segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Crítica Netflix - One Piece: A Série - Primeira Temporada


Em geral as adaptações live-action ocidentais de mangás são verdadeiros lixos. Portanto, fiquei bastante resistente ao me arriscar em assistir a este One Piece: A Série da Netflix, adaptação de One Piece de Eiichiro Oda, um dos mangás de maior sucesso da atualidade e de todos os tempos.

Porém, para minha grande e agradável surpresa, achei este One Piece: A Série muito boa! Na história, vemos as aventuras de Monkey D. Luffy (Iñaki Godoy), um jovem que sonha se tornar o maior pirata do mundo, e para isso, sai em busca de uma tripulação para encontrar o mítico tesouro "One Piece", o que lhe daria este prestígio. O mundo onde Luffy passa suas aventuras se assemelha ao nosso mundo da "época de piratas", porém possui várias diferenças, misturando bastante fantasia. Por exemplo, no universo de One Piece há muitos seres antropomórficos, e já na primeira temporada vemos homens-peixe e um homem ovelha. Outra diferença é a presença dos "frutos do diabo", frutas que quando comidas, dão superpoderes a quem as consumir.

Nami e Arlong

Um dos maiores segredos do sucesso da franquia são seus personagens, e esta série soube adaptar bem fielmente seus personagens, tanto fisicamente, como em sua essência (que aliás é o mais importante). Se o desleixo com os personagens foi a maior falha do fraco Cowboy Bebop live-action, aqui a Netflix aprendeu muito bem sua lição. Mas voltando ao quanto os atores são fisicamente muito parecidos com os desenhos originais, fica como curiosidade que em uma sessão de cartas do mangá, uma vez perguntaram para o autor "qual seria a nacionalidade da tripulação de Luffy caso One Piece fosse o mundo real?", e eis que Eiichiro Oda respondeu: "Bem, apenas saindo da aparência deles: Luffy (Brasil), Zoro (Japão), Nami (Suécia), Usopp (África), Sanji (França)...".

Oras, dos atores que foram escolhidos, Iñaki Godoy (Luffy) é mexicano; Mackenyu Arata (Zoro) apesar de nascido nos EUA, é filho de pais japoneses; Emily Rudd (Nami) é estadunidense; Jacob Romero Gibson (Usopp) é Jamaicano; e Taz Skylar (Sanji) é espanhol... ou seja, consideravelmente próximo do que o autor imaginou! E uma das semelhanças que mais me impressionaram foi a da personagem Kaia (ver abaixo). Ok, na imagem abaixo pode não parecer tanto, mas vejam a série para ver que não estou louco rs.

A Kaya dos mangás e a da série (Celeste Loots)

E o outro segredo para este One Piece: A Série ser bom é que ele é bastante fiel ao material original. Em linhas gerais, eu diria que a série resume de maneira muito eficiente o mangá e o anime. Para se ter uma idéia, a primeira temporada (8 episódios de cerca de 1h cada) cobre os 5 primeiros arcos de histórias da franquia, que seriam equivalente aos primeiros 99 capítulos do mangá e os 45 primeiros episódios do anime. Tudo do que é mais importante da trama foi preservado, repito, e de modo bastante resumido e fiel. A única mudança relevante é que na série Luffy é bastante perseguido pela marinha desde o começo, e com a perseguição comandada pelo Vice-Almirante Garp (Vincent Regan), isso é bem diferente do material original.

Porém nem tudo deste "resumo" em One Piece: A Série é positivo. Infelizmente, não foi só a trama que foi comprimida, também tivemos uma considerável redução do humor e dos momentos de emoção... e não precisava ser assim. Principalmente Luffy é bem menos engraçado aqui do que no mangá. E os dramas pessoais dos personagens, embora todos presentes (e sim, continuam emocionando), passam tão rápido que não impactam tanto quando deveriam. A falta de capacidade de atuação de alguns atores também contribui um pouco para isto.

A "simplificação" também está bastante presente nas lutas, que são bem menos espetaculares e demoradas que no mangá / anime. Sem dúvida elas precisarão de mais verbas e atenção na medida que a série avança. De qualquer forma, além de por enquanto não comprometer, aqui eu vejo uma vantagem: ver atores de verdade lutando com espadas de verdade dá uma sensação de perigo muito maior do que nos desenhos. Um inesperado ponto positivo para o live-action!

Com um design de produção muito bom e bastante vivo e colorido, faltou, entretanto, um bocado de cores no navio Going Merry...

Também tenho algumas críticas para a tradução. Assisti em legendado, e percebi que algumas piadas com trocadilhos não foram traduzidas (e poderiam ter sido traduzidas para o português normalmente), sem contar a inserção de algumas gírias, ou então, de palavras escritas propositalmente com português incorreto... e tudo simplesmente jogado lá, absolutamente fora do contexto.

Com seus muitos prós e poucos contras, One Piece: A Série termina com um saldo bem positivo. Ela agrada bastante, mas vai precisar diminuir seus defeitos no futuro, caso contrário corre o risco de desvirtuar o tom da obra original. E para quem não ainda conhece esta franquia, esta série da Netflix chega como uma salvação, afinal, é muito mais rápido acompanhar "do zero" a história da turma dos Piratas do Chapéu de Palha por aqui, do que pelo mangá ou anime, onde já temos (literalmente) milhares de capítulos e mais de duas décadas de produção.

Para encerrar o artigo, um bônus. Neste vídeo, vemos o encontro do ator que faz Luffy, Iñaki Godoy, com o autor de One Piece, Eiichiro Oda. Para quem não sabe, Oda vive recluso, e mais ainda... seu rosto não é conhecido pelo público, para preservar sua privacidade. Isto é importante para vocês se contextualizarem com o que vão ver a seguir.

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