sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Crítica - Ponte dos Espiões (2015)

TítuloPonte dos Espiões ("Bridge of Spies", EUA, 2015)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Amy Ryan, Scott Shepherd
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=I-G9WsuVv-A
Nota: 7,0
Outro bom filme histórico entregue por Spielberg

Steven Spielberg retorna ao assunto guerra, porém de maneira menos explícita. Saem as batalhas e a violência e entramos no mundo de espiões na Guerra Fria no final dos anos 50 / início dos anos 60. Na história de Ponte dos Espiões, um velho espião russo de nome Rudolf Abel é capturado agindo em solo estadunidense. Ele vai a julgamento, e para defendê-lo é convocado o advogado James B. Donovan (Tom Hanks). Posteriormente, Rudolf é sugerido como moeda de troca por um espião americano capturado na União Soviética, e Donovan parte para a Alemanha participar das negociações.

O filme se divide então em duas partes bem distintas, e igualmente interessantes. Na primeira, temos um filme de tribunal. Porém, longe de enfadonhos debates jurídicos, este ato é contado sobre o ponto de vista cotidiano de Donovan. Mais ainda, é a luta de um indivíduo honesto contra toda uma sociedade preconceituosa. Uma boa e corajosa maneira de vender o american way of life fazendo auto-críticas e sem exagerar no patriotismo.

Na segunda parte, a tensão aumenta bastante, e aí temos a jornada de James agindo literalmente sozinho em Berlim, justamente no mesmo momento em que o Muro está sendo construído.

Se você gosta de História e espiões, certamente vai gostar bastante de Ponte dos Espiões. O fato de se basear em fatos reais, ter diálogos inteligentes e bastante bem humorados (roteiro dos irmãos Coen), contar com ótimas atuações e personagens de Tom Hanks e Mark Rylance; tudo isto é bastante agradável.

Ponte dos Espiões é, portanto, um bom filme. Mas poderia ser melhor se Spielberg não fosse tão piegas e tão exagerado. Exemplos? Nos discursos mais bonitos de Donovan, textos bastante inspirados, eis que surge aquela trilha sonora altíssima "épica" dizendo para o espectador burro que agora é momento de se emocionar. Em uma bela tomada em que se percorre o muro de Berlim sendo montado tijolo a tijolo e separando instantaneamente famílias e amigos, na sequencia vem uma cena de "como os soldados alemães são maus". Ou ainda, um desfecho de final feliz não basta para o diretor americano. São dois. Um mais piegas que o outro.

Ponte dos Espiões é mais um bom filme entregue por Spielberg, feito para agradar qualquer tipo de público adulto. Porém mais uma vez o diretor perdeu a chance de fazer um filme marcante. Desde 2005, com seu Guerra dos Mundos, todos os seus filmes (com exceção de Munique, também de 2005), possui exatamente os mesmos problemas que apontei no parágrafo anterior. É por isto que Steven não entrou na minha lista de Diretores Preferidos da Atualidade e continuará não entrando. Nota: 7,0

PS: na foto deste post vemos Steven Spielberg, Angela Merkel e Tom Hanks na frente da ponte-título do filme.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crítica - A Colina Escarlate (2015)

Título: A Colina Escarlate ("Crimson Peak", EUA, 2015)
Diretor: Guillermo del Toro
Atores principais: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=c2SbrLVGORM
Nota: 4,0
Esmero visual e na produção não salvam o filme do tédio

Em termos visuais, como sempre, a nova obra de del Toro é irretocável. E desta vez ajudada por um motivo bem particular: a assustadora mansão onde A Colina Escarlate foi rodada é uma casa real, especialmente construída para o filme. O design de produção é fantástico, e a casa, ao mesmo tempo traz medo e admiração, bastante admiração!

Na história, Edith (Mia Wasikowska) é uma jovem solteira, filha de um rico empresário, e sem nenhum interesse pela vida social. Eis que aparecem em sua cidade, vindo da Inglaterra, os estranhos irmãos Thomas e Lucille Sharpe (Tom Hiddleston e Jessica Chastain). Não demora muito para que Edith seja seduzida por Thomas, e que ambos se mudem para as terras dos Sharpe, onde há a decadente e assustadora mansão descrita no parágrafo anterior.

Um dia antes da estréia do filme, com receio de ser mal interpretado, o diretor Guillermo del Toro foi em seu Twitter e avisou: se trata de um "romance gótico", e não um filme de terror. De fato, o mexicano descreveu bem A Colina Escarlate. Ele é bem mais um drama/romance do que terror. Mas, como espectador, mesmo se preparando para assistir então este gênero de filme, não há como se preparar para a monotonia que vem a seguir.

Não demora muito para entendermos o que está acontecendo, e o que os irmãos Sharpe estão tramando. Todos os "mistérios" da mansão e dos sombrios irmãos são revelados em pouco tempo. Entretanto, cada mesmo segredo é "revelado" dezenas de vezes. Tudo é tão explicado, e tantas vezes, que não tem como A Colina Escarlate deixar de ser enfadonho.

Basicamente, o filme traz uma história mediana que poderia ser contada em 30 minutos, mas é contada em 2 horas. O clima de terror e os fantasmas poderiam dar uma "apimentada" em A Colina Escarlate, mas não o fazem. Principalmente porque já no começo do filme aprendemos que os fantasmas (que são visualmente maravilhosos... impressionantes, misturando beleza e terror) são na verdade amigos de Edith, apenas querem ajudá-la, e não o contrário.

Para contribuir ainda mais com a chatice do filme, Mia Wasikowska e Tom Hiddleston têm atuações bem contidas e repetitivas (embora eficientes); é apenas Jessica Chastain que traz um pouco de brilho ao filme, com uma atuação bem mais imponente e convincente.

De algo que poderia ser o grande filme de terror do ano, o que temos é um romance de época enfadonho em que apenas seu belíssimo visual e Jessica Chastain trazem algum atrativo. Confesso estar surpreso, é o primeiro filme de Guillermo del Toro que não gostei. Nota: 4,0

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crítica - A Visita (2015)

Título: A Visita ("The Visit", EUA, 2015)
Diretor: M. Night Shyamalan
Atores principais: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Uo5o_5tJKdk
Nota: 5,0
Shyamalan repete a fórmula que o consagrou... e novamente sem bons resultados

O diretor M. Night Shyamalan estourou nos cinemas com O Sexto Sentido (1999) utilizando o seguinte recurso: roteiro de suspense/terror com uma grande revelação/reviravolta nos momentos finais. A partir de sua obra prima, foram mais 5 filmes seguidos utilizando a mesmíssima fórmula: Corpo Fechado (2000), Sinais (2002), A Vila (2004), A Dama na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008). E a cada novo lançamento, bilheteria e crítica eram (de maneira justa, aliás) piores que o anterior.

Cada vez inspirando menos confiança dos produtores e público, Shyamalan até tentou mudar: abandonou o mistério e o suspense e investiu em dramas de ação. Vieram então O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013), ambos fracos.

Então chegamos aos dias de hoje. Será que o indiano iria tentar uma 3ª fórmula diferente desta vez? Que nada, ele voltou ao seu formato inicial! Em A Visita, os adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) viajam para passar uma semana na casa dos avós e conhecê-los (como a mãe deles não fala com os pais há 15 anos devido a uma briga, Becca e Tyler irão encontrá-los pela primeira vez). Inicialmente simpáticos, os velhinhos vão se mostrando a cada dia mais estranhos. O que será que há de errado com eles?

Se A Visita segue o mesmo formato do suspense + reviravolta, há duas principais diferenças do mesmo em relação aos filmes anteriores de Shyamalan. Pela primeira vez desde 1999 ele trabalha sem estrelas hollywoodianas (após fracassar várias vezes, é o que acontece...), e também, agora temos um filme em grande parte filmado "em primeira pessoa". Com a desculpa de que Becca está fazendo um documentário, muitas cenas são filmadas "na mão" por uma das duas crianças. Ao mesmo tempo que esta estratégia aumenta com sucesso a tensão na trama, por outro lado, estamos na verdade diante de uma simulação de "câmera amador" já que as imagens são em geral fixas, pouco tremem, estão sempre com foco e iluminação adequadas... isso mesmo quando o câmera está em movimento (ou seja, quem realmente filmou não estava com uma simples camerazinha na mão, e sim, com uma estrutura bem mais elaborada por trás dando suporte).

Há de se elogiar que o clima de suspense é muito bem montado em A Visita. A tensão vai crescendo minuto a minuto, reforçada com competência com cada nova "bizarrice" dos avós. Pena que todo este bom desenvolvimento morre quase que instantaneamente após a "revelação surpreendente". Aliás, a tal "grande surpresa" faz bastante sentido, amarrando bem todas as dicas dadas ao espectador ao longo da projeção. O problema então não é a revelação em si, mas o que acontece após ela. São pelo menos mais 25 minutos de monotonia e constrangimento. Terrível!

Em termos de atuações, enquanto as atrizes estão muito bem, os rapazes (neto e avô) não convencem e atuam mecanicamente. Tecnicamente, apenas a fotografia merece alguns elogios, o resto não me chamou atenção positivamente.

Se para mim A Visita é mais uma "bomba" de Shyamalan, pelo menos em termos de recepção o filme é um bom respiro para a carreira do diretor. Primeiro porque - reconheço - este filme é menos ruim que os últimos dele (na verdade o filme tem recebido elogios moderados da crítica especializada e do público). E segundo porque no momento em que escrevo este texto a bilheteria mundial de A Visita se aproxima dos US$ 85 milhões, sendo que o filme - de baixíssimo orçamento - só custou US$ 5 milhões. Ou seja, com este ótimo lucro, ainda veremos mais Shyamalan no futuro. Rumores recentes dizem que seu próximo projeto irá focar no sobrenatural e contará com James McAvoy (o Xavier da nova trilogia X-Men) no papel principal. Nota: 5,0.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica - A Travessia (2015)

Título: A Travessia ("The Walk", EUA, 2015)
Diretor: Robert Zemeckis
Atores principais: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon, Ben Kingsley
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Tra7otLWtQ8
Nota: 7,0
Incrível história que deve ser vista nos cinemas e em 3D

As Torres Gêmeas de Nova York acabam de ser inauguradas (ou melhor, embora já em funcionamento, parte da segunda torre ainda nem foi finalizada). O que você pensaria sobre um maluco que resolvesse atravessar os dois prédios andando sem nenhuma proteção por um fio de arame pendurado entre eles? E mais, esta seria uma ação ilegal, claro. Além de ferir vários artigos da lei, as Torres possuem um sistema de segurança e monitoramento consideravelmente forte, o que torna a tarefa muito mais difícil de ser feita. Alguém conseguiria realizar tal façanha?

Pois então. Por mais absurda que seja a última pergunta acima, a resposta é que em 1974 o artista Philippe Petit protagonizou o feito. Foi o primeiro e único homem a se equilibrar entre as famosas Torres. E é a história desta realização que vemos em A Travessia.

Embora seja focado na vida do personagem de Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), a história se concentra quase em sua totalidade na ação que culminou nesta famosa travessia. Para realizar a caminhada, Petit contou um número razoável de ajudantes, dos quais no filme apenas se destacam a cantora e namorada Annie (Charlotte Le Bon) e o também artista equilibrista e seu mentor Papa Rudy (Ben Kingsley).

Contada em um ritmo acelerado, não tem como uma história tão incrível como esta ficar desinteressante. Portanto, assistir A Travessia é sem dúvida uma experiência bastante agradável. Entretanto, o desenvolvimento da trama poderia ser melhor. Narrado em primeira pessoa, cenas de um Petit "após a travessia" em cima da Estátua da Liberdade são inseridas várias vezes ao longo da projeção, quebrando o ritmo do filme. Esta escolha também joga contra no sentido em que sabemos desde o primeiro momento que "tudo vai dar bem no final", diminuindo a tensão. Além disto, o desenvolvimento de qualquer outro personagem a não ser o do Phillippe e sua obsessão pelo seu sonho de travessia é solenemente ignorado.

O diretor Robert Zemeckis (da trilogia De Volta Para o Futuro) prometera para A Travessia uma revolução visual. Uma sensação de "estar acima das Torres" como nunca se vira antes. De fato, o filme é ótimo neste sentido, sua grande qualidade. As tomadas são filmadas com grande número de ângulos e variações. Temos cenas onde observamos Philippe de baixo pra cima, de cima pra baixo, com zoons e movimentos de câmeras diversos. A computação gráfica que envolve as cenas acima da Torre são simplesmente impecáveis. Perfeitas.

Infelizmente, apesar de tanto primor técnico, pelo menos eu não consegui me sentir "realmente" em cima dos prédios, conforme prometido. Talvez pelo fato de eu não estar em um cinema IMAX 3D (aonde esta sensação foi prometida). Mesmo assim, estive em um bom cinema 3D, e aviso: A Travessia é um filme que vale bastante a pena em ser assistido em 3 dimensões. Não temos aqui "objetos jogados na cara do espectador", ou ainda, planos muito longos onde seja possível explorar uma enorme noção de profundidade. Mas mesmo assim, a sensação de 3D está presente no filme todo. Muito admirável! E mais ainda, se eu não me senti literalmente "lá em cima", foi quase. Foram vários minutos de angústia e arrepios observando Petit pendurado sob as Torres. E sim, o francês ficou um tempão lá em cima sob os fios - assistam o filme para entender porque.

Em termos de atuações, Joseph Gordon-Levitt continua impressionando. Americano, ele fala com um sotaque francês que convence na maioria das cenas. Levitt não é fisicamente parecido com Philippe Petit, nem com seus trejeitos. Mas mesmo assim, convence como artista equilibrista (ele aprendeu a andar sob cordas durante as filmagens tendo aulas com o verdadeiro Philippe) e principalmente, convence na atuação, demonstrando de forma crível as emoções sentidas pelo personagem.

A Travessia é uma história interessante, que exemplifica bem o espírito de coragem, força e destemor do ser humano. Também dá cutucadas bacanas afirmando sobre o que é ser um "verdadeiro" artista. É uma aventura que deveria ser conhecida por todos e - principalmente - da maneira em que o filme foi feito, só faz verdadeiramente sentido vê-lo nos cinemas. E em 3D. Nota 7,0.


PS 1: se não "revolucionou", pelo menos o realismo visual de A Travessia impressionou. E a Sony aproveitou para promover seu filme utilizando esta tecnologia. Nestes vídeos podemos ver a bacana promoção feita nos EUA e até aqui no Brasil.

PS 2A Travessia é a mesma história contada pelo documentário O Equilibrista (2008), grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2009. Para quem gostou da história de Philippe Petit, eis uma grande oportunidade de se aprofundar no assunto, assistindo outro filme sob formato completamente diferente.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Uma análise de todas as Graphic Novels do Maurício de Sousa até agora - Parte 3 de 3


E depois da Parte 1 e Parte 2, finalmente a tão aguardada terceira e última parte. Confiram!

7 - Penadinho: Vida
Artistas: Paulo Crumbim e Cristina Eiko (roteiro e desenhos)
Lançamento: Maio de 2015
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Antes de comentar sobre a história, preciso comentar sobre a arte. Ela é um pouco infantil, mas maravilhosa, principalmente na colorização. Penadinho (e os demais fantasmas), literalmente brilham nas páginas. O impacto visual é realmente impressionante. Na história, Alminha é raptada por um estranho cientista que transforma fantasmas em perfume. Penadinho e sua turma vão, é claro, ao resgate da moça. A história não é muito inovadora, mas mesmo assim, bacana e ágil. Misturando drama e humor, a grande qualidade do roteiro é ser romance e história de origem ao mesmo tempo.

8 - Turma da Mônica - Lições
Artistas: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro e desenhos)
Lançamento: Julho de 2015
Nota (1 a 5): 5
Comentários: Quem pensava que o espetacular trabalho dos Cafaggi em Laços seria inigualável, se enganou. Vitor e Lu criam aqui outra verdadeira obra de arte. Toda a beleza e delicadeza de roteiro e arte presentes em Laços se repetem aqui em Lições. E o climão dos anos 80 com direito a garotos valentões na escola também. Nesta continuação, a turma esquece de fazer a lição de casa, e após alguns desentendimentos, os pais acabam separando o quarteto. Então cada um precisa aprender a se virar sozinho, algo não muito comum na biografia destes personagens. Neste processo temos então só agora - e não no volume anterior - a apresentação através de flashbacks sobre como eles se tornaram amigos pela primeira vez. Belo e emocionante, de rolar lágrimas!

9 - Turma da Mata - Muralha
Artistas: Artur Fujita (roteiro), Roger Cruz (arte) e Davi Calil (cores)
Lançamento: Setembro de 2015
Nota (1 a 5): 3
Comentários: Assim como em Piteco - Ingá, temos uma grande alteração nos personagens de Maurício de Sousa. Porém se Piteco foi abrasileirado, em Muralha a Turma da Mata infelizmente vira uma mistura de quadrinhos de ação japoneses com estadunidenses; samurais com steampunk. Não a toa, os desenhos são de Roger Cruz, que já desenhou para os X-Men e Homem-Aranha dentre outros.
Na história, Leonino é um imperador cruel, que vive em constante batalha contra uma resistência formada por Raposão, Coelho Caolho e Tarugo, dentre outros. Raptado pelo império ainda quando criança, Jotalhão vive em conflito entre estes dois mundos.
Muralha é uma história de "vamos derrubar o imperador" com Jotalhão vivendo sua Saga do Herói particular. A história é longa e bacana, porém repleta de clichês. Já os bons desenhos - que algumas vezes chegam a lembrar cenas de cinema - nas lutas do ato final são bem confusos em alguns momentos, ficando difícil entender o que aconteceu exatamente. O resultado é um trabalho interessante, mas que assim como em Chico Bento - Pavor Espaciar, o uso dos personagens da Turma da Mônica é algo totalmente irrelevante para a trama.


E tem mais!
Já foram anunciados mais 2 novos títulos pra fechar a "fase 2" iniciada em 2014 com Bidu - Caminhos. Até o final do ano teremos Louco, por Rogério Coelho. Já Papa-Capim, por Marcela Godoy e Renato Guedes provavelmente só chegará no primeiro semestre de 2016.

Resumindo...
Seguem os 9 títulos e suas respectivas notas somadas as 3 partes:
  • Astronauta - Magnetar: Nota 3
  • Turma da Mônica - Laços: Nota 5
  • Chico Bento - Pavor Espaciar: Nota 2
  • Piteco - Ingá: Nota 4
  • Bidu - Caminhos: Nota 3
  • Astronauta - Singularidade: Nota 4
  • Penadinho - Vida: Nota 4
  • Turma da Mônica - Lições: Nota 5
  • Turma da Mata - Muralha: Nota 3

... e concluindo
Se você ainda não leu Laços e Lições dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi parem AGORA o que estão fazendo e vão atrás destas obras primas! ;)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Uma análise de todas as Graphic Novels do Maurício de Sousa até agora - Parte 2 de 3


Continuando o texto anterior, seguem mais 3 edições da coleção Graphic MSP.

4 - Piteco - Ingá
Artista: Shiko (roteiro e desenhos)
Lançamento: Novembro de 2013
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Ao associar a história com a pedra pré-histórica Ingá, localizada na Paraíba, Shiko faz a maior alteração dos personagens do Maurício até então. O universo de Piteco - originalmente do hemisfério norte, onde seus cidadãos vivem em cavernas ou casas esculpidas na pedra, enfrentando dinossauros e mamutes - é substituído por uma ambientação nas selvas brasileiras, onde os personagens estão mais próximos dos índios (ok, ainda surgem alguns animais pré-históricos, mas todos brasucas). Piteco é um caçador, e Thuga uma jovem feiticeira, que é raptada por uma tribo rival de olho em seus poderes. É a missão de Piteco para resgatar seu eterno amor não assumido, a história de Ingá.
Não considero tantas mudanças nos personagens como algo ruim. Ao contrário, é gratificante ver uma história de brasileiro sobre brasileiros. Arte e história são boas, e com exceção da luta final - um pouco confusa - o resultado final é um material bem elaborado, superior aos nível dos quadrinhos atuais.

5 - Bidu - Caminhos
Artistas: Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho (roteiro e desenhos)
Lançamento: Agosto de 2014
Nota (1 a 5): 3
Comentários: Caminhos é uma dupla história de origem. Aqui conhecemos como Bidu e Franjinha se encontraram, e também, como Bidu conheceu os cachorros Duque, Bugu e Rúfius. Assim como em Laços (ver Parte 1), Caminhos também possui traços delicados e fofinhos e simula os anos 80. Entretanto, a comparação termina aqui, já que esta história - sob ponto de vista dos cachorros - é bem mais simplória. Com poucos diálogos e poucos quadros por página, os maiores momentos de diversão e emoção vem dos "balõezinhos" de fala dos personagens; já que ao invés de palavras, os cachorros se expressam por desenhos. Curiosamente este detalhe dos balões - a única coisa realmente especial em Caminhos - não estava previsto originalmente pelos autores, foi uma sugestão do editor Sidney Gusman.

6 - Astronauta - Singularidade
Artistas: Danilo Beyruth (roteiro e arte) e Cris Peter (cores)
Lançamento: Dezembro de 2014
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Na continuação de Astronauta - Magnetar agora temos Astronauta acompanhado de dois tripulantes em uma viagem para estudar um buraco negro: uma psicóloga brasileira e um pesquisador estrangeiro que "impôs" sua participação através de sua agência. Já nas primeiras páginas percebemos que o pesquisador não apenas é mal intencionado, como também conhece detalhes da missão que os brasileiros nem desconfiam. Chichê? Sim, até mais do que a história anterior. Porém aqui o roteiro é mais elaborado, e finalmente temos um desenvolvimento maior não só do Astronauta, mas de todo o ambiente que o cerca. Conhecemos o programa espacial brasileiro, novos personagens e algumas curiosidades bacanas. A arte continua bela e adequada e, assim como no capítulo anterior, há momentos em que elas lembram cenas de filmes.


Amanhã tem a parte final, não percam! Mas antes dela chegar, conforme prometido, segue alguns desenhos de Laços:

Laços: a turminha desenhada por Vitor Cafaggi
Laçõs: e quando é flashback (eles quase bebês). os traços são de Lu Cafaggi

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Uma análise de todas as Graphic Novels do Maurício de Sousa até agora - Parte 1 de 3


Se houve algo que fez bem para Maurício de Sousa e sua criação foi sua associação, em 2007, com a Panini Comics. Depois de duas décadas na Globo publicando as mesmas revistas de sempre em formatinho, eis que sob nova editora Maurício nos presenteou com várias novidades editoriais.

Primeiro surgiu o Clássicos do Cinema - revista bimensal que traz em cada edição uma paródia diferente de algum filme famoso. No ano seguinte, 2008, uma grande surpresa: em branco-e-preto, baseado nos mangás japoneses, foi lançado o Turma da Mônica Jovem, com os personagens já adolescentes. Fomos apresentados a surpresas como o namoro de Mônica e Cebolinha (ou melhor, agora ele se chama "Cebola"), e o fato de que embora Cascão e Magali continuam respectivamente um "sujinho" e uma "faminta", agora ele toma banho, e ela, controla o apetite com uma dieta saudável.

Depois de outros vários lançamentos interessantes, a "cereja do bolo" viria somente em 2012, com a coleção Graphic MSP. Citando a Wikipedia: "Graphic MSP é um projeto da Mauricio de Sousa Produções que consiste em histórias dos personagens do estúdio feitas por artistas brasileiros consagrados e com estilos diferentes do padrão das revistas mensais. O nome vem do termo "Graphic Novel" ou Romance gráfico.".

São edições em formato tamanho revista, papel de qualidade e, principalmente, material de alta qualidade! Este texto irá apresentar a vocês todas as nove edições da Graphic MSP até agora. Serão três edições em cada uma das três partes. As notas vão de 1 a 5 (sem ter notas quebradas, como por exemplo 2,5). Vamos a elas?

1 - Astronauta - Magnetar
Artistas: Danilo Beyruth (roteiro e arte) e Cris Peter (cores)
Lançamento: Outubro de 2012
Nota (1 a 5): 3
Comentários: Na estréia do selo Graphic MSP, o maior destaque fica para a muito bem sucedida adaptação do Astronauta "para crianças" do Maurício para um Astronauta "adulto do mundo real". Até mesmo a nave e o uniforme "redondos" foram transformados em algo com design eficiente e crível. A arte é competente, bem apropriada para uma ficção espacial. Já o roteiro, simples e sem falhas, peca na originalidade. Não deixa de uma história de um "náufrago" perdido e sozinho que precisa lutar contra si mesmo para não enlouquecer; tema este já abordado em diversas obras do gênero.

2 - Turma da Mônica - Laços
Artistas: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro e desenhos)
Lançamento: Junho de 2013
Nota (1 a 5): 5
Comentários: Esta obra dos irmãos Cafaggi é tão boa, tão maravilhosa, que terei dificuldades em descrevê-la. Na história, Floquinho desaparece e então Cebolinha, Mônica, Cascão e Magali saem a procura do mascote. Laços fala sobre... laços de amizade. A amizade de Cebolinha com seu cachorro, e a amizade fortíssima do quarteto mais famoso do Maurício. Tudo com extrema delicadeza, sensibilidade e beleza. Laços possui uma ambientação dos filmes infantis de aventura dos anos 80, o que torna a obra ainda mais emocionante para mim, que passei a infância nesses anos. Os desenhos competentes e espetacularmente fofos dos Cafaggi vocês poderão ver na minha "Parte 2". O suspense é proposital para vocês não tirarem esta obra da cabeça!

3 - Chico Bento - Pavor Espaciar
Artista: Gustavo Duarte (roteiro e desenhos)
Lançamento: Agosto de 2013
Nota (1 a 5): 2
Comentários: Gustavo Duarte possui um desenho bem característico: limpo, econômico, caricato, lembrando um pouco desenhos animados "modernos" como Johnny Bravo ou Laboratório de Dexter. Suas páginas possuem poucos quadros (há várias páginas com um único quadro, grande, ocupando todo o papel) e uma ausência quase completa de diálogos. Todas estas características se repetem em Pavor Espaciar, o que torna a obra extremamente rápida para ler. A história é divertida e recheada de referências da cultura Pop, mas é simples demais. E o pior de tudo é que embora seja protagonizada por Chico Bento, Zé Lelé e o porco Torresmo, o que temos é um conto genérico sobre abdução alienígena (pasmem!). Se trocássemos o trio citado por quaisquer outros personagens (ou pessoas), a história seria a mesma. Legalzinha, de Chico Bento o Pavor Espaciar não tem praticamente nada.


E amanhã tem a parte 2. Não percam!

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dupla-Crítica: Quarteto Fantástico (2015) e Corrente do Mal (2014)



Dois filmes que estrearam nos cinemas este ano, mas que já não estão em cartaz. Um, um filme de terror; o outro, um filme de super-heróis que muitos acham um terror. Vamos a eles!


Quarteto Fantástico - "Fantastic Four" (2015)

Diretor: Josh Trank
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=d-UYFoPq4_Q
Atores principais: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey
Nota: 5,0

"Bem ruim, mas ainda assim, menos pior do que falam"

Com diversos problemas em sua produção, o resultado não poderia ser diferente. A nova encarnação do Quarteto Fantástico foi um fracasso de crítica e público. Para os mais críticos, um dos piores filmes de super-herói de todos os tempos; para os mais elogiosos, os dois primeiros atos seguem o estilo de ficção científica e são bons. Concordo apenas parcialmente com ambas vertentes.

Isto porque mesmo em seus dois primeiros terços Quarteto Fantástico também é fraco. Sim, ele até puxa para o lado científico mas de maneira muito desconexa. Tirando o personagem Reed Richards (interpretado de maneira muito boa pelo ótimo Miles Teller), nenhum outro personagem é apresentado e desenvolvido de maneira decente. Da forma com que são colocados, todos os demais personagens são adolescentes arrogantes e mal-humorados desprovidos de qualquer carisma. Não deixa de ser um ato admirável (no mau sentido) em 1h de filme o diretor conseguir desenvolver (e mais ou menos) apenas um de seus vários personagens.

Por outro lado, o filme não deixa de ser mais um repetitivo e razoável filme de origens. Somando todos os prós e contras, ele não é inferior aos dois filmes do próprio Quarteto Fantástico na década passada e chega a ser melhor que filmes como Demolidor (2003), Mulher Gato (2004) e Elektra (2005).

Sobre a briga do diretor Josh Trank com os produtores da Fox, agora opino que ambos estão errados. O segundo por não disponibilizar para esta produção tempo e dinheiro para que ela tivesse história e efeitos especiais decentes (os efeitos não são tão ruins, porém a visualização dos poderes do "homem-elástico" é constrangedora). Já Trank, que diz não ter culpa no resultado final criticando principalmente o último ato, perde sua razão quando vemos que o começo também é ruim e que em sua ideia original o Quarteto sequer se torna um grupo em qualquer momento da história. Quarteto Fantástico entra pra posteridade como exemplo de como não se produzir um filme. Ao mesmo tempo, que há coisas bem piores que ele, há. Nota: 5,0


Corrente do Mal - "It Follows" (2014)

Diretor: David Robert Mitchell
Atores principais: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi
Nota: 7,0

"Filme emula com sucesso os bons filmes de terror dos anos 80"

Corrente do Mal é uma verdadeira imersão aos (bons) filmes dos anos 80. Não apenas pela ambientação (a história se passa nesta época), mas também pela sua temática (adolescentes são "punidos" por fazer sexo) e pelo vilão (que não é exatamente um "fantasma" (tipo de terror em moda atualmente), e sim um perseguidor "quase" de carne e osso que consequentemente está sujeito as regras normais da física que conhecemos.

Curiosamente, o ponto fraco de Corrente do Mal é sua história, mais especificamente na sua própria mitologia e no seu desfecho. Apesar de tudo, a história é desenvolvida de uma maneira bem bacana: ela abre espaço para discussões morais e ainda foge de alguns clichês quando faz que seus personagens não sejam "tão burros" (eles conversam entre si sobre o que está acontecendo, e tentam montar planos).

Aliás, o filme é bem dirigido: a fotografia é muito bonita, o constante clima de tensão é bem construído (que espectador não fica nervosamente caçando pela "coisa" nos planos abertos, para ver se a encontra?), e até algumas atuações são boas, principalmente da protagonista principal, a bela e jovem Maika Monroe.

Para quem curte terror e suspense, e já está um pouco cansado da fórmula atual dos cinemas, Corrente do Mal é uma boa pedida para ver como eram os bons filmes dos anos 80. Nota: 7,0

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Crítica - Perdido em Marte (2015)

Título: Perdido em Marte ("The Martian", EUA, 2015)
Diretor:  Ridley Scott
Atores principaisMatt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean Bean, Chiwetel Ejiofor
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=QVX5DSzRn14
Nota: 8,0
Um belo filme, e uma ode a inteligência humana

Já fazia um bom tempo... mas enfim o diretor Ridley Scott voltou a acertar a mão! Baseado no livro de mesmo nome do escritor Andy Weir, Perdido em Marte é um filme muito bonito visualmente, equilibrado emocionalmente, uma boa ficção científica e uma verdadeira celebração da engenhosidade e inteligência humana.

Na trama, seis astronautas estão em Marte quando são obrigados a deixar o planeta as pressas devido uma súbita tempestade. E no meio desta correria, o astronauta Mark (Matt Damon) é aparentemente morto por um destroço, sendo então abandonado no planeta por seus companheiros, já que não havia tempo para comprovar sua morte ou não antes da decolagem de emergência. Mas eis que... Mark sobreviveu, e sem perspectivas de resgate em anos, começa a se preocupar em como sobreviver até lá, sendo que ele possui suprimentos apenas para alguns meses.

E então que o filme se divide em duas frentes: uma com Mark tentando sobreviver, e outro com a Nasa tentando resgatá-lo. É como se fosse uma mistura de Apolo 13 (1995) com Náufrago (2010), com uma grande diferença: o tom.

Em Perdido em Marte os personagens dificilmente perdem a calma, tudo é menos dramático, mais contemplativo. E ao mesmo tempo... mais divertido. Com a desculpa de estar sendo filmado para o público da Terra, Mark passa seu tempo conversando com a câmera de maneira animada, fazendo piadas e gracinhas com bastante frequência. Aliás, as cenas com Matt Damon (que ocupam cerca de 1/4 do filme), as vezes chegam a lembrar aulas do Mundo de Beakman. Sem o Lester, claro.

Obviamente, nem tudo são flores. Como sempre há também as crises (sejam por intempéries naturais ou erros humanos) que Nasa e Mark precisam resolver ao longo do filme. Mesmo assim, tudo é mostrado com bem menos drama que em Apolo 13: tudo é mais light.

Mas principalmente, Perdido em Marte é bastante otimista, o que não deixa de ser surpreendente em se tratando de Ridley Scott. É um deslumbre ver a humanidade no espaço, cercada de tanta ciência e competência. As vezes o otimismo é tanto que chega a exagerar (como por exemplo a China abrir mão de um segredo espacial para altruisticamente resgatar o americano).

Com cenas espaciais belíssimas, recheado de bons atores e atrizes (Matt Damon, Jessica Chastain, Jeff Daniels, e Chiwetel Ejiofor são os maiores destaques), trilha sonora discreta mas competente, enquanto assistimos uma ode a nossa capacidade presenciamos algo que agrada bastante os olhos, ouvidos e mente.

Bem preciso cientificamente falando (embora com algum alguns exageros), como "ficção científica de resgate" Perdido em Marte não é "o" melhor filme que já vi, mas chega perto. Certamente agradará bastante os fãs do gênero e também agradará o público em geral. Mas o que vou guardar deste filme é justamente a esperança... o olhar para nossas qualidades, o olhar para nosso futuro. Eu recentemente fiz outro apelo ao otimismo na minha crítica de Tomorrowland. Precisamos elevar nosso espírito. E se isto for feito com filmes tão bem executados quanto este, melhor ainda! Nota: 8,0

PS: ao ser filmado com vários planos com ampla profundidade, Perdido em Marte se torna uma ótima pedida para ser assistido em 3D. Mas cuidado! Vá apenas em cinemas que saibam projetar em 3D (filmes neste formato são naturalmente mais escuros, então precisam ser compensados com mais luz), o que infelizmente não é o caso do Cineflix Galleria Campinas, onde assisti. :(

PS2: e o filme "continua"... No canal "ARES:live" do you tube ainda podemos ver mais 5 curtos vídeos sobre Perdido em Marte. Bem bacana. Dentre eles, temos um vídeo onde vemos os astronautas em Marte antes do acidente, e outro com Neil deGrasse Tyson falando sobre a fictícia missão Ares como se fosse verdadeira, em seu programa Cosmos. A única desvantagem destes vídeos? Estão em inglês, sem legendas.

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