“Com início desastroso, documentário santista se recupera e
torna-se aceitável no final”
Este meu blog não foi feito para falar de futebol. E falar
sobre o filme do Centenário do Santos não chega a ser uma contradição a esta
regra.
Seguindo uma estrutura bem comum para documentários
esportivos, onde imagens reais do passado são intercaladas com
depoimentos/comentários atuais de quem vivenciou aqueles momentos, “Santos, 100
Anos de Futebol Arte” é o primeiro de três filmes idealizados pela diretoria
santista com objetivo de comemorar o Centenário do clube. E se propõe, como o
título diz, a mostrar o futebol arte do Santos durante todos seus anos de existência.
Porém o filme impressiona justamente por não cumprir o
prometido. São 93 minutos de exibição, sendo que destes temos menos de 25
minutos para contar toda a história que vai da fundação em 1912 até o milésimo
gol de Pelé, em 1969. Ou seja, pouca atenção foi dada justamente ao tempo onde o Santos
foi de fato o expoente máximo mundial do futebol arte, do futebol magia, do futebol espetáculo.
E Lina Chamie (diretora e roteirista do filme) e
Ricardo Farias (montagem) foram além de limitar a aparição dos times clássicos
do Peixe. Os tais primeiros 25 minutos possuem uma das piores montagens que já
vi. Confuso, com textos jogados com tal velocidade que mal temos tempo para os
ler, depoimentos que não tem absolutamente nenhuma relação com as imagens
exibidas. Um caos! Contracenando com os primeiros anos do time da Vila, aparecem
imagens recentes de torcida organizada, de títulos do ano passado; estas cenas
deveriam estar no final da película, de onde pertencem cronologicamente. E o pior
que estão lá também! A edição é tão ruim que algumas cenas se repetem!
Do milésimo gol do Rei em diante, pelo menos, o filme
engrena. Depoimentos e cenas dos jogos enfim se harmonizam cronologicamente e
temos vários momentos marcantes do Santos, que vão dos Meninos da Vila de 78
até o Tri da Libertadores em 2011. Surgem imagens e depoimentos muito bonitos,
ora emocionantes, ora interessantes. É ao menos suficiente para deixar o
torcedor satisfeito.
Mas mesmo nesta parte do filme há falhas. A confusão agora é
menor, mas existe. Ainda há algumas cenas jogadas sem explicação, o que requer um
conhecimento prévio da história do Santos para entender vários momentos do
filme. Aliás, comparando este filme com “Pelé Eterno”, se a história do Rei é
universal, este documentário só vai interessar os torcedores do Santos. Ainda
comparando as duas películas, se o bom filme do Rei tem na trilha sonora seu
ponto fraco, aqui a trilha é menos ruim e menos irritante.
Para finalizar, uma crítica que mais tem a ver com futebol
do que cinema. Um ponto extremamente negativo é a escolha das pessoas que depõem
no documentário. De toda a geração Pelé, apenas ele próprio, mais Pepe, Carlos
Alberto Torres, Mengálvio e Lima comentam. Sendo que os dois últimos falam
apenas uma frase cada um!
Estranhamente, jogadores e trabalhadores do clube foram
preteridos e em seu lugar aparecem pessoas sem importância histórica para o
Peixe. Por exemplo, os comentaristas principais são o Mano Brown (rapper) e
Cosmo Damião (fundador da Torcida Jovem). Não discuto a genuína paixão de ambos
pelo Santos. Mas eles pouco representam para o futebol santista. Se ao menos
acrescentassem algo ao texto, tudo bem. Mas não é o que acontece. Enquanto
temos depoimentos belíssimos de alguns escritores e jornalistas, da dupla acima
só temos frases comuns.
Há outros que aparecem menos, porém mais constrangem do que
homenageiam. É o caso do atual assistente de Marketing, Armênio Neto, e de
alguns torcedores. Para completar a festa de “bicões”, a própria diretora Lina
Chamie aparece brevemente em cena. E mais, ela encerra o filme dedicando-o a
seu pai. Oras, afinal o filme é auto-homenagem ou uma homenagem ao Santos?
A conclusão é que o Santos merecia um filme muito melhor.
Entretanto “Santos, 100 Anos de Futebol Arte”, mesmo com seus defeitos ainda
agrada se levarmos em conta apenas os últimos 40 anos de clube. Assisti-lo
apenas uma vez, para relembrar o que já temos mais vívido na memória, é minha
recomendação ao torcedor santista.
Nota: 6,0.