quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Crítica - A Teoria de Tudo (2014)

Título: A Teoria de Tudo ("The Theory of Everything", Reino Unido, 2014)
Diretor: James Marsh
Atores principais: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Charlie Cox, David Thewlis, Maxine Peake

Longe de uma biografia de Stephen Hawking, uma bela história sobre dedicação e relacionamentos

Conforme já alerto no sub-título desta crítica, A Teoria de Tudo não é uma biografia sobre o famoso físico Stephen Hawking. Baseado em um livro de memórias de nome Travelling to Infinity: My Life with Stephen, escrito pela sua companheira de longa data, Jane Wilde Hawking, o filme é na verdade a história de Stephen e Jane juntos.

E a história contada é muito bonita, romântica, inspiradora; que certamente agradará todos os públicos. Ela vai do início do relacionamento dos dois, ainda bem jovens, no primeiro ano de faculdade (quando quase na mesma época Hawking descobre que possui a doença degenerativa da esclerose lateral amiotrófica (a famosa "ELA" dos baldes de gelo)) até eles chegarem no início da velhice, na casa dos 50 e poucos anos de idade. O filme até passa de relance por algumas descobertas e frases famosas do físico. Mas se você quiser conhecer a obra de Stephen, este não é seu filme.

As principais qualidades de A Teoria de Tudo são o fato de que sua bela história é real, contada por uma trilha sonora competente, e principalmente, as ótimas atuações de Eddie Redmayne e Felicity Jones (respectivamente, o casal Stephen e Jane). Não a toa a trilha sonora e os dois atores foram indicados ao Oscar.

Felicity Jones tem uma atuação bem versátil: ela convence como a jovem apaixonada e inocente do início do filme, como também convence como a mulher madura e cansada do final. Consegue ser uma personagem forte apesar da aparência delicada. Uma bela aula de interpretação.

Mas o trabalho dela acaba sendo eclipsado pela soberba atuação do britânico Eddie Redmayne. Ele consegue ser tão "esquisito e carismático" como Hawking é. E principalmente, sua transformação física (ou melhor, degeneração), é representada de maneira brilhante. Parece que estamos mesmo diante de um paralisado Stephen Hawking nas telas. Entendo que Eddie é o favorito  para levar o Oscar de Melhor Ator deste ano. E por enquanto, é meu favorito também.

Teria A Teoria de Tudo algum defeito? Sim: a história é perfeita demais. O roteiro nos apresenta Stephen e Jane como o casal perfeito, um exagero. Melhor dizendo, ele evita a qualquer custo apresentar conflitos na tela. Ok, os conflitos até existem: as dificuldades com a doença, o ciúmes que o casal possui um do outro, a teimosia de Hawking... porém tudo isto é mostrado de maneira extremamente sutil. Você vê um olhar triste por 2 segundos e... voilá... já aparece algo alegre para desviar nossa atenção e voltarmos para o mundo perfeitamente feliz apresentado.

Apesar de ignorar completamente as "partes ruins", Stephen Hawking assistiu o filme antes do mesmo estrear nos festivais e ficou bastante satisfeito, elogiando bastante a atuação de seu intérprete e considerando a história como "amplamente verdadeira" (em suas palavras: "broadly true"). Tanto que gostou, que então ofereceu sua própria voz metálica para ser utilizada no filme, o que foi aceita prontamente pela produção.

O filme se encerra com um belíssimo discurso de Hawking, que é uma síntese do grande homem que ele é. Sua mensagem, sua perseverança, tudo é tão grande que em sua homenagem quebro meu padrão e acrescento final do texto duas fotos-homenagem.

Feito para ser belo e não desagradar ninguém A Teoria de Tudo é mais um filme desta safra recente nos cinemas que tem em sua força ser baseado em uma história real e ser agraciada com grandes atuações. Nota: 7,0

Um momento de rara beleza: em 2007, já com 65 anos, Stephen Hawking participa de um experimento de gravidade zero junto a astronautas. Em suas palavras: "Foi um momento que temporariamente removeu minha deficiência. Uma sensação de verdadeira liberdade" 

Os verdadeiros Stephen Hawking e Jane Wilde posando junto com seus competentes interpretes Eddie Redmayne e Felicity Jones em foto de 2014

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Crítica - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (2014)

TítuloFoxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo ("Foxcatcher", EUA, 2014)
Diretor: Bennett Miller
Atores principais: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=JVJ5fIKhUWE
Nota: 7,0


Melancólico, bizarro, com três ótimas atuações

Fazer a crítica de Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo foi algo bem difícil. A história é baseada em fatos reais e o fato de eu já saber de antemão como a história terminaria certamente afetou minhas percepções ao longo do filme.

Mas se você não sabe nada da história real, e é assim que deseja assistir o filme, com "surpresas", eis um resumo de Foxcatcher: é um filme extremamente melancólico, tenso, com ótimas atuações do trio Steve Carell, Channing Tatum e Mark Ruffalo. Carell é John du Pont, um milionário pra lá de excêntrico. Tatum e Ruffalo são respectivamente Mark e David Schultz, irmãos campeões olímpicos em 1984 na luta livre. A história é sobre a convivência entre os três: du Pont convida os irmãos para se prepararem para a Olimpíada de 1988 em sua fazenda, de nome Foxcatcher. O filme é sobre o treinamento e sobre o pós-Jogos.

Foxcatcher possui uma história triste, e que deixa algumas questões em aberto... tanto na vida real quanto no filme. E a partir daqui, irei comentar sobre estas questões. Portanto, para quem não sabe o que aconteceu, serão vários spoilers. Pare aqui e só retome a leitura após assisti-lo.

Embora o roteiro dê um destaque igualmente grande em Mark e em du Pont, é este último que atrai a atenção da câmera do diretor. Suas reações são sempre meticulosamente filmadas... du Pont está sempre observando, tramando... é difícil saber o que passa por sua cabeça. Esquisito - parecendo até o Pinguim (aquele vilão do Batman) real, ele é um personagem estranho e bem assustador.

A relação de Mark com du Pont é bizarra. O filme dá a entender que o desejo maior de du Pont era trazer David, e não o caçula... que foi então usado para tentar atrair o irmão posteriormente. Sendo assim, o que du Pont realmente queria com Mark? Era vê-lo vencer nos Jogos? Se sim, por que ele oferece cocaína ao atleta? E o que dizer de duas cenas que insinuam levemente um relacionamento homossexual entre ambos?

Será que o Mark da vida real também tinha aquele estranho rancor de seu irmão? Por que ele foi tão mal nos jogos de 88? Foi de propósito? Ou ainda, seria ele tão mentalmente instável e manipulável como no filme?

O verdadeiro Mark Schultz inicialmente aprovou Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo. Depois, em uma espécie de surto, atacou fortemente o diretor Bennett Miller nas redes sociais, indignado com as insinuações homossexuais - que negou veementemente, e ainda, dizendo não ser tão emocionalmente instável como mostra o filme. Dias depois, voltou atrás e pediu desculpas: ironicamente, isto já é uma boa resposta à dúvida se Mark é uma pessoa controlada ou não...

O desfecho do filme poderia ser melhor executado. Não por não deixar claro os motivos de du Pont (pois na vida real também nunca se soube), mas por não situar de maneira eficiente a cronologia das cenas finais de Mark e David.

Aliás, com uma pequena pesquisa percebe-se que o roteiro de Foxcatcher altera um bocado os fatos reais, principalmente em termos cronológicos: os irmãos Schultz jamais moraram juntos na fazenda, conforme mostra o filme. David se mudou para lá em 89, quando Mark já havia saído.

Resumindo Foxcatcher: ele não é tão verídico assim, não responde perguntas, foca em apresentar fatos... mas sua câmera faz insinuações, atuando como juiz, mostrando cenas que "justificariam" as ações de Mark e du Pont. Tudo isto é feito de maneira bem "crua" (uma ausência quase total de trilha sonora), uma fotografia "opressora" (ou as cenas são em locais fechados, sem janelas; ou são em lugares abertos com o céu sempre nublado). O resultado é um filme onde o espectador passa o tempo todo tenso, preocupado, e incapaz de adivinhar o que vem a seguir. Esta experiência diferente é uma qualidade do filme. Outro aspecto interessante do filme é conhecermos melhor a luta livre olímpica, esporte tão desconhecido dos brasileiros.

Foxcatcher foi indicado a cinco Oscars: Melhor Diretor, Ator (Steve Carell), Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Roteiro Original e Maquiagem. Os mais "merecidos" são as indicações para os atores.

Lembrem-se que já no início eu digo que a atuação do trio principal é ótima. Entretanto, avaliando da melhor para a pior atuação, eu coloco Mark Ruffalo, Channing Tatum e Steve Carell. Sim, embora não indicado, Tatum a meu ver foi melhor que Carell. Primeiro porque ele e Mark Ruffalo treinaram 6 meses de luta livre para fazer seus respectivos papéis. E convencem fantasticamente neste quesito. Segundo que Tatum tem uma atuação intensa: a cena onde ele corta a testa batendo a cabeça no espelho foi real - no roteiro, o espelho apenas racharia - Channing perdeu mesmo o controle e bateu a cabeça repetidamente até tudo se estilhaçar e cair. E finalmente, embora Steve Carell esteja realmente muito bem, sua transformação facial (a inclusão de uma prótese de nariz gigantesca) deixa seu rosto "congelado", o que a meu ver limita consideravelmente sua atuação (esta última frase já responde o que eu acho do filme ter sido indicado ao Oscar de Melhor Maquiagem...)

Uma jornada diferente, tensa, mas ao mesmo tempo interessante, o que realmente choca em Foxcatcher é que sua bizarrice é real, o que deixa tudo mais sinistro. Nota: 7,0.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Porque o filme "A Origem" ("Inception") não é tão bom assim (+ explicação para o final)

Se eu tivesse escrito este post anos atrás, certamente haveria muita comoção (e até alguns xingamentos). Será que vai acontecer o mesmo agora, tanto tempo após o lançamento do filme? Farei este teste. E começo contando uma pequena história..

(Ah, antes de começar a história, é óbvio que só recomendo ler este texto quem já assistiu ao filme, é spoiler do começo ao fim).

O ano era 2010. Eu havia acabado de assistir A Origem nos cinemas com um grupo de amigos, e saíra da sala extremamente feliz e empolgado. Eis que então um deles me perguntou: "o que você achou do filme?". Parei, refleti por alguns segundos, e então respondi: "me pareceu espetacular; porém, tem algo estranho que ainda não absorvi... parece que há um furo grave no roteiro... só depois de assistir o filme novamente que eu poderei responder sua pergunta de verdade".

E mantive esta resposta desde então... Ou melhor, até o final de semana passado, onde enfim assisti A Origem novamente. E infelizmente meus temores estavam corretos. Há sim um furo essencial do roteiro.

Os muitos pequenos erros

Em minha revisita ao A Origem, encontrei um número bem alto de exageros e contradições do roteiro, boa parte deles que não captei pela primeira vez, nos cinemas. Vou citar apenas 4, como ilustração:
  • No primeiro nível de sonho dentro da cabeça de Robert Fischer (Cillian Murphy) - aquele onde há perseguição de carro sob chuva - os "seguranças" da mente de Robert atacam os heróis com metralhadoras, e em pelo menos duas cenas, isto é feito a queima roupa! Quantas balas acertam? Só uma, no filme todo. São os piores atiradores da história do Cinema.
  • Ainda no mesmo sonho, Eames (Tom Hardy) resolve imaginar um lança míssil para revidar os ataques inimigos. O que se materializa em suas mãos e funciona. Se as regras são assim, por que todos os demais não fizeram armas eficientes para eliminar os perseguidores?
  • O bilionário Saito (Ken Watanabe) é o único rival da família Fischer. Então como é possível que Saito participe de todos os sonhos de Robert sem que o sujeito o reconheça?
  • Se Mal (Marion Cotillard) é uma projeção da mente de Cobb (Leonardo DiCaprio), como é possível que ela chegue no Limbo antes de Cobb para fazer Robert Fischer de refém?

A grande falha - os totens NÃO funcionam

Uma das principais bases do filme é o conceito de totem, que inclusive, é o protagonista da cena final que causou tanta polêmica (ver foto-título deste post, acima). O objetivo do totem é "dizer" ao seu possuidor se ele se encontra no mundo real ou dentro de um sonho.

Por exemplo, o totem de Arthur (Joseph Gordon-Levitt) é um dado "viciado" que só ele sabe qual é o resultado que ele sempre dá. Assim, se ele joga o dado algumas vezes, e ele repetidamente dá o mesmo valor, Arthur está no mundo real. Mas se o dado se comporta como um dado "normal", então isto indica que ele está no sonho (a pessoa sonhadora não tem ideia que o dado de Arthur tem um comportamento diferente do esperado).

Até aí tudo bem... mas não é que o principal totem da história, o pião de Cobb (Leonardo DiCaprio) parte de uma premissa errada? Cobb gira seu pião... e segundo ele, caso ele nunca parar de girar, se trata de um sonho. Oras... no universo da pessoa sonhadora (que controla as regras), o normal para ela é o pião rodar e depois cair! Então, em teoria, o peão nunca parar de girar é um cenário absurdo, ilógico!

Ah... mas então, e se for o próprio portador que controla o comportamento do totem? Se for este o caso, ele não serve para distinguir a realidade do sonho, pois o totem vai se comportar da maneira que a mente do portador achar que se encontra. Por exemplo, no caso do Cobb... vamos supor que ele consegue fazer, em sonhos, que seu pião rode indefinidamente. Se ele consegue fazer isto, então é um sonho, claro (é impossível o pião rodar pra sempre no mundo real). Mas se ele está em um sonho e seu cérebro acha que ele está na realidade, então o pião vai cair, conforme seria o comportamento esperado do mundo real.

Vou mais além. Voltando para a premissa de que as regras do totem são definidas por quem sonha (ou pelo arquiteto), como ele vai saber que você tem um totem dentro do bolso, oras bolas?! Leitura da mente? Seria mais lógico sua versão no mundo real ter qualquer coisa no bolso - e não contar pra ninguém - e então, se o bolso estiver vazio... voilá... você está num sonho!

O final - o pião caiu ou não?

Existem três explicações plausíveis para o final. São elas:
  1. Tudo o que nos foi apresentado como "mundo real" é mesmo a realidade e Cobb termina o filme nela
  2. Tudo é um sonho de Cobb, e ele termina preso dentro dos seus sonhos
  3. O filme começa no "mudo real" mas Cobb não consegue voltar do Limbo, terminando o filme dentro do mesmo
A opção 3 é apenas uma variação da 2. Portanto, ficando apenas entre as duas primeiras opções, qual é a correta?

A resposta: qualquer uma delas é possível. O diretor Christopher Nolan deixou o filme dúbio de propósito. Um golpe baixo, aliás, para o filme ser debatido a exaustão e, consequentemente, ter promoção gratuita.

Exemplos de "provas" do final 1 (Cobb termina no mundo real):
  • Mal (Marion Cotillard) nunca aparece no mundo real
  • Miles (Michael Caine) nunca aparece nos sonhos
  • Cobb (Leonardo DiCaprio) sempre está de aliança nos sonhos, e sempre sem ela no mundo real
Exemplos de "provas" do final 2 (Cobb continua em um sonho):
  • O "mundo real" possui conceitos típicos de fantasia (sonho), como por exemplo, ficar fisicamente "travado" espremido entre dois prédios, ser perseguido por todo o planeta por uma organização desconhecida
  • A facilidade com que Cobb retorna para os EUA, ou a facilidade com que a inexperiente Ariadne (Ellen Page) aceita o trabalho e magicamente resolve todos os problemas de Cobb
  • O próprio mundo real ser filmado "como se fosse um sonho", com cortes abruptos, descontínuos... como se fosse levado de um sonho a outro.
Quer "provas" de que Nolan deixou o filme com duplo sentido de propósito? Dou duas. A primeira, se refere aos filhos de Cobb. Assistindo o filme, a impressão que se tem é que seus filhos "no sonho" e "no mundo real" são exatamente iguais. Não trocaram de roupa nem envelheceram em 3 anos! Porém, só comparando as imagens na sua casa (o que fiz - ver imagem abaixo), percebe-se que os filhos de fato envelheceram (são atores diferentes, inclusive), e a roupa é levemente diferente (veja a manga branca do vestido, por exemplo). Gerar esta confusão não foi acidente.


E a segunda é que Nolan sempre se recusou a explicar o final. Em uma rara entrevista que ele fala sobre o assunto (pode-se ler aqui, em inglês), ele sempre fica em cima do muro. Até chega a levemente pender para a hipótese de terminar no mundo real... para em seguida, alertar: "lembre-se que Cobb não é um narrador confiável".

O veredito

O final ser ambíguo não é, efetivamente, um problema para o filme. O que importa, é a trajetória de Cobb, e esta se encerra. Afinal, Cobb abandona o pião e vai de encontro aos filhos. Ou seja: não importa se ele está no mundo real ou não. O que importa para ele é enfim ser feliz com sua família.

Portanto, o final polêmico não diminui a nota de A Origem. Mas todos os erros de roteiro que citei acima, sim. Por isto, em uma 2ª passagem pelo filme, enfim dou uma nota para ele: 7,0. A obra-prima de Christopher Nolan, a meu ver, ainda é O Grande Truque ("The Prestige", 2006), que certamente figura na minha lista dos 10 melhores filmes de Hollywood feitos neste século XXI.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Crítica - Whiplash - Em Busca da Perfeição (2014)

TítuloWhiplash - Em Busca da Perfeição ("Whiplash", EUA, 2014)
Diretor: Damien Chazelle
Atores principais: Miles Teller, J.K. Simmons, Paul Reiser, Melissa Benoist
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=iTgk3WbTErk
Nota: 8,0


Bom em todos os aspectos, um filme sobre jazz e obsessão

A primeira coisa a se falar de Whiplash - Em Busca da Perfeição é que se você for músico, e/ou baterista, e/ou gosta de ouvir jazz, este filme é uma boa pedida.

Na história, vemos o jovem baterista Andrew (Miles Teller) em seu primeiro ano em uma faculdade de música. Não demora muito para que ele seja convidado para participar da famosa banda de jazz de sua instituição, regida pelo professor Fletcher (J.K. Simmons).

Fletcher, entetanto, não é uma pessoa fácil de se lidar. Pelo contrário, faz questão de tornar a vida de seus alunos um inferno. Sofrendo provocações e humilhações constantes, o fato de Andrew ter um perfil desequilibrado e de não levar desaforo para casa, apenas aumenta a tensão entre os dois, sendo os "castigos" para ele ainda mais pesados.

Whiplash - Em Busca da Perfeição é basicamente isto: Andrew tentando evoluir como músico e ganhar um espaço definitivo na banda de Fletcher, que por sua vez atormenta os alunos incessantemente. O bullying é tão absurdo, tão exagerado, que na maioria das vezes faz o espectador rir ao invés de chocá-lo.

Como a maioria do filme é rodado dentro dos ensaios da banda, em mais da metade dele ouvimos músicas de jazz - e de boa qualidade. Para quem gosta do gênero é um deleite. Já para os que não gostam, talvez o filme seja um pouco cansativo.

Porém mais do que tudo, Whiplash - Em Busca da Perfeição é um filme da obsessão pela perfeição. Seja pelo aluno ou pelo professor. Ambos são estupidamente obstinados. Neste aspecto, o filme chega a lembrar um pouco o ótimo e perturbador Cisne Negro (2010).

Whiplash - Em Busca da Perfeição foi dirigido e escrito pelo jovem diretor estadunidense Damien Chazelle, de apenas 29 anos. Os diálogos são simples, basicamente compostos de palavrões e ofensas. Isto não significa que o roteiro seja ruim. Ele tem qualidades: é dinâmico, e composto de várias reviravoltas - algumas delas previsíveis e outras realmente surpreendentes. Além disto, flerta com algumas críticas sociais, como por exemplo, a da família americana considerar que um filho esportista medíocre ter mais valor que um filho que é um músico de qualidade.

Em termos de atuações, Miles Teller agrada, faz um bom papel: o fato de tocar bateria desde os 15 anos torna sua atuação bem mais orgânica e crível. Já J.K. Simmons rouba a cena, e tem uma grande atuação. Foi merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e é o favorito. J.K. Simmons é sim um ator muito bom e versátil. Dito isto, não considero que o papel de Fletcher seja tão difícil fazer, ainda mais para ele, que já convenceu como o igualmente "boca suja" J. Jonah Jameson na trilogia Homem-Aranha dos anos 2000.

Nos aspectos técnicos, Whiplash - Em Busca da Perfeição é competente. Não tem nenhum grande destaque, mas também nenhum problema. Entendo que a montagem/edição seja, enfim, um ponto acima da média. E a maneira com que o diretor Damien Chazelle controla o ritmo do seu filme é altamente elogiável: o jeito que ele faz a história crescer em tensão em seu ato final é realmente impressionante.

Altamente elogiado pela crítica, indicado a 5 Oscars, vencedor dos prêmios de melhor filme pelo juri e pelo público no Festival de Sundance (um ano antes ele venceu lá também com Whiplash, porém na época o projeto era um curta-metragem), e presente na lista do "Top 5 2014" de muitos críticos internacionais, considero Whiplash - Em Busca da Perfeição um filme ótimo - tanto para os ouvidos quanto para a mente - mas ainda assim, ele não me impressionou tanto assim.

Um dos motivos é que a trama chega a ser simples demais. Outra razão é que considero o desfecho do filme levemente contraditório. Comento sobre qual é esta contradição no "PS" após o final deste texto.

Com um filme tenso sem perder o humor, que ao mesmo tempo valoriza e desmitifica o trabalho dos músicos, com uma direção competente, e ótimas músicas de jazz ao longo de toda projeção, Whiplash - Em Busca da Perfeição é um filme que tem tudo para agradar o público "comum" e agradar muito o público "músico". Nota: 8,0.


PS: sobre o final (só leiam este texto após assistirem o filme, isto é um spoiler). O filme passa a mensagem que não há genialidade sem muito esforço, sem muita dedicação e sofrimento. Mensagem que acredito piamente, mas que o filme exagera. E no desfecho o exagero é "desmascarado": quando Andrew enfim revela seu talento, ele já está há alguns meses sem fazer qualquer ensaio, sem tocar em uma bateria. Ou seja, em seu momento de triunfo, valeu a genialidade... os sacrifícios já haviam diminuído muito. Claro, se ele não tivesse se esforçado tanto na vida antes, não estaria lá onde estava. Mesmo assim, considero o fato descrito anteriormente como uma pequena contradição.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Os indicados ao Oscar 2015


Nesta última quinta-feira, vulgo "ontem", foram divulgados os indicados para o Oscar 2015, cuja cerimônia acontecerá no dia 22 de fevereiro. Poucos dos nomes lembrados deram as caras nos cinemas brasileiros. Como já é tradição do Cinema Vírgula, irei apresentar os principais indicados, tecer alguns comentários e trazer algumas curiosidades.

Desta vez temos 8 indicados ao Oscar de Melhor Filme. É o menor número desde 2009, quando a Academia criou sua nova regra de "indicar até 10 filmes, desde que estes alcancem pelo menos 5% das votações". São eles*:
* = em parênteses o número total de categorias indicadas para cada filme

Boyhood, Birdman e Whiplash estavam entre os favoritos, portanto, foi uma grande surpresa ver O Grande Hotel Budapeste aparecer (ainda que empatado) como filme com maior número de indicações.

Outra surpresa foram as ausências de Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (5 indicações) e Garota Exemplar (apenas uma).

Desde a implantação da nova regra de 2009 expandindo o número de indicados a Melhor Filme, Foxcatcher é o primeiro a receber indicação de Melhor Diretor e não estar na principal lista de indicados. Dito isto, não acho muito "justo" ver que Selma entrou na disputa de melhor filme com apenas 2 indicações. Porém isto não é algo tão incomum: a mesma coisa aconteceu com Tão Perto e Tão Forte em 2002, também com 2 indicações. Ah, também não estou falando que Selma é pior que Foxcatcher, afinal, não assisti nenhum deles aindaSelma, inclusive, provavelmente é outro injustiçado: o filme teve problemas de distribuição entre os votantes e muitos acabaram não o assistindo a tempo.

E lamento bastante que Garota Exemplar tenha tido apenas uma indicação (a de melhor atriz para Rosamund Pike, que como disse aqui, é merecidíssmo!). Era dado como certo que a produção também seria indicada no mínimo também para Melhor Filme e Roteiro Adaptado. Não foi.


As ausências
Além das ausências citadas no bloco acima, houve outras que chamaram a atenção. As não-presenças de Jennifer Aniston (por Cake) e Jake Gyllenhaal (por O Abutre) como indicados ao prêmio de Melhor Atriz/Ator gerou comoção. Mas a maior surpresa foi a não indicação de Melhor Atriz para Amy Adams, que venceu o Globo de Ouro pelo papel em Grandes Olhos.

Entre os filmes, a não inclusão de Uma Aventura Lego entre os indicados a Melhor Animação também causou estranheza. Eu particularmente torci o nariz ao ver o fraco Como Treinar o Seu Dragão 2 entre os indicados. Mas ele já venceu o Globo de Ouro, para minha decepção.

Interessante constatar que os épicos Noé e Êxodo: Deuses e Reis não levaram nenhuma indicação. E por falar em Blockbusters, Capitão América: O Soldado Invernal, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido levaram uma indicação cada. Guardiões da Galáxia levou duas. Já o fraco O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos também só levou uma indicação, de Melhor Edição de Som. Todas as indicações citadas neste parágrafo foram indicações técnicas, de menor importância.


Participação brasileira
Se não conseguimos entrar nos indicados de Melhor Filme Estrangeiro com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, nem entre os indicados a Melhor Canção Original com Rio 2, ou ainda, sem a indicação de O Caminhão do Meu Pai como Melhor Curta-Metragem, foi uma agradável surpresa ver que o Brasil estará presente concorrendo ao prêmio de Melhor Documentário com O Sal da Terra, que narra a trajetória do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. O filme, que na verdade é uma produção franco-brasileira, é dirigido pelo consagrado diretor alemão Win Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado, filho de Sebastião.


Curiosidades
  • Bradley Cooper continua sendo o queridinho da Academia e recebeu a terceira indicação consecutiva como ator. Como o considero apenas razoável, não gostei.
  • Há nada menos que nove atores concorrendo ao prêmio pela primeira vez: Steve Carell, Benedict Cumberbatch, Michael Keaton, Eddie Redmayne, Felicity Jones, Rosamund Pike, JK Simmons, Patricia Arquette e Emma Stone. Já Maryl Streep está presente mais uma vez - sua 19ª indicação - e continua ampliando seu recorde ano após ano.
  • A Marvel poderá enfim levar seu primeiro Oscar para casa. Somando quatro três indicações, Capitão América: O Soldado Invernal (1), Guardiões da Galáxia (2) e Operação Big Hero (1), suas chances são maiores do que nunca.
  • O filme polonês Ida era dado como certo para estar entre os Melhores Filmes Estrangeiros. E foi indicado. Mas a grande surpresa é que ele também foi indicado para Melhor Fotografia. Desde 1967 é apenas a 11ª vez que um filme preto-e-branco leva uma indicação destas (embora o mesmo tenha acontecido ano passado, com Nebraska)
  • Interestelar foi o não indicado ao Oscar de Melhor Filme com maior número de indicações: cinco. Todas técnicas, nenhuma das principais.

E vocês? O que acharam dos indicados? Opinem!



Atualizado em 29/01: apesar de apresentar personagens da Marvel, Operação Big Hero é uma produção da Disney. Portanto, nada de Oscar pra Marvel se esta animação levar o prêmio

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Crítica - Êxodo: Deuses e Reis (2014)

TítuloÊxodo: Deuses e Reis ("Exodus: Gods and Kings"Espanha / EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Ridley Scott
Atores principais: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Ben Kingsley

Visualmente maravilhoso, bom na ação, porém falho no restante

Embora seja um filme de 2014, somente agora assisti Êxodo: Deuses e Reis. O segundo grande épico bíblico hollywoodiano do ano (o outro foi Noé). Com um visual quase inacreditável de tão belo, o diretor Ridley Scott erra em quase todo o resto.

Êxodo: Deuses e Reis é mais uma interpretação da história bíblica de Moisés, porém aqui há um grande enfoque em apenas um pedaço da vida do patriarca: a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito.

A história começa com Moisés (Christian Bale) ainda príncipe do Egito, desconhecedor de suas origens. Sua primeira participação em cena já é um alerta do tom do filme que veremos a seguir: Moisés tira sarro das crenças egípcias, mostrando um caráter ateu, antipático e arrogante que permanece por quase todo o filme. Mais ainda, ele é visualmente um estranho no ninho: se veste diferente, e é o único egípcio do planeta com barba. Se ele foi criado a vida toda dentro da corte real, não há nenhuma justificativa para ele se portar e vestir de maneira diferente dos demais. Este é o primeiro dos muitos erros de Êxodo: Deuses e Reis.

Antes das críticas, vamos aos elogios: o filme é visualmente maravilhoso: cenários soberbos, efeitos especiais perfeitos, belíssima fotografia, figurino, direção de arte. Tudo que encanta os olhos é irretocável. Vale a pena ressaltar que sim, há bastante efeito especial (mais de mil), porém muito do que vemos também é real. A produção não economizou nos cenários, e grandes partes dos palácios foram montados fisicamente. Também é importante avisar que o filme foi filmado em 3D... e muito bem filmado! Repleto de tomadas de plano longo, a sensação de profundidade é bem grande, e portanto, fica a recomendação de assistir Êxodo sob este formato.

Outro ponto positivo são as cenas de ação. Elas não são lá muito impressionantes, mas são suficientemente realistas e bem filmadas. Ridley Scott ainda sabe prender a atenção do espectador através da ação. Entretanto, em termos emoção, Êxodo: Deuses e Reis falha miseravelmente. O único momento do filme que me trouxe alguma emoção foi nos créditos finais, quando Ridley escreve uma dedicatória ao irmão e também diretor Tony Scott, falecido em 2012.

Parte da "culpa" deste vazio emocional vem dos atores: o filme tem várias atuações ruins. Os veteranos John Turturro e Ben Kingsley são os que se salvam. Christian Bale até atua bem... mas ele não interpreta exatamente um Moisés... interpreta seu papel de sempre: um personagem "durão", "mal humorado", e especialmente neste filme, sem carisma nenhum.

Há de se criticar a "mão pesada" do diretor. Sutileza não é com ele mesmo. Por exemplo, para nos "convencer" que o Faraó ama seu filho, ele diz em voz alta duas vezes: "você dorme bem porque eu te amo"... Como se o ato de falar em voz alta convencesse alguma coisa... Pois em atos, o Faraó não parece se importar com nada nem ninguém, o que inclui seu filho. Outro exemplo de "mão pesada" é a trilha sonora, que não dá trégua um instante: toda cena precisa ser "épica", e com isto, haja música instrumental no último volume.

Finalmente, o roteiro, que consegue trazer uma história dinâmica, rápida (os anos e acontecimentos passam correndo), e prendem a atenção: mesmo no ritmo ele não está isento de alguns pequenos pecados, como a interrupção de personagens inúteis, como a mãe do Faraó, interpretada pela Sigourney Weaver.

Fora isto, em sua essência, o roteiro é bem contraditório. Assim como em Noé, é trazida uma abordagem "realista", questionando em todo momento se Deus esteve mesmo lá presente, ou se - no caso - nada mais era do que um delírio - respectivamente de Moisés e Noé. Por exemplo, Moisés só passa a ver Deus após levar uma forte pancada na cabeça; as pragas do Egito são todas explicadas "cientificamente" como sendo uma consequência natural da outra, e assim vai... Porém, apesar deste enorme esforço "realista", há momentos em que não há dúvidas: Deus existe, está fazendo coisas "milagrosas", como por exemplo, a morte dos primogênitos, ou fazer a noite sumir instantaneamente, transformando o céu em um dia.

Ainda sobre roteiro ruim, o que dizer sobre Moisés, que quando vai até o Faraó avisar para libertar seu povo, caso contrário todos os primogênitos morrerão, simplesmente fala: "ó, vai dar me*** grande aí, proteja seu filho". Custava explicar o que ia acontecer? O Faraó claramente não entendeu o que Moisés disse. Que sentido tem este diálogo então?

Ah, e quanto as muitas inconsistências temporais e históricas do filme, nem vou entrar em detalhes. Mas digo, com certa surpresa, que Êxodo: Deuses e Reis é bem mais fiel a Bíblia do que foi Noé.

Repleto de falhas, Êxodo: Deuses e Reis ainda assim possui dois atrativos: o visual deslumbrante e, porque não, uma história-base (a vida de Moisés) interessante. São dois argumentos suficientes para conferir o filme nos cinemas. Nota: 6,0

sábado, 3 de janeiro de 2015

Retrospectiva Cinema Vírgula de 2014

Feliz 2015 a todos vocês, leitores! Mas antes de encararmos o ano novo, que tal uma reflexão sobre o que de melhor e pior aconteceu neste 2014?

Cinema
Em termos de qualidade, 2014 foi outro ano em que o Cinema não brilhou muito. Poucos foram os títulos que vi e que realmente me empolgaram. Ainda assim, o número de boas opções foi grande, deu para me divertir ao longo do ano.

Em termos comerciais o resultado também não foi para se comemorar: em número de bilhetes vendidos nos EUA, tivemos o menor número desde 1995, e uma queda de 80 milhões de ingressos em relação ao ano passado.

Em termos de arrecadação (também apenas dentro dos EUA) a queda foi menos significativa, mesmo assim, cerca de 4% a menos que o ano passado. A 20th Century Fox, entretanto, não tem o que reclamar. Com crescimento de arrecadação de 66% em relação a 2013, eles foram o estúdio de maior sucesso de bilheteria neste ano, impulsionados principalmente por, em ordem: X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, Planeta dos Macacos: O Confronto e Como Treinar o Seu Dragão 2.

Parte desta falta de qualidade é justificado pelos estúdios não se arriscarem a fazer novos títulos, e investirem em continuações e reboots de franquias já conhecidas, cujo retorno financeiro é mais garantido. Este fenômeno será ainda mais evidente em 2015; espero que neste ano pelo menos as continuações sejam melhorem...

Cinema Brasileiro: eles fizeram a parte deles. Nós, não
Para mim 2014 ficará marcado como um ano de bastante qualidade no cinema nacional.

Infelizmente, acabei assistindo apenas um filme brasileiro nos cinemas: O Lobo Atrás da Porta, que por sinal é ótimo! Mas o ano apresentou outros filmes muito elogiados pela crítica, como por exemplo: Entre Nós, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (nosso indicado ao Oscar), e a animação cult O Menino e o Mundo.

Acostumado a produzir filmes de apenas 3 gêneros: comédia romântica, comédia pastelão e policiais vs bandidos, o principal fato a se comemorar em 2014 é justamente o grande crescimento de opções nacionais fora destas categorias. Os quatro filmes citados acima são gratos exemplos disto.

Porém, se a qualidade aumentou, o mesmo não se pode dizer da renda. O público total diminuiu em relação a 2013, mas não muito. O que realmente preocupa é que se em 2013 tivemos 18% do público em filmes nacionais, pra 2014 o número despencou para 12%. O pior é que os filmes nacionais de maior público foram as famigeradas comédias. Até que a Sorte nos Separe 2, O Candidato Honesto e Os Homens São de Marte... E É Pra Lá que Eu Vou! foram os filmes de maior bilheteria.

Se os filmes de qualidade não trazem dinheiro, um dia deixarão de ser feitos. Então, cabe a nós, cinéfilos, reverter isto em 2015. E a "bronca" vale pra mim também (não disse que só assisti um nacional em 2014?).

Como curiosidade, sabem quais foram as 5 maiores arrecadações de 2014 em nosso país? 1 - Malévola (74,5 milhões de Reais), 2 - A Culpa é das Estrelas (69,5 milhões), 3 - Noé (68,5), 4 - X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (64,3) e 5 - Rio 2 (64). Até que a Sorte nos Separe 2 - nacional que mais arrecadou - é apenas o 13o terceiro desta lista, e isto ainda porque na sua conta está incluída também a bilheteria de dezembro de 2013.

Os 5 melhores e os 5 piores
Como já é tradição - e provavelmente a parte mais esperada deste texto, segue minha lista dos 5 melhores e 5 piores filmes de 2014. Lembrando que só entram na conta filmes que foram lançados nos cinemas brasileiro no ano citado.

Os melhores, em ordem alfabética:
  • Ela: belíssimo, o melhor filme do ano. Merecidamente levou o Oscar de Melhor Roteiro Original, e merecia levar mais prêmios pra casa
  • Guardiões da Galáxia: dentre os vários filmes de super-herói, este foi surpreendentemente o melhor, mais engraçado, e mais belo visualmente
  • O Homem Duplicado: é um daqueles filmes complexos que você só entende o que aconteceu depois que o filme acaba. Mas isto não é um defeito, pelo contrário, o filme é excelente
  • O Lobo Atrás da Porta: nacional, e sensacional. Thriller de primeira
  • O Lobo de Wall Street: politicamente incorreto e exagerado. Mas fora isto, divertido ao extremo. Quando Leonardo DiCaprio vai ganhar merecidamente seu primeiro Oscar?
E embora não tenha atingido o Top 5, faço menção honrosa a Boyhood: Da Infância à Juventude, que além de bom, é uma experiencia cinematográfica incrível: filmar os mesmos atores por 12 anos seguidos requer bastante dedicação.

Os piores, em ordem alfabética:
Dos cinco acima, Hobbit é o menos pior. Mas os outros 4 são bem ruins. Transformers 4 é tão ruim, mas tão ruim, que nem quis perder meu tempo publicando uma crítica deste lixo. Como Treinar o Seu Dragão 2 é um filme que também não gostei e, embora seja melhor que Transformers, também me decepcionou bastante a ponto de não escrever sua crítica.

O que vem por aí?
Minha grande expectativa para 2014 era Interestelar, que embora seja um bom filme, ficou abaixo do que eu esperava. Para 2015 há dois títulos que aguardo ansiosamente. Um deles é Star Wars 7. Não adianta, o lado nerd fala forte. E o outro título estréia já em 22 de janeiro, Birdman. Estou muito curioso sobre o filme pois, apesar de ser "mais ou menos sobre super-herói", mesmo assim consegue estar sendo extremamente elogiado pela crítica. Dentre outras coisas, ele levou 7 indicações ao Globo de Ouro. Como a premiação do mesmo acontece em 11 de janeiro, um pouco antes de sua estréia já teremos um termômetro de o quanto o filme é espetacular ou não.


E vocês? Qual foram seus melhores e piores filmes de 2014? E o que vocês esperam para 2015? Opinem!!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Crítica - Amantes Eternos (2013)

TítuloAmantes Eternos ("Only Lovers Left Alive", Alemanha / Chipre/ França / Grécia / Reino Unido, 2013)
Diretor: Jim Jarmusch
Atores principais: Tilda Swinton, Tom Hiddleston, Anton Yelchin, Mia Wasikowska, John Hurt

Vampiros maduros, diferentes, sob uma ótima trilha sonora

Pelo menos para mim, o mitologia popular em torno dos vampiros sofreu um retrocesso nesta última década. Impulsionado pela saga Crepúsculo, os chupadores de sangue passaram a brilhar como cristais sob o sol, e pior, foram bastante humanizados. Sendo mais específico, eles foram "adolescentizados", ao serem retratados com preocupações e dilemas de um humano adolescente.

Por isto tudo, é uma grande satisfação ver em Amantes Eternos um filme que resgata a mistificação em torno dos vampiros. Melhor ainda por se tratar de uma visão diferente, consideravelmente original, de como eles se comportam.

Em Amantes Eternos os vampiros são apresentados como seres sábios, maduros, discretos. Eles só saem a noite e obviamente vivem de sangue, mas não são maus... não saem atacando as pessoas... por exemplo, obtém sangue subornando funcionários de hospitais.

O mais fascinante da abordagem em relação aos vampiros é a maneira em que eles encaram a existência, o passar do tempo. Afinal, são seres com séculos de vida, e por isto, nada mais os surpreendem, e tudo é visto a longo prazo. Eles possuem poderes sobre-humanos, mas não o usam, não precisam, o tempo já os deixou bem estabelecidos. Ao contrário, eles aproveitaram bem a passagem do tempo para se desenvolverem intelectualmente: um é um grande escritor; outro é um grande músico, etc.

Dos vampiros apresentados, ganham maior destaque o casal Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), e também o velho Marlowe (John Hurt). Não sabemos a real idade de nenhum destes, porém, de Adam e Eve sabemos que já tinham no mínimo centenas de anos de vida ainda no Séc XV (seriam eles o "Adão" e "Eva" originais? embora pouco provável, não sabemos). Já de Marlowe, aprendemos que ele foi o poeta e dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1564 - 1593), o que não deixa de render umas poucas boas piadas no filme.

Isolado, recluso, e sem nenhuma vontade de saber o que acontece no mundo fora de sua casa, Adam em determinado momento pergunta para Eve: "os humanos ainda estão guerreando por petróleo, ou já começaram a guerrear por água?". Pois não visão deles, de longo prazo, isto é inevitável. A visão de que tudo é transitório, mais ainda, a visão pessimista de que tudo entra em decadência é mostrada visualmente ao longo do filme: não a toa ele se passa na maioria do tempo na atualmente sucateada Detroit, uma cidade que esteve no seu esplendor décadas passadas, e hoje, falida, perdeu mais da metade de sua população, tendo dezenas de milhares de imóveis abandonados.

O mais importante de Amantes Eternos, portanto, não é sua história (praticamente inexistente), e sim, seus personagens, o universo dos vampiros. E enquanto os assistimos, somos agraciados em paralelo com uma ótima trilha sonora. Trazer boas músicas, aliás, é uma das principais características do diretor Jim Jarmusch. A trilha, que dentro do filme são as músicas compostas por Adam, são um rock instrumental com leves pitadas de blues e acordes árabes. Na vida real, as músicas foram compostas pela banda Sqürl, da qual o diretor faz parte.

Tecnicamente o filme agrada além da parte sonora. Uma fotografia bonita, somada a uma filmagem "não convencional" do diretor, que as vezes opta por planos inclinados, ou filmagens "do teto para o chão".

Bem lento (afinal, pra que a pressa se você é praticamente imortal?), mas trazendo personagens bem interessantes, Amantes Eternos é uma grata surpresa e um sopro de seriedade e novidade no universo dos vampiros. Nota: 8,0

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Crítica - Homens, Mulheres e Filhos (2014)

Título: Homens, Mulheres e Filhos ("Men, Women & Children", EUA, 2014)
Diretor: Jason Reitman
Atores principais: Rosemarie DeWitt, Jennifer Garner, Judy Greer, Dean Norris, Adam Sandler, Ansel Elgort, Kaitlyn Dever

Filme é retrato fiel da "sociedade digital" contemporânea

Baseado em um livro homônimo de 2011 de Chad Kultgen, Homens, Mulheres e Filhos é o novo filme do diretor canadense Jason Reitman. Conhecido, dentre outros trabalhos, por dirigir Juno (2007) e Amor sem Escalas (2009), sua mais recente produção lembra um pouco estes dois títulos, ao trazer relacionamentos adolescentes e também, por manter um tom pessimista sobre o comportamento humano.

Sendo um filme de personagens, a história mistura relacionamentos (sejam de adolescentes ou adultos) com o impacto que a tecnologia atual (Internet, celulares, games online, etc) exerce sobre os mesmos.

Todo o numeroso elenco é composto de personagens bem caricatos, clichês, exagerados: assim temos o "casal adolescente certinho e fora de moda" Tim (Ansel Elgort) e Brandy (Kaitlyn Dever), um casamento em crise, com Don (Adam Sandler) e Helen (Rosemarie Dewitt) cansados da mesmice, uma mãe psicótica e ultra controladora (Jennifer Garner), uma mãe (Judy Greer) que não conseguiu ser atriz e portanto faz tudo para transformar sua filha ultra-mimada-e-periguete Hannah (Olivia Crocicchia) em uma, a menina ingênua anoréxica (Elena Kampouris) que idolatra um bad boy mais velho, um pai amargurado (Dean Norris) que não consegue se comunicar com o filho, e finalmente, um adolescente viciado em filmes pornô tão perturbados que não consegue ter um relacionamento normal (Travis Tope).

E o que acontece com estes personagens... bem, embora no roteiro surjam algumas surpresas, em geral tudo também é bem previsível, clichê. Apesar disto, todas as atuações são excelentes, e os personagens convencem. Ou melhor, minto: dois deles não convencem, e a culpa não é de seus intérpretes, e sim do roteiro: a personagem da Jennifer Garner, e principalmente, a personagem de Judy Greer. É simplesmente impossível acreditar que a personagem dela faria a "besteira" que é revelada no final do filme.

Devido as características acima, Homens, Mulheres e Filhos não agradou a crítica especializada. Porém não segui esta mesma linha. Sim, os personagens são exagerados, mas suas ações, dilemas, medos, são exatamente um retrato do que temos hoje no mundo "digital" atual. Portanto, quando o filme se encerra, ele leva o espectador a refletir bastante sobre tudo o que assistiu. E isto é ótimo! Arte não é isto?

Outro ponto curioso de Homens, Mulheres e Filhos é, intencionalmente ou não, não conseguir colocar a "culpa" dos nossos problemas na tecnologia. Há mais cenas onde a tecnologia é a vilã, porém há outras onde ela é mostrada como neutra, até positiva. Se a premissa do filme era discutir tecnologia, então neste ponto ele é falho, pois sobre isto se tornou inconclusivo.

Ao contrário do que é vendido, Homens, Mulheres e Filhos não é uma mistura de comédia com drama. É só drama. E mesmo que não sejamos muito surpreendidos com as situações destes dramas, o fato de presenciá-los todos - que afetam homens e mulheres e adolescentes - é o que faz toda a diferença. Homens, Mulheres e Filhos acaba sendo uma fotografia, um retrato da geração classe média ocidental atual. E nos faz refletir para mudarmos, melhorarmos. Sendo assim, o resultado final é que temos sim um bom filme. Nota: 7,0

PS: você que assistiu o filme, não reconhece na foto o cabeludo do canto superior esquerdo? Pois é, ele não apareceu na história mesmo. Trata-se do diretor, Jason Reitman.

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...