terça-feira, 28 de outubro de 2014

Crítica - Transcendence: A Revolução (2014)

TítuloTranscendence: A Revolução ("Transcendence", China / EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Wally Pfister
Atores principais: Johnny Depp, Rebecca Hall, Morgan Freeman, Paul Bettany, Kate Mara, Cillian Murphy

Estranho em estrutura e personagens, suposta ficção científica não empolga

Números ruins de bilheteria, massacrado pela crítica especializada, quando Transcendence: A Revolução chegou aos cinemas brasileiros não tive interesse em assisti-lo. Porém ao longo do tempo, um curioso evento ocorreu: amigos que vieram a mim recomendando o filme e/ou pedindo para que eu fizesse a crítica do mesmo.

Bem, após assistir Transcendence: A Revolução, desta vez minha opinião segue a dos críticos. Com decisões infelizes na estruturação da trama, personagens sem carisma, furos/exageros no roteiro e pouca ficção científica, o filme simplesmente não empolga, se consolidando numa experiência "morna".

Transcendence já começa de maneira estranha: em seu primeiro minuto, através do personagem Max (Paul Bettany), ele já nos conta bastante sobre como o filme termina. Esta decisão se mostra equivocada, pois diminui a tensão das (várias) cenas de ação que a história apresenta.

Logo após isto, somos apresentados a trama e aos demais personagens: o casal Will Caster (Johnny Depp) e sua esposa Evelyn (a bela Rebecca Hall) são grandes nomes mundiais da inteligência artificial. Will anuncia que o projeto em que trabalha poderá em breve criar uma mente artificial tão poderosa, que conseguiria superar em muito toda a mente humana acumulada desde o início da humanidade... ou como ele diz, alcançar a "Transcendência". A ser questionado sobre ele estar criando um "deus", ele não titubeia, respondendo um sonoro "sim".

Eis que entra então em ação um grupo terrorista, liderado por Bree (Kate Mara, irmã mais velha da Rooney Mara), que sai matando todo mundo do projeto de Will, sem dó nem piedade, em nome do "salvar a humanidade". Então entramos em um dilema: para quem devemos torcer neste embate? Will, o suposto "mocinho", é claramente o cientista louco que "mexe onde não deve". Já Bree, uma terrorista que assassina a sangue frio. Em suma, não dá para torcer por nenhum personagem, e todos eles perdem em carisma.

Não é nenhum spoiler (pois isto aparece no trailer) contar que depois Will é baleado mortalmente e então sua mente é copiada para dentro do super-computador de sua pesquisa, conseguindo então, ele mesmo, começar o processo de Transcendência. Teria Will morrido e o computador ser apenas uma cópia barata de suas idéias? Ou Will está realmente vivo dentro de um corpo artificial? O que define, efetivamente, o que é um ser vivo individualmente consciente? São estas as únicas perguntas que o roteiro não nos entrega de mão beijada e que certamente são as únicas partes relevantes de debate científico ao longo do filme.

Os "poderes" obtidos por Will devido sua transformação são muito exagerados, e mais ainda, pouco explicados. Tudo acontece fácil demais para ele. Além dos exageros, o roteiro possui vários furos. Por exemplo, após Will "transcender", ele é imediatamente caçado pelo governo e pela célula terrorista de Bree. E não é que embora todos saibam aonde Will se encontra fisicamente, eles levam 5 anos para efetivamente atacá-lo?

Mas há algumas outras coisas boas em Transcendence. A principal delas é o belo design de produção. A fotografia também é bastante elogiável, mas em teoria, deveria ser ainda melhor. Afinal, o estreante diretor do filme, o estadunidense Wally Pfister, é um excelente diretor de fotografia. Costumeiro colaborador dos filmes de Christopher Nolan, lá sua fotografia é bem mais impressionante que aqui.

Transcendence também apresenta algumas boas cenas de ação. E isto torna o filme em alguns momentos algo mais próximo de um thriller de espionagem do que de uma ficção científica. Se este "suspense" também é uma qualidade, por outro lado ele não potencializado ao máximo justamente pelo que já disse antes: o início da projeção "conta demais", já revelando partes cruciais da trama.

Concluindo então, Transcendence: A Revolução desperdiça um conceito científico base interessante e atores talentosos. Por exemplo, Morgan Freeman e Cillian Murphy são atores famosos que só citei agora no texto pois no filme eles são elementos apenas figurativos. Faltou roteiro e direção para estruturar de maneira inteligente os atores e as ideias que o filme queria apresentar. Uma pena. Nota: 4,0

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Desta vez, eles se superaram!

Amanhã estréia nos cinemas o filme "O Físico". Eu já assisti o trailer e não o considerei interessante. Mas quis escrever sobre ele aqui para vocês mesmo assim, por outro motivo.

"O Físico" nasce concorrendo ao prêmio de pior tradução para um nome de filme em todos os tempos. Afinal, o nome do filme, no original é "The Physician". Para quem não entende inglês, a tradução seria... "O Médico". Ah sim, e a história é sobre um jovem inglês do séc XI querendo ser... médico.

É verdade que o filme é baseado em um livro de mesmo nome ("The Physician"), e que no Brasil o livro foi traduzido como "O Físico". Portanto o erro de tradução veio primeiro do livro, e não do filme. Quem cometeu a façanha? Aulyde Soares Rodrigues.

Fica o debate então: quem errou mais? A pessoa que traduziu o nome do livro? Ou as pessoas que decidiram manter o nome do livro para o filme, mesmo que sendo uma falha grotesca que certamente vai confundir (e irritar) o público dos cinemas?

Outra curiosidade: na Internet você consegue encontrar textos defendendo a Aulyde. Por que? Pois na idade média, no português antigo, médicos eram chamados de físicos. Não vou nem perder meu tempo para explicar porque esta justificativa é absurda. Vou só copiar o texto da wikipedia, que contém parte dos argumentos que eu poderia dar:

"O título da versão brasileira, O Físico, por um erro de tradução. The Physician, do inglês, significa O Médico. O tradutor teria confundido physician com physicist, que significa físico. (...) leitores creem que não há erro, já que na Idade Média, época descrita no livro, os médicos seriam chamados de físicos. (...) A palavra physician, no entanto, não pode ser traduzida para físico, o que corrobora claramente o erro de tradução no título. Além disso, mesmo em Portugal, o título é "O Médico de Ispahan". Somente no Brasil o filme recebeu o título O Físico"



E aproveito o momento para deixar registrado aqui meu protesto e desprezo por essa classe incompetente que tanto me irrita: os tradutores de títulos de filmes. Sua "jenialidade" aliás não é de exclusividade brasileira, é algo universal. Tanto que o ótimo cartunista argentino Liniers também abraça minha causa e criou um personagem denominado, no original, de: "El señor que traduce los nombres de las películas". 

Abaixo, algumas tirinhas do personagem, com duas já traduzidas para o português. Divirtam-se!



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Crítica - Garota Exemplar (2014)

TítuloGarota Exemplar ("Gone Girl", EUA, 2014)
Diretor: David Fincher
Atores principais: Ben Affleck, Rosamund Pike, Kim Dickens, Carrie Coon

Outro ótimo suspense de David Fincher, com grande atuação de Rosamund Pike

Eu iria assistir Garota Exemplar nos cinemas de qualquer jeito, Afinal, se trata de um filme do diretor David Fincher, que está na minha lista dos maiores diretores da atualidade (você já leu?). Porém, antes de ver o filme, li na internet que as atuações de Ben Affleck e Rosamund Pike são dignas dos principais prêmios. Bem Affleck? Sério? Bem, fui lá conferir...

E de fato, embora seja adequedo ao papel de seu personagem, e também tenha alguns bons momentos, em geral é o Ben Affleck de sempre... o canastrão sem expressão no rosto, ator mediano e só. Mas não duvido que, querido por Hollywood como é, que surja alguma (injusta) indicação de melhor ator para ele por aí...

O mesmo não posso falar de Rosamund Pike. A atuação dela é excelente, suficiente para que eu sempre a olhe com outros olhos a partir de agora. Sua interpretação é irretocável, passando pelas mais diversas emoções. E seu personagem, ótimo. Só ela já vale o filme.

Voltando a Garota Exemplar, este novo suspense de David Fincher é uma adaptação de um livro best-seller de Gillian Flynn, e que leva o mesmo nome do filme. Curiosidade: é a própria Flynn a roteirista de Garota Exemplar.

Na história, Nick Dunne (Ben Affleck) e Amy Dunne (Rosamund Pike) são casados há alguns anos, e já no primeiro diálogo do filme vemos que Nick está bem insatisfeito com sua esposa. Poucas cenas depois já nos deparamos com a verdadeira trama: a casa do casal é aparentemente invadida e Amy some. Após algum tempo de investigação da polícia, liderada pela competente detetive Rhonda Boney (Kim Dickens), o marido se torna o principal suspeito.

É então que a história se divide em 3 narrativas paralelas. Uma com as ações de Nick, outra com as investigações de Rhonda, e finalmente, uma narrativa em flashback feita por Amy, de onde descobrimos a história passada do casal.

Importante destacar a marcante trilha sonora do ótimo compositor britânico Atticus Ross, em sua 3ª parceria com Fincher. Ela soa forte e retumbante em todas as narrativas de Amy, dando uma sensação de melancolia, de sonho, ou ainda, uma sensação de perigo iminente. Perfeita para o que a história conta.

Não vou dizer se Nick era culpado ou não, nem posso revelar mais nada da trama, para não estragar. Mas digo que no final, a trilha sonora de Atticus Ross mais uma vez é empregada com bastante sentido e propriedade.

Em geral, o filme é muito bom, com roteiro bem escrito, que prende a atenção do expectador o tempo todo. Nick é inocente? Culpado? Ficamos o tempo todo remoendo esta dúvida. E não se trata apenas de um (bom) drama policial. A história também aproveita para criticar duramente o casamento, a mídia sensacionalista, e, porque não, o quanto todos nós vivemos de aparências.

Apesar de tantas qualidades, porque Garota Exemplar não leva uma nota ainda maior? Simples... há alguns problemas em seu ritmo. No começo, as 3 narrativas paralelas discorrem em uma velocidade e tensão crescentes, até que pouco após a metade do filme, ambas são freadas abruptamente. Além disto, o filme não possui um clímax propriamente dito, e após 2h29min de projeção, esta ausência se faz sentir.

Em alguns momentos Garota Exemplar é longo a ponto de cansar. Se com a própria autora escrevendo o roteiro se garante a fidelidade ao livro, por outro lado sua inexperiência com o mundo do cinema deve ter sido a causa da evolução irregular de sua história nas telas. Outro problema é que o filme se explica demais. Com menos explicações, e mais curto, ele seria bem mais eficiente.

Mais uma vez entregando um ótimo suspense, Fincher não decepciona seus fãs, e de quebra traz uma Rosamund Pike que todos precisam conhecer. Nota: 8,0.

PS: os fãs de How I Met Your Mother poderão matar saudades de Neil Patrick Harris, o Barney, que aparece por um tempo razoável na tela, como ex-namorado de Amy

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...