Diretor: Abderrahmane Sissako
Atores principais: Ibrahim Ahmed, Abel Jafri, Toulou Kiki
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=e6fdNIQPktY
Nota: 8,0
Nota: 8,0
Triste contemplação da intolerância religiosa
Com indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015, o filme Timbuktu do diretor mauritânio Abderrahmane Sissako é outro que agradou bastante a crítica especializada e ganhou diversos prêmios importantes em festivais ao redor do mundo.
Na história vemos a ocupação da histórica cidade de Timbuktu, em Mali, por um grupo jihadista - fato que de realmente ocorreu em 2012 (a cidade foi libertada cerca de 9 meses depois). O primeiro diferencial em Timbuktu é que nele já não temos mais guerra; no início da história a cidade já está dominada e seus habitantes de maneira razoavelmente resignada, já se acostumaram com a situação.
Corretamente Timbuktu não critica as religiões, e sim, seus extremismos. A população original de Timbuktu já é, em boa parte, islâmica. Mas mesmo partilhando dos mesmos credos, eles sofrem bastante nas mãos dos radicais. O próprio filme mostra sutilmente o quão absurdas são algumas das reivindicações, como por exemplo, o que a proibição de mulheres exibirem as mãos e pés em público representa para uma jovem que trabalha limpando peixes, e obviamente não pode usar luvas para isto.
Sutileza, aliás, é uma boa palavra para Timbuktu. Ele é um filme lento, são raras as cenas de ação ou violência explícita. Mas ao mesmo tempo toda opressão está lá, nos diálogos, em belas cenas simbólicas, como por exemplo, crianças jogando futebol com uma bola imaginária, já que não lhes é permitido praticar esportes.
Outro aspecto diferente é que jihadistas aparecem mais humanizados. Em alguns momentos, vemos eles se questionando se o que estão fazendo está correto. Outro exemplo: um de seus líderes do grupo, Abdelkerim (Abel Jafri), claramente deseja Satima (Toulou Kiki), mas como ela é casada com Kidane (Ibrahim Ahmed), ele a deixa em paz, não querendo infringir nenhuma lei. Mas mesmo Abdelkerim não segue sempre "as leis": em outro momento, o vemos fumando escondido - já que fumar também é proibido por eles - sendo este mais um exemplo de contradição e hipocrisia que temos no enredo.
A família de Kidane e Satima protagoniza uma subtrama que liga as partes do filme, mas que curiosamente não tem tanto a ver com assuntos religiosos. Ao ter uma de suas vacas mortas, Kidane vai tirar satisfação com o culpado e... bem, não vou contar o que acontece, mas o fato é que tudo o que acontece depois é reflexo de uma infeliz combinação de ódio e falta de diálogo. Um mal que atinge toda a humanidade cada vez mais, dia após dia.
Timbuktu deixa nos deixa uma mensagem forte: religião - independente de qual - não é o problema. O problema é a maneira que os homens a distorcem a seu favor em nome da violência. Melhor ainda: o grande problema é a falta de compaixão. É uma mensagem até "clichê", embora uma enormidade de pessoas não a entendam. E o grande mérito de Timbuktu é transmitir estas idéias de maneira diferente, contemplativa, através de belas paisagens, cenas emblemáticas e marcantes que são pura poesia. Nota: 8,0
Na história vemos a ocupação da histórica cidade de Timbuktu, em Mali, por um grupo jihadista - fato que de realmente ocorreu em 2012 (a cidade foi libertada cerca de 9 meses depois). O primeiro diferencial em Timbuktu é que nele já não temos mais guerra; no início da história a cidade já está dominada e seus habitantes de maneira razoavelmente resignada, já se acostumaram com a situação.
Corretamente Timbuktu não critica as religiões, e sim, seus extremismos. A população original de Timbuktu já é, em boa parte, islâmica. Mas mesmo partilhando dos mesmos credos, eles sofrem bastante nas mãos dos radicais. O próprio filme mostra sutilmente o quão absurdas são algumas das reivindicações, como por exemplo, o que a proibição de mulheres exibirem as mãos e pés em público representa para uma jovem que trabalha limpando peixes, e obviamente não pode usar luvas para isto.
Sutileza, aliás, é uma boa palavra para Timbuktu. Ele é um filme lento, são raras as cenas de ação ou violência explícita. Mas ao mesmo tempo toda opressão está lá, nos diálogos, em belas cenas simbólicas, como por exemplo, crianças jogando futebol com uma bola imaginária, já que não lhes é permitido praticar esportes.
Outro aspecto diferente é que jihadistas aparecem mais humanizados. Em alguns momentos, vemos eles se questionando se o que estão fazendo está correto. Outro exemplo: um de seus líderes do grupo, Abdelkerim (Abel Jafri), claramente deseja Satima (Toulou Kiki), mas como ela é casada com Kidane (Ibrahim Ahmed), ele a deixa em paz, não querendo infringir nenhuma lei. Mas mesmo Abdelkerim não segue sempre "as leis": em outro momento, o vemos fumando escondido - já que fumar também é proibido por eles - sendo este mais um exemplo de contradição e hipocrisia que temos no enredo.
A família de Kidane e Satima protagoniza uma subtrama que liga as partes do filme, mas que curiosamente não tem tanto a ver com assuntos religiosos. Ao ter uma de suas vacas mortas, Kidane vai tirar satisfação com o culpado e... bem, não vou contar o que acontece, mas o fato é que tudo o que acontece depois é reflexo de uma infeliz combinação de ódio e falta de diálogo. Um mal que atinge toda a humanidade cada vez mais, dia após dia.
Timbuktu deixa nos deixa uma mensagem forte: religião - independente de qual - não é o problema. O problema é a maneira que os homens a distorcem a seu favor em nome da violência. Melhor ainda: o grande problema é a falta de compaixão. É uma mensagem até "clichê", embora uma enormidade de pessoas não a entendam. E o grande mérito de Timbuktu é transmitir estas idéias de maneira diferente, contemplativa, através de belas paisagens, cenas emblemáticas e marcantes que são pura poesia. Nota: 8,0