sábado, 26 de julho de 2025

Crítica - Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025)

Título
: Quarteto Fantástico: Primeiros Passos ("The Fantastic Four: First Steps", EUA, 2025)
Diretor: Matt Shakman
Atores principais: Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, Ralph Ineson, Julia Garner, Paul Walter Hauser, Mark Gatiss, Natasha Lyonne, Sarah Niles
Nota: 6,0

A Terra 828 é bem diferente e mais inocente que a nossa

Sendo o número 4 o mais importante para o Quarteto Fantástico, olhem só, eles acabam de estrear seu  filme (a ser lançado oficialmente) nos cinemas. Mas apesar de serem quatro filmes, as produções cinematográficas sobre o primeiro grupo de super-heróis da Marvel Comics (criado em 1961 por Stan Lee e Jack Kirby) só trouxeram os mesmos dois vilões até agora: Doutor Destino e Galactus, que se alternaram. Portanto seguindo a ordem, o vilão deste Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é Galactus.

Na história, que se passa na década de 60 de um planeta Terra de uma realidade paralela a nossa, a Terra 828, o Quarteto formado por Reed Richards (Pedro Pascal), sua esposa Sue Storm (Vanessa Kirby), Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) e Johnny Storm (Joseph Quinn), irmão de Sue, não apenas são os únicos super seres do mundo, como são praticamente os líderes não oficiais do planeta, admirados e amados por todos. Com a gravidez de Sue, a família mais famosa do mundo está preocupada com a chegada do futuro filho do Casal Fantástico, até que surge do espaço algo muito mais preocupante: a alienígena Surfista Prateada (Julia Garner) aparece com uma mensagem: "seu mundo será destruído por Galactus (Ralph Ineson) em breve. Não há o que vocês possam fazer. Aproveitem para se despedirem dos seus entes queridos".

A história de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos acaba sendo - e isso é um pouco frustrante - parecida demais com a do filme Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, de 2007. O que ele traz de novo (e positivo), então? Um visual belíssimo, deslumbrante, efeitos especiais muito bons, e melhores atores do que no filme de duas décadas atrás; em especial, reforçado pelas muito boas atuações de Pedro Pascal e Vanessa Kirby (ah, a competente atriz não tem nenhum parentesco com Jack Kirby rs).

Além de termos um roteiro com uma mesma história já contada antes, e repleta de piadinhas - que ora funcionam ora não, mas que estão lá principalmente para desviar o foco e tentar deixá-la diferente daquela do filme de 2007 - chama a atenção como a trama carece de conflitos. É impressionante como os habitantes da Terra 828 são todos alegres, compreensivos e colaborativos. É quase uma utopia.

Além disso, fora o casal Sr. Fantástico e Mulher Invisível, que tem um leve desenvolvimento dramático, os demais personagens não têm nem desenvolvimento nem drama. Por exemplo, o filme "insinua" que Johnny é mulherengo e isso lhe traria problemas, mas em geral isso não é visto; do mesmo modo, ele "insinua" que assim como nos filmes anteriores, o Coisa sofre com solidão e a aparência do seu corpo; mas na prática, as cenas mostram o oposto.

Em linhas gerais, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é feito para agradar os olhos e ouvidos. Uma trilha sonora heróica e persistente, um visual limpo, sempre bonito, organizado e colorido. E funciona! Acho muito difícil alguém assistir este filme e não sair dele entretido e / ou feliz.

O problema é que debaixo desta bela embalagem não sobra muito conteúdo. A Marvel fez seus malabarismos para, através de um novo visual, tentar trazer algo novo. Mas, em termos de roteiro, o resultado é raso e, o pior de tudo, continua sendo mais do mesmo. Nota: 6,0.


PS: o filme possui duas cenas pós créditos. A primeira, já no começo, mostra uma cena com um "gancho" para futuros filmes da Marvel. Já a segunda, ao final de todos os créditos, é precedida de um letreiro que explica rapidamente o motivo daquela Terra ter o número 828; depois disso, vamos a cena em si, que nada mais é que um comercial em desenho animado "vintage" dos nossos heróis. Descartável.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Confira: OITO das melhores histórias do Superman nos quadrinhos! (e mais 2 bônus!)


Aproveitando a chegada do Superman nos cinemas, listo aqui algumas das que considero as melhores histórias do Azulão nos quadrinhos em todos os tempos. E como até hoje foram oito filmes, nada mais justo que trazer oito recomendações!

Para facilitar a vida de vocês, meus leitores, a lista irá trazer apenas histórias que já saíram em encadernados, minisséries, ou edições especiais. Assim fica muito mais fácil encontrar estas revistas para comprar (elas são sempre republicadas), ou mesmo as ler na internet. Vamos então à lista, que se encontra em ordem cronológica de publicação:


1) O Que Aconteceu Ao Homem de Aço? (1986)

(Superman #423 e Action Comics #583 - Roteiros:Alan Moore; Desenhos:Curt Swan)

Comecemos com uma pequena saga de duas edições que é tão especial e histórica, que já foi publicada separadamente como encadernado em diversas ocasiões.

O ano era 1986. A DC Comics iria fazer a maior reformulação de sua história: o evento Crise nas Infinitas Terras, que pela primeira vez, iria reiniciar a cronologia de todas as suas revistas. O que significava que assim como todos os outros títulos da editora, as revistas do Superman iriam "acabar" e reiniciar suas histórias do zero. John Byrne já estava contratado e pronto para assumir as histórias do Kryptoniano assim que o reboot terminasse. Então os editores do Homem de Aço tiveram uma idéia: chamar alguém "muito bom" para fazer "a última história do Superman". E eles trouxeram "apenas" o britânico Alan Moore, que pra mim é o melhor escritor de revistas comics de todos os tempos.

A história - a qual começa com o texto dizendo ser "fictícia" - mostra os últimos dias de nosso herói, onde ao mesmo tempo ele enfrenta vários de seus inimigos e se despede de seus principais amigos de tantas décadas. A história é comovente e um bocado melancólica (vários personagens morrem), e ao mesmo tempo, surpreendente. Ainda que não seja algo espetacular, foi algo de fato inovador e o fim de uma era, o ponto final dos primeiros 48 anos de quadrinhos do Homem de Aço.


2) Super-Homem Versus Apocalypse - A Revanche (1994)

(Superman/Doomsday: Hunter/Prey #1 a 3 - Roteiros e Desenhos: Dan Jurgens)

Claro que o arco de histórias A Morte do Superman, publicado em 1993, é muito mais conhecido e importante. Na verdade, foi um evento marcante, chocante, um fenômeno cultural. Foi a primeira aparição do vilão Apocalypse e, de certa forma, a primeira e mais duradoura "morte" do Homem de Aço até então. Mas... como roteiro a trama deixa um bocado a desejar: pouco ficamos sabendo sobre Apocalypse, tudo é muito corrido, mal acompanhamos o ponto de vista do nosso herói, e a luta entre ele e o Super-Homem também ficou longe de ser épica como deveria.

Super-Homem Versus Apocalypse - A Revanche corrige tudo isso. A primeira vez que eles se reencontram desde A Morte é justamente nesta minissérie, pouco comentada nos dias de hoje, mas que gosto muito. Não somente ela explica em detalhes as origens e motivações deste vilão, como principalmente, ele é elevado a tal nível que torna o sacrifício do Superman ao "derrotá-lo" algo ainda mais impressionante. Como outros pontos positivos, é também uma divertida aventura espacial, e vemos nosso herói lidar e refletir sobre responsabilidade, morte e medo. Também gosto da ousada solução encontrada aqui para derrotarem Apocalypse "definitivamente", por mais Deus ex machina que ela possa parecer. Infelizmente, entretanto, a solução não durou muito e este inimigo do Super-Homem já reapareceu em suas histórias muitas outras vezes depois desta trama. Mas isso já é outro problema...


3) Super-Homem versus Aliens (1995)

(Superman Vs Aliens #1 a 3 - Roteiros e Desenhos: Dan Jurgens)

Dan Jurgens era "o" cara responsável pelo Superman desde 1991, e aqui está ele novamente, escrevendo uma das melhores histórias do Super-Homem, e isso mesmo sendo um crossover com a franquia Alien.

A história não traz muitas surpresas, porém eu escrevo isso como elogio, pois ela é exatamente tudo que um fã de Superman e de Alien gostaria de ver, unificado, em uma mesma história. Temos então uma história característica de resgate do universo de Alien, onde uma nave interplanetária da Lexcorp (e não da Weyland Corp) pede socorro e o Super-Homem vai ao resgate. A tensão da trama é construída de maneira muito bem feita; no começo, o kryptoniano não sabe os horrores que vai testemunhar e ainda está em plenas forças. Porém, com o passar da história, ele vai enfraquecendo sem a luz do sol, e junto com os demais sobreviventes, vai sofrendo e presenciando situações cada vez mais difíceis.


4) O Reino do Amanhã (1996)

(Kingdom Come #1 a 4 - Roteiros: Mark Waid; Desenhos: Alex Ross)

Trata-se de uma pequena trapaça nesta minha lista, já que não se trata de uma história exclusiva do Superman, e sim, de todos os heróis do Universo DC. Ainda assim, ele é um dos personagens centrais da trama, e é por isso que entendo ser muito justo que esta revista apareça por aqui.

O Reino do Amanhã é certamente uma das melhores histórias de super-heróis em mundo alternativo já criadas até hoje. Baseada em um futuro hipotético onde a maioria dos heróis que conhecemos já está aposentada, os supers da "nova geração" são egocêntricos e violentos; sim, eles fazem seu trabalho de "derrotar os bandidos", mas agem sem nenhuma empatia e defendem um modo de vida semelhante ao fascismo. É em meio a este contexto que o Super-Homem resolve reagir, voltar à ativa, e relembrar a todos os verdadeiros significados de heroísmo e justiça. Se prepare para momentos cinematográficos, marcantes e emocionantes, e com discussões bem alinhadas com o mundo real.


5) Superman: As Quatro Estações (1998)

(Superman For All Seasons #1 a 4 - Roteiro: Jeph Loeb; Desenhos: Tim Sale)

Cada um dos 4 capítulos, representado por uma estação do ano, é narrado por uma pessoa diferente: Jonathan Kent, Lois Lane, Lex Luthor e Lana Lang, sendo que o "clima" das estações reflete os acontecimentos de cada parte.

Não é exatamente uma história de origem, mas sim a história dos primeiros anos de um inexperiente e perdido Superman. O Super-Homem de Loeb é bem um "menino do interior" aprendendo a lidar com o "baque" de ser adulto em uma metrópole (e lutar contra um invejoso Luthor, claro), sensação reforçada pelos desenhos ao estilo retrô de Tim Sale, que parecem serem pintados com giz de cor (pelo colorista Bjarne Hansen), e que com certa frequência nos traz lindas cenas de apenas um quadro em página dupla. Uma oportunidade de ler, tanto nos textos quanto nos desenhos, algo diferente e "moderno-vintage".


6) Superman - O Legado das Estrelas (2003)

(Superman: Birthright #1 a 12 - Roteiros: Mark Waid; Desenhos: Leinil Francis Yu)

Criado originalmente para ser uma história não-canônica do Superman, no fim a DC optou por lançá-la como canônica, provavelmente devido sua ótima qualidade. O que não foi algo pequeno, pois estávamos diante da primeira versão de origem do Século XXI para o herói, reescrevendo a anterior, criada por John Byrne nos remotos anos 80!

O Legado das Estrelas traz uma história de origem bem mais moderna e dinâmica, além de fazer algumas importantes alterações da versão anterior de Byrne. Por exemplo, os habitantes de Krypton deixam de ser seres sem emoção, e Lex Luthor volta a ter passado sua infância em Smallville, onde inclusive conheceu Clark Kent. A história não apenas mostra as primeiras aventuras de Clark como herói, como também a origem de Luthor, e sua transformação para o ser de puro ódio e amargura de hoje.

Foi deste quadrinho que Zack Snyder mais se inspirou para fazer seu filme O Homem de Aço (2013), embora entre ambos há um grande diferença: no filme, há a presença de General Zod e outros kryptonianos; na HQ, o único vilão é Lex Luthor. Outra curiosidade: embora não isto não esteja descrito explicitamente em O Legado das Estrelas, é nela que o "S" do emblema do peito do herói é re-significado pela primeira vez como "Esperança" na mitologia do Superman.


7) Grandes Astros Superman (2006)

(All-Star Superman #1 a 12 - Roteiros: Grant Morrison; Desenhos: Frank Quitely)

E agora vamos para o ápice, aquela que provavelmente é a melhor história do Super-Homem de todos tempos, e certamente a melhor história escrita pelo reverenciado escocês Grant Morrison.

Na trama, Superman descobre que vai morrer em um ano, e então decide fazer uma série de 12 realizações pra deixar como legado. A minissérie é uma grande homenagem à toda a carreira do Homem de Aço, e ao longo da história, nosso herói encontra vários de seus inimigos, em alguns casos de maneira "conclusiva".

Grandes Astros Superman traz vários momentos de grande beleza e sensibilidade, também ampliados pelos belos, "limpos" e incomuns desenhos de Frank Quitely. Também é curioso e diferente a maneira com que Superman é retratado nesta obra, que se passa em um mundo a alguns anos no futuro: ele é representado como um ser quase perfeito, sendo também superinteligente.


8) Superman: Brainiac (2008)

(Action Comics #866 a 870 - Roteiros: Geoff Johns; Desenhos: Gary Frank)

Encerrando a lista, outro arco de histórias que foi publicado originalmente na revista regular do herói, mais especificamente na Action Comics, durante a fase de Geoff Johns, o roteirista principal deste título entre 2006 a 2009.

Brainiac começou sua carreira nas HQs apenas como uma entidade alienígena que controlava a mente das pessoas, mas com o passar das décadas, se transformou em um dos mais poderosos e importantes antagonistas do Superman, inclusive com ligação direta ao passado do planeta Krypton, deonde ele "roubou" e miniaturizou uma cidade inteira: Kandor. Em Superman: Brainiac não apenas a história da captura de Kandor é recontada, como também vemos Brainiac em sua mais poderosa versão até então. Outro destaque são os desenhos de Gary Frank, que além de excelentes, desenha os rostos de alguns dos personagens para serem iguais aos dos atores dos filmes do Super-Homem dos anos 70-80. Clark e Lois estão respectivamente idênticos a Christopher Reeve e Margot Kidder!

E não para por aí: nesta história também vemos de maneira bem emocionante a morte do pai de Clark Kent. Como curiosidade, não foi a primeira e nem a última vez que ele morreu nas HQs. A cada reboot do Homem de Aço, após anos de histórias, as vezes ambos os pais do personagem morrem, ou nenhum, ou apenas o pai. Aliás, um ano após deixar as revistas mensais do personagem, Geoff Johns voltou em 2010 com a minissérie Superman - Origem Secreta, que recomeça a história do herói, e... (que novidade...), acaba trazendo Jonathan Kent de volta.



Bônus 1) Superman, Campeão dos Oprimidos (1938)

(Action Comics #1 - Roteiros: Jerry Siegel; Desenhos:Joe Shuster)

Dentre as várias histórias que estavam dentro da revista Action Comics #1, lançada em Abril de 1938 (ainda que na capa aparecesse Junho de 38), a primeira e principal delas era a estréia de Superman para o mundo. Sendo Siegel e Shuster descendentes de imigrantes judeus, ambos de famílias humildes e vivendo em plena Grande Depressão, não chega então a ser surpreendente ver que o Superman original também fosse um imigrante (no caso, de outro planeta), e que estivesse mais preocupado em salvar o cidadão oprimido comum.

Em sua primeira história, com apenas 13 páginas, Superman impede que uma mulher seja erroneamente executada no corredor da morte; depois salva outra mulher que iria apanhar do violento marido; resgata Lois Lane de um grupo de mafiosos; e finalmente, flagra um senador em um ato de corrupção.

A capa da revista não é esta ao lado, e sim a parte central da imagem principal (e inicial) deste artigo. Como se pode notar pelas 2 capas ao seu redor, trata-se de uma das cenas mais homenageadas da história das HQs, inclusive pelas editoras rivais. O motivo pelo qual coloquei a imagem de Superman: Antologia aqui é porque das mais de 10 vezes que esta história foi republicada no Brasil, a ocorrência mais recente foi dentro dela, em 2020.


Bônus 2) Massacre em Metropolis! (1994)

(Superman #92 e Adventures of Superman #515 - Roteiros: Dan Jurgens e Karl Kesel; Desenhos: Dan Jurgens e Barry Kitson)

Massacre é um supervilão psicopata, caçador de recompensas alienígena, com poderes energéticos e superforça, que o Super-Homem conheceu em suas primeiras histórias pós retorno da morte de 1994. Eu gosto bastante do conceito deste personagem, da maneira inteligente que o Superman o derrota, e da maneira doente - mas plausível - que a história se encerra. Infelizmente o vilão Massacre (que curiosamente também tem exatamente este nome no inglês original) apareceu em algumas poucas revistas da década de 90 para ser (pelo menos até agora) abandonado de vez.

Aqui no Brasil esta história em duas partes denominada Massacre em Metrópolis foi publicada na revista mensal Super-Homem #141, da editora Abril, em Março de 1996. É a sua capa que vemos na imagem ao lado.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Crítica - Superman (2025)

TítuloSuperman (idem, EUA, 2025)
Diretor: James Gunn
Atores principais: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, Edi Gathegi, Anthony Carrigan, Nathan Fillion, Isabela Merced, María Gabriela de Faría, Skyler Gisondo, Wendell Pierce, Sara Sampaio, Frank Grillo, Alan Tudyk
Nota: 7,0

Não é ótimo, mas é bom, importante, e com várias surpresas

A espera acabou! Depois de muita expectativa e material promocional, foi data a largada para a nova fase da DC Comics nos cinemas, agora capitaneada por James Gunn. E já começo parabenizando ele, diretor e roteirista deste Superman, pelo fato de que apesar da divulgação de trailers com 100% de cenas reais do filme (sendo um deles uma versão estendida de 5 minutos), ter me surpreendido bastante com a trama apresentada, bem diferente do que eu imaginava.

A história começa com letreiros... ficamos sabendo que há 3 semanas atrás o Superman (David Corenswet) impediu a Borávia de invadir Jarhanpur (duas nações fictícias), e que neste momento ele acaba de sofrer sua primeira derrota em batalha. E então começam as imagens: o vemos, já muito machucado, na Antártida se arrastando até a Fortaleza da Solidão para se recuperar. Não demora muito para descobrimos que Lex Luthor (Nicholas Hoult) está por trás de tudo isso...

James Gunn traz em seu roteiro, como motivações de Luthor para derrotar Superman, uma soma de narcisismo com xenofobia com oportunidade de enriquecer a qualquer custo. E o faz de maneira muito bem feita, também traçando paralelos com a vida real, especialmente com Trump e a extrema direita estadunidense. Portanto, há um casamento perfeito quando Lex usa tantas vezes a palavra "alien" em seus discursos de ódio (mesma palavra que Trump usa atualmente para descrever imigrantes ilegais), e há também um destaque em Luthor manipulando as mídias sociais com "robôs" e desinformação.

E por falar em mídias sociais, antes que vocês sejam enganados pelas mídias sociais do mundo real, as críticas que Superman faz à extrema direita são de fato as mais explicitas que já vimos em um filme até hoje. Porém, param no parágrafo que escrevi acima. Como um todo, politicamente, o filme é até "bem comportado". Ele não procura se envolver em polêmicas. "Ah, mas ele é claramente anti-guerra e mostra os empresários ricos como malvados"... Sim. As histórias do Superman são assim desde seu nascimento, há mais de 80 anos atrás... Então falar que o filme é "woke" e etc é puro mimimi...

Superman também traz bons efeitos especiais e boas lutas, mas... são bem menos lutas do que eu esperava. A que mais gostei sequer teve a participação do Homem de Aço, aliás... foi uma luta solo do Senhor Incrível (Edi Gathegi). Também para minha surpresa - por se tratar de um filme de James Gunn, o filme poucos momentos cômicos. Inclusive, o primeiro terço do filme é psicologicamente bem tenso, o que imagino deverá causar um certo incômodo em boa parte do público que, sendo fã de filmes de super-heróis, não está acostumado com isso.

Falando de atuações e personagens, enfim temos Lex Luthor digno! O personagem é bem escrito, e a atuação de Nicholas Hoult é muito boa! Já o Superman... David Corenswet não é lá um grande ator, mas pelo menos agora vemos de volta um Super-Homem que é bondoso e ingênuo; eu gostava de Henry Cavill no papel... mas na verdade a versão de Zack Snyder para o Superman era infelizmente um personagem de muita ação com poucos sentimentos ou profundidade. E Lois Lane (Rachel Brosnahan): a atriz também está muito bem no papel; já a personagem é... diferente do que estamos acostumados a ver nas últimas décadas. Ela é inteligente como sempre, porém ao invés de enérgica e falante, vemos uma Lois um pouco mais introvertida e sábia.

Encerrando os pontos fortes do filme, Superman também consegue trazer bons momentos emotivos, trabalhando bem os momentos heróicos, os momentos "família", e os momentos românticos.

Mas... o filme também tem seus problemas. E não são poucos. Para começar, a trama em Superman é um pouco confusa e pouco coesa. Por exemplo, as cenas emocionantes e as ótimas atuações que elogio nos dois parágrafos acima... elas nem sempre se encaixam; o filme peca bastante pela falta de ritmo. É como se individualmente, Superman fosse bem sucedido em nos transmitir seu otimismo e esperança; porém no filme como um todo, não. Falta harmonia.

Eu imagino que parte da "culpa" por este desarranjo é que assim como o filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), este aqui também teve que em paralelo apresentar novos personagens e iniciar um novo universo. Por isso mesmo que além do Superman, aqui também temos mais 4 super-heróis (Mulher Gavião, Lanterna Verde, Senhor Incrível e Metamorfo). O filme consegue ser bem sucedido ao dar um bom destaque a muitos de seus vários personagens, inclusive seus vilões. De qualquer forma, aqui tivemos o clássico "mais é menos".

Também entendo que há um grande exagero nas tecnologias desenvolvidas por Lex Luthor. Elas são tão avançadas que sinceramente fica difícil acreditar que o Superman, ou qualquer outro herói, poderia derrotá-lo. Outros problemas: as lutas que ocorrem dentro do "universo de bolso" são péssimas, não fazem sentido e mal dá para enxergar alguma coisa (aliás muito deste "mini universo" é sofrível); ao longo de todo o roteiro temos várias "pequenas cenas" que só foram inseridas para criar efeito cômico ou heróico e são bem pouco críveis... só dá mesmo para dar um desconto porque, afinal, estamos falando de um filme de um super-herói de quadrinhos.

Somando prós e contras, o saldo de Superman é positivo. Um bom filme, que resgata os conceitos clássicos do herói, e se faz relevante por, ao mesmo tempo, dar um importante recado político e por ser um promissor pontapé para o novo universo de heróis da DC nas telonas. Nota: 7,0.


PS: o filme possui duas cenas pós créditos. A primeira, já em seu começo, dura apenas alguns segundos e é mais um "pôster" do que uma cena propriamente dita; já a segunda, ao final de tudo, é uma cena cômica que sinceramente, não valeu toda a espera. Entretanto, há de elogiar que ambas as cenas são autocontidas, ou seja, se referem ao próprio filme, e não são como as antigas cenas pós-créditos que a DC fazia (e a Marvel continua fazendo), que são propagandas de filmes futuros.

PS 2: Superman faz uma citação à Supergirl que é referência direta ao que acontece na excelente HQ Supergirl: Mulher do Amanhã, que já elogiei aqui no blog algumas vezes. Lembrando que o filme da Supergirl, que está previsto para 2026, originalmente também se chamava Supergirl: Mulher do Amanhã, mas agora foi reduzido oficialmente para apenas "Supergirl". Ainda assim, a referência aumenta a minha esperança para que o futuro filme tenha sim muito desta ótima obra. Fico na torcida.

PS 3: Will Reeve, filho mais novo do falecido Christopher Reeve, o primeiro e mais famoso dos Super-Homens dos cinemas, pediu a James Gunn para fazer uma participação neste novo filme e foi prontamente atendido. Ele, que é repórter de TV na vida real, também aparece neste papel em Superman. Ele aparece bem rapidamente em algumas cenas, e a maior delas, é a da foto que reproduzo abaixo. Quando eu fui ver Superman, não sabia dessa curiosidade. Caso você esteja lendo isso aqui ANTES de ver o filme, aproveite a oportunidade para jogar um "Onde está Will?" enquanto estiver no cinema. :)


PS 4: (atualização em 12/07): após ler hoje mais matérias e repercussões sobre o filme, me dei conta que a guerra de Borávia com Jarhanpur têm mais paralelos com guerra entre Israel e a Palestina do que percebi enquanto assistia Superman. Nada muito explícito, mas estão lá. Isto muda um pouco uma frase que disse na minha crítica, que o filme "não procura se envolver em polêmicas". E torna a obra ainda mais relevante.

PS 5: (atualização em 25/07): sabiam que o cachorro Krypto, um dos personagens mais queridos do público, para minha surpresa, é 100% digital? Pois é... isto me gerou sentimentos mistos... a decepção por ele não ser real, e o encanto pela tecnologia estar tão perfeita. Krypto teve sua "personalidade" baseada em Ozu, cachorrinho que o diretor James Gunn adotou enquanto escrevia o roteiro do filme; também dele foram feitas capturas de movimentos. Durante as filmagens, para interagir com os atores, foram usados humanos fantasiados, e também uma cadela de nome Jolene.

PS 6: continuando com o tema animaizinhos: a cena de Superman resgatando o esquilo teve uma rejeição considerável em exibições teste do filme, e por isso o estúdio chegou até a testar cópias sem a cena. Porém após ver o filme deste jeito, James Gunn sentiu "algo faltando", e por entender que seu filme precisava sim preservar a cena para que o público infantil visse que o herói também salva esquilos, bateu o pé e colocou-a de volta, mesmo indo contra as reclamações dos testes e de parte da própria equipe.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Crítica Netflix - The Old Guard 2 (2025)


Título: The Old Guard 2 (idem, EUA, 2025)
Diretora: Victoria Mahoney
Atores principais: Charlize Theron, KiKi Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Chiwetel Ejiofor, Veronica Ngo, Henry Golding, Uma Thurman
Nota: 4,0

Seqüência não faz nada certo e enterra franquia (que a Netflix quer continuar)

Após quase exatos 5 anos depois da estréia de The Old Guard (2020) na Netflix, temos sua continuação, com praticamente mesmo elenco mas com nova diretora. The Old Guard 2 até tinha alguma razão para existir, já que o filme anterior deixou alguns ganchos enormes que justificariam sua continuação.

Mesmo retornando justamente por esses "ganchos", The Old Guard 2 já começa errando em não se preocupar em explicar o que aconteceu antes, o que deixa tudo bastante confuso para quem não viu o filme anterior, e em menor escala, para quem viu mas já esqueceu dos detalhes (afinal, repito, já se passaram 5 anos!).

Então eu ajudarei a relembrar: estamos em um universo onde nossos personagens são os "Imortais", pessoas com milênios de idade, que não morrem por ter uma recuperação a ferimentos ultra rápida (eles podem até ter a cabeça decepada que não tem problema) e que atuam nas sombras ajudando a humanidade em situações de injustiça.

Porém no filme anterior, Andrômaca, ou "Andy" para os íntimos (Charlize Theron), a líder e mais velha do grupo, perdeu sua imortalidade. Além disso, Booker (Matthias Schoenaerts), outro imortal de seu grupo, os traiu e foi banido. O filme começa com Quynh (Veronica Ngo), outra imortal, sendo resgatada do fundo mar após 500 anos em um eterno ciclo de morrer e reviver afogada por uma mulher misteriosa (interpretada por Uma Thurman). Basicamente a partir daí Quynh e Uma Thurman se unem para fazer o mal contra a humanidade e destruir o grupo de Andy.

A verdade é que mesmo com o primeiro filme feito para se ter uma continuação, pelo que vimos do roteiro, esta não estava muito bem planejada, já que a nova história nos traz alguns retcons (bem ruins aliás) e um argumento fraco, que para ser interessante deveria ter sido contado em no máximo uma hora. Porém The Old Guard 2 tem quase 2 horas de duração, e é preenchido com diálogos piegas e cenas de ação apenas medianas que não fazem o menor sentido. Por exemplo, perto do final do filme, o grupo de heróis invade um local fortemente protegido e com seguranças fortemente armados. Assim que eles chegam, todos os inimigos jogam as armas no chão e resolvem "sair no braço" (?????). A explicação que o roteiro dá? "O líder deles é um babaca". Não vou mais comentar por respeito à sétima arte.

Meu horror ao roteiro só não é maior pois The Old Guard não é uma obra original, e sim, a adaptação de uma série de quadrinhos. E se há uma mídia onde retcons são comuns são nas HQs. Portanto, talvez essas várias decisões ruins tenham vindo da obra original e não dos "roteiristas".

E como não há nada que seja ruim suficiente que não possa piorar, a história The Old Guard 2 não acaba ao final do filme! Será necessário ter um filme 3 para concluir o que se começou aqui. Por enquanto The Old Guard 2 vai bem de audiência, mas estamos na sua semana de estréia. Após as pessoas lerem (as justas) críticas detonando o filme, talvez isso mude. Vamos ver se no final das contas a audiência será suficiente para justificar ou não um fim da trilogia e continuar a alimentar a indústria da quantidade ao invés da qualidade. Nota: 4,0

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #044 - Sabia que Garfield nasceu como coadjuvante de Jon? Aprenda esta e outras curiosidades sobre o gato mais preguiçoso do mundo!


Vocês sabiam que o gato Garfield, criação máxima do cartunista Jim Davis, na verdade começou sua carreira como um mero coadjuvante de seu dono Jon Arbuckle? Pois é... Vamos conhecer melhor esta história.

Oficialmente, a primeira tirinha de Garfield é esta que vemos abaixo, publicada em 19 de junho de 1978 simultaneamente em 41 jornais dos EUA.


Porém, antes desta estréia, desde 1976 Jim Davis escrevia para alguns jornais uma tirinha de quadrinhos chamada Jon... e olhem só como foi a tira inaugural de Jon, publicada na Pendleton Times em 8 de Janeiro de 1976...

Ou seja... Garfield estava presente desde o primeiro quadrinho de Jon. E a conclusão: a primeira tirinha de Garfield foi uma modificação da primeira tirinha de Jon, assim como a série de quadrinhos de Garfield como um todo, também foi uma simples modificação / evolução dos quadrinhos de Jon!

A mudança do nome de Jon para Garfield foi uma decisão editorial, justamente quando Jim Davis conseguiu um contrato para que sua obra fosse publicada a nível nacional; Jon era publicado quase totalmente em jornais da região onde ele morava, no estado de Indiana.

E agora que você já está ciente desta grande surpresa, vamos a mais algumas curiosidades sobre nosso querido gato adorador de lasanhas:


1 - Garfield aprendeu a andar em duas patas com o Snoopy (ou quase isso)

No começo Garfield andava como um gato comum, ou seja, com as quatro patas. E o Garfield que conhecemos hoje tem um estilo bem mais antropomórfico, com ele andando "em pé", sobre as patas traseiras. Esta "transformação" ocorreu graças a ajuda de Charles Schulz, o criador de Snoopy.

Segundo Jim Davis, ele estava em Los Angeles para fazer o primeiro especial de TV de Garfield, e tinha o desejo que Garfield se levantasse e dançasse durante os créditos iniciais, o que simplesmente não estava funcionando. Porém Charles Schulz estava trabalhando em uma sala ao lado, e ao saber do ocorrido, resolveu ajudar seu amigo de profissão: "Isso é porque você deu a ele esses pezinhos de gato". Schulz explicou que foi justamente para que Snoopy pudesse ficar de pé, ele lhe deu pés grandes, iguais aos dos humanos. Foi então que Garfield ganhou as patas traseiras grandes que conhecemos hoje, e tudo mudou.


2 - A tirinha de Garfield quase não sobreviveu ao seu primeiro ano de publicação

Lembram que eu disse que Garfield estreou simultaneamente em 41 jornais estadunidenses? Pois é, acontece que em vários deles, a estréia ocorreu nos moldes de "período de testes", onde as tiras são publicadas gratuitamente por alguns meses. Após o fim deste tempo, vários jornais não quiseram continuar com o trabalho de Jim Davis, incluindo-se aí o maior destes, o Chicago Sun-Times. Felizmente os leitores se revoltaram e começaram a reclamar para estes jornais, que acabaram cedendo. Especialmente no caso do Chicago Sun-Times, quando Garfield re-estreou por lá, foi através desta tirinha exclusiva para o jornal (ver acima), referenciando o apoio dos fãs.


3 - Motivos para Garfield amar lasanha


Já nos primeiros anos da tirinha, aprendemos que antes de ser adotado por Jon, Garfield nasceu e viveu em uma cozinha de um restaurante italiano, o Mamma Leoni's. Foi lá, portanto, que ele desenvolveu seu gosto por massas em geral, especialmente pela lasanha, seu prato favorito. Jim Davis comenta que também adora lasanha e colocou isso em Garfield pois considerou engraçado ter um gato que gostasse deste prato. Porém, depois passou a ouvir das pessoas com frequência que seus gatos também adoravam lasanha.

Eu não sei o que se passa na cabeça dos estadunidenses para ficar dando lasanha para seus gatos... mas para quem estiver lendo isso aqui, não... isso não é nada recomendável.


4 - O cachorro Odie não era originalmente de Jon, e sim de Lyman (quem?)

Bem no começo da tira, Davis decidiu que queria um outro personagem para que Jon pudesse conversar, além de Garfield. Eis então que surge Lyman, amigo de Jon que passa a morar com ele após sofrer alguns contratempos. E junto com Lyman veio seu cachorro de estimação, Odie. Porém com o passar do tempo Jim percebeu que não precisava de outro humano, e então Lyman foi aos poucos aparecendo cada vez menos nas histórias. Sua primeira aparição nas tiras de 1983, em Abril, foi também sua última nas tirinhas de Garfield. Neste mesmo ano, Odie também já seria "incorporado" como mascote de Jon.

O curioso é que o "sumiço" de Lyman nunca foi comentado ou explicado nas tiras de Garfield... Jim Davis simplesmente parou de desenhá-lo e pronto. O que acabou virando uma certa piada interna entre os fãs do famoso gato: "o que poderia ter acontecido?".

Bem, para o Halloween de 2002 foi lançado no website oficial de Garfield um jogo Flash de nome Garfield's Scary Scavenger Hunt, um jogo de aventura point-and-click temático para aquela celebração, onde a casa de Garfield ficou assombrada e os jogadores controlavam o gato para encontrar nela 7 itens escondidos (doces para comer, é claro!!). De maneira bem-humorada, o jogo trazia uma mórbida surpresa: ao entrar no porão... bem, lá estava Lyman, acorrentado e mantido como refém durante este tempo todo...




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