Diretor: Kenneth Branagh
Atores principais: Kenneth Branagh, Daisy Ridley, Tom Bateman, Olivia Colman, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Judi Dench, Johnny Depp, Josh Gad, Derek Jacobi, Leslie Odom Jr, Michelle Pfeiffer
Recomeço de Agatha Christie nos cinemas é bom e digno; mas pode não ser suficiente
Temos agora nas mãos do norte-irlandês Kenneth Branagh (que produz, dirige e atua como o detetive Hercule Poirot neste Assassinato no Expresso do Oriente) uma nova tentativa de explorar os livros da célebre escritora policial Agathe Christie nos cinemas.
Na história, o famoso detetive belga se encontra em viagem no trem "Expresso do Oriente", que o levará da Turquia à França. Poirot é então interpelado pelo criminoso Ratchett (Johnny Depp), que diz estar em perigo de vida e tenta contratá-lo como guarda costas. No dia seguinte Ratchett é encontrado morto em sua cabine, em um crime que parece impossível. Cabe ao detetive Hercule Poirot encontrar dentre todos os passageiros do vagão do morto o culpado pelo assassinato.
Contando com um elenco ultra-estrelado (ver os atores principais acima), este Assassinato no Expresso do Oriente é bastante fiel ao livro que lhe inspirou. Aliás, possui uma fidelidade com a obra original bem acima da média dos filmes produzidos. E como o livro é bom, desta maneira seu roteiro acaba sendo igualmente bom.
Ironicamente, entretanto, em todos os momentos em que o livro foi alterado o filme perdeu pontos comigo. Kenneth Branagh se gaba de ter feito uma extensa pesquisa para descobrir como seria o sotaque correto de Poirot, e também, de como seria seu bigode. De fato, ambos detalhes estão muito de acordo com o que eu sempre imaginei para o detetive. Porém, Branagh se esqueceu do restante das características principais de seu personagem: Poirot não é um homem de ação. Bem acima do peso, e sendo de idade um pouco avançada, o detetive usa apenas seu cérebro para lutar contra o crime. Mas o que vemos neste Assassinato no Expresso do Oriente é a inclusão de duas sequencias de ação envolvendo o detetive que não apenas não contribuem em nada para a trama, como também acarretam em falhas no roteiro.
Assassinato no Expresso do Oriente começa de maneira bem lenta, com excesso de elipses mostrando cenas do trem andando pela neve sob uma pesada (e inapropriada) trilha sonora sentimental. Mas depois dos muitos personagens estarem estabelecidos, o filme engrena e - apesar de se basear apenas em diálogos - passa de maneira rápida e dinâmica.
Apesar de contar com grandes atores, Assassinato no Expresso do Oriente não tem nenhuma atuação relevante. Isto acontece, em parte, porque são muitos personagens dividindo a tela. Outro fator também cai sob a direção de Kenneth Branagh - que veio de uma vida no teatro - e que é a explicação provável do porquê seus atores são em geral caricatos, melodramáticos... parecem estar declamando seus textos. Com isto, se mostra bastante acertada a escalação de um elenco bastante famoso para a produção: se seus personagens não possuem carisma, seus intérpretes o tem. Eu mesmo sempre fico satisfeito quando vejo tanto talento na tela (mesmo que não utilizado).
Desconsiderando os problemas citados, entretanto, Assassinato no Expresso do Oriente é um filme bem feito tecnicamente e transmite muito bem o sentimento do universo dos romances de Agatha Christie. E nem todas as poucas alterações no livro me desagradaram. Há uma em específico, baseada no comportamento de Poirot no final do filme, que me agradou bastante... me pareceu mais coerente com a persona do detetive.
Entretanto, me pergunto se recomeçar a franquia nos cinemas com o Assassinato no Expresso do Oriente foi uma boa idéia. Como pontos positivos, a obra é uma das mais famosas e singulares de Agatha Christie; além de que por se passar o tempo todo em um trem, torna a produção bem barata. Mas por outro lado, o fato de ser um filme praticamente sem ação e apenas de diálogos o torna distante do gosto do espectador atual. Assassinato no Expresso do Oriente é sem dúvida um bom filme; mas devido as características tanto da obra original quanto de seu diretor, não acredito que ele caia no gosto do público. Ainda assim, quem não sabe como o filme termina deverá ser surpreendido positivamente, assim como eu fui quando vi o livro. Nota: 6,0
PS: os mesmos produtores e diretor de Assassinato no Expresso do Oriente já trabalham numa outra adaptação de um livro de Agatha Christie - Morte no Nilo - que só não sairá do papel se este aqui for um fracasso de bilheteria.
Na história, o famoso detetive belga se encontra em viagem no trem "Expresso do Oriente", que o levará da Turquia à França. Poirot é então interpelado pelo criminoso Ratchett (Johnny Depp), que diz estar em perigo de vida e tenta contratá-lo como guarda costas. No dia seguinte Ratchett é encontrado morto em sua cabine, em um crime que parece impossível. Cabe ao detetive Hercule Poirot encontrar dentre todos os passageiros do vagão do morto o culpado pelo assassinato.
Contando com um elenco ultra-estrelado (ver os atores principais acima), este Assassinato no Expresso do Oriente é bastante fiel ao livro que lhe inspirou. Aliás, possui uma fidelidade com a obra original bem acima da média dos filmes produzidos. E como o livro é bom, desta maneira seu roteiro acaba sendo igualmente bom.
Ironicamente, entretanto, em todos os momentos em que o livro foi alterado o filme perdeu pontos comigo. Kenneth Branagh se gaba de ter feito uma extensa pesquisa para descobrir como seria o sotaque correto de Poirot, e também, de como seria seu bigode. De fato, ambos detalhes estão muito de acordo com o que eu sempre imaginei para o detetive. Porém, Branagh se esqueceu do restante das características principais de seu personagem: Poirot não é um homem de ação. Bem acima do peso, e sendo de idade um pouco avançada, o detetive usa apenas seu cérebro para lutar contra o crime. Mas o que vemos neste Assassinato no Expresso do Oriente é a inclusão de duas sequencias de ação envolvendo o detetive que não apenas não contribuem em nada para a trama, como também acarretam em falhas no roteiro.
Assassinato no Expresso do Oriente começa de maneira bem lenta, com excesso de elipses mostrando cenas do trem andando pela neve sob uma pesada (e inapropriada) trilha sonora sentimental. Mas depois dos muitos personagens estarem estabelecidos, o filme engrena e - apesar de se basear apenas em diálogos - passa de maneira rápida e dinâmica.
Apesar de contar com grandes atores, Assassinato no Expresso do Oriente não tem nenhuma atuação relevante. Isto acontece, em parte, porque são muitos personagens dividindo a tela. Outro fator também cai sob a direção de Kenneth Branagh - que veio de uma vida no teatro - e que é a explicação provável do porquê seus atores são em geral caricatos, melodramáticos... parecem estar declamando seus textos. Com isto, se mostra bastante acertada a escalação de um elenco bastante famoso para a produção: se seus personagens não possuem carisma, seus intérpretes o tem. Eu mesmo sempre fico satisfeito quando vejo tanto talento na tela (mesmo que não utilizado).
Desconsiderando os problemas citados, entretanto, Assassinato no Expresso do Oriente é um filme bem feito tecnicamente e transmite muito bem o sentimento do universo dos romances de Agatha Christie. E nem todas as poucas alterações no livro me desagradaram. Há uma em específico, baseada no comportamento de Poirot no final do filme, que me agradou bastante... me pareceu mais coerente com a persona do detetive.
Entretanto, me pergunto se recomeçar a franquia nos cinemas com o Assassinato no Expresso do Oriente foi uma boa idéia. Como pontos positivos, a obra é uma das mais famosas e singulares de Agatha Christie; além de que por se passar o tempo todo em um trem, torna a produção bem barata. Mas por outro lado, o fato de ser um filme praticamente sem ação e apenas de diálogos o torna distante do gosto do espectador atual. Assassinato no Expresso do Oriente é sem dúvida um bom filme; mas devido as características tanto da obra original quanto de seu diretor, não acredito que ele caia no gosto do público. Ainda assim, quem não sabe como o filme termina deverá ser surpreendido positivamente, assim como eu fui quando vi o livro. Nota: 6,0
PS: os mesmos produtores e diretor de Assassinato no Expresso do Oriente já trabalham numa outra adaptação de um livro de Agatha Christie - Morte no Nilo - que só não sairá do papel se este aqui for um fracasso de bilheteria.