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segunda-feira, 11 de março de 2024

Resumo, curiosidades, e meus pitacos sobre os vencedores do Oscar 2024


E tivemos ontem a noite a 96ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, ou como foi mais popularmente divulgado, os Oscars 2024. E confirmando seu favoritismo, o grande vencedor da premiação foi Oppenheimer, não só por ter vencido o Oscar de Melhor Filme, mas também por ter levado o maior número de estatuetas: sete no total.

Já a "prata" da noite ficou com Pobres Criaturas, que levou para casa quatro estatuetas. E fechando a lista dos filmes que venceram mais de um prêmio - e agora sim temos uma surpresa - tivemos dois Oscars para Zona de Interesse, nosso "bronze": o de Melhor Filme Estrangeiro e o de Melhor Som. Porém mesmo esta "novidade" é um bocado decepcionante, afinal, tanto Oppenheimer quanto Zona de Interesse falam da Segunda Guerra Mundial, e juntos, levaram nove Oscars. Será que um dia veremos a Academia parar de "babar" para este tema?

E, a partir de agora, em tópicos, uma série de curiosidades e "pitacos":
  • Em sua terceira indicação, e agora com 58 anos, Robert Downey Jr. finalmente levou seu primeiro Oscar para casa, o de Melhor Ator Coadjuvante, como Lewis Strauss em Oppenheimer.
  • Outro que demorou para ter seu talento reconhecido foi Wes Anderson, que enfim venceu seu primeiro Oscar! Porém quis a Academia que fosse via o prêmio de Melhor Curta-metragem, por seu A Maravilhosa História de Henry Sugar (mas ele não esteve na cerimônia para receber o troféu, infelizmente...).
  • Já a cantora Billie Eilish precisou esperar bem menos, pois quando venceu o Oscar de Melhor Canção Original junto com seu irmão Finneas, por "What Was I Made For?" de Barbie, ela se tornou aos 22 anos pessoa mais jovem a ganhar duas estatuetas, superando o recorde da atriz Luise Rainer, que aos 28 anos ganhou em 1938 seu segundo Oscar como Melhor Atriz.
  • Os cinco indicados ao Oscar de Melhor Fotografia (e quem venceu foi Oppenheimer) misturaram cenas coloridas com preto-e-branco.
  • Fiquei bastante satisfeito com os vencedores de Melhor Roteiro Original (Anatomia de uma Queda) e Melhor Roteiro Adaptado (Ficção Americana). O primeiro por ser bom, inovador e de várias camadas; e o segundo, pois conforme antecipei na minha crítica, exigiu bastante adaptação da obra original.
  • O Oscar de Melhores Efeitos Visuais foi para o japonês Godzilla Minus One, o primeiro Oscar da história da franquia. Independente de ser justo ou não (eu nem vi o filme ainda para ter uma opinião), achei um "tapa na cara" dos funcionários do ramo. Afinal, em uma época em que vemos notícias frequentes onde os funcionários de efeitos especiais dos grandes estúdios são explorados e obrigados a cumprir prazos absurdos e inumanos, ver que os velhinhos da sua categoria ainda por cima resolvem premiar um filme estrangeiro de baixo orçamento...
  • O anfitrião Jimmy Kimmel vinha fazendo uma noite morna e esquecível... até que no final do programa trouxe dois momentos memoráveis... o primeiro foi colocar no palco o ator John Cena praticamente pelado para anunciar o prêmio de Melhor Figurino, e o segundo, foi retrucar ao vivo um tweet do ex-presidente Donald Trump, que o criticava pela sua performance daquela noite com um "I’m surprised you’re still up - isn’t it past your jail time?" (algo como, estou surpreso que você ainda está acordado... já não passou da sua hora de dormir? Porém ele troca a palavra "bed" (cama) por "jail" (cela, de prisão)... ficando como "já não passou da sua hora de ir preso?), para aplausos da maioria do público.
  • Um dos melhores momentos da noite foi Emma Stone recebendo o Oscar de Melhor atriz por Bella Baxter em Pobres Criaturas. Bastante emocionada, é legal ver que apesar de excelente atriz, a fama não subiu em sua cabeça.
  • Por outro lado, um dos piores momentos foi a maneira com que Al Pacino anunciou o Oscar de Melhor Filme. Ok que a Academia queira dar a honra a grandes nomes do passado para ser o anunciante do "premio máximo"... mas custa ensaiar esse momento antes? E ver se o escolhido pode seguir um roteiro a risca? O critério pra apresentar tem que ser um "bom apresentador" e não um "merecedor de homenagem", pois se tem um momento em que não deveria abrir espaços para erros ou improvisos, é esse...
  • E para encerrar, o vencedor do Oscar de Melhor ator foi Cillian Murphy como Oppenheimer. Ele atuou bem sim, mas o melhor do ano pra mim foi Leonardo DiCaprio em Assassinos da Lua das Flores e ele sequer estava entre os indicados! Só que mais justo e importante de que Cillian Murphy ganhar, foi ver o egocêntrico Bradley Cooper perder. E melhor ainda, seu filme Maestro não levou NENHUM Oscar pra casa. Choooooooooooora Bradley Cooper!

sexta-feira, 8 de março de 2024

Especial Dia Internacional da Mulher: Atriz e inventora, conheça a incrível (e conturbada) história de Hedy Lamarr

Hedy Lamarr (Hedwig Eva Maria Kiesler) nasceu em Viena (Áustria) no dia 9 de novembro de 1914. Curiosa por natureza, e também incentivada pelo pai, já criança costumava desmontar as coisas para ver como funcionavam. De família judia, por ser filha de um banqueiro pôde receber educação particular, sendo que com cerca de 10 anos já era uma boa bailarina, pianista e falava quatro idiomas. Aos 16 anos ela começou a atuar em filmes pela Europa, mas seria dois anos depois, aos 18, onde ganharia fama graças ao polêmico filme checo Ecstasy (1933).

Traumático para a atriz, Ecstasy ficou famoso com Hedy interpretando aquela que é considerada a primeira cena de orgasmo da história do Cinema mundial, além de trazer algumas cenas de nudez. Em entrevistas posteriores, Lamarr contou que foi duplamente enganada. Ingênua e ansiosa para fazer o filme, acabou assinando contrato sem o ler direito, e quando ela se recusou a tirar a roupa a pedido do diretor Gustav Machatý, ele disse que então ela teria que pagar por todas as filmagens até então se fosse desistir da produção. E mais ainda, para "tranquilizá-la", prometeu que as filmagens seriam de longe, o que não permitiriam o espectador perceber muitos detalhes. Foi apenas depois que as tomadas foram feitas que Hedy viu que as cenas foram filmadas em close.

No mesmo ano de 1933, Hedy iniciaria o primeiro de seus seis casamentos, com Friedrich Mandl, um rico austríaco fabricante de munições e armas. Seu marido, absurdamente controlador, acabou com sua carreira de atriz e praticamente a mantinha presa em casa, em cativeiro (além de tentar infrutiferamente destruir as cópias do filme Ecstasy). E ainda piora: sendo simpatizante de Mussolini e Hitler, seus clientes, Mandl frequentemente a levava para reuniões nazistas. Lamarr só sairia deste pesadelo em 1937, através de um plano engenhoso e quase "cinematográfico".

Foram meses de planejamento: primeiro ela pediu ao marido para ter uma criada à sua disposição, criada esta que Hedy escolheu especificamente para ter o mesmo porte, altura e cor de cabelo. A fuga aconteceu na noite de um jantar importante, onde Lamarr aproveitou para colocar em seu corpo todas as jóias que possuía. Em dado momento, fingiu passar mal, e junto com a criada se retirou para descansar. Então Hedy colocou a criada para dormir com um sonífero, roubou e vestiu seu uniforme, e assumindo o "papel" de sua empregada, saiu da casa sem despertar suspeitas. Ela então fugiria de lá de bicicleta com suas jóias, deixando a Áustria para a França, e posteriormente, para a Inglaterra.

O tempo sem atuar não fez o mundo esquecê-la. Tanto que a maior inspiração para o visual de Branca de Neve, na inovadora animação de 1937 da Walt Disney, foi justamente ela. Hedy Lamarr inspirou não apenas a aparência, como também os estilos de maquiagem e penteado da personagem. Em 1938 ela se mudaria para os EUA, e já com um contrato assinado com a MGM para ser atriz em Hollywood.

Hedy Lamarr chegou aos Estados Unidos sendo promovida como a "mais bela mulher do mundo", alcunha que a acompanhou por muitos anos da carreira. Apesar dos esforços da MGM em transformá-la em uma grande estrela, o plano não deu tão certo. As bilheterias de seus filmes acabaram alternando entre desempenhos bons e ruins. Hedy não era uma atriz excepcional, mas ela também era prejudicada por ser escalada apenas para o mesmo papel de mulher bela e sedutora, além de ser colocada propositalmente em alguns filmes menores por Louis B. Mayer. Insatisfeita, Lamarr deixou a MGM e em 1946 produziu o primeiro dos seus filmes, Flor do Mal (The Strange Woman no original), em um movimento bem ousado para a época, especialmente em se tratando de mulheres.

Em seus últimos trabalhos ela se alternou entre filmes independentes (alguns produzidos por ela mesma) e filmes de grandes estúdios, sendo um destes o seu maior sucesso de público, o épico Sansão e Dalila de 1949, da Paramount Pictures, onde ela fazia o papel da Dalila, claro (ver foto abaixo). No total foram quase 30 filmes em solo estadunidense, no período entre as décadas de 30 a 50.

Se durante o dia Hedy era a bela atriz, a noite ela era a inventora, e passava parte do seu tempo em sua casa, se distraindo com as invenções mais diversas. A maioria de suas criações eram soluções práticas para problemas cotidianos, como por exemplo uma caixa de lenços de papel para depositar lenços usados, uma coleira de cachorro que brilhava no escuro, ou uma cadeira para ser acoplada no chuveiro, para que as pessoas que não conseguissem ficar em pé pudessem tomar banho e depois girar para se secar.

Hedy conheceu - e até teve um breve relacionamento - com Howard Hughes: aviador, engenheiro e empresário. Ele lhe deu de presente um "mini laboratório", que Lamarr instalou em seu trailer e com isso também podia se entreter durante o intervalo das gravações dos filmes. Quando Hughes reclamou a Hedy que achava que os aviões ainda eram lentos, ela estudou a respeito e baseando-se na aerodinâmica de peixes e aves, devolveu a ele um projeto para novas asas, à qual Howard replicou que ela era um gênio. Durante a guerra, com objetivo de fazer chegar refrigerantes aos combatentes, com a ajuda de dois químicos emprestados por Hughes, Hedy tentou compactar e transformar a Coca-Cola em pastilha, para ser consumida após dissolvida em água. Porém, ela não conseguiu contornar o problema de que a composição da água que as pessoas bebiam variava de região em região, e então sua tentativa fracassou, como ela mesmo admitiria aos risos. 

Porém a grande invenção de Hedy Lamarr, a qual ela desenvolveu junto com seu amigo e compositor musical George Antheil, foi o sistema que seria batizado de “salto em freqüência”. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, e Hedy pensava em... torpedos. Ela estava bastante chocada com um episódio onde um torpedo alemão afundou um navio britânico com refugiados, matando 77 crianças.

Na época se tentava controlar a direção dos torpedos via rádio, e se a (única) frequência da transmissão fosse detectada, a arma era facilmente interceptada. Conta a história que em uma noite, Hedy e George "brincavam" de dueto em frente a um piano, com ela repetindo em outra escala as notas que ele tocava. Então, Lamarr teve o "estalo" de que poderia fazer o mesmo com transmissões de rádio: se o emissor e o receptor mudassem constantemente de frequência, os dois poderiam se comunicar sem medo de serem interceptados.

Os infelizes anos ao lado Friedrich Mandl permitiram que Hedy Lamarr também aprendesse sobre tecnologias relacionadas a armamentos, e isto ajudou no desenvolvimento de sua nova invenção, algo que iria permitir o disparo de torpedos com mais precisão e sem aparecer nos radares dos inimigos. A criação de Hedy e George Antheil foi patenteada e eles a levaram para a Marinha estadunidense, para que fosse usada na Guerra o quanto antes. Porém, por preconceito e machismo não apenas sua idéia foi recusada, como também lhe disseram que se ela quisesse mesmo contribuir na Guerra, que usasse sua beleza para fazer campanhas e propagandas para vender bônus de guerra. E mesmo recebendo este tratamento, assim ela o fez, sendo que Lamarr ajudou a vender quase 25 milhões de dólares dos tais bônus.

A tal invenção de Hedy Lamarr foi ignorada completamente pela Marinha até 1962, quando foi usada por eles na Crise dos Mísseis em Cuba. E somente nos anos 80 os militares liberaram a tecnologia para ser utilizada comercialmente. Desta forma, o tal sistema de “salto em freqüência” foi a base para tecnologias de hoje como WiFi, Bluetooth, e GPS.

Hedy Lamarr não recebeu nenhum tostão por sua invenção em toda sua vida (estima-se que ela valeria 30 bilhões de dólares em valores atuais). E somente em 1997 ela e George receberam um primeiro grande reconhecimento público pela sua criação, o EFF Pioneer Award, concedido pelo Electronic Frontier Foundation para pessoas que fizeram "contribuições importantes para a eletrônica". Hedy morreria três anos depois (em janeiro de 2000), com George Antheil já tendo falecido em 1959.

Uma outra homenagem interessante é que em 2005 os inventores e empresários alemães Gerhard Muthenthaler e Marijan Jordan proclamaram o dia 9 de novembro (dia do nascimento de Hedy) como sendo o Dia do Inventor. Embora não tenha sido seguida por todo o mundo, principalmente países de língua alemã como a Alemanha, Áustria e Suíça adotaram esta data.


Conforme as décadas iam passando, ela foi ficando cada vez mais melancólica e pessimista, e algumas de suas declarações que ficaram famosas foram “Meu rosto foi minha ruína”, e "Qualquer garota pode ser glamourosa. Tudo que você precisa fazer é ficar parada e parecer estúpida.".

Hedy Lamarr passou as duas últimas décadas de sua vida cada vez mais reclusa, em sua casa na Flórida, vivendo apenas com uma pequena aposentadoria e de uma pensão do Sindicato dos Atores. Com as pessoas comentando sobre o declínio de sua beleza, Lamarr realizou algumas cirurgias plásticas, porém não teve bons resultados e isto aumentou ainda mais sua reclusão. Em seus últimos anos, seu contato com o mundo exterior era basicamente via telefone, onde ela passava horas diárias conversando com familiares e amigos.

Em 2017 tivemos o lançamento do filme-documentário estadunidense Bombástica: A História de Hedy Lamarr (Bombshell: The Hedy Lamarr Story), que passou com sucesso por alguns festivais importantes (sendo o de Tribeca o maior deles). Mas ele teve exibições modestas em cinemas e nem chegou ao Brasil. O documentário também chegou a ser exibido nos EUA via canais PBS e Netflix.

Eu assisti Bombástica, e posso afirmar que é muito bom, recomendo! Ainda assim, como se pode notar, não tivemos um filme realmente "grande" sobre Hedy Lamarr, sendo adequadamente divulgado e lançado nas Telonas do mundo todo. Porém, vídeos e textos como este meu, resgatando sua história e contribuições felizmente estão ficando mais frequentes. Então quem sabe... que um dia ela tenha na própria Hollywood uma produção digna em reconhecimento pela sua inteligência e contribuições. Até lá, divulguem este artigo! ;)



PS: já leu os outros artigos especiais aqui do Cinema Vírgula sobre o Dia Internacional da Mulher? Se ainda não, aproveite e clique nos links abaixo!

2022: conheça Roberta Williams e suas revoluções para o mundo dos Videogames

2020: Lucille Ball e seu enorme legado para a cultura POP

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Faltam 2 semanas para o Oscar 2024!! Conheça mais sobre os principais indicados aqui no Cinema Vírgula!


Estamos a exatas 2 semanas para o início da cerimônia do Oscar 2024, que será daqui dois domingos, em 10 de março de 2024. Abaixo segue a lista dos 10 filmes indicados ao prêmio de Melhor Filme, ordenado pelo número total de indicações. Corre que ainda dá tempo de assistir vários deles! Muitos ainda se encontram em cartaz nos cinemas, e alguns outros podem ser assistidos nas plataformas de streaming:

Basta clicar no nome dos filmes acima para (re) ler a crítica que fiz para cada um deles. Ainda não vi Ficção Americana e Anatomia de uma Queda, mas vou assistir a ambos e também publicar aqui a crítica deles dois antes da cerimônia do dia 10/03. Portanto, continue ligado no Cinema Vírgula nos próximos dias!

Ah! E quanto aos outros filmes com mais de uma indicação (mas não de Melhor Filme), e que também tiveram a crítica publicada aqui no Cinema Vírgula: Napoleão (3 indicações), Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um (2 indicações), e A Sociedade da Neve (2 indicações).



E como sempre... alguns comentários:

Dados os indicados ao Oscar 2024, há um aspecto que vejo como bem positivo: sua diversidade. Afinal, se percorrermos pelos 10 indicados aos melhor filme, veremos que há temas como o empoderamento feminino, violência contra indígenas, tratamento aos afro-americanos, um filme francês, e um filme que embora estadunidense, mostre bastante da cultura sul-coreana. Mas, claro, temos também dois filmes sobre a Segunda Guerra Mundial... é impressionante como a Academia não se cansa deles...

Porém tirando o elogio inicial, fiquei decepcionado com várias indicações. E as principais causas destas decepções são dois nomes: Barbenheimer e Bradley Cooper.

Primeiro quanto ao Barbenheimer. Eu entendo perfeitamente que o Oscar é um evento comercial, e então não só compreendo que Barbie e Oppenheimer estejam entre os 10 indicados a Melhor Filme, e que ambos recebam múltiplas indicações, como ficaria indignado se isso não acontecesse! Afinal, com suas grandes bilheterias, eles salvaram os cinemas em 2024!

Mas dito isso, não eram pra receber tantas indicações assim. 13 para Oppenheimer? Jamais. E indicações para Barbie como as para Melhor Roteiro Adaptado e de Melhor Atriz Coadjuvante para America Ferrera são muito forçadas, para não dizer outra coisa... mesmo a indicação para Ryan Gosling eu entendo ser um exagero... se tivesse que indicar um ator ou atriz por Barbie, esse nome só poderia ser Margot Robbie, que está excelente. Mas ela não recebeu a indicação... é mesmo revoltante. Em resumo, toda a tal diversidade que elogiei para o Oscar de Melhor Filme morreu lá mesmo, porque com 21 indicações somadas, o Barbenheimer "tomou" lugar de várias outras pessoas e filmes que poderiam (e mereciam) ter maior reconhecimento.

E finalmente... Bradley Cooper com seu terrível Maestro. Como pode a Academia, em pleno 2024, ainda dar tanto espaço para uma obra tão presunçosa, e tão egocêntrica? Se tem uma coisa que vou fazer neste Oscar é torcer para se repita a cena em que ele perde o Globo de Ouro de melhor ator para Cillian Murphy, e faz uma carinha de gol contra (ver abaixo).

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Lembrando que semanas antes do Globo de Ouro, Cooper em entrevista a um talk show, estava comentando / se gabando de ter estudado por cerca de seis anos para atuar como Leonard Bernstein: "É preciso uma tremenda preparação para atuar. Não foi como se você recebesse uma ligação e, em seis meses, você tivesse que fazer o filme. Isso teve que levar anos…". Como Cillian Murphy levou exatamente seis meses para fazer o físico Oppenheimer, em teoria isto teria sido uma indireta para ele...


Se você chegou até aqui, uma dica para quem têm Netflix: dos 5 indicados ao Oscar de Melhor Curta, dois deles se encontram lá. Bora assistir... são rapidinhos! São eles: e Depois? e A Incrível História de Henry Sugar. Aproveitem!

domingo, 7 de janeiro de 2024

Retrospectiva Cinema Vírgula 2023: confira os Melhores e Piores filmes e séries do ano que passou!


Feliz 2024! Feche os olhos, respire fundo, e antes de encarar mais um novo ano que vem pela frente, vamos relembrar o que tivemos de melhor e pior em 2023 em termos de filmes e seriados. Lembrando que o critério para entrar neste artigo são as produções lançadas no Brasil no ano passado, e que eu assisti, é claro.


Os filmes de 2023

Melhores: acabei escrevendo a crítica de apenas um do meu "Top 5" de 2023: Guardiões da Galáxia 3. Os demais foram: Os Banshees de Inisherin, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, Assassinos da Lua das Flores e Pinóquio (do Guillermo del Toro). Preciso comentar sobre os últimos dois.

Com seu Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese mostra que mesmo com seus 81 anos ele ainda faz filmes tão bons quanto dos seus clássicos dos anos 70 a 90. E seu filme é muito atual e relevante para nós brasileiros, que em pleno 2024 continuamos com notícias diárias de crimes contra indígenas. O único problema é que assistir esta produção nos cinemas não faz mais sentido. Não há quem aguente 3h30 seguidas (e sem descanso) de crueldade em tela. Assim como fez para o seu bom O Irlandês (2019), Assassinos da Lua das Flores deveria ter saído direto pra TV, e melhor ainda se fosse no formato de minissérie.

Já Pinóquio (o Guillermo del Toro, não confundir com o novo Pinóquio da Disney e Tom Hanks, que saiu no mesmo ano), conseguiu ser diferente o suficiente de versões anteriores e me emocionar. Lembrando que o Pinóquio original veio de um livro de contos de 1883 do italiano Carlo Collodi. Esta animação de Pinóquio mistura coisas da obra original, com coisas da versão Disney, e com coisas totalmente novas.

Pioresum dos principais diretores dos filmes de terror atuais, Ari Aster foi bem com seu Hereditário (2018), melhor ainda com seu Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019), mas esse seu Beau Tem Medo (2023) é de longe o pior filme que assisti em 2023. Por várias vezes eu pensei em parar e nem ir até o fim, mas acabei fazendo o sacrifício. Fechando o pódio de grandes porcarias do ano passado, cito Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo (para a surpresa de zero pessoas), e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (este sim uma surpresa pra mim, a Marvel não está em boa fase há tempos, mas não esperava um filme tão ruim vindo dela).

A surpresa: acho que a maior surpresa positiva foi ver um filme de Dungeons & Dragons bom. Trata-se de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, em que me diverti muito. O que me preocupa é que até agora nada foi anunciado para continuações...

A decepção: encerro os comentários de filmes trapaceando um pouco. Pois aqui vou citar Indiana Jones e a Relíquia do Destino. Ele foi uma "decepção" entre aspas. Porque é um filme legal, onde me diverti, e o principal: é certamente melhor que Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), justificando então sua existência, já que torna a "despedida" final do herói bem melhor para seus fãs. Porém, a parte "decepção" é que já que seria a despedida, o roteiro poderia (e merecia) ser um pouco mais caprichado, e a parte comercial deveria ser mais trabalhada... Indiana Jones (assim como Missão Impossível 7) foram engolidos em marketing e bilheteria pelo Barbenheimer... o que custava lançar o filme alguns meses depois?



As séries de 2023

Melhores: não assisti muitas séries no ano que passou. Dito isto, duas delas se destacam como as melhores que vi, com certa folga: a engraçadíssima O Mundo por Philomena Cunk, da Netflix, e o ótimo drama pós-apocalítico The Last of Us, da HBO.

Como destaques, ainda vou citar o bom A Queda da Casa de Usher, da Netflix, e uma surpreendente comédia polonesa (que ainda estou na metade), de nome 1670. Se esta comédia continuar me divertindo até o final da temporada, ganhará um artigo próprio daqui algumas semanas.

Piores: após uma 2ª temporada empolgante, a 3ª temporada de The Witcher foi de doer. Com uma trama confusa e repetitiva, seus 8 episódios poderiam ser contados em 3 ou 4 no máximo. Sendo esta a última temporada de Henry Cavill na produção, estou desconfiado que a 4ª temporada de The Witcher vai ser ainda pior.

A surpresa: ainda que não tenha sido excelente, a adaptação live action de One Piece pela Netflix foi uma enorme e positiva surpresa. Já nasce brigando pelo título de uma das melhores adaptações de um Mangá/Anime feita pelo Ocidente em todos os tempos.

A decepção: e a minha decepção do ano foi com o derivado de The Boys, o Gen V, da Amazon Prime Video. A série não é ruim, é ok, mas faltou originalidade... digamos que ela é exatamente igual ao The Boys (com muita violência, loucura e genitálias), porém sem a parte do humor. E como é justamente o humor a maior qualidade de The Boys, fica complicado... 



Top 5: os mais lidos do Cinema Vírgula em 2023

Ah o Barbenheimer! Eu tinha certeza que eles iriam aparecer no meu Top 5 deste ano. Porém, achava que um deles dois seria o Top 1, e errei... e essa nem foi a maior surpresa. O número 4 da lista me surpreendeu MUITO. Até agora não entendo o motivo dele ter tantos cliques rs... mas o filme é bom, então vocês fizeram uma boa escolha! Segue a lista dos 5 artigos mais acessados neste ano que passou:

Lista dos filmes que assisti em 2023

E mantendo a tradição, como sempre segue a lista de todos os filmes que assisti no ano que passou; novos ou antigos, sendo a primeira vez que os vi ou não. No total foram 88.

Abaixo segue a lista. Os filmes em laranja negrito e com um (*) são aqueles a que dou uma nota de no mínimo 8,0 e portanto, recomendo fortemente.

007 Contra Goldfinger ("Goldfinger", Reino Unido, 1964)
7 Dias no Inferno ("7 Days in Hell", EUA, 2015)
Air: A História Por Trás do Logo ("Air", EUA, 2023)
Amsterdam (idem, EUA / Japão, 2022)
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu ("Airplane!", EUA, 1980)
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2 ("Airplane II: The Sequel", EUA, 1982)
Assassinato por Morte ("Murder by Death", EUA, 1976)
O Assassino ("The Killer", EUA, 2023)
Assassinos da Lua das Flores ("Killers of the Flower Moon", EUA, 2023)   (*)
Aqua Teen Forever: Plantasm (idem, EUA, 2022)
Asterix & Obelix: O Reino do Meio ("Astérix & Obélix: L'Empire du Milieu", França, 2023)
Asteroid City (idem, EUA, 2023)
Avatar (idem, EUA, 2009)
Avatar: O Caminho da Água ("Avatar: The Way of Water", EUA, 2022)
Azul é a Cor Mais Quente ("La Vie d'Adèle", Bélgica / Espanha / França, 2013)
Babilônia ("Babylon", EUA, 2022)
A Baleia ("The Whale", EUA, 2022)
Os Banshees de Inisherin ("The Banshees of Inisherin", EUA / Irlanda / Reino Unido, 2022)   (*)
Barbie (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
A Batalha de Natal ("Candy Cane Lane", EUA, 2023)
Batem à Porta ("Knock at the Cabin", China / EUA, 2023)
Beau Tem Medo ("Beau Is Afraid", Canadá / EUA / Finlândia / Reino Unido, 2023)
Between Two Ferns: O Filme ("Between Two Ferns: The Movie", EUA, 2019)   (*)
Camaleões (Reptile, EUA, 2023)
Certas Pessoas ("You People", EUA, 2023)
O Conde ("El Conde", Chile, 2023)
Creed III (idem, EUA, 2023)
Dark Star (idem, EUA, 1974)
O Detetive Desastrado ("The Cheap Detective", EUA, 1978)
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ("Doctor Strange in the Multiverse of Madness", EUA, 2022)
As Duas Faces de Zorro ("Zorro: The Gay Blade", EUA / México, 1981)
Duna ("Dune: Part One", Canadá / EUA, 2021)   (*)
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes ("Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves", Austrália / Canadá / EUA / Irlanda / Islândia / Reino Unido, 2023)
Encanto (idem, EUA, 2021)
Elementos ("Elemental", EUA, 2023)
Estranha Forma de Vida ("Extraña Forma de Vida", Espanha / França, 2023)
Explorando o Desconhecido: A Pirâmide Perdida ("Unknown: The Lost Pyramid", EUA, 2023)
Fantasmas do Abismo ("Ghosts of the Abyss", EUA / França, 2003)
A Fera do Mar ("The Sea Beast", EUA, 2022)
The Flash (idem, Austrália / Canadá / EUA / Nova Zelândia, 2023)
Fuga Para a Vitória ("Victory", EUA / Itália / Reino Unido, 1981)
O Gabinete do Dr. Caligari ("Das Cabinet des Dr. Caligari", Alemanha, 1920)   (*)
Guardiões da Galáxia Vol. 3 ("Guardians of the Galaxy Vol. 3", Canadá / França / EUA / Nova Zelândia, 2023)   (*)
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso ("Spider-Man: Across the Spider-Verse", EUA, 2023)   (*)
Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023)
Isto é Spinal Tap ("This Is Spinal Tap", EUA, 1984)
Kung-Fu Futebol Clube ("Siu Lam Juk Kau", China / Hong Kong, 2001)
As Ladras ("Voleuses", França, 2023)
Leo (idem, Austrália / EUA, 2023)
Loucas em Apuros ("Joy Ride", EUA / Reino Unido, 2023)
O Mágico de Oz ("The Wizard of Oz", EUA, 1939)
A Maravilhosa História de Henry Sugar ("The Wonderful Story of Henry Sugar", EUA / Reino Unido, 2023)O Menu ("The Menu", EUA, 2022)
O Milagre ("The Wonder", EUA / Irlanda / Reino Unido, 2022)
Missão: Impossível - Acerto de Contas - Parte Um ("Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One", EUA, 2023)
Mistério em Paris ("Murder Mystery 2", EUA, 2023)
O Mundo Depois de Nós ("Leave the World Behind", EUA, 2023)
Nada de Novo no Front ("Im Westen Nichts Neues", Alemanha / EUA / Reino Unido, 2022)   (*)
Napoleão ("Napoleon", EUA / Reino Unido, 2023)
O Natal do Pequeno Batman ("Merry Little Batman", EUA / Finlândia / Itália, 2023)
Nem Tudo é o Que Parece ("Layer Cake", Reino Unido, 2004)
A Noite das Bruxas ("A Haunting in Venice", EUA / Itália / Reino Unido, 2023)
A Noite do Jogo ("Game Night", EUA, 2018)
Noites Alienígenas (idem, Brasil, 2022)
One Piece: Aventura em Nebulândia ("One Piece: Adventure of Nebulandia", Japão, 2015)
Oppenheimer (idem, EUA / Reino Unido, 2023)
O Pálido Olho Azul ("The Pale Blue Eye", EUA, 2022)
Pantera Negra: Wakanda Para Sempre ("Black Panther: Wakanda Forever", EUA, 2022)
Paprika (idem, Japão, 2006)
Para Maiores ("Movie 43", EUA, 2013)
Pinóquio ("Guillermo del Toro's Pinocchio", EUA / França / México, 2022)   (*)
Pornhub: Sexo Bilionário ("Money Shot: The Pornhub Story", EUA, 2023)
Puro-Sangue ("Thoroughbreds", EUA, 2017)
Que Horas Eu Te Pego? ("No Hard Feelings", EUA, 2023)
Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo ("Rebel Moon: A Child of Fire - Part One", Dinamarca / EUA / Hungria / Reino Unido / Suécia, 2023)
Renfield - Dando o Sangue Pelo Chefe ("Renfield", EUA, 2023)
Resgate 2 ("Extraction II", EUA, 2023)
Retratos Fantasmas (idem, Brasil, 2023)
RRR: Revolta, Rebelião, Revolução ("RRR (Rise Roar Revolt)", Índia, 2022)
Ruído Branco ("White Noise", EUA / Reino Unido, 2022)
Sly (idem, EUA, 2023)
Super Mario Bros. - O Filme ("The Super Mario Bros. Movie", EUA / Japão, 2023)
Tár (idem, EUA, 2022)
Taylor Swift: Miss Americana ("Miss Americana", EUA, 2020)
Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan ("Les Trois Mousquetaires: D'Artagnan", Alemanha / Bélgica / Espanha / França, 2023)
Triângulo da Tristeza ("Triangle of Sadness", Alemanha / Dinamarca / França / Reino Unido / Suécia, 2022)
Vingança & Castigo ("The Harder They Fall", EUA, 2021)
Viridiana (idem, Espanha / México, 1961)
X - A Marca da Morte ("X", Canadá / EUA, 2022)

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Oscar 2023!! Conheça mais sobre os principais indicados aqui no Cinema Vírgula!


Ok, a lista dos indicados ao Oscar 2023 já saiu faz um tempinho (no dia 24 de Janeiro), e começo meu texto trazendo a lista dos indicados a Melhor Filme, ordenado pelo número de total de indicações, e aonde vocês podem assisti-los:

Dentre os outros filmes com mais de uma indicação (mas não de Melhor Filme), e que você irá ler a crítica aqui no Cinema Vírgula, temos: Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (6 indicações), Babilônia, Batman e A Baleia (cada um destes com 3 indicações).

Note que considerando todos os filmes listados acima, até o presente momento, 9 já tiveram sua crítica publicada por aqui. E amanhã sairá a crítica de Tár! Não perca!

A cerimônia de premiação será no dia 12 de Março, e até lá vários outros filmes citados aqui terão sua crítica publicada. Conforme novas críticas forem surgindo, este artigo será atualizado. Continue acompanhando tudo por aqui!


E antes de eu ir... alguns breves comentários:

Pela primeira vez na história do Oscar tivemos mais de um candidato a Melhor Filme ultrapassando a barreira de 1 Bilhão de dólares em bilheteria, mostrando que desta vez a Academia resolveu valorizar um pouco mais os cinemas comercialmente.

Talvez também por isso, pela primeira vez um ator (no caso uma atriz) foi indicada por um filme da Marvel, trata-se de Angela Bassett, como Atriz Coadjuvante em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre.

Não fiquei surpreso em ver Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo na lista dos indicados a Melhor Filme. Mas fiquei muito feliz e surpreso ao ver que esta produção alcançou 11 indicações, dentre elas a de Melhor Ator Coadjuvante para Ke Huy Quan. Não sabe quem é ele??? Você PRECISA ler este meu artigo.


Escreva nos comentários o que achou dos indicados! E acompanhe de perto a cobertura do Oscar 2023 aqui no Cinema Vírgula!

sábado, 31 de dezembro de 2022

Retrospectiva Cinema Vírgula 2022: confira meu Top de melhores e piores filmes e séries do ano!


Salve salve, prezados leitores do Cinema Vírgula! Para a Retrospectiva desse 2022, resolvi mudar um pouco o formato dos anos anteriores, fazendo-o menos descritivo e mais objetivo.

Meu resumo do ano trará tanto para as categorias "Filmes" e "Séries" quatro categorias: os melhores, os piores, "a" surpresa, e "a" decepção. Note que este último não necessariamente significa que foi ruim... pode até ser bom... apenas ficou longe das minhas expectativas. Vamos então aos nomes!


Os filmes de 2022

Melhores: vou de um "Top 5": Batman, O Beco do Pesadelo, Top Gun: Maverick, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e Elvis. Como já escrevi a crítica dos 4 primeiros aqui (só clicar no link em cada um dos nomes para ler), comento agora só sobre o último: ainda que com uma história muito mais leve do que deveria ser, Elvis é excelente tanto visualmente quanto musicalmente, além de conseguir condensar bem a vida inteira do famoso artista em 2h40min de exibição.

Piores: Spiderhead - esse filme da Netflix que conta com Chris Hemsworth e Miles Teller como protagonistas é simplesmente horroroso, o pior que vi no ano. Como menções honrosas, trago também mais dois filmes cortesias da péssima Disney: Lightyear (da sua subsidiária Pixar), e Thor: Amor e Trovão (da sua subsidiária Marvel).

A surpresa: O Predador: A Caçada - confesso que não esperava que em pleno 2022 esta franquia poderia ser ressuscitada com um filme bom. E com direito a homenagens aos nativos norte-americanos. Clique aqui para ler a crítica.

A decepção: não poderia ser outro nome. É de todo ruim? Não. Mas Matrix Resurrections prova de uma vez por todas que no espectro entre genialidade e picaretagem, as Wachowski estão mais para este último.


As séries de 2022

Melhores: o trio de séries que mais gostei em 2022 disparadamente foi Wandinha (Netflix - 1ª temporada), Sandman (Netflix - 1ª temporada) e Pacificador (HBO - 1ª temporada). Sobre Wandinha, eu escrevi este texto aqui; sobre Sandman, confesso que não esperava que a obra fosse tão fiel aos quadrinhos originais de Neil Gaiman como foi; e sobre Pacificador, ele empata com Guardiões da Galáxia 1 e 2 entre as melhores produções já feitas por James Gunn.

Em um quarto lugar, coloco Lakers: Hora de Vencer (HBO - 1ª temporada), embora esta divertidíssima série quase foi minha escolha para estar na categoria de "surpresa" do ano. Ah, e faço questão de dizer que embora The Boys (Amazon Prime - 3ª temporada) e Rick and Morty (6ª temporada) também mereçam estar na lista dos melhores, a dupla quase não entrou aqui esse ano, porque embora ambos continuam bons shows, suas histórias se repetiram muito mais do que eu gostaria. 

PioresBoneca Russa (Netflix - 2ª temporada) - tudo que eu AMEI na 1ª temporada foi jogado fora aqui, em uma trama cansativa que não leva a lugar nenhum. Se antes tínhamos um loop temporal ao estilo Feitiço do Tempo, agora temos os protagonistas viajando décadas no passado dentro de corpos de outras pessoas (??!!), uma bela porcaria.

Outra série que não gostei foi Sexo, Sangue & Realeza (Netflix - 1ª temporada): esta mistura de documentário com novela conta a história de Ana Bolena e sua relação com o rei Henrique VIII. Repleta de diálogos piegas e trocadilhos remetendo a sexo (também com várias cenas de beijo sob trilha sonora de soft porn), e com direito a constantes quebras da quarta parede, o formato escolhido mais me constrangeu do que qualquer outra coisa, dada a baixíssima qualidade do roteiro (e olha que gosto de História e, neste sentido, até aprendi um bocado com o que assisti).

E finalmente, comecei Homem x Abelha - A Batalha (Netflix - 1ª temporada) mas achei o primeiro episódio tão chato que nem continuei assistindo. A série melhora depois? Não sei e nem quero saber.

A surpresa: Inside Man (Netflix - 1ª temporada) - depois de nos deixar órfãos do seriado Mindhunter, a Netflix trouxe esta pequena obra (são apenas 4 episódios) de suspense policial que me fez lembrar da mesma. Criada por Steven Moffat (o mesmo que criou o seriado Sherlock, da BBC), a trama possui alguns exageros e falhas... mas me deixou tenso e curioso o tempo todo. Gostei e aguardo pelo próximo ano.

A decepçãoO Pentavirato, mini-série da Netflix criada e estrelada por Mike Myers é até legalzinha... mas eu esperava muito mais de Myers após tanto tempo longe da função de criador / produtor. É uma espécie de Austin Powers mediano adaptado para os anos 2020.



Top 5: os mais lidos do Cinema Vírgula em 2022

Ah! Mas essa parte tradicional da minha Retrospectiva tinha que ser mantida! Segue a lista dos 5 artigos mais acessados neste ano:
Lista dos filmes que assisti em 2022

E a parte final também! Como sempre, segue a lista de todos os filmes que assisti no ano que passou; novos ou antigos, sendo a primeira vez que os vi ou não. No total foram 70.

Abaixo segue a lista. Os filmes em laranja negrito e com um (*) são aqueles a que dou uma nota de no mínimo 8,0 e portanto, recomendo fortemente.

7 Prisioneiros (idem, Brasil, 2021)   (*)
Adoráveis Mulheres ("Little Women", EUA, 2019)
Apresentando os Ricardos ("Being the Ricardos", EUA, 2021)
Arremessando Alto ("Hustle", EUA, 2022)
Asas do Desejo ("Der Himmel über Berlin", Alemanha Ocidental / França, 1987)
Um Banho de Vida ("Le Grand Bain", Bélgica / França, 2018)
Batman ("The Batman", EUA, 2022)   (*)
O Beco do Pesadelo ("Nightmare Alley", Canadá / EUA / México, 2021)   (*)
A Bolha ("The Bubble", EUA, 2022)
Casa Gucci ("House of Gucci", Canadá / EUA, 2021)
O Cavaleiro Verde ("The Green Knight", Canadá / EUA / Irlanda, 2021)
Cidade Perdida ("The Lost City", EUA, 2022)
A Crônica Francesa ("The French Dispatch", Alemanha / EUA, 2021)
Curtas dos Minions 1 ("Minions & More 1", EUA, 2022)
Curtas dos Minions 2 ("Minions & More 2", EUA, 2022)
Django & Django (idem, Itália, 2021)
Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses ("Dragon Ball Z: Doragon bôru Z - Kami to Kami", Japão, 2013)
Drive My Car ("Doraibu Mai Kâ, Japão, 2021)
Eles Vivem ("They Live", EUA, 1988)
Elvis (idem, Austrália / EUA, 2022)   (*)
Emma. (idem, China / Reino Unido, 2020)
Enola Holmes 2 (idem, EUA / Reino Unido, 2022)
Federica Pellegrini - Underwater (idem, Itália, 2022)
A Filha Perdida ("The Lost Daughter", EUA / Grécia, 2021)
Ghostbusters: Mais Além ("Ghostbusters: Afterlife", Canadá / EUA, 2021)   (*)
Glass Onion: Um Mistério Knives Out ("Glass Onion: A Knives Out Mystery, EUA, 2022)
Hereditário ("Hereditary", EUA, 2018)
Heróis de Ressaca ("The World's End", EUA / Japão / Reino Unido, 2013)
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa ("Spider-Man: No Way Home", EUA, 2021)   (*)
O Homem do Norte ("The Northman", EUA, 2022)
The House (idem, EUA / Reino Unido, 2022)
Imperdoável ("The Unforgivable", Alemanha / EUA / Reino Unido, 2021)
John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo ("Running with the Devil: The Wild World of John McAfee", Reino Unido, 2022)
A Jovem Rainha Vitória ("The Young Victoria", EUA / Reino Unido, 2009)
King Richard: Criando Campeãs ("King Richard", EUA, 2021)
The Letter Room (idem, EUA, 2020)   (*)
Lightyear (idem, EUA, 2022)
As Linhas Tortas de Deus ("Los Renglones Torcidos de Dios", Espanha, 2022)
Lou (idem, EUA, 2022)
As Loucuras de Dick & Jane ("Fun With Dick and Jane", EUA, 2005)
Mães Paralelas ("Madres Paralelas", Espanha / França, 2021)
Matrix Resurrections ("The Matrix Resurrections", EUA, 2021)
Minari (idem, EUA, 2020)
O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas ("The Mystery of Marilyn Monroe: The Unheard Tapes", EUA, 2022)
Morte no Nilo ("Death on the Nile", EUA / Reino Unido, 2022)
Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos ("Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios", Espanha, 1988)
Mundo em Caos ("Chaos Walking", Canadá / EUA / Luxemburgo / Hong Kong, 2021)
Naquele Fim de Semana (The Weekend Away, EUA, 2022)
Não! Não Olhe! ("Nope", Canadá / EUA / Japão, 2022)
Noite Passada em Soho ("Last Night in Soho", Reino Unido, 2021)
O Páramo ("El Páramo", Espanha, 2021)
O Peso do Talento ("The Unbearable Weight of Massive Talent", EUA, 2022)
Pokémon: Detetive Pikachu ("Pokémon: Detective Pikachu", Canadá / EUA / Japão / Reino Unido, 2019)
O Predador: A Caçada ("Prey", EUA, 2022)
O Projeto Adam ("The Adam Project", EUA, 2022)
Renoir (idem, França, 2012)
No Ritmo do Coração ("CODA", Canadá / EUA / França, 2021)
Samaritano ("Samaritan", EUA, 2022)
O Soldado Que Não Existiu ("Operation Mincemeat", EUA / Reino Unido, 2021)
Sorte de Quem? ("Windfall", EUA, 2022)
South Park: Pós-Covid - A Volta Da Covid ("South Park: Post Covid - Covid Returns", EUA, 2021)
Spencer (idem, Alemanha / Chile / EUA / Reino Unido, 2021)
Spiderhead (idem, EUA, 2022)
Thor: Amor e Trovão ("Thor: Love and Thunder", Austrália / EUA, 2022)
Top Gun: Maverick (idem, China / EUA, 2022)   (*)
Trem-Bala ("Bullet Train", EUA / Japão, 2022)
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo ("Everything Everywhere All at Once", EUA, 2022)   (*)
Uncharted - Fora do Mapa ("Uncharted", Espanha / EUA, 2022)
A Vida Eletrizante de Louis Wain ("The Electrical Life of Louis Wain", Reino Unido, 2021)
Os Violentos Vão Para o Inferno ("Il Mercenario", Espanha / EUA / Itália, 1968)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Conheçam dois interessantes especiais de Natal 2022: Guardiões Da Galáxia e Murderville


Fim de ano chegando, e as produtoras de conteúdo fazem questão de lotar nosso Natal com novas produções sobre o tema. 2022 não poderia ser diferente e resolvi comentar sobre duas delas aqui pra vocês. Confiram!


Guardiões da Galáxia: Especial de Festas (Disney+)

Com apenas 44 min de duração, e se passando cronologicamente entre Guardiões da Galáxia Vol. 2 e o futuro Guardiões da Galáxia Vol. 3, a história deste especial natalino é bem simples: Drax (Dave Bautista) e Mantis (Pom Klementieff) resolvem ir a Terra buscar o ator Kevin Bacon para dá-lo de presente (sim, é isso mesmo) a Peter Quill (Chris Pratt).

Assim como qualquer obra dos Guardiões dirigido e roteirizado por James Gunn, a produção é bem divertida e repleta de situações "malucas", embora este especial seja bem mais fraco que os dois filmes até agora lançados para a franquia.

Para aproveitar o especial, você obrigatoriamente precisa conhecer os personagens anteriormente (o especial não se preocupa em contextualizar nada para eventuais "novatos"), e melhor ainda, se você ainda tiver a trama do Vol 2 fresca na memória.

No final das contas, eu esperava mais de Guardiões da Galáxia: Especial de Festas (tanto em qualidade quanto em duração), mas ainda assim, para quem curte o universo dos heróis da Marvel, é um bom programa para passar o tempo. Como maior virtude, aqui enfim temos espaço para Drax e Mantis poderem atuar mais e demonstrar seus poderes.


Murderville: Quem Matou o Papai Noel? (Netflix)

Para quem não conhece Murderville (que aliás, era meu caso quando assisti este especial), se trata de um seriado da Netflix que debutou em 2022, e que por enquanto possui apenas 6 episódios de sua primeira temporada.

Neste seriado que mistura comédia, investigação policial e reality show, em cada episódio temos uma história completa e independente, onde ocorre um assassinato e o detetive Terry Seattle (Will Arnett) tenta resolvê-lo com a ajuda de um ator convidado diferente. O diferencial é que o ator convidado da vez não sabe absolutamente nada do que está acontecendo (ele não recebe o roteiro do episódio), então cabe a ele, juntamente com o telespectador, tentar descobrir no final quem foi o assassino.

E este Murderville: Quem Matou o Papai Noel? também segue a mesma fórmula, como se fosse um episódio normal da série, com apenas duas diferenças: ele tem tema de Natal (afinal quem morre é uma pessoa fantasiada de Papai Noel), e desta vez são dois os atores/ajudantes convidados: Jason Bateman e Maya Rudolph.


Em geral nos episódios de Murderville não é muito difícil adivinhar quem foi o assassino. Aliás, quanto mais você vai assistindo a série, e mais você vai entendendo como o programa é estruturado, mais fácil a experiência vai ficando. Por isso mesmo, começar pelo especial de Natal torna a experiência melhor. E pra quem gosta de brincar de detetive, é um bom passatempo, com o bônus das cenas de improviso. 



É isso. Aproveito o momento para desejar um enorme Feliz Natal aqui do Cinema Vírgula para todos vocês!

terça-feira, 8 de março de 2022

Especial Dia Internacional da Mulher: conheça Roberta Williams e suas revoluções para o mundo dos Videogames

Feliz dia Internacional da Mulher para todas as mulheres que acompanham o Cinema Vírgula! E mais uma vez, trago aqui a história de uma mulher memorável para cultura pop. Desta vez, falo de Roberta Williams, famosa empresária, designer e produtora de videogames. Se muitos sonham com a fama e prestígio de revolucionar alguma área do conhecimento UMA vez na vida... bem, ela revolucionou a indústria dos jogos para computador pelo menos TRÊS vezes!!! Confira um breve resumo de sua história e conquistas.


Os primeiros Adventures e Mystery House

Nos últimos anos da década de 70, Roberta Williams vivia com seu marido Ken (ambos programadores de computador) em Los Angeles, com seus dois filhos. Até que em um belo dia Ken apresentou a Roberta o jogo para computador Colossal Cave Adventure (considerado o primeiro jogo adventure já feito, onde o jogador, apenas através de frases em texto, explorava uma caverna em busca de tesouros). Foi amor a primeira vista (ou jogatina). Empolgada pela descoberta de um jogo interativo onde ela poderia resolver mistérios, e imediatamente decepcionada ao descobrir não haver muitos outros games do tipo, ela resolveu então criar seus próprios jogos do gênero.

Roberta e Ken Williams em foto fofa de início de carreira

Igualmente apaixonada por livros de aventura policial, sua idéia inicial era fazer um jogo ao estilo dos livros de Agatha Christie. Foi então que nasceu Mystery House (lançado em 1980): o jogador começa o jogo trancado dentro de uma velha mansão, onde também se encontram mais 7 pessoas. Não demora muito para que estas comecem a ser assassinadas uma a uma... resta ao jogador descobrir quem é o assassino... antes que ele mesmo morra!

Roberta desenvolveu toda a história de Mystery House, e Ken foi responsável pela sua programação. Porém a dupla teve uma idéia inovadora: ao invés de mostrar apenas textos, que tal passar também a exibir imagens para o jogador (mesmo que estáticas)? Os desenhos foram programados pela própria Roberta, e nascia então o primeiro jogo adventure com gráficos da história! Para divulgar e vender seu novo jogo, o casal criou a empresa On-Line Systems.

Uma imagem de Colossal Cave Adventure (1976), e depois três imagens de Mystery House (1980)


King's Quest e Sierra On-Line

A On-Line Systems crescia em bom ritmo, lançando novos jogos para os limitados computadores caseiros Apple II e Atari 8-bit, e ainda que a maioria fossem adventures (e quase sempre com participação de Roberta Williams), alguns jogos até fugiram do estilo, como por exemplo Crossfire (um jogo de tiro) e Jawbreaker (um clone de Pac-Man), ambos de 1981. No ano seguinte a empresa do casal já beirava 100 funcionários, e então a companhia se mudou para uma grande estrutura na pequena comunidade de Oakhurst (ainda na Califórnia), e a dupla aproveitou para alterar o nome da companhia para Sierra On-Line, uma homenagem a cadeia de montanhas de mesmo nome que se situava ao lado das novas instalações.

Em 1983 a Sierra On-Line balançou com a famosa grande crise dos videogames, porém teve uma grande oportunidade ao ser contratada pela IBM para criar um jogo exclusivo para seu futuro novo computador pessoal de nome PCjr, que tinha o objetivo de ser mais barato e mais voltado a jogos do que seus concorrentes, contando com gráficos e som mais avançados. 

Para fechar o contrato, Ken prometera para a IBM um jogo inovador: um adventure onde o jogador controlaria um personagem que interagia com um mundo tridimensional na tela. Roberta foi decisiva para estudar, liderar e mostrar ao grupo de 6 programadores deste projeto que o desafio não era, afinal, impossível. Após 18 meses de trabalho, chegava as lojas o incrível King's Quest: o primeiro adventure da história com animações gráficas.

King's Quest também impressionava pelos gráficos: foi o primeiro jogo de computador a aceitar 16 cores distintas simultâneas via EGA

King's Quest era uma aventura medieval, onde o jogador assumia o papel do cavaleiro Sir Graham, requisitado pelo Rei para encontrar três artefatos mágicos que salvariam seu Reino da destruição. O jogador ainda dependia de digitar textos para fazer as ações, porém, ele podia de fato mover seu personagem pelo cenário através das teclas direcionais do teclado, navegando por 48 telas diferentes, em uma espécie de mapa cíclico que dava a impressão de um mundo aberto; tudo absurdamente inovador. O design e história do jogo foram ambos feitos por Roberta Williams: a progressão do jogo era não-linear (você podia por exemplo buscar os 3 tesouros na ordem que quisesse), o que era muito incomum. O jogo permitia que o jogador morresse de várias formas, e trazia quebra-cabeças bem difíceis: essas duas características se tornariam no futuro "marcas registradas" dos jogos da Sierra. E, outra surpresa: não era necessário resolver todos os enigmas para vencer o jogo.

King's Quest foi um enorme sucesso de crítica, impressionando o mundo dos jogos de computador; porém, foi mal de vendas... mas isso devido ao fracasso do IBM PCjr. Com isso, a Sierra correu para lançar o jogo em outras plataformas e meses depois King's Quest já podia ser jogado nos IBM PC's tradicionais. No ano seguinte ele chegou ao computador Tandy 1000 com enorme sucesso, e alguns anos depois ele chegou até ao Master System!

King's Quest IV (1988), também criado por Roberta, tinha uma mulher como protagonista, algo raro para a época

O sucesso de King's Quest foi um divisor de águas para a Sierra On-Line, que passaria a ser "a" empresa de jogos de adventures a partir de então, continuando com novos jogos King's Quest (foram 8 no total), e também desenvolvendo novas franquias como Leisure Suit Larry, Space Quest, Police Quest Gabriel Knight.


Phantasmagoria e legado

No inicio dos anos 90 os jogos de adventure para computador estavam no auge, com a Sierra On-Line liderando o mercado deste tipo de game juntamente com a poderosa LucasArts (propridade de ninguém menos que George Lucas). Roberta Williams já havia participado da criação de mais de 10 jogos do gênero, porém ela ainda iria surpreender o mundo pela terceira vez.

Após anos de trabalho com jogos com tema de fantasia medieval ou de investigação policial, faltava a Roberta Williams homenagear outra de suas paixões: os livros de suspense / terror ao estilo de Stephen King, de quem também era grande fã. Seu objetivo era criar um adventure que fosse verdadeiramente assustador, mas a limitação da tecnologia sempre a fez duvidar se isso era mesmo possível.

A atriz Victoria Morsell foi escalada para protagonizar o futuro jogo

Mas em 1993 ela resolveu tornar seu sonho realidade e iniciou seu mais ambicioso projeto, um jogo adventure de terror 100% feito com filmes interativos. Sim, o jogo teria apenas imagens de atores reais, que você controlaria com o mouse normalmente, algo simplesmente inacreditável na época. Com orçamento inicial previsto de US$ 800 mil e vários adiamentos, depois de mais de 2 anos de desenvolvimento seria lançado em Agosto de 1995 o jogo Phantasmagoria, cujo custo de produção acabou chegando em US$ 4,5 milhões.

Me lembro até hoje do quanto Phantasmagoria causou uma enorme comoção em toda a comunidade de jogadores de videogames da época. Foram meses de propagandas em revistas especializadas dizendo o quanto o jogo seria assustador e revolucionário graficamente; quando ele chegou às lojas, descobrimos que o jogo estava dividido em impensáveis 7 CD-Roms (as maiores produções da época chegavam no máximo a 4 CDs).

Phantasmagoria alternava muitas partes interativas (a esq.) com mini-filmes (a dir.)

Na história de Phantasmagoria (baseada em um roteiro de 550 páginas de Roberta), você assume o papel da escritora Adrienne, que se muda para uma antiga e luxuosa mansão junto com seu marido. A mansão no passado pertencera a um famoso mágico, cujas cinco esposas morreram misteriosamente. Após um tempo, Adrienne começar a ter constantes pesadelos, descobrir coisas "perturbadoras" na casa, além de ver seu esposo começar a mudar de comportamento...

Quando saiu, Phantasmagoria foi um grande sucesso de vendas, dando um bom lucro para a Sierra e se tornando o jogo mais vendido da história da empresa. Porém, em termos de crítica sua recepção foi apenas morna: se em termos técnicos o jogo era muito elogiado, por outro lado seus quebra-cabeças eram considerados muito simples, e o jogo sofreu várias críticas pelo excesso de violência, o que aliás fez Phantasmagoria ser vendido nos EUA com um selo para maiores de 17 anos.

Eu joguei Phantasmagoria e de fato em termos de enigmas o jogo me decepcionou, assim como a sua duração, bem curta para o que eu esperava. Os gráficos também não eram exatamente iguais a de um filme, o que também me frustrou um pouco... Porém, o que Roberta Williams prometeu ela cumpriu: visualmente o jogo estava bem acima dos concorrentes, não deixava de ser algo realmente impressionante e bem diferente de tudo o que havia sido feito antes; e principalmente, o jogo era realmente assustador! Somando prós e contras, posso dizer tranquilamente que aprovei o game. Jogar Phantasmagoria foi uma experiência bem memorável e alguns de seus "sustos" eu me lembro até hoje.

A interface do jogo de Phatasmagoria em detalhes

Em 1996 a Sierra foi comprada pela CUC International por mais de US$1 Bilhão, sendo que Roberta foi inicialmente foi contra a venda, pois duvidava da credibilidade dos compradores; entretanto, ela acabou cedendo devido a pressão do restante de seus co-acionistas. Em 1998 a CUC International foi pega em um escândalo fiscal (sim, ela estava certa sobre a CUC) e Roberta - que já estava trabalhando bem menos após a venda por ter perdido sua liberdade criativa - deixou a Sierra em definitivo, juntamente com seu marido Ken, e ambos se aposentaram.

Além de todo seu legado em termos de jogos (cerca de 30) e indústria, Roberta Williams também ajudou ao dar voz feminina no mundo dos jogos de computadores. Por exemplo, alguns de seus jogos tinham protagonistas femininas; mas principalmente, Roberta deu espaço e formou outras grandes mulheres para o mundo dos games, como por exemplo Lorelei Shannon (de King's Quest VII e Phantasmagoria II), e principalmente Jane Jensen, criadora da franquia Gabriel Knight e futura co-fundadora das empresas de jogos Oberon Media e Pinkerton Road. 

Roberta Williams e Lorelei Shannon trabalhando na Sierra

Em Julho de 2021 Ken e Roberta Williams anunciaram em suas redes sociais estarem trabalhando juntos em um novo jogo, o que não acontecia há mais de 20 anos. A previsão era que o jogo saísse no final do mesmo ano, o que não aconteceu, e mais nada sobre ele foi anunciado. Ainda assim, mesmo estando quase na casa dos 70 anos, tudo indica que o mundo dos jogos de computadores poderá ser surpreendido por Roberta novamente. Vamos ver o que o futuro nos aguarda.



PS: sobre os jogos adventures

Vale a pena explicar: ao citar "adventure" em meu texto o tempo todo, isso não foi um jeito "preguiçoso" ou "esnobe" para não traduzir a palavra aventura. Pois de fato adventure neste contexto se trata de um estilo bem específico de jogo, que privilegia a história e a resolução de quebra-cabeças ao invés de ação. Com a chegada do mouse, esse tipo de jogo também passou a ter como sinônimo o nome de point-and-click. Como eu já disse no texto acima, os anos de Ouro dos adventures foram na década de 90, lideradas por duas empresas: Sierra On-Line (originalmente On-Line Systems) e a LucasArts (originalmente Lucasfilm Games).

Dentre os grandes clássicos dos jogos de adventure, e que ainda recomendo a todos jogarem, posso citar: Maniac Mansion, Day Of The Tentacle, a franquia Monkey Island, Indiana Jones and the Fate of AtlantisThe Dig, Full Throttle (todos da LucasArts), as franquias King's Quest e Gabriel Knight (esses são da Sierra); e também sucessos de outras empresas diversas, como por exemplo Myst, The 7th Guest, a franquia Tex Murphy e a franquia The Legend of Kyrandia.

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...