sábado, 29 de julho de 2017

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

TítuloEm Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017)
Diretor: Edgar Wright
Atores principais: Ansel Elgort, Kevin Spacey, Jon Hamm, Eiza González, Lily James, Jamie Foxx, CJ Jones, Jon Bernthal
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=TJrKYWPBTrc
Nota: 8,0
 Tudo o que Velozes e Furiosos e La La Land queriam ser e não conseguiram...
em um único filme

Um dos aspectos que mais valorizo em um filme é o quanto ele é diferente, inovador. E este é o caso do surpreendente Em Ritmo de Fuga. Na história, Baby (Ansel Elgort) é o motorista de fuga de uma gangue de assaltantes, em um filme repleto de ação. Portanto... nada novo até aí. O que torna Em Ritmo de Fuga diferente é o uso da música: Baby ouve músicas altas com seu fone de ouvido o tempo todo, sem parar, e nós espectadores ouvimos tudo junto com ele. Parafraseando seu diretor, Edgar Wright, o filme é "dirigido pela música". Em vários momentos Baby dança junto com sua trilha sonora em situações das mais inusitadas; ou ainda, em outras cenas, a ação acompanha o ritmo da música tocada... como por exemplo, os disparos em um tiroteio acompanhando as batidas da trilha musical.

Por mais estranho ou cansativo que a descrição acima pode parecer, o resultado é ótimo. Ver Baby em seu "mundo sonoro particular" dançando e ouvindo música o tempo todo enquanto tudo ao seu redor explode de ação em um ritmo frenético é uma experiência bastante agradável.

Comentando as comparações entre filmes que fiz no subtítulo acima, Em Ritmo de Fuga também possui manobras e perseguições de carro malucas, personagens "machões / fodões", mas diferentemente da franquia Velozes e Furiosos, aqui as cenas de ação são mais críveis, menos exageradas, muito melhor filmadas (sem aquele excesso absurdo de cortes de cenas), e com atores que sabem atuar de verdade. Já em relação a La La Land... ok, Em Ritmo de Fuga não é um musical. Entretanto, ambos possuem como destaques principais muita música e um casal de jovens inocentes, sonhadores e apaixonados. La La Land - que até é um bom filme - tentou modernizar os musicais do passado. E que para mim, fracassou neste quesito. O primeiro tem um apelo para o público mais velho; já o segundo, para o público mais jovem. É Em Ritmo de Fuga que consegue, afinal, trazer uma maneira nova e atualizada para desfrutar músicas no Cinema.

E que músicas! A trilha sonora é excelente, e mesmo sendo em sua maioria músicas mais agitadas, há também algumas canções mais lentas. No geral, entretanto, são todos ritmos bem dançantes. Ah sim: se em La La Land muitas músicas são de Jazz, aqui temos uma variação muito maior, cobrindo lançamentos do último meio século, e alternando entre diversos estilos de Rock, R&B, Soul e Pop.

Em Ritmo de Fuga não é só som. A fotografia tem alguns bons momentos, principalmente em algumas cenas de plano sequência. As cenas de ação também são muito boas e o roteiro com várias surpresas... é como se fosse um roteiro de Tarantino sem o destaque para os diálogos.

Em Ritmo de Fuga é minha maior surpresa positiva nos Cinemas deste ano até agora. E que com este filme o jovem diretor/roteirista Edgar Wright ganhe um maior e merecido reconhecimento. Você acha que não conhece seu trabalho? Pois Wright por exemplo também dirigiu Todo Mundo Quase Morto e Scott Pilgrim Contra o Mundo, e foi o roteirista de Homem-Formiga e As Aventuras de Tintim dentre outros. Mais um nome para acompanharmos mais de perto. Nota: 8,0

domingo, 23 de julho de 2017

Crítica - Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

TítuloHomem-Aranha: De Volta ao Lar ("Spider-Man: Homecoming", EUA, 2017)
Diretor: Jon Watts
Atores principais: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Jon Favreau, Jacob Batalon, Laura Harrier
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=x5Q0AzHr3FM
Nota: 8,0
O filme mais heróico do UCM

Ao invés de comparar este primeiro filme solo da 3ª encarnação do Homem Aranha nos cinemas com os filmes anteriores do Cabeça de Teia, irei compará-lo com todos os filmes do UCM (Universo Cinematográfico Marvel). E nesta comparação, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que melhor transmite o sentimento de heroísmo dentre todos os filmes UCM até agora.

Neste 2º do Aranha temos o Peter Parker (Tom Holland) mais novo de todos, com 15 anos. Ou seja, ao invés de vê-lo "saindo" do colegial, ele ainda está em seu começo (curiosidade: Holland tinha 19 anos na época das filmagens). Na história, o garoto começa sua vida de super-herói enfrentando bandidos "comuns". Quando aparece a gangue do Abutre (Michael Keaton), que começa a vender armas alienígenas de grande poder de devastação em sua Nova York, o Homem Aranha tenta impedir o pior, enfrentando o maior desafio de sua vida.

O dilema principal deste filme é que Peter descobre que ao se tornar o Homem Aranha ele põe em risco de vida a Tia May (Marisa Tomei), que representa toda única família que ele tem; e põe a perder o relacionamento com a garota que ele adora, Liz (Laura Harrier). Além disto, inexperiente como combatente e desacostumado com os próprios poderes, em alguns momentos Peter teme pela própria vida, assustado em situações de alto risco. Para piorar, ele atua contra a vontade de Tony Stark (Robert Downey Jr.), ou seja, também coloca em risco sua chance de um dia ser aceito pelo grupo dos Vingadores.

Nunca nos filmes da Marvel um protagonista teve tanto a perder. E apesar de tudo, Peter Parker não desiste, pois sabe que tem um dever. O Homem Aranha até "curte" o sonho de ser super no começo da história. Mas quando as coisas se tornam realmente sérias, a "brincadeira" acaba e ele se sacrifica sem hesitar para ajudar as pessoas, que é a definição de herói e está um pouco esquecida nos cinemas atualmente. Aquelas "piadinhas" características dos filmes da Marvel aparecem em poucos momentos: estamos falando de um filme que enfim transmite perigo e seriedade nos desafios ao herói.

O tom mais "caseiro" de Homem-Aranha: De Volta ao Lar (ou seja, ele precisa salvar sua cidade, e não o mundo ou o universo) traz várias vantagens. As cenas de ação são bem filmadas e dispensam aquela quantidade absurda de efeitos especiais. Outra vantagem é que enfim no MCU temos um vilão de motivações críveis e interessantes, e que - respondendo a "cutucada" do escritor de Game of Thrones, George R. R. Martin - finalmente temos um vilão que tem poderes diferentes do herói.

Se tecnicamente o filme agrada bastante, assim como suas cenas de ação, em termos de elenco e coadjuvantes Homem-Aranha: De Volta ao Lar comete seus deslizes. A maioria dos personagens da escola de Peter são caricatos, sem graça, e quebram o ritmo do filme. O mesmo acontece com os descartáveis companheiros do Abutre, que mais parecem que estão no filme porque pagaram para fazer uma ponta, do que por atuação. Também é de se lamentar a pouca atenção dada à Tia May em detrimento da atenção exagerada dada a "Happy" (Jon Favreau), que pela milésima vez não convence com ator.

Simples, eficiente e heróico, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é outro exemplo bem sucedido de renovação em filmes de super-herói, trazendo um tom diferente dos principais blockbusters da atualidade. Nota: 8,0.


PS 1: o filme possui duas cenas pós-créditos.

PS 2: o cinema imita a vida ou o contrário? São várias as "curiosidades" que misturam a vida real com este filme. Por exemplo, o ator Michael Keaton teve sua carreira "encerrada" após viver o Batman nos cinemas, para ser "ressuscitada" como um aposentado ator de um Birdman, para neste filme viver o também "pássaro" Abutre, em uma cena sob o luar que é igualzinha a que ele protagonizou no filme do Morcegão no passado; outro exemplo é que a voz do computador do Homem de Ferro - Jarvis - é feita por  Paul Bettany. Já a voz do uniforme deste Homem Aranha - Karen - é dublada por Jennifer Connelly. Bettany e Connelly são casados desde 2001.

domingo, 2 de julho de 2017

Dupla Crítica Filmes Netflix: Okja (2017) e Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo (2017)


Com poucos filmes interessantes em cartaz atualmente nos cinemas brasileiros, sempre resta a opção de assistir bons filmes em casa. Seguem breves críticas de mais dois filmes disponibilizados este ano na Netflix brasileira. O primeiro deles, aliás, estreou há apenas 4 dias atrás, em 28 de Junho. Aprendam mais sobre estes dois desconhecidos títulos!


Okja (2017)
Diretor: Bong Joon Ho
Atores principaisAhn Seo-hyun, Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal, Byun Hee-bong, Steven Yeun, Yoon Je-moon, Giancarlo Esposito

Filme escrito e dirigido pelo bom cineasta Sul-Coreano Bong Joon Ho (Expresso do Amanhã, O Hospedeiro), misturando atores de seu país com atores consagrados de Hollywood.

Na história, Lucy Mirando (Tilda Swinton), a presidente de uma enorme e gananciosa companhia estadunidense anuncia a descoberta de uma nova geração de porcos, os "superporcos", futura solução para acabar com a fome do mundo e preservando o ambiente. Os 26 primeiros "superporcos" são deixados por 10 anos em países diferentes, para ver como eles se comportam diante de criadores de costumes distintos. O porco enviado para a Coréia do Sul acabou se tornando o grande amigo da adolescente Mija (Ahn Seo-hyun), que quando é obrigada a devolver o amigo para a companhia Mirando, se recusa a fazê-lo.

Okja é um filme que critica as grandes corporações, ironiza os defensores dos animais, mas que ao mesmo tempo mostra o quão cruel é o consumo animal pelos humanos. O filme tem boa fotografia, boa trilha sonora, e consegue transmitir os sentimentos e dor da protagonista e de seu amigo animal.

Okja é certamente um bom filme, gostoso de acompanhar, e que nos leva a refletir e pensar. Seu ponto fraco é que sua mensagem é enfraquecida por alguns deslizes no humor (os personagens são em geral estereotipados e bizarros demais) e algumas cenas de ação que embora cinematograficamente bonitas, nada acrescentam à trama. Bong Joon Ho (que as vezes também aparece como Joon Ho Bong) continua fazendo filmes diferentes que valem a pena acompanhar. Nota: 7,0



Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo (2017)
Diretor: Macon Blair
Atores principais: Melanie Lynskey, Elijah Wood, Gary Anthony Williams, Devon Graye

Vencedor do prêmio do Grande Juri no festival de Sundance 2017 como melhor filme de drama estadunidense, aqui temos a história de Ruth (Melanie Lynskey), uma deprimida e solitária assistente de enfermagem que teve sua casa furtada e - devido o descaso da polícia - decide recuperar seus pertences com a ajuda de seu vizinho Tony (Elijah Wood).

Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo é um filme repleto de humor negro, personagens esquisitos, e bastante violento em sua parte final. Estas características lembram um filme de Quentin Tarantino... mas a comparação para por aí. Esqueça os atores famosos, os longos e inspirados diálogos, ou ainda, a ótima trilha sonora. Aliás, esqueça também o clima de aventura dos filmes "Tarantinescos". Aqui temos um drama, de ritmo lento, em que os acontecimentos violentos e bizarros não nos fazem rir, e sim, sentir pena da protagonista.

Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo é um filme diferente, para quem gosta de ser surpreendido mas não se importa em ver um filme lento e melancólico. Nota: 7,0

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Dupla Crítica Filmes Netflix: War Machine (2017) e Shimmer Lake (2017)


Dois filmes de produção Netflix e que estrearam neste Junho de 2017 no canal de streaming brasileiro. Ambos os filmes são "incomuns", e apesar das notas não serem altas, acreditem: gostei e recomendo ambos. Confiram!


War Machine (2017)
Diretor: David Michôd
Atores principais: Brad Pitt, Anthony Hayes, John Magaro, Anthony Michael Hall, Topher Grace, Alan Ruck, RJ Cyler, Will Poulter

Com personagens bastante bizarros e caricatos - principalmente o protagonista, interpretado por Brad Pitt - War Machine é claramente um filme de comédia, no que fracassa fortemente, já que o filme simplesmente não consegue fazer rir.

Na história, após anos de ocupação estadunidense no Afeganistão, o general McMahon (Pitt) e seu grupo é enviado ao país citado para "resolver a situação". A primeira metade do filme foca principalmente em política e preparativos, e na segunda metade há algumas cenas de batalha.

Apesar de não fazer rir e ser um pouco cansativo para assistir, War Machine não deixa de ser bem interessante para quem curte história e política internacional. As críticas do filme em relação ao exército, a política externa dos EUA, e às guerras em geral são fortes e curiosas. Se War Machine falha ao não fazer rir, é bem sucedido em dar uma visão diferente sobre as incursões estadunidenses no oriente. Em suma, o filme tem suas qualidades, embora não sejam as esperadas. Nota: 5,0


Shimmer Lake (2017)
Diretor: Oren Uziel
Trailer: n/a (não existe em português e dá muito spoiler do filme)
Atores principais: Benjamin Walker, Ron Livingston, Wyatt Russell, Rainn Wilson, Stephanie Sigman, Adam Pally, John Michael Higgins, Rob Corddry, Mark Rendall

Como principal atrativo, Shimmer Lake é um filme que se passa de trás para frente. Mostrando eventos relacionados a um assalto a banco (que ocorreu em uma terça-feira), primeiro vemos os acontecimentos da sexta-feira (3 dias depois), e em seguida, voltando no tempo, da quinta-feira, da quarta-feira, e por fim, vemos a terça do roubo que deu origem à história.

A parte mais difícil de se fazer um filme como este, é manter a história interessante e repleta de "revelações surpresas" mesmo sendo contado cronologicamente ao contrário. E Shimmer Lake consegue ser bem sucedido na tarefa. Eu mesmo fiquei bastante surpreso com os eventos do último capítulo.

Comparando a outro filme que é apresentado "de trás pra frente", o ótimo Amnésia (2000) de Christopher Nolan, a diferença é que Shimmer Lake é menor em todos os sentidos. A produção é bem mais modesta, o drama em si é bem mais trivial e menos impactante que o de Amnésia, e até os atores são inferiores, apesar de fazerem um trabalho aceitável.

Para quem quer ver um filme policial diferente, Shimmer Lake é uma boa pedida para passar o tempo em casa. Nota: 6,0

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Dupla-Crítica: Corra! (2017) e Silêncio (2016)


Dois filmes que estrearam nos cinemas brasileiros em 2017 mas que já saíram de cartaz. Eles possuem alguma relação? Sim: temas polêmicos e lados opostos de campanhas de divulgação. Enquanto Corra! teve uma massiva campanha publicitária em nosso país, Silêncio passou despercebido pela mídia, e exibido em pouquíssimas salas. E olhe que estamos falando de um filme do grande Martin Scorsese!

Vamos a breves análises sobre cada um deles.


Corra! (2017)
Diretor: Jordan Peele
Atores principais: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener

Dirigido e roteirizado pelo ator e comediante negro Jordan Peele, o filme foca totalmente no tema racismo. Sendo mais filme de terror do que suspense, os personagens são tão bizarros e a história é tão inverossímil, que Corra! acaba se afastando um pouco do mundo real, o que infelizmente enfraquece seu forte tom de crítica social.

Apesar dos problemas no roteiro e diálogos (várias vezes vemos pessoas falando sozinhas em voz alta para "entender" o que elas estão pensando - um recurso bem pobre), Corra! também possui algumas boas qualidades. O diretor tem seus méritos em deixar o espectador o tempo todo desconfortável, tenso. Por transmitir estas sensações, Peele merece elogios e minha futura atenção.

O maior ponto forte de Corra! é o elenco. Todos estão muito bem, em especial a dupla protagonista Daniel Kaluuya e Allison Williams. A atriz - que eu desconhecia até então - me impressionou bastante.

Resumindo, Corra! é uma espécie de episódio de nível razoável do falecido seriado Além da Imaginação, ou ainda, do atual seriado Black Mirror. Como diretor, Peele está aprovado. Já como roteirista... no mínimo ele precisa estudar um pouco mais sobre ciência básica. Nota: 6,0


Silêncio (2016)
Diretor: Martin Scorsese
Atores principais: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson, Tadanobu Asano, Yôsuke Kubozuka, Issei Ogata

Filme de Martin Scorsese, em desenvolvimento pelo diretor desde 1990. Somando os fatos, Silêncio deveria ser um grande evento. Entretanto o filme foi injustamente ignorado nos EUA e no Brasil... provavelmente pelo seu tema.

Baseado em um livro de ficção de 1966 escrito pelo japonês Shūsaku Endō, a trama se passa em 1640, onde acompanhamos a viagem dos padres jesuítas Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) para o Japão, com a missão de "resgatar" o padre Ferreira (Liam Neeson), que partira para o Oriente para catequizar os japoneses.

O forte teor histórico e a belíssima fotografia são os pontos fortes de Silêncio. O filme também debate questões como: "qual a verdadeira eficiência de converter uma pessoa de cultura e religiões completamente diferentes das suas?", ou ainda, "vale a pena morrer em nome de sua crença?".

Se as perguntas são bem relevantes, é o desenvolvimento em volta delas que enfraquece Silêncio. As mesmas questões são repetidas durante todo o filme, com os personagens ponderando sobre o assunto enquanto são continuadamente torturados pelos japoneses.

Contemplativo e melancólico, Silêncio possui várias cenas marcantes e temas interessantes para quem gosta de história e teologia. Porém seu excesso de duração e a falta de variações nas cenas enfraquecem um pouco o seu resultado final. Nota: 7,0

sábado, 3 de junho de 2017

Crítica - Mulher-Maravilha (2017)

Título: Mulher-Maravilha ("Wonder Woman", China / EUA / Hong Kong, 2017)
Diretor: Patty Jenkins
Atores principais: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Connie Nielsen, Danny Huston, David Thewlis, Elena Anaya
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=osdoIpEQ3OM
Nota: 7,0
Após duas decepções seguidas, a DC volta a entregar um filme decente

Após duas produções com edição e roteiro de baixa qualidade (Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida) o universo cinematográfico da DC Comics enfim volta a apresentar um filme decente. Mulher Maravilha é um filme de origem que se arrisca pouco mas entrega boa diversão e uma profundidade acima da média nos filmes do gênero.

Na história, aprendemos que Diana (Gal Gadot) nasceu e cresceu na ilha de Themyscira, local que sempre se manteve isolado do mundo dos humanos. Quando o piloto estadunidense Steve Trevor (Chris Pine) cai com seu avião na ilha, a futura Mulher Maravilha fica conhecendo a existência da Primeira Guerra Mundial e resolve deixar seu lar para encerrá-la.

O roteiro de Mulher Maravilha é bastante equilibrado, trazendo história, humor e ação na medida certa. As piadas explorando o estranhamento de Diana tanto com nossas tecnologias, quanto ao mundo machista que vivemos é uma crítica sutil e eficiente ao nosso mundo. A inocência da protagonista também ajuda a ampliar seus atos de bondade e heroísmo, ideais que deveriam fazer parte de todos os super-heróis mas que nos filmes atuais - sejam da Marvel ou DC - infelizmente não são tão comuns.

O filme mescla com sucesso ficção e fatos históricos da Primeira Guerra, deixando tudo mais plausível. Ele também trás criticas às guerras e violência em geral. Somando então tudo o que descrevi nos dois últimos parágrafos temos um roteiro com muito mais conteúdo do que o normal para filmes de heróis.

A direção de Patty Jenkins (um mulher dirigindo uma grande produção é raro) mostra-se um acerto. Temos uma boa química entre os atores, boa trilha sonora; as cenas de ação são bem coreografadas, a apresentação do mundo das Amazonas e do doente mundo humano são bem feitas, e principalmente, ela usa as cenas em câmera lenta de maneira bem orgânica, sem atrapalhar o filme.

Aliás, a câmera lenta serve para encher os olhos congelando como em um quadro cenas épicas de luta, e também, a grande beleza da protagonista. Ouso a dizer que Gal Gadot vestida de Mulher Maravilha é a super-heroína mais bonita da história do cinema. A atriz israelense pode não ser uma boa atriz dramática, mas convence bastante como atriz de ação e possui enorme carisma e beleza.

Apesar de todos os elogios acima, Mulher Maravilha também comente um erro grave. O longo filme de 2h e 21min de duração começa de maneira excelente e vai perdendo sua força minuto a minuto... até chegar em um desfecho pavoroso.

Quase nada se salva no desfecho de Mulher Maravilha. A batalha final já não é muito boa devido ao CGI ruim e ao visual escuro. Mas os diálogos... é a maior reunião de clichês que vi em um bom tempo. Isto sem contar pelo menos dois acontecimentos - que não posso revelar aqui para não dar spoiler - que infelizmente chegam até a contradizer as críticas comportamentais que o filme fez durante toda a projeção.

Mulher Maravilha é em geral um filme bem redondinho e diversão para todos os gêneros e idades, mas que se perde vergonhosamente no final. Ainda assim, é um filme bem melhor do que a DC vem entregando nos últimos anos. Nota: 7,0

PS: não é filme da Marvel, então... não há cenas pós créditos.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Crítica - Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017)

Título: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar ("Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales", EUA, 2017)
Diretores: Joachim Rønning, Espen Sandberg
Atores principais: Johnny Depp, Javier Bardem, Geoffrey Rush, Brenton Thwaites, Kaya Scodelario, Kevin McNally
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=H8d1pD49JOk
Nota: 5,0
Este PRECISA ser o último filme desta franquia

A franquia Piratas do Caribe possui uma história curiosa, que começou em 2003 com Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra. Um filme sem muitas pretensões e que por isto mesmo acabou sendo uma diversão de alto nível, que de quebra apresentaria o engraçadíssimo Jack Sparrow de Johnny Deep para o mundo.

Depois vieram mais dois filmes - sendo o último destes ruim - que formavam uma única história e encerraram uma trilogia. Parecia o fim dos piratas nas telonas... mas em 2011 Sparrow e sua turma voltariam em Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, um filme decente com história fechada, que praticamente ignorava tudo da trilogia inicial e representava um novo começo.

O quinto filme demorou a acontecer, e somado ao fato de que ele estava sob o comando da dupla de diretores noruegueses do bom drama Expedição Kon Tiki (2012), tudo levava a crer que as mudanças em Piratas do Caribe continuariam.

Grave engano. Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar retoma fortemente à mitologia da trilogia inicial, a ponto de que se o espectador ainda não viu os filmes anteriores da série, ficará um pouco perdido diante dos acontecimentos em tela.

A trama é uma cópia mal feita do roteiro do primeiro filme, onde temos um morto-vivo querendo se vingar de Jack Sparrow - o vilão da vez é o Captão Salazar (Javier Bardem); e a presença de uma jovem dupla para fazer par romântico e compartilhar interesses com Jack. Dupla esta fraca na atuação e sem nenhum carisma, de longe a pior da franquia.

Como todo filme da série Piratas do Caribe, temos ação de qualidade, imagens belíssimas e um ritmo frenético. Mas mesmo em suas qualidades, tudo não deixa de ser um "mais do mesmo".

E também, mais dos mesmos problemas que fizeram o terceiro filme da franquia ser ruim: desnecessariamente longas 2h e 30min de duração, cenas de ação inverossímeis feitas em computação gráfica e exageradas em escala, um roteiro complexo cheio de furos e com pouco sentido.

Como se tudo isto não fosse desgraça suficiente, pela primeira vez Jack Sparrow não rouba a cena. Temos um Depp de expressão cansada, talvez até desanimada, que arranca poucos risos do público.

A verdade é que Piratas do Caribe deveria acabar. A qualidade dos filmes está ruim; o protagonista principal parece ter perdido interesse no personagem... e ainda há um motivo ainda maior que tudo isto: Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar se preocupa (em excesso, inclusive) em acabar com todas as pontas soltas da franquia. Aprendemos sobre a origem de Jack Sparrow, vemos o destino final de Barbossa e do barco Black Pearl, e etc. Reitero: não estou exagerando. Neste meu "etc" temos TODAS as pontas soltas resolvidas. Então, para que continuar uma saga que efetivamente acabou?

Mas... será que a franquia irá acabar mesmo? Apesar de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar provavelmente encerrar como o filme de pior bilheteria da franquia, ele dará algum lucro. Os próprios produtores afirmaram oficialmente há poucas semanas que um sexto filme não está descartado. E na cena pós créditos (sim, ela existe), mais uma vez, como já é tradição, temos uma daquelas cenas "e todos ficaram felizes para sempre... só que não".

Na contramão de tudo isto, tivemos propagandas de TV e trailers (como este do meu link acima) anunciando estarmos diante da "aventura final" dos piratas; e Johnny Depp sofreu acusações de passar todo o período das filmagens bêbado e com dificuldade de memorizar suas falas (o ator vivia em pleno processo de separação de sua ex-esposa Amber Heard), que se for verdade pode dar uma bela "congelada" na carreira do rapaz.

Só nos resta esperar alguns anos pela resposta. De minha parte, meu desejo é bem claro: sim, tem que acabar. O quinto filme definitivamente terminou esta história. Nota: 5,0

domingo, 30 de abril de 2017

Crítica - Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017)

Título: Guardiões da Galáxia Vol. 2 ("Guardians of the Galaxy Vol. 2", EUA, 2017)
Diretor:  James Gunn
Atores principaisChris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Bradley Cooper (voz), Michael Rooker, Karen Gillan, Pom Klementieff, Kurt Russell, Elizabeth Debicki
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=4-i8nTNSQFI
Nota: 8,0
Guardiões continua ótimo. E ainda mais engraçado!

Três anos depois, os Guardiões da Galáxia retornam com mesmo diretor/escritor e elenco. Em termos de trama principal, o filme piora em relação ao anterior; porém seu roteiro compensa ao desenvolver melhor os seus muitos personagens (em especial as irmãs Gamora/Zoe Saldana e Nebula/Karen Gillan, além de Drax/Dave Bautista e Yondu/Michael Rooker) e conseguir a façanha de ser ainda mais engraçado!

Na trama, os Guardiões continuam aprontando as suas como mercenários e ganhando novos inimigos. Em meio as confusões que eles mesmos arranjam, Peter Quill (Chris Pratt) é salvo pelo seu pai Ego (Kurt Russell), a quem ele encontra pela primeira vez. Ego convida então Peter para conhecer seu planeta natal e seu legado.

As duas maiores qualidades presentes no primeiro filme - ótimos efeitos especiais e humor baseado em situações inesperadas - continuam em Guardiões da Galáxia Vol. 2, e talvez ainda melhores! Em contrapartida, ainda que seja citada várias vezes pelos próprios personagens durante o filme, a trilha sonora perdeu um pouco do seu impacto.

Mesmo com uma trama principal um tanto dispersa e confusa, o roteiro de Guardiões da Galáxia Vol. 2 discute com sucesso o assunto família. Surpreendentemente, no meio de tanta ação e piadas, ainda foi possível se emocionar em algumas cenas mais sérias.

Guardiões da Galáxia Vol. 2 também entra no lista dos melhores filmes já feitos pela Marvel - assim como seu antecessor - porém ainda precisa de alguns ajustes para conquistar uma nota ainda maior. Desta vez o ponto fraco do filme foi seu vilão. Chega a ser irônico que uma franquia que baseia seu sucesso no fugir do senso comum (a longa e excelente cena da apresentação inicial dos créditos é um exemplo disto), tenha um vilão com discursos e ações tão previsíveis e idiotas.

Outro ponto que não gostei foi o exagerado número de personagens ou elementos fan service. São literalmente dezenas, em geral reconhecidos apenas pelos leitores de quadrinhos da Marvel, e pelo excesso chegam a atrapalhar as vezes o ritmo do filme.

Facilmente um dos melhores filmes da ação e humor do ano, Guardiões da Galáxia Vol. 2 é diversão garantida para quem gostou do primeiro filme. Apesar das diferenças entre eles, na média são do mesmo nível. Nota: 8,0


PS: desta vez são nada menos que CINCO cenas pós créditos. A cena com o Groot e a cena com a Ayesha (aquela moça de cor dourada) são as duas mais relevantes, pois já dão dicas do que virá nos próximos filmes.

domingo, 16 de abril de 2017

Ghost in the Shell: análise do Filme, do Anime e do Mangá


A franquia japonesa Ghost in the Shell passou a ser mais conhecida pelo público graças ao filme A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell - ainda em cartaz no Brasil - estrelado pela bela e famosa Scarlett Johansson.

Entretanto, o título já havia conquistado certa fama entre os fãs mais hardcore de ficção científica no final da década de 90, graças ao filme-Anime Ghost in the Shell de 1995, que virou cult e levou a fama de ser um dos "maiores inspiradores" do filme Matrix (1999).

Apresentarei neste texto as versões iniciais de Ghost in the Shell do Mangá e Anime (em ambas mídias a franquia já teve continuações, que não comentarei aqui), e finalmente, o filme Hollywoodiano de 2017, comparando as 3 obras.

Todas elas possuem em comum o futuro de 2029, onde se tornou comum os humanos aperfeiçoarem seus corpos usando implantes cibernéticos; seja com membros artificiais melhorados, ou ainda, o cérebro conectado à internet e desfrutando de inúmeros recursos.

A protagonista de Ghost in the Shell é Motoko Kusanagi, a líder de campo da "Seção 9", um grupo policial especializado no combate ao terrorismo e crimes cibernéticos. Motoko se auto-intitula "a Major" e possui apenas o cérebro humano, com o restante do seu corpo totalmente artificial (embora em sua maior parte orgânico), o que lhe dá agilidade e força além do comum.


Mangá - O começo

Se Ghost in the Shell chamou atenção mundialmente através do Anime de 1995, sua história começou nos mangás, em uma série escrita e desenhada por Masamune Shirow, publicada entre 1989 e 1990. Publicada recentemente no Brasil pela editora JBC, a revista traz várias histórias curtas, com bastante ação e trazendo como foco principal terroristas e espionagem internacional.

Embora um material interessante, não é uma leitura tão fácil: Shirow imaginou um mundo futurista bem crível (é impressionante o quanto ele acertou, mesmo escrevendo 20 anos atrás) e bem detalhado. É uma leitura pesada, repleta de informações sobre o universo criado. Os personagens - inclusive a protagonista - são pouco explorados. Além disto, a trama é um pouco datada, lembrando o clima da guerra fria, um tema que já ficou um pouco distante da nossa realidade.

Aqui temos uma Motoko empolgada, cheia de vida, que gosta do seu trabalho, e que arruma até tempo para lazer (os quais passa sempre com outras mulheres); é uma personagem bem diferente do que veremos nas adaptações a seguir.


Anime - A fama

Ao assistir recentemente a animação que deu fama internacional à franquia (e que no Brasil foi traduzido para O Fantasma do Futuro), minha primeira constatação - para minha surpresa - é que Matrix se inspirou muito pouco na mesma. Em comum há as "letrinhas verde" digitais correndo na tela e o visual de alguns robôs e aparelhos (como o de conectar o cérebro das pessoas com um plug na parte inferior do crânio). Mas as histórias de Ghost in the Shell e Matrix são completamente diferentes.

Na história deste filme japonês de 1995, dirigido por Mamoru Oshiie e co-roteirizado pelo escritor do Mangá, temos na verdade algumas das histórias escritas em 1989 unificadas em uma única trama, dando bastante destaque ao hacker "Mestre dos Fantoches" como vilão principal.

A Motoko do Anime já é uma pessoa bem mais séria, de poucas palavras, que quase não expressa emoções. É alguém extremamente solitária, mas ainda assim não transparece ser infeliz, apenas conformada com a vida que possui.

Dentre todas as versões e adaptações de Ghost in the Shell, este Anime é de longe a melhor (e também conta com uma trilha sonora excelente), e leva deste blog uma nota 7,5.


Filme - A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017)

Finalmente, a criticada adaptação Hollywoodiana da obra. O filme dirigido por Rupert Sanders (que antes deste só foi diretor do mediano Branca de Neve e o Caçador, de 2012) copia várias sequencias da animação de 95. Entretanto, mesmo com muitas cenas idênticas, o contexto das mesmas é bem diferente, e a história aqui apresentada pouco tem em comum com as histórias do Mangá e do Anime.

Se nas versões japonesas o maior destaque da história é para a ação e o universo criado, em A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell a Motoko da Scarlett Johansson leva todo o foco da trama. Estamos diante de uma história que conta a origem da protagonista, que por sua vez, é uma personagem sem nenhuma expressão facial mas que, quando fala, não se importa em revelar que é uma pessoa bem triste.

É difícil se conectar com uma personagem assim tão melancólica e "robótica". Aliás, nenhum dos personagens do filme possui o mínimo de carisma. A grande qualidade de Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é mesmo seu visual, seja pela qualidade e cores de suas imagens; ou ainda, pelo universo futurista imaginado pela franquia (ainda que aqui esteja um pouco deturpado).

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell não possui tanta ação quanto seu trailer indicava e mais parece uma história de um Robocop em depressão do que qualquer outra coisa. Apesar de ser outra "ocidentalização" ruim de um Mangá/Anime, o que resta do material original nesta adaptação é suficiente para que o filme seja pelo menos uma experiência interessante. Nota: 6,0

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