quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Crítica - Chatô - O Rei do Brasil (2015)

TítuloChatô - O Rei do Brasil ("Chatô - O Rei do Brasil", Brasil, 2015)
Diretor: Guilherme Fontes
Atores principais: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Gabriel Braga Nunes, Letícia Sabatella

Apesar dos 20 anos de problemas na produção, Chatô é bom e interessante

Tão importante quanto falar sobre o filme Chatô - O Rei do Brasil é contar sobre a sua complicada história de produção, que já entrou para a história do Cinema Brasileiro.


Chatô - A produção

O ano era 1995. Guilherme Fontes, então com 28 anos, vinha de recentes sucessos na TV e no teatro e era um dos principais galãs das novelas da Globo. Em novembro do mesmo ano ele conseguiria financiamento público de volumosos R$ 12 milhões para realizar o filme Chatô – O Rei do Brasil, baseado no polêmico livro de mesmo nome do escritor Fernando Morais. A previsão era que Chatô fosse lançado em 1997, mas... não saiu. Focado em arrecadar ainda mais dinheiro para tornar seu filme ainda mais grandioso (por exemplo Guilherme tentou trazer o diretor Francis Ford Coppola para ser seu produtor), as filmagens só começaram em 1999. Poucos meses depois viria o grande golpe: graças a uma denúncia de irregularidades na aplicação do dinheiro captado, Chatô seria alvo de investigação judicial.

Chatô – O Rei do Brasil parou. Parte dos patrocinadores - já insatisfeitos com os atrasos - pediam o dinheiro de volta. Dos 12 milhões de Reais prometidos, apenas 8,6 milhões efetivamente vieram. Guilherme Fontes era constantemente criticado pela imprensa e ganhou imagem de ladrão. Mesmo com todos os problemas ele conseguiria patrocínios suficientes para gravar mais cenas em 2002 e 2004. Segundo Guilherme, oitenta por cento do filme estava pronto... mas ainda faltava completar o restante. Sem dinheiro, com problemas e dívidas cada vez maiores, o natural seria entregar Chatô do jeito que estava. Mas não foi o que Fontes fez. Foram mais 11 anos brigando por dinheiro para terminar seu projeto (algumas poucas regravações foram feitas posteriormente com os atores originais já envelhecidos, mas o que faltava mesmo era a pós-produção). E eis que 20 anos depois conseguir o financiamento inicial, para surpresa de todos, Chatô – O Rei do Brasil chegou aos cinemas brasileiros.

Para quem quiser conhecer mais sobre a conturbada história da produção, recomendo a leitura deste artigo da Revista Época. O texto traz uma visão de que todos os problemas que Fontes passou vieram mais da megalomania e irresponsabilidade do ator/diretor do que qualquer desonestidade. Seria isso mesmo? O fato é que Chatô mudou a história do nosso cinema, e depois dele as regras e leis para financiamento de filmes foram bastante alteradas. Por exemplo, hoje o valor máximo de arrecadação depende de quantos filmes e mini-séries o diretor/produtor fez. Sob as regras atuais, o então estreante Guilherme Fontes estaria limitado a apenas R$ 1 milhão se quisesse fazer seu Chatô hoje.


Chatô - A crítica do filme

Chatô – O Rei do Brasil é uma biografia bem humorada e um pouco fantasiosa do empresário Assis Chateaubriand, magnata das comunicações do país dos anos de 1930 a 60, considerado o "Cidadão Kane" brasileiro. O roteiro não é linear, tendo uma edição consideravelmente complexa. No início do filme Chatô entra em coma e, em seu delírio entre a vida e a morte, ele é submetido a um "julgamento" pela sua vida em um programa de auditório estilo Chacrinha. A cada depoimento das "testemunhas", vemos um capítulo da vida do empresário. Vários capítulos seguem uma ordem cronológica, mas nem sempre. E aí conhecemos melhor Chatô: mulherengo, desonesto, chantagista, folclórico e com grande talento político e comercial.

Uma das principais qualidade de Chatô – O Rei do Brasil é seu ritmo. A impressão é que Guilherme Fontes fez de tudo para que seu filme não ficasse chato mesmo percorrendo dezenas de anos da vida do protagonista. E deu certo. Abuso de cenas curtas, diálogos sempre ágeis e bem humorados, o roteiro não linear, tudo é feito para que Chatô seja dinâmico e atual.

Ironicamente, seu dinamismo também trabalha em efeito contrário, gerando os principais problemas de Chatô – O Rei do Brasil: o entendimento dos fatos históricos. Tudo é tão rápido que muitas passagens ficam apenas na "sugestão", sendo confusas ou mal explicadas. O início do filme é especialmente confuso. Por que Chatô está morrendo? O roteiro insinua (erradamente) um acidente de carro. A trombose é real ou fictícia? (e já respondendo, foi real). Para que o filme seja melhor aproveitado, é necessário que o espectador conheça um pouco da biografia de Assis Chateaubriand e de Getúlio Vargas. O que temos na Wikipedia já é suficiente para isto, mesmo se forem lidos apenas pós filme.

Não sei se houve desvio de dinheiro em Chatô. Mas podem ter certeza que enormes quantias foram gastas em figurinos, cenários e locações. A cada 2 ou 3 minutos de filme, roupas, locais, tudo muda. É um verdadeiro desfile. Aliás, o filme é bastante colorido, diria até... carnavalesco.

Chatô – O Rei do Brasil apresenta também várias atuações interessantes. Mais ainda, é como se o filme fosse uma máquina do tempo. Filmado em até 16 anos atrás, muitos atores estavam em evidência na época, mas hoje estão "sumidos" (por exemplo, Andréa Beltrão, que tem uma atuação encantadora); alguns até já faleceram (Walmor Chagas e José Lewgoy).

Com qualidades e defeitos devido seu ritmo acelerado, Chatô – O Rei do Brasil não é um grande filme, mas é bom e interessante. E pelos tantos problemas que teve, é portanto uma vitória de Guilherme Fontes. Aliás, o diretor disse que tinha material suficiente para um filme de 2h20min (foi finalizado em 1h45min). Será que esta versão mais longa corrigiria os problemas de Chatô? Acho que nunca saberemos. Mas o que sabemos hoje é que Chatô – O Rei do Brasil terminou sua longa história de maneira satisfatória. Nota: 6,5.


O ator/diretor/produtor Guilherme Fontes há 20 anos atrás (esq) e hoje (dir)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Crítica - 007 Contra Spectre (2015)

Título007 Contra Spectre ("Spectre", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Sam Mendes
Atores principais: Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Andrew Scott
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=a7TBd8YPqLo
Nota: 5,0
Possível despedida de Daniel Craig como Bond é um filme longo e insosso

007 Contra Spectre é o quarto filme da série James Bond com o ator inglês Daniel Craig como protagonista. Na trama, Bond descobre que tudo de ruim que aconteceu nos três filmes anteriores tinha como executora uma mesma e única organização criminosa, a então desconhecida SPECTRE, comandada pelo vingativo Blofeld (Christoph Waltz). Sozinho, e sem apoio da MI6, James tenta desesperadamente desmontar a organização antes que seja tarde demais.

Como tem sido padrão nos últimos filmes da franquia, a cena de ação inicial é grandiosa, empolgante, excelente. Certamente a que mais consumiu orçamento. Desta vez, vemos 007 perseguindo um chefe criminoso em plena festa do Dia dos Mortos, no México, com direito a uma tensa sequencia dentro de um helicóptero. Após a ótima introdução, somos apresentados aos créditos iniciais, também muito interessantes, com um visual arrebatador e uma bela canção-tema por trás.

007 Contra Spectre portanto começa muito bem. Mas após estes primeiros minutos de projeção, praticamente mais nada de interessante acontece. Além de uma outra sequencia de ação muito boa - e difícil de filmar - uma luta dentro de vagões de trem, a outra única coisa boa restante do filme são... suas locações. Cenários internos dentro de amplas e imponentes salas, paisagens externas em diversos países do mundo, tudo belíssimo, "cinematográfico" no mais alto sentido. Mas tirando estas qualidades, não sobra mais nada. O roteiro é fraco, previsível, os personagens não são desenvolvidos de maneira adequada, há um excesso de perseguições de carro (longas e burocráticas), o casal Bond e Madeleine (Léa Seydoux) está constantemente emburrado e não possui carisma nenhum. Blofeld não assusta nem convence ninguém.

O pior em todos estes problemas, é que somos obrigados a vê-los por longas 2h28min. E há mais um detalhe: geralmente não costuma ser necessário assistir filmes de James Bond anteriores para entender sua trama atual. Mas aqui em 007 Contra Spectre, que não deixa de ser um desfecho para tudo que Daniel Craig fez, as referências aos personagens dos 3 filmes anteriores são muitas. Portanto, para aproveitar mais o filme e não ficar um pouco perdido, é bastante aconselhável que se assista os filmes passados.

007 Contra Spectre não deixa de ser um filme que homenageia bastante os filmes antigos da franquia. A SPECTRE está presente já no filme de estréia de James Bond, 007 contra o satânico Dr. No (1962). Já seu líder supremo, o caricato Ernst Stavro Blofeld, já aparece no filme seguinte, Moscou contra 007 (1963). É curioso ver que se os filmes do 007 acabassem hoje, a franquia se iniciaria e terminaria introduzindo os mesmos vilões.

E por falar em "acabar", qual será o futuro de 007 nos cinemas? Seria este o último filme de Daniel Craig como James Bond? O ator tem declarado abertamente que já está cansado e detestaria voltar a viver o famoso agente. Entretanto, ele tem contrato para um quinto filme. De minha parte, entendo que ele deveria mesmo encerrar seu ciclo agora. O reboot que se iniciou de maneira tão admirável com 007 - Cassino Royale, de 2006 (e que é o melhor filme da franquia que já assisti até hoje) se encontra atualmente esgotado, burocrático, insosso. Também não gostaria que o diretor Sam Mendes continuasse. Apesar que o também dele 007 - Operação Skyfall (2012) ser um bom filme, a imagem que tenho do diretor é que ele é apegado demais ao passado. E está na hora de James Bond voltar a ver o futuro. Nota: 5,0

domingo, 8 de novembro de 2015

Tem filme brasileiro entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Animação 2016!

Saiu nesta quinta-feira dia 5 uma lista com 16 pré-indicados ao Oscar de Melhor Animação da cerimônia que acontecerá no dia 28 fevereiro de 2016. São eles:

Anomalisa (Anomalisa) *
Bakemono no ko (The Boy and the Beast) *
O Bom Dinossauro
Cada Um na Sua Casa
Hotel Transilvânia 2
O Profeta
UFO gakuen no himitsu (The Laws of the Universe - Part 0) *
Muumit Rivieralla (Moomins on the Riviera) *
Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme
Apenas Um Show: O Filme
Shaun, o Carneiro
Bob Esponja: Um Herói Fora D'Água
As Memórias de Marnie
* filmes que ainda não possuem título oficial em português, portanto segue seu nome original e entre parênteses seu nome em inglês

Depois deste anúncio, o próximo passo será o anúncio oficial dos 5 finalistas, o que ocorrerá no dia 14 de janeiro.

Alguns pontos me chamam a atenção: primeiro, notem a presença de dois filmes da Pixar (O Bom Dinossauro, que estréia no Brasil em 7 de janeiro, e Divertida Mente). Outro destaque é o desenho Anomalisa: primeira animação (e em stop-motion) da carreira do escritor e diretor Charlie Kaufman. Ele, que já roteirizou ótimos e bizarros filmes como Quero Ser John Malkovich (1999) e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), está ausente dos cinemas desde 2008. O que será que ele vai aprontar agora? Fiquei bastante interessado.

Mas o grande destaque, disparado, é a presença da animação brasileira O Menino e o Mundo, do animador / diretor Alê Abreu. Muito justo. Ou melhor, se fosse eu, já daria o Oscar para ele hoje! A história deste filme é simplesmente espetacular, não a toa, em minha crítica, O Menino e o Mundo levou nota 9,0, uma das maiores notas que já dei em todos os tempos!

Torçam por O Menino e o Mundo! E quem não o assistiu ainda, corra para ter este presente!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Crítica - Frank (2014)

TítuloFrank ("Frank", EUA / Irlanda / Reino Unido, 2014)
Diretor: Lenny Abrahamson
Atores principais: Michael Fassbender, Domhnall Gleeson, Maggie Gyllenhaal, Scoot McNairy
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=oNbFdtltpXE
Nota: 7,0
Esquisito e inesperado do começo ao fim

Um dos filmes indie mais elogiados pela crítica em 2015, Frank é, por falta de melhor definição, um filme bem esquisito. Pra começar, o personagem que dá nome ao título é uma pessoa que veste uma enorme máscara em 100% do tempo (ver imagem acima). Qualquer cena com um personagem destes instantaneamente se torna algo bizarro. Não sabemos se é algo engraçado ou assustador. E é exatamente este mesmo tom que vemos no filme todo.

Na história, Jon (Domhnall Gleeson) é uma pessoa comum que sempre quis - sem sucesso - ser músico. Eis que por acidente ele acaba tendo a oportunidade de participar da banda do misterioso Frank (Michael Fassbender). Ele abandona tudo para acompanhar o grupo, que irá se isolar em uma fazenda na Irlanda para gravar seu próximo disco.

O personagem de Frank é baseado em uma pessoa real - o britânico Chris Sievey, que na década de 80 fez algum sucesso em pequenas emissoras de rádio e TV inglesas com seu personagem Frank Sidebottom. Entretanto, com exceção de algumas pequenas passagens exibidas durante a gravação das novas músicas, todo o resto é ficcional, não servindo de maneira alguma como biografia de Sievey.

É difícil dizer sobre o que Frank se trata. Ele fala sobre música, e sobre a dificuldade em se tornar um músico famoso, sem dúvidas. Mas isto é apenas uma pequena parte do que o roteiro nos mostra. O mistério que Frank e sua persona exercem sobre todos acaba sendo um assunto mais presente que sua música, por exemplo.

Com uma trilha sonora constante - que alterna entre leves e agitadas músicas instrumentais com as músicas sendo compostas pela banda - Frank deverá agradar os "Jons" da vida real, ou seja, todos que um dia já sonharam ter sua banda. Ou melhor: o constante inesperado sobre o que virá a seguir é o grande atrativo para o público em geral. É difícil ficar entediado com Frank, mesmo sendo ele um filme de ritmo bem lento.

Como atrativo final, Frank conta com boas atuações, em especial a de Fassbender. Mesmo sem mostrar nunca seu rosto, sempre sabemos como Frank se sente. Para quem gosta de filmes diferentes, esquisitos, Frank é seu filme. Adjetivos mais apropriados para ele que estes dois, não há. Nota: 7,0

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Dupla-Crítica: A Incrível História de Adaline (2015) e Cinderela (2015)


Mais dois filmes que estrearam nos cinemas este ano, que não estão mais em cartaz, mas que ainda assim, a pedido de alguns leitores, estou postando a crítica dos mesmos. Vamos a eles!


A Incrível História de Adaline - "The Age of Adaline" (2015)

Diretor: Lee Toland Krieger
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=5TtQiKI4NhA
Atores principais: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford, Ellen Burstyn
Nota: 7,0

"Um bonito romance reforçado pela atuação de Blake Lively"

Nesta fantasia romântica, conhecemos Adaline (Blake Lively), nascida em 1908, mas que aos 29 anos parou de envelhecer. Não demorou muito para que ela tivesse que mudar completamente seu comportamento - o que inclui não ter nenhum relacionamento sério com ninguém - para esconder esta sua condição do restante da humanidade. Mas quando Ellis (Michiel Huisman) entra em sua vida, muita coisa parece que vai mudar.

A comparação de A Incrível História de Adaline com O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) é inevitável. E se o primeiro é mais piegas e simplório que o segundo, Adaline é igualmente emocionante, com a vantagem de ter um ritmo melhor. Com uma fotografia bonita abusando de cores vivas, e com uma trilha sonora competente porém repetitiva, o grande destaque do filme vai para a bela atuação da jovem Blake Lively. Ela convence ser uma mulher madura e ao mesmo tempo, transmite com louvor seus sentimentos ao público.

A Incrível História de Adaline certamente agradará quem gosta de um bom filme de romance. E é também um filme que debate com eficiência o saudosismo e o amor de longa duração. Há alguns pontos do roteiro, entretanto, que não aprovo. Como exemplos, o casal possuir uma vida sem aparente dificuldades (dinheiro não é problema), o número considerável de clichês e, principalmente, que o amor de Adaline por Ellis não convence. Não entendo porque ela mudaria tão rapidamente seus hábitos por ele, e pior, porque ela continuou a se interessar pelo rapaz após descobrir quem é o pai do mesmo. É a má construção do relacionamento do casal principal que baixa a nota deste filme. Mas tirando isto do roteiro, todo o resto se apresenta de maneira bela e convincente. E no final das contas sobra bastante coisa bacana. Nota: 7,0



Cinderela - "Cinderella" (2014)

Diretor: Kenneth Branagh
Atores principais: Lily James, Cate Blanchett, Richard Madden, Helena Bonham Carter
Nota: 7,0

"Um Conto de Fadas tradicional ao extremo"

A Disney continua com suas versões live-action de seus clássicos de animação do passado. Recentemente tivemos Alice no País das Maravilhas (2010) e Malévola (2014); agora é a vez de Cinderela. Dentre todas as obras citadas anteriormente esta é de longe a mais parecida com o desenho original.

Mais do que parecer com a versão de animação, Cinderela leva ao máximo o deslumbre fantasioso dos contos de fadas. Tudo em Cinderela é glamouroso, grandioso. Até a casa decadente onde mora a protagonista é linda. Com uma bela fotografia, design de produção belíssimo, tudo é colorido, brilhante, dourado, um sonho. A história segue a versão clássica da Disney: Cinderela (Lily James) é maltratada pela Madrasta má (Cate Blanchett) e se apaixona pelo Príncipe (Richard Madden). Aí vêm as badaladas da meia noite, o sapatinho de cristal, e todo o restante tão bem conhecido pelo público.

Cinderela é um filme bem agradável de se assistir. Primeiro, pelo encanto visual, segundo, pelo seu ritmo dinâmico, sem enrolações, e bom humor. Tudo no mundo de Cinderela é perfeito. Até demais. Não deixa de ser bastante curioso (e eu reforço a palavra curioso - não estou dizendo que está certo ou errado) que após anos criando princesas independentes que não procuram por um príncipe salvador, como por exemplo em Mulan (1998), Valente (2012) e Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), a Disney volte com este conceito clássico da bela e indefesa Cinderela esperando pelo Príncipe encantado. Nota: 7,0

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Crítica - Ponte dos Espiões (2015)

TítuloPonte dos Espiões ("Bridge of Spies", EUA, 2015)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Amy Ryan, Scott Shepherd
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=I-G9WsuVv-A
Nota: 7,0
Outro bom filme histórico entregue por Spielberg

Steven Spielberg retorna ao assunto guerra, porém de maneira menos explícita. Saem as batalhas e a violência e entramos no mundo de espiões na Guerra Fria no final dos anos 50 / início dos anos 60. Na história de Ponte dos Espiões, um velho espião russo de nome Rudolf Abel é capturado agindo em solo estadunidense. Ele vai a julgamento, e para defendê-lo é convocado o advogado James B. Donovan (Tom Hanks). Posteriormente, Rudolf é sugerido como moeda de troca por um espião americano capturado na União Soviética, e Donovan parte para a Alemanha participar das negociações.

O filme se divide então em duas partes bem distintas, e igualmente interessantes. Na primeira, temos um filme de tribunal. Porém, longe de enfadonhos debates jurídicos, este ato é contado sobre o ponto de vista cotidiano de Donovan. Mais ainda, é a luta de um indivíduo honesto contra toda uma sociedade preconceituosa. Uma boa e corajosa maneira de vender o american way of life fazendo auto-críticas e sem exagerar no patriotismo.

Na segunda parte, a tensão aumenta bastante, e aí temos a jornada de James agindo literalmente sozinho em Berlim, justamente no mesmo momento em que o Muro está sendo construído.

Se você gosta de História e espiões, certamente vai gostar bastante de Ponte dos Espiões. O fato de se basear em fatos reais, ter diálogos inteligentes e bastante bem humorados (roteiro dos irmãos Coen), contar com ótimas atuações e personagens de Tom Hanks e Mark Rylance; tudo isto é bastante agradável.

Ponte dos Espiões é, portanto, um bom filme. Mas poderia ser melhor se Spielberg não fosse tão piegas e tão exagerado. Exemplos? Nos discursos mais bonitos de Donovan, textos bastante inspirados, eis que surge aquela trilha sonora altíssima "épica" dizendo para o espectador burro que agora é momento de se emocionar. Em uma bela tomada em que se percorre o muro de Berlim sendo montado tijolo a tijolo e separando instantaneamente famílias e amigos, na sequencia vem uma cena de "como os soldados alemães são maus". Ou ainda, um desfecho de final feliz não basta para o diretor americano. São dois. Um mais piegas que o outro.

Ponte dos Espiões é mais um bom filme entregue por Spielberg, feito para agradar qualquer tipo de público adulto. Porém mais uma vez o diretor perdeu a chance de fazer um filme marcante. Desde 2005, com seu Guerra dos Mundos, todos os seus filmes (com exceção de Munique, também de 2005), possui exatamente os mesmos problemas que apontei no parágrafo anterior. É por isto que Steven não entrou na minha lista de Diretores Preferidos da Atualidade e continuará não entrando. Nota: 7,0

PS: na foto deste post vemos Steven Spielberg, Angela Merkel e Tom Hanks na frente da ponte-título do filme.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crítica - A Colina Escarlate (2015)

Título: A Colina Escarlate ("Crimson Peak", EUA, 2015)
Diretor: Guillermo del Toro
Atores principais: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=c2SbrLVGORM
Nota: 4,0
Esmero visual e na produção não salvam o filme do tédio

Em termos visuais, como sempre, a nova obra de del Toro é irretocável. E desta vez ajudada por um motivo bem particular: a assustadora mansão onde A Colina Escarlate foi rodada é uma casa real, especialmente construída para o filme. O design de produção é fantástico, e a casa, ao mesmo tempo traz medo e admiração, bastante admiração!

Na história, Edith (Mia Wasikowska) é uma jovem solteira, filha de um rico empresário, e sem nenhum interesse pela vida social. Eis que aparecem em sua cidade, vindo da Inglaterra, os estranhos irmãos Thomas e Lucille Sharpe (Tom Hiddleston e Jessica Chastain). Não demora muito para que Edith seja seduzida por Thomas, e que ambos se mudem para as terras dos Sharpe, onde há a decadente e assustadora mansão descrita no parágrafo anterior.

Um dia antes da estréia do filme, com receio de ser mal interpretado, o diretor Guillermo del Toro foi em seu Twitter e avisou: se trata de um "romance gótico", e não um filme de terror. De fato, o mexicano descreveu bem A Colina Escarlate. Ele é bem mais um drama/romance do que terror. Mas, como espectador, mesmo se preparando para assistir então este gênero de filme, não há como se preparar para a monotonia que vem a seguir.

Não demora muito para entendermos o que está acontecendo, e o que os irmãos Sharpe estão tramando. Todos os "mistérios" da mansão e dos sombrios irmãos são revelados em pouco tempo. Entretanto, cada mesmo segredo é "revelado" dezenas de vezes. Tudo é tão explicado, e tantas vezes, que não tem como A Colina Escarlate deixar de ser enfadonho.

Basicamente, o filme traz uma história mediana que poderia ser contada em 30 minutos, mas é contada em 2 horas. O clima de terror e os fantasmas poderiam dar uma "apimentada" em A Colina Escarlate, mas não o fazem. Principalmente porque já no começo do filme aprendemos que os fantasmas (que são visualmente maravilhosos... impressionantes, misturando beleza e terror) são na verdade amigos de Edith, apenas querem ajudá-la, e não o contrário.

Para contribuir ainda mais com a chatice do filme, Mia Wasikowska e Tom Hiddleston têm atuações bem contidas e repetitivas (embora eficientes); é apenas Jessica Chastain que traz um pouco de brilho ao filme, com uma atuação bem mais imponente e convincente.

De algo que poderia ser o grande filme de terror do ano, o que temos é um romance de época enfadonho em que apenas seu belíssimo visual e Jessica Chastain trazem algum atrativo. Confesso estar surpreso, é o primeiro filme de Guillermo del Toro que não gostei. Nota: 4,0

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crítica - A Visita (2015)

Título: A Visita ("The Visit", EUA, 2015)
Diretor: M. Night Shyamalan
Atores principais: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Uo5o_5tJKdk
Nota: 5,0
Shyamalan repete a fórmula que o consagrou... e novamente sem bons resultados

O diretor M. Night Shyamalan estourou nos cinemas com O Sexto Sentido (1999) utilizando o seguinte recurso: roteiro de suspense/terror com uma grande revelação/reviravolta nos momentos finais. A partir de sua obra prima, foram mais 5 filmes seguidos utilizando a mesmíssima fórmula: Corpo Fechado (2000), Sinais (2002), A Vila (2004), A Dama na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008). E a cada novo lançamento, bilheteria e crítica eram (de maneira justa, aliás) piores que o anterior.

Cada vez inspirando menos confiança dos produtores e público, Shyamalan até tentou mudar: abandonou o mistério e o suspense e investiu em dramas de ação. Vieram então O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013), ambos fracos.

Então chegamos aos dias de hoje. Será que o indiano iria tentar uma 3ª fórmula diferente desta vez? Que nada, ele voltou ao seu formato inicial! Em A Visita, os adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) viajam para passar uma semana na casa dos avós e conhecê-los (como a mãe deles não fala com os pais há 15 anos devido a uma briga, Becca e Tyler irão encontrá-los pela primeira vez). Inicialmente simpáticos, os velhinhos vão se mostrando a cada dia mais estranhos. O que será que há de errado com eles?

Se A Visita segue o mesmo formato do suspense + reviravolta, há duas principais diferenças do mesmo em relação aos filmes anteriores de Shyamalan. Pela primeira vez desde 1999 ele trabalha sem estrelas hollywoodianas (após fracassar várias vezes, é o que acontece...), e também, agora temos um filme em grande parte filmado "em primeira pessoa". Com a desculpa de que Becca está fazendo um documentário, muitas cenas são filmadas "na mão" por uma das duas crianças. Ao mesmo tempo que esta estratégia aumenta com sucesso a tensão na trama, por outro lado, estamos na verdade diante de uma simulação de "câmera amador" já que as imagens são em geral fixas, pouco tremem, estão sempre com foco e iluminação adequadas... isso mesmo quando o câmera está em movimento (ou seja, quem realmente filmou não estava com uma simples camerazinha na mão, e sim, com uma estrutura bem mais elaborada por trás dando suporte).

Há de se elogiar que o clima de suspense é muito bem montado em A Visita. A tensão vai crescendo minuto a minuto, reforçada com competência com cada nova "bizarrice" dos avós. Pena que todo este bom desenvolvimento morre quase que instantaneamente após a "revelação surpreendente". Aliás, a tal "grande surpresa" faz bastante sentido, amarrando bem todas as dicas dadas ao espectador ao longo da projeção. O problema então não é a revelação em si, mas o que acontece após ela. São pelo menos mais 25 minutos de monotonia e constrangimento. Terrível!

Em termos de atuações, enquanto as atrizes estão muito bem, os rapazes (neto e avô) não convencem e atuam mecanicamente. Tecnicamente, apenas a fotografia merece alguns elogios, o resto não me chamou atenção positivamente.

Se para mim A Visita é mais uma "bomba" de Shyamalan, pelo menos em termos de recepção o filme é um bom respiro para a carreira do diretor. Primeiro porque - reconheço - este filme é menos ruim que os últimos dele (na verdade o filme tem recebido elogios moderados da crítica especializada e do público). E segundo porque no momento em que escrevo este texto a bilheteria mundial de A Visita se aproxima dos US$ 85 milhões, sendo que o filme - de baixíssimo orçamento - só custou US$ 5 milhões. Ou seja, com este ótimo lucro, ainda veremos mais Shyamalan no futuro. Rumores recentes dizem que seu próximo projeto irá focar no sobrenatural e contará com James McAvoy (o Xavier da nova trilogia X-Men) no papel principal. Nota: 5,0.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica - A Travessia (2015)

Título: A Travessia ("The Walk", EUA, 2015)
Diretor: Robert Zemeckis
Atores principais: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon, Ben Kingsley
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Tra7otLWtQ8
Nota: 7,0
Incrível história que deve ser vista nos cinemas e em 3D

As Torres Gêmeas de Nova York acabam de ser inauguradas (ou melhor, embora já em funcionamento, parte da segunda torre ainda nem foi finalizada). O que você pensaria sobre um maluco que resolvesse atravessar os dois prédios andando sem nenhuma proteção por um fio de arame pendurado entre eles? E mais, esta seria uma ação ilegal, claro. Além de ferir vários artigos da lei, as Torres possuem um sistema de segurança e monitoramento consideravelmente forte, o que torna a tarefa muito mais difícil de ser feita. Alguém conseguiria realizar tal façanha?

Pois então. Por mais absurda que seja a última pergunta acima, a resposta é que em 1974 o artista Philippe Petit protagonizou o feito. Foi o primeiro e único homem a se equilibrar entre as famosas Torres. E é a história desta realização que vemos em A Travessia.

Embora seja focado na vida do personagem de Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), a história se concentra quase em sua totalidade na ação que culminou nesta famosa travessia. Para realizar a caminhada, Petit contou um número razoável de ajudantes, dos quais no filme apenas se destacam a cantora e namorada Annie (Charlotte Le Bon) e o também artista equilibrista e seu mentor Papa Rudy (Ben Kingsley).

Contada em um ritmo acelerado, não tem como uma história tão incrível como esta ficar desinteressante. Portanto, assistir A Travessia é sem dúvida uma experiência bastante agradável. Entretanto, o desenvolvimento da trama poderia ser melhor. Narrado em primeira pessoa, cenas de um Petit "após a travessia" em cima da Estátua da Liberdade são inseridas várias vezes ao longo da projeção, quebrando o ritmo do filme. Esta escolha também joga contra no sentido em que sabemos desde o primeiro momento que "tudo vai dar bem no final", diminuindo a tensão. Além disto, o desenvolvimento de qualquer outro personagem a não ser o do Phillippe e sua obsessão pelo seu sonho de travessia é solenemente ignorado.

O diretor Robert Zemeckis (da trilogia De Volta Para o Futuro) prometera para A Travessia uma revolução visual. Uma sensação de "estar acima das Torres" como nunca se vira antes. De fato, o filme é ótimo neste sentido, sua grande qualidade. As tomadas são filmadas com grande número de ângulos e variações. Temos cenas onde observamos Philippe de baixo pra cima, de cima pra baixo, com zoons e movimentos de câmeras diversos. A computação gráfica que envolve as cenas acima da Torre são simplesmente impecáveis. Perfeitas.

Infelizmente, apesar de tanto primor técnico, pelo menos eu não consegui me sentir "realmente" em cima dos prédios, conforme prometido. Talvez pelo fato de eu não estar em um cinema IMAX 3D (aonde esta sensação foi prometida). Mesmo assim, estive em um bom cinema 3D, e aviso: A Travessia é um filme que vale bastante a pena em ser assistido em 3 dimensões. Não temos aqui "objetos jogados na cara do espectador", ou ainda, planos muito longos onde seja possível explorar uma enorme noção de profundidade. Mas mesmo assim, a sensação de 3D está presente no filme todo. Muito admirável! E mais ainda, se eu não me senti literalmente "lá em cima", foi quase. Foram vários minutos de angústia e arrepios observando Petit pendurado sob as Torres. E sim, o francês ficou um tempão lá em cima sob os fios - assistam o filme para entender porque.

Em termos de atuações, Joseph Gordon-Levitt continua impressionando. Americano, ele fala com um sotaque francês que convence na maioria das cenas. Levitt não é fisicamente parecido com Philippe Petit, nem com seus trejeitos. Mas mesmo assim, convence como artista equilibrista (ele aprendeu a andar sob cordas durante as filmagens tendo aulas com o verdadeiro Philippe) e principalmente, convence na atuação, demonstrando de forma crível as emoções sentidas pelo personagem.

A Travessia é uma história interessante, que exemplifica bem o espírito de coragem, força e destemor do ser humano. Também dá cutucadas bacanas afirmando sobre o que é ser um "verdadeiro" artista. É uma aventura que deveria ser conhecida por todos e - principalmente - da maneira em que o filme foi feito, só faz verdadeiramente sentido vê-lo nos cinemas. E em 3D. Nota 7,0.


PS 1: se não "revolucionou", pelo menos o realismo visual de A Travessia impressionou. E a Sony aproveitou para promover seu filme utilizando esta tecnologia. Nestes vídeos podemos ver a bacana promoção feita nos EUA e até aqui no Brasil.

PS 2A Travessia é a mesma história contada pelo documentário O Equilibrista (2008), grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2009. Para quem gostou da história de Philippe Petit, eis uma grande oportunidade de se aprofundar no assunto, assistindo outro filme sob formato completamente diferente.

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