domingo, 6 de julho de 2014

Crítica - O Grande Hotel Budapeste (2014)

Título: O Grande Hotel Budapeste ("The Grand Budapest Hotel", Alemanha / EUA, 2014)
DiretorWes Anderson
Atores principaisRalph Fiennes, Tony Revolori, F. Murray Abraham, Jude Law, Saoirse Ronan, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Mathieu Amalric, Edward Norton, Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Tom Wilkinson, Léa Seydoux, Bill Murray, Harvey Keitel

Mais um divertido filme de Wes Anderson

Dentre os poucos diretores da atualidade que produzem os tais filmes "autorais", o estadunidense Wes Anderson é definitivamente um deles. Seus filmes possuem muitas características em comum, mas, principalmente, são filmes de um humor rápido e de personagens bizarros, e que sempre nos divertem muito.

Como sempre, a história é contada de maneira acelerada, com muitos cortes, várias cenas onde os atores aparecem estáticos e milimetricamente no centro da tela, como tudo se fosse uma pintura. Cores fortes, cenários improváveis, bastante coloridos, e muitos, muitos personagens, todos eles no mínimo excêntricos. Repare acima na lista de atores principais e perceba que também em O Grande Hotel Budapeste não há economia em personagens. Ótimos nomes de Hollywood aparecem mais uma vez reforçando a qualidade das obras de Wes Anderson.

O Grande Hotel Budapeste começa com um interessante exercício de narrativa, em camadas. Vemos uma menina, na fictícia república de Zubrowka de hoje, abrindo o livro sobre o hotel símbolo de seu país, e então somos transportados ao prefácio escrito pelo "autor" (Tom Wilkinson), que por sua vez, quando o livro começa, nos transporta aos anos 60 nos explicando sobre sua entrevista com o dono do hotel, o milionário Moustafa (F. Murray Abraham), que conta sua história.

E são as aventuras do jovem Moustafa na década de 30 - na época um jovem mensageiro de nome Zero (Tony Revolori) - e seu chefe, o concierge Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), que são a verdadeira trama do filme. Ao longo da projeção, vemos como a propriedade do hotel passou para Gustave, que por sua vez, passou para Zero.

Notem que por mudar para a década de 30, o formato da tela vai para 1,37:1 (um formato quase quadrado, emulando o cinema daquela época, artifício também utilizado em O Artista). Estes "detalhes" são cuidados com esmero em O Grande Hotel Budapeste. O figurino e o cenário são muito bem feitos, nos convencendo da volta ao passado.

Com diálogos afiados e bastante humor, os 100 minutos de projeção passam num piscar de olhos, o que é um ótimo sinal. Comparando com o que considero as melhores obras do diretor, os filmes Os Excêntricos Tenenbaums (2001) e Moonrise Kingdom (2012), O Grande Hotel Budapeste é o melhor tecnicamente. Por outro lado, o roteiro não me cativou tanto. Ao contrário dos outros dois filmes citados, aqui a história envolve muito mais cenas de ação, e o sentimento dos personagens não é tão aprofundado, o que nos leva a um certo distanciamento dos protagonistas. Mesmo assim, o lado emocional não é descartado. Por exemplo, é trágica a situação de Monsieur Gustave, um homem "civilizado" que perde tudo com a chegada da guerra.

Contando com um enorme e talentoso elenco coadjuvante (e com ótimas atuações dos protagonistas Tony Revolori e Ralph Fiennes), se para mim O Grande Hotel Budapeste não é a melhor obra de Wes Anderson, no mínimo mostra que ele está tecnicamente cada vez melhor. E mais, reforça que seus filmes são sempre divertidos, imperdíveis. Quem ainda não conhece o trabalho deste diretor, corra aos cinemas! Você não irá se arrepender. Nota: 7,0

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Crítica - O Homem Duplicado (2013)

Título: O Homem Duplicado ("Enemy", Canadá / Espanha, 2013)
Diretor: Denis Villeneuve
Atores principais: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon

Marcante filme de suspense com final difícil e polêmico

De título original Enemy ("Inimigo", em inglês), normalmente eu iria enlouquecer com a tradução dada aqui no Brasil para o novo filme do diretor canadense Denis Villeneuve: O Homem Duplicado. Entretanto, desta vez a tradução do título é bastante adequada, já que O Homem Duplicado é exatamente o nome do livro do escritor português José Saramago, publicado em 2002, no qual este filme é baseado.

Na trama, conhecemos o professor de história Adam Bell (Jake Gyllenhaal), que tem uma vida rotineira e desanimada, mas que um dia descobre assistindo um filme que, para sua grande surpresa, existe um ator exatamente idêntico a ele. Após pouco tempo, ele consegue se encontrar pessoalmente com o artista, de nome Anthony Claire (também vivido por Gyllenhaal). A experiência perturba ambos fortemente, e as consequências deste encontro vão dramaticamente se aumentando, chegando até a envolver suas mulheres, respectivamente Mary (Mélanie Laurent) e Helen (Sarah Gadon), e culminando em um surpreendente desfecho.

A história é boa, mas contada de maneira bem lenta, contemplativa. Tanto a fotografia (trazendo tons alaranjados no filme todo) quanto a trilha sonora são muito boas e transmitem com precisão o clima de melancolia e confusão dos personagens, além de, ser eficiente em trazer um forte clima de mistério para a película.

O roteiro e a montagem também agradam, já que requerem a atenção e a inteligência do espectador. Por exemplo, o filme mostra que tanto Adam quanto Anthony possuem medo de relacionamento, mas isto é feito de maneira sutil, implícita. Outro detalhe curioso: não há um único protagonista, as participações alternam entre Adam e Anthony em um ponto que só no final entendemos quem é quem em todas as cenas.

Sim, a frase acima entrega que o filme não é de tão fácil compreensão, mas falarei disto mais tarde, em seu desfecho.

Gostei bastante da atuação de Sarah Gadon, que não conhecia. Mas quem rouba a cena é Jake Gyllenhaal, provando definitivamente o quão bom e versátil ator ele é. Foi com prazer que pude concluir que os "tiques" apresentados por ele no filme Os Suspeitos (justamente o filme anterior do diretor Denis Villeneuve) eram mesmo de seu personagem (foram tão convincentes que eu pensei serem do próprio ator).

Tudo funciona bem em O Homem Duplicado... até chegarmos ao seu desfecho. O final é polêmico em vários níveis.

Primeiramente, a última cena termina de forma bastante abrupta, além de ser uma das coisas mais assustadoras que já vi no cinema até hoje. Sua conclusão "estranha" me lembra Donnie Darko (2001), que curiosamente também é estrelada por Jake. A conclusão (ou falta de uma) certamente deixará boa parte dos espectadores revoltados.

Mas... calma. Conforme é dito em forma de letreiro nos primeiros segundos do filme: "O caos é uma ordem ainda não decifrada". E de fato, é este o sentido do filme. Ele é um verdadeiro quebra-cabeças, que, ao assistido de novo, se torna mais claro. Há várias "pistas" espalhadas pelo filme todo, que ajudam a explicar a conclusão.

Para quem interessar, este vídeo (em inglês sem legendas), apresenta uma teoria para explicar o filme todo, a qual entendo ser correta: https://www.youtube.com/watch?v=v9AWkqRwd1I. Note que embora a explicação me convença, ela não me satisfaz em 100%. No meu último parágrafo deste texto explico em detalhes o que eu não gostei.

Independente da explicação para o final, um fato é claro: o desfecho é uma enorme alteração da obra de Saramago. No filme o final é aberto, um pouco dúbio, principalmente para o personagem Adam. Já no livro temos uma conclusão simples e direta; ela fecha a história, não dando margens a interpretações. E é nesta alteração do original que O Homem Duplicado tem ao mesmo tempo seu ponto fraco e forte: ao mesmo tempo que seus enigmas e explicações encantam por exigir mais do espectador, ao mesmo tempo não deixam a história 100% "redonda" (ver meu PS ao final).

Um bom filme de suspense e muito bem executado tecnicamente, O Homem Duplicado merece uma nota alta por ousar ser diferente. Filmes que não entregam tudo pro espectador estão cada vez mais raros, e consequentemente, chamam cada vez mais a minha atenção. Nota: 8,0

PS: conforme prometido acima, o que eu "não gostei do final" - não leiam este parágrafo antes de assistir o filme, é spoiler total! Entendo que o desfecho, por mais "redondo" e inteligente que seja, força um pouco a barra quanto ao relacionamento de Anthony com Helen. Oras, na última cena de Adam com sua mãe, ela praticamente entrega que Anthony e Adam são a mesma pessoa. Sendo este mesmo o caso, como Helen nunca soube que seu marido dava aulas? Como é possível estar casado com uma pessoa e não saber disto? Ainda mais quando o filme mostra que Helen conhece a mãe de seu esposo... elas nunca iriam falar sobre as atividades dele? Achei inverossímil. Curiosamente, no livro, Anthony e Adam são claramente dois personagens distintos, não há margem para esta tipo de interpretação.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Crítica - O Lobo Atrás da Porta (2013)

Título: O Lobo Atrás da Porta ("O Lobo Atrás da Porta", Brasil, 2013)
Diretor: Fernando Coimbra
Atores principais: Milhem Cortaz, Leandra Leal, Fabiula Nascimento, Juliano Cazarré

Tenso do início ao fim, um ótimo filme nacional

A grande maioria dos filmes brasileiros que chegam aos cinemas atuais ou são comédias românticas, ou comédias pastelão, ou ainda, sobre violência urbana. Felizmente temos alguns respiros desta mesmice, que é o caso deste ótimo O Lobo Atrás da Porta.

Escrito e dirigido por Fernando Coimbra (acostumado com curta-metragens, faz sua estréia em longas), o filme chamou a atenção em diversos festivais, embora não tenha conquistado nenhum dos prêmios mais importantes.

A história começa com a dona de casa Sylvia (Fabiula Nascimento) indo à polícia desesperada, dizendo que sua filha foi sequestrada. Quando seu marido, Bernardo (Milhem Cortaz) é convocado para depor, ele instantaneamente acusa sua amante, Rosa (Leandra Leal) de ser a responsável pelo ato.

É então que, conforme o trio conta a sua versão dos fatos para o delegado (Juliano Cazarré), entendemos através de flashbacks qual a real relação entre eles. Conforme as versões são contadas, o espectador (e o delegado) percebem as inconsistências, o que nos levam à novos flashbacks, agora "verdadeiros", e que causam reviravolta à trama.

As constantes surpresas a que somos submetidos são apenas um aspecto do ótimo roteiro de O Lobo Atrás da Porta. Desde a maneira com que a história é contada, até aos diálogos, tudo funciona meticulosamente bem no filme. O que inicialmente parece como uma inocente "baixaria" de marido-mulher-amante vai se tornando gradativamente, com maestria, algo cada vez mais sério, mais tenso, culminando no forte clímax, que é quando todas as peças do quebra-cabeça se encaixam.

O Lobo Atrás da Porta me lembra vagamente do estadunidense Closer (2004), que igualmente mostra o pior do ser humano em termos de relacionamentos. Mas o filme brasileiro é mais intimista, com muito mais paranoia do que sexo, e por isto tudo, levemente melhor.

Com boas atuações, principalmente a ótima interpretação da bela Leandra Leal, além do show de roteiro e montagem, O Lobo Atrás da Porta também agrada por sua trilha sonora. Quanto a sua fotografia, em muitos momentos as cenas aparecem levemente desfocadas. Embora eu ache provável que este "porém" seja consequência do tipo de câmera utilizado nas filmagens, existe uma possibilidade do problema ser na projeção do cinema que fui. Portanto, ao assistirem este filme nos cinemas, agradeço um comentário aqui em relação ao foco, para tirar minha dúvida.

Com pouquíssimos alívios cômicos, O Lobo Atrás da Porta é um filme bastante sério que vai do drama ao suspense - que infelizmente são temas raros no cinema brasileiro atual - e por isto mesmo chama a atenção por não se entregar ao caminho comum. O cinema nacional pode sim ser muito bom. Nota: 8,0

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Crítica - Malévola (2014)

Título: Malévola ("Maleficent", EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Robert Stromberg
Atores principais: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley

Um belo conto de fadas de belíssimo visual

A Disney nunca deixou de explorar um de seus principais nichos: as histórias de contos de fada. E é o que ela faz mais uma vez, agora com Malévola, porém em live action, que já é algo mais raro dentro deste gênero. Mais ainda, a história é uma reinvenção do conto da Bela Adormecida, clássica animação de 1959.

Desta vez, temos o conto sob o ponto de vista da vilã da história original, a bruxa Malévola (Angelina Jolie), que agora está rebatizada de "fada", sendo esta apenas uma das inúmeras alterações da obra original. De cara já ficamos sabendo que o Rei (Sharlito Copley) causou um grande mal à protagonista no passado, e portanto, a maldição do sono jogada na princesa Aurora (Elle Fanning) não se trata de simples maldade, mas sim de um isolado ato de vingança.

O roteiro é simplório, apesar de trazer uma boa trama principal e nos presentear com algumas surpresas. Portanto, o que realmente chama a atenção em Malévola é seu visual: belas paisagens, ótimo design, cores, efeitos especiais de primeira. Um deleite para os olhos.

E o filme traz um outro grande destaque, a encarnação de Malévola por Angelina Jolie. Pelo seu enorme carisma, pela ótima atuação, e exibindo uma indescritível beleza, o personagem é absolutamente marcante. Jolie já ficou imortalizada com Lara Croft. Mas acredito que sua Malévola se tornará ainda mais memorável.

Como conto de fada, Malévola é sem dúvida bom: possui algumas cenas belas e comoventes, e em suas melhores passagens se compara na qualidade às animações clássicas. O porém é que o filme possui alguns deslizes que poderiam ser evitados.

O primeiro deles é que definitivamente não se trata da história que já conhecíamos. O ideal seria que o roteiro contasse os mesmos fatos, porém sob outra ótica. Não é o que acontece: a trama é profundamente alterada, sendo uma das principais modificações o fato de Malévola ter acompanhado pessoalmente o crescimento de Aurora.

Este "crescimento", aliás, possui cenas em demasia e chega a ser repetitivo. Este tempo poderia ter sido aproveitado para, por exemplo, desenvolver os demais personagens. Sim, se o fato de Malévola roubar a cena é uma grande virtude, também se torna um defeito já que ninguém mais se desenvolve.

Mas o principal problema se encontra na batalha final de Malévola contra o exército do Rei. Neste momento, o filme passa a ser um reles filme de ação, com um ritmo acelerado totalmente destoante do que vimos até então. Fora isto, surgem várias cenas bastante clichê... e o pior: o filme cita tantas vezes ao longo da projeção quais são os poderes e fraquezas da protagonista que a luta final se torna previsível.

Malévola não deixa de ser o retrato de seu diretor, Robert Stromberg. É seu primeiro trabalho de direção, o que ajuda a explicar os defeitos acima. Ao mesmo tempo, Stromberg é um designer e especialista em efeitos especiais já consagrado em Holywood, cujos trabalhos incluem Avatar (2009), o mais recente Alice no País das Maravilhas (2010), e o Labirinto do Fauno (2006). Não é a toa, portanto, que o visual de Malévola seja tão admirável.

Sendo uma produção acima da média, mas com alguns problemas de roteiro, Malévola é no mínimo um conto de fadas bem divertido. Nota: 7,0.

PS: quem interpreta a versão da Aurora com 4 anos é a filha de Angelina, Vivienne Jolie-Pitt. Segundo a atriz, ela não gostaria de vê-la atuando tão cedo, mas foi uma questão de necessidade: a única criança que não chorava ao ver Jolie vestida de Malévola era sua própria filha.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Todas as críticas do Cinema Vírgula em um só lugar!


Elementar, meu caro Watson. Em janeiro de 2012 iniciei minha saga como crítico de cinema ao postar minha análise sobre o filme Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011). De lá para cá foram 84 críticas, sendo elas: 8 filmes de Nota 9; 16 filmes de Nota 8; 23 filmes de Nota 7; 27 filmes de Nota 6; 8 filmes de Nota 5; e 2 filmes de Nota 4.

Apesar do pedido de muitos, não havia um lugar onde se poderia visualizar todas minhas críticas em um lugar só. Sim, eu disse não havia, no passado. Pois agora este lugar mágico existe!

Ao entrar na página vocês notarão que eu aproveitei para classificar os filmes tanto em nota de 0 a 10 quanto em “estrelas” - de 1 a 5 estrelas. Com esta comparação agora fica mais fácil perceber que quando o Ivan dá nota 6,0 para um filme, ele não está sendo ranzinza. Nota 6,0 significa filme bom, pois é equivalente a 3 estrelas!

Sei também que minha página “com todos os filmes” irão gerar alguns questionamentos. Já me antecipo respondendo dois deles: Pergunta: Ivan, você nunca vai dar 10,0 para um filme? Resposta: até hoje não encontrei um filme “realmente perfeito”, mas assim que o encontrar, ele levará a nota máxima. Pergunta: Sua nota mais baixa é um 4,0, por que não há mais notas abaixo que isto? Resposta: isto não acontece por acaso, afinal, eu sempre assisto filmes que tenho esperança de serem bons. Desta maneira, filmes que são obviamente ruins são imediatamente descartados. Mesmo assim, é possível que um dia eu tenha o desprazer de assistir algo que darei nota inferior ao 4,0.

Mais ainda, além da inauguração desta espetacular página com todas as críticas, aproveitei para acrescentar algumas melhorias no site: agora ele contém, no canto direito, um campo de pesquisa e a opção de procurar artigos através de seu assunto. Espero que gostem!

Bem, chega de falatório e vamos à 8ª maravilha do mundo. O link da página é este aqui: http://cinemavirgula.blogspot.com.br/p/todas-as-criticas.html

Finalmente, me despeço pedindo um favor. Caso encontrarem algum errinho na página, ou alguma crítica faltando, me avisem! Grande abraço a todos e tenham bons filmes!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Crítica – X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014)

Título: X-Men: Dias de um Futuro Esquecido ("X-Men: Days of Future Past", EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Bryan Singer
Atores principais: Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Peter Dinklage, Patrick Stewart, Ian McKellen

Bom como filme. Decepcionante como franquia.

Em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido temos a volta da famosa equipe de mutantes. Ou melhor: equipeS. O filme reúne os atores/personagens da trilogia original (que começou em 2000 e terminou em 2006) com os atores/personagens em versão jovem (a versão X-Men: Primeira Classe, de 2011). Temos então em um mesmo filme as duas versões de Charles Xavier (James McAvoy e Patrick Stewart), as duas versões de Magneto (Michael Fassbender e Ian McKellen), as duas versões de Wolverine (opa! ... ambas são interpretadas pelo Hugh Jackman).

Baseada em um arco de história em quadrinhos de 1981 e que leva o mesmo nome, a trama se passa em 2023, onde encontramos os mutantes praticamente extintos; foram caçados e massacrados impiedosamente pelos “Sentinelas”: robôs virtualmente indestrutíveis, projetados para matar o homo superior. O que restou dos X-Men “velhos” tenta sua última tentativa de salvação: mandar Wolverine para o passado, para que ele consiga alterar o futuro.

Explico melhor: os X-Men do futuro identificaram o “acontecimento-chave” que os levou a tragédia: ao matar em 1973 o criador dos Sentinelas, o empresário Bolivar Trask (Peter Dinklage), a ação de Mística (Jennifer Lawrence) teve o efeito contrário ao esperado: ao invés de encerrar o desenvolvimento dos  robôs, a brutal morte convenceu o governo dos EUA a apoiar de vez o projeto. Voltar Wolverine em 50 anos no tempo, para que ele possa alertar os jovens Xavier e Magneto do que vai acontecer, é o plano para mudar a História.

A maior parte do filme, portanto, se passa no passado. E é curioso ver que nos cortes que transportam o telespectador para os anos 70, tanto trilha sonora quanto as cores do filme emulam esta década. Igualmente curioso é que este cuidado se perde rapidamente, e principalmente nas cenas de batalha (repleta de efeitos especiais), cores e trilhas “atuais” nos fazem esquecer que voltamos no tempo.

Há duas coisas realmente boas em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido.Uma delas é a atuação do trio Hugh Jackman, James McAvoy e Michael Fassbender. Eles sustentam o filme todo, com méritos.

A segunda coisa é a primeira aparição do personagem Peter (Evan Peters), que futuramente receberá a alcunha de Mercúrio. Suas cenas são breves, entretanto, visualmente impressionantes e divertidíssimas.

Os efeitos especiais mais uma vez são muito bons e a trilha sonora também agrada.

Porém se há uma coisa que X-Men: Dias de um Futuro Esquecido peca, é por sua falta de originalidade. Por exemplo, a tal trilha que elogiei lembra os “baaaauums” de A Origem (2010). E parte das tais ótimas cenas de Mercúrio lembram bastante as cenas do mutante Noturno em X-Men 2 (2003): mais uma vez temos capangas armados espancados em um corredor. E não é coincidência: o diretor de ambos os filmes é o mesmo, Bryan Singer.

Mas é a base do (bom) roteiro que realmente incomoda pela repetição. Pela 4ª vez em 5 filmes X-Men temos uma ameaça criada por humanos que culmina no duelo entre Magneto (respondendo à ameaça atacando a humanidade) e Charles Xavier (defendendo os humanos). É claro que este antagonismo entre ambos é parte essencial da franquia, porém, a fórmula já se esgotou. Passou da hora de aparecerem novas ameaças, novos vilões.

Para os fãs, rever tantos atores queridos em um mesmo filme é um deleite. Igualmente gratificante é perceber os vários easter eggs ao longo da projeção (a "dica" de que Peter é filho de Magneto é um deles). Mas ao mesmo tempo, para os fãs, o que foi feito com a franquia é algo a se lamentar.

Para quem ainda não viu X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, pule os dois próximos parágrafos, pois ao explicar o porquê da franquia ter sido prejudicada, eu conto um trecho do final do filme.

Ao encerrar, o filme deixa muito claro que o que vimos em X-Men: O Filme, X-Men 2 e X-Men: o Confronto Final foi completamente apagado da história. Foi feito um completo reboot da franquia. É algo muito parecido com o reboot feito em Star Trek. Mas há uma grande diferença. Star Trek é uma franquia que começou na década de 60, cuja cronologia passou por 10 filmes e 726 episódios de TV. É evidente que neste caso o reboot é algo necessário: fazer um novo roteiro que não em entre em contradição com nada do que foi mostrado em mais de 50 anos é praticamente impossível.

Mas e no caso de X-Men? Oras... temos uma cronologia de apenas 3 filmes cujo início não completou nem 15 anos, e que justamente no recente 2011 trouxe um ótimo filme reboot (X-Men: Primeira Classe) que provou ser possível criar histórias sem contradizer em nada a trilogia original. Então, por que resolver apagar a história agora? Para mim é um grande desrespeito a todos que assistiram os filmes passados. E mais: note que em Star Trek o reboot cria universos paralelos (eles coexistem). Em X-Men é pior: a história é realmente deletada.

Se eu fosse analisar o filme de maneira isolada, ele levaria uma nota 7,0. Mas levando em conta o quanto ele repete dos filmes anteriores, e ao mal causado à franquia, sou obrigado a baixar minha avaliação. Perceba que temos sim que avaliar o filme como franquia, pois se alguém que não assistiu os 4 filmes anteriores resolver assistir X-Men: Dias de um Futuro Esquecido não vai entender nada. Nota: 6,0.

PS: o filme possui cena pós-créditos, mas não vale a pena esperar por ela. É uma cena bem curta, e nada mais que um pequeno teaser sobre o próximo filme mutante: X-Men: Apocalipse, que sairá em 2016.

domingo, 25 de maio de 2014

Apologia a Game of Thrones


Hoje não teremos o oitavo episódio da 4a temporada de Game of Thrones na TV. Seguindo a pausa que ocorrerá nos EUA, o aguardado episódio só será transmitido no próximo domingo, 1o de junho.

Para não se sentirem tão abandonados, resolvi reunir neste post alguns artigos interessantes sobre a série. É uma opção divertida para passar a noite de hoje.

Mas antes dos artigos, um aviso aos teimosos que ainda não acompanham o seriado. Saibam que no IMDB, a nota da série é de 9,5. O que significa isto? Basta dizer que o filme com a maior nota por lá, Um Sonho de Liberdade, tem nota 9,2. Ou seja: Game of Thrones é melhor que qualquer filme já feito! :P

Seguem os links para vocês conferirem:

E agora, os posts que comentei:

1) Você sabia que Robin Arryn é brasileiro?

2) Que tal 50 curiosidades sobre a série?

3) E aqui, imagens dos atores da série fora das telas. Alguns são bem diferentes na vida real.

Livros e seriado possuem várias diferenças. Os links abaixo comentam sobre elas. Nota: as matérias assumem que o leitor está "em dia" com a série, ou seja, tenha assistido todos os episódios até agora. Senão, muita coisa será spoiler.

4) Um resumão de algumas das principais diferenças.

5) 25 diferenças que "mudarão seu jeito de ver a série". Está em inglês, e na maioria do texto, compara cada personagem em suas versões de livro e tv.

6) E finalmente, outro texto em inglês, o mais longo de todos, e que aqui compara mais as diferenças de conceito entre livros e seriado.

E é isto. Esperam que curtam. E que venham os novos capítulos em junho!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Quatro filmes. Quatro parágrafos. Quatro notas.


Segue uma breve análise (e nota) de quatro filmes recentes cuja exibição perdi nos cinemas, mas que assisti nas últimas semanas para recuperar meu atraso cinéfilo.


Invocação do Mal ("The Conjuring", EUA, 2013)

Conto de terror baseado na história real dos “investigadores de fenômenos paranormais” Edward e Lorraine Warren. A produção é um pouco acima da média por trazer uma abordagem mais científica e sem apelar para sustos baratos. Boa fotografia, boa história, bom clima de suspense. Ironicamente, sua maior qualidade também age como sua maior fraqueza: sua crescente abordagem racional faz com que o filme perca um pouco da dramaticidade em seu desfecho.
Nota: 7,0


Ajuste de Contas ("Grudge Match", EUA, 2013)

Rocky Balboa versus Jake La Motta? Quase. Aqui, como boxeadores aposentados, Sylvester Stallone e Robert De Niro são respectivamente Henry “Razor” Sharp e Billy “The Kid” McDonnen. Chega ser irônico que ao mesmo tempo em que o filme faz várias boas piadinhas ironizando os clichês do gênero boxe, ele também se utiliza dos clichês sem nenhum constrangimento. Dentro do filme, o desfecho é satisfatório e também uma bela homenagem aos personagens. Fora dele, o mesmo sentimento não se aplica aos atores pois que o filme não acrescenta nada à filmografia de ambos. Uma curiosidade adicional: ver uma envelhecida Kim Basinger, agora com 60 anos, e há um bom tempo sumida dos filmes de maior expressão.
Nota: 5,0


Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum ("Inside Llewyn Davis", EUA / França / Reino Unido, 2013)

No filme mais recente dos irmãos Coen, acompanhamos uma semana da vida do cantor de folk Llewyn Davis (personagem fictício, porém levemente baseado no cantor real Dave Van Ronk). Ele possui fama local e é talentoso, mas não consegue fazer a carreira decolar. O filme é “diferente” já que conta a história de um perdedor que em nenhum momento alcança redenção. Bela fotografia, ótima trilha sonora, mas não empolga tanto porque o desânimo do protagonista nos contagia. Entretanto, o filme vale a pena pela ambientação histórica, tanto de roteiro como em termos de música.
Nota: 6,0


Caçadores de Obras-Primas ("The Monuments Men", Alemanha / EUA, 2014)

Um elenco recheado de estrelas:  George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin e Cate Blanchett dentre outros. Mas o filme não consegue desenvolver bem nenhum de seus personagens, nem se aproveitar do carisma dos atores, o que é uma façanha negativa. Na verdade, aqui a estrela é outra: as obras de arte roubadas pelos nazistas na 2ª guerra. Baseada em fatos reais, a História (disciplina) é bem mais interessante que a história (roteiro) e suficiente para agradar quem gosta de aprender sobre o passado.
Nota: 6,0

terça-feira, 20 de maio de 2014

Crítica - Godzilla (2014)

Título: Godzilla ("Godzilla", EUA / Japão, 2014)
Diretor: Gareth Edwards
Atores principais: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Bryan Cranston

Suficientemente bom para fazer sucesso no ocidente

Gojira (ou Godzilla) apareceu pela primeira vez em 1954 em um filme japonês de mesmo nome, do diretor Ishiro Honda. Criado como uma metáfora para a destruição da bomba atômica, o monstro gigante é sucesso absoluto na Terra do Sol Nascente. Até agora já foram criados 28 filmes do Godzilla no Japão.

Apesar de bastante conhecido por aqui, o lagartão nunca fez muito sucesso no ocidente. Pelo menos não através do cinema. Vários dos filmes japoneses nem chegaram as salas ocidentais. E para piorar, em 1998 os EUA produziram sua versão hollywoodiana de Godzilla. Um filme fraquíssimo. Elogios mesmo apenas os desenhos animados - uma versão da Hanna-Barbera de 1978, e uma versão mais recente, do filme de 98.

Em sua segunda tentativa, os estadunidenses acertaram a mão. O Godzilla de 2014 é bom o suficiente para fazer sucesso no atlântico. Dirigido pelo desconhecido diretor inglês Gareth Edwards e sob produção da Legendary Pictures a história segue o enredo padrão de filmes de monstros/alienígenas/desastres: acompanhamos a história sob o ponto de vista dos humanos, ou mais ainda, de uma família.

O filme começa bem, com cenas em um reator nuclear ha 15 anos atrás. Lá vemos Joe Brody (Bryan Cranston - de Breaking Bad) e sua esposa Sandra (Juliette Binoche) em seu primeiro contato com algo "grande e fora do normal". A tensão e as cenas de destruição são bem feitas. Já de volta ao tempo atual, os personagens de Cranston e Binoche são colocados de lado e passamos então a ter a perspectiva do filho do casal, Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson - assustadoramente "bombado" em comparação ao magrelo que era nos filmes de Kick-Ass) e de sua esposa Elle (Elizabeth Olsen). É aí que o filme falha.

Mal desenvolvidos, e sem carisma, vemos os personagens Ford e Elle passando por situações de perigo e sequer nos importamos. O filme não consegue transmitir o sentimento de tensão do casal. Apesar dos efeitos especiais serem bons, e as destruições em escala assustadoramente grandes, parece que a dupla jamais será atingida. Talvez porque são catástrofes "limpas": são raras as imagens de alguém morrendo, e ninguém aparece sofrendo ou machucado. Ou talvez porque os monstros sejam tão onipotentes (até a década de 80 Godzilla era mostrado com 50m de altura e aqui aparece com 110m), não parece fazer muita diferença o que os humanos podem fazer ao longo da história.

Se você prestou bem atenção no parágrafo acima, eu falei monstros... no plural. Sim. Além de Godzilla, há dois insetos igualmente gigantes, denominados M.O.T.O. (sigla para Massive Unidentified Terrestrial Organism). Se na parte humana o filme fracassa, na parte dos monstros o filme empolga. É verdade que os insetos não são lá muito legais. Mas já o Godzilla... é um espetáculo a parte. Me desculpem todos os robôs e monstros que apareceram em Círculo de Fogo (2013), mas nenhum deles é tão bacana e fodástico quanto este Godzilla de 2014. As cenas com o lagartão só possuem um defeito: são muito curtas. As lutas são bem legais, mas poderiam durar mais. Sem nenhuma dúvida este bom filme seria melhor se Godzilla fosse "realmente" o protagonista, e não um "quase coadjuvante".

Tecnicamente, os efeitos visuais são bons e bastante variados, com tomadas no ar alternadas com tomadas na terra, cenas em cidades, florestas e mar; filmagens em primeira pessoa alternadas com filmagens à longa distância. A trilha sonora é burocrática, mas já o roteiro - pelo menos sua premissa básica - me agradou apesar de alguns furos: o fato de misturar incidentes reais históricos com a mitologia de Godzilla foi uma boa sacada.

Em resumo, se seu objetivo for assistir um filme mostrando o drama humano diante de dificuldades e catástrofes, esqueça. Este Godzilla não é seu filme. Mas se seu objetivo for ver monstros gigantes, o filme irá te agradar e te fazer lamentar apenas uma coisa: o personagem-título poderia aparecer mais.

Muito superior ao filme de 1998, o Godzilla 2014 não é perfeito, mas repito que é bom o suficiente para agradar e fazer sucesso no ocidente. E os primeiros números não desmentem: arrecadando US$ 93 milhões só nos EUA em seus 3 primeiros dias de exibição, o filme já é a 2ª melhor estréia do ano, só perdendo para Capitão América 2. Nota: 7,0 6,0.

Atualização em 28/05: após alguns dias refletindo, acho que exagerei na nota. O filme é bom, mas não chega ao 7,0. Portanto, atualizado para 6,0.

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

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