Diretor: Denis Villeneuve
Atores principais: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon
Marcante filme de suspense com final difícil e polêmico
De título original Enemy ("Inimigo", em inglês), normalmente eu iria enlouquecer com a tradução dada aqui no Brasil para o novo filme do diretor canadense Denis Villeneuve: O Homem Duplicado. Entretanto, desta vez a tradução do título é bastante adequada, já que O Homem Duplicado é exatamente o nome do livro do escritor português José Saramago, publicado em 2002, no qual este filme é baseado.
Na trama, conhecemos o professor de história Adam Bell (Jake Gyllenhaal), que tem uma vida rotineira e desanimada, mas que um dia descobre assistindo um filme que, para sua grande surpresa, existe um ator exatamente idêntico a ele. Após pouco tempo, ele consegue se encontrar pessoalmente com o artista, de nome Anthony Claire (também vivido por Gyllenhaal). A experiência perturba ambos fortemente, e as consequências deste encontro vão dramaticamente se aumentando, chegando até a envolver suas mulheres, respectivamente Mary (Mélanie Laurent) e Helen (Sarah Gadon), e culminando em um surpreendente desfecho.
A história é boa, mas contada de maneira bem lenta, contemplativa. Tanto a fotografia (trazendo tons alaranjados no filme todo) quanto a trilha sonora são muito boas e transmitem com precisão o clima de melancolia e confusão dos personagens, além de, ser eficiente em trazer um forte clima de mistério para a película.
O roteiro e a montagem também agradam, já que requerem a atenção e a inteligência do espectador. Por exemplo, o filme mostra que tanto Adam quanto Anthony possuem medo de relacionamento, mas isto é feito de maneira sutil, implícita. Outro detalhe curioso: não há um único protagonista, as participações alternam entre Adam e Anthony em um ponto que só no final entendemos quem é quem em todas as cenas.
Sim, a frase acima entrega que o filme não é de tão fácil compreensão, mas falarei disto mais tarde, em seu desfecho.
Gostei bastante da atuação de Sarah Gadon, que não conhecia. Mas quem rouba a cena é Jake Gyllenhaal, provando definitivamente o quão bom e versátil ator ele é. Foi com prazer que pude concluir que os "tiques" apresentados por ele no filme Os Suspeitos (justamente o filme anterior do diretor Denis Villeneuve) eram mesmo de seu personagem (foram tão convincentes que eu pensei serem do próprio ator).
Tudo funciona bem em O Homem Duplicado... até chegarmos ao seu desfecho. O final é polêmico em vários níveis.
Primeiramente, a última cena termina de forma bastante abrupta, além de ser uma das coisas mais assustadoras que já vi no cinema até hoje. Sua conclusão "estranha" me lembra Donnie Darko (2001), que curiosamente também é estrelada por Jake. A conclusão (ou falta de uma) certamente deixará boa parte dos espectadores revoltados.
Mas... calma. Conforme é dito em forma de letreiro nos primeiros segundos do filme: "O caos é uma ordem ainda não decifrada". E de fato, é este o sentido do filme. Ele é um verdadeiro quebra-cabeças, que, ao assistido de novo, se torna mais claro. Há várias "pistas" espalhadas pelo filme todo, que ajudam a explicar a conclusão.
Para quem interessar, este vídeo (em inglês sem legendas), apresenta uma teoria para explicar o filme todo, a qual entendo ser correta: https://www.youtube.com/watch?v=v9AWkqRwd1I. Note que embora a explicação me convença, ela não me satisfaz em 100%. No meu último parágrafo deste texto explico em detalhes o que eu não gostei.
Independente da explicação para o final, um fato é claro: o desfecho é uma enorme alteração da obra de Saramago. No filme o final é aberto, um pouco dúbio, principalmente para o personagem Adam. Já no livro temos uma conclusão simples e direta; ela fecha a história, não dando margens a interpretações. E é nesta alteração do original que O Homem Duplicado tem ao mesmo tempo seu ponto fraco e forte: ao mesmo tempo que seus enigmas e explicações encantam por exigir mais do espectador, ao mesmo tempo não deixam a história 100% "redonda" (ver meu PS ao final).
Um bom filme de suspense e muito bem executado tecnicamente, O Homem Duplicado merece uma nota alta por ousar ser diferente. Filmes que não entregam tudo pro espectador estão cada vez mais raros, e consequentemente, chamam cada vez mais a minha atenção. Nota: 8,0
PS: conforme prometido acima, o que eu "não gostei do final" - não leiam este parágrafo antes de assistir o filme, é spoiler total! Entendo que o desfecho, por mais "redondo" e inteligente que seja, força um pouco a barra quanto ao relacionamento de Anthony com Helen. Oras, na última cena de Adam com sua mãe, ela praticamente entrega que Anthony e Adam são a mesma pessoa. Sendo este mesmo o caso, como Helen nunca soube que seu marido dava aulas? Como é possível estar casado com uma pessoa e não saber disto? Ainda mais quando o filme mostra que Helen conhece a mãe de seu esposo... elas nunca iriam falar sobre as atividades dele? Achei inverossímil. Curiosamente, no livro, Anthony e Adam são claramente dois personagens distintos, não há margem para esta tipo de interpretação.
Na trama, conhecemos o professor de história Adam Bell (Jake Gyllenhaal), que tem uma vida rotineira e desanimada, mas que um dia descobre assistindo um filme que, para sua grande surpresa, existe um ator exatamente idêntico a ele. Após pouco tempo, ele consegue se encontrar pessoalmente com o artista, de nome Anthony Claire (também vivido por Gyllenhaal). A experiência perturba ambos fortemente, e as consequências deste encontro vão dramaticamente se aumentando, chegando até a envolver suas mulheres, respectivamente Mary (Mélanie Laurent) e Helen (Sarah Gadon), e culminando em um surpreendente desfecho.
A história é boa, mas contada de maneira bem lenta, contemplativa. Tanto a fotografia (trazendo tons alaranjados no filme todo) quanto a trilha sonora são muito boas e transmitem com precisão o clima de melancolia e confusão dos personagens, além de, ser eficiente em trazer um forte clima de mistério para a película.
O roteiro e a montagem também agradam, já que requerem a atenção e a inteligência do espectador. Por exemplo, o filme mostra que tanto Adam quanto Anthony possuem medo de relacionamento, mas isto é feito de maneira sutil, implícita. Outro detalhe curioso: não há um único protagonista, as participações alternam entre Adam e Anthony em um ponto que só no final entendemos quem é quem em todas as cenas.
Sim, a frase acima entrega que o filme não é de tão fácil compreensão, mas falarei disto mais tarde, em seu desfecho.
Gostei bastante da atuação de Sarah Gadon, que não conhecia. Mas quem rouba a cena é Jake Gyllenhaal, provando definitivamente o quão bom e versátil ator ele é. Foi com prazer que pude concluir que os "tiques" apresentados por ele no filme Os Suspeitos (justamente o filme anterior do diretor Denis Villeneuve) eram mesmo de seu personagem (foram tão convincentes que eu pensei serem do próprio ator).
Tudo funciona bem em O Homem Duplicado... até chegarmos ao seu desfecho. O final é polêmico em vários níveis.
Primeiramente, a última cena termina de forma bastante abrupta, além de ser uma das coisas mais assustadoras que já vi no cinema até hoje. Sua conclusão "estranha" me lembra Donnie Darko (2001), que curiosamente também é estrelada por Jake. A conclusão (ou falta de uma) certamente deixará boa parte dos espectadores revoltados.
Mas... calma. Conforme é dito em forma de letreiro nos primeiros segundos do filme: "O caos é uma ordem ainda não decifrada". E de fato, é este o sentido do filme. Ele é um verdadeiro quebra-cabeças, que, ao assistido de novo, se torna mais claro. Há várias "pistas" espalhadas pelo filme todo, que ajudam a explicar a conclusão.
Para quem interessar, este vídeo (em inglês sem legendas), apresenta uma teoria para explicar o filme todo, a qual entendo ser correta: https://www.youtube.com/watch?v=v9AWkqRwd1I. Note que embora a explicação me convença, ela não me satisfaz em 100%. No meu último parágrafo deste texto explico em detalhes o que eu não gostei.
Independente da explicação para o final, um fato é claro: o desfecho é uma enorme alteração da obra de Saramago. No filme o final é aberto, um pouco dúbio, principalmente para o personagem Adam. Já no livro temos uma conclusão simples e direta; ela fecha a história, não dando margens a interpretações. E é nesta alteração do original que O Homem Duplicado tem ao mesmo tempo seu ponto fraco e forte: ao mesmo tempo que seus enigmas e explicações encantam por exigir mais do espectador, ao mesmo tempo não deixam a história 100% "redonda" (ver meu PS ao final).
Um bom filme de suspense e muito bem executado tecnicamente, O Homem Duplicado merece uma nota alta por ousar ser diferente. Filmes que não entregam tudo pro espectador estão cada vez mais raros, e consequentemente, chamam cada vez mais a minha atenção. Nota: 8,0
PS: conforme prometido acima, o que eu "não gostei do final" - não leiam este parágrafo antes de assistir o filme, é spoiler total! Entendo que o desfecho, por mais "redondo" e inteligente que seja, força um pouco a barra quanto ao relacionamento de Anthony com Helen. Oras, na última cena de Adam com sua mãe, ela praticamente entrega que Anthony e Adam são a mesma pessoa. Sendo este mesmo o caso, como Helen nunca soube que seu marido dava aulas? Como é possível estar casado com uma pessoa e não saber disto? Ainda mais quando o filme mostra que Helen conhece a mãe de seu esposo... elas nunca iriam falar sobre as atividades dele? Achei inverossímil. Curiosamente, no livro, Anthony e Adam são claramente dois personagens distintos, não há margem para esta tipo de interpretação.