sexta-feira, 24 de julho de 2020

O que gostei (SEM spoilers), e depois o que não gostei (COM spoilers) de Dark, série da Netflix


Dark é um seriado alemão de suspense e ficção científica de três temporadas, que se encerrou mês passado na Netflix, e é sucesso de crítica e público. Na trama, que se inicia no ano de 2019 na fictícia cidadezinha de Winden, algumas crianças começam a desaparecer misteriosamente, revelando uma complexa trama que envolve profundamente os relacionamentos entre 4 famílias da cidade: os Kahnwald, os Nielsen, os Tiedemann e os Doppler.

Curiosidade: de fato existe uma cidade alemã de 3 mil habitantes de nome Winden, que também é rodeada pela folclórica Floresta Negra, mas aparentemente as semelhanças param aí.

O que eu gostei (sem spoilers)

Algo que deve ser louvado em Dark é a coragem de seus produtores em contar uma história complexa, com conceitos científicos nada simples, e principalmente, envolvendo dezenas de personagens. E vai além disto: como os personagens são mostrados em várias épocas do passado, então o número de atores que precisamos conhecer / reconhecer se multiplica. Já virou comum nos dias atuais que a capacidade de entendimento do público seja enormemente subestimada. Que deleite ver que Dark não faz isto.

E o que disse acima reflete em montagem e seleção de elenco simplesmente espetaculares. Muito acima da média. Não só porque os atores atuam muito bem, mas pela grande semelhança física e de trejeitos dos atores dos tempos "de hoje" com os dos flashbacks do passado. Para quem quiser uma ajuda para reconhecer os personagens durante o história, indico esta imagem. Mas atenção, recomendo que você a abra SOMENTE APÓS ter assistido a primeira metade da primeira temporada.

Aliás, sobre os personagens, é muito legal ver que todos são falhos, ou seja, todos têm seus erros e acertos. Eles são tão instáveis (e de certa forma tão reais), que a todo momento você muda sua torcida pra quem você quer que "termine bem" ou "termine mal". Ótimo ponto positivo do roteiro.

Outro ponto que merece muitos elogios é a fotografia, realmente muito bonita, e que contribui bastante para o eterno clima de mistério e desarranjo da série. O mesmo poderia ser dito da trilha sonora, porém ela não me agradou tanto por ser demasiado repetitiva.

É difícil não comparar Dark com o antigo seriado Lost. E já vi vários comentando que ao contrário de Lost, em Dark é "tudo fechadinho, sem furos de roteiro". E de fato, fazendo esta comparação, a trama de Dark é mesmo muito melhor explicada, respondendo a praticamente todos os mistérios, e os furos de roteiro são bem poucos. Porém eles existem, e são um dos fatores que me fizeram torcer o nariz.

Em resumo, gostei sim de Dark, que é melhor e teve um desempenho geral mais satisfatório que Lost. Mas se gostei ou não de seu final, e se achei o final dele melhor ou pior que o de Lost, vocês terão que ler isto na parte final do meu texto, que terá spoilers.

O que eu NÃO gostei (COM spoilers)

Eu elogiei anteriormente a coragem de se fazer Dark tão complexo. Entretanto, a meu ver, a série ficou complexa demais. Seus criadores juram que o seriado foi elaborado desde o começo para ter 3 temporadas e 3 realidades paralelas. E eu até acredito, dada a obsessão da mitologia da série com o número 3. Mas isso de acrescentar outras realidades à trama foi um tiro no pé. Ver a mesma história contada várias vezes sob diversas perspectivas e vários tempos diferentes já foi por si só um pouco cansativo. Agora, ao também acrescentar outras realidades na história tudo ficou desnecessariamente longo e complexo demais. Pra mim foi quase uma "encheção de linguiça" pra série durar 3 temporadas.

Outro ponto que não gostei, foram os furos de roteiro. Não tem como citar o maior deles, que é o possibilita o estranho final de Dark: após passar o seriado INTEIRO mostrando dezenas de vezes que não é possível mudar o tempo, mudar o que já aconteceu, tudo isto é jogado fora no último episódio da série, sem nenhuma explicação convincente.

Outro furo que eles tentam explicar - e de maneira aparentemente lógica - foi como tivemos a "duplicação" do Jonas da primeira temporada. As explicações foram bonitas, mas não fazem sentido para mim.

E finalmente, algo que é mais "esquecimento" do que "erro" no roteiro, é que não há nenhuma explicação de como Claudia descobriu existirem 3 realidades paralelas ao invés de 2. Simplesmente nenhuma fala, nenhuma cena, nem nada: o roteiro nem tenta explicar.

Encerrando meu texto, respondo a pergunta que lancei anteriormente: gostei do final de Dark? Não muito. O sentimento que tenho para ele é o mesmo que tive para o final de Lost: encerrou de maneira digna, porém deixando um gosto amargo. Pelo menos o final de Dark não deixa de surpreendente, já que o seriado se encerra e você não tem total certeza se aquilo foi um final feliz ou não.


PS: como bônus, caso você não tenha se aprofundado bastante na relação entre os personagens da série. Há dois parentescos que são explicados apenas por uma breve aparição em fotos, ou seja, é praticamente impossível descobrir apenas vendo o seriado: o ex-marido de Agnes Nielsen, e consequentemente o pai de Tronte, é o estranho sem nome, filho de Jonas com Martha. E o desconhecido pai de Regina Tiedemann, filha de Cláudia, é Bernd Doppler... o fundador da usina e pai de Helge.

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