sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Crítica - Coringa (2019)

TítuloCoringa ("Joker", Canadá / EUA, 2019)
Diretor: Todd Phillips
Atores principais: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen, Shea Whigham, Bill Camp, Glenn Fleshler, Leigh Gill
Um dos melhores estudos de personagem já feitos

Quando Joaquin Phoenix foi anunciado como protagonista do filme solo do Coringa - o maior vilão do Batman - fiquei bastante empolgado. Pois além de ser comprovadamente um ator muito bom e versátil, Joaquin sempre me pareceu um bocado doido e assustador na vida real. Um grande exemplo dessa "loucura" é o documentário (?) autobiográfico Eu Ainda Estou Aqui (2010), onde Phoenix mostra o período de sua vida onde ele tenta deixar de ser ator e virar um rapper. O meu "?" é que até hoje não sei dizer o que é real e o que é atuação neste filme; só sei que vemos um Joaquin completamente errático e surtado. É bem impressionante.

Então, Coringa, o filme, chegou. E algo raro aconteceu... minhas altas expectativas foram correspondidas! Coringa é um filme tão bom que é mais do que seu personagem principal. Ainda assim, o Arthur Fleck/Coringa de Joaquin Phoenix é sensacional, e a melhor coisa do filme. Não apenas temos uma atuação marcante, complexa, e nada menos que perfeita, como também a história do personagem é magistralmente contada. Ao longo do filme vemos o desenvolvimento do "Coringa" de maneira muito verossímil e convincente. Sofremos com ele desde o primeiro segundo, e entendemos com facilidade a transição de uma pessoa "boa" à um assassino.

Igualmente elogiáveis e impressionantes são o figurino e a maquiagem do personagem. Só de bater o olho em Arthur - transformado em palhaço ou não - e já conseguimos captar sua tristeza, sua (baixa) condição social, ou ainda, sua raiva contida e sua dor.

Em vários aspectos Coringa, me lembra bastante a HQ Batman: A Piada Mortal (1988) do genial Alan Moore. A história - uma das melhores do Batman em todos os tempos - também mostra a origem (mas bem diferente do filme) do Coringa, também mostra de maneira convincente como ele "quebra" como pessoa e, também possui uma cena final espetacular que para ser entendida, é necessário prestar bastante atenção. No caso do final da HQ, a humanidade levou mais de 25 anos para entendê-lo; mas fiquem tranquilos, o final do filme é bem mais rápido e fácil de entender rs.

E, como disse antes, o roteiro do filme vai além de mostrar a vida do protagonista. Ele questiona fortemente a estrutura da sociedade atual. E de duas formas: econômica e comportamental. Se você nasce miserável, não teve educação, quais são suas chances reais de ser alguém, de ter alguma voz no mundo atual? Que político do planeta irá se importar com você, qual a esperança que você pode ter no futuro? E - uma pergunta ainda mais difícil - se você age e pensa de maneira diferente... se você não se "encaixa" no que a sociedade define como correto e aceitável, o que lhe resta? Em Coringa, a resposta é clara: se entupir de remédios entorpecentes e/ou ir para o Asilo Arkham, um manicômio.

Porém, apesar do elogiável e poderoso questionamento, é justamente aí - ao apresentar os problemas da sociedade - que Coringa tem seus defeitos. A começar, a denúncia destas mazelas da sociedade são "jogadas" no filme pelo diretor/roteirista Todd Phillips sem muita estruturação, de modo confuso...  outro ponto que desgostei foi a dicotomia "pobre bom, rico mau" apresentada. O filme exagera ao mostrar que todo rico, sem exceção, não é boa pessoa.

E finalmente, outro aspecto que não gostei - e certamente o mais polêmico - é a "mensagem final" que o filme passa. Em Coringa, o personagem encontra respostas satisfatórias às perguntas que fiz no quinto parágrafo acima, e o filme não deixa claro para o espectador que a solução encontrada pelo protagonista NÃO funciona para todos e não é a correta! Vejam, o que aconteceria se todos os oprimidos passassem a se comportar como o Coringa? Seria simplesmente o fim da humanidade. Para um mundo tão ignorante e violento como o de hoje, eu temo de verdade que algumas pessoas interpretem o filme para o mal. (Ah, e sabem a HQ que citei mais acima? Ela não compartilha deste defeito. Alan Moore é mesmo foda!).

De longe um dos melhores filmes do ano, fica apenas o alerta que Coringa é um filme bem lento, bem melancólico, bastante pesado psicologicamente, e por tudo isto ele certamente não é recomendado para todo tipo de público e idades. Outro ponto que joga contra é que pra aproveitar o filme você precisa obrigatoriamente conhecer o básico da história do Batman e do Coringa. Mas se você não é afetado por nenhuma destas "restrições", corra para os cinemas ver esta obra prima! Nota: 9,0.

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