sexta-feira, 25 de abril de 2014

Crítica – Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014)

Título: Capitão América 2: O Soldado Invernal ("Captain America: The Winter Soldier", EUA, 2014)
Diretor: Anthony Russo, Joe Russo
Atores principais: Chris Evans, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson, Robert Redford, Sebastian Stan, Anthony Mackie

Uma boa evolução do filme anterior

Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), não me agradou. Um filme apenas mediano e que nasceu datado: parece ter sido feito na década de 80. Agora com novos diretores (são 2), surge a sequência Capitão América 2: O Soldado Invernal, que felizmente é bem melhor que seu predecessor. Certamente um bom filme, mas longe de ser perfeito: por exemplo, algumas de suas cenas de ação são tão exageradas que comprometem o trabalho como um todo.

Na trama deste segundo capítulo, Capitão América / Steve Rogers (Chris Evans) e seus companheiros Nick Fury (Samuel L. Jackson), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Falcão (Anthony Mackie) se juntam para salvar o mundo de uma ameaça global. Ameaça que, desta vez, vem de dentro da própria S.H.I.E.L.D., onde há agentes da H.I.D.R.A. infiltrados.

Este cenário faz com que Capitão América 2: O Soldado Invernal se pareça bastante com os mais recentes filmes das franquias Missão Impossível e James Bond: muita ação, algumas reviravoltas, espionagem, planos secretos, e principalmente: "não confie em ninguém".

Todo este pano de fundo de espionagem não é uma má notícia. Pelo contrário, é uma grande virtude: a explicação do como a infiltração da H.I.D.R.A. aconteceu, o Capitão questionando se as agências secretas realmente fazem algum bem às pessoas, o debate sobre a liberdade do indivíduo versus a vigilância que os governos impõem... tudo isto é bastante plausível, atual, interessante e o ponto alto do filme.

Já o desenvolvimento dos personagens é irregular: se por um lado o desenvolvimento de nenhum deles é aprofundado, por outro, também nenhum deles é "abandonado". Todos os personagens coadjuvantes principais são interessantes e possuem relevância à trama. O tal "Soldado Invernal" (Sebastian Stan) aparece bem e chama a atenção do público. Seu figurino (e o do Falcão) são visualmente muito bem bolados, em contrapartida ao do figurino do Capitão, que por mais que a produção se esforce, nunca fica tão bonito e parecido com o visual dos quadrinhos.

E se Capitão América 2: O Soldado Invernal é diferente dos demais filmes da Marvel devido a seus toques de espionagem, por outro lado o filme não deixa de ser bem parecido. Afinal, ele também segue a risca a "fórmula de sucesso Marvel" atual: bastante correria, cenas intercaladas com piadinhas, Stan Lee fazendo novamente uma ponta... Repetitivo, mas ainda divertido.

O maior problema do filme se encontra nas cenas de ação. É verdade que algumas são muito boas (as lutas contra o Soldado Invernal, por exemplo) e os efeitos especiais são competentes. Porém são vários os deslizes.

Para começar, Capitão América 2: O Soldado Invernal comete o pecado de exagerar no poder de seus personagens. Todos (principalmente o Capitão América) são praticamente super-humanos. Por mais que o Capitão tenha tomado o "soro do supersoldado", alguns de seus feitos na tela são difíceis de engolir.

Algumas cenas são mal executadas: há momentos de luta filmados com cortes bruscos, porém quando estas cenas cortadas são montadas em sequencia, nem sempre elas fazem coerência visual, tornando difícil de entender o que está acontecendo na tela.

A primeira cena de ação do filme é a pior de todas. Para mostrar o quanto o Capitão é tão mais forte e rápido que os demais, ele passa correndo (e ao mesmo tempo distribuindo golpes) diante de dezenas de inimigos, mas todos eles caem inertes aos pés de Steve Rogers sem mesmo havendo um contato. É isto mesmo: dá para perceber claramente que os capangas apenas simulam que levaram os golpes e se jogam ao chão. Chega a constranger.

Outro problema vem dos exageros nos tiroteios. Sabem os filmes policiais onde o mocinho passa correndo diante de cinco bandidos atirando mas nenhum tiro o acerta? Se isto já é forçado neste caso, imagine aqui onde os bandidos são centenas, todos com metralhadoras, bombas, projéteis teleguiados... e mesmo assim igualmente ninguém é ferido? Nada acerta o Capitão América: com apenas um escudo ele protege seu corpo inteiro (e de seus amigos) em um angulo de 360 graus. Forçado demais!

Com um roteiro interessante e mais altos do que baixos, Capitão América 2: O Soldado Invernal garante a diversão de quem curte filmes que mesclam espionagem com ação. Nota: 7,0.

PS: desta vez são DUAS cenas adicionais nos créditos finais: uma no meio deles, e outra ao final de todos. A primeira cena é um baita preview da trama do futuro Os Vingadores 2: A Era de Ultron. Já a segunda cena, curiosamente, pode ser o início do plano para a substituição do ator que faz o Capitão América: Chris Evans não está querendo renovar com a Marvel, e talvez teremos em Vingadores 2 sua última participação.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Crítica - Noé (2014)

Título: Noé ("Noah", EUA, 2014)
Diretor: Darren Aronofsky
Atores principais: Russell Crowe, Jennifer Connelly, Ray Winstone, Anthony Hopkins, Emma Watson, Logan Lerman

Irregular, o melhor de Noé é a sua mensagem

Talvez não fosse esta a intenção do diretor Darren Aronofsky, mas seu novo trabalho, Noé, está causando polêmica no mundo religioso. De fiéis das várias religiões que seguem a Bíblia, até a um comunicado oficial da Igreja Católica, dizendo em pequena nota que o filme foi uma "grande oportunidade mal aproveitada".

Esta repercussão tem se tornado maior que o filme, e por isto, não tenho como fazer minha crítica sem compará-lo com o Antigo Testamento, e sem contar aqui trechos da trama. Todos conhecem a história de Noé, portanto nada que eu revele aqui será um grande spoiler. Também não revelarei grandes surpresas, nem contarei o final do filme. De qualquer forma, estarei contando mais sobre a história apresentada do que costumo fazer em minhas críticas. Se isto for um problema para você, leia meu texto somente após assistir Noé.

A premissa básica todos conhecem: desiludido com o mal disseminado entre os homens, Deus resolve varrê-los da Terra através de um dilúvio. Mas ainda há entre os homens alguém bom: Noé (Russell Crowe). E portanto, a ele é dada a missão de construir uma arca para sobreviver a tragédia. Arca que irá abrigar sua família e um casal de cada animal do planeta.

A história de Noé é contada de maneira muito sucinta na Bíblia. São três capítulos pequenos e bastante repetitivos. Por isto, é claro que para contar um filme com pouco mais de 2h de duração, muita coisa teria que ser inventada. Porém, além dos "aumentos", o roteiro de Noé altera vários fatos do Livro Sagrado.

São estas alterações que incomodam bastante os fiéis. Vamos a algumas delas:

A primeira é a presença dos Anjos Caídos, que não existem na Bíblia canônica mas que existem no apócrifo Livro de Enoque. Porém mesmo lá a história é diferente: os anjos deveriam ser criaturas más e não pertencem originalmente a história de Noé. Se por um lado entendo que esta alteração foi uma agradável "modernização" da história, de outro, reconheço que ela dá razão há quem reclama que o filme lembra O Senhor dos Anéis em alguns momentos, inclusive em termos de ação e batalhas.

Outra diferença é que na Bíblia o núcleo familiar de Noé é composto por ele, sua esposa, seus três filhos, e a esposa de cada um dos seus três filhos. São quatro casais adultos. Já no filme, temos Noé, sua esposa (Jennifer Connelly), três filhos adolescentes e a namorada do filho mais velho (Emma Watson). Isto faz que o segundo filho deseje uma mulher para levar consigo na Arca, mas Noé não permite, gerando um conflito entre os dois. Não gostei. Achei isto um dramalhão barato e desnecessário.
 
Uma outra reclamação dos religiosos é que em determinado momento tanto Deus quanto Noé as vezes aparentam ser maus. O filme foi corajoso ao mostrar o sofrimento das pessoas que iriam morrer. E ao reforçar que dentre estas pessoas haviam inocentes (as crianças). Oras, isto é exatamente o que conta a Bíblia. Aqui a reclamação não faz sentido. O Deus do Antigo Testamento as vezes se mostra impiedoso e é exatamente isto que vemos nas telas. Simples assim.

Mas se deixarmos de lado a comparação da história do filme com a história na Bíblia, e se deixarmos de lado a fragilidade da trama (apenas o desenvolvimento do personagem de Noé é interessante, o desenvolvimento de todos os demais personagens é fraco), restará de Noé suas discussões e mensagens, é aí que o filme ganha sua força.

O conflito interno de Noé é interessantíssimo. Seguir o que Deus lhes pede mesmo que isto signifique matar e ser odiado pela família. Conseguimos sentir na boa atuação de Russell Crowe o pesado fardo que seu personagem carrega. Será que devemos seguir literalmente o que está descrito na Bíblia ou interpretar os fatos de acordo com nosso coração? O filme responde.

Noé apresenta fortíssima mensagem ambientalista. Ele nos mostra por diversas vezes que a humanidade se perdeu ao se afastar da natureza. A salvação não é possível fora dela. Noé chega até a extrapolar, sugerindo que deveríamos ser todos vegetarianos.

Mais ainda, muito mais grave do que ter desobedecido a Deus e "comer a fruta do bem-e-mau", o pior pecado humano é o "irmão contra irmão". Matar alguém é um ato abominável, e isto também nos é martelado constantemente ao longo da história.

Em suma, a mensagem é: natureza e fraternidade. E o melhor do filme é nos fazer sentir esta necessidade. Você se sente envergonhado por ser humano e o filme nos traz isto sem ser piegas.

Esta é a razão de Noé, e não a discussão sobre o filme ser anti-Bíblia e anti-Deus. Tanto que o objetivo não é atacar a religião que a criação do universo e do homem é contada de uma maneira a conciliar Bíblia e Teoria da Evolução: para Noé, ambas estão certas!

Analisando tecnicamente, o filme é bom, mas em nenhum momento brilhante. E também aparentam ser reutilizações do diretor: a trilha sonora é boa porém parecida com a que já vimos em A Fonte da Vida. O recurso visual para mostrar os sonhos de Noé lembram Réquiem Para um Sonho.

Curiosidade: a parte frontal da Arca foi construida de verdade, com madeira e tudo mais (dá para distinguir a parte real da parte gerada por computador na primeira tomada aérea da embarcação: a parte real é a parte mais enegrecida). Entretanto, não vi muito valor neste esforço da produção, já que em nenhuma cena a Arca ganha destaque. Dava para ser tudo digital. De qualquer forma, certamente isto facilitou bem o trabalho dos atores.

Com altos e baixos, Noé tem como outro mérito prender a atenção do espectador. Ele exagerou nas "liberdades de roteiro" e com isto teve sua mensagem diminuída pelas polêmicas. Porém graças a qualidade desta mensagem (relevante e essencial para os dias de hoje), e também somando ao bom conjunto técnico do filme, temos como resultado final uma boa nota: 7,0.

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...