Quem não viveu os anos oitenta dificilmente já ouviu falar de
Mad Max. A trilogia pós-apocalítica que foi dirigida e escrita pelo diretor australiano George Miller não apenas revelou o também australiano Mel Gibson para o mundo, mas principalmente, foi grande inspiração para diversos filmes de ação e de "futuro distópico" produzidos em Hollywood nos anos a seguir.
Resolvi assistir
Mad Max 2 (1981) semana passada, e apesar do filme continuar bem interessante, me decepcionei ao constatar que hoje ele é um filme "datado". Sendo assim, aplaudo em pé os esforços de George Miller para revitalizar a franquia exatos 30 anos depois de seu início. É necessário conhecer a antiga trilogia para assistir
Mad Max 4? A resposta é: "em geral, não". Para mais detalhes sobre isto, leiam minha "FAQ" ao final do texto.
Em
Mad Max: Estrada da Fúria temos o personagem-título Max Rockatansky (Tom Hardy) sendo capturado por uma gangue liderada pelo "Immortan Joe" (Hugh Keays-Byrne), enquanto que ao mesmo tempo uma das melhores soldados da trupe, a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) resolve libertar um grupo de mulheres presas e abusadas por Joe. Os caminhos de Max e Furiosa acabam se cruzando e eles se tornam aliados para fugir dos domínios do Immortan.
Com a descrição acima, não dá para se esperar muito do roteiro. E de fato, ele é raso, simples. Na prática,
Mad Max: Estrada da Fúria é quase 100% de cenas de ação sobre rodas. São duas horas quase ininterruptas de brigas, batidas, explosões, tudo com os carros em movimento. Insano. Alucinante. E tudo isto sob uma trilha sonora bem "barulhenta". Querem saber como é o filme? Peguem som e imagem do trailer (link acima), do 01m16seg a 01m28seg e estendam isto por duas horas. Pronto. Isto é
Mad Max 4.
É ruim um filme ser composto apenas por cenas de ação? Em especial para este filme, a resposta é um sonoro NÃO! Isto porque as cenas filmadas por George Miller são simplesmente extraordinárias. Não apenas pela diversão que proporcionam, mas principalmente, pela sua qualidade cinematográfica. O visual é belíssimo, a coreografia dos atores e veículos é irretocável, isto sem falar no desafio que é filmar tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo em velocidade sobre rodas. Uma verdadeira obra de arte!
Tudo funciona magistralmente bem na ação de
Mad Max: Estrada da Fúria. Os cenários, bem variados, foram planejados para permitir em cada um deles situações e coreografias diferentes. O design dos carros utilizados são um show a parte: ao mesmo tempo criativos, malucos, mortais, funcionais e críveis.
O mais incrível é que mais de 80% das cenas filmadas em
Mad Max: Estrada da Fúria não possuem efeitos produzidos por computador. É tudo real: veículos e explosões de verdade, grande uso de dublês... Curiosamente, o maior uso de CGI no filme nem foi para as cenas de ação, e sim, para fazer o braço mecânico da Furiosa.
Com seus 70 anos, George Miller dá um banho em grande parte dos "diretores de ação" da atualidade. Diferentemente de incompetentes como Michael Bay e James Wan, em Mad Max não temos bilhões de cortes de cena para simular velocidade. E você consegue entender exatamente o que está acontecendo na tela: não apenas entende cada movimento executado pelos veículos e atores, como também, sempre tem a visão espacial do todo, sabendo onde cada objeto da cena está posicionado em relação aos demais.
George Miller entrega cenas de ação tão boas, tão difíceis de se realizar, que para exemplificar isto conto a seguinte história: dois meses atrás, no
SXSW film festival, o diretor exibiu algumas cenas de
Mad Max 4 para o público. Após o término da segunda cena, um espectador se levanta e pergunta, impressionado: "
como você conseguiu filmar isto?!!". Quem era este homem? O também diretor Robert Rodriguez (
Sin City,
Era Uma Vez no México,
Um Drink no Inferno).
Sobre atuações: Charlize Theron está muito bem, porém ao mesmo tempo que seu personagem é um soldado letal, seu rosto mostra uma mescla de dor, medo e preocupação; o que entendo ser contraditório. Já Tom Hardy está mal. Fisicamente ele até convence como ator de ação, mas é só. Seu rosto inexpressivo lembra o do Cigano Igor (mas dá para dar um desconto a ele, já que o verdadeiro protagonista do filme não é Max, e sim, a Furiosa). Curiosamente, quem rouba a cena é Nicholas Hoult. Ele, que foi tão sem graça como o Fera do novo
reboot dos
X-Men, aqui faz um trabalho marcante como o "garoto perdido" Nux.
Mad Max: Estrada da Fúria é tão incessantemente agitado e barulhento que também chega a cansar um pouco o espectador. Somando com tudo que citei anteriormente, entendo que o filme não deverá agradar parte do público feminino. Ironicamente, o filme traz várias mulheres corajosas e independentes, e não é em nada machista.
Ah, para fechar o assunto "roteiro", insisto que ele é "pequeno" mas não "ruim". Uma mostra disto é que os atos de heroísmo dos personagens ao longo da trama me comoveram mais do que geralmente fazem os outros filmes de ação que surgem por aí. E se considerarmos que toda a mitologia e ambientação do universo do mundo de
Mad Max conta como roteiro, isso também o fortalece, pois eles são criativos e bem demonstrados.
Contando com duas horas de ação e "mais nada" além disto,
Mad Max: Estrada da Fúria possui naturalmente os lados negativo e positivo desta escolha. E acontece que os "prós" são muito, muito maiores. Dentro de seu gênero de filme,
Mad Max 4 é praticamente irretocável: as cenas de ação vistas aqui estão entre as melhores e mais difíceis de realizar que já vi na minha vida. George Miller é o cara!
Nota: 9,0
FAQ: mais perguntas e respostas sobre Mad Max 4 (sem spoilers)
P: O filme é um reboot ou uma continuação?
R: Mais para o segundo do que o primeiro, porém, na prática, nenhum dos dois. Trata-se de uma história totalmente nova que ao mesmo tempo apenas referencia cenas dos episódios anteriores através de breves flashes. Isto tem duas funções: ao mesmo tempo que sugere que os três filmes anteriores de fato aconteceram e não foram "apagados", também indicam que o passado não é muito relevante. Só que o mundo que vemos agora está décadas a frente da trilogia original, e seu protagonista não. Para tudo ser temporalmente coeso (e consequentemente uma verdadeira continuação), Max deveria ser no filme um senhor de pelo menos 60 anos. O que definitivamente não acontece, já que Tom Hardy está na casa dos trinta. Notem que este efeito teria sido alcançado se Mel Gibson (o protagonista da trilogia inicial) tivesse aceitado continuar com o personagem.
P: Preciso ter assistido a trilogia original antes de ver este filme?
R: Precisar não precisa, já que a história é independente. Porém, como Mad Max: Estrada da Fúria gasta apenas um mísero minuto de projeção para explicar o que está acontecendo, conseguir entender "de verdade" o universo pós-apocalíptico em que Max está inserido necessitaria sim que o espectador tivesse assistido pelo menos o segundo ou terceiro filme da franquia.
P: Devo assistir em 2D ou 3D? E no iMax?
R: Mad Max: Estrada da Fúria não foi filmado em 3D, ele foi apenas adaptado para esta mídia. Por outro lado, sei que o diretor se "divertiu" nesta conversão, fazendo questão de que tivéssemos cenas em que objetos fossem arremessados de maneira "crível" para fora da tela, na direção do expectador.
Eu assisti o filme apenas em 2D, mas assisti o trailer de Mad Max 4 em 3D, no dia que assisti Vingadores 2. E... não gostei. Era tanta coisa pulando e explodindo na tela ao mesmo tempo que o 3D tornou as cenas difíceis de assistir. Por isto, não tive coragem de assistir em 3D não.
Já em termos de iMax, o filme é tão belo visualmente que você precisa sim buscar a maior tela e o maior som possível, ou seja, ir no iMax. Mas ao mesmo tempo, fica minha "desconfiança" de não arriscar o 3D, até que me falem o contrário. Eu escolheria um "iMax 2D" para este filme... se é que este formato chegou ao Brasil.