quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Crítica - O Lado Bom da Vida (2012)

Título: O Lado Bom da Vida ("Silver Linings Playbook", EUA, 2012)
Diretor: David O. Russell
Atores principais:  Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver
Nota: 7,0

“Muito mais drama que comédia, um bom filme de romance”

Filme baseado em um livro de mesmo nome (Silver Linings Playbook, no original), O Lado Bom da Vida tem sido apresentado nos cinemas brasileiros como sendo uma comédia romântica. O filme é sim romântico, mas muito longe de ser uma comédia. Tanto isto é verdade, que a primeira piada é feita apenas aos 45 minutos de projeção, e ela sequer provoca risos dada a tensão dos personagens naquela cena.

Aqui temos a história de Pat (Bradley Cooper), que acaba de sair de uma instituição de tratamento mental. Diagnosticado com distúrbio bipolar, ele tenta recuperar o amor de sua ex-esposa, cuja traição o levou ao surto que o deixou internado. É no meio desta sua luta pela esposa e pela cura da doença que ele conhece a viúva Tiffany (Jennifer Lawrence), que por não ter se recuperado ainda da morte do marido, é tão problemática (ou ainda mais) que Pat.

Silver Linings é uma expressão que em tradução livre significa "a parte boa que existe no meio das coisas ruins". E ironicamente, de maneira oposta a isto, as principais qualidades do filme sofrem por terem alguma contrapartida ruim.

Por exemplo, O Lado Bom da Vida começa suas filmagens praticamente em uma perspectiva de primeira pessoa de Pat. Com isto, todas as cenas são bem curtas, repletas de closes, com a câmera sempre em movimento. Isto nos faz vivenciar na o transtorno mental que Pat se encontra. São cenas difíceis de assistir, dado o incômodo gerado pelas filmagens. O problema é que o recurso chega a ser "eficiente demais" já que o diretor David O. Russell exagera em seu uso. Nem sempre temos uma cena com Pat "em crise". E nem sempre Pat está presente na cena! Mesmo assim, este recurso de "perturbação mental" é utilizado o tempo todo até mais ou menos a metade do filme. Não faz sentido.

Outra qualidade, no roteiro, é que ele é bastante realista. Vemos não só os problemas e dramas dos dois protagonistas, mas também de todas as pessoas ao seu redor. A vida é dura, e o filme não hesita em retratá-la desta maneira. Vemos que além de Pat e Tiffany, as outras pessoas "normais" que convivem com elas também possuem seus transtornos, além de mesmo quando querem ajudar mostram seu lado egoísta.

É uma pena que todo este alto grau de realismo seja esquecido na parte final da história. A conclusão do filme é abrupta, dispersa, exagerada e bastante fantasiosa. Mais uma vez, tudo tem seus prós e contras por aqui.

Apesar de irregular, O Lado Bom da Vida tem um saldo final positivo. Não é uma comédia, mas é um romance onde nos identificamos e torcemos pelos personagens. Temos no final das contas um bom filme. Nota: 7,0.

PS: O Lado Bom da Vida e o Oscar 2013
O Lado Bom da Vida me chamou a atenção por ser o primeiro filme desde 1981 a receber indicações para as sete principais categorias do Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor ator, melhor atriz, melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante.

E eu lamento constatar que estas indicações são bem exageradas. Da parte de filme, diretor e roteiro, o fato de todos eles apresentarem altos e baixos fazem que suas indicações se desvalorizem.

Para as indicações de melhor ator (Bradley Cooper) e melhor atriz (Jennifer Lawrence), ambos estão muito bem. Principalmente Jennifer, pois faz um personagem um pouco diferente da menina assustada de filmes anteriores. Já Bradley mostra competência, mas nada muito diferente do que costuma fazer.

Já as indicações de melhor ator (Robert De Niro) e atriz coadjuvante (Jacki Weaver) eu contesto bem mais. Entendo que ambos participam bem pouco do filme para merecerem alguma indicação. De qualquer forma, aqui também a atuação feminina leva vantagem. Jacki Weaver atua muito bem. Já Robert De Niro... é lamentável. O maior elogio que posso dar a atuação dele é que o ator "não compromete". A única explicação para sua indicação é que ele é uma personalidade famosa e querida por Hollywood.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Notícias Pós Carnaval

Saudações amigos cinéfilos!

Com o fim do carnaval, é hora de trabalho aqui no meu blog.

Portanto, a partir de amanhã, quarta-feira, toda manhã teremos nova crítica por aqui, por 5 dias consecutivos. Não percam!

E, se no carnaval muitos param, as notícias não. Selecionei 3 novidades dos últimos dias para trazer aqui para vocês:

Mais irmãos Wachowski em 2014
Recentemente elogiei por aqui a nova ficção científica dos irmãos Wachowski, A Viagem.

E vem mais por aí: esta semana mais atores foram confirmados no elenco que participará de Jupiter Ascending, a próxmia ficção científica dos criadores de Matrix.

Dos atores contratados, há muitos nomes jovens: Douglas Booth, Mila Kunis, Channing Tatum, Eddie Redmayne. Dos veteranos, Sean Bean é por enquanto o maior nome anunciado.

Jupiter Ascending planeja ser o primeiro filme de uma trilogia, onde os seres humanos são a raça menos evoluída em um universo composto por várias formas alienígenas. Por sermos involuídos, embora sejamos sempre observados nunca chamamos a atenção. Até que se decobre que a personagem (humana) de Mila Kunis tem a mesma composição genética da Rainha do Universo, que a considera uma ameaça.

As filmagens se inicirão no primeiro semestre deste ano, e a previsão de lançamento é para 2014.

Que os Wachowski nos surpreendam positivamente mais uma vez. E que se Sean Bean mandar bem novamente, que pelo menos DESTA vez seu personagem não morra prematuramente. :)

Universidade Monstros, sai o primeiro trailer
Eu amo a Pixar, mas não concordo nem um pouco com esta safra de continuações bobas que a Disney tenta nos empurrar. Depois do fraco Carros 2, em julho chega o "Monstros S.A. 2", ou melhor, seu prelúdio, de nome Universidade Monstros, onde vemos Mike e Sulley ainda adolescentes, na faculdade.

O trailer me deixou bastante decepcionado, reforçando a imagem de ser um filme caça-níquel. Mas vocês podem tirar suas próprias conclusões no link ao lado: http://www.youtube.com/watch?v=elKdcx9ar3k

BAFTA 2013 e... Argo
Neste domingo ficamos conhecendo os vencedores do "Oscar Britânico", o BAFTA. Deêm só uma olhada nos principais vencedores:

Melhor filme: Argo
Melhor diretor: Ben Affleck (Argo)
Melhor ator: Daniel Day-Lewis (Lincoln)
Melhor atriz: Emmanuellle Riva (Amour)
Melhor roteiro adaptado: David O. Russell (O Lado Bom da Vida)
Melhor roteiro original: Quentin Tarantino (Django Livre)
Melhor atriz coadjuvante: Anne Hathaway (Os Miseráveis)
Melhor ator coadjuvante: Christoph Waltz (Django Livre)
Melhor filme em lingua não-inglesa: Amour (Áustria)

Que não deixa de ser um resultado parecidíssimo com o Globo de Ouro 2013 . Argo também levou o prêmio de melhor filme no Producers Guild Awards, do Sindicato de Produtores de Hollywood.

Argo se torna mais do que nunca o favorito ao Oscar 2013. E embora eu tenha imaginado que isto fosse possível, não levará minha torcida.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Crítica - Lincoln (2012)


Título: Lincoln ("Lincoln", EUA, 2012)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais:  Daniel Day-Lewis, Sally Field, David Strathairn e Tommy Lee Jones
Nota: 8,0

“Daniel Day-Lewis rouba a cena em um filme muito bom, que poderia ser ainda melhor se Spielberg não fosse tão piegas”

Spielberg me surpreendeu ao limitar bastante no tempo sua cinebiografia de Abraham Lincoln. Afinal, os 150 minutos do filme nos mostram apenas uma passagem da vida do ex-presidente estadunidense: sua luta  em plena guerra civil pela aprovação no congresso da 13a emenda, que aboliria oficialmente a escravatura em escala federal.

A maneira com que Lincoln foi filmado transforma o filme praticamente em um documento histórico. Sóbrio, não há narradores, não há cenas em primeira pessoa, as cenas se sucedem sempre de maneira linear. Somado à isto, a bela fotografia nos mostra os personagens sempre a média distância, o tempo todo, sem closes. É como se voltássemos no tempo e alguém tivesse filmado tudo o que aconteceu mantendo uma distância quase fixa de 5 metros de todos os atores envolvidos na trama. Figurino e maquiagem também são muito bons, e reforçam a sensação de realmente termos voltado a 1864.

Lincoln é um filme de muitos (e inteligentes) diálogos. Se você gosta de política e história, este é um filme para você. Os debates são tão bons que apesar da grande quantidade não cansam, nem se percebe o tempo passar. O personagem de Lincoln também contribui para esta sensação. Somente ele é suficiente para nos prender a atenção por toda a história. O Lincoln de Spielberg é uma pessoa carismática, bondosa, de voz baixa e macia. Também um imprevisível e excêntrico contador de "causos". Muito diferente dos políticos atuais, é honesto e governa com mansidão. Ele é tão diferente (até fisicamente, pelo corte de barba e por ser bastante alto e magro), que nos cativa instantaneamente.

Claro que os maiores méritos disto são do ator Day-Lewis, no qual falarei mas adiante. Basta dizer por enquanto que Lincoln é um filme recheado de excelentes atuações. Por exemplo, o quarteto que citei acima como "atores principais" está irrepreensível.

Não tenho condições de julgar Lincoln pela sua veracidade histórica. Se os fatos foram exatamente conforme são apresentados, eu não sei. Mesmo assim, é fácil perceber que Spielberg mitifica demais seu homenageado.

O ex-presidente aparentemente possui apenas dois defeitos: tem problemas de relacionamento na família  com a esposa e filho; e, apesar de ser totalmente contra a escravatura, ele não é tão simpático aos negros. Esta imagem é condizente com o que a História acredita hoje. Fora isto, Lincoln parece ser perfeito, alguém acima dos mortais (citado explicitamente no filme, mais de uma vez). O político ideal. Um gênio. Um sábio. Além de muito poderoso e respeitado - o que é incessantemente reforçado pelas câmeras, que costumeiramente o filmam de baixo para cima, aumentando a impressão de "poder" e também sua altura física.

Mas o maior exagero é que Lincoln é apresentado como sendo "a" única pessoa realmente interessada na abolição. Todos os outros ao seu redor, parecem apenas preocupados em fazer política. O único outro personagem que se importa com a abolição é o congressista Thaddeus Stevens (Tommy Lee Jones), mas mesmo este é apresentado como uma pessoa descontrolada, que precisa ser supervisionada pelos homens de Lincoln o tempo todo.

Erros históricos, entretanto, não iriam me fazer abaixar muito a avaliação de um filme. Mas erros técnicos sim. E desta vez Steven Spielberg errou feio na parte sonora, mais especificamente no enorme exagero das trilhas incidentais.

Toda vez que temos algum discurso importante (seja ele heroico, comovente, ou de "luta pela liberdade"), eis que sobe aquela musiquinha de "fique emocionado", jogando por água abaixo todo aquele clima de "sobriedade histórica" que elogiei no começo. E como são muitas (muitas mesmo) as cenas com "diálogos emocionantes", não ficamos nem 5 minutos sem ouvir a maldita musiquinha que alerta os espectadores burros que agora eles precisam ficar comovidos.

E não é um insulto apenas aos espectadores. É também um insulto aos próprios atores do filme. Eles atuam tão bem, que não precisariam de trilha sonora nenhuma para emocionar o público. E isto é provado no próprio filme! Por exemplo, em uma das poucas cenas sem a trilha sonora piegas, onde temos apenas o silêncio, Lincoln (Daniel Day-Lewis) e sua esposa (Sally Field) brigam por deixar ou não o filho servir o exército. E só com o olhar o ator britânico já nos emociona. Não precisaria de mais nada.

E para encerrar a tradição de não saber terminar um filme de maneira decente há décadas, Spielberg também erra na cena final. Ele podia ser fiel a sua própria proposta de apenas se limitar a 13a emenda, de apenas "documentar" via filmagens. Mas não. Seu lado melodramático faz que o filme salte no tempo e se despeça com Lincoln em seu leito de morte, para depois ter sua imagem saindo de um muro de chamas em uma montagem vergonhosa.

Se Spielberg não tivesse errado tanto, o filme levaria uma nota 9,0. Pelos erros, eu acho justo rebaixá-lo para nota 7,0. Mesmo assim, não vou ser tão ranzinza, e em homenagem a seus atores e seus acertos, cravarei a nota média de 8,0.

As indicações ao Oscar 2013
Lincoln é o líder em indicações ao Oscar deste ano: são 12. Dentre elas, a de melhor trilha sonora e melhor direção. É um absurdo estas duas indicações. Principalmente em relação ao sr. Spielberg. Acho que não fico tão inconformado com uma indicação a diretor desde 2002 com Martin Scorsese por Gangues de Nova York.

Também temos indicações para Melhor ator (Daniel Day-Lewis), Melhor ator coadjuvante (Tommy Lee Jones) e Melhor atriz coadjuvante (Sally Field). Como disse anteriormente, são todas grandes atuações.

No caso dos dois últimos, são atuações ótimas que entretanto se equivalem a outras ótimas atuações que temos todos os anos. O talvez favorito ao prêmio Tommy Lee Jones, por exemplo, apesar de irretocável me impressionou menos que Christoph Waltz em Django Livre.

Agora, para Daniel Day-Lewis o assunto é diferente. Não é "só" uma ótima atuação. Ele é outra pessoa. Sua voz, seus trejeitos, tudo mudou para que ele incorporasse Lincoln. Uma atuação realmente impressionante. Por exemplo, enquanto acompanhamos o ex-presidente envelhecer bastante ao longo do filme, vemos este cansaço interpretado com brilhantismo por Daniel através de um olhar convincentemente cada vez mais cansado, ou ainda, com uma corcunda e uma dificuldade de andar cada vez mais acentuadas.

Eu ainda não vi nem de longe uma atuação melhor que esta neste ano. Mas ainda preciso assistir as atuações de seus concorrentes Joaquin Phoenix e Hugh Jackman para cravar que Daniel Day-Lewis é o grande merecedor da vez.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

JJ Abrams, Alfonso Cuarón, Star Wars e Gravity



Gostaria de iniciar a semana comentando sobre dois diretores: JJ Abrams e Alfonso Cuarón.

JJ Abrams e Star Wars VII

JJ Abrams foi oficializado neste sábado dia 26 como o diretor do novo filme de Star Wars, o Episódio VII. O americano filho de produtores de TV iniciou seu caminho para a fama em 1998, sendo co-criador e produtor do seriado Felicity. Na seqüência, ele foi co-criador e produtor dos seriados Alias, Lost e Fringe.

Nos cinemas, sua estréia como diretor veio em Missão Impossível 3, de 2006. Em seguida ele dirigiria o novo Star Trek (2009) e a homenagem aos filmes de aventura dos anos 80, Super 8.

Sobre o surpreendente anúncio de sua vinda para a direção de Star Wars, eu tenho minhas opiniões.

Para as novas gerações, foi uma ótima escolha. Atualmente, ele é um dos melhores no mundo do entretenimento para fazer dinheiro sem riscos. E tenho certeza que seu Star Wars será do jeito que são os blockbusters de sucesso atuais (exemplos: seu próprio Star Trek, e Vingadores): ou seja, muita ação, muita correria, muitos efeitos especiais, e muitas cenas e diálogos de humor (e zero de profundidade).

Para os antigos fãs, não encaro como algo tão bom assim. Resumidamente, porque seu trabalho final será muito mais semelhante a nova trilogia (Episódios I a III) do que a trilogia clássica (Episódios IV a VI).

E a notícia também afeta os fãs de Star Trek. Sendo JJ a grande cabeça por trás do reboot da franquia nos cinemas, sua ida para a ex-franquia de George Lucas deixará os novos trekkers abandonados. A Paramount já anunciou oficalmente que Abrams continua como produtor da franquia. Mas cá entre nós, sabemos que não será a mesma coisa. Aliás, curiosamente, quando disse que foi "surpreendente" sua escalação para Star Wars; disse isto pois em dezembro, ou seja, no mês passado, JJ Abrams declarou que recusou o convite para dirigir Star Wars justamente porque jamais abandonaria Star Trek. O que será que fez ele mudar de idéia, né? :)

Alfonso Cuarón e Gravity

Ao contrário de JJ Abrams, imagino que muitos não conhecem Alfonso Cuarón, o que é uma pena. Dentre os poucos filmes já feitos por este excelente diretor mexicano, assisti apenas dois, o que foi suficiente para admirá-lo. É dele Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004) e a ficção científica Filhos da Esperança (2006).

Para mim, seu Harry Potter foi o melhor filmado de todos. Já Filhos da Esperança... é uma aula de direção. Nele há pelo menos três longas seqüências de ação de tirar o fôlego... e tudo usando uma única tomada, sem cortes! A complexidade, dificuldade e qualidade das cenas servem pra deixar qualquer admirador de cinema boquiaberto.

Dito tudo isto sobre Cuarón, falarei sobre seu mais novo e ambicioso projeto: Gravity. Eu recentemente publiquei aqui duas listas sobre os “50 filmes mais esperados de 2013”, lembram

E agora lamento bastante que Gravity não aparece em nenhuma das duas listas. Na verdade, há uma possível explicação: o filme enfrentou vários atrasos no cronograma, e só bem recentemente ele foi confirmado para 2013.

Gravity é uma ficção científica espacial que será protagonizado por George Clooney e Sandra Bullock. Não gosto muito dos dois atores, mas daqui pra frente as notícias só melhoram e melhoram...

A sinopse: “A Dra. Ryan Stone (Bullock) é uma brilhante engenheira médica em sua primeira missão espacial. Ela é acompanhada pelo veterano astronauta Matt Kowalsky (Clooney), em seu último vôo antes de se aposentar. Porém, um desastre acontece e o ônibus espacial é destruído, deixando Stone e Kowalsky completamente sozinhos no espaço. Sem contato com a Terra ou qualquer chance de resgate, eles têm somente um ao outro e o único caminho para casa talvez seja uma incursão espacial ainda mais profunda.”.

Suficiente para já me deixar curioso. E tem mais. Gravity está sendo filmado em 3D! Se Alfonso Cuarón sempre deu show técnico, ficou ansioso para ver sua estréia com esta tecnologia.

Mas o melhor mesmo, é que ele vai retomar as longas e geniais tomadas longas feitas em Filhos da Esperança. O filme, de aproximadamente duas horas, terá apenas 156 tomadas, o que o levará a ter várias tomadas longas de 6 a 10 minutos. E a maior das tomadas será a tomada inicial. Serão 17 minutos sem corte, que dentre outras coisas, mostrarão a destruição da nave espacial. Promete!

Gravity já é facilmente um dos meus “top 5” de filmes mais esperados para 2013. Sua estréia está prevista para 05 de Outubro nos EUA e dia 21 de novembro aqui no Brasil. Existe um teaser bem antigo disponível para assistir. Mas não dá para ver muita coisa: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=xFn7Zr7WKkI

Abraços a todos e até a próxima!

sábado, 26 de janeiro de 2013

Crítica - Django Livre (2012)


Título: Django Livre ("Django Unchained", EUA, 2012)
Diretor: Quentin Tarantino
Atores principais:  Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio 
Nota: 7,0

“Ainda que irregular, Tarantino continua entregando ótimas cenas e diálogos”

Em cada um de seus trabalhos, vemos o ótimo Quentin Tarantino revisitar algum gênero de filme. Por exemplo, em Jackie Brown ele homenageia os filmes blaxploitation; em Kill Bill ele homenageia os filmes B de artes marciais; em Bastardos Inglórios, ele homenageia filmes da 2ª guerra. E agora, em seu novo trabalho, Django Livre, Tarantino homenageia os “Western spaghetti” de diretores como Sergio Leone e Sergio Corbucci (este último filmou seu Django em 1966).

Porém este “faroeste” do diretor estadunidense é feita de maneira bastante inusitada: seu foco principal é comentar sobre a escravidão e racismo, em plena Guerra Civil nos EUA. Na história, o caçador de recompensas Dr. Schultz (Christoph Waltz) e o ex-escravo Django (Jamie Foxx) se tornam amigos e percorrem o sul do país para encontrar (e libertar) a sra. Django, ainda escrava. Sendo seus filmes acostumados a exibir cenas violentas, de humor negro, etc, a escolha temática de Tarantino alarmou o “clube dos politicamente corretos” antes mesmo da estréia.

Mas a resposta à estas preocupações já é a primeira grande qualidade de “Django Livre”. O roteiro nos apresenta a uma enorme variedade de violências, sejam físicas ou psicológicas, as quais os negros eram submetidos. Também nos apresenta vários tipos de agressores e escravos. É uma ótima aula de história. Só que surpreendentemente aqui Tarantino faz um de seus filmes mais sérios e visualmente menos violentos (pelo menos em comparação com seus anteriores).

Já a “imitação” dos spaghetti, com um filme mais lento, recheado de closes nos personagens, alternados com cenas de planos bem longos para estabelecimento do ambiente, também é bem digna de elogios. Aqui vemos um dos melhores trabalhos de Fotografia nos filmes de Quentin. Não a toa, recebeu indicação ao Oscar por isto.

Django Livre também conta com excelentes atuações. Principalmente Christoph Waltz e Samuel L. Jackson estão excelentes. Leonardo DiCaprio também vai muito bem, ainda mais se levarmos em consideração que ele protagoniza um tipo de personagem que não está acostumado: o vilão.

Ah, e sabem aqueles diálogos sensacionais, aqueles personagens memoráveis, e aquelas cenas tão surpreendentes que viram instantaneamente clássicas nas mãos de Tarantino? Tudo isto também está presente em Django. Porém, de forma inconstante. E é a partir daqui que comento os problemas do filme.

Um grande defeito da história é seu ritmo. Por contar com nada menos que três climax (?!) o passar dos longos 165 minutos de projeção torna-se cansativo durante os momentos “mornos”. E todo este tempo de duração poderia ser melhor aproveitado. Alguns diálogos e cenas são desnecessários, as vezes beirando a repetição; em contrapartida, não temos cenas para explicar como Django se tornou um atirador tão bom, ou como aprendeu a ler.

Toda aquela miscelânea de cultura cinéfila e pop que Tarantino sempre soube usar tão bem encontra enfim seus limites em Django Livre. Algumas associações simplesmente não funcionam. Por exemplo, a trilha sonora inclui black music (o que faz sentido dado o universo mostrado), e funciona muito bem quando temos músicas antigas, como Jazz, Blues. Mas quando são usadas músicas modernas, (principalmente Rap), o resultado é muito ruim. O estranhamento de gêneros é imediato.

Outra escolha ruim pode ser vista nas cenas de tiroteio. Estas sim são exageradamente violentas, e a quantidade de sangue é tão grande, as trapalhadas dos inimigos são tão exageradas, que aqui também somos “ expulsos” do mundo dos westerns devido a mais esta desfiguração temática.

E finalmente, talvez a maior incompatibilidade de todas, é o estilo de Tarantino frente ao tema da escravidão. O filme está bem longe de ser racista (pelo contrário), e como já citei antes, o diretor teve um enorme bom senso ao restringir em Django suas piadas e violência. Porém o assunto parece ser “forte e real demais” para o estilo dele. A violência está mais contida, mas ela existe o tempo todo e choca bastante, porque desta vez sabemos que não é ficção. As piadas são mais contidas, mas existem, e mesmo com várias piadas boas, é difícil rir, mais uma vez, porque sabemos que tudo pode ter sido real.

Devido seus altos e baixos, Django Livre não é um dos melhores trabalhos de Tarantino. Mesmo assim, seus “altos” são mais que suficientes para justificar o filme e deixá-lo consideravelmente acima da média. Nota: 7,0.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Crítica – A Viagem (2012)


Título: A Viagem ("Cloud Atlas", Alemanha/EUA/Hong Kong/Singapura, 2012)
Diretores: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Atores principais: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae
Nota: 8,0

“Irmãos Wachowski retornam de maneira bastante digna”

Os irmãos Andy e Larry Wachowski chamaram a atenção do mundo - e de Hollywood - pela primeira vez em 1999, em seu segundo filme como diretores, intitulado "The Matrix". Não é exagero dizer que foi um filme revolucionário. Além de fazer o então desprezado gênero cyberpunk voltar a moda, suas cenas de ação em câmera ultra-lenta filmadas praticamente a 360º viraram objeto de imitação por muitos e muitos anos depois.

Mas os irmãos não provaram ser tão geniais nos trabalhos seguintes. Matrix 2 foi bem inferior ao primeiro, e Matrix 3 foi bem inferior ao segundo, quase estragando a trilogia como um todo. O pior, entretanto, ainda estava por vir: a versão live action estadunidense de Speed Racer foi horrorosa. Eu, por exemplo, nem consegui assistir o filme até o fim.

Então surgiu Cloud Atlas (no idioma original), que aqui no Brasil recebeu o estúpido nome de “A Viagem”. Era um filme onde eu tinha bastante esperança em que os Wachowski poderiam se recuperar se fossem bons mesmo. Afinal, tínhamos muitas mudanças envolvidas:

Pela primeira vez depois da fama, os irmãos não contaram com a grana dos grandes estúdios (aliás, o filme teve uma enorme dificuldade para ser financiado, sendo no final uma produção independente). Outra mudança para os Wachowski foi que desta vez estariam adaptando um livro (do escritor David Mitchell, lançado em 2004), e não criado seu próprio universo. E para completar, já entrando bem no mundo pessoal dos irmãos, Larry mudou de gênero e passou a se chamar Lana Wachowski. O anúncio da mudança ocorreu pouco antes da estréia de A Viagem em festivais, encerrando rumores que datavam anos, e foi feita pela própria Lana, que se mostrou bastante feliz e aliviada com a mudança.

Ou seja, tudo insinuava um positivo recomeço e eu estava bastante otimista. Felizmente meu otimismo se justificou: A Viagem é um ótimo filme e de longe o melhor filme dos irmãos desde o primeiro Matrix.

Filmado sob uma rara união de três diretores (além de Andy e Lana, também temos o alemão Tom Tykwer – do também muito bom "Corra, Lola, Corra”), A Viagem mostra em paralelo seis histórias distintas, cada uma em uma época diferente no tempo. As histórias de 1849, 2144 e 2321 foram filmadas pelos Wachowski, e as histórias de 1936, 1973, 2012 filmadas por Tykwer.

O começo do filme é bastante difícil de assistir. Seis histórias se alternando rapidamente na tela sem que conheçamos qualquer ligação entre elas. Aliás, sem que conheçamos qualquer personagem ou contexto envolvido. Porém, bem aos poucos, vamos entendendo o que está acontecendo. E passada a confusão, já estamos prontos para nos envolver e sofrer/torcer com cada drama apresentado.

Cada uma das seis narrativas tem seus personagens interpretados sempre pelos mesmos atores. Por exemplo, Tom Hanks. Em 1849 ele é um médico, em 1936 ele é um porteiro de prédio, em 1973 ele é um cientista, e etc. Cada ator não interpreta uma mesma “alma” ao longo dos tempos, mas sim, personagens realmente distintos. O que nos premia com atuações muito boas dos atores – principalmente Tom Hanks, Halle Berry e Jim Sturgess - e também nos permite ver atores ora interpretando um “vilão”, ora interpretando um “herói”.

Tecnicamente o flime é bem executado. Nada para grandes elogios, mas também nada para ser criticado. Os universos criados para as histórias no futuro são críveis e ao mesmo tempo discretos, sem grandes exageros. Talvez o maior destaque técnico vá para a história de 1973, onde o figurino é muito bom e uma fotografia escurecida, "cor de terra", nos transmite bem a sensação de “algo velho”.

Todas as histórias são de certa forma bem parecidas (até na maneira como são filmadas), e contam a vida de pessoas lutando contra algum tipo de injustiça. E devido esta semelhança, isoladamente alguns dos contos acabam não se tornando muito interessantes, fato este que é uma das poucas fraquezas do filme.

Entretanto, é quando juntamos a histórias que A Viagem mostra sua grandeza. Primeiro, se pensarmos em termos de perspectiva. Temos uma percepção precisa, acompanhando séculos de história, de como a maldade e a bondade humana sempre coexistem - sob as mais diversas modalidades - e sempre coexistirão.

Mas o grande trunfo do filme são mesmo as interligações entre os contos. “Tudo está conectado”, como diz o trailer. E está mesmo. O roteiro e a montagem são dignos de admiração. É curioso ver que passados mais da metade do filme, mal temos qualquer ligação entre as histórias. Cheguei a duvidar que tudo se conectaria. Mas no final, tudo se encaixa de forma magistral. Não posso dizer mais nada sob risco de estragar surpresas, mas o final é belíssimo, e não só faz tudo se conectar, como nos apresenta dois tipos distintos de conexão.

É muito bom ter os Wachowski de volta. Nota: 8,0.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O que vem por aí...


... em 2013, nos cinemas
Abaixo seguem duas listas de “50 filmes para não perder em 2013” para vocês terem uma idéia do que este ano nos espera. Optei por colocar as duas listas já que elas são consideravelmente diferentes uma da outra.

e

Uma ausência que senti nas duas listas foi o filme Hitchcock, que tenho bastante vontade de ver ( http://www.imdb.com/title/tt0975645/ ).

Das listas em questão, estou bastante ansioso para ver a todos os 9 filmes indicados a melhor filme do Oscar 2013. Além destes, meu lado nerd tem grandes expectativas para assistir Homem de Aço, Star Trek: Além da Escuridão e Pacific Rim.

... no Oscar
Domingo, dia 13, tivemos o Globo de Ouro, e os grandes premiados da noite foram: Os Miseráveis (Melhor filme de humor ou musical, Melhor ator em filme de humor ou musical, Melhor atriz coadjuvante) e Argo (Melhor filme dramático e Melhor diretor).

E eu disse que o Globo de Ouro serve como bom termômetro pro Oscar... Bem, não desta vez. Argo não vai ganhar o Oscar de melhor filme (confiem em mim) e sequer teve o seu diretor (Ben Affleck como um dos 5 indicados). Já para Os Miseráveis, em geral quando temos um musical que é forte concorrente, ele se destaca frente a qualquer comédia... mesmo no Globo de Ouro. Então, foi uma competição “injusta”.

Portanto, difícil fazer qualquer previsão quanto em relação a disputa de “gêneros unificados” do Oscar. Dos cinco prêmios acima, entendo que a maior chance de “repetição” é a Anne Hathaway levar seu Oscar de melhor atriz coadjuvante.

Bem, mas se para os prêmios principais o Globo de Ouro não ajudou em relação ao Oscar, ele serviu apenas para confirmar três “barbadas”: o Oscar de melhor canção original irá para a Adele com seu "Skyfall" (007 - Operação Skyfall); o Oscar de melhor filme estrangeiro irá para Amor (Áustria) e o Oscar de melhor longa animado irá para Valente, da Pixar.

... e neste blog
Ano novo, vida nova. Ou melhor, formato novo. A partir de agora, minhas críticas de filmes terão um formato um pouco mais “profissional”. Irei colocar uma espécie de “ficha técnica” sobre os filmes, assim vocês conseguirão de maneira muito rápida ter mais informações sobre o filme em questão.
Além disto, resolvi mudar um pouco o critério das minhas notas. Nada mais de “nota e meio”. Ou seja, por exemplo. Um filme nunca mais receberá um 8,5. Será 8,0 ou 9,0.
Ainda nesta semana deverei postar críticas sobre dois filmes estreando o novo formato. Aguardem!

E você?
Qual é sua expectativa para o Oscar 2013? Quais são os filmes que você mais aguarda, e por que? Comentem a vontade! :)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Os indicados para o Oscar 2013



Nesta última quinta-feira foram divulgados os indicados para o Oscar 2013, cuja cerimônia acontecerá dia 24 de fevereiro. Por enquanto, a lista de filmes indicados que assisti é bem pequena. Mesmo assim, isto não impede de eu fazer alguma análise.

Mais uma vez temos 9 indicados para melhor filme. São eles*:
  • Lincoln (12)
  • As Aventuras de Pi (11)
  • O Lado Bom da Vida (8)
  • Os Miseráveis (8)
  • Argo (7)
  • Amor (5)
  • Django Livre (5)
  • A Hora Mais Escura (5)
  • Indomável Sonhadora (4)
* = em parênteses o número total de categorias indicadas para cada filme

Sobre estes nove, a primeira coisa que me vêm a mente é que neste ano o “tema da vez” parece ser a política dos EUA. São três os filmes que abordam o assunto: Lincoln, Argo, e A Hora Mais Escura. Este último, que conta a história da captura de Bin Laden, para mim é uma grande surpresa. Nada do que li sobre ele dá conta de ser um grande filme.

O austríaco Amor também é uma surpresa... não pela indicação (afinal, é o atual vencedor de melhor filme em Cannes), mas por ser indicado como melhor filme e melhor filme estrangeiro ao mesmo tempo. É muito raro a Academia indicar para estas duas categorias simultaneamente. Para se ter uma ideia  isto só aconteceu cinco vezes, sendo a vez mais recente em 2000, com o chinês O Tigre e Dragão.

As ausências
Dentre as ausências, lamento não ver os excelentes Moonrise Kingdom e As Vantagens de Ser Invisível na lista dos melhores filmes. Na verdade, é muito pior que isto. Moonrise Kingdom recebeu apenas uma indicação. Já o As Vantagens... não recebeu nenhuma!

Curioso também ver que os três maiores blockbusters do ano só receberam indicações técnicas: Hobbit recebeu três (efeitos visuais, direção de arte e maquiagem), Os Vingadores recebeu uma (efeitos visuais), e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge ficou sem nenhuma. Nada disto é surpresa e nem muito injusto. Mesmo assim, dá pena ver um filme tão legal como Batman sem indicações. Até porque não vejo os efeitos especiais de Os Vingadores melhores do que os dele.

Um filme bastante querido pelo público (e que também ainda não assisti) é O Impossível, filme sobre uma família vítima de um tsunami na Tailândia. Só teve uma indicação, de melhor atriz para Naomi Watts. Tenho certeza que muita gente torceu o nariz para este número tão baixo. Em contrapartida, o tema "desastres" foi bem lembrado pela Academia. Afinal, As Aventuras de Pi (sobre um sobrevivente de um naufrágio) e Indomável Sonhadora (vitimas do furacão Katrina) somaram 15 indicações.

Por último, uma das ausências mais surpreendentes foi a não presença do francês Intocáveis na lista de melhor filme estrangeiro. O filme é ótimo e foi nada mais nada menos que o maior público de um filme francês fora da França. Mas será injusto? Não sei, e espero que não. Tenho que ver os cinco indicados primeiros para tomar uma opinião. Por exemplo, falam maravilhas do austríaco Amor e do chileno No.

Curiosidades
  • O Lado Bom da Vida é o primeiro filme desde Reds (1981) a receber indicações para as sete principais categorias: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro e as quatro de atores.
  • A categoria de melhor atriz tem ao mesmo tempo, a indicada mais velha e a mais nova de toda a história do Oscar. Emmanuelle Riva, de Amor, tem 85 anos. Já Quvenzhané Wallis, de Indomável Sonhadora, possui 9 anos
  • Algo que jamais imaginava, é ver as animações stop-motion voltarem a fazer sucesso. Afinal, dos cinco indicados, três utilizam este recurso: Frankenweenie, ParaNorman e Piratas Pirados!
  • o apresentador do Oscar 2013 será um estreante: Seth MacFarlane, criador dos desenhos Family Guy e American Dad. Seu humor ácido e politicamente incorreto poderá fazer história na premiação... mas será que ele realmente vai ter coragem de aprontar?
PS: amanhã, domingo dia 13, será a cerimônia do Globo de Ouro 2013. Tenho certa curiosidade em ver os vencedores... A premiação costuma ser um termômetro razoável do que vai acontecer no Oscar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Crítica - As Aventuras de Pi (2012)

“Um espetáculo visual. E uma boa história.”

Baseado no livro best-selling de mesmo nome do escritor canadense Yann Martel, “As Aventuras de Pi” contam a história do jovem indiano Pi, que na adolescência foi vítima de um naufrágio em um navio onde também estavam sua família e alguns animais do zoológico de seu pai. Como resultado, ele ficou meses abandonado em um pequeno bote juntamente com alguns animais e um tigre, de nome Richard Parker, co-protagonista do filme.

O enredo começa com um Pi já adulto recebendo a visita de um escritor para ouvir sua fascinante história de vida. E os interesses do visitante não eram apenas literários. Segundo ele, lhe contaram que seria “uma história para se convencer que Deus existe”.

Este começo me decepcionou duplamente. Primeiro, por temer que o filme se tornasse uma espécie de pregação (e felizmente isto não ocorre, religião é abordada de maneira apenas superficial). E principalmente, porque fazendo o narrador do filme ser um Pi já adulto, obviamente concluímos que ele sobreviveu ao naufrágio e a quaisquer perigos que enfrentara.

Mas então é aí que entra o grande trabalho do diretor Ang Lee. Posso afirmar que as tais “aventuras” de Pi são tão bem executadas que te deixam preocupado com a vida do protagonista mesmo que seja ele contando a história. As cenas de ação são críveis e bem interessantes. Grande parte do filme se baseia na difícil (e improvável) convivência entre Pi e Richard Parker dentro de um bote. E é muito bom!

Tecnicamente o filme também impressiona. O visual é incrível, o tempo todo. Não somente as paisagens, mas também os efeitos especiais. Saiba que o tigre é 100% computação gráfica. E não será assistindo “As Aventuras de Pi” que você iria conseguir descobrir isto.

Confesso que Ang Lee nunca me chamou muita atenção, mas desta vez ele me impressionou. Não é só a fotografia. A trilha sonora é sóbria e adequada. As atuações dos atores, muito boas. E tecnicamente, é apenas no uso do 3D que tenho alguns "poréns" a comentar.

Lee usa o 3D em sua melhor maneira, ou seja, com planos bem longos, onde estes sim dão sensação verdadeira de profundidade. Mas ele poderia usar este recurso mais vezes (como fez Scorsese em seu "A Invenção de Hugo Cabret"). O diretor também usa os tais truques de “objetos saírem fora da tela” com parcimônia e de maneira inteligente. O que é bom. A grande falha dele foi exibir várias cenas onde o fundo estava desfocado. Isto é um recurso desnecessário. Afinal, a diferença de foco é justamente pra nos dar a sensação de profundidade no 2D. Se é 3D, usar pra que?

O desfecho da história de Pi é parte fundamental do filme. Após uma breve cena tocante (são pouquíssimas as que emocionam ao longo da projeção), a narrativa muda de tom e se discute, nos fazendo refletir. O final é inteligente. E só então percebemos que usar o Pi adulto como narrador faz todo o sentido. Porque o filme não é “realmente” sobre naufrágio, nem sobre religião, nem sobre homem vs natureza. É sobre saber contar uma história. E "Pi" é um grande contador. De uma história realmente boa.

Nota: 8,5

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...