sexta-feira, 3 de junho de 2016

SEIS títulos atuais da Image Comics que você deveria conhecer


Atual terceira maior editora de quadrinhos dos EUA, a Image Comics foi fundada em 1992 por vários artistas saídos da Marvel Comics. Nomes como Todd McFarlane, Jim Lee, Erik Larsen, Marc Silvestri e Rob Liefeld resolveram fundar sua própria companhia por estarem cansados da interferência da editora em seus trabalhos, e também, para que pudessem criar personagens sem ter que ceder seus direitos autorais. Ou seja: diferentemente da Marvel e DC, na Image os personagens ficariam como propriedades de quem os criou.

Os quadrinhos da Image chamavam a atenção pela incrível beleza de seus desenhos, o que não poderia ser diferente, já que eram produzidas por alguns dos melhores desenhistas da época. Eram também quadrinhos maiores (menos quadrinhos por página), o que ajudou a indústria como um todo a abandonar o estilo das comics dos anos 80, repleta de textos e com 9 ou mais quadros por folha. Já a qualidade dos seus roteiros era bem contestada. A Image virou sinônimo de qualidade visual, mas não de escrita.

Passados quase 25 anos de sua fundação, muita coisa mudou. Hoje em dia, longe de ser um simples refúgio para desenhistas, a Image possui uma gama bem diversificada e ótimos títulos. Isto porque ela atrai dois tipos de criadores: novatos talentosos buscando sua grande chance e autores já consagrados que não encontram na DC ou Marvel espaço para produzirem obras autorais, geralmente mais adultas.

É em nome desta empolgante fase da Image com vários ótimos títulos que eu montei esta lista com SEIS títulos atualmente em produção e que recomendo fortemente. O objetivo da lista é apresentar títulos pouco conhecidos pelo público brasileiro. Portanto o excelente Walking Dead (vendido no Brasil como Os Mortos-Vivosnão está nela, já que este título todo mundo conhece. Confiram abaixo:



Black Science (2013)



Escrita por Rick Remender e desenhada por Matteo Scalera, as histórias de Black Science me lembram aqueles seriados de TV de ficção científica bem antigos, dos anos 60, mas agora totalmente remodelada para nosso tempo. Na trama, o cientista Grant McKay descobre uma máquina que permite viajar através de infinitas realidades alternativas. Quando ele decide apresentar o incrível invento para seus filhos um grave problema acontece: a máquina foi sabotada e todo o grupo é transportado contra a vontade para outra dimensão. Pior, como o aparelho está quebrado, após algumas horas eles são transportados para outra realidade, e assim sucessivamente, sem ter nenhum controle sobre seu futuro destino. Até eles descobrirem como consertar o mecanismo de viagem dimensional, eles serão jogados de uma realidade desconhecida para outra após algumas horas.

Há três coisas que chamam bastante a atenção em Black Science. A primeira são seus desenhos, deslumbrantes, que parecem parecem cenas de filme e a cada edição temos várias páginas duplas aproveitando esta qualidade do título. As duas outras são os temas frequentes do roteiro: muita ação frenética e muitas versões alternativas dos personagens se encontrando entre as realidades. Se você gosta deste tipo de história, Black Science vai agradar em cheio.

A série foi prevista para durar "por volta de 60 edições" e atualmente se encontra na edição 21. Eu já li os dois primeiros arcos (volumes 1 ao 11), e estou gostando bastante. O meu grande receio é que a trama está mais complexa a cada edição. Será que Rick Remender vai conseguir manter sua história coesa e logicamente correta até o final? O título permanece inédito no Brasil.



Chew (2009)



Chew (que se traduzindo para o português seria: "mastigar") seria uma história policial do nosso mundo atual se não fosse por uma pequena diferença: no universo deste título houve um surto de gripe aviária tão forte que só nos EUA matou 23 milhões de pessoas. Este evento resultou em duas mudanças: a carne de frango passou a ser proibida no planeta todo (e passou a ser mais lucrativa para traficantes do que drogas) e também, a partir deste surto algumas pessoas passaram a desenvolver super-poderes relacionados a... comida(!?!). Por exemplo, há um personagem que fica mais inteligente cada vez que come; outro, cujas pinturas - quando comidas - ficam com o exato gosto da comida que foi retratada, etc, e etc.

Escrita e criada por John Layman, e desenhada por Rob Guillory, o protagonista principal desta história doida é o detetive Tony Chu, cujo trabalho é justamente resolver crimes relacionados com a posse de carne de frango. Chu também tem um poder relacionado a comida: quando ele come, ele descobre tudo sobre a vida do objeto devorado. Parece um poder inútil não? Pois é, agora imagine se você está investigando algo e encontra alguém assassinado: se você comer um pedaço do defunto vai descobrir exatamente como ele morreu e quem o matou. Nojento, mas eficientíssimo!

O principal ponto forte de Chew é o humor. A história é muito engraçada e maluca. Os traços de Guillory também ajudam a reforçar este clima cômico. Chew mistura história policial com ficção científica (há alguns eventos na trama que podem ser alienígenas) e também me lembra um pouco o seriado de TV Heroes, já que a história também conta com um vilão com os mesmos poderes e objetivos do Sylar.

Atualmente, a série se encontra na edição 55 e está em seu final, já que deverá acabar na edição 60. Eu já li até a edição 40 e a história traz enormes reviravoltas a cada arco. Bem interessante! O título ainda permanece inédito no Brasil.



Invincible (2003)



Apesar de eu ter barrado o Walking Dead do Robert Kirkman desta lista, não teve como deixar este criativo escritor de fora, apresentando outro de seus títulos. Invincible é seu título clássico de super-herói. O personagem principal da revista é Mark Grayson, que é filho do super-herói Omni-Man (uma espécie de Superman deste universo). A história começa quando Mark tem as primeiras manifestações de seus poderes, o que acontece quando ele está no seu último ano do colegial.

Já vi várias tentativas da DC e da Marvel em colocar um super-herói adolescente como protagonista de um título para atrair o público jovem e nenhum deles foi tão eficiente nisto como Invincible. De assuntos como o primeiro namoro, a ida à faculdade (e tirar notas baixas por estar sempre faltando das aulas para salvar o mundo), e até mesmo o deslumbramento de ter poderes, o personagem de Mark é absurdamente crível e convincente.

Com histórias repletas de humor, ação, drama, reviravoltas, centenas de personagens, e ótimos desenhos de Ryan Ottley - que contribuem com o clima jovem e divertido - já li quase 50 edições da revista e ela continua surpreendente a cada edição. E não estou exagerando!

Kirkman não mostra sinais de cansaço com o título - que já chegou à edição 128 - e por isto não manifestou até hoje nenhum interesse em encerrar a história. Aqui no Brasil a revista chegou com o nome de Invencível, e teve seus 4 primeiros encadernados publicados pela HQM Editora. Como o último encadernado foi impresso no longínquo ano de 2012, provavelmente o que nos resta é continuar a história através das edições dos EUA.



Lazarus (2013)



Escrita por Greg Rucka e desenhada por Michael Lark, Lazarus é uma história de Máfia em um futuro pós-apocalíptico. A economia mundial entrou em colapso. Bilhões morreram de fome. E agora o mundo é governado pelas 16 Famílias mais ricas do planeta, que se comportam como os mafiosos do século XX. Várias destas Famílias possuem seu Lazarus: um parente escolhido para ser seu super-soldado, que através de melhorias genéticas (ou cibernéticas, ou etc), se torna a maior arma e escudo de cada organização. A protagonista principal é Forever Carlyle, a jovem com cerca de 20 anos portando espada na imagem acima, e que é a Lazarus de sua família.

Diferentemente de seus parentes, a soldado Carlyle possui consciência e frequentemente entra em conflitos morais, principalmente quando tem que fazer seu papel de executora. Pior ainda para ela, Forever nasceu em laboratório, mas nem desconfia. Nas primeiras histórias, metade de Lazarus é acompanhar a interessante jornada de Forever Carlyle. A outra metade são os acontecimentos que todos nós conhecemos sobre mafiosos - disputa entre as Famílias, dois irmãos de Carlyle tentando derrubar o próprio pai do controle dos negócios, etc - porém com uma linguagem ágil e atual. Ah, e não se esqueça que estamos em um mundo onde a maioria da população mundial está morrendo de fome e que temos armas e tecnologias mais avançadas do que as do dia de hoje. Isto também poderá render grandes histórias sociais e científicas no futuro, e já no segundo arco da revista a questão da pobreza é mostrada de maneira bem marcante.

Até agora li as 10 primeiras edições e elas melhoram a cada novo número. Outra coisa bacana é que Rucka se preocupa bastante com a mitologia do título e na sessão de cartas de cada edição há textos explicando o mundo de Lazarus em mais detalhes. O título se encontra atualmente no número 21, não tem previsão de término, e infelizmente até hoje não foi publicado no Brasil.



Morning Glories (2010)



Criada e escrita por Nick Spencer e desenhada por Joe Eisma, a melhor maneira de definir Morning Glories é: Lost (o seriado de TV) se passando em uma universidade. Na trama conhecemos o internato Morning Glories Academy, considerada a melhor escola preparatória dos EUA, e que recruta apenas "garotos prodígios" para suas dependências. Somos apresentados à academia através dos olhos de seis novos alunos em seu primeiro dia de aula: Casey, Zoe, Hunter, Ike, Jun e Jade. Não demora muito para que os novatos descubram que algo está muito errado: tentativas de assassinato, áreas restritas, um diretor aparentemente animalesco que vive trancado longe das pessoas, viagens no tempo, e um regime disciplinar pior que em uma ditadura. Morning Glories tem até seu monstro, que aqui não é uma fumaça assassina e sim um fantasma que consegue se materializar em estado sólido quando quer atacar alguém.

Morning Glories tem uma trama excelente, repleta de mistérios e reviravoltas. Os desenhos até são bons, entretanto Joe Eisma não é tão bom para desenhar rostos, o que me fez algumas poucas vezes ficar em dúvida sobre qual personagem estava sendo mostrado. Este quadrinho é tão instigante quanto Lost e só espero que ao contrário do seriado este título se encerre bem, explicando tudo o que é essencial.

A série foi originalmente foi criada para ter 100 edições porém deverá se encerrar na edição 50, que será lançada neste mês (junho de 2016) nos EUA. A idéia dos criadores é fazer um final que sirva tanto para encerrar a série quanto para continuá-la por mais edições, caso consigam. Morning Glories já teve os dois primeiros encadernados publicados no Brasil pela editora Panini, um em 2012 e outro em 2013 (juntos eles vão até a edição 12). Ou seja, para nós brasileiros, novamente o jeito é continuar a história através das edições gringas. Eu já li até a edição 25 - ou seja, metade da trama - e continuo bastante empolgado para descobrir as respostas para os enigmas da revista.



Saga (2012)



Saga é escrita por Brian K. Vaughan, que considero um dos melhores escritores da atualidade. É dele as duas excelentes obras Y: O Último Homem e Ex-Machina (ambas já publicadas integralmente no Brasil pela Panini). Saga é uma space opera vendida (corretamente) como uma mistura de Star Wars com Romeu e Julieta com Game of Thrones.

Na história, temos duas espécies distintas vivendo uma guerra que já dura séculos. Uma raça, bastante tecnológica, vive no planeta Aterro (Landfall); a outra, mais mística e capaz de fazer magias, vive em Grinalda (Wreath), o único satélite natural deste mesmo planeta. É neste cenário em que o ativista anti-violência Marko (de Grinalda) se apaixona pela soldado Alana (de Aterro) e eles tem uma filha. Quando a criança nasce, Marko e Alana são literalmente perseguidos por toda a galáxia. Os governos dos dois povos querem obter esta "criança proibida", e para isto utilizam não só de seus próprios exércitos como também de caçadores de recompensa. A trama, portanto, é da família fugindo pelo espaço, tentando sobreviver e não ser capturada.

Como se pode ver acima, a trama obviamente tem mesmo elementos de Romeu e Julieta e elementos de Star Wars (toda a aventura espacial em si). Já de Game of Thrones, o título empresta os temas de conspiração entre grandes famílias, um pouco de nudez e sexo, e o clima épico. Mais do que tudo isto, a história é fortemente divertida, criativa e maluca! Querem exemplos? Que tal a nave utilizada pelos protagonistas, que na verdade é uma árvore gigante? Ou ainda, que tal o animal de estimação do mercenário conhecido como "O Querer" (The Will), que é um gato espacial que fala "está mentindo" quando alguém mente?

A família protagonista - que vai ganhando amigos ao longo da história - é bem interessante, ficando muito fácil para o leitor se importar com ela. Uma outra coisa bacana é a inversão dos papéis tradicionais de "machão" e "donzela indefesa", afinal Alana é a soldado, usa armas, e isto gera vários conflitos com seu marido pacifista. Além da grande qualidade do roteiro, os desenhos da Fiona Staples são um atrativo a parte. Belíssimos, limpos e ao mesmo tempo bem detalhados, ela é mais um artista que consegue transmitir o clima de filme em seus desenhos.

Saga se encontra atualmente na edição 36 e é atualmente publicado no Brasil pela editora Devir. Isto implica em boas e más notícias. As boas: a revista é de ótima qualidade, com acabamento de luxo e capa dura. A ruim: tanta qualidade implica em alto preço: R$ 65,00 por edição. Particularmente, eu preferiria papel mais simples e preços mais baixos. Enfim... A Devir já publicou aqui os dois primeiros encadernados de Saga, o que significa ir até a edição 12, que foi até onde eu li. De todos os títulos que coloquei nesta lista, este é o que tem minha maior recomendação.




Já tinham ouvido falar de alguns destes títulos? Já os leram? Se sim, recomendam? Aguardo vocês nos comentários. Até a próxima!

sábado, 21 de maio de 2016

Crítica - X-Men: Apocalipse (2016)

TítuloX-Men: Apocalipse ("X-Men: Apocalypse", EUA, 2016)
Diretor: Bryan Singer
Atores principais: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Oscar Isaac, Rose Byrne, Evan Peters, Sophie Turner, Tye Sheridan
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=3vYpPwBKJ28
Nota: 5,0
Outra vez mais do mesmo

X-Men: Apocalipse é o 6º filme dos mutantes nas telonas, e o 3º a partir do reboot iniciado em 2011 com o excelente X-Men: Primeira Classe. Na história da vez, é revelado que há muitos milhares de anos atrás nasceu Apocalipse, o primeiro mutante. Adormecido durante milênios ele desperta e resolve destruir o mundo. O filme também mostra pela primeira vez a versão reboot de personagens importantes dos X-Men como por exemplo Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Noturno (Kodi Smit-McPhee), Tempestade (Alexandra Shipp) e Psylocke (Olivia Munn).

O roteiro de X-Men: Apocalipse é bem fraquinho. Focando basicamente na ação, contém diversos exageros, "coincidências" forçadas e ignora completamente o desenvolvimento de qualquer personagem. Mas o pior de tudo é sua falta de originalidade. Ok, é comum filmes se repetirem dentro de uma mesma franquia, principalmente em se tratando de filmes de super-heróis. Só que X-Men 6 extrapola o limite do aceitável: quase tudo que aparece no filme já foi explorado nos filmes anteriores.

Querem ver? Vamos lá (cuidado, este parágrafo possui vários pequenos spoilers. Caso não queira saber deles, pule para o parágrafo seguinte): Magneto ora vilão ora bonzinho ouvindo o chato discurso de Xavier que ele no fundo tem um bom coração? Confere (pela milésima vez); Jean Grey possuída pela Fênix? Confere (pela 3ª vez); Wolverine perdendo o controle? Confere (pela milésima vez); longa cena solo para fazer piadinhas com Mercúrio usando seus poderes? Confere (pela segunda vez); A máquina Cérebro sendo usada e graças a isto dá merda? Confere (pela milésima vez).

Não bastando as coisas de sempre, há também novos problemas, como o excesso de piadas: este é o filme dos X-Men com mais alívios cômicos e assim como em Homem de Ferro 3, elas são tantas que chegam a atrapalhar os poucos momentos dramáticos do filme.

Mas também há pontos a se elogiar em X-Men: Apocalipse. Com exceção do vilão principal, a caracterização dos personagens novos é excelente. Além disto, os efeitos especiais em geral são bons, assim como o design de produção. O filme conta com um elenco bem numeroso, jovem e talentoso, mas que infelizmente é mal aproveitado já que a franquia teima em dar destaque apenas no trio James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence (a atriz que veta ter a pele pintada de azul por ser famosa).

E principalmente, o grande momento de Men: Apocalipse é a sua batalha final. Vários heróis lutando simultaneamente, um confronto duro e bem realizado contra Apocalipse, tudo bem executado e agradável. Infelizmente, uma única sequencia não-repetitiva muito boa é muito pouco para um filme com mais de 2h20 de duração.

Se você assistiu poucos filmes dos X-Men, talvez considere Men: Apocalipse um filme divertido, no que eu concordaria moderadamente se estivesse nesta situação. Mas como eu assisti os 5 filmes anteriores dos mutantes, ver este X-Men foi uma experiência enfadonha. E o pior é que material para novas histórias não falta: com mais de 50 anos de histórias nos quadrinhos, há literalmente centenas de tramas, heróis e vilões para serem utilizados. O verdadeiro desafio dos homo superior não é salvar o mundo, e sim, buscar criatividade. Nota: 5,0


PS 1: Assisti o filme em 3D, e não faz nenhuma diferença ver neste formato. Se encontrar X-Men: Apocalipse legendado em 2D, opte por esta versão.

PS 2: Há uma breve cena prós créditos que aparentemente dá pistas sobre o futuro filme Wolverine 3.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Crítica - O Caçador e a Rainha do Gelo (2016)

TítuloO Caçador e a Rainha do Gelo ("The Huntsman: Winter's War", EUA, 2016)
Diretor: Cedric Nicolas-Troyan
Atores principais: Chris Hemsworth, Jessica Chastain, Charlize Theron, Emily Blunt
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=b3f5PxlsaS8
Nota: 4,0
Quase nada se salva nesta continuação fraca e desnecessária

Em 2012 tivemos o filme Branca de Neve e o Caçador (que não assisti), um filme de ação/batalhas baseado no famoso conto dos Irmãos Grimm. Devido sua boa arrecadação, era claro que se iria fazer uma continuação. Mas havia um probleminha: a polêmica envolvendo o diretor Rupert Sanders e a atriz que viveu a Branca de Neve, Kristen Stewart (eles tiveram um caso durante as gravações e Sanders era casado). Restou então ao estúdio da Universal se desfazer de ambos e apostar na volta do Caçador (Chris Hemsworth) como o grande herói da vez.

Foi assim que surgiu O Caçador e a Rainha do Gelo, que para atrair o público também trouxe de volta a Rainha Má Ravenna (Charlize Theron), trouxe uma nova heroína - a guerreira Sara (Jessica Chastain) - e uma nova vilã, A Rainha do Gelo Freya (Emily Blunt). Desta maneira, a história mistura o conto da Rainha Má dos Grimm com o conto A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen.

O Caçador e a Rainha do Gelo possui dois atos: no primeiro, antes do filme da Branca de Neve, vemos que Ravenna e Freya são irmãs, e que o Caçador e Sara foram raptados quando crianças e treinados para ser soldados do exército da Rainha do Gelo. Esta parte se mostra pouco natural e para piorar é narrada constantemente por um desagradável narrador em off.

O segundo ato ocorre depois do letreiro "7 anos depois", onde vemos o Rei - um novo personagem, que se casou com a Branca de Neve (sim, agora a história se passa depois do primeiro filme, mas a Branca não aparece desta vez) - pedindo ao Caçador para que ele ajude-o a recuperar o Espelho Mágico, desaparecido. É então que o herói - juntamente com alguns amigos e posteriormente com Sara - passam por diversas aventuras para recuperar o objeto.

E então o espectador é submetido a mais de uma hora de puro enfado. Um roteiro repleto de clichês, piadas sem graça, batalhas nada grandiosas e mal feitas, e o pior de tudo: ter que aguentar todo este tempo vendo o Caçador e Sara tendo aquelas brigas "eu te amo mas te odeio". É de acabar com a paciência de qualquer um.

É difícil citar qualquer coisa que agrade em O Caçador e a Rainha do Gelo. Vamos ver: a fotografia é bonita, os efeitos especiais envolvendo gelo até são bons, mas os demais são bem fracos. A trilha sonora é chata e repetitiva. O roteiro tem vários furos e não mostra nada de original.

De elogiar mesmo só os figurinos (mantendo o nível do filme anterior, que inclusive chegou a ser indicado ao Oscar) e... mais o que? Bem, dá para dizer que as cenas melhoram com a presença de Charlize Theron: além de sua estonteante beleza, sua presença é forte e impressiona.

Sendo um filme de fantasia medieval genérico feito puramente para arrecadar dinheiro em função do filme anterior, O Caçador e a Rainha do Gelo deixa muito a desejar. E o pior, ele encerra com um gancho para outra possível continuação. Felizmente, até agora o filme mal se pagou nas bilheterias. Então pode ser que a Universal desista do negócio e volte para casa tendo aprendido uma pequena liçãozinha. Nota: 4,0

terça-feira, 3 de maio de 2016

Crítica - O Dono do Jogo (2014)

TítuloO Dono do Jogo ("Pawn Sacrifice", Canadá / EUA, 2014)
Diretor: Edward Zwick
Atores principais: Tobey Maguire, Liev Schreiber, Peter Sarsgaard, Michael Stuhlbarg, Lily Rabe
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=0MMIhrYkvjQ
Nota: 7,0
Um bom filme para conhecer o genial Bobby Fischer

Existem filmes que embora não sejam espetaculares, merecem ser assistidos. Eles contam a história de um pessoa real pouco conhecida do grande público brasileiro; pessoas estas tão diferentes que se torna algo muito interessante e instrutivo conhecer suas histórias. É o caso de filmes como Frida (2002), A Travessia (2015) e agora, este O Dono do Jogo.

O Dono do Jogo conta a história de Bobby Fischer (Tobey Maguire), o garoto prodígio estadunidense que se tornou um dos maiores enxadristas de todos os tempos. No filme temos sua vida contada desde os feitos enxadrísticos da infância até sua disputa pelo título mundial, em 1972, contra o campeão russo Boris Spassky (Liev Schreiber).

Diferentemente de outros filmes que contam "fatos históricos", O Dono do Jogo tem uma história bastante fiel ao mundo real. A grande maioria dos eventos contados realmente aconteceram. As poucas "mentirinhas" não vêm de fatos errados, mas sim, do exagero. Por exemplo: Fischer não foi a pessoa "patrocinada" por anos pelo governo dos EUA para "derrotar os inimigos" russos. Mas ele de fato teve apoio da Casa Branca durante o confronto com Spassky. Igualmente, ele não era uma personalidade universalmente famosa antes do duelo pelo título mundial. Mas, durante o confronto, o foi.

Fischer era conhecido por fazer exigências absurdas para disputar suas partidas, e aqui o filme tomou a liberdade de justificar estes pedidos com apenas duas explicações: insegurança e, principalmente, seus distúrbios mentais. Na vida real, seria isto mesmo? Não fiquei totalmente convencido. De qualquer forma, o Bobby Fischer real de fato sofria com muita paranoia - o que deve ter começado desde a infância, onde sua mãe comunista lhe dizia que sua casa podia estar grampeada. O episódio do enxadrista destruindo o quarto do hotel procurando por grampos, seu ódio pelos soviéticos e pelos judeus, tudo isto aconteceu e foi precisamente retratado.

Como filme, tecnicamente falando O Dono do Jogo é "OK". Não há grandes qualidades ou defeitos. A fotografia não é muito boa e os efeitos especiais - há algumas montagens em que se coloca Tobey Maguire sob filmagens reais de TV da época (anos 60 e 70) - também não são totalmente convincentes.

O roteiro é bom. Ele poderia ser melhor se não optasse por filmar Maguire quase o tempo todo, deixando de se aprofundar nos fatos e personagens ao seu redor. Ainda assim, há espaço suficiente para sugerir que Spassky tinha os mesmos problemas e "manias" que Fischer, o que é uma boa sacada. Além disto, o roteiro é bem dinâmico e garante que Bobby seja tão fascinante na tela como foi na vida real. Não sabemos qual será seu próximo passo o tempo todo. E isto é uma sensação bem bacana para o espectador.

Bobby Fischer até merecia um filme melhor que O Dono do Jogo, que não é brilhante mas é bom. Ainda assim, em termos de precisão histórica, temos uma produção bem acima da média de Hollywood. E em se tratando de um personagem tão interessante, vale bastante a pena conhecer sua história. Nota: 7,0

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Crítica - Capitão América: Guerra Civil (2016)

TítuloCapitão América: Guerra Civil ("Captain America: Civil War", EUA, 2016)
Diretor: Anthony Russo, Joe Russo
Atores principais: Chris Evans, Robert Downey Jr, Scarlett Johansson, Sebastian Stan, Anthony Mackie, Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Tom Holland, Daniel Brühl
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=3p1d_6_ocEE
Nota: 8,0
Marvel muda o estilo, mas continua fazendo ótimos filmes

Capitão América: Guerra Civil é o décimo-terceiro filme do Universo Cinematográfico Marvel, iniciado em 2008 com o filme Homem de Ferro. Mais ainda, é o filme que reúne o maior número de super-heróis em toda a história: considerando todos os personagens apresentados pelo estúdio nesta fase de agora, só ficaram faltando aparecer Thor, Hulk e os Guardiões da Galáxia. Em contrapartida o filme introduz dois novos heróis bastante relevantes: o Pantera Negra (Chadwick Boseman) e o tão aguardado pelos fãs Homem-Aranha (Tom Holland).

Na história, os Vingadores tentam prender alguns bandidos e então um acidente acontece, matando civis. Após o incidente, os governos mundiais querem controlar o poderoso grupo via ONU. Enquanto os heróis discutem se aceitam ou não a intervenção, outro acontecimento acirra os ânimos: aparentemente o Soldado Invernal (Sebastian Stan) comete um ato terrorista. Então os heróis se dividem em dois grupos: o time liderado pelo Capitão América (Chris Evans), que não aceita a intervenção da ONU e considera o Soldado Invernal inocente; e o time liderado pelo Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), que aceita o controle dos governos e que quer o Soldado preso ou morto. Não demora muito para que os dois times se enfrentem fisicamente.

Em primeiro lugar, ao contrário do que foi vendido, este não é um filme do Capitão América. É muito mais um filme dos Vingadores do que qualquer outra coisa, já que o futuro do grupo é discutido repetidas vezes e um número bem alto de personagens ganham destaque. É verdade que Capitão, Homem de Ferro e Soldado Invernal são os principais protagonistas, mas o Pantera Negra, a Viúva Negra (Scarlett Johansson), o Falcão (Anthony Mackie), a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e o vilão Barão Zemo aparecem (Daniel Brühl) bastante.

Depois de usar uma mesma fórmula em quase todos seus filmes - histórias leves, cheia de humor, e heróis lutando contra o monstro da vez - o estilo da produção mudou: estamos diante do filme mais sério da Marvel até agora. As piadinhas existem, mas são poucas, e de maneira bastante coerente são feitas apenas pelos personagens metidos a comediantes: Homem de Ferro, Homem Aranha e Homem Formiga (Paul Rudd).

Mas a grande mudança trazida neste filme pelos diretores, os Irmãos Russo, são as batalhas. Ao contrário de lutas épicas, o que temos aqui é um grande destaque para lutas "mano a mano" filmadas em close. Esta abordagem transforma Capitão América 3 em algo muito mais realista e muito mais intimista do que qualquer outro filme de super-herói.

Capitão América: Guerra Civil também é o filme da Marvel com maior tempo em cenas de ação, a maioria muito boas. As batalhas foram bem planejadas e utilizam muito bem a diversidade de poderes dos heróis. As tais lutas "mano a mano" que já citei anteriormente são repletas de golpes marciais e em velocidade alucinante. Entretanto, elas não são perfeitas: com o de abuso dos closes e cortes rápidos, as vezes perdemos toda a progressão de um golpe ou a visão global do que está acontecendo. Portanto, os Irmãos Russo são ótimos para filme da ação, mas ainda têm pontos a melhorar na sua técnica.

E lembram que em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) eu disse que para que os heróis brigassem entre eles o filme os distorceu, transformando-os em pessoas sombrias? Felizmente, em Capitão América: Guerra Civil isto não acontece, o que prova a força do roteiro. As motivações para a briga soam orgânicas e críveis. Ninguém precisou virar "mau" para o conflito acontecer... o mais anti-herói é o Homem de Ferro, mas como ele sempre foi um arrogante metido a valentão, tudo se mantém coerentemente dentro do universo já estabelecido.

Capitão América: Guerra Civil tem boas chances de ser o melhor filme da Marvel até agora. Entretanto não concederei a ele este título por alguns motivos. Primeiro, pelos leves problemas nas lutas que citei acima. Segundo, porque analisado do começo ao fim o plano do Barão Zemo não me pareceu fazer muito sentido... O vilão é fraco, não representa ameaça. O ato final de Capitão América: Guerra Civil não consegue estabelecer um bom clímax, que ficou ainda pior com o uso de uma certa gravação que não faz sentido nenhum existir.

Finalmente, outro probleminha é que este filme é de longe o menos independente dentre todos do Universo Cinematográfico Marvel. Para entendê-lo, no mínimo é obrigatório ter assistido antes o Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) e o Vingadores: Era de Ultron (2015). Sem conhecê-los previamente, não assista Capitão América 3.

Depois de muito se repetir, a Marvel traz em seu novo filme algumas boas novidades, se renovando. A minha esperança em que o Universo Cinematográfico Marvel continue empolgante por vários anos aumentou. Que venham os próximos filmes! Nota: 8,0


PS: Capitão América 3 possui DUAS cenas pós-créditos. A segunda é uma rápida propaganda do futuro filme do Homem-Aranha, portanto, nem vale a pena esperar para ver. Porém a primeira cena é importantíssima! Ela nem deveria estar após o filme, e sim dentro dele. Não a percam!

PS 2: uma errata. Pensando melhor agora, Capitão América 2: O Soldado Invernal também é um filme bem sério, talvez até mais sério que este. Entretanto, Guerra Civil aborda assuntos mais complexos e não segue a estrutura padrão de "filme de origem contra o vilão da vez".

terça-feira, 26 de abril de 2016

Gosta de filmes de ficção científica "pra valer"? Você precisa conhecer Primer

Primer (2004) é um filme de baixíssimo orçamento (US$ 7 mil), produzido, escrito e dirigido por Shane Carruth, formado em matemática e ex-engenheiro de Software. Apesar de não ter feito sucesso comercial, o filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival Sundance de Cinema de 2004.

Carruth (o moreno da foto acima) nem sabe atuar muito bem... mas como sabe contar uma história! Em Primer temos dois engenheiros que acidentalmente criam uma máquina do tempo. Diferentemente da maioria dos filmes do gênero, os protagonistas não são estúpidos, irresponsáveis, nem querem dominar o mundo. Então, assim que eles percebem o que têm em mãos (a máquina do tempo), eles tentam ganhar dinheiro com isto tomando todo cuidado possível para não alterar a história nem prejudicar ninguém.

Será que eles conseguiram? Bem, vocês tem que assistir o filme para ver. Nele temos cenas em diversas linhas temporais (muitas vezes se repetindo) e a história é difícil para entender. Ou melhor, para quem está acostumado com filmes do gênero, prestando bastante atenção no que está acontecendo até dá para assistir o filme e entender uns 70% do que aconteceu ao seu final.

Os 30% restantes? Bem, se você os entendeu pela primeira vez você é um gênio rs. Um dos motivos do filme ser tão complexo é que cenas importantes para seu entendimento foram propositalmente retiradas da história. Mas existe na internet uma diversidade de textos e vídeos explicando tudo passo a passo. Este vídeo em inglês (clique aqui) é um exemplo deles.

Depois de tudo explicado, você perceberá que a história é brilhantemente sem erros, e tudo se encaixa. Primer é portanto um dos mais complexos - porém um dos melhores - filmes de viagem no tempo já feito. Gosta do assunto e quer dar um prazeroso nó na cabeça? Este é seu filme. :)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Crítica - Mogli - O Menino Lobo (2016)

TítuloMogli - O Menino Lobo ("The Jungle Book", EUA, 2016)
Diretor: Jon Favreau
Atores principais (vozes): Neel Sethi, Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Lupita Nyong'o, Scarlett Johansson, Giancarlo Esposito, Christopher Walken
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=sxeRCEthd9o
Nota: 8,0
Com um espetáculo visual, Mogli concorre como um dos melhores filmes do ano

Mogli é um personagem que aparece em alguns contos do livro The Jungle Book (1894) de Rudyard Kipling. Talvez não muito conhecido pelas gerações mais novas, ele fez parte da infância das pessoas entre 30 a 50 anos graças à animação da Disney Mogli - O Menino Lobo, de 1967.

A Disney já fez algumas adaptações live-action desta mesma história. Uma em 1994 e outra em 1998. Mas desta vez ela resolveu jogar pesado. Gastando 175 milhões de dólares, temos um filme onde apenas um personagem - o menino Mogli (Neel Sethi) - é de carne e osso: todos os outros personagens (animais falantes) e a grande maioria das paisagens são feitas por animação de computador. Ah: e com um realismo de assustar qualquer um!

Na famosa história, Mogli é um menino que foi abandonado na selva e criado por lobos. Ele viva em paz e harmonia por lá até que um dia o malvado tigre Shere Khan (Idris Elba) descobre a existência da criança. Por medo e raiva dos humanos, Khan quer matar Mogli de qualquer jeito, o que leva nosso herói a uma jornada para voltar a civilização, evitando desta maneira o confronto.

Há várias cenas neste Mogli - O Menino Lobo que são quase idênticas ao do desenho de 1967. Entretanto, há várias cenas novas também, em geral, estas servem para deixar o filme mais assustador. Aliás, Mogli é um filme para "quase" toda a família. Passa pelo roteiro completo de emoções: do humor ao drama. Não é um filme sombrio, muito longe disto. Entretanto, há várias passagens tensas (aquelas em que Mogli é atacado) e portanto não recomendo o filme para menores de 8 anos. Mais do que qualquer coisa, Mogli é um filme de ação.

Como eu disse no passado, para Mogli - O Menino Lobo o diretor Jon Favreau havia prometido que seu filme seria um deslumbre visual. Ele não mentiu. Mogli é talvez o filme sobre natureza de imagens mais belas desde Avatar (2009). Antes que eu seja acusado de exagerado, explico melhor: vejam, Avatar continua sendo muito melhor visualmente e tecnicamente. Entretanto, Mogli possivelmente fica com um distante "segundo lugar", e assim como o filme de James Cameron, merece ser visto no cinema e em 3D.

Continuando com minhas recomendações, é óbvio que qualquer filme é muito melhor em seu idioma original. Mas especialmente para este Mogli - O Menino Lobo, procure pelas versões legendadas. Principalmente as vozes de Bill Murray, Idris Elba e Christopher Walken fazem muita diferença!

Mogli - O Menino Lobo possui bom roteiro, embora peque pelo raso desenvolvimento dos personagens, principalmente Mogli. Só há um detalhe no filme que realmente me incomodou: toda a sequência do macaco Rei Louie. Nesta parte temos o único momento em que os animais computadorizados não convencem, devido ao exagero. Nenhuma proporção está correta. Nem a de Louie, nem a de seus asseclas. Uma pena. Esta sequência transforma as cenas em uma dispensável cópia de King Kong.

Interessante do começo ao fim Mogli - O Menino Lobo já nasce como um dos melhores filmes do ano e felizmente sua qualidade tem sido refletida nas bilheterias. A Disney tem transformado suas animações em live-action com certa freqüência nos últimos anos. E Mogli é a melhor destas adaptações até agora. Nota: 8,0


PS: neste ótimo vídeo (em inglês) vemos como o filme foi feito. É muito bacana ver o menino sendo filmado nas telas azuis e você ver que o pessoal da produção já consegue visualizar o resultado com os efeitos especiais em tempo real. Confira!

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Crítica - Ave, César! (2016)

TítuloAve, César! ("Hail, Caesar!", EUA  / Japão / Reino Unido, 2016)
Diretores: Ethan Coen, Joel Coen
Atores principais: Josh Brolin, George Clooney, Alden Ehrenreich, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Frances McDormand, Channing Tatum, Jonah Hill
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=2sf7T3heCxg
Nota: 7,0
Mesmo longe de ser brilhante, é a melhor comédia dos irmãos Coen desde 2000

Durante toda sua carreira cinematográfica os irmãos Ethan e Joel Coen sempre alternaram filmes de drama e de comédia. Alguns de seus dramas estão entre os melhores filmes deste século (por exemplo, Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)). Já as comédias... bem, no início os Coen entregaram filmes divertidíssimos como Arizona Nunca Mais (1987) e E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000). Mas suas comédias posteriores perderam qualidade.

O que aconteceu? As comédias pós-2000 de Ethan e Joel continuaram explorando personagens estranhos, o nonsense, e um humor repleto de ironias. O que mudou foi o tom: O Amor Custa Caro (2003), Matadores de Velhinhas (2004), Queime Depois de Ler (2008) e Um Homem Sério (2009), todas estas comédias apenas razoáveis possuem um humor muito mais sutil do que os Coen usavam no passado. Sutil até demais; as vezes nem percebemos que estamos diante de uma piada.

A boa notícia é que com Ave, César! os irmãos enfim trouxeram uma comédia bem interessante mesmo mantendo a antiga sutileza das piadas. Talvez a prática leve ao melhoramento; ou então, talvez agora eles tenham um terreno bem mais fértil para humor do que das vezes anteriores: o mundo do cinema nos anos 50.

A história é conduzida acompanhando a vida de Eddie Mannix (Josh Brolin), um diretor do estúdio Capitol Pictures cuja principal atribuição é corrigir/evitar escândalos de suas grandes estrelas. Eis então que seu maior ator - Baird Whitlock (George Clooney) - é sequestrado em plena filmagem. Vemos então os curiosos desdobramentos deste episódio.

O filme traz boas piadas relacionada a bastidores do cinema. Principalmente, explora a abrupta diferença de comportamento de todas as pessoas em estúdio antes de serem filmadas; após o grito de "ação!"; e após o grito de "corta!". O roteiro também brinca com o superficial mundo das celebridades e fofocas e ironiza diversos filmes de gênero.

O humor de Ave, César! entretanto, não é tão evidente. Como dito anteriormente, é bem sutil e bem diferente do que o público brasileiro está acostumado. Ele está "disfarçado" em pequenos detalhes visuais, em rápidas situações irônicas, ou ainda, em trocadilhos. Infelizmente, alguns destes trocadilhos não funcionam bem no Português (alguns na música dos marinheiros, por exemplo), o que dificulta ainda mais para o nosso público apreciar o filme.

A história de Ave, César! é bem interessante. Entretanto, tem problemas de ritmo, se tornando bem monótono em alguns momentos. Isto ocorre principalmente por dois motivos: um desnecessário e aborrecido narrador "em off" e o excesso de personagens. São tantos atores famosos que aparecem no filme (veja a lista bem acima) que cenas talvez dispensáveis foram criadas para comportá-los. De qualquer forma, a surpresa que tive ao ver Christopher Lambert fazer uma ponta já compensou boa parte deste deslize.

Ah, e como sempre nos filmes da dupla de irmãos, a fotografia em Ave, César! é excelente. O filme fictício em que a estrela Baird Whitlock filma sobre Jesus e a Roma Antiga (daí o nome desta produção) tem visual melhor do que muito filme verdadeiro feito por aí.

Ainda não foi desta vez que os irmãos Coen voltaram a fazer uma grande comédia. Mas chegaram bem perto. Com um humor refinado e diferente, desta vez temos uma história agradável e divertida. Nota: 7,0


PS: os personagens do filme parodiam estrelas reais de Hollywood. Por exemplo, o Burt Gurney interpretado por Channing Tatum imita Gene Kelly. Porém, para o caso de Eddie Mannix seu nome real foi preservado. Ele de fato existiu, era realmente este "conserta-escândalos" e foi alto executivo da MGM. Curiosidade: ele foi um dos suspeitos pela estranha morte de George Reeves (o primeiro ator da história a interpretar o Superman, no caso em uma série de TV); morte esta oficialmente declarada como suicídio e cuja história pode ser vista no filme Hollywoodland - Bastidores da Fama (2006).

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Crítica - Rua Cloverfield, 10 (2016)

TítuloRua Cloverfield, 10 ("10 Cloverfield Lane", EUA, 2016)
Diretor: Dan Trachtenberg
Atores principais: John Goodman, Mary Elizabeth Winstead, John Gallagher Jr.
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=M5-feV2zeIE
Nota: 7,0
Um duplo mistério muito bom

Rua Cloverfield, 10 é um duplo mistério. Primeiro, porque se trata de um filme de suspense e mistério bem bacana. E segundo, porque toda sua produção foi praticamente secreta. Filmado em pouco mais de 30 dias, o filme foi rodado com o pseudônimo de The Cellar ("O Porão"), os atores só recebiam os roteiros durante as filmagens para evitar vazamentos, e quando o filme foi enfim anunciado, pegou todo o público de surpresa.

Em uma época em que todos os filmes são contados em detalhes meses antes do lançamento, a estratégia feita para Rua Cloverfield, 10 é uma agradável surpresa. Mesmo assim, não foi uma surpresa perfeita. Todo este clima de enorme mistério envolvendo o filme é em boa parte quebrado com o segundo trailer lançado, que revela partes cruciais da história. NÃO O ASSISTAM de jeito nenhum!! (como sou legal, o trailer cujo link coloco acima é o primeiro, livre de spoilers, podem assistir sem medo).

Na história, Michelle (Mary Elizabeth Winstead) sofre um grave acidente de carro e quando desperta, ela se encontra presa em um abrigo subterrâneo em companhia de Howard (John Goodman) e Emmett (John Gallagher Jr.). Howard explica a situação: "houve um ataque, mas não sabemos direito o que é"... "se sairmos daqui, todos morreremos". Em se tratando de um filme chamado Rua Cloverfield, 10, a primeira associação que fazemos é que o tal "ataque" se trata do monstro gigantesco que devastou Nova York em Cloverfield: Monstro (2008). Porém, conforme a história se passa, fatos vão colocando esta associação em dúvida. E então... não contarei mais nada da trama para não estragá-la! :)

Rua Cloverfield, 10 conta com atuações muito boas, principalmente de John Goodman e Mary Elizabeth Winstead. É a primeira vez que vejo Mary como protagonista (a tinha visto antes como coadjuvante em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010)) e gostei do que vi. Além de muito bonita, é uma atriz muito competente e versátil.

O filme conta com um clima de suspense muito bem executado. Ponto positivo para o diretor Dan Trachtenberg, em sua estréia em longa-metragens. Rua Cloverfield, 10 é inteligentemente adepto a montar seu suspense com base no desconhecido. Somos apresentados ao que está acontecendo de maneira bem lenta.

Além disto, Rua Cloverfield, 10 é um filme bem enxuto, sem nenhuma cena desnecessária e praticamente sem furo no roteiro. É verdade que ele é bem sucedido por utilizar técnicas já bem conhecidas do cinema de suspense... mesmo assim, sua conclusão apresenta boas novidades.

Filmado o tempo todo dentro do pequeno abrigo onde o trio se encontra, para quem não se incomoda com filmes assim e gosta de um bom suspense, Rua Cloverfield, 10 é uma ótima pedida. Que J.J. Abrams e sua produtora Bad Robot continuem a fazer filmes diferentes e de baixo orçamento como este. Nota: 7,0

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...