete Palmos foi uma produção bastante elogiada e premiada, tendo recebido 9 Emmy Awards e 3 Globos de Ouros. Para quem curte série de drama familiar, e também quer refletir sobre a vida, o universo e tudo mais, digo que é uma produção quase obrigatória.


Seis séries da HBO na Netflix!

E o fã de seriados mais atento já deve ter reparado que A Sete Palmos não é a primeira série HBO que veio parar na Netflix nos últimos meses. As atuais concorrentes fizeram uma surpreendente pareceria onde alguns seriados antigos que hoje não constam mais no catálogo da HBO tiveram os direitos de transmissão vendidos para a empresa do logotipo vermelho. Isto, é claro, tem prós e contras para ambas as empresas.

De qualquer forma, além de A Sete Palmos também (re) estrearam recentemente na Netflix: o drama sobre vampiros True Blood, a comédia Insecure, uma série sobre futebol americano com o ator The Rock de nome Ballers, e as espetaculares (e recomendadíssimas) minisséries sobre a Segunda Guerra Mundial, Irmãos de Guerra (Band of Brothers) e O Pacífico (The Pacific), totalizando seis produções e fechando o pacote deste primeiro acordo HBO-Netflix.


O que este acordo irá significar para HBO e Netflix só o futuro dirá, assim também como se teremos ou não eventuais novos pacotes de séries para chegar. Enquanto isto, é aproveitar. Principalmente A Sete Palmos, Irmãos de Guerra e O Pacífico: as três têm minha aprovação máxima.

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...