quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Crítica - Rogue One: Uma História Star Wars (2016)

Título: Rogue One: Uma História Star Wars ("Rogue One", EUA, 2016)
Diretor: Gareth Edwards
Atores principais:  Felicity Jones, Diego Luna , Riz Ahmed, Ben Mendelsohn, Forest Whitaker, Mads Mikkelsen, Donnie Yen, Jiang Wen
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=9oISQcXuki0
Nota: 6,0
Muita "Guerra" e pouco "nas Estrelas"

Para quem não está muito familiarizado com o universo de Star Wars, incio com uma explicação: até agora a franquia já teve 7 filmes (Os Episódios de I ao VII), que são continuações de uma única grande história. Já Rogue One: Uma História Star Wars é o primeiro filme derivado da série: uma história fechada com começo, meio e fim; e que cronologicamente se passa imediatamente antes do Episódio IV.

Na história, a Aliança Rebelde descobre que o Império está construindo uma arma tão poderosa que é capaz de destruir planetas. É então que os rebeldes "convocam" a jovem Jyn Erso (Felicity Jones) para ajudá-los a impedir que a arma seja finalizada. Erso é uma pessoa importante para a Aliança pois ao mesmo tempo que ela é filha de Galen Erso (Mads Mikkelsen) - o cientista por trás da construção da tal super-arma - ela também é amiga de Saw Guerrera (Forest Whitaker), um líder separatista cuja facção seria essencial na luta contra o Império.

Quando o primeiro filme de Star Wars surgiu em 1977 - justamente o Episódio IV - ele foi um estrondoso sucesso de público pois reunia características difíceis de se encontrar nos cinemas da época: alucinantes batalhas entre naves no espaço; empolgantes duelos de sabres de luz, e uma espécie de "religião" baseada em uma Força universal que conecta todos os seres vivos... e que concede super-poderes.

39 anos depois surge o filme Rogue One: Uma História Star Wars e ele não traz para as telas nenhuma destas três características tão essenciais para a franquia. O que sobra então? Guerra, guerra e mais guerra. Um filme em que a grande maioria das batalhas são em terra, usando pistolas, metralhadoras, bombas e até lança mísseis. É praticamente um filme de guerra dos anos 2000 com os soldados vestindo roupas esfarrapadas (no caso dos rebeldes), ou lustrosas armaduras metálicas (no caso dos imperialistas). Rogue One só lembra Star Wars de verdade em seus 15 minutos finais, que aliás são de longe o melhor pedaço desta produção.

Apesar da grande descaracterização da franquia, a história em si não é ruim. Funciona como um bom filme "padrão" do gênero de guerra, com boas cenas de ação. Sua única e maior novidade é trazer para Star Wars pela primeira vez uma guerra "de verdade". Muito longe das batalhas "limpas" da trilogia clássica onde os rebeldes apenas se defendem, em Rogue One os soldados da Aliança atacam desesperadamente seus inimigos, com táticas as vezes nada heroicas que estão entre a guerrilha e o terrorismo.

Apesar de uma trama interessante, o roteiro padece com vários problemas estruturais. Contando a história de maneira sempre apressada e com muitos cortes, o desenvolvimento dos personagens é pífio. É praticamente impossível sentir empatia com qualquer pessoa de Rogue One. O único personagem que possui algum carisma - o lutador cego de "kung-fu" Chirrut (Donnie Yen) - parece estar em filme errado: ele faz muito mais sentido dentro do universo de filmes como O Tigre e o Dragão (2000), do que Star Wars.

Dizem os produtores que o filme possui muitos minutos que foram cortados na edição final. A questão é que dentro das 2h14min de Rogue One daria tempo para desenvolver vários personagens... isto se eles não tivessem optado por gastar espaço para mostrar centenas de fan services. Temos participações especiais - dentre muitas outras - de R2-D2, C-3PO, o senador Bail Organa, Darth Vader, Cornelius Evazan, a Princesa Leia e o Governador Moff Tarkin; sendo estes dois últimos imagens feitas por computador que não me convenceram como atores reais.

Tecnicamente, Rogue One também falha em vários aspectos. É verdade que o filme aproveita para trazer imagens belíssimas de planetas e outros objetos espaciais. Entretanto, na maior parte do tempo as imagens são em ambientes apertados e fechados, exagerando nos closes no rostos dos atores e desfocando todo o ambiente ao fundo. Sinceramente, em pleno ano de 2016 vender um filme em 3D com tanta limitação de foco (em 3D "de verdade" não há a necessidade do plano ao fundo perder foco porque afinal de conta as imagens são em... 3D!) é um insulto ao público.

Outro ponto fraco de Rogue One é sua trilha sonora. Pela primeira vez o mestre John Williams ficou de fora de um filme de Star Wars e ele fez muita falta. Para piorar, o trabalho de seu substituto Michael Giacchino foi prejudicado por problemas de cronograma - ele teve apenas quatro semanas e meia para compor toda a música do filme - e o resultado foi uma trilha fraquíssima.

Apesar dos muitos problemas, Rogue One: Uma História Star Wars ainda consegue entreter. Seria ele, entretanto, uma obra relevante para a franquia de Star Wars? A resposta: sim, embora não tanto. O filme deixa três legados importantes na mitologia: consegue "corrigir" um grande furo de roteiro relacionado a Estrela da Morte, dá uma explicação aceitável para a mira ruim de todos os stormtroopers, e nos apresenta de maneira bem mais clara o quanto a situação da Aliança Rebelde era desesperadora (isto é mais detalhado no universo expandido, mas foi pouco mostrado nos outros filmes). Nota: 6,0

domingo, 18 de dezembro de 2016

Crítica - A Vingança Está na Moda (2015)

Título: A Vingança Está na Moda ("The Dressmaker", Austrália, 2015)
Diretor: Jocelyn Moorhouse
Atores principais:  Kate Winslet, Judy Davis, Liam Hemsworth, Hugo Weaving, Sarah Snook
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=n5K4LSViFds
Nota: 5,0
Filme australiano se perde na mistura de assuntos

Com direção, produção e atores Australianos - com o reforço dos britânicos Kate Winslet e Hugo Weaving - A Vingança Está na Moda estreou no Brasil em maio em número reduzidíssimo de salas e mesmo já estando disponível para compra em sites de streaming seu trailer voltou aos cinemas... será que ele voltará às telonas em breve?

Na trama, a agora estilista Tilly Dunnage (Kate Winslet) retorna após mais de uma década a sua cidadezinha natal, de onde fôra "expulsa" quando criança por supostamente ter assassinado seu colega de escola Stewart Pettyman. Confusa e esquecida sobre os eventos do passado, Tilly volta para descobrir se afinal é uma criminosa ou não.

Diferente do tradicional, o roteiro de A Vingança Está na Moda aborda quatro temas em paralelo: a investigação sobre o crime passado; a transformação das pessoas através da moda (esta parte do filme é bem focada no universo feminino); o desejo de vingança da protagonista; e por fim, o romance de Tilly com Teddy McSwiney (Liam Hemsworth).

Como se pode ver pelo parágrafo anterior, Tilly não tem a menor idéia do que quer fazer, em como agir, ou no que colocar seu foco. E por mais que esta "confusão" seja algo que muitas pessoas passam na vida real, ela não deveria atingir a execução do filme, que parece ter sido contagiado pela mente de sua heroína: nenhum dos quatro temas se resolvem de maneira satisfatória ou se mesclam de maneira natural.

Tanto a investigação do crime quanto as ações vingativas de Tilly se resolvem de maneira inverossímil e decepcionante; o "universo feminino" é abandonado no meio da projeção; e finalmente, não há química nenhuma entre Tilly e Teddy. Kate Winslet e Liam Hemsworth estão interpretando personagens que possuem a mesma idade; entretanto, mesmo continuando belíssima, Kate é claramente bem mas velha que Liam e eles simplesmente não combinam juntos. Para piorar, Liam atua muito mal: sem carisma, o irmão mais novo de Thor passa o filme todo com apenas uma expressão no rosto, a de "apaixonado abobalhado".

De bom mesmo em A Vingança Está na Moda apenas a atuação de Kate Winslet e algumas reviravoltas inesperadas no roteiro, quebrando um pouco a monotonia de dezenas de clichês que aparecem ao longo do filme.

A Vingança Está na Moda tem alguns momentos divertidos, mas em geral, lhe falta coerência e identidade. Seria o filme um drama? Um romance? Uma comédia? A história flerta com todos estes gêneros mas não convence em nenhum deles. Nota: 5,0.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Crítica - Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Título: Sully: O Herói do Rio Hudson ("Sully", EUA, 2016)
Diretor: Clint Eastwood
Atores principais: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, Valerie Mahaffey, Mike O'Malley, Jamey Sheridan
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=9n6hcBc4bgE
Nota: 6,0
Mais na terra que no ar, acidente aéreo fica em segundo plano

Em uma época em que o assunto acidentes aéreos ainda está bem vívido no cotidiano do brasileiro, chega as cinemas Sully: O Herói do Rio Hudson, baseado no livro-biografia Highest Duty escrito por Chesley "Sully" Sullenbergerde, o piloto que em janeiro de 2009 realizou o "milagre" de pousar em pleno Rio Hudson, na cidade Nova York, um avião de passageiros que havia perdido todos seus motores. Se trata da primeira parceria de Clint Eastwood, na direção, com Tom Hanks, que interpreta o protagonista "Capitão Sully".

Sim, Sully pousou heroicamente um avião em pane em cima de um rio. Mas teria sido mesmo uma manobra necessária? Pousar em água é dificílimo, muito arriscado, e com dois aeroportos bem próximos ao local da queda, não teria sido muito mais seguro para todos o piloto guiar seu veículo até um destes locais? É a investigação que tenta responder esta pergunta a base deste filme.

Acontece que a "história da vida" de Sully é baseada em um incidente muito rápido, que durou apenas 206 segundos (número que aliás aparece várias vezes no roteiro). E a tal investigação posterior, também foi rápida e direta. Como preencher 1h30min de filme com tão pouco material? É este o grande problema de Sully: O Herói do Rio Hudson.

Roteiro e direção fazem um trabalho muito bom para "esticar" o filme, trazendo uma narrativa não-linear, mostrando flashbacks... e desta maneira "distraindo" com sucesso o espectador. Sóbrio e direto, foi uma grande satisfação para mim ver que o filme de Clint Eastwood não apelou para trilha sonora piegas - a trilha é quase imperceptível - ou para clichês e frases de efeito para tornar o filme mais "elevado emocionalmente". Ainda assim, apesar do bom trabalho técnico e de produção, Sully: O Herói do Rio Hudson é um filme "apenas" interessante, sem contar com grandes surpresas ou emoções.

Fora o ato heroico em si - que aconteceu na vida real, e com isto eleva bastante o filme - não há muitos outros atributos em Sully. Ainda assim, há de ser elogiada a fotografia excelente de Tom Stern (parceiro costumeiro do diretor) e a boa atuação de Tom Hanks, que contrasta com a esquecível presença de todos os coadjuvantes em tela.

Muito mais sobre o que acontece em terra do que no ar, Sully: O Herói do Rio Hudson é um reflexo do seu protagonista na vida real: heroico e comedido. Nota: 6,0

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Crítica - A Chegada (2016)

Título: A Chegada ("Arrival", EUA, 2016)
Diretor: Denis Villeneuve
Atores principais: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael Stuhlbarg, Forest Whitaker, Tzi Ma
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=rNciXGzYZms
Nota: 9,0
Ficção-científica e "quebra-cuca" de primeira

Na última década vários cineastas nos mostraram pontos de vista bem heterodoxos sobre a existência humana. Como exemplos, tivemos a Fonte da Vida (2006) de Darren Aronofsky, O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) de David Fincher, Sr. Ninguém (2009) de Jaco Van Dormael, A Árvore da Vida (2011) e Amor Pleno (2012) de Terrence Malick, e Boyhood: Da Infância à Juventude (2014) de Richard Linklater.

Mas desses exemplos acima, apenas dois conseguiram efetivamente me emocionar e transmitir sua visão: Fonte da Vida e Boyhood. Bem, a partir de agora posso adicionar um terceiro filme na relação: A Chegada, do ótimo diretor canadense Denis Villeneuve. Um filme que, entretanto, tem de longe a roupagem científica mais pesada dentre todos os citados anteriormente.

Na história, 12 objetos gigantes alienígenas pousam na Terra em tentativa de comunicação. O que eles querem? É aí que entra a melhor linguista estadunidense, Louise Banks (Amy Adams), para tentar traduzir a mensagem dos ETs.

Como a humanidade se comportará frente a este evento? Como iniciar uma conversação entre duas espécies totalmente desconhecidas e diferentes entre elas? São respostas que A Chegada mostra de maneira consideravelmente verossímil.

O filme começa de maneira bem lenta, com trilha instrumental bem pesada, lembrando em momentos o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968). Por exemplo, boa parte do segmento inicial do filme mostra Louise dentro de uma sala tentando se comunicar - sem sucesso - com os visitantes espaciais.

Com o desenrolar da trama, entretanto, o filme começa a ganhar velocidade e tensão. Há uma corrida contra o tempo para evitar uma guerra causada - como sempre - pela burrice humana. Sentimento de urgência e suspense são adicionadas de maneira gradativa e perfeita pelo diretor, até culminar no final surpreendente, emocionante, e ao mesmo tempo, de compreensão não muito fácil. E olha que A Chegada até tenta facilitar seu entendimento para o grande público, criando uns pequenos "exageros" de roteiro em troca de uma explicação mais palatável.

Não irei comentar muito mais sobre o filme para não dar spoilers; ainda assim, explico que toda a trama - adaptada do conto "Story of Your Life", escrito em 1998 por Ted Chiang - tem como base uma única e simples teoria científica, garantindo portanto o título que darei ao A Chegada: um dos melhores filmes de ficção científica deste século. Nota: 9,0.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica - Pequeno Segredo (2016)

TítuloPequeno Segredo (Brasil / Nova Zelândia, 2016)
Diretor: David Schurmann
Atores principais: Mariana Goulart, Erroll Shand, Maria Flor, Fionnula Flanagan, Júlia Lemmertz, Marcello Antony
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=X_qAIqyZK8g
Nota: 5,0
Com um desfecho belíssimo, o difícil é chegar até ele

Em teoria Pequeno Segredo deveria ser um filme interessante: baseado em um drama real da família Schurmann (a primeira família brasileira a circunavegar o mundo em um veleiro), e sendo a indicação nacional para o Oscar 2017, este "currículo" chama a atenção.

Mas o que vemos nas telas fica longe de um bom filme. Em primeiro lugar, Pequeno Segredo lembra muito uma novela da Globo. E não é pela presença de Júlia Lemmertz e Marcello Antony, que pouco parecem em cena. Pequeno Segredo lembra novelas pela sua fotografia característica, pelos diálogos artificiais e piegas, pelos atores ruins, a presença constante de product placement, pela trilha sonora enfadonha e melodramática. Aliás, o filme lembra tanto novela que tem até seus "núcleos": o núcleo da família Schurmann, em SC; e o núcleo gringo, que se divide entre o Pará e a Nova Zelândia.

Pequeno Segredo dura intermináveis, desnecessárias e enfadonhas duas horas. Entretanto, faltando cerca de 20 minutos para o filme acabar, algo surpreendente acontece: há uma reviravolta e descobrimos enfim qual é o "segredo" do título do filme.

É então que a história muda da água podre para o vinho. Onde antes não havia nenhuma coesão, agora os fatos se encaixam trazendo sentido; enfim é fornecido ao espectador motivos para ter alguma empatia com os personagens. E enfim a trilha sonora dramática e as câmeras lentas tem algum propósito narrativo.

O final de Pequeno Segredo é excelente, bastante comovente. Ainda assim, não é suficiente para apagar a péssima viagem que foi chegar até ele. Até porque, notem que a grande força da história está no seu "segredo"; que não será surpresa nenhuma para quem já conheça a vida dos Schurmann; ou quem tenha lido sobre este filme na Wikipedia. Em suma, para aproveitar algo desta obra, não veja nada sobre ela além deste texto!!!

Não é tão difícil entender porque Pequeno Segredo foi o indicado brasileiro ao Oscar. Afinal, é um filme "feito pra gringos": conta com vários diálogos em inglês, atores internacionais (e o mais famoso deles - Fionnula Flanagan - é bem conhecida), e se preocupa em apresentar um pouco do nosso lado "das selvas"... mostra como é diferente e pobre a vida do Norte brasileiro; ao mesmo tempo que nós temos as qualidades e virtudes do "bom selvagem"... tudo bem estereotipado. Por outro lado, é difícil aceitar que um filme com direção e roteiro tão problemáticos seja considerado o melhor filme nacional do ano.

Com começo e meio catastróficos, o final de Pequeno Segredo é tão bom que justifica que ele seja assistido. É uma história real que merece ser conhecida. Ainda assim, se seu desfecho "salvou" a experiência de assistir o filme, não foi suficiente para salvar sua nota. Nota: 5,0

sábado, 12 de novembro de 2016

Crítica - Doutor Estranho (2016)

TítuloDoutor Estranho ("Doctor Strange", EUA, 2016)
Diretor: Scott Derrickson
Atores principais: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=DavLd8Nj2TQ
Nota: 7,0
Apresentando o Multiverso usando um Multiverso

Chega aos cinemas o décimo quarto filme (!) da grande história contada pelo Universo Cinematográfico Marvel, inciado em 2008. O novo herói da vez é o Doutor Estranho. Na trama, o genial e arrogante cirurgião Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) sofre um acidente e perde o uso de seu instrumento mais importante: suas mãos. Desesperado por uma cura, Strange acaba viajando pra o Oriente em busca de tratamentos alternativos. É quando ele encontra a Anciã (Tilda Swinton) e seu grupo de monges super-poderosos. Inicia-se então o treinamento de Stephen ao mesmo tempo em que a Terra recebe nova ameaça global.

Doutor Estranho é certamente a produção da Marvel de maior deslumbre visual até agora. Ótimos efeitos especiais, imagens incríveis em constante movimento, cenas que parecem alucinações. Um espetáculo! E o bom é que estas imagens proporcionam ótimas cenas de ação - afinal, boa parte do filme são perseguições e lutas.

Direção e roteiro fazem um trabalho excelente ao explicar conceitos místicos e complexos de uma maneira simples e sem muito didatismo.

Outra grande qualidade de Doutor Estranho é seu protagonista. O carismático "Benedito" mostra mais uma vez sua grande versalidade e qualidade como ator, personificando de maneira bastante convincente o personagem dos quadrinhos.

Doutor Estranho é um filme de Origens bem interessante, com potencial de agradar todo tipo de público - como todo filme Marvel - mas que também como todo filme Marvel, possui seus defeitos.

Em primeiro lugar, como já citado acima, o roteiro é simples demais, focando demais na ação em detrimento do desenvolvimento dos personagens. Apenas o protagonista Stephen Strange nos é apresentado de maneira decente. Todos os demais personagens são mal explorados; o que é um enorme desperdício quando lembramos que o filme conta com atores de talento comprovado, como por exemplo Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams e Tilda Swinton. Alías, Tilda Swinton é a única dos coadjuvantes que brilham na tela com ótima caracterização. Por outro lado, os sub-aproveitados Ejiofor, McAdams e Mikkelsen são tão mal tratados que até passam por momentos constrangedores.

Outro problema já recorrente nos filmes da Marvel é o péssimo timing de suas piadas. Mais uma vez testemunhamos momentos dramáticos ou heróicos serem jogados no lixo graças a algum alívio cômico para fazer o filme voltar a ser "engraçadinho". Lamentável. Doutor Estranho tem as piadas mais fora de contexto do Universo Marvel desde Homem de Ferro 3, com o agravante que Strange não era para ser o palhaço que Tony Stark é.

Mas o que mais me chamou a atenção em Doutor Estranho é a ironia - seria este o termo? - que o filme que deveria ser o mais diferente dentre todos da Marvel é na verdade o que mais caminha pelo conhecido, bebendo de muitas fontes famosas do universo Pop. É um filme que apresenta aos espectadores o Multiverso Marvel através de múltiplos universos de outras franquias. Afinal, o filme é um amálgama de referencias (sejam visuais ou de enredo) como A Origem, Spawn, Highlander, Dr. House, Matrix, e mais alguns outros que não posso citar para não estragar a surpresa do final do filme - que por sinal é muito bom.

"Ah, mas o Doutor Estranho foi criado na década de 60, muito antes das obras citadas acima". É verdade, mas este Dr. Estranho apresentado nas telas é diferente do personagem original. É a velha questão do que veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Graças a mesma fórmula utilizada em todos seus filmes, a Marvel mais uma vez consegue ter sucesso - em público e diversão - com um personagem de pequena expressão da editora, quase desconhecido do grande público. Doutor Estranho chegou para se tornar verdadeiramente famoso dentro do mundo dos super-heróis. E vai conseguir. Nota: 7,0.


Obs 1: a Anciã celta interpretada pela ótima Tilda Swinton é uma modificação do Ancião, feiticeiro tibetano que nos quadrinhos é o verdadeiro mentor do Doutor Estranho. Por que a Marvel mudou o gênero e nacionalidade de seu personagem? Simples: dinheiro! A alteração foi feita para que o filme não fosse censurado pelo governo chinês, cujo país representa 18% da arrecadação mundial dos filmes da editora. Referências ao Tibete (que a China não reconhece como região independente) e a orientais estereotipados certamente seriam barradas. O medo de ser proibido pela China é o mesmo motivo que fez com que o personagem Mandarim também tenha sido ocidentalizado - para fúria dos fãs - em Homem de Ferro 3.

Obs 2: o filme contém duas cenas pós-créditos, sendo a última provavelmente importante para o futuro do Doutor Estranho nos cinemas.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Dupla-Crítica: O Lagosta (2015) e Jogo do Dinheiro (2016)

O primeiro é um filme que injustamente nem chegou aos cinemas brasileiros. O outro é um que conseguiu desembarcar por aqui, mas apesar das estrelas presentes não emplacou nas bilheterias. Vamos à mini crítica de mais dois interessantes títulos!


O Lagosta (2015)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principais: Colin Farrell, Rachel Weisz, Olivia Colman, Angeliki Papoulia, John C. Reilly, Léa Seydoux, Ben Whishaw

O Lagosta, dirigido e escrito pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos é um filme bem diferente, mas não pela maneira com que é filmado: tecnicamente ele se assemelha bastante aos atuais filmes indie estadunidenses que conseguem captar várias estrelas para seu elenco.

O que é realmente diferente em O Lagosta é seu roteiro, simplesmente maluco, bizarro. Com o intuito de criticar o quanto o ser humano se comporta de maneira absurda (principalmente em termos de relacionamentos e na criação e cumprimento de leis), Lanthimos nos apresenta um futuro onde pessoas adultas não podem ficar sem um par romântico. Caso isto aconteça (seja porque você não encontrou ou não se interessou por uma "alma gêmea", ou ainda, porque seu cônjuge acaba de morrer e você agora se encontra sozinho), os solteiros são levados a um hotel especial onde têm 45 dias para encontrar seu novo amor. Caso isto não aconteça, o solitário humano é transformado em um animal à sua escolha (o nome do filme se deve ao fato do protagonista principal, David (Colin Farrell) ter escolhido virar uma lagosta caso fracasse no amor).

O filme se desenvolve trazendo uma sucessão de acontecimentos estranhos e inesperados. E por estas características, temos uma trama inteligente que faz o espectador ansiar a todo momento pelo que há por vir. Em O Lagosta vemos algumas boas atuações, mas a única de grande destaque é da competente Rachel Weisz, que a meu ver poderia ter ficado mais tempo em cena.

O Lagosta é uma ficção excelente para quem curte futuros distópicos e humor negro. O filme só não leva nota maior pois para mim ele é tão "maluco" que suas críticas à sociedade se diluem em meio a tanta bizarrice. Infelizmente um filme tão bom como esse não chegou nos cinemas brasileiros. Mas já pode ser assistido por aqui comprando-o em diversos serviços de streamingNota: 7,0


Jogo do Dinheiro (2016)
Diretor: Jodie Foster
Atores principais: George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Dominic West, Caitriona Balfe, Giancarlo Esposito

Três grandes estrelas de Hollywood (Jodie Foster na direção, George Clooney e Julia Roberts como atores principais) se reúnem em um suspense que mistura os assuntos de mercado financeiro e programas sensacionalistas da TV.

Na história Lee Gates (Clooney) tem seu programa ao vivo de TV invadido por um desesperado Kyle (Jack O'Connell), armado e vestindo um colete repleto de bombas. A exigência do criminoso? Entender porque ele e milhões de estadunidenses perderam dinheiro na bolsa através de uma surpreendente queda da "empresa do momento", que inclusive fora recomendada publicamente por Gates.

Jogo do Dinheiro tem uma grande qualidade: roteiro e direção fazem um trabalho excelente para manter o clima de tensão durante todo o filme. Jodie aparenta ter aprendido muito bem a lição de "como dirigir um thriller de suspense" com David Fincher, quando estrelou o excelente O Quarto do Pânico (2002), dirigido por ele.

O problema com Jogo do Dinheiro é o que acontece em sua metade final. O ótimo clima de suspense continua intocado nesta parte... porém, a história fica cada vez mais inverossímil. E tão ruim quanto aos absurdos da trama são os vários clichês: Clooney é o malandro com coração de ouro; Julia Roberts é a grande diretora que é a única que consegue controlá-lo; a polícia é bastante incompetente; e finalmente, temos a cota de vilões unidimensionais malvadões que expõem seus planos malignos para todos.

Pelos nomes envolvidos, Jogo do Dinheiro poderia ter uma ótima bilheteria, mas o fraco roteiro contribuiu para que isto não acontecesse. Ainda assim, o filme deu lucro: de um orçamento de US$ 30 milhões, arrecadou US$ 100 mi. Para mim, um cenário justo: este filme não merece grandes conquistas, mas também não merece dar prejuízo. Nota: 6,0

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crítica - A Garota no Trem (2016)

TítuloA Garota no Trem ("The Girl on the Train", EUA, 2016)
Diretor: Tate Taylor
Atores principais: Emily Blunt, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Luke Evans, Edgar Ramírez, Laura Prepon, Allison Janney
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=kmQ1WcX425E
Nota: 7,0
Boa história e boas atuações sustentam o filme apesar da direção problemática

Baseado no livro homônimo bestseller (inclusive no Brasil) da autora britânica Paula Hawkins, A Garota no Trem é uma mistura de filme policial / suspense com o drama de três mulheres bem diferentes - Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Anna (Rebecca Ferguson) - mas cujos destinos se cruzam bastante nos dias atuais. Certa tarde Megan desaparece, e Rachel nos é apresentada como possível culpada e também como possível solucionadora do mistério.

A grande maioria do filme é narrada sob o ponto de vista de Rachel; em segundo lugar aprendemos sobre Megan e finalmente, vemos bem pouco sobre Anna. Independente do tempo de história de cada uma das personagens, todas elas possuem uma vida interessante e repleta de reviravoltas. Eis portanto o ponto forte de A Garota no Trem: as aparências enganam bastante e há muito mais por trás de cada uma destas três mulheres do que julgamos quando as vimos pela primeira vez.

Já a trama policial de A Garota no Trem, se não é lá tão original (baseia-se no testemunho duvidoso de observadores remotos, como já vimos no clássico Janela Indiscreta do mestre Hitchcock) ainda assim agrada, sendo bastante interessante e atiçando o "detetive" dentro de cada um de nós. Outra qualidade do filme é trio de atrizes protagonistas, que atuam muito bem, especialmente Emily Blunt e a bela Haley Bennett.

Pelo tema policial, pelas reviravoltas, e pela marcante presença feminina, a comparação de A Garota no Trem com Garota Exemplar é inevitável. Mas por que o primeiro filme está sendo tão criticado pela crítica nacional em contraste com os muitos elogios para o segundo? A diferença está na direção.

Se Garota Exemplar conta com a ótima direção do ótimo e consagrado David Fincher, A Garota no Trem conta com um diretor bem menos hábil - Tate Taylor - que até agora só possui um sucesso em sua curta carreira: o bom Histórias Cruzadas, que não é um filme de suspense (onde Fincher manda tão bem).

E aonde é que Taylor falha? Bem, lhe falta comedimento em vários aspectos: a trilha sonora é muito exagerada, pesada e repetitiva, o que torna o filme desnecessariamente melancólico e cansativo; o alto número de flashbacks curtos atrapalha o ritmo da história; e há também bastante exagero na quantidade de cenas de delírio / confusão mental de Rachel. Para completar, depois que descobrimos quem é o "vilão" (ou vilã) da trama, a história se prolonga bem mais que o necessário.

Notem que alguns dos problemas citados no parágrafo anterior não são exclusivos do diretor e também recaem sobre a roteirista Erin Cressida Wilson. A impressão que tenho é que ela teve em mãos um ótimo material (o livro de Paula Hawkins) mas não soube adaptá-lo muito bem para as telonas.

Não concordo com a chuva de criticas que a imprensa nacional coloca em A Garota no Trem. Apesar dos problemas na direção, o filme é bem acima da média e certamente agradará os fãs de filmes de suspense. Muitos estão chamando A Garota no Trem de uma cópia mal feita e previsível de Garota Exemplar. De fato, o filme de Fincher é bem melhor, ainda assim, A Garota no Trem não me foi previsível e ambos os filmes merecem ser conferidos. Nota: 7,0

domingo, 16 de outubro de 2016

Crítica - Inferno (2016)

Título: Inferno ("Inferno", EUA / Hungria / Japão / Turquia, 2016)
Diretor: Ron Howard
Atores principais: Tom Hanks, Felicity Jones, Ben Foster, Sidse Babett Knudsen, Irrfan Khan, Omar Sy, Ana Ularu
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=8_MF60pD13c
Nota: 6,0
Filme é reflexo de sua obra original

Inferno é a terceira adaptação para os cinemas de um livro de Dan Brown, também pela terceira vez contando com sua criação mais famosa, o simbologista Robert Langdon (Tom Hanks). E assim como nos livros, os filmes desta franquia sofrem do mesmo mal: são histórias muito parecidas, onde basicamente apenas se trocam o nome dos coadjuvantes e as localidades da trama. Não é a toa, portanto, que pouco mais de 10 anos após o escritor explodir em fama mundialmente com O Código da Vinci, hoje seus livros são muito menos relevantes, quase esquecidos.

Para Inferno, além de Tom Hanks, retorna também o premiado diretor Ron Howard - a mesma pessoa que dirigiu os anteriores O Código da Vinci Anjos e Demônios. Se por um lado isto traz qualidade e coesão nesta "trilogia", por outro apenas reforça a sensação de "mais do mesmo".

Inferno é um livro com menos enigmas, menos mistério, e mais ação do que O Código da Vinci; e isto é refletido com vigor nas telas. Também repetindo, em ambas as obras Langdon é auxiliado por uma bela jovem, e em ambas adaptações a atriz escolhida possui traços meigos e delicados: era o caso de Audrey Tautou em da Vinci, e agora de Felicity Jones, interpretando a Dra. Sienna Brooks.

Na história, Langdon acorda desmemoriado em um hospital, e em questão de minutos o local é invadido na tentativa de matá-lo. Fugindo às pressas junto com a enfermeira Sienna, a dupla descobre ser a última esperança para evitar o lançamento de um vírus mortal - que mataria metade da raça humana - criado pelo bilionário Bertrand Zobrist (Ben Foster). O nome do filme vêm da obra literária Inferno, de Dante Alighieri, que é frequentemente usada ao longo da história como tema dos enigmas encontrados pela dupla.

Inferno é um filme de ação ininterrupta, do começo ao fim. A história é agradável, prende a atenção do espectador, e ainda conta com a vantagem de mostrar belas localidades históricas encontradas em Florença, Veneza e Istambul - visualizar as obras de arte e os edifícios reais é a única vantagem dos filmes em relação aos livros.

Por outro lado, a adaptação de Inferno peca em dois pontos: as "alucinações" de Langdon são exploradas em demasiado, a meu ver. E, principalmente, após 1h30 de uma história extremamente fiel ao livro, em seu ato final o filme desvirtua em muito o final originalmente escrito por Dan Brown. É verdade que da maneira que o filme se encerra ele até faz um pouco mais de sentido; ainda assim, a maneira com que o escritor havia finalizado Inferno era o único sopro de real originalidade em seu texto. Alterá-lo, portanto, para mim foi uma péssima idéia.

Inferno - o livro - é uma versão piorada de O Código da Vinci, mas ainda assim diverte. E o mesmo pode ser dito de seus filmes. De resto, é passar o tempo admirando a boa atuação de Tom Hanks e a beleza de Felicity Jones. Nota: 6,0.

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...