quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Todos os filmes que assisti em 2015 (inclui minhas indicações para os melhores)



Último dia de 2015. Mais um ano se encerrando, e desta vez o Cinema Vírgula fecha o ciclo com uma novidade. Já repararam que as críticas que faço são apenas de filmes que estrearam nos cinemas no mesmo ano da publicação?

Pois é. Isto não significa que não assisto (ou revejo) outros filmes "antigos" ao longo do ano. Desta vez trago a lista de todos os filmes que assisti em 2015 (sejam novos ou "repetidos"). Eu tinha uma meta de assistir 104 filmes (por que 104? Porque o ano tem 52 semanas e 104 garantiria "pelo menos" 2 filmes por semana). No total, bati a meta com folga. Foram 122. Vamos a eles:

  • 007 Contra Spectre - "Spectre" - EUA / Reino Unido (2015)
  • O Abutre - "Nightcrawler" - EUA (2014)   (*)
  • Acossado - "À bout de souffle" - França (1960)
  • Adeus à Linguagem - "Adieu au langage" - França / Suíça (2014)
  • Almoço em Agosto - "Pranzo di ferragosto" - Itália (2008)
  • Alta Fidelidade - "High Fidelity" - EUA / Reino Unido (2000)
  • Amaldiçoado - "Horns" - Canadá - EUA (2013)
  • O Ano Mais Violento - "A Most Violent Year" - Emirados Árabes / EUA (2014)
  • Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu - "Airplane!" - EUA (1980)
  • Assim Caminha a Humanidade - "Giant" - EUA (1956)   (*)
  • Uma Aventura Lego - "The Lego Movie" - Australia / Dinamarca / EUA (2014) 
  • The Babadook - "The Babadook" - Austrália / Canadá (2014)
  • Beasts of No Nation - "Beasts of No Nation" - EUA (2015)   (*)
  • Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância) - "Birdman" - Canadá / EUA (2014)   (*)
  • Biutiful - "Biutiful" - Espanha / México (2010)
  • Blade Runner, o Caçador de Andróides - "Blade Runner" - EUA / Hong Kong / Reino Unido (1982)   (*)
  • Bonequinha de Luxo - "Breakfast at Tiffany's" - EUA (1961)
  • Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas - "Bonnie and Clyde" - EUA (1967)
  • Branco Sai, Preto Fica - "Branco Sai, Preto Fica" - Brasil (2015)
  • Em Busca do Ouro - "The Gold Rush" - EUA (1925)   (*) 
  • Chappie - "Chappie" - África do Sul / EUA / México (2015)
  • Chatô - O Rei do Brasil - "Chatô - O Rei do Brasil" - Brasil (2015)
  • Cinderela - "Cinderella" - EUA / Reino Unido (2015)
  • Cinquenta Tons de Cinza - "Fifty Shades of Grey" - EUA (2015)
  • Clube dos Cinco - "The Breakfast Club" - EUA (1985)
  • A Colina Escarlate - "Crimson Peak" - EUA (2015)
  • Um Conto Chinês - "Un Cuento Chino" - Argentina / Espanha (2011)
  • Corações de Ferro - "Fury" - China / EUA / Reino Unido (2014)
  • Corrente do Mal - "It Follows" - EUA (2014)
  • Os Croods - "The Croods" - EUA (2013)
  • O Destino de Júpiter - "Jupiter Ascending" - EUA / Reino Unido (2015)
  • O Dia em que a Terra Parou - "The Day the Earth Stood Still" - EUA (1951)
  • A Espiã Que Sabia de Menos - "Spy" - EUA (2015)
  • Divertida Mente - "Inside Out" - EUA (2015)   (*)
  • Enquanto Somos Jovens - "While We're Young" - EUA (2014)
  • Entre Nós - "Entre Nós" - Brasil (2013)
  • A Entrevista - "The Interview" - EUA (2014)
  • Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer - "Me and Earl and the Dying Girl" - EUA (2015)   (*)
  • Ex-Machina: Instinto Artificial - "Ex Machina" - EUA / Reino Unido (2015)   (*)
  • Êxodo: Deuses e Reis - "Exodus: Gods and Kings" - Espanha / EUA / Reino Unido (2014)
  • Expresso do Amanhã - "Snowpiercer" - Coréia do Sul / EUA / França / República Checa (2013)
  • O Falcão Maltês - "The Maltese Falcon" - EUA (1941)
  • Fogo Contra Fogo - "Heat" - EUA (1995)   (*)
  • Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo - "Foxcatcher" - EUA (2014)
  • Frank - "Frank" - EUA / Irlanda / Reino Unido (2014)
  • Golpe Duplo - "Focus" - EUA (2015)
  • Grandes Olhos - "Big Eyes" - Canadá / EUA (2014)
  • Guerra dos Sexos - "Maschi Contro Femmine" - Itália (2010)
  • A História da Eternidade - "A História da Eternidade" - Brasil (2014)
  • Homem-Formiga - "Ant-Man" - EUA (2015)
  • Ida - "Ida" - Dinamarca / França / Polônia / Reino Unido (2013)
  • O Império dos Sentidos - "Ai no korîda" - França / Japan (1976)
  • A Incrível História de Adaline - "The Age of Adaline" - Canadá / EUA (2015)
  • Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal - Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull - EUA (2008)
  • Invencível - "Unbroken" - EUA (2014)
  • O Jogo da Imitação - "The Imitation Game" - EUA / Reino Unido (2014)
  • Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros - "Jurassic World" - EUA (2015)
  • Kingsman: Serviço Secreto - "Kingsman: The Secret Service" - Reino Unido (2014)
  • Ladrão de Casaca - "To Catch a Thief" - EUA (1955)
  • Ladrões de Bicicletas - Ladri di biciclette" - Itália (1948)   (*)
  • Lavoura Arcaica - "Lavoura Arcaica" - Brasil (2001)
  • Leviatã - "Leviafan" - Rússia (2014)
  • Loucademia de Polícia - "Police Academy" - EUA (1984)
  • Loucademia de Polícia 2: A Primeira Missão - "Police Academy 2: Their First Assignment" - EUA (1985) 
  • Luzes da Ribalta - "Limelight" - EUA (1952)
  • Macunaíma - "Macunaíma" - Brasil (1969)
  • Mad Max 2: A Caçada Continua - "Mad Max 2" - Austrália (1981)
  • Mad Max: Estrada da Fúria - "Mad Max: Fury Road" - Austrália / EUA (2015)   (*)
  • O Menino e o Mundo - "O Menino e o Mundo" - Brasil (2013)   (*)
  • Mensageiro do Diabo - "The Night of the Hunter" - EUA (1955)
  • Minions - "Minions" - EUA (2015)
  • Missão: Impossível - Nação Secreta - "Mission: Impossible - Rogue Nation" - EUA / China / Hong Kong (2015)
  • Mortdecai: A Arte da Trapaça - "Mortdecai" - EUA / Reino Unido (2015)
  • Mulan - "Mulan" - EUA (1998)
  • Uma Noite no Museu - "Night at the Museum" - EUA / Reino Unido (2006)
  • Olmo e a Gaivota - "Olmo & the Seagull" - Brasil / Dinamarca / França / Portugal / Suécia (2015)
  • Operação Big Hero - "Big Hero 6" - EUA (2014)
  • A Origem - "Inception" - EUA / Reino Unido (2010)
  • O Palhaço - "O Palhaço" - Brasil (2011)
  • Para Maiores - "Movie 43" - EUA (2013)
  • Para Sempre Alice - "Still Alice" - EUA / França (2014)
  • Um Peixe Chamado Wanda - A Fish Called Wanda - EUA / Reino Unido (1988)
  • A Pele de Vênus - "La Vénus à La Fourrure" - França / Polônia (2013)   (*)
  • Perdido em Marte - "The Martian" - EUA (2015)   (*)
  • Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência - "En duva satt på en gren och funderade på tillvaron" - Alemanha / França / Noruega / Suécia (2014)
  • Ponte dos Espiões - "Bridge of Spies" - EUA (2015)
  • Primer - "Primer" - EUA (2004)   (*)
  • Psicose - "Psycho" - EUA (1960)   (*)
  • Quarteto Fantástico - "Fantastic Four" - Alemanha / Canadá / EUA / Reino Unido (2015)
  • Que Horas Ela Volta? - "Que Horas Ela Volta?" - Brasil (2015)   (*)
  • Rashomon - "Rashômon" - Japão (1950)   (*)
  • Rebecca, A Mulher Inesquecível - "Rebecca" - EUA (1940)
  • O Reencontro - "The Big Chill" - EUA (1983)
  • Relatos Selvagens - "Relatos salvajes" - Argentina / Espanha (2014) 
  • O Retorno de Jedi - "Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi" - EUA (1983)
  • The Ridiculous 6 - "The Ridiculous 6" - EUA (2015)
  • O Sal da Terra - "The Salt of the Earth" - Brasil / França / Itália (2014)
  • Saneamento Básico, O Filme - "Saneamento Básico, O Filme" - Brasil (2007)
  • Selma: Uma Luta Pela Igualdade - "Selma" - EUA / Reino Unido (2014)
  • O Senhor dos Anéis: As Duas Torres - "The Lord of the Rings: The Two Towers" - EUA / Nova Zelândia (2002)   (*)
  • O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei - "The Lord of the Rings: The Return of the King" - EUA / Nova Zelândia (2003)   (*)
  • O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel - "The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring" - EUA / Nova Zelândia (2001)   (*)
  • Um Senhor Estagiário - "The Intern" - EUA (2015)
  • Serenity: A Luta Pelo Amanhã - "Serenity" - EUA (2005)
  • Sniper Americano - "American Sniper" - EUA (2014)
  • Star Wars: O Despertar da Força - "Star Wars: The Force Awakens" - EUA (2015)   (*)
  • Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma - "Star Wars: Episode I - The Phantom Menace" - EUA (1999)
  • Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones - "Star Wars: Episode II - Attack of the Clones" - EUA (2002)
  • Te Amarei para Sempre - "The Time Traveller's Wife" - EUA (2009)
  • Ted 2 - "Ted 2" - EUA (2015)
  • A Teoria de Tudo - "The Theory of Everything" - Reino Unido (2014)
  • Timbuktu - "Timbuktu" - França / Mauritânia (2014)   (*)
  • Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível - "Tomorrowland" - Espanha / EUA (2015)
  • A Travessia - "The Walk" - EUA (2015)
  • Velozes & Furiosos 7 - "Furious Seven" - EUA / Japão (2015)
  • Veludo Azul - "Blue Velvet" - EUA (1986)
  • Viagem a Darjeeling - "The Darjeeling Limited" - EUA (2007)
  • Viagem à Lua de Júpiter - "Europa Report" - EUA (2013)
  • Vidas ao Vento - "Kaze tachinu" - Japão (2013)
  • A Visita - "The Visit" - EUA (2015)
  • Vingadores: Era de Ultron - "Avengers: Age of Ultron" - EUA (2015)   (*)
  • Whiplash - Em Busca da Perfeição - "Whiplash" - EUA (2014)   (*)

Os filmes em laranja negrito e com um (*) são aqueles a que dou uma nota de no mínimo 8,0 e portanto, recomendo fortemente.

Eu tinha uma segunda meta, de assistir pelo menos 12 filmes nacionais este ano, 6 no cinema. Quase cumpri. Assisti os 12... mas apenas 5 no cinema. Foram eles: Chatô - O Rei do Brasil, O Menino e o Mundo, Olmo e a Gaivota, Que Horas Ela Volta? e O Sal da Terra. Mesmo que alguns deles não tenham sido meu destaque no ano, recomendo todos. O nosso cinema é bom e continua bom!

O que acharam da lista? Quantos filmes vocês assistiram este ano? Comentem!

E um feliz 2016 para todos vocês que acompanham o Cinema Vírgula!

sábado, 19 de dezembro de 2015

Crítica - Star Wars: O Despertar da Força (2015)

TítuloStar Wars: O Despertar da Força ("Star Wars: The Force Awakens", EUA, 2015)
Diretor: J.J. Abrams
Atores principais: Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Harrison Ford, Adam Driver
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=4r0287tUEgk
Nota: 8,0
Misto de reboot e continuação, filme é o melhor desde O Império Contra-Ataca

Enfim a espera acabou. Depois da considerável decepção que os fãs tiveram em 1999 com Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma e os dois filmes seguintes, com Star Wars: O Despertar da Força o público volta a ver um material digno de toda a adoração que a franquia recebe.

O diretor J.J. Abrams certamente aprendeu com os erros de George Lucas em sua tentativa anterior. Uma das maiores qualidades de Star Wars: O Despertar da Força é não abusar dos efeitos especiais, fazendo tudo parecer absolutamente real. As cenas de batalhas com naves - também por acontecerem sob um planeta e não no espaço - são empolgantes e críveis. Mesmo os alienígenas são em sua grande maioria pessoas vestindo fantasias. Só não convenceram Maz Kanata (Lupita Nyong'o) e Snoke (Andy Serkis), não a toa os únicos personagens relevantes 100% digitais.

Outro grande acerto do diretor e do estúdio foi manter o mistério ao redor da produção. Ao contrário do que (erroneamente) fazem estúdios como a Marvel e a Warner, que revelam toda a trama do filme em seus trailers, tudo ficou bem escondido em Star Wars: O Despertar da Força, até a sua sinopse, genérica e portanto inexistente. Em homenagem a todo este sensato segredo, fica meu alerta: a partir de agora irei comentar sobre a história do filme. Obviamente não revelarei nenhum grande spoiler, mas resumirei a trama principal e citarei alguns poucos detalhes do enredo. Portanto, se nem isto você quer saber antes de ver o filme, pare por aqui, vá os cinemas e depois volte. Ok?

Na história deste Episódio 7, trinta anos após o Episódio 6, temos a Primeira Ordem (sucessora do Império) guerreando contra a Resistência (sucessora da Aliança Rebelde). Ambos se concentram em um objetivo comum: encontrar o desaparecido Luke Skywalker. A primeira quer Luke para destruí-lo, já os Rebeldes querem voltar a contar com essencial sua ajuda.

É então que temos uma história muito parecida com a de Guerra nas Estrelas (1977). Temos em Rey (Daisy Ridley) a jovem heroína esquecida em um planeta deserto, em Kylo Ren (Adam Driver) um líder do lado negro da Força, temos um personagem velho e sábio orientando Rey, temos até uma arma equivalente à Estrela da Morte no final do filme! Confesso que eu tinha receio de que isto acontecesse. Mas a boa notícia é que todas estas partes "iguais" foram (re)filmadas com algo diferente, novo, que tornam o filme muito interessante tanto para os fãs antigos quanto para os espectadores de primeira viagem. A única exceção fica para as cenas substitutas da batalha na Estrela da Morte. Seu desfecho é apressado, curto, mal feito, mal explicado. Dá até sensação que faltou grana para um desfecho apropriado. Em se tratando da rica franquia, não foi o caso. É mais provável que esta "pressa" ocorreu para que o filme não tivesse muito mais do que 2h de duração - tempo considerado como "limite ideal" pelos produtores de Hollywood.

Star Wars: O Despertar da Força apresenta um novo trio de heróis protagonistas: Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac). E não custa reforçar que eles são respectivamente uma mulher, um negro e um latino. Muito bacana. E os três estão ótimos. São grandes atores, grandes personagens. Possuem todas as qualidades para fazer a nova trilogia brilhar! Ah, ainda há um novo personagem que rouba a cena: BB-8. O robozinho é uma versão meiga de R2-D2, e mesmo não tendo um rosto, consegue ser tão expressivo quanto Wall-E. O cuidado com ele foi tanto que dois comediantes foram contratados só para criar suas vozes e "emoções".

Rey (tanto a personagem quanto a atriz) é simplesmente fantástica. Ela rouba a cena toda vez que aparece; mal a conhecemos e já reconhecemos instantaneamente sua grandeza. A química entre ela e Finn no começo do filme é incrível. O novo trio também é responsável por cenas heroicas verdadeiramente emocionantes e que honram todo o legado da franquia. Nesse aspecto, o roteiro do novo filme é brilhante.

Em seu todo o roteiro de Star Wars: O Despertar da Força possui altos e baixos. Como grandes virtudes, além das cenas heroicas comentadas acima, o filme consegue ser equilibrado em termos de ação, humor, aventura, reviravoltas e drama. Consegue resgatar e homenagear o sentimento da trilogia clássica sem erros. Tudo isto acompanhado da competente trilha sonora de John Williams, ele também misturando novo e antigo em seu trabalho. A trama possui seu MacGuffin: o mapa que mostraria a localização de Luke. Ele funciona maravilhosamente para conduzir as aventuras e tensões da história. Mas, quando tentam explicá-lo, é aí que o roteiro tem seu ponto mais fraco, pois muito pouco faz sentido. Se o Jedi queria ser encontrado, porque não deu sua localização para R2-D2 diretamente? Se não queria ser encontrado, como então Lor San Tekka (o velho de Jakku) tinha esta informação?

Apesar dos problemas de roteiro relatados, isto não atrapalha a experiência do espectador. Star Wars: O Despertar da Força é sem sombra de dúvida um ótimo e divertidíssimo filme de aventura, tendo todos os elementos que precisa para ser um grande clássico. Tecnicamente, é quase impecável, deslumbrante. Até os famosos (e ironizados) lens flares de J.J. Abrams são bem aproveitados, resultando em cenas visualmente (e tematicamente) espetaculares.

A verdade é que ao mesmo tempo que Star Wars: O Despertar da Força imita tanta coisa do Episódio 4 (sendo por isto parcialmente um reboot), ele apresenta tantos personagens novos que não sobre muito tempo para se contar uma história no filme. Muitas perguntas são deixadas sem resposta. Neste sentido, para mim Star Wars: O Despertar da Força se assemelha muito mais a um Episódio "6,5" do que um Episódio 7. E tão importante quanto resgatar a qualidade da franquia, é que a partir do próximo filme, que estréia em 2017, tudo pode ser 100% novo. E o será conduzido por 3 personagens que nasceram da melhor maneira possível: Rey, Finn e Poe Dameron. Brilhante e promissor é, o futuro desta saga! Nota: 8,0

PS 1: não é necessário conhecer nenhum dos Episódios anteriores para entender o Star Wars VII. Entretanto, ter assistido a trilogia clássica é importante para ter a experiência do filme como se deveria. Recomendo portanto que ela seja assistida antes. Quanto aos Episódios I a III, esqueçam. Eles não são citados em nenhum momento, e dificilmente serão no futuro.

PS 2: o 3D do filme não acrescenta nada. Mas também não atrapalha. por isto, se possível, opte pela versão 2D, mais barata.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Filmes da Netflix - Críticas: "Beasts of No Nation" e "The Ridiculous 6"


A Netflix - o mais conhecido dos canais de streaming - começa a investir cada vez mais em filmes próprios. Vamos a análise de dois de seus títulos mais famosos de 2015.


Beasts of No Nation (2015)

Diretor: Cary Joji Fukunaga
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=-LdeYA7Ku14
Atores principais: Abraham Attah, Emmanuel Nii Adom Quaye, Idris Elba
Nota: 8,0

"Para entender melhor o horror das guerras civis da África. E um ótimo filme"

Antes de falar do filme propriamente dito, é importante dizer o que ele representa. É a primeira tentativa da Netflix para obter uma indicação ao Oscar. Cada vez mais dedicada a fazer produções próprias - seja via seriados ou filmes - se suas séries já são exemplo de qualidade (principalmente devido a House of Cards), agora eles tentam reconhecimento equivalente para seus filmes, tentando um respaldo da Academia. Não vai ser fácil. Ao colocar a estréia de Beasts of No Nation simultaneamente no seu canal e nos cinemas (pois pelas regras de hoje para ter indicações ao Oscar é obrigatório o filme ter estado nos cinemas), o filme foi boicotado nos EUA por grandes empresas das telonas. O motivo: medo da futura concorrência. Em poucas salas, a arrecadação de Beasts of No Nation foi baixíssima (menos de 100 mil dólares). Vamos ver se eles receberão indicações do Oscar. Eu duvido. Entendo que a Academia também não vê com bons olhos filmes fora dos cinemas.

Sobre o filme... baseado em um livro de 2005 de mesmo nome do autor Uzodinma Iweala, a história se passa nos dias de hoje em algum país africano em guerra civil (o nome do país nunca é identificado). No meio da sangrenta batalha entre os exércitos do governo e os rebeldes estão a ONU e... os pobres civis. Acompanhamos a história do garoto Agu (Abraham Attah), que bem criança tem sua pequena aldeia devastada pelo exército nacional. Sozinho, ele foge para a selva e é encontrado pelo exército rebelde, onde seu Comandante (Idris Elba) resolve acolher e converter Agu como um de seus soldados.

Beast of No Nation prometeu duas coisas: mostrar os horrores das guerras na África e mostrar como um garoto inocente se torna um soldado sanguinário. A primeira promessa é cumprida com louvor. Bastante violento, mas sem apelar para cenas repletas de sangue, é impossível não se comover com o horror que os civis africanos vivem há décadas. Uma coisa é saber como eles (sobre)vivem; outra é assistir. Já a segunda promessa é cumprida em partes. Sim, é verdade que o grande foco do filme é justamente a história de Agu virando um soldado, e a grosso modo, é perfeitamente compreensível e crível a transformação do garoto. Porém, nos detalhes, esta "conversão" é irregular. Narrada em alguns momentos pelos pensamentos do próprio Agu, em várias ocasiões a voz dos seus pensamentos não refletem suas atitudes na tela, deixando a transformação do garoto um pouco inconsistente.

Para um filme de baixo orçamento - apenas US$ 6 milhões - a fotografia é bonita e competente, sendo o maior destaque técnico do filme. Seus fortes mesmo são o roteiro e a atuação de Idris Elba - até certo ponto comedida - mas muito crível e versátil. Para quem quiser entender um pouco mais sobre o triste mundo que vivemos, eis um filme de qualidade para isto. Nota: 8,0


The Ridiculous 6 (2015)

Diretor: Frank Coraci
Atores principais: Adam Sandler, Rob Schneider, Taylor Lautner, Jorge Garcia, Terry Crews, Luke Wilson, Nick Nolte
Nota: 5,0

"Elenco numeroso é o melhor desta comédia pastelão mediana de Adam Sandler"

The Ridiculous 6 já de cara não prometia muito. Produtor e roteirista do filme, Adam Sandler tentou vendê-lo para vários estúdios... e não conseguiu. Após assinar um contrato de 4 novos filmes com a Netflix em outubro de 2014, The Ridiculous 6 enfim achou um lugar para ser exibido. Sua estréia mundial aconteceu 3 dias atrás, em 11 de dezembro, numa das grandes atrações de Natal da empresa de streaming.

Nesta comédia de faroeste, Tommy Stockburn (Adam Sandler) precisa arrecadar US$ 50 mil para resgatar seu pai Frank (Nick Nolte) de uma quadrilha de bandidos. E em sua jornada, ele acaba encontrando mais cinco meio-irmãos, que se unem a ele na empreitada. São eles: Ramon (Rob Schneider), Lil' Pete (Taylor Lautner), Herm (Jorge Garcia), Chico (Terry Crews) e Danny Stockburn (Luke Wilson).

The Ridiculous 6 é uma comédia besteirol típica de Adam Sandler. É seu humor padrão repleto de piadas escatológicas, machistas, homofóbicas, sexuais e non-sense. O filme não é o pior dentre todos do ator, e certamente não é o melhor, fica no meio termo.

Com uma história simplória e previsível, The Ridiculous 6 apresenta duas qualidades: quando deixa de lado as piadas ofensivas e parte para as trapalhadas e o non-sense, algumas das piadas são bem engraçadas. Mas principalmente, o que mais chama a atenção é o número gigantesco de atores famosos na produção. Além dos 7 principais já citados anteriormente, ainda temos, dentre outros: Will Forte, Steve Zahn, Harvey Keitel, Jon Lovitz, David Spade, Danny Trejo, Steve Buscemi e John Turturro. Em geral personagens malucos, bizarros e caricatos, eles acabam sendo mais engraçados e interessantes do que as próprias piadas do filme.

The Ridiculous 6 é uma comédia mediana que deverá agradar apenas os fãs de Adam Sandler. Vale mais como curiosidade para ver o elenco estrelado do que assistir o filme em si. Vamos ver se os 3 filmes restantes do ator na Netflix serão bons... por enquanto, embora garanta algumas risadas, sua estréia não empolgou. Nota: 5,0

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Crítica - Chatô - O Rei do Brasil (2015)

TítuloChatô - O Rei do Brasil ("Chatô - O Rei do Brasil", Brasil, 2015)
Diretor: Guilherme Fontes
Atores principais: Marco Ricca, Andréa Beltrão, Paulo Betti, Leandra Leal, Gabriel Braga Nunes, Letícia Sabatella

Apesar dos 20 anos de problemas na produção, Chatô é bom e interessante

Tão importante quanto falar sobre o filme Chatô - O Rei do Brasil é contar sobre a sua complicada história de produção, que já entrou para a história do Cinema Brasileiro.


Chatô - A produção

O ano era 1995. Guilherme Fontes, então com 28 anos, vinha de recentes sucessos na TV e no teatro e era um dos principais galãs das novelas da Globo. Em novembro do mesmo ano ele conseguiria financiamento público de volumosos R$ 12 milhões para realizar o filme Chatô – O Rei do Brasil, baseado no polêmico livro de mesmo nome do escritor Fernando Morais. A previsão era que Chatô fosse lançado em 1997, mas... não saiu. Focado em arrecadar ainda mais dinheiro para tornar seu filme ainda mais grandioso (por exemplo Guilherme tentou trazer o diretor Francis Ford Coppola para ser seu produtor), as filmagens só começaram em 1999. Poucos meses depois viria o grande golpe: graças a uma denúncia de irregularidades na aplicação do dinheiro captado, Chatô seria alvo de investigação judicial.

Chatô – O Rei do Brasil parou. Parte dos patrocinadores - já insatisfeitos com os atrasos - pediam o dinheiro de volta. Dos 12 milhões de Reais prometidos, apenas 8,6 milhões efetivamente vieram. Guilherme Fontes era constantemente criticado pela imprensa e ganhou imagem de ladrão. Mesmo com todos os problemas ele conseguiria patrocínios suficientes para gravar mais cenas em 2002 e 2004. Segundo Guilherme, oitenta por cento do filme estava pronto... mas ainda faltava completar o restante. Sem dinheiro, com problemas e dívidas cada vez maiores, o natural seria entregar Chatô do jeito que estava. Mas não foi o que Fontes fez. Foram mais 11 anos brigando por dinheiro para terminar seu projeto (algumas poucas regravações foram feitas posteriormente com os atores originais já envelhecidos, mas o que faltava mesmo era a pós-produção). E eis que 20 anos depois conseguir o financiamento inicial, para surpresa de todos, Chatô – O Rei do Brasil chegou aos cinemas brasileiros.

Para quem quiser conhecer mais sobre a conturbada história da produção, recomendo a leitura deste artigo da Revista Época. O texto traz uma visão de que todos os problemas que Fontes passou vieram mais da megalomania e irresponsabilidade do ator/diretor do que qualquer desonestidade. Seria isso mesmo? O fato é que Chatô mudou a história do nosso cinema, e depois dele as regras e leis para financiamento de filmes foram bastante alteradas. Por exemplo, hoje o valor máximo de arrecadação depende de quantos filmes e mini-séries o diretor/produtor fez. Sob as regras atuais, o então estreante Guilherme Fontes estaria limitado a apenas R$ 1 milhão se quisesse fazer seu Chatô hoje.


Chatô - A crítica do filme

Chatô – O Rei do Brasil é uma biografia bem humorada e um pouco fantasiosa do empresário Assis Chateaubriand, magnata das comunicações do país dos anos de 1930 a 60, considerado o "Cidadão Kane" brasileiro. O roteiro não é linear, tendo uma edição consideravelmente complexa. No início do filme Chatô entra em coma e, em seu delírio entre a vida e a morte, ele é submetido a um "julgamento" pela sua vida em um programa de auditório estilo Chacrinha. A cada depoimento das "testemunhas", vemos um capítulo da vida do empresário. Vários capítulos seguem uma ordem cronológica, mas nem sempre. E aí conhecemos melhor Chatô: mulherengo, desonesto, chantagista, folclórico e com grande talento político e comercial.

Uma das principais qualidade de Chatô – O Rei do Brasil é seu ritmo. A impressão é que Guilherme Fontes fez de tudo para que seu filme não ficasse chato mesmo percorrendo dezenas de anos da vida do protagonista. E deu certo. Abuso de cenas curtas, diálogos sempre ágeis e bem humorados, o roteiro não linear, tudo é feito para que Chatô seja dinâmico e atual.

Ironicamente, seu dinamismo também trabalha em efeito contrário, gerando os principais problemas de Chatô – O Rei do Brasil: o entendimento dos fatos históricos. Tudo é tão rápido que muitas passagens ficam apenas na "sugestão", sendo confusas ou mal explicadas. O início do filme é especialmente confuso. Por que Chatô está morrendo? O roteiro insinua (erradamente) um acidente de carro. A trombose é real ou fictícia? (e já respondendo, foi real). Para que o filme seja melhor aproveitado, é necessário que o espectador conheça um pouco da biografia de Assis Chateaubriand e de Getúlio Vargas. O que temos na Wikipedia já é suficiente para isto, mesmo se forem lidos apenas pós filme.

Não sei se houve desvio de dinheiro em Chatô. Mas podem ter certeza que enormes quantias foram gastas em figurinos, cenários e locações. A cada 2 ou 3 minutos de filme, roupas, locais, tudo muda. É um verdadeiro desfile. Aliás, o filme é bastante colorido, diria até... carnavalesco.

Chatô – O Rei do Brasil apresenta também várias atuações interessantes. Mais ainda, é como se o filme fosse uma máquina do tempo. Filmado em até 16 anos atrás, muitos atores estavam em evidência na época, mas hoje estão "sumidos" (por exemplo, Andréa Beltrão, que tem uma atuação encantadora); alguns até já faleceram (Walmor Chagas e José Lewgoy).

Com qualidades e defeitos devido seu ritmo acelerado, Chatô – O Rei do Brasil não é um grande filme, mas é bom e interessante. E pelos tantos problemas que teve, é portanto uma vitória de Guilherme Fontes. Aliás, o diretor disse que tinha material suficiente para um filme de 2h20min (foi finalizado em 1h45min). Será que esta versão mais longa corrigiria os problemas de Chatô? Acho que nunca saberemos. Mas o que sabemos hoje é que Chatô – O Rei do Brasil terminou sua longa história de maneira satisfatória. Nota: 6,5.


O ator/diretor/produtor Guilherme Fontes há 20 anos atrás (esq) e hoje (dir)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Crítica - 007 Contra Spectre (2015)

Título007 Contra Spectre ("Spectre", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Sam Mendes
Atores principais: Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Andrew Scott
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=a7TBd8YPqLo
Nota: 5,0
Possível despedida de Daniel Craig como Bond é um filme longo e insosso

007 Contra Spectre é o quarto filme da série James Bond com o ator inglês Daniel Craig como protagonista. Na trama, Bond descobre que tudo de ruim que aconteceu nos três filmes anteriores tinha como executora uma mesma e única organização criminosa, a então desconhecida SPECTRE, comandada pelo vingativo Blofeld (Christoph Waltz). Sozinho, e sem apoio da MI6, James tenta desesperadamente desmontar a organização antes que seja tarde demais.

Como tem sido padrão nos últimos filmes da franquia, a cena de ação inicial é grandiosa, empolgante, excelente. Certamente a que mais consumiu orçamento. Desta vez, vemos 007 perseguindo um chefe criminoso em plena festa do Dia dos Mortos, no México, com direito a uma tensa sequencia dentro de um helicóptero. Após a ótima introdução, somos apresentados aos créditos iniciais, também muito interessantes, com um visual arrebatador e uma bela canção-tema por trás.

007 Contra Spectre portanto começa muito bem. Mas após estes primeiros minutos de projeção, praticamente mais nada de interessante acontece. Além de uma outra sequencia de ação muito boa - e difícil de filmar - uma luta dentro de vagões de trem, a outra única coisa boa restante do filme são... suas locações. Cenários internos dentro de amplas e imponentes salas, paisagens externas em diversos países do mundo, tudo belíssimo, "cinematográfico" no mais alto sentido. Mas tirando estas qualidades, não sobra mais nada. O roteiro é fraco, previsível, os personagens não são desenvolvidos de maneira adequada, há um excesso de perseguições de carro (longas e burocráticas), o casal Bond e Madeleine (Léa Seydoux) está constantemente emburrado e não possui carisma nenhum. Blofeld não assusta nem convence ninguém.

O pior em todos estes problemas, é que somos obrigados a vê-los por longas 2h28min. E há mais um detalhe: geralmente não costuma ser necessário assistir filmes de James Bond anteriores para entender sua trama atual. Mas aqui em 007 Contra Spectre, que não deixa de ser um desfecho para tudo que Daniel Craig fez, as referências aos personagens dos 3 filmes anteriores são muitas. Portanto, para aproveitar mais o filme e não ficar um pouco perdido, é bastante aconselhável que se assista os filmes passados.

007 Contra Spectre não deixa de ser um filme que homenageia bastante os filmes antigos da franquia. A SPECTRE está presente já no filme de estréia de James Bond, 007 contra o satânico Dr. No (1962). Já seu líder supremo, o caricato Ernst Stavro Blofeld, já aparece no filme seguinte, Moscou contra 007 (1963). É curioso ver que se os filmes do 007 acabassem hoje, a franquia se iniciaria e terminaria introduzindo os mesmos vilões.

E por falar em "acabar", qual será o futuro de 007 nos cinemas? Seria este o último filme de Daniel Craig como James Bond? O ator tem declarado abertamente que já está cansado e detestaria voltar a viver o famoso agente. Entretanto, ele tem contrato para um quinto filme. De minha parte, entendo que ele deveria mesmo encerrar seu ciclo agora. O reboot que se iniciou de maneira tão admirável com 007 - Cassino Royale, de 2006 (e que é o melhor filme da franquia que já assisti até hoje) se encontra atualmente esgotado, burocrático, insosso. Também não gostaria que o diretor Sam Mendes continuasse. Apesar que o também dele 007 - Operação Skyfall (2012) ser um bom filme, a imagem que tenho do diretor é que ele é apegado demais ao passado. E está na hora de James Bond voltar a ver o futuro. Nota: 5,0

domingo, 8 de novembro de 2015

Tem filme brasileiro entre os pré-indicados ao Oscar de Melhor Animação 2016!

Saiu nesta quinta-feira dia 5 uma lista com 16 pré-indicados ao Oscar de Melhor Animação da cerimônia que acontecerá no dia 28 fevereiro de 2016. São eles:

Anomalisa (Anomalisa) *
Bakemono no ko (The Boy and the Beast) *
O Bom Dinossauro
Cada Um na Sua Casa
Hotel Transilvânia 2
O Profeta
UFO gakuen no himitsu (The Laws of the Universe - Part 0) *
Muumit Rivieralla (Moomins on the Riviera) *
Snoopy & Charlie Brown: Peanuts, o Filme
Apenas Um Show: O Filme
Shaun, o Carneiro
Bob Esponja: Um Herói Fora D'Água
As Memórias de Marnie
* filmes que ainda não possuem título oficial em português, portanto segue seu nome original e entre parênteses seu nome em inglês

Depois deste anúncio, o próximo passo será o anúncio oficial dos 5 finalistas, o que ocorrerá no dia 14 de janeiro.

Alguns pontos me chamam a atenção: primeiro, notem a presença de dois filmes da Pixar (O Bom Dinossauro, que estréia no Brasil em 7 de janeiro, e Divertida Mente). Outro destaque é o desenho Anomalisa: primeira animação (e em stop-motion) da carreira do escritor e diretor Charlie Kaufman. Ele, que já roteirizou ótimos e bizarros filmes como Quero Ser John Malkovich (1999) e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), está ausente dos cinemas desde 2008. O que será que ele vai aprontar agora? Fiquei bastante interessado.

Mas o grande destaque, disparado, é a presença da animação brasileira O Menino e o Mundo, do animador / diretor Alê Abreu. Muito justo. Ou melhor, se fosse eu, já daria o Oscar para ele hoje! A história deste filme é simplesmente espetacular, não a toa, em minha crítica, O Menino e o Mundo levou nota 9,0, uma das maiores notas que já dei em todos os tempos!

Torçam por O Menino e o Mundo! E quem não o assistiu ainda, corra para ter este presente!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Crítica - Frank (2014)

TítuloFrank ("Frank", EUA / Irlanda / Reino Unido, 2014)
Diretor: Lenny Abrahamson
Atores principais: Michael Fassbender, Domhnall Gleeson, Maggie Gyllenhaal, Scoot McNairy
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=oNbFdtltpXE
Nota: 7,0
Esquisito e inesperado do começo ao fim

Um dos filmes indie mais elogiados pela crítica em 2015, Frank é, por falta de melhor definição, um filme bem esquisito. Pra começar, o personagem que dá nome ao título é uma pessoa que veste uma enorme máscara em 100% do tempo (ver imagem acima). Qualquer cena com um personagem destes instantaneamente se torna algo bizarro. Não sabemos se é algo engraçado ou assustador. E é exatamente este mesmo tom que vemos no filme todo.

Na história, Jon (Domhnall Gleeson) é uma pessoa comum que sempre quis - sem sucesso - ser músico. Eis que por acidente ele acaba tendo a oportunidade de participar da banda do misterioso Frank (Michael Fassbender). Ele abandona tudo para acompanhar o grupo, que irá se isolar em uma fazenda na Irlanda para gravar seu próximo disco.

O personagem de Frank é baseado em uma pessoa real - o britânico Chris Sievey, que na década de 80 fez algum sucesso em pequenas emissoras de rádio e TV inglesas com seu personagem Frank Sidebottom. Entretanto, com exceção de algumas pequenas passagens exibidas durante a gravação das novas músicas, todo o resto é ficcional, não servindo de maneira alguma como biografia de Sievey.

É difícil dizer sobre o que Frank se trata. Ele fala sobre música, e sobre a dificuldade em se tornar um músico famoso, sem dúvidas. Mas isto é apenas uma pequena parte do que o roteiro nos mostra. O mistério que Frank e sua persona exercem sobre todos acaba sendo um assunto mais presente que sua música, por exemplo.

Com uma trilha sonora constante - que alterna entre leves e agitadas músicas instrumentais com as músicas sendo compostas pela banda - Frank deverá agradar os "Jons" da vida real, ou seja, todos que um dia já sonharam ter sua banda. Ou melhor: o constante inesperado sobre o que virá a seguir é o grande atrativo para o público em geral. É difícil ficar entediado com Frank, mesmo sendo ele um filme de ritmo bem lento.

Como atrativo final, Frank conta com boas atuações, em especial a de Fassbender. Mesmo sem mostrar nunca seu rosto, sempre sabemos como Frank se sente. Para quem gosta de filmes diferentes, esquisitos, Frank é seu filme. Adjetivos mais apropriados para ele que estes dois, não há. Nota: 7,0

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Dupla-Crítica: A Incrível História de Adaline (2015) e Cinderela (2015)


Mais dois filmes que estrearam nos cinemas este ano, que não estão mais em cartaz, mas que ainda assim, a pedido de alguns leitores, estou postando a crítica dos mesmos. Vamos a eles!


A Incrível História de Adaline - "The Age of Adaline" (2015)

Diretor: Lee Toland Krieger
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=5TtQiKI4NhA
Atores principais: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford, Ellen Burstyn
Nota: 7,0

"Um bonito romance reforçado pela atuação de Blake Lively"

Nesta fantasia romântica, conhecemos Adaline (Blake Lively), nascida em 1908, mas que aos 29 anos parou de envelhecer. Não demorou muito para que ela tivesse que mudar completamente seu comportamento - o que inclui não ter nenhum relacionamento sério com ninguém - para esconder esta sua condição do restante da humanidade. Mas quando Ellis (Michiel Huisman) entra em sua vida, muita coisa parece que vai mudar.

A comparação de A Incrível História de Adaline com O Curioso Caso de Benjamin Button (2008) é inevitável. E se o primeiro é mais piegas e simplório que o segundo, Adaline é igualmente emocionante, com a vantagem de ter um ritmo melhor. Com uma fotografia bonita abusando de cores vivas, e com uma trilha sonora competente porém repetitiva, o grande destaque do filme vai para a bela atuação da jovem Blake Lively. Ela convence ser uma mulher madura e ao mesmo tempo, transmite com louvor seus sentimentos ao público.

A Incrível História de Adaline certamente agradará quem gosta de um bom filme de romance. E é também um filme que debate com eficiência o saudosismo e o amor de longa duração. Há alguns pontos do roteiro, entretanto, que não aprovo. Como exemplos, o casal possuir uma vida sem aparente dificuldades (dinheiro não é problema), o número considerável de clichês e, principalmente, que o amor de Adaline por Ellis não convence. Não entendo porque ela mudaria tão rapidamente seus hábitos por ele, e pior, porque ela continuou a se interessar pelo rapaz após descobrir quem é o pai do mesmo. É a má construção do relacionamento do casal principal que baixa a nota deste filme. Mas tirando isto do roteiro, todo o resto se apresenta de maneira bela e convincente. E no final das contas sobra bastante coisa bacana. Nota: 7,0



Cinderela - "Cinderella" (2014)

Diretor: Kenneth Branagh
Atores principais: Lily James, Cate Blanchett, Richard Madden, Helena Bonham Carter
Nota: 7,0

"Um Conto de Fadas tradicional ao extremo"

A Disney continua com suas versões live-action de seus clássicos de animação do passado. Recentemente tivemos Alice no País das Maravilhas (2010) e Malévola (2014); agora é a vez de Cinderela. Dentre todas as obras citadas anteriormente esta é de longe a mais parecida com o desenho original.

Mais do que parecer com a versão de animação, Cinderela leva ao máximo o deslumbre fantasioso dos contos de fadas. Tudo em Cinderela é glamouroso, grandioso. Até a casa decadente onde mora a protagonista é linda. Com uma bela fotografia, design de produção belíssimo, tudo é colorido, brilhante, dourado, um sonho. A história segue a versão clássica da Disney: Cinderela (Lily James) é maltratada pela Madrasta má (Cate Blanchett) e se apaixona pelo Príncipe (Richard Madden). Aí vêm as badaladas da meia noite, o sapatinho de cristal, e todo o restante tão bem conhecido pelo público.

Cinderela é um filme bem agradável de se assistir. Primeiro, pelo encanto visual, segundo, pelo seu ritmo dinâmico, sem enrolações, e bom humor. Tudo no mundo de Cinderela é perfeito. Até demais. Não deixa de ser bastante curioso (e eu reforço a palavra curioso - não estou dizendo que está certo ou errado) que após anos criando princesas independentes que não procuram por um príncipe salvador, como por exemplo em Mulan (1998), Valente (2012) e Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), a Disney volte com este conceito clássico da bela e indefesa Cinderela esperando pelo Príncipe encantado. Nota: 7,0

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Crítica - Ponte dos Espiões (2015)

TítuloPonte dos Espiões ("Bridge of Spies", EUA, 2015)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Amy Ryan, Scott Shepherd
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=I-G9WsuVv-A
Nota: 7,0
Outro bom filme histórico entregue por Spielberg

Steven Spielberg retorna ao assunto guerra, porém de maneira menos explícita. Saem as batalhas e a violência e entramos no mundo de espiões na Guerra Fria no final dos anos 50 / início dos anos 60. Na história de Ponte dos Espiões, um velho espião russo de nome Rudolf Abel é capturado agindo em solo estadunidense. Ele vai a julgamento, e para defendê-lo é convocado o advogado James B. Donovan (Tom Hanks). Posteriormente, Rudolf é sugerido como moeda de troca por um espião americano capturado na União Soviética, e Donovan parte para a Alemanha participar das negociações.

O filme se divide então em duas partes bem distintas, e igualmente interessantes. Na primeira, temos um filme de tribunal. Porém, longe de enfadonhos debates jurídicos, este ato é contado sobre o ponto de vista cotidiano de Donovan. Mais ainda, é a luta de um indivíduo honesto contra toda uma sociedade preconceituosa. Uma boa e corajosa maneira de vender o american way of life fazendo auto-críticas e sem exagerar no patriotismo.

Na segunda parte, a tensão aumenta bastante, e aí temos a jornada de James agindo literalmente sozinho em Berlim, justamente no mesmo momento em que o Muro está sendo construído.

Se você gosta de História e espiões, certamente vai gostar bastante de Ponte dos Espiões. O fato de se basear em fatos reais, ter diálogos inteligentes e bastante bem humorados (roteiro dos irmãos Coen), contar com ótimas atuações e personagens de Tom Hanks e Mark Rylance; tudo isto é bastante agradável.

Ponte dos Espiões é, portanto, um bom filme. Mas poderia ser melhor se Spielberg não fosse tão piegas e tão exagerado. Exemplos? Nos discursos mais bonitos de Donovan, textos bastante inspirados, eis que surge aquela trilha sonora altíssima "épica" dizendo para o espectador burro que agora é momento de se emocionar. Em uma bela tomada em que se percorre o muro de Berlim sendo montado tijolo a tijolo e separando instantaneamente famílias e amigos, na sequencia vem uma cena de "como os soldados alemães são maus". Ou ainda, um desfecho de final feliz não basta para o diretor americano. São dois. Um mais piegas que o outro.

Ponte dos Espiões é mais um bom filme entregue por Spielberg, feito para agradar qualquer tipo de público adulto. Porém mais uma vez o diretor perdeu a chance de fazer um filme marcante. Desde 2005, com seu Guerra dos Mundos, todos os seus filmes (com exceção de Munique, também de 2005), possui exatamente os mesmos problemas que apontei no parágrafo anterior. É por isto que Steven não entrou na minha lista de Diretores Preferidos da Atualidade e continuará não entrando. Nota: 7,0

PS: na foto deste post vemos Steven Spielberg, Angela Merkel e Tom Hanks na frente da ponte-título do filme.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crítica - A Colina Escarlate (2015)

Título: A Colina Escarlate ("Crimson Peak", EUA, 2015)
Diretor: Guillermo del Toro
Atores principais: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=c2SbrLVGORM
Nota: 4,0
Esmero visual e na produção não salvam o filme do tédio

Em termos visuais, como sempre, a nova obra de del Toro é irretocável. E desta vez ajudada por um motivo bem particular: a assustadora mansão onde A Colina Escarlate foi rodada é uma casa real, especialmente construída para o filme. O design de produção é fantástico, e a casa, ao mesmo tempo traz medo e admiração, bastante admiração!

Na história, Edith (Mia Wasikowska) é uma jovem solteira, filha de um rico empresário, e sem nenhum interesse pela vida social. Eis que aparecem em sua cidade, vindo da Inglaterra, os estranhos irmãos Thomas e Lucille Sharpe (Tom Hiddleston e Jessica Chastain). Não demora muito para que Edith seja seduzida por Thomas, e que ambos se mudem para as terras dos Sharpe, onde há a decadente e assustadora mansão descrita no parágrafo anterior.

Um dia antes da estréia do filme, com receio de ser mal interpretado, o diretor Guillermo del Toro foi em seu Twitter e avisou: se trata de um "romance gótico", e não um filme de terror. De fato, o mexicano descreveu bem A Colina Escarlate. Ele é bem mais um drama/romance do que terror. Mas, como espectador, mesmo se preparando para assistir então este gênero de filme, não há como se preparar para a monotonia que vem a seguir.

Não demora muito para entendermos o que está acontecendo, e o que os irmãos Sharpe estão tramando. Todos os "mistérios" da mansão e dos sombrios irmãos são revelados em pouco tempo. Entretanto, cada mesmo segredo é "revelado" dezenas de vezes. Tudo é tão explicado, e tantas vezes, que não tem como A Colina Escarlate deixar de ser enfadonho.

Basicamente, o filme traz uma história mediana que poderia ser contada em 30 minutos, mas é contada em 2 horas. O clima de terror e os fantasmas poderiam dar uma "apimentada" em A Colina Escarlate, mas não o fazem. Principalmente porque já no começo do filme aprendemos que os fantasmas (que são visualmente maravilhosos... impressionantes, misturando beleza e terror) são na verdade amigos de Edith, apenas querem ajudá-la, e não o contrário.

Para contribuir ainda mais com a chatice do filme, Mia Wasikowska e Tom Hiddleston têm atuações bem contidas e repetitivas (embora eficientes); é apenas Jessica Chastain que traz um pouco de brilho ao filme, com uma atuação bem mais imponente e convincente.

De algo que poderia ser o grande filme de terror do ano, o que temos é um romance de época enfadonho em que apenas seu belíssimo visual e Jessica Chastain trazem algum atrativo. Confesso estar surpreso, é o primeiro filme de Guillermo del Toro que não gostei. Nota: 4,0

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crítica - A Visita (2015)

Título: A Visita ("The Visit", EUA, 2015)
Diretor: M. Night Shyamalan
Atores principais: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Uo5o_5tJKdk
Nota: 5,0
Shyamalan repete a fórmula que o consagrou... e novamente sem bons resultados

O diretor M. Night Shyamalan estourou nos cinemas com O Sexto Sentido (1999) utilizando o seguinte recurso: roteiro de suspense/terror com uma grande revelação/reviravolta nos momentos finais. A partir de sua obra prima, foram mais 5 filmes seguidos utilizando a mesmíssima fórmula: Corpo Fechado (2000), Sinais (2002), A Vila (2004), A Dama na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008). E a cada novo lançamento, bilheteria e crítica eram (de maneira justa, aliás) piores que o anterior.

Cada vez inspirando menos confiança dos produtores e público, Shyamalan até tentou mudar: abandonou o mistério e o suspense e investiu em dramas de ação. Vieram então O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013), ambos fracos.

Então chegamos aos dias de hoje. Será que o indiano iria tentar uma 3ª fórmula diferente desta vez? Que nada, ele voltou ao seu formato inicial! Em A Visita, os adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) viajam para passar uma semana na casa dos avós e conhecê-los (como a mãe deles não fala com os pais há 15 anos devido a uma briga, Becca e Tyler irão encontrá-los pela primeira vez). Inicialmente simpáticos, os velhinhos vão se mostrando a cada dia mais estranhos. O que será que há de errado com eles?

Se A Visita segue o mesmo formato do suspense + reviravolta, há duas principais diferenças do mesmo em relação aos filmes anteriores de Shyamalan. Pela primeira vez desde 1999 ele trabalha sem estrelas hollywoodianas (após fracassar várias vezes, é o que acontece...), e também, agora temos um filme em grande parte filmado "em primeira pessoa". Com a desculpa de que Becca está fazendo um documentário, muitas cenas são filmadas "na mão" por uma das duas crianças. Ao mesmo tempo que esta estratégia aumenta com sucesso a tensão na trama, por outro lado, estamos na verdade diante de uma simulação de "câmera amador" já que as imagens são em geral fixas, pouco tremem, estão sempre com foco e iluminação adequadas... isso mesmo quando o câmera está em movimento (ou seja, quem realmente filmou não estava com uma simples camerazinha na mão, e sim, com uma estrutura bem mais elaborada por trás dando suporte).

Há de se elogiar que o clima de suspense é muito bem montado em A Visita. A tensão vai crescendo minuto a minuto, reforçada com competência com cada nova "bizarrice" dos avós. Pena que todo este bom desenvolvimento morre quase que instantaneamente após a "revelação surpreendente". Aliás, a tal "grande surpresa" faz bastante sentido, amarrando bem todas as dicas dadas ao espectador ao longo da projeção. O problema então não é a revelação em si, mas o que acontece após ela. São pelo menos mais 25 minutos de monotonia e constrangimento. Terrível!

Em termos de atuações, enquanto as atrizes estão muito bem, os rapazes (neto e avô) não convencem e atuam mecanicamente. Tecnicamente, apenas a fotografia merece alguns elogios, o resto não me chamou atenção positivamente.

Se para mim A Visita é mais uma "bomba" de Shyamalan, pelo menos em termos de recepção o filme é um bom respiro para a carreira do diretor. Primeiro porque - reconheço - este filme é menos ruim que os últimos dele (na verdade o filme tem recebido elogios moderados da crítica especializada e do público). E segundo porque no momento em que escrevo este texto a bilheteria mundial de A Visita se aproxima dos US$ 85 milhões, sendo que o filme - de baixíssimo orçamento - só custou US$ 5 milhões. Ou seja, com este ótimo lucro, ainda veremos mais Shyamalan no futuro. Rumores recentes dizem que seu próximo projeto irá focar no sobrenatural e contará com James McAvoy (o Xavier da nova trilogia X-Men) no papel principal. Nota: 5,0.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica - A Travessia (2015)

Título: A Travessia ("The Walk", EUA, 2015)
Diretor: Robert Zemeckis
Atores principais: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon, Ben Kingsley
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Tra7otLWtQ8
Nota: 7,0
Incrível história que deve ser vista nos cinemas e em 3D

As Torres Gêmeas de Nova York acabam de ser inauguradas (ou melhor, embora já em funcionamento, parte da segunda torre ainda nem foi finalizada). O que você pensaria sobre um maluco que resolvesse atravessar os dois prédios andando sem nenhuma proteção por um fio de arame pendurado entre eles? E mais, esta seria uma ação ilegal, claro. Além de ferir vários artigos da lei, as Torres possuem um sistema de segurança e monitoramento consideravelmente forte, o que torna a tarefa muito mais difícil de ser feita. Alguém conseguiria realizar tal façanha?

Pois então. Por mais absurda que seja a última pergunta acima, a resposta é que em 1974 o artista Philippe Petit protagonizou o feito. Foi o primeiro e único homem a se equilibrar entre as famosas Torres. E é a história desta realização que vemos em A Travessia.

Embora seja focado na vida do personagem de Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), a história se concentra quase em sua totalidade na ação que culminou nesta famosa travessia. Para realizar a caminhada, Petit contou um número razoável de ajudantes, dos quais no filme apenas se destacam a cantora e namorada Annie (Charlotte Le Bon) e o também artista equilibrista e seu mentor Papa Rudy (Ben Kingsley).

Contada em um ritmo acelerado, não tem como uma história tão incrível como esta ficar desinteressante. Portanto, assistir A Travessia é sem dúvida uma experiência bastante agradável. Entretanto, o desenvolvimento da trama poderia ser melhor. Narrado em primeira pessoa, cenas de um Petit "após a travessia" em cima da Estátua da Liberdade são inseridas várias vezes ao longo da projeção, quebrando o ritmo do filme. Esta escolha também joga contra no sentido em que sabemos desde o primeiro momento que "tudo vai dar bem no final", diminuindo a tensão. Além disto, o desenvolvimento de qualquer outro personagem a não ser o do Phillippe e sua obsessão pelo seu sonho de travessia é solenemente ignorado.

O diretor Robert Zemeckis (da trilogia De Volta Para o Futuro) prometera para A Travessia uma revolução visual. Uma sensação de "estar acima das Torres" como nunca se vira antes. De fato, o filme é ótimo neste sentido, sua grande qualidade. As tomadas são filmadas com grande número de ângulos e variações. Temos cenas onde observamos Philippe de baixo pra cima, de cima pra baixo, com zoons e movimentos de câmeras diversos. A computação gráfica que envolve as cenas acima da Torre são simplesmente impecáveis. Perfeitas.

Infelizmente, apesar de tanto primor técnico, pelo menos eu não consegui me sentir "realmente" em cima dos prédios, conforme prometido. Talvez pelo fato de eu não estar em um cinema IMAX 3D (aonde esta sensação foi prometida). Mesmo assim, estive em um bom cinema 3D, e aviso: A Travessia é um filme que vale bastante a pena em ser assistido em 3 dimensões. Não temos aqui "objetos jogados na cara do espectador", ou ainda, planos muito longos onde seja possível explorar uma enorme noção de profundidade. Mas mesmo assim, a sensação de 3D está presente no filme todo. Muito admirável! E mais ainda, se eu não me senti literalmente "lá em cima", foi quase. Foram vários minutos de angústia e arrepios observando Petit pendurado sob as Torres. E sim, o francês ficou um tempão lá em cima sob os fios - assistam o filme para entender porque.

Em termos de atuações, Joseph Gordon-Levitt continua impressionando. Americano, ele fala com um sotaque francês que convence na maioria das cenas. Levitt não é fisicamente parecido com Philippe Petit, nem com seus trejeitos. Mas mesmo assim, convence como artista equilibrista (ele aprendeu a andar sob cordas durante as filmagens tendo aulas com o verdadeiro Philippe) e principalmente, convence na atuação, demonstrando de forma crível as emoções sentidas pelo personagem.

A Travessia é uma história interessante, que exemplifica bem o espírito de coragem, força e destemor do ser humano. Também dá cutucadas bacanas afirmando sobre o que é ser um "verdadeiro" artista. É uma aventura que deveria ser conhecida por todos e - principalmente - da maneira em que o filme foi feito, só faz verdadeiramente sentido vê-lo nos cinemas. E em 3D. Nota 7,0.


PS 1: se não "revolucionou", pelo menos o realismo visual de A Travessia impressionou. E a Sony aproveitou para promover seu filme utilizando esta tecnologia. Nestes vídeos podemos ver a bacana promoção feita nos EUA e até aqui no Brasil.

PS 2A Travessia é a mesma história contada pelo documentário O Equilibrista (2008), grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2009. Para quem gostou da história de Philippe Petit, eis uma grande oportunidade de se aprofundar no assunto, assistindo outro filme sob formato completamente diferente.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Uma análise de todas as Graphic Novels do Maurício de Sousa até agora - Parte 3 de 3


E depois da Parte 1 e Parte 2, finalmente a tão aguardada terceira e última parte. Confiram!

7 - Penadinho: Vida
Artistas: Paulo Crumbim e Cristina Eiko (roteiro e desenhos)
Lançamento: Maio de 2015
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Antes de comentar sobre a história, preciso comentar sobre a arte. Ela é um pouco infantil, mas maravilhosa, principalmente na colorização. Penadinho (e os demais fantasmas), literalmente brilham nas páginas. O impacto visual é realmente impressionante. Na história, Alminha é raptada por um estranho cientista que transforma fantasmas em perfume. Penadinho e sua turma vão, é claro, ao resgate da moça. A história não é muito inovadora, mas mesmo assim, bacana e ágil. Misturando drama e humor, a grande qualidade do roteiro é ser romance e história de origem ao mesmo tempo.

8 - Turma da Mônica - Lições
Artistas: Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (roteiro e desenhos)
Lançamento: Julho de 2015
Nota (1 a 5): 5
Comentários: Quem pensava que o espetacular trabalho dos Cafaggi em Laços seria inigualável, se enganou. Vitor e Lu criam aqui outra verdadeira obra de arte. Toda a beleza e delicadeza de roteiro e arte presentes em Laços se repetem aqui em Lições. E o climão dos anos 80 com direito a garotos valentões na escola também. Nesta continuação, a turma esquece de fazer a lição de casa, e após alguns desentendimentos, os pais acabam separando o quarteto. Então cada um precisa aprender a se virar sozinho, algo não muito comum na biografia destes personagens. Neste processo temos então só agora - e não no volume anterior - a apresentação através de flashbacks sobre como eles se tornaram amigos pela primeira vez. Belo e emocionante, de rolar lágrimas!

9 - Turma da Mata - Muralha
Artistas: Artur Fujita (roteiro), Roger Cruz (arte) e Davi Calil (cores)
Lançamento: Setembro de 2015
Nota (1 a 5): 3
Comentários: Assim como em Piteco - Ingá, temos uma grande alteração nos personagens de Maurício de Sousa. Porém se Piteco foi abrasileirado, em Muralha a Turma da Mata infelizmente vira uma mistura de quadrinhos de ação japoneses com estadunidenses; samurais com steampunk. Não a toa, os desenhos são de Roger Cruz, que já desenhou para os X-Men e Homem-Aranha dentre outros.
Na história, Leonino é um imperador cruel, que vive em constante batalha contra uma resistência formada por Raposão, Coelho Caolho e Tarugo, dentre outros. Raptado pelo império ainda quando criança, Jotalhão vive em conflito entre estes dois mundos.
Muralha é uma história de "vamos derrubar o imperador" com Jotalhão vivendo sua Saga do Herói particular. A história é longa e bacana, porém repleta de clichês. Já os bons desenhos - que algumas vezes chegam a lembrar cenas de cinema - nas lutas do ato final são bem confusos em alguns momentos, ficando difícil entender o que aconteceu exatamente. O resultado é um trabalho interessante, mas que assim como em Chico Bento - Pavor Espaciar, o uso dos personagens da Turma da Mônica é algo totalmente irrelevante para a trama.


E tem mais!
Já foram anunciados mais 2 novos títulos pra fechar a "fase 2" iniciada em 2014 com Bidu - Caminhos. Até o final do ano teremos Louco, por Rogério Coelho. Já Papa-Capim, por Marcela Godoy e Renato Guedes provavelmente só chegará no primeiro semestre de 2016.

Resumindo...
Seguem os 9 títulos e suas respectivas notas somadas as 3 partes:
  • Astronauta - Magnetar: Nota 3
  • Turma da Mônica - Laços: Nota 5
  • Chico Bento - Pavor Espaciar: Nota 2
  • Piteco - Ingá: Nota 4
  • Bidu - Caminhos: Nota 3
  • Astronauta - Singularidade: Nota 4
  • Penadinho - Vida: Nota 4
  • Turma da Mônica - Lições: Nota 5
  • Turma da Mata - Muralha: Nota 3

... e concluindo
Se você ainda não leu Laços e Lições dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi parem AGORA o que estão fazendo e vão atrás destas obras primas! ;)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Uma análise de todas as Graphic Novels do Maurício de Sousa até agora - Parte 2 de 3


Continuando o texto anterior, seguem mais 3 edições da coleção Graphic MSP.

4 - Piteco - Ingá
Artista: Shiko (roteiro e desenhos)
Lançamento: Novembro de 2013
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Ao associar a história com a pedra pré-histórica Ingá, localizada na Paraíba, Shiko faz a maior alteração dos personagens do Maurício até então. O universo de Piteco - originalmente do hemisfério norte, onde seus cidadãos vivem em cavernas ou casas esculpidas na pedra, enfrentando dinossauros e mamutes - é substituído por uma ambientação nas selvas brasileiras, onde os personagens estão mais próximos dos índios (ok, ainda surgem alguns animais pré-históricos, mas todos brasucas). Piteco é um caçador, e Thuga uma jovem feiticeira, que é raptada por uma tribo rival de olho em seus poderes. É a missão de Piteco para resgatar seu eterno amor não assumido, a história de Ingá.
Não considero tantas mudanças nos personagens como algo ruim. Ao contrário, é gratificante ver uma história de brasileiro sobre brasileiros. Arte e história são boas, e com exceção da luta final - um pouco confusa - o resultado final é um material bem elaborado, superior aos nível dos quadrinhos atuais.

5 - Bidu - Caminhos
Artistas: Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho (roteiro e desenhos)
Lançamento: Agosto de 2014
Nota (1 a 5): 3
Comentários: Caminhos é uma dupla história de origem. Aqui conhecemos como Bidu e Franjinha se encontraram, e também, como Bidu conheceu os cachorros Duque, Bugu e Rúfius. Assim como em Laços (ver Parte 1), Caminhos também possui traços delicados e fofinhos e simula os anos 80. Entretanto, a comparação termina aqui, já que esta história - sob ponto de vista dos cachorros - é bem mais simplória. Com poucos diálogos e poucos quadros por página, os maiores momentos de diversão e emoção vem dos "balõezinhos" de fala dos personagens; já que ao invés de palavras, os cachorros se expressam por desenhos. Curiosamente este detalhe dos balões - a única coisa realmente especial em Caminhos - não estava previsto originalmente pelos autores, foi uma sugestão do editor Sidney Gusman.

6 - Astronauta - Singularidade
Artistas: Danilo Beyruth (roteiro e arte) e Cris Peter (cores)
Lançamento: Dezembro de 2014
Nota (1 a 5): 4
Comentários: Na continuação de Astronauta - Magnetar agora temos Astronauta acompanhado de dois tripulantes em uma viagem para estudar um buraco negro: uma psicóloga brasileira e um pesquisador estrangeiro que "impôs" sua participação através de sua agência. Já nas primeiras páginas percebemos que o pesquisador não apenas é mal intencionado, como também conhece detalhes da missão que os brasileiros nem desconfiam. Chichê? Sim, até mais do que a história anterior. Porém aqui o roteiro é mais elaborado, e finalmente temos um desenvolvimento maior não só do Astronauta, mas de todo o ambiente que o cerca. Conhecemos o programa espacial brasileiro, novos personagens e algumas curiosidades bacanas. A arte continua bela e adequada e, assim como no capítulo anterior, há momentos em que elas lembram cenas de filmes.


Amanhã tem a parte final, não percam! Mas antes dela chegar, conforme prometido, segue alguns desenhos de Laços:

Laços: a turminha desenhada por Vitor Cafaggi
Laçõs: e quando é flashback (eles quase bebês). os traços são de Lu Cafaggi

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...