segunda-feira, 21 de abril de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #040 - A Piada do Palhaço Pagliacci


Uma piada bem famosa dentro da Cultura Pop é a piada do Palhaço Pagliacci, contada por Alan Moore em seu clássico dos quadrinhos Watchmen (1986-87), facilmente uma das melhores HQs sobre super-heróis de todos os tempos. Em sua obra, Moore nos apresenta este texto quando o personagem Rorschach compara Pagliacci ao herói de nome Comediante (ver um trecho na imagem acima). A descrição completa deste gracejo vem a seguir:


Ouvi uma piada uma vez: Um homem vai ao médico, diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto.

O médico diz: “O tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade, assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo.”

O homem se desfaz em lágrimas. E diz: “Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.”

Esta triste anedota virou até meme, e por exemplo graças ao seu desfecho melancólico, foi bastante relembrada durante a morte do ator e comediante Robin Williams, devido suicídio, em 2014. O "Paradoxo do Palhaço Triste", em que palhaços e comediantes bem sucedidos, ao mesmo tempo sofrem de ansiedade, depressão, solidão e outros distúrbios mentais, é um fenômeno existente na vida real e estudado pela psicologia. 

Mas o que poucos sabem é que a tal piada do Palhaço Pagliacci não foi inventada por Alan Moore. Aliás, ela já possui alguns séculos de idade. Também há o detalhe que em italiano, pagliacci é o plural de pagliaccio, a palavra “palhaço”. Além de que Pagliacci também é o nome de uma famosa ópera italiana do final do séc XIX, onde seu protagonista Canio é um ator infeliz e ciumento que atuava como palhaço e foi traído pela esposa com o amigo.

De todo este contexto, podemos imaginar que Moore intencionalmente optou por adaptar as versões predecessoras da piada colocando o nome de Pagliacci em sua obra para representar a classe dos atores de comédia em geral.


Como exemplos de versões anteriores da piada do Palhaço Pagilacci, por exemplo podemos encontrá-la dentro do conto The Comic ("O Cômico"), escrito e publicado pelo estadunidense Ralph Waldo Emerson  em 1875 (onde neste caso o "paciente" se chamava Carlini); e também dentro do poema Reir Llorando ("Rindo Chorando"), do escritor mexicano Juan de Dios Peza (1852-1910):

Certa vez, um homem com uma expressão sombria procurou um médico famoso: "Eu sofro", disse ele, "de uma doença tão terrível quanto essa palidez do meu rosto".

(...)

Tome este conselho como uma receita hoje: Somente vendo Garrik você poderá se curar.

(...)

Assim disse o doente, ele não me curou; Eu sou Garrik!... Mude minha receita.


Outras versões desta mesma história são menos curiosas e mais tristes, pois remetiam a pessoas reais. No poema acima, já se especulava que Garrik fosse uma referência ao ator, mímico e palhaço inglês Joseph Grimaldi (1778-1837), que embora tenha sido um grande sucesso em sua época, teve uma vida difícil e passou seus últimos anos no alcoolismo e depressão. 

O "Garrik" de Dios Peza poderia até não ser Grimaldi, mas a versão da piada que mais corria pelos anos 1910 colocava Grimaldi nominalmente como sendo o palhaço da história. Já nos anos 1930, a versão mais popular da mesma anedota colocava como protagonista o palhaço "Grock", mesmo nome artístico de Charles Adrien Wettach (1880-1959) um palhaço suíço que foi um dos maiores artistas europeus de sua geração.

Com registros escritos desde pelo menos o ano de 1814, a estrutura do conto que hoje conhecemos como a piada do Palhaço Pagliacci, graças a Alan Moore e a natureza humana, deverão se manter para a posteridade.



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

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