quarta-feira, 18 de abril de 2018

Crítica - Jogador Nº 1 (2018)

TítuloJogador Nº 1 ("Ready Player One", EUA, 2018)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Lena Waithe, T.J. Miller, Simon Pegg, Mark Rylance, Hannah John-Kamen
Várias qualidades e muitos clichês

Steven Spielberg está de volta aos blockbusters de aventura com Jogador Nº 1, filme baseado no livro de mesmo nome escrito por Ernest Cline em 2011.

Na história, estamos em 2045, onde boa parte da população é pobre e vive amontoada e sem esperança em "favelas" high-tech. O único local onde estas pessoas podem ter alguma esperança é dentro do OASIS, um enorme mundo de realidade virtual criado pelo nerd-gênio James Halliday (Mark Rylance) décadas atrás. Quando Halliday morre, ele deixa como "legado" um desafio: uma série de 3 enigmas dentro da OASIS que, quando resolvidos, premiará o vencedor com sua herança de meio Trilhão de dólares e o controle do mundo virtual. Wade (Tye Sheridan) é o jovem protagonista que acompanhamos em busca do prêmio.

O principal atrativo de Jogador Nº 1 é sua quase centena de referências à cultura pop: filmes, TV, música, quadrinhos, animes, vídeo games... principalmente dos anos 70 e 80, mas também passando em menor intensidade pelos anos 90 e nosso século atual. Para quem curte todas estas mídias, Jogador Nº 1 já se torna imediatamente uma experiência agradável, nem que seja pelo saudosismo. Somente em um filme como esse podemos ver um DeLorean correndo contra motos de Akira e Tron; ou ainda, o robô de O Gigante de Ferro em batalha contra outros dois robôs que não vou citar para aqui não dar spoiler. Só adianto que a (curta) luta entre estes gigantes é mais emocionante do que qualquer luta de robôs exibida em qualquer um dos cinco filmes dos Transformers.

Outra grande qualidade de Jogador Nº 1 são seus efeitos especiais. A maioria do filme se passa dentro do OASIS, e apesar disto, não me cansei das "cenas artificiais", que também me pareceram bem críveis como sendo um "mundo virtual do futuro". O design de produção de Jogador Nº 1 é sem dúvida excelente.

A aventura em si - que é quase literalmente um roteiro de vídeo-games - é bem divertida e acelerada. Pra quem gosta de jogos eletrônicos não tem erro: outro fator garantido para diversão. De quebra o filme ainda debate - e corretamente critica - o tempo que dedicamos às mídias sociais.

Todas estas qualidades acima, entretanto, estão acompanhadas de diversos problemas, o que faz a qualidade de Jogador Nº 1 cair muito como resultado final.

A começar, todos os seus personagens são mal desenvolvidos e são verdadeiros "clichês ambulantes": o mocinho ingênuo que vai salvar o mundo, a mocinha idealista e solitária que vai se apaixonar pelo mocinho, o vilão ultra-mega malvado, etc. E além dos clichês (ah, e como defender uma cena em que um vilão vai matar um mocinho e justo nesta hora sua munição acaba?) também são várias as inconsistências: drones espiões que simplesmente somem de cena quando conveniente, ou inimigos que viram a casaca sem nenhum motivo lógico.

Mas talvez o clichê de Jogador Nº 1 que mais me desanima tenha o nome de Steven Spielberg. Por que o final dos seus filmes precisam ser SEMPRE tão exageradamente felizes?

Ok, é verdade que as críticas são quase unânimes de que o filme é melhor que o livro (ou seja, o material original não é lá estas coisas); e também é totalmente compreensível que uma aventura infanto-juvenil precisa ter um final feliz. Mas não tão feliz assim! Temos literalmente 4 ou 5 finais felizes dentro do filme. E não é a primeira vez (nem será a última) que Spielberg finaliza uma história com múltiplos finais piegas-felizes.

Se fosse transportado para as telonas de maneira mais adequada, Jogador Nº 1 poderia ter sido "o" filme de aventura "futurista" do final desta década. Mas ironicamente ao repetir tantos erros e exageros do passado (ou seja, clichês), fica pra História como um filme divertido e nada mais.  Nota: 6,0.


PS: sobre as referências que o filme faz, cito aqui como curiosidade três diferenças relevantes em relação ao livro. 1) toda a cena rodada "dentro" de O Iluminado no livro se passa dentro de Blade Runner, do qual não se conseguiu os direitos de exibição; 2) pelo mesmo motivo o robô de O Gigante de Ferro substituiu Ultraman; 3) Spielberg fez questão de cortar do filme qualquer referência às suas obras (ainda que os artistas do filme tenham conseguido colocar escondido do diretor duas referências a Gremlins - filme que Steven foi produtor).

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Crítica - Um Lugar Silencioso (2018)

TítuloUm Lugar Silencioso ("A Quiet Place", EUA, 2018)
Diretor: John Krasinski
Atores principais: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Cade Woodward
Um dos melhores filmes de suspense dos últimos anos

Dirigido por John Krasinski - o eterno Jim Halpert do seriado The Office estadunidense - que também co-estrela o filme com sua esposa na vida real Emily Blunt, Um Lugar Silencioso tem sido uma grata surpresa de crítica e público pelo mundo (já é a segunda maior bilheteria nos EUA neste ano até agora, só perdendo para Pantera Negra).

Na história, pós-apocalíptica, acompanhamos a vida da família Abbott a partir de um mês após uma misteriosa invasão alienígena que quase acabou com a humanidade. Os invasores - cegos - apenas atacam quando ouvem barulho; o que significa que é possível a sobrevivência desde que as pessoas permaneçam em um eterno e completo silêncio.

Contando com uma fotografia muito boa, a maior das qualidades de Um Lugar Silencioso é o forte clima de tensão que acompanha todo o filme. Já faz um tempinho que não vejo nos cinemas uma obra tão eficiente ao fazer suspense.

Sabem aqueles filmes que os mocinhos são atacados mas você sabe que no final tudo vai dar certo? Isto definitivamente não acontece em Um Lugar Silencioso. Os problemas que a família Abbott têm que enfrentar ao longo da história são crescentes, e em nenhum momento você sabe se todos eles vão sobreviver ou não. Aliás, vocês terão que assistir o filme para descobrir se sobreviveram. ;)

A estrutura narrativa e o tema de Um Lugar Silencioso lembram um bocado o filme Sinais (2002) de M. Night Shyamalan. A diferença é que aqui a empatia que sentimos pela família em apuros é maior. O drama dos personagens é melhor desenvolvido e explora com bastante emoção a relação entre pais e filhos; além de que as filmagens são mais bem sucedidas em nos colocar "dentro" do ambiente do filme.

Contando também com boas atuações, Um Lugar Silencioso é diversão certa para quem gosta de suspense de primeira. Nota: 8,0

sábado, 17 de março de 2018

Crítica Netflix - Aniquilação (2018)

TítuloAniquilação ("Annihilation", EUA, 2018)
Diretor: Alex Garland
Atores principais: Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Tuva Novotny, Oscar Isaac, Benedict Wong
Enfim um thriller de ficção científica bom e assustador

Três anos após seu primeiro filme como diretor (onde também era o roteirista) - o ótimo Ex-Machina - Alex Garland retorna para dirigir e roteirizar outra ficção científica muito boa, porém bem diferente na temática. Se no primeiro filme o foco era formas de vidas artificiais, aqui vamos na direção oposta, onde o foco é na biologia.

Baseado no livro de mesmo nome escrito por Jeff VanderMeer em 2014 (aliás bem levemente, o filme é bastante diferente da obra escrita), o roteiro de Aniquilação não é excepcional; possui algumas pequenas falhas e repetições. Ainda assim, ele é muito bom: debate de maneira sutil sobre o sentido da Vida (sim, toda a Vida, não só a humana) e também sobre o desejo humano de autodestruição (para mim esta palavra representa mais o filme do que "Aniquilação"). Mas principalmente, o roteiro cria cenas e atmosfera realmente assustadoras e perturbadoras; algo realmente "alienígena" (no sentido de ser diferente de tudo que temos na nossa natureza). Há muito tempo eu não via um filme de ficção científica tão eficiente neste aspecto. E olha que não foi por falta de tentativas de Hollywood (como por exemplo Vida, Alien: Covenant e O Paradoxo Cloverfield).

Na história, algo cai do espaço e começa envolver suas redondezas com uma crescente e estranha névoa, chamada "o brilho". Após várias tentativas de exploração na área, ninguém retornara da mesma. Até que o marido da bióloga Lena (Natalie Portman) - o soldado Kane (Oscar Isaac) - retorna do misterioso local após 1 ano desaparecido, em péssimas condições de saúde e completamente desorientado. Então Lena se junta a próxima expedição (desta vez composta só de mulheres civis), para entrar no "brilho" e descobrir alguma maneira de ajudar seu marido.

Depois de passar os últimos anos em filmes medianos - inclusive um dos quais estreou como diretora - Natalie Portman volta a brilhar. Carismática, competente, mais uma vez convence como atriz de drama e de ação. O restante do elenco não tem grande participação, e não ajuda nem atrapalha.

Tecnicamente o filme encanta na fotografia - belíssima - e na trilha sonora; esta mesmo não sendo nada inovadora, é bastante competente em trazer os sentimentos dos personagens para o espectador.  Mas é o design de produção que leva os maiores elogios, ao criar os "elementos" visualmente perturbadores (e em outras vezes, os elementos de rara beleza). As inserções de computação gráficas não são muito boas, mas são competentes, não chegam a comprometer em nada.

Há apenas dois pontos a se lamentar sobre este excelente filme. O primeiro é o fato dele não ter sido exibido nos cinemas nacionais. Aniquilação definitivamente é um filme que deveria ser visto nas telonas. Se de casa, na Netflix, já me senti tenso e envolvido com a história, imagina quão sensacional seria estar imerso dentro dele nos cinemas? Ah, embora lamentável a exibição apenas via Netflix, eu respeito o motivo: após fraco desempenho de opinião do público nas exibições-teste, a Paramount solicitou para que o filme fosse alterado para ser "menos intelectual e complicado". Mas o produtor Scott Rudin e o diretor Garland não aceitaram mudar nada; motivo pelo qual o filme então só foi para os cinemas do Canadá, China e EUA; com os direitos do filme vendidos para a famosa empresa de streaming para o restante do planeta.

O outro ponto que não gostei foi o desfecho. Não posso explicar isto sem dar spoilers, então só vou dizer que depois de tanta coisa surpreendente no filme, ele se encerra de um jeito um pouco inverossímil e de forma clichê (principalmente em sua cena final).

Aniquilação é o segundo filme de ficção científica de Alex Garland e ambos os filmes são diferentes, ousados, e de que gostei bastante. Mais do que nunca, acompanharei os próximos passos deste britânico nos cinemas com atenção. Nota: 8,0

domingo, 11 de março de 2018

Dupla Crítica Filmes Netflix: O Paradoxo Cloverfield (2018) e Spectral (2016)


Mais dois filmes de produção original Netflix avaliados pelo Cinema Vírgula! O primeiro é um lançamento bastante badalado. E o segundo, embora já esteja há mais de um ano no catálogo, costuma figurar na lista de "melhores filmes produzidos pela Netflix até agora". Confiram!


O Paradoxo Cloverfield (2018)
Diretor: Julius Onah
Atores principais: Gugu Mbatha-Raw, David Oyelowo, Daniel Brühl, John Ortiz, Chris O'Dowd, Aksel Hennie, Ziyi Zhang, Elizabeth Debicki, Roger Davies

Confesso ser fã da franquia Cloverfield, dado o quanto seus dois primeiros filmes me surpreenderam positivamente. Cloverfield: Monstro (2008) inovou a trazer um filme de "monstros gigantes" com filmagem em primeira pessoa (sob ponto de vista da "câmera de mão" de alguns dos personagens). Já a continuação Rua Cloverfield, 10 (2016) é um excelente filme de suspense psicológico, e praticamente não tem ligação com o primeiro.

Eis então que após estes dois ótimos filmes exibidos nos Cinemas, surge repentinamente O Paradoxo Cloverfield, que veio diretamente para a TV, ou melhor, para a Netflix.

Mantendo a tradição, este filme também é completamente diferente dos anteriores: aqui vemos um grupo de astronautas dentro de uma estação espacial, onde tentam ligar um gigantesco acelerador de partículas que irá produzir energia suficiente para toda a humanidade.

Claro que como sempre, nada dá certo lá em cima, e coisas muito estranhas começam a acontecer. Com a preguiçosa desculpa de que a trupe viaja para "outra dimensão", onde as leis da física são diferentes das nossas, todas as aberrações que acontecem passam a ser "logicamente possíveis". Só que não são, não fazem o menor sentido. Tudo é tão sem propósito que O Paradoxo Cloverfield é muuuuito mais próximo de um filme B de terror do que um filme de ficção científica.

De O Paradoxo Cloverfield só se salva as muitas referências aos dois filmes anteriores. É bacana ver os 3 filmes se interligando. Só que apesar de tantos fan services legais, eles são apenas "detalhes"... e em nenhum momento os outros filmes citam a gravíssima crise energética no mundo. Para mim este "furo" é um erro grave, que acaba no mínimo anulando os pontos positivos ganhos com as referências acertadas.

O Paradoxo Cloverfield está sendo um fracasso de crítica, o que pra mim é justo. Ainda assim a franquia está longe de acabar. O quarto filme já está sendo produzido para os cinemas e - pasmem - será durante a 2a Guerra Mundial. Também já existem boatos de que o 5o filme já está sendo planejado, com uma história se passando além do ano 2050 e com Daisy Ridley cotada para o elenco. Nota: 4,0



Spectral (2016)
Diretor: Nic Mathieu
Atores principais: James Badge Dale, Emily Mortimer, Bruce Greenwood, Max Martini

Neste filme que mistura guerra e suspense, estamos nos dias atuais, onde tropas estadunidenses atuam em uma guerra civil na pequena Moldávia. É então que os soldados passam a ser mortos por entidades que aparentam ser sobrenaturais, parecidas com fantasmas. Em caráter de emergência o gênio em tecnologia Dr. Mark Clyne (James Badge Dale) é enviado ao local para descobrir o que está acontecendo.

A trama principal para Spectral não é ruim. O filme aborda o tema sobrenatural de maneira científica e deixa o espectador curioso para descobrir o que realmente está acontecendo. Porém carregar uma única boa idéia por 107 minutos não funciona. Tudo indica que faltou experiência e criatividade para Nic Mathieu, que aqui faz sua estréia em filmes tanto na direção quanto no roteiro. Em torno de sua idéia base temos muitos diálogos e personagens clichês, e cenas que não levam a nada, repetitivas... que absolutamente não têm nada para contar.

Os bons efeitos visuais acabam sendo o melhor Spectral, que só vai entreter se você estiver com bastante tempo livre e não esperar muito do filme. Nota: 5,0

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Crítica - Pantera Negra (2018)

TítuloPantera Negra ("Black Panther", EUA, 2018)
Diretor: Ryan Coogler
Atores principais: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Martin Freeman, Winston Duke, Forest Whitaker, Andy Serkis
Outro bom filme de origem da Marvel (e histórico!)

O primeiro super-herói negro criado por uma grande editora de quadrinhos (em 1966) ganha enfim um filme nos cinemas. Um blockbuster de diretor negro, com todos os atores principais negros, ambientado na África e de grande qualidade. Mesmo que Pantera Negra não fosse um bom filme, já seria algo admirável; mas não parou por aí: como sempre na Marvel o filme é bem bacana!

Na história, o rei T'Challa, alter ego do Pantera Negra (Chadwick Boseman), acaba de assumir o trono como governante de Wakanda, porém dias depois já é obrigado a entrar em ação, já que os vilões Klaue (Andy Serkis) e Killmonger (Michael B. Jordan) estão traficando armas feitas de Vibranium pelo mundo.

Mesmo sendo um filme de super-heróis, Pantera Negra é provavelmente o filme mais "pés na realidade" feito pela Marvel até aqui. Seu enredo discute política, racismo e injustiça social. Também é - felizmente - o filme com menos piadinhas.

O ótimo roteiro conta com diálogos memoráveis e surpreende ao sair um pouco do padrão dos super-heróis, incorporando elementos similares a James Bond e Star Wars. Isto sem parecer uma mistura estranha ou forçada.

Pantera Negra conta com um design de produção excelente. Uniformes e roupas muito bem feitas, uma "Africa ultra-tecnológica" crível e belíssima visualmente. A trilha sonora é ótima, e com elementos tribais em vários momentos. O elenco jovem e negro é repleto de qualidade e entrega ótimas atuações.

Apesar das várias qualidades, Pantera Negra possui dois problemas: o primeiro é que o filme é bastante ancorado em lutas corpo-a-corpo mas elas não são boas: com exceção de duas ou três cenas  de grande qualidade, todas as demais lutas são repletas de cortes de câmera e os heróis se movimentam rápido demais, ficando difícil identificar o que realmente está acontecendo.

E, principalmente... por mais que o filme tente ser diferente com sua "pitada" de cultura africana, Pantera Negra não arrisca nada em seu desfecho e se encerra como um "mais do mesmo" em termos de filmes de origem da Marvel. Todo o debate inteligente até então é resolvido em "porrada genérica" e, principalmente, o vilão feito por Michael B. Jordan, que é tão bacana no começo com suas motivações não maniqueístas, no final do filme se torna um "malvadão" clichê. Além de que - pela milésima vez (tenha dó, Dona Marvel) - ele é simplesmente uma cópia maligna do herói: os mesmos poderes de seu adversário.

Pantera Negra é sem dúvida um bom filme, que agradará todos os fãs de filmes do gênero, mas fracassa no quesito "novidade". Se tivesse sido feito uns 5 anos atrás certamente seria mais impressionante. Porém, em uma época com até 5 filmes de super-heróis por ano, ele pára no "Bom". Nota: 7,0.


PS 1: mantendo a tradição Marvel, temos cenas pós-créditos: são duas. E a primeira, aliás, é uma bela patada no governo de Donald Trump.

PS 2: o nome Pantera Negra é associado a um movimento de protesto. Então, pra combinar, também fiz meu protesto por aqui: propositalmente em nenhum momento deste meu texto acima eu cito o nome de certa atriz que desrespeitou bastante os brasileiros em sua passagem pelo Brasil na CCXP do ano passado. Se alguém quiser saber mais detalhes sobre este lamentável episódio, só clicar aqui.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Dupla Crítica Oscar 2018: Três Anúncios Para um Crime (2017) e Lady Bird: É Hora de Voar (2017)


Os dois vencedores de Melhor Filme do Globo de Ouro 2018 em um só post! Continuam em exibição nos cinemas brasileiros e somados, possuem 12 indicações ao Oscar 2018! Confiram abaixo o que eu achei de cada um deles.


Três Anúncios Para um Crime (2017)
Diretor: Martin McDonagh
Atores principais: Frances McDormand, Woody Harrelson, Sam Rockwell, John Hawkes, Peter Dinklage, Abbie Cornish

Três Anúncios Para um Crime é provavelmente a grande surpresa deste Oscar... ou pelo menos foi surpresa quando suas indicações (sete, no total) foram anunciadas. De lá pra cá, entretanto, o filme tem virado "presença certa" em premiações e vencendo várias delas, como por exemplo o Globo de Ouro por Melhor Filme de Drama.

Na história, Mildred Hayes (Frances McDormand) teve sua filha estuprada e assassinada e, como sete meses depois a polícia local ainda não havia feito nenhum progresso concreto na investigação, ela resolveu cobrá-los publicamente - focando principalmente no delegado responsável Bill Willoughby (Woody Harrelson) - com três anúncios em Outdoores de uma pequena estrada.

A grande qualidade Três Anúncios Para um Crime é seu roteiro. Ótimos diálogos, várias surpresas e reviravoltas, personagens densos e interessantes. Se aproxima muito das melhores obras dos Irmãos Coen, porém com menos humor negro e sarcasmo. E o filme, em geral, também segue o mesmo estilo dos grandes filmes dos Coen, porém até por ser de orçamento bem mais modesto, conta comparativamente com uma fotografia bem mais simples e um elenco bem mais barato.

Mesmo não sendo tão badalados assim, Frances McDormand e Woody Harrelson são ótimos atores e mais uma vez estão excelentes, carregando o filme com folga, graças ao carisma e grande presença de tela de ambos. Sam Rockwell também está muito bem (não a toa o trio citado neste parágrafo foi indicado ao Oscar deste ano), porém gostei de seu personagem ainda mais do que sua atuação: seu policial é muito mau e bom ao mesmo tempo; é difícil encontrarmos personagens assim nos cinemas.

Três Anúncios Para um Crime é um ótimo filme policial, ainda que de ritmo lento. Só não leva nota maior porque não tem uma parte técnica excepcional e porque não gostei de seu encerramento. Ainda assim, filmaço! Nota: 8,0


Lady Bird: É Hora de Voar (2017)
Diretor: Greta Gerwig
Atores principais: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet, Beanie Feldstein, Lois Smith, Jordan Rodrigues

Lady Bird é um filme que conta sobre a vida de Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) em seu último ano de Ensino Médio em uma escola católica da cidade de Sacramento (EUA).

Apesar de todas suas indicações a prêmios e elogios da crítica especializada (venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical - mas aliás não se enganem, o filme é um Drama), Lady Bird não deixa de ser mais um dentre centenas de filmes já feitos sobre as "primeiras grandes descobertas de um adolescente". Lá vamos nós com o bullying na escola, a rebeldia, as dúvidas sobre a primeira transa, se apaixonar por babacas, e etc. Nada realmente novo: Lady Bird é um filme superestimado.

Ainda assim, Lady Bird traz algumas novidades. Por exemplo, há bastante destaque na relação da protagonista com seus pais; de certa forma o filme também traz um pouco do ponto de vista da mãe (interpretada por Laurie Metcalf, a melhor coisa de Lady Bird) sobre o processo de crescimento da filha. Também vemos um pouco das dificuldades do pai e irmão, dando um aspecto bem mais realista do que o costume para filmes deste gênero.

O filme é chato e lento em seu começo, mas engrena em sua segunda metade, se tornando agradável. Em suma, é uma história interessante, porém salvo algumas novidades, é uma história já explorada a exaustão nos cinemas.

Com estilo indie, em geral Lady Bird é um filme legal... mas nem de longe deveria ter todas estas indicações ao Oscar. Eu só concordo com a indicação de Laurie Metcalf, e nada mais. Até nos pequenos detalhes Lady Bird falha. Por exemplo, o filme se diz passar em 2002, porém seu design de produção não consegue deixar isto claro; o próprio desenvolvimento da protagonista possui uns "buracos" na história que deveriam ser preenchidos para melhor compreensão da mesma. Enfim, um filme pra se passar o tempo quando se está sem nada o que fazer em casa. Nota: 6,0

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Crítica - The Post: A Guerra Secreta (2017)

TítuloThe Post: A Guerra Secreta ("The Post", EUA / Reino Unido, 2017)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bradley Whitford, Matthew Rhys, Jesse Plemons
Bem dirigido, mas estadunidense demais

Pela primeira vez juntos, três dos maiores nomes de Hollywood: Tom Hanks, Meryl Streep e Steven Spielberg. E o filme que os uniu é The Post: A Guerra Secreta, drama político baseado em fatos reais com 2 indicações ao Oscar: Melhor Filme e Melhor Atriz.

Na história, estamos em 1971, quando até então, oficialmente o Governo dos EUA afirmava que agia na Guerra do Vietnã apenas indiretamente. É então que o jornal The New York Times começa a publicar trechos de um documento vazado do Pentágono (os "Pentagon Papers" ou "McNamara Papers") que provava não somente a ação ativa dos EUA na guerra, como também, provava que eles estavam perdendo a guerra e havia toda uma organização para esconder estes fatos do público. Após o Times ser proibido pela justiça de publicar mais do material, Katharine Graham (Streep) - a dona do jornal The Washington Post - e seu editor chefe Ben Bradlee (Hanks) precisam tomar a decisão de eles mesmos passarem a publicar as denúncias, ou apenas aguardar passivamente o desfecho da proibição imposta pela lei.

Steven Spielberg consegue fazer de The Post: A Guerra Secreta um filme dinâmico e interessante para qualquer público. Um filme que praticamente se passa dentro da redação de um jornal, e ainda assim não é enfadonho devido ao ritmo acelerado "de urgência" dos diálogos e personagens, de tomadas de câmeras em estilos variados, ou ainda, da competente trilha sonora.

Ainda assim, apesar da boa direção, The Post: A Guerra Secreta falha ao ser pouco informativo e pouco relevante para o público fora dos EUA.

Com uma grande quantidade de personagens da trama, pouco sabemos de cada um deles, e o filme em nenhum momento se esforça em explicar qual a relação hierárquica entre os mesmos. A sensação que dá assistindo ao The Post é que perdemos o primeiro ato da história, onde os personagens teriam sido apresentados.

Além disto, o filme falha em passar para o espectador a importância de sua realização. Por que esta história foi tão importante para ganhar um filme Hollywoodiano com tantos nomes famosos? Por que o vazamento destas notícias foram tão bombásticos? Ou ainda, por que o jornal que é o protagonista do filme foi o Washington Post, e não o The New York Times, este sim o pioneiro na divulgação dos documentos vazados e quem enfrentou o processo mais grave na justiça? Simplesmente não consigo responder nenhuma destas respostas.

The Post: A Guerra Secreta é um filme com bom elenco, interessante para quem gosta de história, política e jornalismo, mas ainda assim, que falha no provar seu propósito de existência. E que também, mesmo não sendo nenhuma grande aberração as suas duas indicações ao Oscar, para mim  nenhuma delas foi merecida. Nota: 6,0.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Dupla Crítica Oscar 2018: O Destino de uma Nação (2017) e Com Amor, Van Gogh (2017)


Mais duas ótimas produções com indicações para o Oscar 2018, e que chegaram ao Brasil em Janeiro. Confiram!


O Destino de uma Nação (2017)
Diretor: Joe Wright
Atores principais: Gary Oldman, Ben Mendelsohn, Kristin Scott Thomas, Lily James, Stephen Dillane, e Ronald Pickup

O Destino de uma Nação recebeu 6 indicações ao Oscar, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Maquiagem e Melhor Fotografia.

O filme conta o dia a dia do político britânico Winston Churchill em um período bem curto: desde sua posse como Primeiro Ministro até a Operação Dínamo (que curiosamente é retratada em detalhes por um filme "concorrente" no Oscar: Dunkirk).

Mais do que qualquer coisa, O Destino de uma Nação é um filme sobre Política; um filme de diálogos, que apesar de ser em plena 2ª Guerra Mundial não tem nenhuma cena de ação. Ainda assim, seu ritmo é bem dinâmico e agradável graças a seu protagonista.

Gary Oldman está excelente como Churchill. Os trejeitos e voz do falecido dirigente são muito bem imitados. A maquiagem - que torna o ator bem gordo - é irrepreensível. Se Oldman vencer o Oscar por esta sua atuação não seria injusto; e me deixaria feliz. Dito isto entretanto, mesmo com grande atuação e maquiagem eu não consegui "ver" Winston Churchill no filme... apesar de tanto trabalho, ator e personagem possuem rostos demasiadamente diferentes para convencerem meus olhos.

E sobre as outras indicações ao Oscar que ainda não comentei, a Fotografia é muito boa. E embora ela seja melhor nos ambientes internos, o filme traz de diferente justamente algumas cenas externas bem bacanas, onde a câmera vai descendo do céu até o chão para nos dar uma melhor visão do "todo" de cada cena. Já quanto a indicação de Melhor Filme... não... O Destino de uma Nação não tem força para isto.

Para quem gosta de História e Política, O Destino de uma Nação é diversão certa. Ainda que falte ao filme qualquer momento marcante - nem mesmo os discursos famosos de Churchill impressionam - toda a história contada tem passagens curiosas e interessantes, que prendem a atenção do espectador do começo ao fim. Nota: 7,0.


Com Amor, Van Gogh (2017)
Diretores: Dorota Kobiela, Hugh Welchman
Atores principais: Douglas Booth, Robert Gulaczyk, Jerome Flynn, Saoirse Ronan, Helen McCrory, Chris O'Dowd, Eleanor Tomlinson

Com Amor, Van Gogh recebeu apenas uma indicação ao Oscar, a de Melhor Animação, o que considero pouco dado sua qualidade e grandeza de produção.

Considerado o primeiro filme composto 100% de pinturas, depois de apenas 14 dias de filmagens com atores reais um time composto por 125 artistas produziu em 6 anos as 65.000 pinturas a óleo que formam as aproximadas 1h30min de projeção.

A história se passa cerca de 1 ano após a morte de Van Gogh e mostra Armand Roulin (Douglas Booth) recebendo de seu pai carteiro a missão de levar a Theo van Gogh (o irmão do pintor) uma carta de Vincent ainda não entregue. Durante a sua jornada, Armand acaba se interessando pelas estranhas circunstâncias da morte de Van Gogh, e o filme acaba se tornando principalmente uma investigação policial amadora.

Maravilhoso visualmente, o filme é composto em sua maioria por pinturas que simulam o estilo de Van Gogh, com as famosas pinceladas grossas e cores fortes. Apenas quando temos flashbacks as pinturas mudam, indo para um estilo bem mais tradicional e em preto e branco. Muito bacana que além de vermos as obras do pintor em tela, também vemos seus "pensamentos", já que vários trechos de cartas suas são comentados.

Contando com um elenco famoso e talentoso para dar suporte, Com Amor, Van Gogh conta uma história que precisa ser vista por qualquer amante de pintura e/ou curioso pela obra e vida de Vincent. Ao mesmo tempo em que o espectador se deslumbra com o estilo de Van Gogh na tela, sua história é  bem interessante, porém bastante melancólica e triste. Dói ver um gênio ser mal tratado, viver deprimido, e pior: morrer de maneira tão inesperada e até "tola".

Retratado de maneira bem plausível historicamente (todos os personagens são pessoas reais que conviveram com o pintor em vida), Com Amor, Van Gogh é facilmente um dos melhores filmes da safra de 2017 e uma homenagem maravilhosa e digna ao genial Vincent Van Gogh. Nota: 8,0.

PS: abaixo exemplos da transformação da filmagem "real" em pinturas.


domingo, 4 de fevereiro de 2018

Crítica - A Forma da Água (2017)

TítuloA Forma da Água ("The Shape of Water", EUA, 2017)
Diretor: Guillermo del Toro
Atores principais: Sally Hawkins, Michael Shannon, Octavia Spencer, Doug Jones, Richard Jenkins, Michael Stuhlbarg
Belo e emocionante, ainda que me incomode na forma

Chegamos a aquele momento do ano em que os "filmes do Oscar" chegam apressadamente às telas dos cinemas brasileiros. Nesta crítica falo sobre A Forma da Água, o grande nome desta edição do Oscar com suas 13 indicações, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Diretor, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante.

Na história, que se passa nos EUA da Guerra Fria da década de 60, conhecemos Elisa (Sally Hawkins), uma mulher solitária que trabalha como funcionária de limpeza em um laboratório militar. Lá ela acaba descobrindo um estranho ser aquático humanóide (Doug Jones), de quem se torna amiga e planeja libertá-lo.

Optei por não escrever muito sobre A Forma da Água para não dar muitos spoilers. Então vamos direto ao principal: o filme é belíssimo (tanto visualmente quanto em termos de história), e conta com passagens bem emocionantes.

Além disto, A Forma da Água consegue fazer sua crítica política-social sem ser panfletário ou dar sermão. Vemos em seu universo o racismo, o machismo, a homofobia... os vilões são aquelas pessoas que são más em nome "de Deus e da família". Um contexto bastante anos 60 aliás... até você lembrar que em 2018 temos Trump como presidente dos EUA e Bolsonaro liderando a intenção de votos no Brasil.

E por falar em "anos 60" é a partir dele que começam as decisões do diretor Guillermo del Toro que me desagradaram.

Ao mesmo tempo que o filme tem um discurso atual, ele parece viver no passado. O mundo de A Forma da Água parece maniqueísta e ingênuo demais. Há um número considerável de fatos que me soam bastante implausíveis. Por exemplo: como um laboratório de segurança máxima não tem absolutamente nenhum controle que impeça Elisa de visitar a criatura quando quer? Por que a criatura é magicamente dócil com qualquer civil, mesmo que desconhecido? E ainda menos plausível foi ver Elisa vivendo uma paixão com o "monstro". Entenderia perfeitamente ela quisesse defendê-lo a qualquer custo; ou que o amasse como grande amigo, como alguém "similar". Mas este tipo de amor romântico... não. Rápido demais, fácil demais.

Outro ponto que me desagradou em A Forma da Água foi que o diretor se preocupou bastante em homenagear o cinema antigo, fazendo a protagonista morar em cima de um cinema e ser fã de musicais e sapateados; ou ainda, trazendo uma trilha sonora pesada, repleta de musicas instrumentais ou cantadas do cinema da época.

Também me incomodou a protagonista ser muda. Isto não faz nenhuma diferença para a história. Uma pessoa não pode ser solitária e excluída sem ter limitações físicas? Oras... Elisa é muda para que Sally Hawkins aumente suas chances de ganhar o Oscar. Assim como todas estas "homenagens ao passado" foram escolhidas propositalmente para agradar os jurados da Academia. Esta fórmula sempre se mostrou muito bem sucedida. E já está rendendo frutos, mais do que merecia. 13 indicações são um exagero... Por exemplo, temos de fato atuações muito boas. Mas são dignas de indicações? Para mim, nenhuma das três são merecidas.

A Forma da Água é um filme muito bonito, excelente tecnicamente, e certamente merece muitos elogios. Ao mesmo tempo, sua bela história poderia ser muito mais memorável (e em um ritmo mais adequado à nova geração) se o diretor deixasse de se preocupar tanto em levar o maior número possível de estatuetas pra casa. Nota: 7,0

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