sábado, 31 de dezembro de 2016

Crítica - Passageiros (2016)

Título: Passageiros ("Passengers", EUA, 2016)
Diretor: Morten Tyldum
Atores principais: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Laurence Fishburne
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=j30Rwlm75KM
Nota: 6,0
Boa ficção científica derrapa em seu final

Passageiros é um filme que mistura romance com ficção científica. Na história, em algum momento indeterminado do futuro, a nave espacial Avalon transporta em modo automático mais de 5000 passageiros em uma viagem de 120 anos para "Homestead", um novo e remoto planeta. Porém, graças a um mal funcionamento, dois passageiros despertam de suas câmeras de hibernação 90 anos antes do destino final, o que os deixa "condenados" a morrerem sozinhos de velhice durante a viagem.

Contando com imagens espaciais muito bonitas e com uma trilha sonora muito bem utilizada, a maior qualidade de Passageiros reside na discussão sobre dramas humanos (como em qualquer boa ficção científica que se preza), em especial a solidão e a ética. Na maioria do tempo o roteiro é equilibrado, crível e envolvente... ainda que tenha algumas passagens repetidas, alongando desnecessariamente a história.

O trio "vivo" da nave (os humanos vividos por Jennifer Lawrence e Chris Pratt, e o androide vivido por Michael Sheen) se envolvem em diálogos e situações interessantes e bem humoradas. Os três atores também atuam muito bem, acrescentando qualidade ao filme.

Porém chegando ao final de sua história, Passageiros decepciona bastante. Lembra do mal funcionamento que citei no começo? Ele é o gatilho para eventos que culminam no clímax do filme. E neste momento, a história simplesmente joga fora todo o debate até então e se transforma em um filme de ação completamente inverossímil e com várias tecno-baboseiras. E para piorar, no meio desta correria sem pé nem cabeça, houve espaço para encaixar diversos clichês de filmes de romance irritantemente melosos e incoerentes.

Uma pena. Ainda que valha seu ingresso, Passageiros desperdiça um começo bastante promissor em troca de uma miscelânea de diversos gêneros de filme (sem se aprofundar em nenhum deles) e um final hollywoodiano. A dúvida que fica é se este desfecho decepcionante é culpa do roteirista ou dos produtores. Nota: 6,0

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Crítica - Rogue One: Uma História Star Wars (2016)

Título: Rogue One: Uma História Star Wars ("Rogue One", EUA, 2016)
Diretor: Gareth Edwards
Atores principais:  Felicity Jones, Diego Luna , Riz Ahmed, Ben Mendelsohn, Forest Whitaker, Mads Mikkelsen, Donnie Yen, Jiang Wen
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=9oISQcXuki0
Nota: 6,0
Muita "Guerra" e pouco "nas Estrelas"

Para quem não está muito familiarizado com o universo de Star Wars, incio com uma explicação: até agora a franquia já teve 7 filmes (Os Episódios de I ao VII), que são continuações de uma única grande história. Já Rogue One: Uma História Star Wars é o primeiro filme derivado da série: uma história fechada com começo, meio e fim; e que cronologicamente se passa imediatamente antes do Episódio IV.

Na história, a Aliança Rebelde descobre que o Império está construindo uma arma tão poderosa que é capaz de destruir planetas. É então que os rebeldes "convocam" a jovem Jyn Erso (Felicity Jones) para ajudá-los a impedir que a arma seja finalizada. Erso é uma pessoa importante para a Aliança pois ao mesmo tempo que ela é filha de Galen Erso (Mads Mikkelsen) - o cientista por trás da construção da tal super-arma - ela também é amiga de Saw Guerrera (Forest Whitaker), um líder separatista cuja facção seria essencial na luta contra o Império.

Quando o primeiro filme de Star Wars surgiu em 1977 - justamente o Episódio IV - ele foi um estrondoso sucesso de público pois reunia características difíceis de se encontrar nos cinemas da época: alucinantes batalhas entre naves no espaço; empolgantes duelos de sabres de luz, e uma espécie de "religião" baseada em uma Força universal que conecta todos os seres vivos... e que concede super-poderes.

39 anos depois surge o filme Rogue One: Uma História Star Wars e ele não traz para as telas nenhuma destas três características tão essenciais para a franquia. O que sobra então? Guerra, guerra e mais guerra. Um filme em que a grande maioria das batalhas são em terra, usando pistolas, metralhadoras, bombas e até lança mísseis. É praticamente um filme de guerra dos anos 2000 com os soldados vestindo roupas esfarrapadas (no caso dos rebeldes), ou lustrosas armaduras metálicas (no caso dos imperialistas). Rogue One só lembra Star Wars de verdade em seus 15 minutos finais, que aliás são de longe o melhor pedaço desta produção.

Apesar da grande descaracterização da franquia, a história em si não é ruim. Funciona como um bom filme "padrão" do gênero de guerra, com boas cenas de ação. Sua única e maior novidade é trazer para Star Wars pela primeira vez uma guerra "de verdade". Muito longe das batalhas "limpas" da trilogia clássica onde os rebeldes apenas se defendem, em Rogue One os soldados da Aliança atacam desesperadamente seus inimigos, com táticas as vezes nada heroicas que estão entre a guerrilha e o terrorismo.

Apesar de uma trama interessante, o roteiro padece com vários problemas estruturais. Contando a história de maneira sempre apressada e com muitos cortes, o desenvolvimento dos personagens é pífio. É praticamente impossível sentir empatia com qualquer pessoa de Rogue One. O único personagem que possui algum carisma - o lutador cego de "kung-fu" Chirrut (Donnie Yen) - parece estar em filme errado: ele faz muito mais sentido dentro do universo de filmes como O Tigre e o Dragão (2000), do que Star Wars.

Dizem os produtores que o filme possui muitos minutos que foram cortados na edição final. A questão é que dentro das 2h14min de Rogue One daria tempo para desenvolver vários personagens... isto se eles não tivessem optado por gastar espaço para mostrar centenas de fan services. Temos participações especiais - dentre muitas outras - de R2-D2, C-3PO, o senador Bail Organa, Darth Vader, Cornelius Evazan, a Princesa Leia e o Governador Moff Tarkin; sendo estes dois últimos imagens feitas por computador que não me convenceram como atores reais.

Tecnicamente, Rogue One também falha em vários aspectos. É verdade que o filme aproveita para trazer imagens belíssimas de planetas e outros objetos espaciais. Entretanto, na maior parte do tempo as imagens são em ambientes apertados e fechados, exagerando nos closes no rostos dos atores e desfocando todo o ambiente ao fundo. Sinceramente, em pleno ano de 2016 vender um filme em 3D com tanta limitação de foco (em 3D "de verdade" não há a necessidade do plano ao fundo perder foco porque afinal de conta as imagens são em... 3D!) é um insulto ao público.

Outro ponto fraco de Rogue One é sua trilha sonora. Pela primeira vez o mestre John Williams ficou de fora de um filme de Star Wars e ele fez muita falta. Para piorar, o trabalho de seu substituto Michael Giacchino foi prejudicado por problemas de cronograma - ele teve apenas quatro semanas e meia para compor toda a música do filme - e o resultado foi uma trilha fraquíssima.

Apesar dos muitos problemas, Rogue One: Uma História Star Wars ainda consegue entreter. Seria ele, entretanto, uma obra relevante para a franquia de Star Wars? A resposta: sim, embora não tanto. O filme deixa três legados importantes na mitologia: consegue "corrigir" um grande furo de roteiro relacionado a Estrela da Morte, dá uma explicação aceitável para a mira ruim de todos os stormtroopers, e nos apresenta de maneira bem mais clara o quanto a situação da Aliança Rebelde era desesperadora (isto é mais detalhado no universo expandido, mas foi pouco mostrado nos outros filmes). Nota: 6,0

domingo, 18 de dezembro de 2016

Crítica - A Vingança Está na Moda (2015)

Título: A Vingança Está na Moda ("The Dressmaker", Austrália, 2015)
Diretor: Jocelyn Moorhouse
Atores principais:  Kate Winslet, Judy Davis, Liam Hemsworth, Hugo Weaving, Sarah Snook
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=n5K4LSViFds
Nota: 5,0
Filme australiano se perde na mistura de assuntos

Com direção, produção e atores Australianos - com o reforço dos britânicos Kate Winslet e Hugo Weaving - A Vingança Está na Moda estreou no Brasil em maio em número reduzidíssimo de salas e mesmo já estando disponível para compra em sites de streaming seu trailer voltou aos cinemas... será que ele voltará às telonas em breve?

Na trama, a agora estilista Tilly Dunnage (Kate Winslet) retorna após mais de uma década a sua cidadezinha natal, de onde fôra "expulsa" quando criança por supostamente ter assassinado seu colega de escola Stewart Pettyman. Confusa e esquecida sobre os eventos do passado, Tilly volta para descobrir se afinal é uma criminosa ou não.

Diferente do tradicional, o roteiro de A Vingança Está na Moda aborda quatro temas em paralelo: a investigação sobre o crime passado; a transformação das pessoas através da moda (esta parte do filme é bem focada no universo feminino); o desejo de vingança da protagonista; e por fim, o romance de Tilly com Teddy McSwiney (Liam Hemsworth).

Como se pode ver pelo parágrafo anterior, Tilly não tem a menor idéia do que quer fazer, em como agir, ou no que colocar seu foco. E por mais que esta "confusão" seja algo que muitas pessoas passam na vida real, ela não deveria atingir a execução do filme, que parece ter sido contagiado pela mente de sua heroína: nenhum dos quatro temas se resolvem de maneira satisfatória ou se mesclam de maneira natural.

Tanto a investigação do crime quanto as ações vingativas de Tilly se resolvem de maneira inverossímil e decepcionante; o "universo feminino" é abandonado no meio da projeção; e finalmente, não há química nenhuma entre Tilly e Teddy. Kate Winslet e Liam Hemsworth estão interpretando personagens que possuem a mesma idade; entretanto, mesmo continuando belíssima, Kate é claramente bem mas velha que Liam e eles simplesmente não combinam juntos. Para piorar, Liam atua muito mal: sem carisma, o irmão mais novo de Thor passa o filme todo com apenas uma expressão no rosto, a de "apaixonado abobalhado".

De bom mesmo em A Vingança Está na Moda apenas a atuação de Kate Winslet e algumas reviravoltas inesperadas no roteiro, quebrando um pouco a monotonia de dezenas de clichês que aparecem ao longo do filme.

A Vingança Está na Moda tem alguns momentos divertidos, mas em geral, lhe falta coerência e identidade. Seria o filme um drama? Um romance? Uma comédia? A história flerta com todos estes gêneros mas não convence em nenhum deles. Nota: 5,0.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Crítica - Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Título: Sully: O Herói do Rio Hudson ("Sully", EUA, 2016)
Diretor: Clint Eastwood
Atores principais: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Valerie Mahaffey, Mike O'Malley, Jamey Sheridan
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=9n6hcBc4bgE
Nota: 6,0
Mais na terra que no ar, acidente aéreo fica em segundo plano

Em uma época em que o assunto acidentes aéreos ainda está bem vívido no cotidiano do brasileiro, chega as cinemas Sully: O Herói do Rio Hudson, baseado no livro-biografia Highest Duty escrito por Chesley "Sully" Sullenbergerde, o piloto que em janeiro de 2009 realizou o "milagre" de pousar em pleno Rio Hudson, na cidade Nova York, um avião de passageiros que havia perdido todos seus motores. Se trata da primeira parceria de Clint Eastwood, na direção, com Tom Hanks, que interpreta o protagonista "Capitão Sully".

Sim, Sully pousou heroicamente um avião em pane em cima de um rio. Mas teria sido mesmo uma manobra necessária? Pousar em água é dificílimo, muito arriscado, e com dois aeroportos bem próximos ao local da queda, não teria sido muito mais seguro para todos o piloto guiar seu veículo até um destes locais? É a investigação que tenta responder esta pergunta a base deste filme.

Acontece que a "história da vida" de Sully é baseada em um incidente muito rápido, que durou apenas 206 segundos (número que aliás aparece várias vezes no roteiro). E a tal investigação posterior, também foi rápida e direta. Como preencher 1h30min de filme com tão pouco material? É este o grande problema de Sully: O Herói do Rio Hudson.

Roteiro e direção fazem um trabalho muito bom para "esticar" o filme, trazendo uma narrativa não-linear, mostrando flashbacks... e desta maneira "distraindo" com sucesso o espectador. Sóbrio e direto, foi uma grande satisfação para mim ver que o filme de Clint Eastwood não apelou para trilha sonora piegas - a trilha é quase imperceptível - ou para clichês e frases de efeito para tornar o filme mais "elevado emocionalmente". Ainda assim, apesar do bom trabalho técnico e de produção, Sully: O Herói do Rio Hudson é um filme "apenas" interessante, sem contar com grandes surpresas ou emoções.

Fora o ato heroico em si - que aconteceu na vida real, e com isto eleva bastante o filme - não há muitos outros atributos em Sully. Ainda assim, há de ser elogiada a fotografia excelente de Tom Stern (parceiro costumeiro do diretor) e a boa atuação de Tom Hanks, que contrasta com a esquecível presença de todos os coadjuvantes em tela.

Muito mais sobre o que acontece em terra do que no ar, Sully: O Herói do Rio Hudson é um reflexo do seu protagonista na vida real: heroico e comedido. Nota: 6,0

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Crítica - A Chegada (2016)

Título: A Chegada ("Arrival", EUA, 2016)
Diretor: Denis Villeneuve
Atores principais: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael Stuhlbarg, Forest Whitaker, Tzi Ma
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=rNciXGzYZms
Nota: 9,0
Ficção-científica e "quebra-cuca" de primeira

Na última década vários cineastas nos mostraram pontos de vista bem heterodoxos sobre a existência humana. Como exemplos, tivemos a Fonte da Vida (2006) de Darren Aronofsky, O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) de David Fincher, Sr. Ninguém (2009) de Jaco Van Dormael, A Árvore da Vida (2011) e Amor Pleno (2012) de Terrence Malick, e Boyhood: Da Infância à Juventude (2014) de Richard Linklater.

Mas desses exemplos acima, apenas dois conseguiram efetivamente me emocionar e transmitir sua visão: Fonte da Vida e Boyhood. Bem, a partir de agora posso adicionar um terceiro filme na relação: A Chegada, do ótimo diretor canadense Denis Villeneuve. Um filme que, entretanto, tem de longe a roupagem científica mais pesada dentre todos os citados anteriormente.

Na história, 12 objetos gigantes alienígenas pousam na Terra em tentativa de comunicação. O que eles querem? É aí que entra a melhor linguista estadunidense, Louise Banks (Amy Adams), para tentar traduzir a mensagem dos ETs.

Como a humanidade se comportará frente a este evento? Como iniciar uma conversação entre duas espécies totalmente desconhecidas e diferentes entre elas? São respostas que A Chegada mostra de maneira consideravelmente verossímil.

O filme começa de maneira bem lenta, com trilha instrumental bem pesada, lembrando em momentos o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968). Por exemplo, boa parte do segmento inicial do filme mostra Louise dentro de uma sala tentando se comunicar - sem sucesso - com os visitantes espaciais.

Com o desenrolar da trama, entretanto, o filme começa a ganhar velocidade e tensão. Há uma corrida contra o tempo para evitar uma guerra causada - como sempre - pela burrice humana. Sentimento de urgência e suspense são adicionadas de maneira gradativa e perfeita pelo diretor, até culminar no final surpreendente, emocionante, e ao mesmo tempo, de compreensão não muito fácil. E olha que A Chegada até tenta facilitar seu entendimento para o grande público, criando uns pequenos "exageros" de roteiro em troca de uma explicação mais palatável.

Não irei comentar muito mais sobre o filme para não dar spoilers; ainda assim, explico que toda a trama - adaptada do conto "Story of Your Life", escrito em 1998 por Ted Chiang - tem como base uma única e simples teoria científica, garantindo portanto o título que darei ao A Chegada: um dos melhores filmes de ficção científica deste século. Nota: 9,0.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica - Pequeno Segredo (2016)

TítuloPequeno Segredo (Brasil / Nova Zelândia, 2016)
Diretor: David Schurmann
Atores principais: Mariana Goulart, Erroll Shand, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Júlia Lemmertz, Marcello Antony
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=X_qAIqyZK8g
Nota: 5,0
Com um desfecho belíssimo, o difícil é chegar até ele

Em teoria Pequeno Segredo deveria ser um filme interessante: baseado em um drama real da família Schurmann (a primeira família brasileira a circunavegar o mundo em um veleiro), e sendo a indicação nacional para o Oscar 2017, este "currículo" chama a atenção.

Mas o que vemos nas telas fica longe de um bom filme. Em primeiro lugar, Pequeno Segredo lembra muito uma novela da Globo. E não é pela presença de Júlia Lemmertz e Marcello Antony, que pouco parecem em cena. Pequeno Segredo lembra novelas pela sua fotografia característica, pelos diálogos artificiais e piegas, pelos atores ruins, a presença constante de product placement, pela trilha sonora enfadonha e melodramática. Aliás, o filme lembra tanto novela que tem até seus "núcleos": o núcleo da família Schurmann, em SC; e o núcleo gringo, que se divide entre o Pará e a Nova Zelândia.

Pequeno Segredo dura intermináveis, desnecessárias e enfadonhas duas horas. Entretanto, faltando cerca de 20 minutos para o filme acabar, algo surpreendente acontece: há uma reviravolta e descobrimos enfim qual é o "segredo" do título do filme.

É então que a história muda da água podre para o vinho. Onde antes não havia nenhuma coesão, agora os fatos se encaixam trazendo sentido; enfim é fornecido ao espectador motivos para ter alguma empatia com os personagens. E enfim a trilha sonora dramática e as câmeras lentas tem algum propósito narrativo.

O final de Pequeno Segredo é excelente, bastante comovente. Ainda assim, não é suficiente para apagar a péssima viagem que foi chegar até ele. Até porque, notem que a grande força da história está no seu "segredo"; que não será surpresa nenhuma para quem já conheça a vida dos Schurmann; ou quem tenha lido sobre este filme na Wikipedia. Em suma, para aproveitar algo desta obra, não veja nada sobre ela além deste texto!!!

Não é tão difícil entender porque Pequeno Segredo foi o indicado brasileiro ao Oscar. Afinal, é um filme "feito pra gringos": conta com vários diálogos em inglês, atores internacionais (e o mais famoso deles - Fionnula Flanagan - é bem conhecida), e se preocupa em apresentar um pouco do nosso lado "das selvas"... mostra como é diferente e pobre a vida do Norte brasileiro; ao mesmo tempo que nós temos as qualidades e virtudes do "bom selvagem"... tudo bem estereotipado. Por outro lado, é difícil aceitar que um filme com direção e roteiro tão problemáticos seja considerado o melhor filme nacional do ano.

Com começo e meio catastróficos, o final de Pequeno Segredo é tão bom que justifica que ele seja assistido. É uma história real que merece ser conhecida. Ainda assim, se seu desfecho "salvou" a experiência de assistir o filme, não foi suficiente para salvar sua nota. Nota: 5,0

sábado, 12 de novembro de 2016

Crítica - Doutor Estranho (2016)

TítuloDoutor Estranho ("Doctor Strange", EUA, 2016)
Diretor: Scott Derrickson
Atores principais: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=DavLd8Nj2TQ
Nota: 7,0
Apresentando o Multiverso usando um Multiverso

Chega aos cinemas o décimo quarto filme (!) da grande história contada pelo Universo Cinematográfico Marvel, inciado em 2008. O novo herói da vez é o Doutor Estranho. Na trama, o genial e arrogante cirurgião Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) sofre um acidente e perde o uso de seu instrumento mais importante: suas mãos. Desesperado por uma cura, Strange acaba viajando pra o Oriente em busca de tratamentos alternativos. É quando ele encontra a Anciã (Tilda Swinton) e seu grupo de monges super-poderosos. Inicia-se então o treinamento de Stephen ao mesmo tempo em que a Terra recebe nova ameaça global.

Doutor Estranho é certamente a produção da Marvel de maior deslumbre visual até agora. Ótimos efeitos especiais, imagens incríveis em constante movimento, cenas que parecem alucinações. Um espetáculo! E o bom é que estas imagens proporcionam ótimas cenas de ação - afinal, boa parte do filme são perseguições e lutas.

Direção e roteiro fazem um trabalho excelente ao explicar conceitos místicos e complexos de uma maneira simples e sem muito didatismo.

Outra grande qualidade de Doutor Estranho é seu protagonista. O carismático "Benedito" mostra mais uma vez sua grande versalidade e qualidade como ator, personificando de maneira bastante convincente o personagem dos quadrinhos.

Doutor Estranho é um filme de Origens bem interessante, com potencial de agradar todo tipo de público - como todo filme Marvel - mas que também como todo filme Marvel, possui seus defeitos.

Em primeiro lugar, como já citado acima, o roteiro é simples demais, focando demais na ação em detrimento do desenvolvimento dos personagens. Apenas o protagonista Stephen Strange nos é apresentado de maneira decente. Todos os demais personagens são mal explorados; o que é um enorme desperdício quando lembramos que o filme conta com atores de talento comprovado, como por exemplo Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams e Tilda Swinton. Alías, Tilda Swinton é a única dos coadjuvantes que brilham na tela com ótima caracterização. Por outro lado, os sub-aproveitados Ejiofor, McAdams e Mikkelsen são tão mal tratados que até passam por momentos constrangedores.

Outro problema já recorrente nos filmes da Marvel é o péssimo timing de suas piadas. Mais uma vez testemunhamos momentos dramáticos ou heróicos serem jogados no lixo graças a algum alívio cômico para fazer o filme voltar a ser "engraçadinho". Lamentável. Doutor Estranho tem as piadas mais fora de contexto do Universo Marvel desde Homem de Ferro 3, com o agravante que Strange não era para ser o palhaço que Tony Stark é.

Mas o que mais me chamou a atenção em Doutor Estranho é a ironia - seria este o termo? - que o filme que deveria ser o mais diferente dentre todos da Marvel é na verdade o que mais caminha pelo conhecido, bebendo de muitas fontes famosas do universo Pop. É um filme que apresenta aos espectadores o Multiverso Marvel através de múltiplos universos de outras franquias. Afinal, o filme é um amálgama de referencias (sejam visuais ou de enredo) como A Origem, Spawn, Highlander, Dr. House, Matrix, e mais alguns outros que não posso citar para não estragar a surpresa do final do filme - que por sinal é muito bom.

"Ah, mas o Doutor Estranho foi criado na década de 60, muito antes das obras citadas acima". É verdade, mas este Dr. Estranho apresentado nas telas é diferente do personagem original. É a velha questão do que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Graças a mesma fórmula utilizada em todos seus filmes, a Marvel mais uma vez consegue ter sucesso - em público e diversão - com um personagem de pequena expressão da editora, quase desconhecido do grande público. Doutor Estranho chegou para se tornar verdadeiramente famoso dentro do mundo dos super-heróis. E vai conseguir. Nota: 7,0.


Obs 1: a Anciã celta interpretada pela ótima Tilda Swinton é uma modificação do Ancião, feiticeiro tibetano que nos quadrinhos é o verdadeiro mentor do Doutor Estranho. Por que a Marvel mudou o gênero e nacionalidade de seu personagem? Simples: dinheiro! A alteração foi feita para que o filme não fosse censurado pelo governo chinês, cujo país representa 18% da arrecadação mundial dos filmes da editora. Referências ao Tibete (que a China não reconhece como região independente) e a orientais estereotipados certamente seriam barradas. O medo de ser proibido pela China é o mesmo motivo que fez com que o personagem Mandarim também tenha sido ocidentalizado - para fúria dos fãs - em Homem de Ferro 3.

Obs 2: o filme contém duas cenas pós-créditos, sendo a última provavelmente importante para o futuro do Doutor Estranho nos cinemas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Dupla-Crítica: O Lagosta (2015) e Jogo do Dinheiro (2016)

O primeiro é um filme que injustamente nem chegou aos cinemas brasileiros. O outro é um que conseguiu desembarcar por aqui, mas apesar das estrelas presentes não emplacou nas bilheterias. Vamos à mini crítica de mais dois interessantes títulos!


O Lagosta (2015)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principais: Colin Farrell, Rachel Weisz, Olivia Colman, Angeliki Papoulia, John C. Reilly, Léa Seydoux, Ben Whishaw

O Lagosta, dirigido e escrito pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos é um filme bem diferente, mas não pela maneira com que é filmado: tecnicamente ele se assemelha bastante aos atuais filmes indie estadunidenses que conseguem captar várias estrelas para seu elenco.

O que é realmente diferente em O Lagosta é seu roteiro, simplesmente maluco, bizarro. Com o intuito de criticar o quanto o ser humano se comporta de maneira absurda (principalmente em termos de relacionamentos e na criação e cumprimento de leis), Lanthimos nos apresenta um futuro onde pessoas adultas não podem ficar sem um par romântico. Caso isto aconteça (seja porque você não encontrou ou não se interessou por uma "alma gêmea", ou ainda, porque seu cônjuge acaba de morrer e você agora se encontra sozinho), os solteiros são levados a um hotel especial onde têm 45 dias para encontrar seu novo amor. Caso isto não aconteça, o solitário humano é transformado em um animal à sua escolha (o nome do filme se deve ao fato do protagonista principal, David (Colin Farrell) ter escolhido virar uma lagosta caso fracasse no amor).

O filme se desenvolve trazendo uma sucessão de acontecimentos estranhos e inesperados. E por estas características, temos uma trama inteligente que faz o espectador ansiar a todo momento pelo que há por vir. Em O Lagosta vemos algumas boas atuações, mas a única de grande destaque é da competente Rachel Weisz, que a meu ver poderia ter ficado mais tempo em cena.

O Lagosta é uma ficção excelente para quem curte futuros distópicos e humor negro. O filme só não leva nota maior pois para mim ele é tão "maluco" que suas críticas à sociedade se diluem em meio a tanta bizarrice. Infelizmente um filme tão bom como esse não chegou nos cinemas brasileiros. Mas já pode ser assistido por aqui comprando-o em diversos serviços de streamingNota: 7,0


Jogo do Dinheiro (2016)
Diretor: Jodie Foster
Atores principais: George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito

Três grandes estrelas de Hollywood (Jodie Foster na direção, George Clooney e Julia Roberts como atores principais) se reúnem em um suspense que mistura os assuntos de mercado financeiro e programas sensacionalistas da TV.

Na história Lee Gates (Clooney) tem seu programa ao vivo de TV invadido por um desesperado Kyle (Jack O'Connell), armado e vestindo um colete repleto de bombas. A exigência do criminoso? Entender porque ele e milhões de estadunidenses perderam dinheiro na bolsa através de uma surpreendente queda da "empresa do momento", que inclusive fora recomendada publicamente por Gates.

Jogo do Dinheiro tem uma grande qualidade: roteiro e direção fazem um trabalho excelente para manter o clima de tensão durante todo o filme. Jodie aparenta ter aprendido muito bem a lição de "como dirigir um thriller de suspense" com David Fincher, quando estrelou o excelente O Quarto do Pânico (2002), dirigido por ele.

O problema com Jogo do Dinheiro é o que acontece em sua metade final. O ótimo clima de suspense continua intocado nesta parte... porém, a história fica cada vez mais inverossímil. E tão ruim quanto aos absurdos da trama são os vários clichês: Clooney é o malandro com coração de ouro; Julia Roberts é a grande diretora que é a única que consegue controlá-lo; a polícia é bastante incompetente; e finalmente, temos a cota de vilões unidimensionais malvadões que expõem seus planos malignos para todos.

Pelos nomes envolvidos, Jogo do Dinheiro poderia ter uma ótima bilheteria, mas o fraco roteiro contribuiu para que isto não acontecesse. Ainda assim, o filme deu lucro: de um orçamento de US$ 30 milhões, arrecadou US$ 100 mi. Para mim, um cenário justo: este filme não merece grandes conquistas, mas também não merece dar prejuízo. Nota: 6,0

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crítica - A Garota no Trem (2016)

TítuloA Garota no Trem ("The Girl on the Train", EUA, 2016)
Diretor: Tate Taylor
Atores principais: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Luke Evans, Edgar Ramírez, Laura Prepon, Allison Janney
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=kmQ1WcX425E
Nota: 7,0
Boa história e boas atuações sustentam o filme apesar da direção problemática

Baseado no livro homônimo bestseller (inclusive no Brasil) da autora britânica Paula Hawkins, A Garota no Trem é uma mistura de filme policial / suspense com o drama de três mulheres bem diferentes - Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Anna (Rebecca Ferguson) - mas cujos destinos se cruzam bastante nos dias atuais. Certa tarde Megan desaparece, e Rachel nos é apresentada como possível culpada e também como possível solucionadora do mistério.

A grande maioria do filme é narrada sob o ponto de vista de Rachel; em segundo lugar aprendemos sobre Megan e finalmente, vemos bem pouco sobre Anna. Independente do tempo de história de cada uma das personagens, todas elas possuem uma vida interessante e repleta de reviravoltas. Eis portanto o ponto forte de A Garota no Trem: as aparências enganam bastante e há muito mais por trás de cada uma destas três mulheres do que julgamos quando as vimos pela primeira vez.

Já a trama policial de A Garota no Trem, se não é lá tão original (baseia-se no testemunho duvidoso de observadores remotos, como já vimos no clássico Janela Indiscreta do mestre Hitchcock) ainda assim agrada, sendo bastante interessante e atiçando o "detetive" dentro de cada um de nós. Outra qualidade do filme é trio de atrizes protagonistas, que atuam muito bem, especialmente Emily Blunt e a bela Haley Bennett.

Pelo tema policial, pelas reviravoltas, e pela marcante presença feminina, a comparação de A Garota no Trem com Garota Exemplar é inevitável. Mas por que o primeiro filme está sendo tão criticado pela crítica nacional em contraste com os muitos elogios para o segundo? A diferença está na direção.

Se Garota Exemplar conta com a ótima direção do ótimo e consagrado David Fincher, A Garota no Trem conta com um diretor bem menos hábil - Tate Taylor - que até agora só possui um sucesso em sua curta carreira: o bom Histórias Cruzadas, que não é um filme de suspense (onde Fincher manda tão bem).

E aonde é que Taylor falha? Bem, lhe falta comedimento em vários aspectos: a trilha sonora é muito exagerada, pesada e repetitiva, o que torna o filme desnecessariamente melancólico e cansativo; o alto número de flashbacks curtos atrapalha o ritmo da história; e há também bastante exagero na quantidade de cenas de delírio / confusão mental de Rachel. Para completar, depois que descobrimos quem é o "vilão" (ou vilã) da trama, a história se prolonga bem mais que o necessário.

Notem que alguns dos problemas citados no parágrafo anterior não são exclusivos do diretor e também recaem sobre a roteirista Erin Cressida Wilson. A impressão que tenho é que ela teve em mãos um ótimo material (o livro de Paula Hawkins) mas não soube adaptá-lo muito bem para as telonas.

Não concordo com a chuva de criticas que a imprensa nacional coloca em A Garota no Trem. Apesar dos problemas na direção, o filme é bem acima da média e certamente agradará os fãs de filmes de suspense. Muitos estão chamando A Garota no Trem de uma cópia mal feita e previsível de Garota Exemplar. De fato, o filme de Fincher é bem melhor, ainda assim, A Garota no Trem não me foi previsível e ambos os filmes merecem ser conferidos. Nota: 7,0

domingo, 16 de outubro de 2016

Crítica - Inferno (2016)

Título: Inferno ("Inferno", EUA / Hungria / Japão / Turquia, 2016)
Diretor: Ron Howard
Atores principais: Tom Hanks, Felicity Jones, Ben Foster, Sidse Babett Knudsen, Irrfan Khan, Omar Sy, Ana Ularu
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=8_MF60pD13c
Nota: 6,0
Filme é reflexo de sua obra original

Inferno é a terceira adaptação para os cinemas de um livro de Dan Brown, também pela terceira vez contando com sua criação mais famosa, o simbologista Robert Langdon (Tom Hanks). E assim como nos livros, os filmes desta franquia sofrem do mesmo mal: são histórias muito parecidas, onde basicamente apenas se trocam o nome dos coadjuvantes e as localidades da trama. Não é a toa, portanto, que pouco mais de 10 anos após o escritor explodir em fama mundialmente com O Código da Vinci, hoje seus livros são muito menos relevantes, quase esquecidos.

Para Inferno, além de Tom Hanks, retorna também o premiado diretor Ron Howard - a mesma pessoa que dirigiu os anteriores O Código da Vinci Anjos e Demônios. Se por um lado isto traz qualidade e coesão nesta "trilogia", por outro apenas reforça a sensação de "mais do mesmo".

Inferno é um livro com menos enigmas, menos mistério, e mais ação do que O Código da Vinci; e isto é refletido com vigor nas telas. Também repetindo, em ambas as obras Langdon é auxiliado por uma bela jovem, e em ambas adaptações a atriz escolhida possui traços meigos e delicados: era o caso de Audrey Tautou em da Vinci, e agora de Felicity Jones, interpretando a Dra. Sienna Brooks.

Na história, Langdon acorda desmemoriado em um hospital, e em questão de minutos o local é invadido na tentativa de matá-lo. Fugindo às pressas junto com a enfermeira Sienna, a dupla descobre ser a última esperança para evitar o lançamento de um vírus mortal - que mataria metade da raça humana - criado pelo bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster). O nome do filme vêm da obra literária Inferno, de Dante Alighieri, que é frequentemente usada ao longo da história como tema dos enigmas encontrados pela dupla.

Inferno é um filme de ação ininterrupta, do começo ao fim. A história é agradável, prende a atenção do espectador, e ainda conta com a vantagem de mostrar belas localidades históricas encontradas em Florença, Veneza e Istambul - visualizar as obras de arte e os edifícios reais é a única vantagem dos filmes em relação aos livros.

Por outro lado, a adaptação de Inferno peca em dois pontos: as "alucinações" de Langdon são exploradas em demasiado, a meu ver. E, principalmente, após 1h30 de uma história extremamente fiel ao livro, em seu ato final o filme desvirtua em muito o final originalmente escrito por Dan Brown. É verdade que da maneira que o filme se encerra ele até faz um pouco mais de sentido; ainda assim, a maneira com que o escritor havia finalizado Inferno era o único sopro de real originalidade em seu texto. Alterá-lo, portanto, para mim foi uma péssima idéia.

Inferno - o livro - é uma versão piorada de O Código da Vinci, mas ainda assim diverte. E o mesmo pode ser dito de seus filmes. De resto, é passar o tempo admirando a boa atuação de Tom Hanks e a beleza de Felicity Jones. Nota: 6,0.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Dupla-Crítica: Julieta (2016) e Café Society (2016)

Mais uma vez, duas críticas em um mesmo post. Agora, Pedro Almodóvar "versus" Woody Allen. Quem será que leva a melhor neste ano?


Julieta (2016)
Diretor: Pedro Almodóvar
Atores principais: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Rossy de Palma, Daniel Grao, Darío Grandinetti

Como o título do filme não esconde, a personagem principal do novo filme de Almodóvar é Julieta (Emma Suárez), uma mulher de meia idade que mora em Madri em aparente felicidade. Então, basta uma repentina lembrança da filha que não vê há 12 anos para seu mundo desabar. Desesperada por entrar em contato, Julieta resolve escrever uma carta e contar alguns "segredos", É quando voltamos no passado e acompanhamos as aventuras de uma jovem Julieta (interpretada por Adriana Ugarte) antes mesmo da filha nascer.

Julieta não é uma das maiores obras de Almodóvar, mas ainda assim bastante interessante, principalmente pela diversidade de assuntos. De maneira tocante o fio narrativo é conduzido por caminhos algumas vezes inesperados e aborda sentimentos como a solidão, depressão, obsessão, perda de pessoas queridas, culpa feminina e culpa católica. Não posso dar muitos outros detalhes sem estragar as surpresas do filme. Somado ao bom roteiro, o que me impressionou bastante foram as duas atrizes que interpretam a protagonista. Não somente pela ótima atuação, mas também pela beleza de ambas, principalmente de Adriana Ugarte, que me lembrou uma jovem Sharon Stone.

Julieta talvez não seja um filme tão fácil para assistir já que é bastante dramático e depressivo. Ainda assim, é louvável a maneira sutil e orgânica em que o diretor espanhol conduz seus comentários sobre tantos aspectos da vida. Bastante admirável. Nota: 7,0


Café Society (2016)
Diretor: Woody Allen
Atores principais: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Blake Lively, Corey Stoll, Sari Lennick

Repetindo o que fez algumas vezes nos últimos anos, Woody Allen retorna com um filme homenageando o começo do século XX; no caso deste Café Society, os anos 30 nos EUA. Não apenas temos uma ambientação que remete ao passado, como também a percebemos nos personagens (bastante ingênuos e caricatos) e trilha sonora (geralmente instrumental e muito repetitiva).

O veterano cineasta entrega um roteiro com diálogos muito interessantes, repletos de um humor irônico e sarcástico - marca característica de Allen - mas que eu não via com tanta intensidade já há um bom tempo. Basicamente a história é uma comédia de erros que nos apresenta o triangulo amoroso entre a jovem Vonnie (Kristen Stewart), o tio rico Phil (Steve Carell) e o sobrinho pobre Bobby (Jesse Eisenberg).

Se os diálogos são bons, os personagens principais não convencem tanto. Woody Allen falha em fazer que o espectador sinta empatia por seus heróis; e parte deste sentimento é reforçado pela falta de carisma de Jesse Eisenberg e Kristen Stewart.

Longe de ser um trabalho memorável deste incansável diretor-roteirista de 80 anos, Café Society é um filme que agrada e diverte mas não chega a empolgar. Nota: 6,0

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Dupla-Crítica: A Lenda de Tarzan (2016) e Invocação do Mal 2 (2016)

Duas produções que estiveram nos cinemas brasileiros no primeiro semestre, mas que somente agora pude assistir e fazer minhas considerações. Um blockbuster de aventura e uma sequencia de filme de terror. Vamos a eles!

A Lenda de Tarzan (2016)
Diretor: David Yates
Atores principais: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie

Outra história sobre a origem de Tarzan? Por incrível que pareça, não. Em A Lenda de Tarzan o rei das selvas (interpretado pelo sueco Alexander Skarsgård) já assumiu sua rica herança e vive em paz na Inglaterra, casado com sua Jane (Margot Robbie). Então, alguns eventos que não fazem o menor sentido o obrigam a voltar para a África, para cair em uma armadilha. Completando o elenco, há o vilão caricato (de novo??) feito por Christoph Waltz e um personagem que não acrescenta nada a trama (e nem deveria existir), feito por Samuel L. Jackson. Em suma, como o ator principal parece nem saber falar inglês direito, o roteiro dá bastante tempo em cena para as estrelas Waltz, Jackson e Robbie... mesmo que isto quebre totalmente o ritmo e a credibilidade do filme.

Para piorar, a sensação que o espectador tem ao assistir A Lenda de Tarzan é que ele perdeu o começo da história. Até existem vários flashbacks ao longo do filme que tentam mostrar o passado de Tarzan e Jane. Entretanto, eles não são relevantes o suficiente para diminuir este incômodo, ou para conquistar a empatia do público em prol dos personagens.

A única coisa que se salva no filme são os efeitos especiais. Os animais são inseridos de maneira perfeita nas cenas e com realismo impressionante. Entretanto, mesmo eles são problemáticos, já que com exceção dos gorilas os demais aparecem sem nenhum contexto com a história... o que temos é basicamente um desfile de "bichos bem feitos por computador" e nada mais.

E para piorar o filme de vez, suas duas tomadas de ação finais são péssimas, muito absurdas e inverossímeis. Está com saudade de ver um filme bom sobre selvas? Fuja de A Lenda de Tarzan e corra assistir Mogli - O Menino Lobo (2016), este sim um filmaço! Nota: 4,0



Invocação do Mal 2 (2016)
Diretor: James Wan
Atores principais: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O'Connor

Não gosto de filmes de terror. Mas gostei do primeiro Invocação do Mal (2013) por ser um filme diferente do padrão do gênero, com uma abordagem de "investigação científica". Três anos depois, voltam o mesmo diretor e os mesmos roteiristas. Porém todos eles pioram bastante seu trabalho em comparação ao anterior.

James Wan, que elogiei tanto no filme passado, parece que passou a se considerar um artista genial: ao invés de uma abordagem simples e sóbria, aqui ele opta por "fazer arte" com a câmera, que quase nunca está parada. São muitos zoom-in e zoom-out; imagens seguindo um personagem ou acompanhando a visão do mesmo; cenas internas com tomadas aéreas; até planos sequencia ele faz. O foco do espectador, portanto, acaba na câmera, e não para a história em si. É o clássico exemplo da forma prejudicando o conteúdo.

O roteiro não desenvolve os personagens e também mostra pouco do casal Ed e Lorraine Warren (respectivamente Patrick Wilson e Vera Farmiga), que deveriam ser os protagonistas da história. Então, basicamente o que a história faz é mostrar em quase sua totalidade (2 horas) cenas de possessão e poltergeist na casa assombrada em questão. Algumas cenas até são boas, mas no geral, tudo bastante repetitivo e clichê.

Seguindo a tradição das continuações serem piores que os filmes originais, Invocação do Mal 2 até exagera na escrita. Nota: 5,0

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Crítica - Pets: A Vida Secreta dos Bichos (2016)

Título: Pets: A Vida Secreta dos Bichos ("The Secret Life of Pets", EUA / Japão, 2016)
Diretores: Yarrow Cheney, Chris Renaud
Atores principais (vozes): Louis C.K., Eric Stonestreet, Kevin Hart, Steve Coogan, Ellie Kemper, Bobby Moynihan, Lake Bell
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=_696GtEk5Mw
Nota: 7,0
Fofura e nonsense tornam o filme bom, apesar da propaganda enganosa

Quando o primeiro trailer de Pets: A Vida Secreta dos Bichos chegou ao Brasil (veja ele aqui), ainda no ano passado, fez bastante sucesso. Como o próprio nome do filme diz, ele prometia mostrar o que os animais de estimação aprontam quando seus donos estão fora de casa. E em propagandas em diversas mídias sua produtora reforçou esta imagem. Porém, Pets não é bem sobre isto, ele é na verdade uma história de ação(!), que é revelada (até demais) no segundo trailer (ver no link da ficha técnica acima).

Na história, o cãozinho Max (Louis C.K.) vivia feliz com sua dona, até que a mesma resolve adotar um novo cachorro, o egoísta Duke (Eric Stonestreet). Em uma de suas várias brigas, a dupla acaba se afastando de casa e recolhida pela carrocinha. É então que o coelho Bola de Neve (Kevin Hart) - líder de uma gangue de animais abandonados que quer se vingar dos humanos - os salva em troca deles entrarem para o bando. Conseguir sair da trupe dos "vilões" e achar o caminho de volta para casa é efetivamente a verdadeira história do filme.

O enredo de Pets: A Vida Secreta dos Bichos, portanto, está bem longe de ser algo original, trazendo uma trama já feita em diversos filmes de animação. Aliás, seu roteiro é raso, possui vários exageros e erros de lógica; não traz nenhum grande aprendizado ou lição, ou algum sentimento mais complexo. É pura ação, humor e nonsense.

Por isto tudo, certamente Pets vai agradar mais as crianças que os adultos. Ainda assim, os bichos são todos bem carismáticos, bem fofinhos (fazendo muitas caretas engraçadas) e produzem várias piadas (a maioria física) que divertem bastante. Ou seja, independente de sua idade ou gênero, sua fórmula deve agradar a todos.

Bastante dinâmico, como bônus o filme traz uma ótima e famosa equipe de dubladores (no idioma original, claro); há cerca de 10 nomes que o pessoal fanático por séries de TV estadunidense provavelmente vão reconhecer. O comediante Kevin Hart traz com seu coelhinho Bola de Neve a melhor e mais engraçada das atuações.

Fofo e engraçado, Pets: A Vida Secreta dos Bichos diverte mesmo sendo bem diferente do que foi vendido inicialmente. Além de tudo, é uma bonitinha ode aos envolvidos com o mundo dos animais de estimação, sejam eles os donos ou os animaizinhos. Nota: 7,0

PS: aproveitando que parte dos diretores e escritores são os mesmos dos filmes Meu Malvado Favorito, antes de Pets temos um curta inédito dos Minions...

PS2: ... e durante a primeira metade dos créditos finais há uma cena extra, que também cita os simpáticos bichinhos amarelos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Crítica - Star Trek: Sem Fronteiras (2016)

Título: Star Trek: Sem Fronteiras ("Star Trek Beyond", EUA, 2016)
Diretor: Justin Lin
Atores principais: Chris Pine, Zachary Quinto, Karl Urban, Zoe Saldana, Simon Pegg , John Cho, Anton Yelchin, Idris Elba, Sofia Boutella
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=M3UPP4X2mf8
Nota: 6,0
Saudades de J. J. Abrams...

Desde que J.J. Abrams reinventou a franquia Jornada nas Estrelas para os cinemas em 2009 como produtor e diretor, ele entregou duas ótimas produções: Star Trek (2009) e Além da Escuridão - Star Trek (2013). Porém apesar das boas críticas recebidas os filmes desagradaram parte dos Trekkers por alguns motivos: excesso de cenas de ação, pouca exploração espacial e dilemas sociais característicos da série, e também, a falta de material genuinamente novo, já que na verdade os filmes de J. J. são reinvenções de histórias já contadas pela tripulação clássica formada pelos atores William Shatner, Leonard Nimoy, e companhia.

2013 também foi o ano em que J. J. Abrams mudou de saga espacial e foi trabalhar com o reboot de Star Wars. O lado bom desta perda inesperada é que a Paramount (dona dos direitos dos filmes de Star Trek) poderia aproveitar para buscar nova mentes capazes de aparar estas arestas que incomodavam os fãs mais antigos.

E para comandar o terceiro filme os novos contratados de fato prometeram contar novas histórias e resgatar o espírito da franquia. Simon Pegg assumiu os roteiros (ele também é o ator atual do personagem Scotty) e Justin Lin assumiu a direção. Entretanto, foram escolhas estranhas para cumprir a promessa, já que embora Simon já tivesse experiência como roteirista, ele é especialista em comédias. Já Justin fez fama dirigindo uma das franquias mais acéfalas dos últimos tempos: Velozes e Furiosos.

Eis então que chega aos cinemas Star Trek: Sem Fronteiras. Teriam Simon Pegg e Justin Lin entregado o que prometeram? A resposta é... infelizmente não.

A história até começa de maneira promissora: a nave Enterprise e sua tripulação vão atrás de um chamado de socorro ocorrendo em uma nebulosa desconhecida pela Federação Unida dos Planetas. Ao chegar lá, encontram oponentes com uma tecnologia totalmente diferente da que estão acostumados. Exploração? Confere. Histórias novas? Confere. O problema é que as boas novas param após menos de 30 minutos de filme. Após seu bom começo Star Trek: Sem Fronteiras revela um roteiro simplório, repleto de clichês e composto basicamente de ação frenética e sem muito sentido. Para piorar, uma franquia que prometia mudanças traz pela terceira vez consecutiva um vilão malvado cuja motivação principal é se vingar da Federação.

Somando a tudo isso, Star Trek: Sem Fronteiras tem sérios problemas de ritmo. Exagerando no tom épico, há uma batalha grandiosa e mega barulhenta já no começo da produção. Em vários outros momentos o tom épico e uma altíssima música de ópera voltam, mas nunca como no início. Ou seja, o filme possui vários climaxes e seu maior deles se encontra erradamente em seu começo.

Outro aspecto que me entristeceu bastante é ver a tripulação começar o filme já cansada, com alguns membros já querendo se aposentar. Puxa vida, a franquia mal voltou aos cinemas e eles já começam com o papinho que estão velhos? Um baita tiro no pé.

De qualquer forma, Star Trek: Sem Fronteiras não é ruim. Em termos de ação, o filme é bom, interessante e prende bastante a atenção do público. Outro ponto positivo é o bom humor da produção, presente nos filmes de maior sucesso atuais. Tecnicamente o novo Star Trek é excelente; os efeitos especiais são incríveis; as cenas em que vemos a nave USS Enterprise no espaço são simplesmente deslumbrantes!

O design de produção também é excelente, tudo transmite a sensação de um futuro muito tecnológico, inovador e funcional; há dezenas de espécies alienígenas em cena, e quase nenhuma delas é criada de maneira digital: os atores usam pesadas maquiagens e máscaras, mas tudo aparenta bastante naturalidade e realismo.

Apesar de raso, o roteiro encontra espaço para desenvolver mais os personagens do doutor McCoy (Karl Urban) e Scotty (Simon Pegg), ao contrário dos dois filmes anteriores que basicamente só focavam na dupla Capitão James Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto). Aliás, mais uma vez o elenco desta nova geração de filmes Star Trek mostra sua competência, entregando não apenas boas atuações, mas também boas "imitações" dos personagens originais de décadas atrás. A única exceção fica para Karl Urban: agora com mais espaço, sinceramente não vi muito do antigo McCoy nele.

No ano em que a franquia Star Trek completa 50 anos a Paramount entrega um blockbuster que é um bom arroz-com-feijão mas que lembra pouco a série que a inspirou. Para mim, como trekker, isso é pouco e decepcionante. Como consolo, entretanto, pelo menos Star Trek: Sem Fronteiras não se esqueceu de seu cinquentenário ao conter dentro dele uma pequena mas belíssima homenagem ao elenco original da franquia. E, pelo menos, manteve intacta a maior e mais importante das características imaginadas pelo criador de Star Trek, Gene Roddenberry: o otimismo de que o futuro da humanidade é esperançoso, que um dia iremos viver em uma sociedade muito melhor, mais justa, mais pacífica e funcional do que a atual. Nota: 6,0.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Até breve! Enquanto isto, fique com o melhor do Cinema Vírgula!


Saudações a todos! Devido aos Jogos Olímpicos (assistam!!), e também devido algumas questões pessoais, o Cinema Vírgula não terá mais novos posts neste mês de Agosto. Espero voltar já na primeira semana de Setembro, com a crítica do Star Trek: Sem Fronteiras.

Enquanto os novos posts não vêm, faço um resumo aqui de algumas das melhores publicações deste blog. São posts que exigiram um pouco de estudo e pesquisa de minha parte, são exclusivos deste site, e por isto mesmo, possuem a tag "exclusivo".

Confiram, leiam, e divirtam-se!

Cinema:


TV:

Quadrinhos:


Gostaram? Se sim, se preparem pois em Outubro publicarei mais dois posts desta série exclusiva. Até mais! ;)

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Crítica - Esquadrão Suicida (2016)

Título: Esquadrão Suicida ("Suicide Squad", EUA, 2016)
Diretor: David Ayer
Atores principais: Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto, Viola Davis, Joel Kinnaman, Cara Delevingne
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=8pYp4T8TdP4
Nota: 4,0
Filme ruim com alguns ótimos personagens

Após massiva campanha publicitária, eis que estréia Esquadrão Suicida, a nova aposta da DC Comics. A história, começa citando os eventos de Batman vs Superman: A Origem da Justiça: percebendo a impotência da humanidade frente a super ameaças como as no filme citado, a agente do governo estadunidense Amanda Waller (Viola Davis) resolver criar uma força secreta preparada para enfrentar problemas super-humanos. Eis que através de chantagem ela junta um grupo de super-criminosos para comandar. Entram em cena então o Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Rick Flag (Joel Kinnaman), Magia (Cara Delevingne), El Diablo (Jay Hernandez), Capitão Bumerangue, Katana, Crocodilo e Amarra.

Quem costuma ler meus textos deve ter visto várias vezes eu criticar um filme por não desenvolver seus personagens. Pois Esquadrão Suicida consegue a façanha de ser o contrário. Temos explicações e origens de quase uma dezena deles... mas uma história que justificasse o filme... nada. Basicamente, Esquadrão Suicida é um mosaico de flashbacks dos personagens do filme alternando com muitas e repetitivas cenas de ação. O vilão da história mal aparece em cena, tem motivações estúpidas e possui poderes totalmente inadequados ao que o grupo seria capaz de enfrentar.

Outro fator que me incomodou bastante foi o tom sombrio de Esquadrão Suicida. Parece que no universo DC dos cinemas o Sol não existe, sempre é noite, sempre tudo é escuro, todas as pessoas são violentas e traumatizadas. A fotografia é escura, as cores são desbotadas, com predomínio do preto e do cinza. Ter alguns filmes com tom sombrio tudo bem, mas TODOS serem assim não há público que aguente.

E olha que os produtores até tentaram mudar este tom obscuro... mas de maneira tardia e equivocada. Após as críticas ruins para Batman vs Superman o filme passou por muitas regravações, tudo para "amenizar o tom sério". Porém estas mudanças basicamente foram a inclusão de piadinhas, que claramente foram adicionadas de última hora já que não possuem nenhum contexto com a história que estamos vendo. Desta maneira, as piadas não foram bem sucedidas em fazer rir. Assisti o filme em uma sala de cinema lotada e pouco menos da metade das piadinhas funcionaram, e mesmo assim elas geravam risos contidos. Oras, em um mundo tão sério e tão violento como o de Esquadrão Suicida fica difícil encontrar um clima cômico.

Mas nem tudo no filme é ruim. Se a única coisa que Esquadrão Suicida se propõe é desenvolver seus personagens, há alguns deles bem interessantes. Os atores Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto e Jay Hernandez estão todos muito bem na atuação e em personagens. Viola Davis também é outra que atua muito bem, embora as ações de seu personagem não faça nenhum sentido.

A bela e competente Margot Robbie é a melhor coisa do filme. Sua Arlequina, bastante fiel aos quadrinhos, é realmente insana e é a coisa mais perto de alegria que vemos em cena. Ela seduz, faz as melhores piadas (mas algumas, infelizmente, são bem previsíveis), e acaba servindo de elo para a união dos integrantes do grupo. Mais uma vez Will Smith é o "herói" principal do filme (certeza que isto é cláusula de seu contrato...) e proporciona duas cenas de ação muito legais - as melhores de Esquadrão Suicida.

E o que falar do Coringa de Leto, que recebeu tanta atenção da mídia antes da estréia? Bem, ao contrário da maioria que o reprovou, na minha opinião Jared Leto não brilhou porém se mostrou digno do papel. Como grande qualidade, ele acrescentou para a mitologia do seu personagem a melhor risada/gargalhada deste vilão em todos os tempos. Bastante assustador! Entretanto, quando não está gargalhando, sua versão do Coringa é mais séria e comedida. O vilão mais parece um gangster são e malvado do que alguém realmente insano. Resumindo, as versões de Heath Ledger e Jack Nicholson são melhores, porém a de Leto também é boa e interessante.

Sinceramente, o pensamento que ficou em minha cabeça após o filme foi: "agora que os personagens estão todos apresentados, uma continuação poderia focar apenas na história e aí sim ser um filme bom". A dúvida é: será que vai haver uma continuação? Esquadrão Suicida teve tantas regravações e tamanha campanha de marketing que sua produção ficou muito mais cara que devia. O site Hollywood Reporter diz que para cobrir os gastos o filme precisa chegar a pelo menos US$ 750 milhões de bilheteria.

Com um filme com péssimo roteiro e edição, e interessante apenas em alguns poucos momentos, a DC falhou feio com seu filme de vilões. Sim, é bem difícil fazer um filme deste tipo, mas a Marvel fez algo parecido em 2014 com Guardiões da Galáxia e foi muito bem sucedida. A Warner / DC continua precisando de fortes mudanças. Nota: 4,0 


PS: o filme conta uma cena pós créditos, e a boa notícia é que ela se encontra no meio dos mesmos. Assim, não precisa ficar tanto tempo esperando. :)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Crítica - O Clã (2015)

 
Título: O Clã ("El Clan", Argentina / Espanha, 2015)
Diretor: Pablo Trapero
Atores principais: Guillermo Francella, Peter Lanzani, Lili Popovich
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=B1H6ZyWOgLk
Nota: 7,0
Outro bom filme cuja força aumenta nos fatos reais

Enorme sucesso na Argentina, sendo o segundo maior público da história de seu país, O Clã esteve nos cinemas brasileiros entre Dez/2015 e Jan/2016 mas só agora pude assisti-lo. Baseado em fatos reais, o filme conta a história da família Puccio, embora dando destaque apenas para o patriarca Arquímedes (Guillermo Francella) e seu filho mais velho Alejandro (Peter Lanzani).

Os Puccio - que sempre pareceram uma comum família católica de classe média - chocaram a Argentina ao serem descobertos na década de 80 como os responsáveis por vários sequestros de pessoas ricas de sua vizinhança.

O principal foco de O Clã é mostrar exemplos da bizarra maneira em que os Puccio lidavam com seus crimes gravíssimos como se fossem algo cotidiano. Este tema é muito bem exemplificado no trailer cujo link pode ser acessado acima. E a outra grande qualidade do filme é o ator/personagem Guillermo Francella/Arquímedes. Graças a uma excelente atuação, Arquimedes é um dos maiores vilões que vi nos cinemas nos últimos anos. Sempre calmo, calculista, manipulador... um psicopata do mais alto calibre.

Contando com diálogos e cenas que impressionam - mas quase nunca mostrando violência física - o ótimo roteiro de O Clã é ágil, dinâmico, e faz passar as quase 2h de filme de maneira muito rápida e prendendo bastante a atenção do espectador.

Entretanto, se o conteúdo do roteiro me agradou bastante o mesmo não posso dizer de sua estrutura. Ao intercalar desde o início a história principal com flashes da futura prisão da família, perdemos grande parte do fator surpresa do filme.

Outro ponto que a meu ver melhoraria o enredo seria desenvolver mais o personagem de Arquímedes - e principalmente - suas motivações. A história fornece apenas leves dicas para o que o vilão pensa, quando o mesmo assiste notícias de jornal. Entretanto, fica tudo muito vago, principalmente para nós que não estamos familiarizados com a história argentina dos anos 80.

O Clã não é um daqueles filmes geniais, inesquecíveis. Entretanto, é um bom filme policial/drama cuja história real, esta sim dificilmente será esquecida por quem a assiste. Nota: 7,0

domingo, 24 de julho de 2016

Crítica - Dois Caras Legais (2016)

Título: Dois Caras Legais ("The Nice Guys", EUA, 2016)
Diretor: Shane Black
Atores principais: Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=ct47Twjens0
Nota: 8,0
Uma das melhores comédias do ano

Talvez o nome do diretor deste filme, Shane Black, não lhe seja muito familiar. E tudo bem, afinal este é apenas seu terceiro trabalho na direção. Entretanto, este cinquentão estadunidense é um importante roteirista de filmes de ação e comédia: por exemplo são dele os roteiros dos quatro filmes da franquia Máquina Mortífera.

A estréia de Shane como diretor veio no excelente Beijos e Tiros (2005), também uma aventura policial repleta de humor, onde um detetive bruto (o personagem de Val Kilmer) se junta a um idiota (o personagem de Robert Downey Jr.) para resolver a enrascada em que ambos estão metidos. A fórmula de Dois Caras Legais é exatamente a mesma, e o resultado continua ótimo e divertidíssimo. Agora, é Russell Crowe quem faz o tira durão e é Ryan Gosling que interpreta o personagem estúpido (e muito engraçado).

Assim como em Beijos e Tiros, um ponto forte do filme são os conflitos que resultam da constante interação entre dois personagens tão distintos. Ainda comparando os dois filmes de Black, o primeiro tem um enredo melhor, ao quebrar com muita inteligência e humor dezenas de clichês do gênero de filmes policiais. Dois Caras Legais também até ri um pouco de si mesmo, mas ele é melhor nas atuações: somados, Gosling e Crowe vão melhor que Downey Jr. e Kilmer. Considerando prós e contras, um empate de dois filmes bem engraçados.

Na história Healy (Crowe) e March (Gosling) começam se estranhando, mas acabam descobrindo que possuem um mesmo objetivo: encontrar uma garota desaparecida. A dupla conta com a ajuda da filha de March, Holly (Angourie Rice), que possui bem mais cérebro que o pai (ah, o filme Beijos e Tiros também tinha uma mulher completando o trio principal, mas ao invés de uma menina, era uma mulher adulta, a bela e charmosa Michelle Monaghan).

Se passando nos bastidores do mundo da pornografia de uma Los Angeles de 1977, o filme tenta - mas levemente - simular as produções da época usando trilha sonora e letreiros de formatos característicos. Como todo bom filme policial, Dois Caras Legais possui muitas - e boas - cenas de ação. Mas o aspecto mais característico da produção é mesmo o humor. Piadas são feitas o tempo todo!

Como ressalva, o humor de Dois Caras Legais está longe de ser inocente. Sim, o filme conta com piadas bobinhas, piadas físicas, mas também conta com muitos palavrões e humor negro. Não chega a ser um filme de Tarantino, mas em um nível bem menor o roteiro também usa mortes chocantes e sangue para fazer rir.

Há pouco do que criticar em Dois Caras Legais. Ainda assim, um ponto fraco me marcou bastante: Kim Basinger. Ela tem uma atuação pequena - mas importante - e é triste ver o quanto a mesma se encontra envelhecida e atuando tão mal. Sua atuação é praticamente desprovida de expressões e sentimentos, muito diferente dos atores com quem ela contracena.

Gosta de filmes policiais repletos de humor e violência? Este é seu filme! Dois Caras Legais mal foi divulgado no Brasil, mas é uma grata surpresa e uma das melhores comédias do ano. Nota: 8,0.


PS: parece meio óbvio, mas vou ressaltar. Se você gostou deste Dois Caras Legais, corra assistir Beijos e Tiros que é tão bom quanto!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Review 6a Temporada de Game of Thrones: 4 prós + 4 contras + 2 teorias


Já faz um tempinho que a sexta temporada de Game of Thrones acabou, e enfim resolvi dar meus pitacos. Este ano o seriado foi de longe o mais distinto dos demais por um simples motivo: agora não há mais livros para os roteiristas da série seguirem. Isto gerou fatos positivos e negativos, que mostrarei a seguir.

Optei por fazer meus comentários em uma lista dez itens: quatro "prós", quatro "contras", e por fim termino com duas teorias para o futuro. Notem que apesar de "prós" e "contras" terem o mesmo número, isso não quer dizer que não gostei da sexta temporada. Pelo contrário, ela foi muito boa, como sempre. Apenas que a meu ver ela empata com a temporada 5 como sendo a "menos boa".

Nem preciso dizer que a partir de agora meu texto terá muitos SPOILERS. Portanto, só continue a ler se você já assistiu todos os 60 episódios da série até agora. Vamos à lista!

1. Contra. Diálogos fracos e personagens abandonados
Sem os livros de George R. R. Martin como base os diálogos decaíram um bocado. Com exceção do núcleo de Porto Real onde continuamos com conversas afiadíssimas de personagens como Cersei e as mulheres Tyrell, os outros núcleos se enfraqueceram. O núcleo em Meereen também teve alguns bons momentos, mas os demais pioraram em seu todo.
Vários personagens também sofreram com a mudança. Jaime e Tyrion Lannister, Jon Snow, Brienne... todos estes foram mais decorativos do que pessoas ativas na trama.

2. Pró. Girl Power!
Se vários personagens perderam espaço e personalidade, não se pode dizer o mesmo de Arya, Cersei, Daenerys, Sansa e Margaery. As cinco amadureceram bastante durante a temporada e todas proporcionaram momentos memoráveis!

3. Contra. Melisandre vs Davos
A bruxa Melisandre foi de longe a personagem mais apagada desta temporada. Mas o pior nem foi seu enfraquecimento, e sim a maneira com que a relação dela com Sor Davos se desenvolveu. A temporada começa com um Davos todo simpático à feiticeira, ajudando-a recuperar a auto estima e com isto ressuscitar Jon Snow. E os dois permanecem amiguinhos até o nono episódio. Eis então que no episódio final da temporada Sor Davos fica indignado com Melisandre, querendo até matá-la por ter sacrificado a Shireen. Ok, uma "desculpa" para este completo nonsense é que o Cavaleiro das Cebolas só teria descoberto o sacrifício quando viu o brinquedo da garota na fogueira, imediatamente antes da batalha contra os Bolton. Só que esta explicação é ainda pior! Então a garota que ele considerava uma filha morre e ele sequer se interessa em saber como ela morreu? Poupe-me.

4. Pró. Hodor!
Como qualquer pessoa do mundo, sempre me simpatizei com Hodor. Porém, o que eu jamais esperaria é que ele tivesse um fim tão importante e tão heróico. Em uma temporada em que tivemos poucas surpresas e muitos "finais felizes" a morte de Hodor foi um dos momentos mais surpreendentes do seriado até agora.

5. Contra. Arya
Presenciar uma Arya enfim resolvida da vida, com poderes, e retomando o seu ciclo de vingança foi sensacional. O problema foi a modo que ela chegou à isto, que beira o absurdo. Notem: a garota Stark resolve trair um grupo de assassinos profissionais, e após o fato ao invés de fugir ela fica passeando despreocupadamente pelas ruas da região. Depois, ela é ferida mortalmente na barriga e o ferimento acaba lhe trazendo menos problemas que um corte de papel no dedo. Finalmente, após ela conseguir matar a garota responsável por puni-la ela simplesmente se apresenta diante de Jaqen H’ghar, que ao invés de matá-la aparenta estar feliz com tudo o que aconteceu. Não bastando tantas contradições, quando ela se tornou tão boa nos poderes da casa dos Homens Sem Rosto? Afinal, antes dela levar as facadas ela estava tendo grande dificuldade para cumprir qualquer tarefa que lhe era determinada.

6. Pró. A Batalha dos Bastardos
Primeiro, falando em termos de cinematografia. "A Batalha dos Bastardos" foi de longe a melhor batalha da série até então. Figurino, roteiro, cenas de ação. Tudo sensacional. E os trechos com Jon Snow sendo esmagado de maneira angustiante foi algo inesperado e genial! Só teve um detalhe que não aprovei em toda a luta: o gigante ficar "parado" por minutos, repetitivamente apenas dando "tapinhas" nas lanças do inimigo.
Tão sensacional quanto a batalha foi o fato de termos visto Ramsay Bolton morrer. Conforme eu comentei com alguns amigos no início desta temporada, se Ramsay morresse eu já ficaria plenamente satisfeito com a série... Jon Snow, Daenerys, Tyrion... qualquer herói poderia morrer desde que Ramsay morresse também! kkkk

7. Contra. Jon Snow
Se há uma coisa que George R. R. Martin deixa bem claro em seus livros é que não se volta da morte sem graves consequências. É o que vemos claramente no seriado acontecendo com Beric Dondarrion e Gregor Clegane, e que também acontece nos livros com Lady Stark. E não é que Jon Snow morre e volta a vida sendo exatamente o mesmo boboca inocente que era antes? Para mim isto é inaceitável. Eu duvido que quando o sexto livro seja enfim publicado o Jon Snow da literatura tenha este mesmo comportamento passivo.

8. Pró. As histórias se convergem para um fim
O fato da série ter ultrapassado os livros também teve sua vantagem: os roteiristas já vislumbram o final da série e caminham para ele. Game of Thrones contempla vários núcleos, cada um composto de dezenas de personagens, e que dificilmente se conectam. E nesta temporada todos os núcleos começam a convergir para uma única história. Ao invés de criar novos mistérios, a série começa a responder as dúvidas levantadas, e agora tenho esperança de que todas as pontas soltas serão realmente explicadas até o final da série! E o melhor de tudo, sabe aqueles personagens que nunca se encontraram mas você sempre torceu para que isto acontecesse? Pois então... Jon Snow se reuniu com Sansa, Daenerys enfim começou a interagir com pessoas de Westeros (os Greyjoy por exemplo) e estas reuniões estão apenas começando!!

9. Teoria. Tyrion Targaryen
No começo nem eu acreditei, mas estudando a respeito passou a fazer sentido. O anão Tyrion teria sangue Targaryen. Mas como isto é possível? Bem, dentro de toda a série só há uma suposta pista para esta afirmação: pouco antes de Tyrion matar Tywin, seu pai diz: "você não é filho meu". Porém nos livros as (supostas) evidências são maiores. Em primeiro lugar, é dito que a mãe de Tyrion morava em Porto Real. Desta maneira, ela se encontrava com o "Rei Louco" com frequência. Para piorar o livro diz através de Sor Barristan Selmy que o rei Aerys II tinha desejos pela esposa de Tywin. E aí a teoria diz que o anão seria filho dos dois, seja por estupro ou maneira consensual. Outro indício é a aparência de Tyrion descrita nos livros, com "fios loiros quase brancos". E cabelos brancos são de que família mesmo? Finalmente isto explicaria porque Tyrion sempre sonhou com dragões e porque ele não foi atacado quando libertou os dragões da Daenerys.
Notem que se este fato se confirmar, ele poderá trazer uma consequência bombástica. Na profecia que Cersei ouviu da bruxa quando criança, a última profecia diz que ela seria morta pelo seu irmão mais novo. E embora sejam gêmeos, Cersei nasceu segundos antes que Jaime. Será que Cersei será morta pelo seu grande amor?

10. Teoria. Bran Stark é o "grande vilão" da história
Calma (risos). Definitivamente Bran é uma pessoa boa e bem intencionada. Entretanto, foi graças a ele que Hodor perdeu a inteligência, e por ele já se sacrificaram Jojen Reed, Hodor e o Corvo de Três Olhos. Aliás, a morte do Corvo era um sonho de séculos dos Caminhantes Brancos que só foi possível graças a ele.
Vimos que as visões de Bran podem alterar as pessoas no passado, e o episódio com Hodor perdendo a sanidade abriu espaço para teorias bem chocantes: no final da temporada vemos Bran tendo visões envolvendo o Rei Louco Aerys II... Esta teoria afirma que estas visões de Bran teriam sido o fator que levou o antigo Rei à loucura. E as coisas pro lado do Bran pioram mais ainda: como já foi dito em vários momentos da série, os Caminhantes Brancos não conseguem atravessar a Muralha devido à proteções mágicas. A teoria "anti-Bran" também diz que quando ele chegar na Muralha esta proteção não terá mais efeito, já que o garoto encostou no Rei da Noite (e foi isto que permitiu os "branquelões" a encontrar a do localização do Corvo de Três Olhos).


E aí, o que vocês acharam desta temporada? E principalmente, o que vocês acham destas duas teorias? Gostaria bastante de ver o que vocês acham delas nos comentários!

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

Título :  Em Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017) Diretor : Edgar Wright Atores principais : Ansel Elgort, K...