terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Crítica - O Quarto de Jack (2015)

TítuloO Quarto de Jack ("Room", Canada / Irlanda, 2015)
Diretor: Lenny Abrahamson
Atores principais: Brie Larson, Jacob Tremblay, Sean Bridgers, Joan Allen, William H. Macy
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=IeM5qJp2v8Y
Nota: 7,0
Ainda que irregular, filme é emocionante e brilhantemente angustiante

O Quarto de Jack é uma história sobre um menino de 5 anos, Jack (Jacob Tremblay), que passou toda sua vida dentro de um quarto, em cativeiro, junto com sua mãe (Brie Larson). Entendo que para curtir melhor o filme, o ideal seria não saber de mais nada da trama além do que acabei de dizer. Entretanto, para poder fazer esta crítica, terei que expor fatos além disto. Portanto, decida se vale ou não a pena ler meu texto antes de ver o filme. De qualquer forma, não estarei dando spoilers relevantes e eu comentarei muito menos da trama que o próprio trailer, que revela quase tudo.

Indicado para 4 Oscars, dentre eles o do Melhor Filme, O Quarto de Jack é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito pela irlandesa Emma Donoghue (que também assina o roteiro). A grande novidade desta história é que Jack e mãe escapam da "prisão" no meio do filme; portanto, boa parte do mesmo é sobre as descobertas e adaptação de Jack no "gigantesco mundo além do quarto".

Existem três coisas que em O Quarto de Jack que são excelentes. Primeiro, as atuações de Brie Larson e Jacob Tremblay. O maior destaque fica para o menino - que tinha 8 anos nas filmagens - e atua como gente grande.

O segundo grande ponto positivo é simplesmente tudo o que acontece enquanto os dois estão confinados dentro do quarto. O suspense é bem construído, o sentimento de opressão e angústia é palpável; comportamento e motivações de mãe e filho são críveis, e é impossível não se emocionar e não se importar com a dupla.

Finalmente, toda a parte do roteiro dedicado a mostrar os "estranhamentos" de Jack ao conhecer o mundo exterior é muito bem elaborada. É uma experiência única parar para pensar sob o ponto de vista do garoto.

Fora destas qualidades, entretanto, O Quarto de Jack possui consideráveis problemas de roteiro e ritmo. Primeiro, que a maneira em que a dupla é libertada é algo quase "mágico", de tão rápido e inverossímil. Mas, principalmente, a história não sabe como se encerrar de maneira apropriada. Ok, Jack saiu do quarto e está se maravilhando com o mundo: o que mais podemos mostrar a partir disto? O roteiro não encontrou esta resposta, mas ainda assim insistiu em mais de meia hora de filme. É então que entram alguns dramas muito exagerados que também não me convenceram (a jornalista fazer aquelas perguntas tão malvadas para uma vítima bem protegida por advogados é uma delas). Já o problema no ritmo de O Quarto de Jack é que seu clímax ocorre na metade da projeção.

De qualquer forma, esquecendo o racional e se importando com a emoção, O Quarto de Jack impressiona. Devido principalmente a boa direção do irlandês Lenny Abrahamson, nos sentimos tão angustiados quanto os personagens, e alguns momentos, é preciso fazer algum esforço para não soltar lágrimas. Isto tudo sem absolutamente nenhum pieguismo ou trilha sonora exagerada (viu, Spielberg?).

O Quarto de Jack traz para as telas uma boa experiência emocional e uma história bem diferente. Alias, o diretor Lenny Abrahamson tem se envolvido em projetos incomuns. Seu filme anterior foi o estranho Frank. Abrahamson merece que continuemos acompanhando seu trabalho. Nota: 7,0

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Crítica - A Garota Dinamarquesa (2015)

TítuloA Garota Dinamarquesa ("The Danish Girl", Alemanha / Bélgica / Dinamarca / EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Tom Hooper
Atores principais: Eddie Redmayne, Alicia Vikander, Amber Heard, Matthias Schoenaerts, Ben Whishaw
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=vjq2FgjpXow
Nota: 5,0
Uma grande história real mal aproveitada

Com quatro indicações ao Oscar, A Garota Dinamarquesa é um filme baseado no romance homônimo de David Ebershoff e que conta a história real de Einar Wegener, a primeira pessoa do mundo que comprovadamente realizou uma cirurgia de troca de sexo.

Situada nos anos de 1920 em Copenhagen, Dinamarca, conhecemos a vida do casal de pintores Einar Wegener (Eddie Redmayne) e Gerda (Alicia Vikander). Após um episódio em que Gerda pede para Einar se vestir de mulher para servir de modelo para sua pintura, o marido vai progressivamente (re)descobrindo sua feminilidade oprimida ao longo dos anos.

Os fatos históricos tinham tudo para fazer de A Garota Dinamarquesa um drama de primeira: ser uma "mulher em corpo de homem" já é algo polêmico e alvo de preconceitos atualmente. Imaginem há 90 anos atrás! Fora isto, há o fato de Gerda estar lutando pelo reconhecimento artístico no mesmo tempo que seu marido começa a mudar e o casamento começa a desabar.

Porém, mesmo com temas tão ricos, A Garota Dinamarquesa não consegue abordá-los de maneira interessante. Primeiro, o filme é intimista demais. Quase todo ele possui cenas dentro de casa com apenas Einar e Gerda interagindo entre eles, e com excesso de closes no rosto dos atores. Os diálogos, me desculpem, são cotidianos demais, até bobos... e em nenhum momento emocionam.

Na verdade, desde o começo, A Garota Dinamarquesa foi vendido como tendo grande atrativos a atuação dos atores principais Eddie Redmayne e Alicia Vikander. E de fato, a atuação dos atores parece ser o alvo principal do diretor Tom Hooper. Ambos atuam muito bem, porém nenhum dos dois tem uma performance espetacular. Mais ainda: são tantos closes nas reações dos rostos da dupla que a importância da atuação de ambos decai por excesso. Ver os mesmos trejeitos de sempre nos atores cansa. Neste aspecto, a bela Vikander é menos repetitiva. Já Redmayne... deve ter feito a mesma carinha sorrindo e olhando pra baixo umas 200 vezes ao longo do filme.

Tecnicamente a produção tem suas qualidades. Tanto fotografia quanto figurino são muito bonitos. Bonitos até demais... parece que estamos diante de uma fantasia, e não de um drama. Falando nisto, é impressionante como a maioria do tempo a dupla principal está feliz, sorridente. O drama realmente é colocado de lado em A Garota Dinamarquesa. Como outro exemplo disto, há várias cenas com Redmayne sozinho, feliz, se encantando com as roupas femininas ou com sua transformação.

Bastante elogiado pelos críticos como cinema, A Garota Dinamarquesa por outro lado foi bastante criticado pela imprecisão histórica dos fatos. A explicação para isto é simples: o filme optou por ser fiel ao livro, este uma simples romantização parcialmente baseada no que aconteceu de verdade. De minha parte, independente da sua precisão, entendo que a história é mal contada. Faltou focar mais na mesma e muito menos nos atores. Nota: 5,0

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Crítica - Deadpool (2016)

TítuloDeadpool ("Deadpool", Canadá / EUA, 2016)
Diretor: Tim Miller
Atores principais: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, T.J. Miller, Ed Skrein, Stefan Kapicic, Brianna Hildebrand
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=rW-44KuoAdA
Nota: 8,0
O filme de super-herói mais divertido de todos os tempos

Deadpool é um marco histórico para os filmes de super-herói ao ser um filme que respeita o personagem original por mais "diferente e politicamente incorreto" que ele seja. Piadas e trocadilhos o tempo todo? Confere. Muita violência? Confere. Muitos palavrões e linguajar impróprio? Confere. Quebra da Quarta Parede? Confere. Zoação com outros filmes e personagens da cultura pop? Confere. Muita diversão? Confere!

A história, de origem, mostra um Wade (Ryan Reynolds) com câncer terminal. Eis que uma organização nada bem intencionada resolve salvá-lo dando lhe super-poderes. O que Wade não esperava era que a "cura" o transformasse em um ser horroroso, todo deformado. Ao querer vingar de seus "médicos", ele se torna Deadpool. Claro que os vilões raptam sua namorada Vanessa (a brasileira Morena Baccarin) para conter a vingança... Ou seja, o roteiro não tem nada de original... Diferente mesmo é seu personagem principal!

Famoso nos quadrinhos por ser completamente insano e brincalhão, são estas características de Deadpool que são muito bem adaptadas para dentro das telonas que fazem o filme ser ótimo. Deadpool surpreendeu e se tornou a maior abertura de um filme com censura 18 anos na história dos EUA (no Brasil a censura é de 16 anos).

Parte deste sucesso vem do esforço do ator Ryan Reynolds. O ator canadense fez um enorme esforço de marketing promovendo o filme. Chegou até a fazer um vídeo exclusivo para a Comic Con brasileira. Toda esta campanha mostrou para os fãs que o filme que viria estava no caminho certo. Sabendo estar na sua "grande e última" chance no mundo dos super-heróis Reynolds se esforçou também debaixo das câmeras. Aceitou passar boa parte do filme com o rosto coberto pela máscara do seu uniforme (muitas estrelas não aceitam isto) e fez questão de ser ele mesmo - mesmo mascarado - atuando na maior quantidade de cenas possíveis.

Também sendo diferente ao trazer uma história não-linear, há pouco para se criticar em Deadpool. Um ponto fraco é seu final clichê. E há também algumas piadas que não funcionam, principalmente por repetição. De qualquer forma, para um filme que passa todo o seu tempo querendo fazer rir, é natural que algumas (poucas) gracinhas não sejam bem sucedidas. Outro ponto de atenção é o grande número de piadas envolvendo o universo dos super-heróis: quem não está familiarizado com isto poderá perder boa parte do entretenimento.

Na verdade, o grande "problema" do filme foi a Fox, que, conservadora, investiu apenas US$ 58 milhões na produção. O diretor Tim Miller - em sua estréia como diretor de longas - especialista em efeitos especiais, fez um ótimo trabalho em produzir efeitos de computador aceitáveis com tão pouco dinheiro. Com mais verba, o mutante Colossus poderia ser muito mais crível, e as lutas ao longo da projeção mais ousadas e diversificadas.

Por outro lado, ironicamente, a falta de dinheiro pode ser sido o que salvou Deadpool. Com tão pouco dinheiro em vista, o diretor teve mais liberdade que o normal para um estreante, e o filme pode evitar as interferências de produtores idiotas.

Outro ponto a se lamentar foi a tradução para o português feita nos cinemas. Alguns palavrões foram "amenizados", mas o pior mesmo foram alguns casos de mudar a tradução por simplesmente menosprezar a inteligência do espectador. Por exemplo, uma piada literalmente sobre "quebrar a quarta parede" foi traduzida como "ficarmos bem juntinhos". Vergonhoso.

Sendo tudo o que os fãs do polêmico personagem queriam, Deadpool chega para ser o mais engraçado filme de super-herói de todos, e acho que seus recordes de bilheteria estão apenas começando. Nota 8,0.


PS: após todos os créditos, há duas cenas extras bem curtas, que basicamente fazem propaganda sobre o futuro Deadpool 2. São engraçadinhas, e fazem plágio do filme Curtindo a Vida Adoidado (1986).

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Crítica - Brooklyn (2015)

TítuloBrooklyn ("Brooklyn", Canadá / Irlanda / Reino Unido, 2015)
Diretor: John Crowley
Atores principais: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson, Jim Broadbent, Julie Walters
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=ZEhuC6rBsE4
Nota: 6,0
Outro filme legal mas que não deveria estar no Oscar

Baseado em um livro homônimo de Colm Tóibín e com 3 indicações ao Oscar 2016 (incluindo a de melhor filme), Brooklyn conta a história de Eilis (Saoirse Ronan), uma jovem irlandesa que se muda para o Brooklyn, bairro da cidade de Nova York. Lá, Eilis se apaixona por Tony (Emory Cohen), porém após uma notícia inesperada ela é obrigada a voltar para a Irlanda, onde conhece e se apaixona por Jim (Domhnall Gleeson).

Brooklyn aborda vários assuntos, como as dificuldades em morar sozinha em um país diferente, as decisões sobre o que se quer fazer para o resto da vida, curiosidades de como era a vida nos anos 50, e também... os dois romances de Eilis. Todos estes temas são interessantes, tratados com sensibilidade e competência; menos o último, que pelo menos não se torna enfadonho devido ao carisma e ótima atuação da atriz Saoirse Ronan. Ainda em termos de relações amorosas, com exceção de Tony - que por sua vez exagera - os demais personagens mais falam que amam do que efetivamente demonstram, o que torna tudo um pouco artificial.

Em termos técnicos, figurino e design de produção estão muito bem, cumprem a expectativa de um bom filme de época. Por outro lado, não gostei da trilha sonora, a meu ver utilizada em excesso.

Voltando para atuações, Saoirse Ronan é a melhor coisa de Brooklyn  (e foi indicada ao Oscar por isto). Mas o filme conta com muitos coadjuvantes muito bons. Gostei bastante da atua Julie Walters como Mrs. Kehoe e fiquei bastante surpreso com a atuação de Domhnall Gleeson por estar bem diferente do que ele fez em Star Wars 7 e em Ex-Machina.

Bonitinho, bem feitinho e nada mais, Brooklyn é um bom passatempo, mas com exceção da indicação para Saoirse, não é bom o suficiente para merecer mais nenhuma indicação ao Oscar, principalmente a de Melhor Filme. Pelo menos é um filme agradável. Nota: 6,0

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Crítica - Spotlight: Segredos Revelados (2015)

TítuloSpotlight: Segredos Revelados ("Spotlight", EUA, 2015)
Diretor: Tom McCarthy
Atores principais: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery, Stanley Tucci
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=zgicIR5Skwc
Nota: 6,0
A história de Spotlight é bem melhor que o filme

Com 6 indicações ao Oscar 2016, Spotlight: Segredos Revelados conta a história da investigação jornalística que em 2002 surpreendeu os EUA ao divulgar um grande escândalo de pedofilia envolvendo padres católicos principalmente da cidade de Boston. O nome do filme vem do nome da equipe investigativa que descobriu este furo. São os funcionários do The Boston Globe que aparecem representados pelos atores da foto acima.

Spotlight tem uma direção bem discreta e "careta", mas ao mesmo tempo séria e competente. Sem ousar no uso da câmera, e praticamente não utilizando trilha musical, o clima de seriedade é reforçado pela completa ausência de alívios cômicos (o que faz todo sentido).

Repleto de personagens e nomes, explicações jurídicas e jornalísticas, Spotlight é um pouco confuso e difícil para o expectador nos detalhes. Mas em linhas gerais, o escândalo que a história cobre é perfeitamente compreensível. Apesar das dificuldades relatadas, Spotlight consegue não ser chato, entretendo o espectador principalmente com um número muito grande de locações e tramas paralelas. Ponto positivo para a montagem (indicada ao Oscar).

Por falar em Oscar, Spotlight apresenta várias boas atuações, embora nenhuma excepcional. Os dois atores que mais se destacam são Mark Ruffalo e Rachel McAdams, não à toa os dois únicos atores indicados pela Academia, respectivamente para Melhor ator coadjuvante e Melhor atriz coadjuvante.

Como filme, Spotlight não ousa e é apenas "legal". Sua força portanto reside em sua história, baseada em fatos reais. Não deixa de ser uma aula de como o jornalismo deveria se portar, e é bastante chocante presenciar a enorme quantidade de pessoas que querem encobrir o caso apenas para "deixar a Igreja em paz". Mais instrutivo que interessante, Spotlight ganha Nota 6,0.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crítica - O Regresso (2015)

TítuloO Regresso ("The Revenant", EUA, 2015)
Diretor: Alejandro G. Iñárritu
Atores principais: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Domhnall Gleeson, Will Poulter, Forrest Goodluck
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=S4PpYv9n0ko
Nota: 7,0
Após se aproximar de Cuarón, Inãrritu se aproxima de Malick

O que possui em comum os filmes deste século de Alfonso Cuarón, Terrence Malick, e os dois últimos filmes de Iñarritu? Resposta: o genial diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki. Seja pelas cores, pela luz, ou pelas imagens em si, os trabalhos de Lubezki são sempre maravilhosos, espetaculares. Cuarón e Malick usaram o talento de Lubezki bem antes de Iñarritu, cada um de sua maneira. O mexicano Alfonso opta por a câmera sempre em movimento, mostrando bastante ação, com longos planos-sequência de tirar o fôlego (Filhos da Esperança, Gravidade). Já o estadunidense Terrence prefere filmar com closes, mostrar muitas paisagens e belezas naturais e carregar na trilha incidental, tornando sua obra mais psicológica (A Árvore da Vida, Amor Pleno).

Quando trabalhou com Lubezki pela primeira vez, no vencedor do Oscar de 2015 Birdman, Alejandro G. Iñárritu trouxe bastante do estilo de Cuarón para seu filme. Estão lá os longos planos-sequencia e a câmera irriquieta. Desta vez, em O Regresso, o diretor mexicano começa usando a mesma fórmula. O filme começa a mil, com batalhas filmadas em impressionantes plano-sequências (desta vez não tão longos), algo realmente sensacional. Dá vontade de se levantar da poltrona e aplaudir em pé. Porém, com o passar da história, o filme começa a contar cada vez mais com "características Malick": paisagens, narrações e delírios do personagem de DiCaprio... O Regresso fica gradativamente mais lento, contemplativo.

Na história, situada no norte dos EUA nos anos 1820 um grupo de caçadores de pele dos quais fazem parte Glass (Leonardo DiCaprio), Fitzgerald (Tom Hardy) e o Capitão Henry (Domhnall Gleeson) estão cercados por indígenas. Para piorar, Glass é atacado por um urso e quase morre (aliás esta cena é impressionante, fantástica, precisa ser vista nos cinemas!). Quando os índios enfim atacam, na fuga os homens optam por deixar Glass para trás.

Indicado para impressionantes 12 Oscars, dentre eles o de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Principal (DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Tom Hardy) e Melhor Fotografia (Emmanuel Lubezki), todos os citados mereceram sua indicação, pois trazem ótimos trabalhos. Entretanto, destes 5 Oscars que citei, para mim apenas a Melhor Fotografia seria digna de vencer (empatando com meu preferido Mad Max 4).

Vejamos por exemplo o caso de Leonardo DiCaprio: ele atua muito bem, mas seu papel não exige muito mais do que fazer caretas de dor e se parecer machucado. O talentoso "Leo" já foi muito mais exigido dramaticamente em vários outros filmes. Sua indicação é mais justa pelo esforço. E bota esforço nisto! Com o desejo de Iñárritu de usar paisagens reais e apenas iluminação natural, atores e equipe de filmagem tiveram que trabalhar 8 meses sob o frio. Cenas na neve rodadas no Canadá, EUA e Argentina. Haja sacrifício!

A verdade é que tecnicamente O Regresso é praticamente irrepreensível. Um deleite. Seu maior problema, entretanto, é a sua duração. Há várias cenas desnecessárias ao longo do filme, principalmente a partir de sua segunda metade, onde ele se torna cada vez mais lento. Por exemplo há uma trama paralela com indígenas que é completamente desnecessária e clichê. E este nem é o maior excesso... o tempo a mais se encontra principalmente nas contemplações da natureza e nos desnecessários flashbacks/delírios de Glass. Outro ponto que não gostei foi o desfecho do conflito entre Glass e Fitzgerald. Uma pena, depois de tanto tempo para chegarmos a uma conclusão, que ela seja até meio incoerente.

Se tivesse um desfecho melhor e 1h30min de duração, O Regresso levaria uma nota 9,0; se tivesse 2h de duração, levaria uma nota 8,0. Mas como possui intermináveis 2h35min, o filme fecha com uma Nota 7,0

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crítica - O Bom Dinossauro (2015)

TítuloO Bom Dinossauro ("The Good Dinosaur", EUA, 2015)
Diretor: Peter Sohn
Atores principais (vozes): Raymond Ochoa, Jack Bright, Jeffrey Wright, Frances McDormand
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=A6z79w5fdDU
Nota: 6,0
Primor gráfico com uma história apenas legal

Normalmente, quando um filme tem problemas na produção isto é um grande indício de filme ruim. E O Bom Dinossauro teve uma criação pra lá de conturbada. O filme foi adiado duas vezes, sendo que após um dos adiamentos cerca de 80 pessoas foram demitidas e a Pixar Canadá - onde O Bom Dinossauro estava sendo feito - fechou as portas.

Acontece que estamos falando da Pixar. E confesso que minha fé nesse estúdio é tão grande que eu via estes adiamentos como algo positivo... do tipo: "eles só vão lançar o filme quando ele estiver realmente muito bom". Me enganei. Claro, O Bom Dinossauro está longe de ser uma catástrofe. É um filme bom e divertido. Entretanto, não possui o "selo Pixar de qualidade", está bem abaixo da média do estúdio.

Na história, estamos nos dias atuais de uma Terra hipotética onde nenhum asteroide se chocou com nosso planeta exterminando os dinossauros. Eles continuam, portanto, sendo a raça dominante do planeta, mas "humanos das cavernas" também existem e convivem com os "lagartões". Após 65 milhões de anos os dinossauros aprenderam algumas coisas... Tem dino agricultor, dino boiadeiro, e assim vai...

O protagonista é Arlo (Raymond Ochoa - vozes), um jovem e medroso saurópode que nasceu com um tamanho bem menor que o normal. Após uma trágica tempestade, Arlo se perde de sua família e tenta então voltar para casa. Na sua jornada, ele encontra a criança humana Spot (Jack Bright - vozes), a quem o adota como "cachorro de estimação".

Um dos problemas de O Bom Dinossauro é que ele não é muito engraçado. O principal motivo disto é que o protagonista é um personagem muito frágil, e não há muita graça rir de alguém assim. Notem que no excelente Procurando Nemo (2003) o protagonista (e alvo das piadas) não é o frágil Nemo, e sim, seu pai. Também pesa contra o humor a ausência de bons coadjuvantes. Com exceção de Spot e um certo trio gigante que não vou dar mais detalhes para não estragar, nenhum outro personagem encanta.

A história como um todo possui seus altos e baixos. Há ótimas cenas; outras, burocráticas. Como todo filme da Pixar, há cenas bastante emocionantes de Arlo com sua família ou com Spot. Mesmo assim, pelo fato da relação afetiva entre todos estes personagens não terem sido bem demonstradas, falta aquele algo a mais que nos leve a tirar o lenço do bolso para enxugar lágrimas.

Com uma história legal, divertida, mas sem grandes virtudes, o grande destaque de O Bom Dinossauro é mesmo seu visual, ou melhor, mais outra evolução técnica da Pixar. Árvores, rios, pedras... a paisagem em geral: a animação destas coisas está ficando tão perfeita, mas tão perfeita, que muito em breve não saberemos distinguir animação de cenas reais. Há alguns momentos do filme que temos a impressão que só os personagens são "falsos", o resto é do mundo real. Muito impressionante!

Legal, divertido - mas sem querer fazer muito humor - O Bom Dinossauro está entre os piores filmes da Pixar, só sendo melhor que Carros 2 e do mesmo nível que Universidade Monstros. Parece mesmo que o mundo com que teremos que conviver a partir de agora é uma Pixar que só faz obras primas de vez em quando. Nota: 6,0


PS: o estreante diretor Peter Sohn serviu de inspiração para a criação do menino Russell do filme Up: Altas Aventuras (2009). Curiosamente, no filme em questão seu único envolvimento foi ajudar a desenhar os storyboards. Vejam abaixo a comparação. São iguaizinhos!


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Crítica - Sr. Sherlock Holmes (2015)

TítuloSr. Sherlock Holmes ("Mr. Holmes", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretor: Bill Condon
Atores principais: Ian McKellen, Laura Linney, Milo Parker, Hiroyuki Sanada, Hattie Morahan
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=TPOGn7DKcZo
Nota: 7,0
Ainda que seja muito mais sobre velhice e solidão do que investigação de mistérios, filme agradará bastante os fãs do famoso detetive

Sr. Sherlock Holmes estava na minha lista de "filmes mais aguardados de 2015". Esperei, esperei, e agora oficialmente posso dizer que ele não veio e não virá. Sua distribuidora, a Sony, lamentavelmente optou por lançar o filme diretamente em DVD, deixando-o de fora das telonas. O novo filme de Holmes chegou as lojas brasileiras neste mês de janeiro.

Na história, situada em 1947, vemos um Sherlock (Ian McKellen) de 93 anos, aposentado há 30 anos, vivendo sossegado no campo em companhia da governanta Mrs. Munro (Laura Linney) e o filho Roger (Milo Parker). Com muitas dificuldades de movimento, mas principalmente, com progressivos episódios de perda de memória, Holmes resolve escrever sobre seu último caso, o qual fracassou. O motivo? Watson mentiu sobre ele, colocando o detetive como vencedor novamente. Sherlock quer retificar sua biografia antes que morra. O problema? Ele mal se lembra do que aconteceu...

Como se pode ver pelo título e pelo parágrafo anterior, o enfoque de Sr. Sherlock Holmes está em comentar a solidão, os problemas da velhice. Sim, até há um enigma detetivesco a ser desvendado, e ele é interessante, embora curto. Mas o filme está bem mais interessado no ser humano que no detetive.

Não que isto seja ruim. A atuação de McKellen, com todo seu carisma, é o grande trunfo de Sr. Sherlock Holmes. Ele está muito bem. Tão bem que não deixa de ser chocante em algumas cenas vê-lo tão velho, tão decrépito. Felizmente o ator ainda está "jovem" com seus 76 anos, e o choque vem mesmo apenas de sua atuação.

Contando com bom elenco coadjuvante, além de McKellen outro bom atrativo do filme é a maneira com que ele é montado. Com a história contada de maneira não-linear, com vários flashbacks, o grande mistério passa a ser descobrirmos como Sherlock falhou e se ele vai alcançar sua redenção ou não. E esta dúvida vai sendo respondida aos poucos, de maneira bem competente, prendendo a atenção do espectador.

Também é bacana ver o detetive reclamando de alguma coisas de Watson, de seu passado - mitologia sherlockiana pura! Mesmo com a memória ruim, Holmes continua com sua observação afiada. E é muito legal ver algumas cenas em que com apenas um olhar ele já descobre algo, ponto positivo para o diretor, que nos conta sobre a investigação sem precisar de palavras.

Quando um personagem bom e carismático se une com um ator bom e carismático as chances de termos um bom filme são grandes. Felizmente é o que foi concretizado aqui. Mesmo sem muita investigação policial, Sr. Sherlock Holmes é uma ótima pedida para todo fã do detetive. Nota: 7,0

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Dupla-Crítica: Sicario: Terra de Ninguém (2015) e Carol (2015)


Sicario: 3 indicações ao Oscar. Carol: 6 indicações ao Oscar 2016. São 9 indicações em um post só! Vamos a eles!


Sicario: Terra de Ninguém (2015)

Diretor: Denis Villeneuve
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=d_eClLFILT8
Atores principais: Emily Blunt, Josh Brolin, Benicio Del Toro, Daniel Kaluuya
Nota: 8,0

"Suspense de ação tenso do início ao fim"

Denis Villeneuve parece estar se especializando em fazer ótimos filmes de suspense. Após os excelentes O Homem Duplicado e Os Suspeitos, ambos de 2013, o diretor canadense troca os thrillers psicológicos por um thriller repleto de ação e violência. Este é Sicario, filme que conquistou 3 indicações ao Oscar.

Na história, Kate (Emily Blunt) é uma excelente policial de campo do FBI, que então recebe o convite dos misteriosos "consultores da CIA" Matt Graver (Josh Brolin) e Alejandro (Benicio Del Toro) para se juntarem a eles em uma missão anti-drogas na fronteira dos EUA com o México. A dupla se porta de maneira estranha, geralmente fora do regulamento, e Kate, completamente perdida e surpresa, vai aprendendo lentamente o que está acontecendo.

Esta estratégia de se apresentar um universo através de um "novato" (Kate), é um dos truques mais manjados que existe. Mas funciona, e especialmente em Sicario funciona muito bem pois faz total sentido na trama Kate ser colocada "no escuro" pelos agentes da CIA. Na prática, Sicario nos apresenta a triste situação da cidade mexicana de Juárez, extremamente violenta e completamente dominada pelo tráfico de drogas.

Contando com cenas de "exercício de guerra" muito parecidos com os de Guerra ao Terror (2008), a fotografia primorosa (não a toa foi indicado ao Oscar), as ótimas atuações do trio principal, e o perfeito clima de crescente de tensão construído ao longo da história são as grandes atrações de Sicario, um ótimo filme para quem gosta de filmes policiais de ação. Nota: 8,0



Carol - "Carol" (2015)

Diretor: Todd Haynes
Atores principais: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson, Kyle Chandler
Nota: 6,0

"Cate Blanchett é a grande virtude de Carol"

Baseado em um romance de mesmo nome, Carol é uma história situada no fim da década de 40, onde de duas mulheres se apaixonam: Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara). O fato da primeira ser casada e com filha, e uma época recheada de conservadorismo e preconceito trazem, é claro, os conflitos que preenchem a história.

O grande problema de Carol é justamente que ele não tem conflitos suficientes para suas 2h de duração; pesa também contra o filme o fato do romance acontecer de maneira muito lenta. Sim, isto é justificado narrativamente devido o medo e a cautela que ambas personagens possuem; entretanto, isto contribui contra o interesse do espectador.

Das 6 indicações ao Oscar, as mais merecidas são as das atuações das atrizes: Blanchett por Melhor Atriz e Mara por Melhor Atriz Coadjuvante. Ambas estão muito bem. Porém Cate Blanchett é melhor, pois é levemente mais exigida em termos de atuação. Outra diferença entre a boa atuação das duas, é que Rooney Mara já fez interpretação similar em Terapia de Risco (2013). Já a Cate... que atriz espetacular e versátil ela é! Muito completa! Já foi uma convincente plebéia atrapalhada em Blue Jasmine (2013) e agora interpreta perfeitamente uma mulher elegante e fina em Carol.

Carol é um romance bonito e delicado entre duas mulheres. Com ótimas atuações. Mas poderia ser um filme mais ágil e mais curto. Nota: 6,0

Crítica - Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023)

Título : Indiana Jones e a Relíquia do Destino ("Indiana Jones and the Dial of Destiny", EUA, 2023) Diretor : James Mangold Atores...