sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Crítica - Bingo: O Rei das Manhãs (2017)

TítuloBingo: O Rei das Manhãs (Brasil, 2017)
Diretor: Daniel Rezende
Atores principais: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Cauã Martins, Ana Lúcia Torre, Tainá Müller, Augusto Madeira
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=4xHP9tiS6NM
Nota: 7,0
Divertido, diferente, completo e interessante. Mas peca na veracidade histórica

Dois patinhos na lagoa... 22! Justiça de Goiás... 38! Bingo!

Não... não é deste tipo de bingo que estou falando. Aqui, Bingo é o nome que os produtores de Bingo: O Rei das Manhãs tiveram que chamar seu personagem principal para não ferir os direitos autorais do palhaço Bozo.

A história é baseada na vida de Arlindo Barreto (que no filme teve o nome alterado para Augusto Mendes), provavelmente o mais conhecido dentre os intérpretes brasileiros do palhaço Bozo. O Barreto real interpretou o famoso personagem da TV entre os anos de 1982 a 1987, até ser demitido em definitivo devido seus problemas com álcool e drogas.

Na trama, Augusto (Vladimir Brichta) é um ator das pornochanchadas nacionais que, de maneira um pouco acidental, acaba contratado para ser o palhaço Bingo, cujo programa revoluciona a TV brasileira. Porém Augusto não consegue lidar com a fama e os problemas familiares e se perde em vícios, desperdiçando a carreira.

Em seus pontos principais, a história de Augusto Mendes é quase igual a de Arlindo Barreto. Os acontecimentos do parágrafo anterior descrevem tanto o ator real quanto o da ficção. Porém, nos detalhes, realidade e ficção se separam bem mais do que eu gostaria.

Dentre as diferenças principais, na vida real Arlindo Barreto não foi o primeiro intérprete do Bozo nacional; e também não foi o gênio que bolou as boas idéias do programa. Mais ainda, os dramas de sua mãe Marta (Ana Lúcia Torre) e seu filho Gabriel (Cauã Martins) são muito mais exagerados do que aconteceram realmente. A própria esposa de Augusto no filme é uma mistura das duas ex-esposas reais de Arlindo Barreto, e como consequência praticamente todas as cenas com ela são inventadas.

Outro problema são as várias inconsistências temporais, como por exemplo o início muito cedo nas drogas, ou ainda, as provocações dele com a Xuxa em uma época onde ela nem sonhava ainda em ir para a Globo. Para compensar, entretanto, há cenas "doidas", como por exemplo a maneira com que ele conseguiu o emprego, ou várias de suas brincadeiras no palco, que são bem verídicas.

Excluindo as inconsistências históricas, entretanto, Bingo: O Rei das Manhãs é um ótimo filme. O roteiro consegue misturar drama e humor de maneira muito eficiente, praticamente impecável. A trilha sonora - repleta de sucessos nacionais e internacionais dos anos 80 - é tão bacana que acaba conseguindo "mergulhar" o espectador no passado com até mais eficiência do que os bons cenários.

O elenco também é ótimo e ajuda muito a produção. No caso específico do protagonista Vladmir Brichta, ele infelizmente não convence quando faz o papel do pai amoroso. Entretanto, quando ele interpreta um personagem enlouquecido, e principalmente, quando ele interpreta o Bozo (Bingo), a atuação é excepcional. Sua transformação no Bozo é tão incrível que por si só já vale o ingresso.

Daniel Rezende - reconhecido editor (inclusive recebeu indicação ao Oscar pela edição/montagem de Cidade de Deus em 2003) - estréia como diretor com bastante competência. A montagem e planejamento das cenas, a condução dos atores, tudo muito bem feito. O único deslize são algumas poucas "tentativas de fazer Arte" (como por exemplo as longas cenas de tomadas panorâmicas sobrevoando cidades que não acrescentam nada à narrativa), mas que de maneira nenhuma comprometem o seu trabalho.

Bingo: O Rei das Manhãs é um filme bem diferente, que garante risos e comoções, e agradará tanto aqueles que querem relembrar a TV brasileira da década de 80 quanto quem vai conhecê-la pela primeira vez. A história de Bingo é bastante interessante. Pena que é menos real que deveria. Nota: 7,0.


PS: inicialmente o ator escalado para fazer Bingo era Wagner Moura, que teve que desistir do papel para filmar o seriado Narcos, da Netflix, e ele mesmo indicou Vladmir Brichta como seu substituto. A Warner resolveu fazer um vídeo para brincar com o fato. Ficou bem engraçado. Confiram clicando aqui!

PS 2: gostei bastante do filme e o recomendo a todos sem hesitar. Entretanto, a crítica especializada nacional em geral gostou ainda mais do filme! Por exemplo, a crítica Isabela Boscov afirmou na Revista Veja que Bingo: O Rei das Manhãs é o melhor filme nacional desde Cidade de Deus.

domingo, 13 de agosto de 2017

10 filmes que ainda aguardo em 2017

Estou indo aos cinemas menos que gostaria neste ano... mas no mínimo estes 10 filmes listados abaixo eu irei assistir! Eis a lista dos 10 filmes que ainda serão lançados nos cinemas brasileiros em 2017 e mais chamam a minha atenção:


24 de agosto

  • A Torre Negra: mesmo que as primeiras críticas lá fora não estejam favoráveis, o filme é encabeçado por dois grandes atores: Idris Elba e Matthew McConaughey, e é a primeira tentativa de adaptação para os cinemas daquela que é uma das franquias de livros mais bem sucedidas do escritor Stephen King.
  • Bingo - O Rei das Manhãs: o único nacional da minha lista, Bingo irá misturar fatos reais e fantasia, baseando na história do ator Arlindo Barreto, um dos primeiros intérpretes do palhaço Bozo, que se viciou em drogas e hoje é pastor evangélico. O filme promete humor, drama, e bastidores do mundo da TV nacional nos anos 80.

31 de agosto

  • Atômica: tem a Charlize Theron como protagonista. Sendo uma das minhas atrizes preferidas tanto pelo talento quanto beleza, já é o suficiente para eu conferir rs. De quebra tem o também talentoso James McAvoy como co-estrela.

07 de setembro

  • It - A Coisa: outra obra de Stephen King, agora a refilmagem de uma história de terror das mais famosas. Se basearmos no marketing do filme até agora, ele será bastante assustador. Fico com um pé atrás de que ele não foi pensado como filme "único", e sim, sendo a primeira parte de duas. Mas vou conferir!

21 de setembro

  • Mãe!: dirigido e escrito por um de meus diretores favoritos - Darren Aronofsky - seu novo projeto é o mais próximo do gênero de Terror que ele já fez. Conta também com grandes atores: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pfeiffer.

05 de outubro

  • Blade Runner 2049: o grande desafio da vida do diretor Denis Villeneuve, facilmente um dos melhores diretores da atualidade: fazer uma bem sucedida continuação do filme cult de ficção científica Blade Runner. Dentre os atores estão Ryan Gosling, Harrison Ford voltando com seu papel do caçador Deckard, e Jared Leto. Imperdível!

26 de outubro

  • Thor: Ragnarok: embora os filmes do Thor estejam facilmente entre os mais fracos do Universo Cinematográfico Marvel, fazê-lo como uma grande ópera espacial pode dar certo desta vez (afinal, já funcionou duas vezes com Guardiões da Galáxia). Ter a ultra talentosa Cate Blanchett como a vilã é outro grande atrativo.

16 de novembro

  • Liga da Justiça: ver enfim os maiores super-heróis do planeta reunidos em um único filme já é um grande evento por si só. E ver se a DC Comics vai continuar evoluindo após o ótimo Mulher Maravilha - ou se vai voltar a decepcionar - é um grande enigma que serve também de atrativo.

23 de novembro

  • Assassinato no Expresso do Oriente: mais uma refilmagem deste grande livro policial da escritora Agatha Christie. O que esta versão se diferencia das outras? Vários atores e atrizes bacanas juntos. Dentre eles: Penélope Cruz, Willem Dafoe, Judi Dench, Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Kenneth Branagh e... Daisy Ridley.

14 de dezembro

  • Star Wars - Os Últimos Jedi: se tem a Daisy Ridley como Rey, já é obrigação assistir rs. Mas além disto, o filme vai enfim dar espaço para Luke Skywalker aparecer, e promete responder várias das questões levantadas pelo filme anterior. Além disto, será a última vez que veremos Carrie Fisher interpretando Léia. Para qualquer fã de Star Wars, filme mais que imperdível!

E vocês? Algum filme que sentiram falta na minha lista? Escrevam nos comentários!

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Crítica - Dunkirk (2017)

TítuloDunkirk ("Dunkirk", EUA / França / Países Baixos / Reino Unido, 2017)
Diretor: Christopher Nolan
Atores principais: Fionn Whitehead, Aneurin Barnard, Mark Rylance, Tom Hardy, Kenneth Branagh, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Styles
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=hDfPdL50VNc
Nota: 7,0
Belo, diferente, mas muito, muito barulhento

Em seu primeiro filme que não é 100% ficção, o cineasta Christopher Nolan nos mostra as praias de Dunquerque (Dunkirk em Português), na França, no ano de 1940 e em plena 2ª Guerra Mundial, onde cerca de 400 mil homens Ingleses, Frances e Belgas estavam cercados pelas tropas Alemãs e prestes a serem exterminados.

Vemos então, através de 3 histórias diferentes (e também 3 perspectivas distintas: na água, terra e ar), os eventos da histórica Operação Dínamo, evacuação quase milagrosa que salvou mais de 300 mil soldados.

As 3 histórias são interessantes (embora entreguem pouco conteúdo), e revelam algumas surpresas quando se encontram; além do curioso fato de não serem temporalmente lineares entre elas.

A abordagem de Nolan para a guerra não deixa de ser interessante: os horrores das batalhas estão bastante presentes, mesmo com pouco sangue na tela. Outro ponto bacana foi sua maneira de mostrar como as pessoas são insignificantes diante de batalhas tão grandes: praticamente nenhum personagem de Dunkirk tem seu nome apresentado durante a projeção. Isto também faz que os personagens mal tenham tempo para ganhar alguma personalidade. Apenas os atores Kenneth Branagh e Mark Rylance conseguem fugir desta regra, de tão bons que são atuando.

Como sempre nos filmes deste diretor britânico, a fotografia é belíssima. Mesmo com um diretor de fotografia "novo" (Nolan trocou o estadunidense Wally Pfister pelo suíço Hoyte Van Hoytema desde Interestelar (2014)), as imagens são grandiosas e feitas para impressionar no formato IMAX. Se aproveitando do fato de que boa parte das cenas serem na praia, temos imagens que são como pinturas de tirar o fôlego. O mesmo pode ser dito das batalhas aéreas em "primeira pessoa", deslumbrantes!

Porém, apesar de todas as qualidades acima, Dunkirk tem um problema gravíssimo em seu ritmo: o filme simplesmente não tem um "clímax"... ou melhor, ele é inteiramente um único e gigantesco clímax. Do primeiro ao último de seus 106 minutos de duração, tudo em Dunkirk é épico, repleto de tensão, com uma trilha incidental absurdamente alta e barulhenta.

Sem variações de ritmo e sem descanso para os ouvidos, assistir Dunkirk se torna uma experiência desagradável em alguns momentos. É muito barulho o tempo todo, e além disto, cada uma das 3 narrativas se desenvolve de maneira tão lenta que chega a cansar. Dunkirk é uma provação para mente e ouvidos.

Dunkirk continua confirmando minha teoria de que desde A Origem (2010), Christopher Nolan ficou com a idéia de que quanto mais grandioso e épico for um filme, melhor. Porém, nisto Nolan está equivocado... é só ver o que as irmãs Wachowski fizeram em O Destino de Júpiter (2015) pensando da mesma maneira. Nolan continua trazendo um cinema interessante e diferente, belíssimo visualmente, mas está se perdendo nos excessos. Desta vez entregou um filme que é bom, mas que não é nada fácil de assistir. Nota: 7,0

sábado, 29 de julho de 2017

Crítica - Em Ritmo de Fuga (2017)

TítuloEm Ritmo de Fuga ("Baby Driver", EUA / Reino Unido, 2017)
Diretor: Edgar Wright
Atores principais: Ansel Elgort, Kevin Spacey, Jon Hamm, Eiza González, Lily James, Jamie Foxx, CJ Jones, Jon Bernthal
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=TJrKYWPBTrc
Nota: 8,0
 Tudo o que Velozes e Furiosos e La La Land queriam ser e não conseguiram...
em um único filme

Um dos aspectos que mais valorizo em um filme é o quanto ele é diferente, inovador. E este é o caso do surpreendente Em Ritmo de Fuga. Na história, Baby (Ansel Elgort) é o motorista de fuga de uma gangue de assaltantes, em um filme repleto de ação. Portanto... nada novo até aí. O que torna Em Ritmo de Fuga diferente é o uso da música: Baby ouve músicas altas com seu fone de ouvido o tempo todo, sem parar, e nós espectadores ouvimos tudo junto com ele. Parafraseando seu diretor, Edgar Wright, o filme é "dirigido pela música". Em vários momentos Baby dança junto com sua trilha sonora em situações das mais inusitadas; ou ainda, em outras cenas, a ação acompanha o ritmo da música tocada... como por exemplo, os disparos em um tiroteio acompanhando as batidas da trilha musical.

Por mais estranho ou cansativo que a descrição acima pode parecer, o resultado é ótimo. Ver Baby em seu "mundo sonoro particular" dançando e ouvindo música o tempo todo enquanto tudo ao seu redor explode de ação em um ritmo frenético é uma experiência bastante agradável.

Comentando as comparações entre filmes que fiz no subtítulo acima, Em Ritmo de Fuga também possui manobras e perseguições de carro malucas, personagens "machões / fodões", mas diferentemente da franquia Velozes e Furiosos, aqui as cenas de ação são mais críveis, menos exageradas, muito melhor filmadas (sem aquele excesso absurdo de cortes de cenas), e com atores que sabem atuar de verdade. Já em relação a La La Land... ok, Em Ritmo de Fuga não é um musical. Entretanto, ambos possuem como destaques principais muita música e um casal de jovens inocentes, sonhadores e apaixonados. La La Land - que até é um bom filme - tentou modernizar os musicais do passado. E que para mim, fracassou neste quesito. O primeiro tem um apelo para o público mais velho; já o segundo, para o público mais jovem. É Em Ritmo de Fuga que consegue, afinal, trazer uma maneira nova e atualizada para desfrutar músicas no Cinema.

E que músicas! A trilha sonora é excelente, e mesmo sendo em sua maioria músicas mais agitadas, há também algumas canções mais lentas. No geral, entretanto, são todos ritmos bem dançantes. Ah sim: se em La La Land muitas músicas são de Jazz, aqui temos uma variação muito maior, cobrindo lançamentos do último meio século, e alternando entre diversos estilos de Rock, R&B, Soul e Pop.

Em Ritmo de Fuga não é só som. A fotografia tem alguns bons momentos, principalmente em algumas cenas de plano sequência. As cenas de ação também são muito boas e o roteiro com várias surpresas... é como se fosse um roteiro de Tarantino sem o destaque para os diálogos.

Em Ritmo de Fuga é minha maior surpresa positiva nos Cinemas deste ano até agora. E que com este filme o jovem diretor/roteirista Edgar Wright ganhe um maior e merecido reconhecimento. Você acha que não conhece seu trabalho? Pois Wright por exemplo também dirigiu Todo Mundo Quase Morto e Scott Pilgrim Contra o Mundo, e foi o roteirista de Homem-Formiga e As Aventuras de Tintim dentre outros. Mais um nome para acompanharmos mais de perto. Nota: 8,0

domingo, 23 de julho de 2017

Crítica - Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

TítuloHomem-Aranha: De Volta ao Lar ("Spider-Man: Homecoming", EUA, 2017)
Diretor: Jon Watts
Atores principais: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Jon Favreau, Jacob Batalon, Laura Harrier
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=x5Q0AzHr3FM
Nota: 8,0
O filme mais heróico do UCM

Ao invés de comparar este primeiro filme solo da 3ª encarnação do Homem Aranha nos cinemas com os filmes anteriores do Cabeça de Teia, irei compará-lo com todos os filmes do UCM (Universo Cinematográfico Marvel). E nesta comparação, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que melhor transmite o sentimento de heroísmo dentre todos os filmes UCM até agora.

Neste 2º do Aranha temos o Peter Parker (Tom Holland) mais novo de todos, com 15 anos. Ou seja, ao invés de vê-lo "saindo" do colegial, ele ainda está em seu começo (curiosidade: Holland tinha 19 anos na época das filmagens). Na história, o garoto começa sua vida de super-herói enfrentando bandidos "comuns". Quando aparece a gangue do Abutre (Michael Keaton), que começa a vender armas alienígenas de grande poder de devastação em sua Nova York, o Homem Aranha tenta impedir o pior, enfrentando o maior desafio de sua vida.

O dilema principal deste filme é que Peter descobre que ao se tornar o Homem Aranha ele põe em risco de vida a Tia May (Marisa Tomei), que representa toda única família que ele tem; e põe a perder o relacionamento com a garota que ele adora, Liz (Laura Harrier). Além disto, inexperiente como combatente e desacostumado com os próprios poderes, em alguns momentos Peter teme pela própria vida, assustado em situações de alto risco. Para piorar, ele atua contra a vontade de Tony Stark (Robert Downey Jr.), ou seja, também coloca em risco sua chance de um dia ser aceito pelo grupo dos Vingadores.

Nunca nos filmes da Marvel um protagonista teve tanto a perder. E apesar de tudo, Peter Parker não desiste, pois sabe que tem um dever. O Homem Aranha até "curte" o sonho de ser super no começo da história. Mas quando as coisas se tornam realmente sérias, a "brincadeira" acaba e ele se sacrifica sem hesitar para ajudar as pessoas, que é a definição de herói e está um pouco esquecida nos cinemas atualmente. Aquelas "piadinhas" características dos filmes da Marvel aparecem em poucos momentos: estamos falando de um filme que enfim transmite perigo e seriedade nos desafios ao herói.

O tom mais "caseiro" de Homem-Aranha: De Volta ao Lar (ou seja, ele precisa salvar sua cidade, e não o mundo ou o universo) traz várias vantagens. As cenas de ação são bem filmadas e dispensam aquela quantidade absurda de efeitos especiais. Outra vantagem é que enfim no MCU temos um vilão de motivações críveis e interessantes, e que - respondendo a "cutucada" do escritor de Game of Thrones, George R. R. Martin - finalmente temos um vilão que tem poderes diferentes do herói.

Se tecnicamente o filme agrada bastante, assim como suas cenas de ação, em termos de elenco e coadjuvantes Homem-Aranha: De Volta ao Lar comete seus deslizes. A maioria dos personagens da escola de Peter são caricatos, sem graça, e quebram o ritmo do filme. O mesmo acontece com os descartáveis companheiros do Abutre, que mais parecem que estão no filme porque pagaram para fazer uma ponta, do que por atuação. Também é de se lamentar a pouca atenção dada à Tia May em detrimento da atenção exagerada dada a "Happy" (Jon Favreau), que pela milésima vez não convence com ator.

Simples, eficiente e heróico, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é outro exemplo bem sucedido de renovação em filmes de super-herói, trazendo um tom diferente dos principais blockbusters da atualidade. Nota: 8,0.


PS 1: o filme possui duas cenas pós-créditos.

PS 2: o cinema imita a vida ou o contrário? São várias as "curiosidades" que misturam a vida real com este filme. Por exemplo, o ator Michael Keaton teve sua carreira "encerrada" após viver o Batman nos cinemas, para ser "ressuscitada" como um aposentado ator de um Birdman, para neste filme viver o também "pássaro" Abutre, em uma cena sob o luar que é igualzinha a que ele protagonizou no filme do Morcegão no passado; outro exemplo é que a voz do computador do Homem de Ferro - Jarvis - é feita por  Paul Bettany. Já a voz do uniforme deste Homem Aranha - Karen - é dublada por Jennifer Connelly. Bettany e Connelly são casados desde 2001.

domingo, 2 de julho de 2017

Dupla Crítica Filmes Netflix: Okja (2017) e Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo (2017)


Com poucos filmes interessantes em cartaz atualmente nos cinemas brasileiros, sempre resta a opção de assistir bons filmes em casa. Seguem breves críticas de mais dois filmes disponibilizados este ano na Netflix brasileira. O primeiro deles, aliás, estreou há apenas 4 dias atrás, em 28 de Junho. Aprendam mais sobre estes dois desconhecidos títulos!


Okja (2017)
Diretor: Bong Joon Ho
Atores principaisAhn Seo-hyun, Tilda Swinton, Paul Dano, Jake Gyllenhaal, Byun Hee-bong, Steven Yeun, Yoon Je-moon, Giancarlo Esposito

Filme escrito e dirigido pelo bom cineasta Sul-Coreano Bong Joon Ho (Expresso do Amanhã, O Hospedeiro), misturando atores de seu país com atores consagrados de Hollywood.

Na história, Lucy Mirando (Tilda Swinton), a presidente de uma enorme e gananciosa companhia estadunidense anuncia a descoberta de uma nova geração de porcos, os "superporcos", futura solução para acabar com a fome do mundo e preservando o ambiente. Os 26 primeiros "superporcos" são deixados por 10 anos em países diferentes, para ver como eles se comportam diante de criadores de costumes distintos. O porco enviado para a Coréia do Sul acabou se tornando o grande amigo da adolescente Mija (Ahn Seo-hyun), que quando é obrigada a devolver o amigo para a companhia Mirando, se recusa a fazê-lo.

Okja é um filme que critica as grandes corporações, ironiza os defensores dos animais, mas que ao mesmo tempo mostra o quão cruel é o consumo animal pelos humanos. O filme tem boa fotografia, boa trilha sonora, e consegue transmitir os sentimentos e dor da protagonista e de seu amigo animal.

Okja é certamente um bom filme, gostoso de acompanhar, e que nos leva a refletir e pensar. Seu ponto fraco é que sua mensagem é enfraquecida por alguns deslizes no humor (os personagens são em geral estereotipados e bizarros demais) e algumas cenas de ação que embora cinematograficamente bonitas, nada acrescentam à trama. Bong Joon Ho (que as vezes também aparece como Joon Ho Bong) continua fazendo filmes diferentes que valem a pena acompanhar. Nota: 7,0



Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo (2017)
Diretor: Macon Blair
Atores principais: Melanie Lynskey, Elijah Wood, Gary Anthony Williams, Devon Graye

Vencedor do prêmio do Grande Juri no festival de Sundance 2017 como melhor filme de drama estadunidense, aqui temos a história de Ruth (Melanie Lynskey), uma deprimida e solitária assistente de enfermagem que teve sua casa furtada e - devido o descaso da polícia - decide recuperar seus pertences com a ajuda de seu vizinho Tony (Elijah Wood).

Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo é um filme repleto de humor negro, personagens esquisitos, e bastante violento em sua parte final. Estas características lembram um filme de Quentin Tarantino... mas a comparação para por aí. Esqueça os atores famosos, os longos e inspirados diálogos, ou ainda, a ótima trilha sonora. Aliás, esqueça também o clima de aventura dos filmes "Tarantinescos". Aqui temos um drama, de ritmo lento, em que os acontecimentos violentos e bizarros não nos fazem rir, e sim, sentir pena da protagonista.

Já Não Me Sinto Em Casa Nesse Mundo é um filme diferente, para quem gosta de ser surpreendido mas não se importa em ver um filme lento e melancólico. Nota: 7,0

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Dupla Crítica Filmes Netflix: War Machine (2017) e Shimmer Lake (2017)


Dois filmes de produção Netflix e que estrearam neste Junho de 2017 no canal de streaming brasileiro. Ambos os filmes são "incomuns", e apesar das notas não serem altas, acreditem: gostei e recomendo ambos. Confiram!


War Machine (2017)
Diretor: David Michôd
Atores principais: Brad Pitt, Anthony Hayes, John Magaro, Anthony Michael Hall, Topher Grace, Alan Ruck, RJ Cyler, Will Poulter

Com personagens bastante bizarros e caricatos - principalmente o protagonista, interpretado por Brad Pitt - War Machine é claramente um filme de comédia, no que fracassa fortemente, já que o filme simplesmente não consegue fazer rir.

Na história, após anos de ocupação estadunidense no Afeganistão, o general McMahon (Pitt) e seu grupo é enviado ao país citado para "resolver a situação". A primeira metade do filme foca principalmente em política e preparativos, e na segunda metade há algumas cenas de batalha.

Apesar de não fazer rir e ser um pouco cansativo para assistir, War Machine não deixa de ser bem interessante para quem curte história e política internacional. As críticas do filme em relação ao exército, a política externa dos EUA, e às guerras em geral são fortes e curiosas. Se War Machine falha ao não fazer rir, é bem sucedido em dar uma visão diferente sobre as incursões estadunidenses no oriente. Em suma, o filme tem suas qualidades, embora não sejam as esperadas. Nota: 5,0


Shimmer Lake (2017)
Diretor: Oren Uziel
Trailer: n/a (não existe em português e dá muito spoiler do filme)
Atores principais: Benjamin Walker, Ron Livingston, Wyatt Russell, Rainn Wilson, Stephanie Sigman, Adam Pally, John Michael Higgins, Rob Corddry, Mark Rendall

Como principal atrativo, Shimmer Lake é um filme que se passa de trás para frente. Mostrando eventos relacionados a um assalto a banco (que ocorreu em uma terça-feira), primeiro vemos os acontecimentos da sexta-feira (3 dias depois), e em seguida, voltando no tempo, da quinta-feira, da quarta-feira, e por fim, vemos a terça do roubo que deu origem à história.

A parte mais difícil de se fazer um filme como este, é manter a história interessante e repleta de "revelações surpresas" mesmo sendo contado cronologicamente ao contrário. E Shimmer Lake consegue ser bem sucedido na tarefa. Eu mesmo fiquei bastante surpreso com os eventos do último capítulo.

Comparando a outro filme que é apresentado "de trás pra frente", o ótimo Amnésia (2000) de Christopher Nolan, a diferença é que Shimmer Lake é menor em todos os sentidos. A produção é bem mais modesta, o drama em si é bem mais trivial e menos impactante que o de Amnésia, e até os atores são inferiores, apesar de fazerem um trabalho aceitável.

Para quem quer ver um filme policial diferente, Shimmer Lake é uma boa pedida para passar o tempo em casa. Nota: 6,0

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Dupla-Crítica: Corra! (2017) e Silêncio (2016)


Dois filmes que estrearam nos cinemas brasileiros em 2017 mas que já saíram de cartaz. Eles possuem alguma relação? Sim: temas polêmicos e lados opostos de campanhas de divulgação. Enquanto Corra! teve uma massiva campanha publicitária em nosso país, Silêncio passou despercebido pela mídia, e exibido em pouquíssimas salas. E olhe que estamos falando de um filme do grande Martin Scorsese!

Vamos a breves análises sobre cada um deles.


Corra! (2017)
Diretor: Jordan Peele
Atores principais: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford, Catherine Keener

Dirigido e roteirizado pelo ator e comediante negro Jordan Peele, o filme foca totalmente no tema racismo. Sendo mais filme de terror do que suspense, os personagens são tão bizarros e a história é tão inverossímil, que Corra! acaba se afastando um pouco do mundo real, o que infelizmente enfraquece seu forte tom de crítica social.

Apesar dos problemas no roteiro e diálogos (várias vezes vemos pessoas falando sozinhas em voz alta para "entender" o que elas estão pensando - um recurso bem pobre), Corra! também possui algumas boas qualidades. O diretor tem seus méritos em deixar o espectador o tempo todo desconfortável, tenso. Por transmitir estas sensações, Peele merece elogios e minha futura atenção.

O maior ponto forte de Corra! é o elenco. Todos estão muito bem, em especial a dupla protagonista Daniel Kaluuya e Allison Williams. A atriz - que eu desconhecia até então - me impressionou bastante.

Resumindo, Corra! é uma espécie de episódio de nível razoável do falecido seriado Além da Imaginação, ou ainda, do atual seriado Black Mirror. Como diretor, Peele está aprovado. Já como roteirista... no mínimo ele precisa estudar um pouco mais sobre ciência básica. Nota: 6,0


Silêncio (2016)
Diretor: Martin Scorsese
Atores principais: Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson, Tadanobu Asano, Yôsuke Kubozuka, Issei Ogata

Filme de Martin Scorsese, em desenvolvimento pelo diretor desde 1990. Somando os fatos, Silêncio deveria ser um grande evento. Entretanto o filme foi injustamente ignorado nos EUA e no Brasil... provavelmente pelo seu tema.

Baseado em um livro de ficção de 1966 escrito pelo japonês Shūsaku Endō, a trama se passa em 1640, onde acompanhamos a viagem dos padres jesuítas Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) para o Japão, com a missão de "resgatar" o padre Ferreira (Liam Neeson), que partira para o Oriente para catequizar os japoneses.

O forte teor histórico e a belíssima fotografia são os pontos fortes de Silêncio. O filme também debate questões como: "qual a verdadeira eficiência de converter uma pessoa de cultura e religiões completamente diferentes das suas?", ou ainda, "vale a pena morrer em nome de sua crença?".

Se as perguntas são bem relevantes, é o desenvolvimento em volta delas que enfraquece Silêncio. As mesmas questões são repetidas durante todo o filme, com os personagens ponderando sobre o assunto enquanto são continuadamente torturados pelos japoneses.

Contemplativo e melancólico, Silêncio possui várias cenas marcantes e temas interessantes para quem gosta de história e teologia. Porém seu excesso de duração e a falta de variações nas cenas enfraquecem um pouco o seu resultado final. Nota: 7,0

sábado, 3 de junho de 2017

Crítica - Mulher-Maravilha (2017)

Título: Mulher-Maravilha ("Wonder Woman", China / EUA / Hong Kong, 2017)
Diretor: Patty Jenkins
Atores principais: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Connie Nielsen, Danny Huston, David Thewlis, Elena Anaya
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=osdoIpEQ3OM
Nota: 7,0
Após duas decepções seguidas, a DC volta a entregar um filme decente

Após duas produções com edição e roteiro de baixa qualidade (Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida) o universo cinematográfico da DC Comics enfim volta a apresentar um filme decente. Mulher Maravilha é um filme de origem que se arrisca pouco mas entrega boa diversão e uma profundidade acima da média nos filmes do gênero.

Na história, aprendemos que Diana (Gal Gadot) nasceu e cresceu na ilha de Themyscira, local que sempre se manteve isolado do mundo dos humanos. Quando o piloto estadunidense Steve Trevor (Chris Pine) cai com seu avião na ilha, a futura Mulher Maravilha fica conhecendo a existência da Primeira Guerra Mundial e resolve deixar seu lar para encerrá-la.

O roteiro de Mulher Maravilha é bastante equilibrado, trazendo história, humor e ação na medida certa. As piadas explorando o estranhamento de Diana tanto com nossas tecnologias, quanto ao mundo machista que vivemos é uma crítica sutil e eficiente ao nosso mundo. A inocência da protagonista também ajuda a ampliar seus atos de bondade e heroísmo, ideais que deveriam fazer parte de todos os super-heróis mas que nos filmes atuais - sejam da Marvel ou DC - infelizmente não são tão comuns.

O filme mescla com sucesso ficção e fatos históricos da Primeira Guerra, deixando tudo mais plausível. Ele também trás criticas às guerras e violência em geral. Somando então tudo o que descrevi nos dois últimos parágrafos temos um roteiro com muito mais conteúdo do que o normal para filmes de heróis.

A direção de Patty Jenkins (um mulher dirigindo uma grande produção é raro) mostra-se um acerto. Temos uma boa química entre os atores, boa trilha sonora; as cenas de ação são bem coreografadas, a apresentação do mundo das Amazonas e do doente mundo humano são bem feitas, e principalmente, ela usa as cenas em câmera lenta de maneira bem orgânica, sem atrapalhar o filme.

Aliás, a câmera lenta serve para encher os olhos congelando como em um quadro cenas épicas de luta, e também, a grande beleza da protagonista. Ouso a dizer que Gal Gadot vestida de Mulher Maravilha é a super-heroína mais bonita da história do cinema. A atriz israelense pode não ser uma boa atriz dramática, mas convence bastante como atriz de ação e possui enorme carisma e beleza.

Apesar de todos os elogios acima, Mulher Maravilha também comente um erro grave. O longo filme de 2h e 21min de duração começa de maneira excelente e vai perdendo sua força minuto a minuto... até chegar em um desfecho pavoroso.

Quase nada se salva no desfecho de Mulher Maravilha. A batalha final já não é muito boa devido ao CGI ruim e ao visual escuro. Mas os diálogos... é a maior reunião de clichês que vi em um bom tempo. Isto sem contar pelo menos dois acontecimentos - que não posso revelar aqui para não dar spoiler - que infelizmente chegam até a contradizer as críticas comportamentais que o filme fez durante toda a projeção.

Mulher Maravilha é em geral um filme bem redondinho e diversão para todos os gêneros e idades, mas que se perde vergonhosamente no final. Ainda assim, é um filme bem melhor do que a DC vem entregando nos últimos anos. Nota: 7,0

PS: não é filme da Marvel, então... não há cenas pós créditos.

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

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