Diretor: Ridley Scott
Atores principais: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Ben Kingsley
Visualmente maravilhoso, bom na ação, porém falho no restante
Embora seja um filme de 2014, somente agora assisti Êxodo: Deuses e Reis. O segundo grande épico bíblico hollywoodiano do ano (o outro foi Noé). Com um visual quase inacreditável de tão belo, o diretor Ridley Scott erra em quase todo o resto.
Êxodo: Deuses e Reis é mais uma interpretação da história bíblica de Moisés, porém aqui há um grande enfoque em apenas um pedaço da vida do patriarca: a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito.
A história começa com Moisés (Christian Bale) ainda príncipe do Egito, desconhecedor de suas origens. Sua primeira participação em cena já é um alerta do tom do filme que veremos a seguir: Moisés tira sarro das crenças egípcias, mostrando um caráter ateu, antipático e arrogante que permanece por quase todo o filme. Mais ainda, ele é visualmente um estranho no ninho: se veste diferente, e é o único egípcio do planeta com barba. Se ele foi criado a vida toda dentro da corte real, não há nenhuma justificativa para ele se portar e vestir de maneira diferente dos demais. Este é o primeiro dos muitos erros de Êxodo: Deuses e Reis.
Antes das críticas, vamos aos elogios: o filme é visualmente maravilhoso: cenários soberbos, efeitos especiais perfeitos, belíssima fotografia, figurino, direção de arte. Tudo que encanta os olhos é irretocável. Vale a pena ressaltar que sim, há bastante efeito especial (mais de mil), porém muito do que vemos também é real. A produção não economizou nos cenários, e grandes partes dos palácios foram montados fisicamente. Também é importante avisar que o filme foi filmado em 3D... e muito bem filmado! Repleto de tomadas de plano longo, a sensação de profundidade é bem grande, e portanto, fica a recomendação de assistir Êxodo sob este formato.
Outro ponto positivo são as cenas de ação. Elas não são lá muito impressionantes, mas são suficientemente realistas e bem filmadas. Ridley Scott ainda sabe prender a atenção do espectador através da ação. Entretanto, em termos emoção, Êxodo: Deuses e Reis falha miseravelmente. O único momento do filme que me trouxe alguma emoção foi nos créditos finais, quando Ridley escreve uma dedicatória ao irmão e também diretor Tony Scott, falecido em 2012.
Parte da "culpa" deste vazio emocional vem dos atores: o filme tem várias atuações ruins. Os veteranos John Turturro e Ben Kingsley são os que se salvam. Christian Bale até atua bem... mas ele não interpreta exatamente um Moisés... interpreta seu papel de sempre: um personagem "durão", "mal humorado", e especialmente neste filme, sem carisma nenhum.
Há de se criticar a "mão pesada" do diretor. Sutileza não é com ele mesmo. Por exemplo, para nos "convencer" que o Faraó ama seu filho, ele diz em voz alta duas vezes: "você dorme bem porque eu te amo"... Como se o ato de falar em voz alta convencesse alguma coisa... Pois em atos, o Faraó não parece se importar com nada nem ninguém, o que inclui seu filho. Outro exemplo de "mão pesada" é a trilha sonora, que não dá trégua um instante: toda cena precisa ser "épica", e com isto, haja música instrumental no último volume.
Finalmente, o roteiro, que consegue trazer uma história dinâmica, rápida (os anos e acontecimentos passam correndo), e prendem a atenção: mesmo no ritmo ele não está isento de alguns pequenos pecados, como a interrupção de personagens inúteis, como a mãe do Faraó, interpretada pela Sigourney Weaver.
Fora isto, em sua essência, o roteiro é bem contraditório. Assim como em Noé, é trazida uma abordagem "realista", questionando em todo momento se Deus esteve mesmo lá presente, ou se - no caso - nada mais era do que um delírio - respectivamente de Moisés e Noé. Por exemplo, Moisés só passa a ver Deus após levar uma forte pancada na cabeça; as pragas do Egito são todas explicadas "cientificamente" como sendo uma consequência natural da outra, e assim vai... Porém, apesar deste enorme esforço "realista", há momentos em que não há dúvidas: Deus existe, está fazendo coisas "milagrosas", como por exemplo, a morte dos primogênitos, ou fazer a noite sumir instantaneamente, transformando o céu em um dia.
Ainda sobre roteiro ruim, o que dizer sobre Moisés, que quando vai até o Faraó avisar para libertar seu povo, caso contrário todos os primogênitos morrerão, simplesmente fala: "ó, vai dar me*** grande aí, proteja seu filho". Custava explicar o que ia acontecer? O Faraó claramente não entendeu o que Moisés disse. Que sentido tem este diálogo então?
Ah, e quanto as muitas inconsistências temporais e históricas do filme, nem vou entrar em detalhes. Mas digo, com certa surpresa, que Êxodo: Deuses e Reis é bem mais fiel a Bíblia do que foi Noé.
Repleto de falhas, Êxodo: Deuses e Reis ainda assim possui dois atrativos: o visual deslumbrante e, porque não, uma história-base (a vida de Moisés) interessante. São dois argumentos suficientes para conferir o filme nos cinemas. Nota: 6,0
Êxodo: Deuses e Reis é mais uma interpretação da história bíblica de Moisés, porém aqui há um grande enfoque em apenas um pedaço da vida do patriarca: a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito.
A história começa com Moisés (Christian Bale) ainda príncipe do Egito, desconhecedor de suas origens. Sua primeira participação em cena já é um alerta do tom do filme que veremos a seguir: Moisés tira sarro das crenças egípcias, mostrando um caráter ateu, antipático e arrogante que permanece por quase todo o filme. Mais ainda, ele é visualmente um estranho no ninho: se veste diferente, e é o único egípcio do planeta com barba. Se ele foi criado a vida toda dentro da corte real, não há nenhuma justificativa para ele se portar e vestir de maneira diferente dos demais. Este é o primeiro dos muitos erros de Êxodo: Deuses e Reis.
Antes das críticas, vamos aos elogios: o filme é visualmente maravilhoso: cenários soberbos, efeitos especiais perfeitos, belíssima fotografia, figurino, direção de arte. Tudo que encanta os olhos é irretocável. Vale a pena ressaltar que sim, há bastante efeito especial (mais de mil), porém muito do que vemos também é real. A produção não economizou nos cenários, e grandes partes dos palácios foram montados fisicamente. Também é importante avisar que o filme foi filmado em 3D... e muito bem filmado! Repleto de tomadas de plano longo, a sensação de profundidade é bem grande, e portanto, fica a recomendação de assistir Êxodo sob este formato.
Outro ponto positivo são as cenas de ação. Elas não são lá muito impressionantes, mas são suficientemente realistas e bem filmadas. Ridley Scott ainda sabe prender a atenção do espectador através da ação. Entretanto, em termos emoção, Êxodo: Deuses e Reis falha miseravelmente. O único momento do filme que me trouxe alguma emoção foi nos créditos finais, quando Ridley escreve uma dedicatória ao irmão e também diretor Tony Scott, falecido em 2012.
Parte da "culpa" deste vazio emocional vem dos atores: o filme tem várias atuações ruins. Os veteranos John Turturro e Ben Kingsley são os que se salvam. Christian Bale até atua bem... mas ele não interpreta exatamente um Moisés... interpreta seu papel de sempre: um personagem "durão", "mal humorado", e especialmente neste filme, sem carisma nenhum.
Há de se criticar a "mão pesada" do diretor. Sutileza não é com ele mesmo. Por exemplo, para nos "convencer" que o Faraó ama seu filho, ele diz em voz alta duas vezes: "você dorme bem porque eu te amo"... Como se o ato de falar em voz alta convencesse alguma coisa... Pois em atos, o Faraó não parece se importar com nada nem ninguém, o que inclui seu filho. Outro exemplo de "mão pesada" é a trilha sonora, que não dá trégua um instante: toda cena precisa ser "épica", e com isto, haja música instrumental no último volume.
Finalmente, o roteiro, que consegue trazer uma história dinâmica, rápida (os anos e acontecimentos passam correndo), e prendem a atenção: mesmo no ritmo ele não está isento de alguns pequenos pecados, como a interrupção de personagens inúteis, como a mãe do Faraó, interpretada pela Sigourney Weaver.
Fora isto, em sua essência, o roteiro é bem contraditório. Assim como em Noé, é trazida uma abordagem "realista", questionando em todo momento se Deus esteve mesmo lá presente, ou se - no caso - nada mais era do que um delírio - respectivamente de Moisés e Noé. Por exemplo, Moisés só passa a ver Deus após levar uma forte pancada na cabeça; as pragas do Egito são todas explicadas "cientificamente" como sendo uma consequência natural da outra, e assim vai... Porém, apesar deste enorme esforço "realista", há momentos em que não há dúvidas: Deus existe, está fazendo coisas "milagrosas", como por exemplo, a morte dos primogênitos, ou fazer a noite sumir instantaneamente, transformando o céu em um dia.
Ainda sobre roteiro ruim, o que dizer sobre Moisés, que quando vai até o Faraó avisar para libertar seu povo, caso contrário todos os primogênitos morrerão, simplesmente fala: "ó, vai dar me*** grande aí, proteja seu filho". Custava explicar o que ia acontecer? O Faraó claramente não entendeu o que Moisés disse. Que sentido tem este diálogo então?
Ah, e quanto as muitas inconsistências temporais e históricas do filme, nem vou entrar em detalhes. Mas digo, com certa surpresa, que Êxodo: Deuses e Reis é bem mais fiel a Bíblia do que foi Noé.
Repleto de falhas, Êxodo: Deuses e Reis ainda assim possui dois atrativos: o visual deslumbrante e, porque não, uma história-base (a vida de Moisés) interessante. São dois argumentos suficientes para conferir o filme nos cinemas. Nota: 6,0