quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Crítica Netflix - Indústria Americana (2019)

Título: Indústria Americana (American Factory, EUA, 2019)
Diretor: Steven Bognar, Julia Reichert
Atores principais: N/A
Um excelente registro histórico do capitalismo atual

Grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2020 - e bem superior ao concorrente brasileiro - Indústria Americana tem como grande mérito ser um "documentário" na mais pura definição da palavra, ou seja, ele documenta, sem emitir comentários ou tomar partido, o "lado chinês" e o "lado estadunidense" a respeito da indústria chinesa Fuyao que se instalou em 2015 em uma cidade de Ohio, EUA.

Sendo uma grande indústria chinesa na fabricação de vidros, os chineses decidiram se arriscar nos EUA e construir sua fábrica na pequena cidade de Moraine, no mesmo galpão onde anos atrás a GM fechara uma de suas instalações, e o que levou boa parte dos habitantes da cidadezinha falirem.

Com pouco tempo de filme, já se percebe a enorme diferença entre as indústrias chinesas e estadunidenses: de um lado, os americanos reclamam que ganham menos da metade do valor/hora do que ganhavam no passado pela GM, isso sem contar na completa falta de segurança das instalações. Por outro lado, os chineses reclamam que os americanos são "moles", já que enquanto nos EUA se trabalha 8 horas/dia e 5 dias por semana, na China o trabalho é de 12 horas/dia, e são apenas 1 ou 2 dias de descanso no mês. Sem contar que a produtividade do trabalhador chinês é bem maior.

Temos então duas interessantes histórias contadas em paralelo: a primeira, é a grande diferença cultural entre EUA/Ocidente e China/Oriente. E a segunda, são todos os dilemas - a maioria deles verdadeiros enigmas sem solução - trazidos pela globalização e automação do trabalho. O trabalhador dos EUA quer um emprego justo, digno e valorizado, porém se os chineses o fazem, deixam de dar lucro e fecham a fábrica. Qual a solução para isto? Existe solução? É um marco notável que em pouco menos de 2h de filme temos diversos dilemas trabalhistas atuais retratados de maneira tão clara.

De certa forma, embora não tenhamos nenhum comentário ao longo de todo o filme, a montagem das cenas faz com que os chineses sejam um pouco "vilões"... entretanto, não é difícil perceber que o fato que ser um dono/chefe "carrasco" e insensível não é característica exclusiva dos chineses... oras, quantos milhares de "chefes tiranos" existem por aí? Nos EUA, no Brasil, em qualquer lugar. E todos eles são assim não porque são más pessoas, mas por questão de dinheiro e sobrevivência.

Como o próprio documentário diz em seu desfecho, os governantes do mundo precisam encontrar soluções urgentes para o trabalhador do capitalismo atual, ou teremos cada vez mais desempregados, cada vez piores condições de trabalho. E convenhamos, dados os governantes existentes no mundo atual, o futuro não é nada animador... Nota: 8,0.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Crítica Netflix - I Am Mother (2019)

Título :  I Am Mother (idem, Austrália, 2019) Diretor : Grant Sputore Atores principais :  Clara Rugaard, Hilary Swank, Luke Hawker, R...