terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica - Pequeno Segredo (2016)

TítuloPequeno Segredo (Brasil / Nova Zelândia, 2016)
Diretor: David Schurmann
Atores principais: Mariana Goulart, Erroll Shand, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Júlia Lemmertz, Marcello Antony
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=X_qAIqyZK8g
Nota: 5,0
Com um desfecho belíssimo, o difícil é chegar até ele

Em teoria Pequeno Segredo deveria ser um filme interessante: baseado em um drama real da família Schurmann (a primeira família brasileira a circunavegar o mundo em um veleiro), e sendo a indicação nacional para o Oscar 2017, este "currículo" chama a atenção.

Mas o que vemos nas telas fica longe de um bom filme. Em primeiro lugar, Pequeno Segredo lembra muito uma novela da Globo. E não é pela presença de Júlia Lemmertz e Marcello Antony, que pouco parecem em cena. Pequeno Segredo lembra novelas pela sua fotografia característica, pelos diálogos artificiais e piegas, pelos atores ruins, a presença constante de product placement, pela trilha sonora enfadonha e melodramática. Aliás, o filme lembra tanto novela que tem até seus "núcleos": o núcleo da família Schurmann, em SC; e o núcleo gringo, que se divide entre o Pará e a Nova Zelândia.

Pequeno Segredo dura intermináveis, desnecessárias e enfadonhas duas horas. Entretanto, faltando cerca de 20 minutos para o filme acabar, algo surpreendente acontece: há uma reviravolta e descobrimos enfim qual é o "segredo" do título do filme.

É então que a história muda da água podre para o vinho. Onde antes não havia nenhuma coesão, agora os fatos se encaixam trazendo sentido; enfim é fornecido ao espectador motivos para ter alguma empatia com os personagens. E enfim a trilha sonora dramática e as câmeras lentas tem algum propósito narrativo.

O final de Pequeno Segredo é excelente, bastante comovente. Ainda assim, não é suficiente para apagar a péssima viagem que foi chegar até ele. Até porque, notem que a grande força da história está no seu "segredo"; que não será surpresa nenhuma para quem já conheça a vida dos Schurmann; ou quem tenha lido sobre este filme na Wikipedia. Em suma, para aproveitar algo desta obra, não veja nada sobre ela além deste texto!!!

Não é tão difícil entender porque Pequeno Segredo foi o indicado brasileiro ao Oscar. Afinal, é um filme "feito pra gringos": conta com vários diálogos em inglês, atores internacionais (e o mais famoso deles - Fionnula Flanagan - é bem conhecida), e se preocupa em apresentar um pouco do nosso lado "das selvas"... mostra como é diferente e pobre a vida do Norte brasileiro; ao mesmo tempo que nós temos as qualidades e virtudes do "bom selvagem"... tudo bem estereotipado. Por outro lado, é difícil aceitar que um filme com direção e roteiro tão problemáticos seja considerado o melhor filme nacional do ano.

Com começo e meio catastróficos, o final de Pequeno Segredo é tão bom que justifica que ele seja assistido. É uma história real que merece ser conhecida. Ainda assim, se seu desfecho "salvou" a experiência de assistir o filme, não foi suficiente para salvar sua nota. Nota: 5,0

sábado, 12 de novembro de 2016

Crítica - Doutor Estranho (2016)

TítuloDoutor Estranho ("Doctor Strange", EUA, 2016)
Diretor: Scott Derrickson
Atores principais: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=DavLd8Nj2TQ
Nota: 7,0
Apresentando o Multiverso usando um Multiverso

Chega aos cinemas o décimo quarto filme (!) da grande história contada pelo Universo Cinematográfico Marvel, inciado em 2008. O novo herói da vez é o Doutor Estranho. Na trama, o genial e arrogante cirurgião Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) sofre um acidente e perde o uso de seu instrumento mais importante: suas mãos. Desesperado por uma cura, Strange acaba viajando pra o Oriente em busca de tratamentos alternativos. É quando ele encontra a Anciã (Tilda Swinton) e seu grupo de monges super-poderosos. Inicia-se então o treinamento de Stephen ao mesmo tempo em que a Terra recebe nova ameaça global.

Doutor Estranho é certamente a produção da Marvel de maior deslumbre visual até agora. Ótimos efeitos especiais, imagens incríveis em constante movimento, cenas que parecem alucinações. Um espetáculo! E o bom é que estas imagens proporcionam ótimas cenas de ação - afinal, boa parte do filme são perseguições e lutas.

Direção e roteiro fazem um trabalho excelente ao explicar conceitos místicos e complexos de uma maneira simples e sem muito didatismo.

Outra grande qualidade de Doutor Estranho é seu protagonista. O carismático "Benedito" mostra mais uma vez sua grande versalidade e qualidade como ator, personificando de maneira bastante convincente o personagem dos quadrinhos.

Doutor Estranho é um filme de Origens bem interessante, com potencial de agradar todo tipo de público - como todo filme Marvel - mas que também como todo filme Marvel, possui seus defeitos.

Em primeiro lugar, como já citado acima, o roteiro é simples demais, focando demais na ação em detrimento do desenvolvimento dos personagens. Apenas o protagonista Stephen Strange nos é apresentado de maneira decente. Todos os demais personagens são mal explorados; o que é um enorme desperdício quando lembramos que o filme conta com atores de talento comprovado, como por exemplo Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams e Tilda Swinton. Alías, Tilda Swinton é a única dos coadjuvantes que brilham na tela com ótima caracterização. Por outro lado, os sub-aproveitados Ejiofor, McAdams e Mikkelsen são tão mal tratados que até passam por momentos constrangedores.

Outro problema já recorrente nos filmes da Marvel é o péssimo timing de suas piadas. Mais uma vez testemunhamos momentos dramáticos ou heróicos serem jogados no lixo graças a algum alívio cômico para fazer o filme voltar a ser "engraçadinho". Lamentável. Doutor Estranho tem as piadas mais fora de contexto do Universo Marvel desde Homem de Ferro 3, com o agravante que Strange não era para ser o palhaço que Tony Stark é.

Mas o que mais me chamou a atenção em Doutor Estranho é a ironia - seria este o termo? - que o filme que deveria ser o mais diferente dentre todos da Marvel é na verdade o que mais caminha pelo conhecido, bebendo de muitas fontes famosas do universo Pop. É um filme que apresenta aos espectadores o Multiverso Marvel através de múltiplos universos de outras franquias. Afinal, o filme é um amálgama de referencias (sejam visuais ou de enredo) como A Origem, Spawn, Highlander, Dr. House, Matrix, e mais alguns outros que não posso citar para não estragar a surpresa do final do filme - que por sinal é muito bom.

"Ah, mas o Doutor Estranho foi criado na década de 60, muito antes das obras citadas acima". É verdade, mas este Dr. Estranho apresentado nas telas é diferente do personagem original. É a velha questão do que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Graças a mesma fórmula utilizada em todos seus filmes, a Marvel mais uma vez consegue ter sucesso - em público e diversão - com um personagem de pequena expressão da editora, quase desconhecido do grande público. Doutor Estranho chegou para se tornar verdadeiramente famoso dentro do mundo dos super-heróis. E vai conseguir. Nota: 7,0.


Obs 1: a Anciã celta interpretada pela ótima Tilda Swinton é uma modificação do Ancião, feiticeiro tibetano que nos quadrinhos é o verdadeiro mentor do Doutor Estranho. Por que a Marvel mudou o gênero e nacionalidade de seu personagem? Simples: dinheiro! A alteração foi feita para que o filme não fosse censurado pelo governo chinês, cujo país representa 18% da arrecadação mundial dos filmes da editora. Referências ao Tibete (que a China não reconhece como região independente) e a orientais estereotipados certamente seriam barradas. O medo de ser proibido pela China é o mesmo motivo que fez com que o personagem Mandarim também tenha sido ocidentalizado - para fúria dos fãs - em Homem de Ferro 3.

Obs 2: o filme contém duas cenas pós-créditos, sendo a última provavelmente importante para o futuro do Doutor Estranho nos cinemas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Dupla-Crítica: O Lagosta (2015) e Jogo do Dinheiro (2016)

O primeiro é um filme que injustamente nem chegou aos cinemas brasileiros. O outro é um que conseguiu desembarcar por aqui, mas apesar das estrelas presentes não emplacou nas bilheterias. Vamos à mini crítica de mais dois interessantes títulos!


O Lagosta (2015)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principais: Colin Farrell, Rachel Weisz, Olivia Colman, Angeliki Papoulia, John C. Reilly, Léa Seydoux, Ben Whishaw

O Lagosta, dirigido e escrito pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos é um filme bem diferente, mas não pela maneira com que é filmado: tecnicamente ele se assemelha bastante aos atuais filmes indie estadunidenses que conseguem captar várias estrelas para seu elenco.

O que é realmente diferente em O Lagosta é seu roteiro, simplesmente maluco, bizarro. Com o intuito de criticar o quanto o ser humano se comporta de maneira absurda (principalmente em termos de relacionamentos e na criação e cumprimento de leis), Lanthimos nos apresenta um futuro onde pessoas adultas não podem ficar sem um par romântico. Caso isto aconteça (seja porque você não encontrou ou não se interessou por uma "alma gêmea", ou ainda, porque seu cônjuge acaba de morrer e você agora se encontra sozinho), os solteiros são levados a um hotel especial onde têm 45 dias para encontrar seu novo amor. Caso isto não aconteça, o solitário humano é transformado em um animal à sua escolha (o nome do filme se deve ao fato do protagonista principal, David (Colin Farrell) ter escolhido virar uma lagosta caso fracasse no amor).

O filme se desenvolve trazendo uma sucessão de acontecimentos estranhos e inesperados. E por estas características, temos uma trama inteligente que faz o espectador ansiar a todo momento pelo que há por vir. Em O Lagosta vemos algumas boas atuações, mas a única de grande destaque é da competente Rachel Weisz, que a meu ver poderia ter ficado mais tempo em cena.

O Lagosta é uma ficção excelente para quem curte futuros distópicos e humor negro. O filme só não leva nota maior pois para mim ele é tão "maluco" que suas críticas à sociedade se diluem em meio a tanta bizarrice. Infelizmente um filme tão bom como esse não chegou nos cinemas brasileiros. Mas já pode ser assistido por aqui comprando-o em diversos serviços de streamingNota: 7,0


Jogo do Dinheiro (2016)
Diretor: Jodie Foster
Atores principais: George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito

Três grandes estrelas de Hollywood (Jodie Foster na direção, George Clooney e Julia Roberts como atores principais) se reúnem em um suspense que mistura os assuntos de mercado financeiro e programas sensacionalistas da TV.

Na história Lee Gates (Clooney) tem seu programa ao vivo de TV invadido por um desesperado Kyle (Jack O'Connell), armado e vestindo um colete repleto de bombas. A exigência do criminoso? Entender porque ele e milhões de estadunidenses perderam dinheiro na bolsa através de uma surpreendente queda da "empresa do momento", que inclusive fora recomendada publicamente por Gates.

Jogo do Dinheiro tem uma grande qualidade: roteiro e direção fazem um trabalho excelente para manter o clima de tensão durante todo o filme. Jodie aparenta ter aprendido muito bem a lição de "como dirigir um thriller de suspense" com David Fincher, quando estrelou o excelente O Quarto do Pânico (2002), dirigido por ele.

O problema com Jogo do Dinheiro é o que acontece em sua metade final. O ótimo clima de suspense continua intocado nesta parte... porém, a história fica cada vez mais inverossímil. E tão ruim quanto aos absurdos da trama são os vários clichês: Clooney é o malandro com coração de ouro; Julia Roberts é a grande diretora que é a única que consegue controlá-lo; a polícia é bastante incompetente; e finalmente, temos a cota de vilões unidimensionais malvadões que expõem seus planos malignos para todos.

Pelos nomes envolvidos, Jogo do Dinheiro poderia ter uma ótima bilheteria, mas o fraco roteiro contribuiu para que isto não acontecesse. Ainda assim, o filme deu lucro: de um orçamento de US$ 30 milhões, arrecadou US$ 100 mi. Para mim, um cenário justo: este filme não merece grandes conquistas, mas também não merece dar prejuízo. Nota: 6,0

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crítica - A Garota no Trem (2016)

TítuloA Garota no Trem ("The Girl on the Train", EUA, 2016)
Diretor: Tate Taylor
Atores principais: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Luke Evans, Edgar Ramírez, Laura Prepon, Allison Janney
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=kmQ1WcX425E
Nota: 7,0
Boa história e boas atuações sustentam o filme apesar da direção problemática

Baseado no livro homônimo bestseller (inclusive no Brasil) da autora britânica Paula Hawkins, A Garota no Trem é uma mistura de filme policial / suspense com o drama de três mulheres bem diferentes - Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Anna (Rebecca Ferguson) - mas cujos destinos se cruzam bastante nos dias atuais. Certa tarde Megan desaparece, e Rachel nos é apresentada como possível culpada e também como possível solucionadora do mistério.

A grande maioria do filme é narrada sob o ponto de vista de Rachel; em segundo lugar aprendemos sobre Megan e finalmente, vemos bem pouco sobre Anna. Independente do tempo de história de cada uma das personagens, todas elas possuem uma vida interessante e repleta de reviravoltas. Eis portanto o ponto forte de A Garota no Trem: as aparências enganam bastante e há muito mais por trás de cada uma destas três mulheres do que julgamos quando as vimos pela primeira vez.

Já a trama policial de A Garota no Trem, se não é lá tão original (baseia-se no testemunho duvidoso de observadores remotos, como já vimos no clássico Janela Indiscreta do mestre Hitchcock) ainda assim agrada, sendo bastante interessante e atiçando o "detetive" dentro de cada um de nós. Outra qualidade do filme é trio de atrizes protagonistas, que atuam muito bem, especialmente Emily Blunt e a bela Haley Bennett.

Pelo tema policial, pelas reviravoltas, e pela marcante presença feminina, a comparação de A Garota no Trem com Garota Exemplar é inevitável. Mas por que o primeiro filme está sendo tão criticado pela crítica nacional em contraste com os muitos elogios para o segundo? A diferença está na direção.

Se Garota Exemplar conta com a ótima direção do ótimo e consagrado David Fincher, A Garota no Trem conta com um diretor bem menos hábil - Tate Taylor - que até agora só possui um sucesso em sua curta carreira: o bom Histórias Cruzadas, que não é um filme de suspense (onde Fincher manda tão bem).

E aonde é que Taylor falha? Bem, lhe falta comedimento em vários aspectos: a trilha sonora é muito exagerada, pesada e repetitiva, o que torna o filme desnecessariamente melancólico e cansativo; o alto número de flashbacks curtos atrapalha o ritmo da história; e há também bastante exagero na quantidade de cenas de delírio / confusão mental de Rachel. Para completar, depois que descobrimos quem é o "vilão" (ou vilã) da trama, a história se prolonga bem mais que o necessário.

Notem que alguns dos problemas citados no parágrafo anterior não são exclusivos do diretor e também recaem sobre a roteirista Erin Cressida Wilson. A impressão que tenho é que ela teve em mãos um ótimo material (o livro de Paula Hawkins) mas não soube adaptá-lo muito bem para as telonas.

Não concordo com a chuva de criticas que a imprensa nacional coloca em A Garota no Trem. Apesar dos problemas na direção, o filme é bem acima da média e certamente agradará os fãs de filmes de suspense. Muitos estão chamando A Garota no Trem de uma cópia mal feita e previsível de Garota Exemplar. De fato, o filme de Fincher é bem melhor, ainda assim, A Garota no Trem não me foi previsível e ambos os filmes merecem ser conferidos. Nota: 7,0

domingo, 16 de outubro de 2016

Crítica - Inferno (2016)

Título: Inferno ("Inferno", EUA / Hungria / Japão / Turquia, 2016)
Diretor: Ron Howard
Atores principais: Tom Hanks, Felicity Jones, Ben Foster, Sidse Babett Knudsen, Irrfan Khan, Omar Sy, Ana Ularu
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=8_MF60pD13c
Nota: 6,0
Filme é reflexo de sua obra original

Inferno é a terceira adaptação para os cinemas de um livro de Dan Brown, também pela terceira vez contando com sua criação mais famosa, o simbologista Robert Langdon (Tom Hanks). E assim como nos livros, os filmes desta franquia sofrem do mesmo mal: são histórias muito parecidas, onde basicamente apenas se trocam o nome dos coadjuvantes e as localidades da trama. Não é a toa, portanto, que pouco mais de 10 anos após o escritor explodir em fama mundialmente com O Código da Vinci, hoje seus livros são muito menos relevantes, quase esquecidos.

Para Inferno, além de Tom Hanks, retorna também o premiado diretor Ron Howard - a mesma pessoa que dirigiu os anteriores O Código da Vinci Anjos e Demônios. Se por um lado isto traz qualidade e coesão nesta "trilogia", por outro apenas reforça a sensação de "mais do mesmo".

Inferno é um livro com menos enigmas, menos mistério, e mais ação do que O Código da Vinci; e isto é refletido com vigor nas telas. Também repetindo, em ambas as obras Langdon é auxiliado por uma bela jovem, e em ambas adaptações a atriz escolhida possui traços meigos e delicados: era o caso de Audrey Tautou em da Vinci, e agora de Felicity Jones, interpretando a Dra. Sienna Brooks.

Na história, Langdon acorda desmemoriado em um hospital, e em questão de minutos o local é invadido na tentativa de matá-lo. Fugindo às pressas junto com a enfermeira Sienna, a dupla descobre ser a última esperança para evitar o lançamento de um vírus mortal - que mataria metade da raça humana - criado pelo bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster). O nome do filme vêm da obra literária Inferno, de Dante Alighieri, que é frequentemente usada ao longo da história como tema dos enigmas encontrados pela dupla.

Inferno é um filme de ação ininterrupta, do começo ao fim. A história é agradável, prende a atenção do espectador, e ainda conta com a vantagem de mostrar belas localidades históricas encontradas em Florença, Veneza e Istambul - visualizar as obras de arte e os edifícios reais é a única vantagem dos filmes em relação aos livros.

Por outro lado, a adaptação de Inferno peca em dois pontos: as "alucinações" de Langdon são exploradas em demasiado, a meu ver. E, principalmente, após 1h30 de uma história extremamente fiel ao livro, em seu ato final o filme desvirtua em muito o final originalmente escrito por Dan Brown. É verdade que da maneira que o filme se encerra ele até faz um pouco mais de sentido; ainda assim, a maneira com que o escritor havia finalizado Inferno era o único sopro de real originalidade em seu texto. Alterá-lo, portanto, para mim foi uma péssima idéia.

Inferno - o livro - é uma versão piorada de O Código da Vinci, mas ainda assim diverte. E o mesmo pode ser dito de seus filmes. De resto, é passar o tempo admirando a boa atuação de Tom Hanks e a beleza de Felicity Jones. Nota: 6,0.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Dupla-Crítica: Julieta (2016) e Café Society (2016)

Mais uma vez, duas críticas em um mesmo post. Agora, Pedro Almodóvar "versus" Woody Allen. Quem será que leva a melhor neste ano?


Julieta (2016)
Diretor: Pedro Almodóvar
Atores principais: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Rossy de Palma, Daniel Grao, Darío Grandinetti

Como o título do filme não esconde, a personagem principal do novo filme de Almodóvar é Julieta (Emma Suárez), uma mulher de meia idade que mora em Madri em aparente felicidade. Então, basta uma repentina lembrança da filha que não vê há 12 anos para seu mundo desabar. Desesperada por entrar em contato, Julieta resolve escrever uma carta e contar alguns "segredos", É quando voltamos no passado e acompanhamos as aventuras de uma jovem Julieta (interpretada por Adriana Ugarte) antes mesmo da filha nascer.

Julieta não é uma das maiores obras de Almodóvar, mas ainda assim bastante interessante, principalmente pela diversidade de assuntos. De maneira tocante o fio narrativo é conduzido por caminhos algumas vezes inesperados e aborda sentimentos como a solidão, depressão, obsessão, perda de pessoas queridas, culpa feminina e culpa católica. Não posso dar muitos outros detalhes sem estragar as surpresas do filme. Somado ao bom roteiro, o que me impressionou bastante foram as duas atrizes que interpretam a protagonista. Não somente pela ótima atuação, mas também pela beleza de ambas, principalmente de Adriana Ugarte, que me lembrou uma jovem Sharon Stone.

Julieta talvez não seja um filme tão fácil para assistir já que é bastante dramático e depressivo. Ainda assim, é louvável a maneira sutil e orgânica em que o diretor espanhol conduz seus comentários sobre tantos aspectos da vida. Bastante admirável. Nota: 7,0


Café Society (2016)
Diretor: Woody Allen
Atores principais: Jesse Eisenberg, Kristen Stewart, Steve Carell, Blake Lively, Corey Stoll, Sari Lennick

Repetindo o que fez algumas vezes nos últimos anos, Woody Allen retorna com um filme homenageando o começo do século XX; no caso deste Café Society, os anos 30 nos EUA. Não apenas temos uma ambientação que remete ao passado, como também a percebemos nos personagens (bastante ingênuos e caricatos) e trilha sonora (geralmente instrumental e muito repetitiva).

O veterano cineasta entrega um roteiro com diálogos muito interessantes, repletos de um humor irônico e sarcástico - marca característica de Allen - mas que eu não via com tanta intensidade já há um bom tempo. Basicamente a história é uma comédia de erros que nos apresenta o triangulo amoroso entre a jovem Vonnie (Kristen Stewart), o tio rico Phil (Steve Carell) e o sobrinho pobre Bobby (Jesse Eisenberg).

Se os diálogos são bons, os personagens principais não convencem tanto. Woody Allen falha em fazer que o espectador sinta empatia por seus heróis; e parte deste sentimento é reforçado pela falta de carisma de Jesse Eisenberg e Kristen Stewart.

Longe de ser um trabalho memorável deste incansável diretor-roteirista de 80 anos, Café Society é um filme que agrada e diverte mas não chega a empolgar. Nota: 6,0

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Dupla-Crítica: A Lenda de Tarzan (2016) e Invocação do Mal 2 (2016)

Duas produções que estiveram nos cinemas brasileiros no primeiro semestre, mas que somente agora pude assistir e fazer minhas considerações. Um blockbuster de aventura e uma sequencia de filme de terror. Vamos a eles!

A Lenda de Tarzan (2016)
Diretor: David Yates
Atores principais: Alexander Skarsgård, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Margot Robbie

Outra história sobre a origem de Tarzan? Por incrível que pareça, não. Em A Lenda de Tarzan o rei das selvas (interpretado pelo sueco Alexander Skarsgård) já assumiu sua rica herança e vive em paz na Inglaterra, casado com sua Jane (Margot Robbie). Então, alguns eventos que não fazem o menor sentido o obrigam a voltar para a África, para cair em uma armadilha. Completando o elenco, há o vilão caricato (de novo??) feito por Christoph Waltz e um personagem que não acrescenta nada a trama (e nem deveria existir), feito por Samuel L. Jackson. Em suma, como o ator principal parece nem saber falar inglês direito, o roteiro dá bastante tempo em cena para as estrelas Waltz, Jackson e Robbie... mesmo que isto quebre totalmente o ritmo e a credibilidade do filme.

Para piorar, a sensação que o espectador tem ao assistir A Lenda de Tarzan é que ele perdeu o começo da história. Até existem vários flashbacks ao longo do filme que tentam mostrar o passado de Tarzan e Jane. Entretanto, eles não são relevantes o suficiente para diminuir este incômodo, ou para conquistar a empatia do público em prol dos personagens.

A única coisa que se salva no filme são os efeitos especiais. Os animais são inseridos de maneira perfeita nas cenas e com realismo impressionante. Entretanto, mesmo eles são problemáticos, já que com exceção dos gorilas os demais aparecem sem nenhum contexto com a história... o que temos é basicamente um desfile de "bichos bem feitos por computador" e nada mais.

E para piorar o filme de vez, suas duas tomadas de ação finais são péssimas, muito absurdas e inverossímeis. Está com saudade de ver um filme bom sobre selvas? Fuja de A Lenda de Tarzan e corra assistir Mogli - O Menino Lobo (2016), este sim um filmaço! Nota: 4,0



Invocação do Mal 2 (2016)
Diretor: James Wan
Atores principais: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O'Connor

Não gosto de filmes de terror. Mas gostei do primeiro Invocação do Mal (2013) por ser um filme diferente do padrão do gênero, com uma abordagem de "investigação científica". Três anos depois, voltam o mesmo diretor e os mesmos roteiristas. Porém todos eles pioram bastante seu trabalho em comparação ao anterior.

James Wan, que elogiei tanto no filme passado, parece que passou a se considerar um artista genial: ao invés de uma abordagem simples e sóbria, aqui ele opta por "fazer arte" com a câmera, que quase nunca está parada. São muitos zoom-in e zoom-out; imagens seguindo um personagem ou acompanhando a visão do mesmo; cenas internas com tomadas aéreas; até planos sequencia ele faz. O foco do espectador, portanto, acaba na câmera, e não para a história em si. É o clássico exemplo da forma prejudicando o conteúdo.

O roteiro não desenvolve os personagens e também mostra pouco do casal Ed e Lorraine Warren (respectivamente Patrick Wilson e Vera Farmiga), que deveriam ser os protagonistas da história. Então, basicamente o que a história faz é mostrar em quase sua totalidade (2 horas) cenas de possessão e poltergeist na casa assombrada em questão. Algumas cenas até são boas, mas no geral, tudo bastante repetitivo e clichê.

Seguindo a tradição das continuações serem piores que os filmes originais, Invocação do Mal 2 até exagera na escrita. Nota: 5,0

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Crítica - Pets: A Vida Secreta dos Bichos (2016)

Título: Pets: A Vida Secreta dos Bichos ("The Secret Life of Pets", EUA / Japão, 2016)
Diretores: Yarrow Cheney, Chris Renaud
Atores principais (vozes): Louis C.K., Eric Stonestreet, Kevin Hart, Steve Coogan, Ellie Kemper, Bobby Moynihan, Lake Bell
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=_696GtEk5Mw
Nota: 7,0
Fofura e nonsense tornam o filme bom, apesar da propaganda enganosa

Quando o primeiro trailer de Pets: A Vida Secreta dos Bichos chegou ao Brasil (veja ele aqui), ainda no ano passado, fez bastante sucesso. Como o próprio nome do filme diz, ele prometia mostrar o que os animais de estimação aprontam quando seus donos estão fora de casa. E em propagandas em diversas mídias sua produtora reforçou esta imagem. Porém, Pets não é bem sobre isto, ele é na verdade uma história de ação(!), que é revelada (até demais) no segundo trailer (ver no link da ficha técnica acima).

Na história, o cãozinho Max (Louis C.K.) vivia feliz com sua dona, até que a mesma resolve adotar um novo cachorro, o egoísta Duke (Eric Stonestreet). Em uma de suas várias brigas, a dupla acaba se afastando de casa e recolhida pela carrocinha. É então que o coelho Bola de Neve (Kevin Hart) - líder de uma gangue de animais abandonados que quer se vingar dos humanos - os salva em troca deles entrarem para o bando. Conseguir sair da trupe dos "vilões" e achar o caminho de volta para casa é efetivamente a verdadeira história do filme.

O enredo de Pets: A Vida Secreta dos Bichos, portanto, está bem longe de ser algo original, trazendo uma trama já feita em diversos filmes de animação. Aliás, seu roteiro é raso, possui vários exageros e erros de lógica; não traz nenhum grande aprendizado ou lição, ou algum sentimento mais complexo. É pura ação, humor e nonsense.

Por isto tudo, certamente Pets vai agradar mais as crianças que os adultos. Ainda assim, os bichos são todos bem carismáticos, bem fofinhos (fazendo muitas caretas engraçadas) e produzem várias piadas (a maioria física) que divertem bastante. Ou seja, independente de sua idade ou gênero, sua fórmula deve agradar a todos.

Bastante dinâmico, como bônus o filme traz uma ótima e famosa equipe de dubladores (no idioma original, claro); há cerca de 10 nomes que o pessoal fanático por séries de TV estadunidense provavelmente vão reconhecer. O comediante Kevin Hart traz com seu coelhinho Bola de Neve a melhor e mais engraçada das atuações.

Fofo e engraçado, Pets: A Vida Secreta dos Bichos diverte mesmo sendo bem diferente do que foi vendido inicialmente. Além de tudo, é uma bonitinha ode aos envolvidos com o mundo dos animais de estimação, sejam eles os donos ou os animaizinhos. Nota: 7,0

PS: aproveitando que parte dos diretores e escritores são os mesmos dos filmes Meu Malvado Favorito, antes de Pets temos um curta inédito dos Minions...

PS2: ... e durante a primeira metade dos créditos finais há uma cena extra, que também cita os simpáticos bichinhos amarelos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Crítica - Star Trek: Sem Fronteiras (2016)

Título: Star Trek: Sem Fronteiras ("Star Trek Beyond", EUA, 2016)
Diretor: Justin Lin
Atores principais: Chris Pine, Zachary Quinto, Karl Urban, Zoe Saldana, Simon Pegg , John Cho, Anton Yelchin, Idris Elba, Sofia Boutella
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=M3UPP4X2mf8
Nota: 6,0
Saudades de J. J. Abrams...

Desde que J.J. Abrams reinventou a franquia Jornada nas Estrelas para os cinemas em 2009 como produtor e diretor, ele entregou duas ótimas produções: Star Trek (2009) e Além da Escuridão - Star Trek (2013). Porém apesar das boas críticas recebidas os filmes desagradaram parte dos Trekkers por alguns motivos: excesso de cenas de ação, pouca exploração espacial e dilemas sociais característicos da série, e também, a falta de material genuinamente novo, já que na verdade os filmes de J. J. são reinvenções de histórias já contadas pela tripulação clássica formada pelos atores William Shatner, Leonard Nimoy, e companhia.

2013 também foi o ano em que J. J. Abrams mudou de saga espacial e foi trabalhar com o reboot de Star Wars. O lado bom desta perda inesperada é que a Paramount (dona dos direitos dos filmes de Star Trek) poderia aproveitar para buscar nova mentes capazes de aparar estas arestas que incomodavam os fãs mais antigos.

E para comandar o terceiro filme os novos contratados de fato prometeram contar novas histórias e resgatar o espírito da franquia. Simon Pegg assumiu os roteiros (ele também é o ator atual do personagem Scotty) e Justin Lin assumiu a direção. Entretanto, foram escolhas estranhas para cumprir a promessa, já que embora Simon já tivesse experiência como roteirista, ele é especialista em comédias. Já Justin fez fama dirigindo uma das franquias mais acéfalas dos últimos tempos: Velozes e Furiosos.

Eis então que chega aos cinemas Star Trek: Sem Fronteiras. Teriam Simon Pegg e Justin Lin entregado o que prometeram? A resposta é... infelizmente não.

A história até começa de maneira promissora: a nave Enterprise e sua tripulação vão atrás de um chamado de socorro ocorrendo em uma nebulosa desconhecida pela Federação Unida dos Planetas. Ao chegar lá, encontram oponentes com uma tecnologia totalmente diferente da que estão acostumados. Exploração? Confere. Histórias novas? Confere. O problema é que as boas novas param após menos de 30 minutos de filme. Após seu bom começo Star Trek: Sem Fronteiras revela um roteiro simplório, repleto de clichês e composto basicamente de ação frenética e sem muito sentido. Para piorar, uma franquia que prometia mudanças traz pela terceira vez consecutiva um vilão malvado cuja motivação principal é se vingar da Federação.

Somando a tudo isso, Star Trek: Sem Fronteiras tem sérios problemas de ritmo. Exagerando no tom épico, há uma batalha grandiosa e mega barulhenta já no começo da produção. Em vários outros momentos o tom épico e uma altíssima música de ópera voltam, mas nunca como no início. Ou seja, o filme possui vários climaxes e seu maior deles se encontra erradamente em seu começo.

Outro aspecto que me entristeceu bastante é ver a tripulação começar o filme já cansada, com alguns membros já querendo se aposentar. Puxa vida, a franquia mal voltou aos cinemas e eles já começam com o papinho que estão velhos? Um baita tiro no pé.

De qualquer forma, Star Trek: Sem Fronteiras não é ruim. Em termos de ação, o filme é bom, interessante e prende bastante a atenção do público. Outro ponto positivo é o bom humor da produção, presente nos filmes de maior sucesso atuais. Tecnicamente o novo Star Trek é excelente; os efeitos especiais são incríveis; as cenas em que vemos a nave USS Enterprise no espaço são simplesmente deslumbrantes!

O design de produção também é excelente, tudo transmite a sensação de um futuro muito tecnológico, inovador e funcional; há dezenas de espécies alienígenas em cena, e quase nenhuma delas é criada de maneira digital: os atores usam pesadas maquiagens e máscaras, mas tudo aparenta bastante naturalidade e realismo.

Apesar de raso, o roteiro encontra espaço para desenvolver mais os personagens do doutor McCoy (Karl Urban) e Scotty (Simon Pegg), ao contrário dos dois filmes anteriores que basicamente só focavam na dupla Capitão James Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto). Aliás, mais uma vez o elenco desta nova geração de filmes Star Trek mostra sua competência, entregando não apenas boas atuações, mas também boas "imitações" dos personagens originais de décadas atrás. A única exceção fica para Karl Urban: agora com mais espaço, sinceramente não vi muito do antigo McCoy nele.

No ano em que a franquia Star Trek completa 50 anos a Paramount entrega um blockbuster que é um bom arroz-com-feijão mas que lembra pouco a série que a inspirou. Para mim, como trekker, isso é pouco e decepcionante. Como consolo, entretanto, pelo menos Star Trek: Sem Fronteiras não se esqueceu de seu cinquentenário ao conter dentro dele uma pequena mas belíssima homenagem ao elenco original da franquia. E, pelo menos, manteve intacta a maior e mais importante das características imaginadas pelo criador de Star Trek, Gene Roddenberry: o otimismo de que o futuro da humanidade é esperançoso, que um dia iremos viver em uma sociedade muito melhor, mais justa, mais pacífica e funcional do que a atual. Nota: 6,0.

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