segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dupla-Crítica: Quarteto Fantástico (2015) e Corrente do Mal (2014)



Dois filmes que estrearam nos cinemas este ano, mas que já não estão em cartaz. Um, um filme de terror; o outro, um filme de super-heróis que muitos acham um terror. Vamos a eles!


Quarteto Fantástico - "Fantastic Four" (2015)

Diretor: Josh Trank
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=d-UYFoPq4_Q
Atores principais: Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey
Nota: 5,0

"Bem ruim, mas ainda assim, menos pior do que falam"

Com diversos problemas em sua produção, o resultado não poderia ser diferente. A nova encarnação do Quarteto Fantástico foi um fracasso de crítica e público. Para os mais críticos, um dos piores filmes de super-herói de todos os tempos; para os mais elogiosos, os dois primeiros atos seguem o estilo de ficção científica e são bons. Concordo apenas parcialmente com ambas vertentes.

Isto porque mesmo em seus dois primeiros terços Quarteto Fantástico também é fraco. Sim, ele até puxa para o lado científico mas de maneira muito desconexa. Tirando o personagem Reed Richards (interpretado de maneira muito boa pelo ótimo Miles Teller), nenhum outro personagem é apresentado e desenvolvido de maneira decente. Da forma com que são colocados, todos os demais personagens são adolescentes arrogantes e mal-humorados desprovidos de qualquer carisma. Não deixa de ser um ato admirável (no mau sentido) em 1h de filme o diretor conseguir desenvolver (e mais ou menos) apenas um de seus vários personagens.

Por outro lado, o filme não deixa de ser mais um repetitivo e razoável filme de origens. Somando todos os prós e contras, ele não é inferior aos dois filmes do próprio Quarteto Fantástico na década passada e chega a ser melhor que filmes como Demolidor (2003), Mulher Gato (2004) e Elektra (2005).

Sobre a briga do diretor Josh Trank com os produtores da Fox, agora opino que ambos estão errados. O segundo por não disponibilizar para esta produção tempo e dinheiro para que ela tivesse história e efeitos especiais decentes (os efeitos não são tão ruins, porém a visualização dos poderes do "homem-elástico" é constrangedora). Já Trank, que diz não ter culpa no resultado final criticando principalmente o último ato, perde sua razão quando vemos que o começo também é ruim e que em sua ideia original o Quarteto sequer se torna um grupo em qualquer momento da história. Quarteto Fantástico entra pra posteridade como exemplo de como não se produzir um filme. Ao mesmo tempo, que há coisas bem piores que ele, há. Nota: 5,0


Corrente do Mal - "It Follows" (2014)

Diretor: David Robert Mitchell
Atores principais: Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi
Nota: 7,0

"Filme emula com sucesso os bons filmes de terror dos anos 80"

Corrente do Mal é uma verdadeira imersão aos (bons) filmes dos anos 80. Não apenas pela ambientação (a história se passa nesta época), mas também pela sua temática (adolescentes são "punidos" por fazer sexo) e pelo vilão (que não é exatamente um "fantasma" (tipo de terror em moda atualmente), e sim um perseguidor "quase" de carne e osso que consequentemente está sujeito as regras normais da física que conhecemos.

Curiosamente, o ponto fraco de Corrente do Mal é sua história, mais especificamente na sua própria mitologia e no seu desfecho. Apesar de tudo, a história é desenvolvida de uma maneira bem bacana: ela abre espaço para discussões morais e ainda foge de alguns clichês quando faz que seus personagens não sejam "tão burros" (eles conversam entre si sobre o que está acontecendo, e tentam montar planos).

Aliás, o filme é bem dirigido: a fotografia é muito bonita, o constante clima de tensão é bem construído (que espectador não fica nervosamente caçando pela "coisa" nos planos abertos, para ver se a encontra?), e até algumas atuações são boas, principalmente da protagonista principal, a bela e jovem Maika Monroe.

Para quem curte terror e suspense, e já está um pouco cansado da fórmula atual dos cinemas, Corrente do Mal é uma boa pedida para ver como eram os bons filmes dos anos 80. Nota: 7,0

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Crítica - Perdido em Marte (2015)

Título: Perdido em Marte ("The Martian", EUA, 2015)
Diretor:  Ridley Scott
Atores principaisMatt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean Bean, Chiwetel Ejiofor
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=QVX5DSzRn14
Nota: 8,0
Um belo filme, e uma ode a inteligência humana

Já fazia um bom tempo... mas enfim o diretor Ridley Scott voltou a acertar a mão! Baseado no livro de mesmo nome do escritor Andy Weir, Perdido em Marte é um filme muito bonito visualmente, equilibrado emocionalmente, uma boa ficção científica e uma verdadeira celebração da engenhosidade e inteligência humana.

Na trama, seis astronautas estão em Marte quando são obrigados a deixar o planeta as pressas devido uma súbita tempestade. E no meio desta correria, o astronauta Mark (Matt Damon) é aparentemente morto por um destroço, sendo então abandonado no planeta por seus companheiros, já que não havia tempo para comprovar sua morte ou não antes da decolagem de emergência. Mas eis que... Mark sobreviveu, e sem perspectivas de resgate em anos, começa a se preocupar em como sobreviver até lá, sendo que ele possui suprimentos apenas para alguns meses.

E então que o filme se divide em duas frentes: uma com Mark tentando sobreviver, e outro com a Nasa tentando resgatá-lo. É como se fosse uma mistura de Apolo 13 (1995) com Náufrago (2010), com uma grande diferença: o tom.

Em Perdido em Marte os personagens dificilmente perdem a calma, tudo é menos dramático, mais contemplativo. E ao mesmo tempo... mais divertido. Com a desculpa de estar sendo filmado para o público da Terra, Mark passa seu tempo conversando com a câmera de maneira animada, fazendo piadas e gracinhas com bastante frequência. Aliás, as cenas com Matt Damon (que ocupam cerca de 1/4 do filme), as vezes chegam a lembrar aulas do Mundo de Beakman. Sem o Lester, claro.

Obviamente, nem tudo são flores. Como sempre há também as crises (sejam por intempéries naturais ou erros humanos) que Nasa e Mark precisam resolver ao longo do filme. Mesmo assim, tudo é mostrado com bem menos drama que em Apolo 13: tudo é mais light.

Mas principalmente, Perdido em Marte é bastante otimista, o que não deixa de ser surpreendente em se tratando de Ridley Scott. É um deslumbre ver a humanidade no espaço, cercada de tanta ciência e competência. As vezes o otimismo é tanto que chega a exagerar (como por exemplo a China abrir mão de um segredo espacial para altruisticamente resgatar o americano).

Com cenas espaciais belíssimas, recheado de bons atores e atrizes (Matt Damon, Jessica Chastain, Jeff Daniels, e Chiwetel Ejiofor são os maiores destaques), trilha sonora discreta mas competente, enquanto assistimos uma ode a nossa capacidade presenciamos algo que agrada bastante os olhos, ouvidos e mente.

Bem preciso cientificamente falando (embora com algum alguns exageros), como "ficção científica de resgate" Perdido em Marte não é "o" melhor filme que já vi, mas chega perto. Certamente agradará bastante os fãs do gênero e também agradará o público em geral. Mas o que vou guardar deste filme é justamente a esperança... o olhar para nossas qualidades, o olhar para nosso futuro. Eu recentemente fiz outro apelo ao otimismo na minha crítica de Tomorrowland. Precisamos elevar nosso espírito. E se isto for feito com filmes tão bem executados quanto este, melhor ainda! Nota: 8,0

PS: ao ser filmado com vários planos com ampla profundidade, Perdido em Marte se torna uma ótima pedida para ser assistido em 3D. Mas cuidado! Vá apenas em cinemas que saibam projetar em 3D (filmes neste formato são naturalmente mais escuros, então precisam ser compensados com mais luz), o que infelizmente não é o caso do Cineflix Galleria Campinas, onde assisti. :(

PS2: e o filme "continua"... No canal "ARES:live" do you tube ainda podemos ver mais 5 curtos vídeos sobre Perdido em Marte. Bem bacana. Dentre eles, temos um vídeo onde vemos os astronautas em Marte antes do acidente, e outro com Neil deGrasse Tyson falando sobre a fictícia missão Ares como se fosse verdadeira, em seu programa Cosmos. A única desvantagem destes vídeos? Estão em inglês, sem legendas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O que vem por aí em Outubro


Outubro de 2015 será um mês bastante interessante para os fãs de cinema. Para começar, da minha lista dos "10 filmes que mais espero para este ano" nada menos que 4 dos 10 filmes estreiam neste mês!

Os 4 filmes (veja a foto dos mesmos acima) são: Perdido em Marte (ficção científica com o diretor Ridley Scott), A Travessia (que promete ser o "pesadelo" de todos que sofrem de vertigem), A Colina Escarlate (terror do diretor Guillermo del Toro) e Sr. Holmes (Ian McKellen como o famoso detetive).

E ainda teremos em Outubro mais filmes dignos de nota. Vou citar 2: os novos trabalhos dos famosos diretores Steven Spielberg (Ponte dos Espiões - com Tom Hanks no papel principal e os Irmãos Cohen no roteiro!) e M. Night Shyamalan (A Visita - filme de terror de baixo orçamento que vem agradando o público).

Vejam como ficou o calendário de estréias:
Dia 8: A Travessia
Dia 15: A Colina Escarlate, Sr. Holmes
Dia 22: Ponte dos Espiões
Dia 15 26/11: A Visita

E aqui no Cinema Vírgula as coisas não serão menos movimentadas. Em Outubro publicarei pelo menos 7 novas críticas de filmes, pelo menos de 4 dos 6 filmes acima. Não percam!


Atualizado em 18/11: "Sr Holmes ainda não estreou no Brasil, sem previsão para tal. Já A Visita, teve a estréia confirmada pela distribuidora para 26/11. Meu calendário acima já reflete esta mudança.

domingo, 27 de setembro de 2015

Crítica - Ex-Machina: Instinto Artificial (2015)

Título: Ex-Machina: Instinto Artificial ("Ex-Machina", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Alex Garland
Atores principais: Domhnall Gleeson, Oscar Isaac, Alicia Vikander
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=HtBuBJxDlU8
Nota: 8,0
Ficção Científica entrega reflexões, bom suspense e ótimas atuações

Mesmo que o número de filmes produzidos por ano aumente, a tendência atual é que o número de filmes exibidos nos cinemas diminua. Isto porque ao povoar múltiplas salas repetindo a exibição do mesmo blockbuster, os filmes independentes perdem cada vez mais espaço, gerando vítimas. É o triste caso deste virtuoso Ex-Machina: Instinto Artificial, que não conseguiu chegar aos cinemas, indo direto para DVD (ele chegará às lojas em Outubro mas já pode ser comprado e assistido no Brasil via streamings como o YouTube).

Na história, Caleb (Domhnall Gleeson) é um programador e foi sorteado para passar uns dias na casa de seu empregador - e gênio da informática - Nathan (Oscar Isaac). Lá ele é convidado a avaliar se o avançado androide construído em segredo por Nathan - Ava (Alicia Vikander) - consegue ser o primeiro ser artificial a passar pelo Teste de Turing (ou seja, se mostrar indistinguível de um ser humano).

O filme vai além da ciência ao colocar o elemento "opressão" em jogo. Devido a questões de confidencialidade, Caleb é sujeito a condições absurdas de confinamento. Não que Nathan maltrate seu convidado, mas ele exerce uma pressão psicológica imensa sobre o programador. E a questão não se suaviza com o tratamento dado a Ava: ela é tratada como uma máquina descartável o tempo todo pelo seu criador. E a medida que Caleb vai se convencendo que Ava tem "sentimentos", os debates morais e científicos vão crescendo de maneira natural e brilhante.

Ex-Machina marca a estréia do britânico Alex Garland com diretor, ele que já tem carreira bem sucedida como escritor de filmes também de ficção científica, como Extermínio (2002) e Sunshine - Alerta Solar (2007). E é uma estréia muito boa. Garland vai bem na direção e no roteiro.

Como direção, Alex traz para seu filme enquadramentos pertinentes - fechados, que aumentam a sensação de enclausuramento dos personagens - e uma fotografia muito boa com efeitos especiais bem críveis em se tratando de um filme de baixo orçamento. Mas se Ex-Machina vai bem na imagem, não se pode dizer o mesmo do seu som. Certamente o grande defeito do filme é sua trilha sonora. Aqui Garland mostra uma mão pesada, e a trilha ambiente é barulhenta, incômoda, alta, ocupando praticamente todos os minutos do filme. É como se o som tentasse representar um "torpor" do personagem principal; situação esta que não faz sentido com o que se apresenta na tela.

E se o roteiro é bem feito, há o alerta de que os diálogos são irregulares. Há bons e maus momentos; os piores acontecem justamente nos momentos das citações científicas. De qualquer forma, é através das imagens e das ações e reações dos personagens que conseguimos ver toda a qualidade filosófica por trás de Ex-Machina.

As atuações do trio principal são muito boas, e aumentam a qualidade do filme. Como curiosidade, em alguns momentos achei a jovem atriz sueca Alicia Vikander extremamente parecida com as irmãs Mara (Rooney e Kate). Até achei que podiam ser parentes; mas não, sequer são do mesmo país (risos).

Ex-Machina: Instinto Artificial é um filme lento, tenso, psicológico, e que assim como toda boa ficção científica nos faz refletir. Como sua nota final, eu lhe daria um 7,5. Mas nesta tendência minha de não dar mais notas quebradas, como prêmio pela sua originalidade, a nota será aumentada para 8.0.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crítica - Que Horas Ela Volta? (2015)

Título: Que Horas Ela Volta? ("Que Horas Ela Volta?", Brasil, 2015)
Diretor: Anna Muylaert
Atores principais: Regina Casé, Michel Joelsas, Camila Márdila, Karine Teles, Lourenço Mutarelli
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Dffs46VCJ_g
Nota: 8,0
Brilhante, ao expor diversos dramas sem ser piegas e com poucos clichês

Que Horas Ela Volta? estreou nos cinemas há um mês. Em muitos lugares, até saiu de cartaz. Mas... voltou! O novo filme da diretora e roteirista Anna Muylaert (Durval Discos, Castelo Rá-Tim-Bum, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias) teve uma justíssima sobrevida graças ao boca-a-boca positivo do público, e também ao destaque dado pela mídia nacional, que mostra notícias sobre a boa recepção do filme no exterior, as quais se incluem os festivais de Berlim e Sundance onde recebeu prêmios importantes.

Na história, Val (Regina Casé) deixa sua casa e sua filha pequena Jéssica (Camila Márdila) em Pernambuco e parte para São Paulo em busca de emprego. Trabalhando há mais de 10 anos como babá e empregada doméstica para os patrões Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), Val não vê a filha desde então. Então, um fato muda tudo: Jéssica vem a São Paulo para prestar vestibular e morar com a mãe. O fato de Val morar em um quartinho na mansão dos patrões é o estopim para vários conflitos posteriores.

Ao contrário do que a sinopse acima induz, Que Horas Ela Volta? não trata apenas das questões de diferenças de classes, da hipocrisia dos ricos e da complicada relação empregado-patrão. Graças a um roteiro brilhante de Muylaert (no qual trabalhou por vários anos), o filme também aborda famílias disfuncionais, diferenças entre gerações, traição, ascensão social, regionalismo... há até espaço para umas cutucadas no atual custo de vida brasileiro.

Todos estes assuntos são colocados sem sentimentalismo e quase sem clichês. O "quase" precisa ser empregado devido aos personagens dos patrões: caricatos; mas que ainda assim, não comprometem o filme.

Que Horas Ela Volta? usa muitos planos fechados, ambientes internos, mas sem o uso de closes. Desta maneira temos uma estudada cumplicidade sobre tudo o que acontece: conseguimos observar ao mesmo tempo não apenas o comportamento de Val e sua filha, como também de todos os integrantes da casa, até os outros empregados. O pouco uso de trilha sonora também contribui com a sensação de realismo trazida pelo filme.

Regina Casé - que dividiu com Camila Márdila o prêmio de melhor atriz dramática em Sundance - de fato está muito bem. Porém, não é uma atuação espetacular. De qualquer forma, seu trabalho é admirável: conhecida nacionalmente pelo esteriótipo de "comediante nordestina" ela foge desta sua antiga persona com maestria e carisma. Aliás, por falar em comédia, Que Horas Ela Volta? tem suas (muito boas) pitadas de humor, mas não se enganem, este é um filme povoado basicamente de dramas.

Em tempos onde o brasileiro sofre de má-estima devido as péssimas notícias sócio-econômicas que infestam os noticiários, ver um filme 100% nacional tão bem escrito é um alento. O Brasil continua produzindo pessoas e materiais inspiradores. Vamos acreditar mais em nós mesmos! Nota: 8,0

PSQue Horas Ela Volta? já nasceu favorito a ser nosso filme candidato para o Oscar 2016. E eu diria que é um dos filmes com maiores chances de vitória em anos! Vai levar? Aí, admito, será difícil. Não por que lhe falta qualidade. Mas por que julgo que o tema escolhido já está um pouco desgastado entre a Academia. Espero estar errado!

PS 2: Este é meu post 200 no blog. Fico feliz que este marco tenha acontecido com um filme tão bacana!

domingo, 6 de setembro de 2015

Crítica - Expresso do Amanhã (2013)

Título: Expresso do Amanhã ("Snowpiercer", Coréia do Sul / EUA / França / República Checa, 2013)
Diretor: Joon-ho Bong
Atores principais: Chris Evans, Kang-ho Song, John Hurt, Tilda Swinton, Jamie Bell, Octavia Spencer, Ah-sung Ko
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=okeVv_MQLTk
Nota: 5,0
Imprevisibilidade é a grande qualidade desta ficção pós-apocalíptica

Não deixa de ser estranho que a distribuidora PlayArte tenha colocado Expresso do Amanhã nos cinemas brasileiros somente agora, já que o filme é de 2013 e estreou na maior parte dos cantos do mundo ainda no primeiro semestre de 2014.

O filme é dirigido pelo sul-coreano Joon-ho Bong, que vem ganhando ao longo dos anos público e fama no ocidente, graças a trabalhos como O Hospedeiro (2006) e Mother - A Busca Pela Verdade (2009). Este, entretanto, é seu primeiro trabalho nos EUA e já nasceu repleto de estrelas hollywoodianas. Completam o elenco os também coreanos Kang-ho Song e Ah-sung Ko, que trabalharam com Joon Ho anteriormente.

Baseado na graphic novel francesa Le Transperceneige, a história de Expresso do Amanhã mostra que para acabar com o aquecimento global a humanidade lançou na atmosfera o composto CW7... que funcionou bem demais, congelando todo o planeta e praticamente extinguindo todas as formas de vida. Os poucos humanos sobreviventes estão confinados dentro de um trem em movimento, projetado para durar "para sempre". Vivendo há 18 anos nos "últimos vagões", em um ambiente de grande confinamento e pobreza, Curtis (Chris Evans) é o líder de uma revolta que objetiva levar seu povo até "o primeiro vagão", e controlar o trem trazendo igualdade a todos.

A verdade é que para assistir Expresso do Amanhã o espectador precisa ter uma enorme suspensão de descrença. Mesmo vendido como ficção científica, o universo montado dentro do trem é repleto de absurdos e furos de roteiro. Claro, todo esta fraca ambientação foi criada apenas para ser usada como metáfora para os conflitos sociais atuais: a separação entre pobres e ricos, a diferença enorme de qualidade de vida entre eles. No aspecto da crítica social, Expresso do Amanhã funciona bem; seja pelo debate filosófico ao final do filme, ou pela denúncia ao colocar atores negros apenas entre os pobres.

É uma pena ver, entretanto, que os problemas com o roteiro vão além do inverossímil universo criado em Expresso do Amanhã. Exageros surgem também nos pequenos detalhes, como por exemplo, no início do filme, onde vemos uma mulher atingida na nuca por um sapato arremessado sangrar devido a este fraco golpe... e na testa!

A fotografia do filme é bonita, e o design de produção, principalmente no que se refere a construção dos vagões - cada um deles possui um visual / função bem distinta - também tem destaque positivo. Entretanto, novamente as falhas aparecem. Por exemplo, ao percorrer pelo trem temos até vagões discoteca, mas não temos vagões dormitórios. Aonde estas centenas de pessoas dormem?

Curiosamente, todas esta falhas e absurdos acabam tendo um lado bastante positivo: a imprevisibilidade. Esta, talvez, a maior qualidade de Expresso do Amanhã. A cada vagão explorado, não temos a menor idéia do que vamos encontrar pela frente. Há muita surpresa e bizarrice. Em um cinema atualmente tão repetitivo, é agradável e raro ser surpreendido.

Aliás, ainda sobre estas "falhas" na história, o longo diálogo explicativo da parte final - que lembra bastante aquela conversa que Neo tem com o Arquiteto em Matrix Reloaded - consegue, de fato, explicar algumas coisas que outrora não faziam sentido. Mas também não só deixa de explicar muito, como também gera novos furos, como por exemplo, uma insinuação sobre o passado do personagem de Tilda Swinton que só funcionaria se ela tivesse menos de 25 anos, o que não acontece.

Fraco como ficção científica, mas razoável como drama e filme com bastante ação, Expresso do Amanhã somando todos seus prós e contras se torna um filme aceitável e com cenas visualmente marcantes. Nota: 5,0

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Crítica - Ted 2

Título: Ted 2 ("Ted 2", EUA, 2015)
Diretor: Seth MacFarlane
Atores principais: Mark Wahlberg, Seth MacFarlane (vozes), Amanda Seyfried, Jessica Barth, Giovanni Ribisi, Morgan Freeman
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=znssIpxQVa4
Nota: 6,0
Superior ao anterior, Ted melhora no formato mas não no conteúdo

Três anos atrás, as aventuras do ursinho Ted foram um surpreendente sucesso de bilheteria, ultrapassando a marca de US$ 500 milhões de arrecadação. Eu, entretanto, não partilhei desta empolgação. Em seu retorno, e agora com mais bagagem como diretor, Seth MacFarlane aprendeu com algumas deficiências do filme anterior e trouxe para Ted 2 um formato muito mais próximo do seriado que o consagrou, o Family Guy: o uso constante de cenas curtas non-sense, trazendo muito mais humor ao filme.

Saem portanto os enfadonhos romances de John (Mark Wahlberg) e entram ainda mais piadas aleatórias, melhorando o resultado final da produção. Se, entretanto, em Ted 2 temos mais humor e mais piadas, o conteúdo das mesmas não mudou em relação ao filme anterior: muitas piadas sobre sexo (e pênis), apologia a maconha, críticas a celebridades, e muitas... muitas referências a cultura pop atual e dos anos 80.

Na história desta continuação, Ted (Seth MacFarlane) está casado com Tami-Lynn (Jessica Barth), porém em plena crise conjugal. Para salvar o casamento, resolvem adotar uma criança. Mas... Ted não pode ser pai pois não é considerado um ser humano pela lei. É então que junto com seu amigo de sempre John eles contratam a advogada novata Samantha (Amanda Seyfried) para ajudá-los na justiça. O roteiro é bem fraco, sequer faz sentido. Apenas serve de ligação entre as esquetes cômicas.

É claro que Mark Wahlberg e Amanda Seyfried vão se tornar o par romântico do filme. Mas felizmente, o enfoque a este namoro é muito pequeno. Desta vez as atenções estão muito mais no ursinho, o que é uma notícia positiva. E por falar em Mark Wahlberg, em vários momentos ele me passou a sensação de estar entediado com o filme. Ainda bem que o mesmo não acontece com os demais atores, que levam a atuação a sério e vão bem.

Me diverti bem mais com Ted 2, comparando com o filme inicial. O aumento das piadas - e muitas delas são realmente bem engraçadas - dão mais dinamismo e velocidade ao filme. Por outro lado, também há outras piadas muito ruins, de puro mal gosto. Uma coisa que talvez MacFarlane ainda não tenha se apercebido é que algumas piadas que funcionam em um desenho adulto tem efeito contrário quando feitas por atores de carne e osso.

Outro ponto curioso da trama é que seu desfecho se passa dentro da Comic Con de Nova York. Se por um lado isto proporciona uma cena de luta generalizada bizarra e bastante engraçada, por outro, também traz algumas das piores piadas do filme, com o personagem do ator Patrick Warburton batendo e abusando de nerds. Aliás, a Comic Con multiplica as referências a cultura pop. O fato do mesmo Warburton fazer cosplay do herói The Tick (sendo que ele mesmo foi o interprete do personagem em uma série de TV de 2001) é um detalhe bem bacana.

Engraçado, mas longe de ser uma grande comédia, Ted 2 é superior ao seu antecessor, porém MacFarlane ainda não conseguiu em qualquer um dos seus filmes live-action chegar perto da mesma graça que ele alcança com seu Family Guy. E ironicamente, mesmo sendo este filme melhor, Ted 2 caminha para não arrecadar nem metade do que o primeiro filme arrecadou. Seria reflexo de que o humor de MacFarlane já não ser algo novo nos cinemas? Nota: 6,0

domingo, 23 de agosto de 2015

Crítica - Viagem à Lua de Júpiter (2013)

Título:Viagem à Lua de Júpiter ("Europa Report", EUA, 2013)
Diretor: Sebastián Cordero
Atores principais: Sharlto Copley, Michael Nyqvist, Christian Camargo, Daniel Wu, Anamaria Marinca, Karolina Wydra
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=XhdRYk1Y8VA
Nota: 7,0
Um exemplo de que boa Ficção Científica não precisa de grande orçamento

Quarto maior satélite do planeta Júpiter, se acredita que Europa é um mundo oceânico recoberto por uma extensa camada de gelo. E se abaixo da superfície há mesmo uma gigantesca massa de água líquida, são boas as chances de que lá exista algum tipo de vida. É por isto que em termos de ciência e astronomia, um dos meus maiores sonhos é que a humanidade pousasse lá para ver o que há abaixo do gelo. Infelizmente, entretanto, não deverei estar vivo quando este momento acontecer. Menos mal que posso sonhar com isto através do cinema, com o filme Viagem à Lua de Júpiter.

Filmado como se fosse um documentário, logo de cara temos uma sinistra introdução: "os primeiros 6 meses da viagem à Europa foram transmitidas ao vivo para a Terra... quando então, toda comunicação se cessou. Com milhares de horas de filmagens recém-descobertas, agora somos capaz de completar a história deles".

Então, nem sempre de maneira cronológica, somos apresentados às imagens gravadas no espaço, ora dentro da nave (a maioria do tempo), ora em câmeras acopladas no capacete dos astronautas quando fora dela. Com este "recurso" temos uma visão bem limitada, claustrofóbica, de tudo o que está acontecendo. Visão esta que é a mesma sofrida pelos tripulantes. Desta maneira, através do constante "desconhecido", o filme é bem sucedido no seu clima de suspense durante toda a projeção.

A tensão é tão bem construída que as vezes nos esquecemos que se trata de um "documentário". E só somos relembrados do fato através de alguns depoimentos de dois dos cientistas do projeto que ficaram na Terra, e um dos tripulantes. Assim como as cenas do filme, estes depoimentos não aparecem cronologicamente. Inicialmente entendi estas interrupções e quebras de linearidade do tempo como problemas no roteiro. Mas, ao desfecho, acabei aprovando esta montagem, já que ela garantiu que uma das cenas mais emocionantes de Viagem à Lua de Júpiter não aparecesse no começo do filme, e também, permitiu uma pequena surpresa nos momentos finais.

Tirando o clima de suspense, não há nada de excepcional em Viagem à Lua de Júpiter, mas por outro lado, o filme também não tem nenhum grande defeito. Tudo é bem feito. O filme possui baixo orçamento (menos de US$ 10 milhões no total), mas nos poucos momentos que precisa de efeitos especiais (mostrar o exterior de Europa, por exemplo), o faz de maneira satisfatória. As atuações não são brilhantes, mas convencem. E não deixa de ser bacana que a equipe de astronautas que deveria ser multi-nacional na ficção, também o é na vida real: dos seis atores que compõe a tripulação temos uma romena (Anamaria Marinca), um sueco (Michael Nyqvist), uma polonesa (Karolina Wydra), um sul-africano (Sharlto Copley) e dois estadunidenses (Christian Camargo e Daniel Wu).

O roteiro, bem simples, satisfaz ao flertar com alguns dos principais clichês do gênero para em seguida, fugir dos mesmos. Talvez a grande qualidade de Viagem à Lua de Júpiter seja manter os seus "pés no chão", sendo bem fiel às viagens espaciais reais e sem apelar para perigos vindos de "monstros alienígenas". O ser humano e nossa tecnologia atual já são frágeis o suficiente para estarem em uma situação de extremo perigo numa simples ação como caminhar pela superfície de um corpo celeste que não a Terra.

Parado, lento, com poucas cenas de ação, mas com bastante suspense psicológico e bastante amor à ciência em seus personagens, Viagem à Lua de Júpiter tem de tudo para agradar o verdadeiro fã de Ficção Científica espacial. Nota: 7,0

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Crítica - Missão: Impossível - Nação Secreta (2015)

Título: Missão: Impossível - Nação Secreta ("Mission: Impossible - Rogue Nation", EUA / China / Hong Kong, 2015)
Diretor: Christopher McQuarrie
Atores principais: Tom Cruise, Rebecca Ferguson, Jeremy Renner, Simon Pegg, Sean Harris, Alec Baldwin, Ving Rhames
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=OT5PnSOV3Og
Nota: 8,0
Provavelmente o melhor da franquia, filme vai além de Tom Cruise

O segredo da longevidade da franquia Missão: Impossível reside em Tom Cruise. Produtor e estrela dos cinco filmes; e mais recentemente, transformando sua "mística" de dispensar dublês em cena de ação como objeto majoritário do marketing de seu novo trabalho.

Missão: Impossível - Nação Secreta já fez barulho antes da estréia, afinal, o fato de que ele andou de avião pendurado do lado de FORA (ver foto acima) correu o mundo. A cena, embora curta, é impressionante, vertiginosa. Para mais detalhes sobre sua produção, clique aqui.

Não deixa de ser curioso, entretanto, que apesar de toda competência de Tom Cruise (e como o crítico Pablo Villaça costuma dizer, o americano é o ator que mais convence que está realmente se esforçando ao máximo em todas as suas cenas de ação), é o fato dele estar muito bem acompanhado (tanto dentro como fora das câmeras) o grande trunfo de Missão: Impossível - Nação Secreta.

Pela primeira vez como diretor na franquia (cada um dos 5 filmes teve um diretor diferente), Christopher McQuarrie faz um excelente trabalho, além de também ser o roteirista. Aliás, McQuarrie é mais conhecido justamente por seus bons roteiros, como por exemplo o do também excelente No Limite do Amanhã, que também conta com Tom Cruise. Cenas de ação muito bem filmadas, fluidas, empolgantes, e deixando bem claro para o espectador o que está acontecendo na tela; ótimo timing para o uso do humor e da trilha sonora, tudo muito bem feito tecnicamente.

Para as atuações, um elenco numeroso e bem estrelado (ver o "Atores principais" acima). E além do próprio Cruise, também roubam a cena Rebecca Ferguson (charmosa, convence bastante como espiã e atriz de ação), Simon Pegg (que é o alívio cômico sem ser ao mesmo tempo um "pateta", pelo contrário, alguém muito competente), e Sean Harris (que faz um vilão verdadeiramente mal e perturbado).

Na história, Ethan Hunt (Cruise) descobre que todos os atentados terroristas dos últimos anos são de responsabilidade do Sindicato, grupo que só ele acredita existir. Ao mesmo tempo em que é capturado pelos vilões, sua equipe (a IMF) é desmantelada pelo diretor da CIA Alan Hunley (Alec Baldwin) sob desculpa de se expor demais. Ao fugir do cativeiro graças a ajuda da misteriosa Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), Ethan acaba sendo duplamente perseguido pelo mundo: pelo Sindicato e pela CIA (já que como Hunt não aceitou "aposentar", agora é visto como fugitivo). Sua chance de redenção? Provar que o Sindicato existe e de quebra salvar o planeta.

Com um ritmo eletrizante, Missão: Impossível - Nação Secreta prende a atenção do espectador do começo ao fim. O roteiro tem alguns pequenos furos e exageros, mas em geral, é mais elaborado que o padrão para filmes de ação atuais. E isto é uma boa notícia. O enredo é dinâmico e apresenta boas reviravoltas.

Interessante notar que mesmo repetindo vários elementos dos filmes anteriores, Missão: Impossível - Nação Secreta não cansa, por "repetir sem se repetir". Explico: temos a longa perseguição de veículos de sempre? Temos. Mas agora, a maior perseguição é com motos, o que a torna muito mais barulhenta e perigosa. Temos a invasão de um prédio impossível de penetrar? Temos. Mas agora temos a presença de cenas subaquáticas.

O som também agrada bastante em M:I 5. Não só pela escolha de ótimas músicas (o que inclui algumas excelentes variações da música tema da franquia), mas também por usar o som ambiente para apimentar as cenas de ação (o motor das motos, ou ainda, o tom "épico" de uma peça de Ópera).

Com Tom Cruise estando bem como sempre, mas desta vez melhor acompanhado do que nunca, Missão: Impossível - Nação Secreta é provavelmente o melhor filme da franquia, que 19 anos após seu primeiro filme, continua em ascendência. Portanto, o fato de Missão: Impossível 6 já estar confirmado mesmo antes da estréia deste quinto capítulo nos cinemas, deve ser encarado como algo animador. Nota: 8,0

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