sexta-feira, 24 de julho de 2020

O que gostei (SEM spoilers), e depois o que não gostei (COM spoilers) de Dark, série da Netflix


Dark é um seriado alemão de suspense e ficção científica de três temporadas, que se encerrou mês passado na Netflix, e é sucesso de crítica e público. Na trama, que se inicia no ano de 2019 na fictícia cidadezinha de Winden, algumas crianças começam a desaparecer misteriosamente, revelando uma complexa trama que envolve profundamente os relacionamentos entre 4 famílias da cidade: os Kahnwald, os Nielsen, os Tiedemann e os Doppler.

Curiosidade: de fato existe uma cidade alemã de 3 mil habitantes de nome Winden, que também é rodeada pela folclórica Floresta Negra, mas aparentemente as semelhanças param aí.

O que eu gostei (sem spoilers)

Algo que deve ser louvado em Dark é a coragem de seus produtores em contar uma história complexa, com conceitos científicos nada simples, e principalmente, envolvendo dezenas de personagens. E vai além disto: como os personagens são mostrados em várias épocas do passado, então o número de atores que precisamos conhecer / reconhecer se multiplica. Já virou comum nos dias atuais que a capacidade de entendimento do público seja enormemente subestimada. Que deleite ver que Dark não faz isto.

E o que disse acima reflete em montagem e seleção de elenco simplesmente espetaculares. Muito acima da média. Não só porque os atores atuam muito bem, mas pela grande semelhança física e de trejeitos dos atores dos tempos "de hoje" com os dos flashbacks do passado. Para quem quiser uma ajuda para reconhecer os personagens durante o história, indico esta imagem. Mas atenção, recomendo que você a abra SOMENTE APÓS ter assistido a primeira metade da primeira temporada.

Aliás, sobre os personagens, é muito legal ver que todos são falhos, ou seja, todos têm seus erros e acertos. Eles são tão instáveis (e de certa forma tão reais), que a todo momento você muda sua torcida pra quem você quer que "termine bem" ou "termine mal". Ótimo ponto positivo do roteiro.

Outro ponto que merece muitos elogios é a fotografia, realmente muito bonita, e que contribui bastante para o eterno clima de mistério e desarranjo da série. O mesmo poderia ser dito da trilha sonora, porém ela não me agradou tanto por ser demasiado repetitiva.

É difícil não comparar Dark com o antigo seriado Lost. E já vi vários comentando que ao contrário de Lost, em Dark é "tudo fechadinho, sem furos de roteiro". E de fato, fazendo esta comparação, a trama de Dark é mesmo muito melhor explicada, respondendo a praticamente todos os mistérios, e os furos de roteiro são bem poucos. Porém eles existem, e são um dos fatores que me fizeram torcer o nariz.

Em resumo, gostei sim de Dark, que é melhor e teve um desempenho geral mais satisfatório que Lost. Mas se gostei ou não de seu final, e se achei o final dele melhor ou pior que o de Lost, vocês terão que ler isto na parte final do meu texto, que terá spoilers.

O que eu NÃO gostei (COM spoilers)

Eu elogiei anteriormente a coragem de se fazer Dark tão complexo. Entretanto, a meu ver, a série ficou complexa demais. Seus criadores juram que o seriado foi elaborado desde o começo para ter 3 temporadas e 3 realidades paralelas. E eu até acredito, dada a obsessão da mitologia da série com o número 3. Mas isso de acrescentar outras realidades à trama foi um tiro no pé. Ver a mesma história contada várias vezes sob diversas perspectivas e vários tempos diferentes já foi por si só um pouco cansativo. Agora, ao também acrescentar outras realidades na história tudo ficou desnecessariamente longo e complexo demais. Pra mim foi quase uma "encheção de linguiça" pra série durar 3 temporadas.

Outro ponto que não gostei, foram os furos de roteiro. Não tem como citar o maior deles, que é o possibilita o estranho final de Dark: após passar o seriado INTEIRO mostrando dezenas de vezes que não é possível mudar o tempo, mudar o que já aconteceu, tudo isto é jogado fora no último episódio da série, sem nenhuma explicação convincente.

Outro furo que eles tentam explicar - e de maneira aparentemente lógica - foi como tivemos a "duplicação" do Jonas da primeira temporada. As explicações foram bonitas, mas não fazem sentido para mim.

E finalmente, algo que é mais "esquecimento" do que "erro" no roteiro, é que não há nenhuma explicação de como Claudia descobriu existirem 3 realidades paralelas ao invés de 2. Simplesmente nenhuma fala, nenhuma cena, nem nada: o roteiro nem tenta explicar.

Encerrando meu texto, respondo a pergunta que lancei anteriormente: gostei do final de Dark? Não muito. O sentimento que tenho para ele é o mesmo que tive para o final de Lost: encerrou de maneira digna, porém deixando um gosto amargo. Pelo menos o final de Dark não deixa de surpreendente, já que o seriado se encerra e você não tem total certeza se aquilo foi um final feliz ou não.


PS: como bônus, caso você não tenha se aprofundado bastante na relação entre os personagens da série. Há dois parentescos que são explicados apenas por uma breve aparição em fotos, ou seja, é praticamente impossível descobrir apenas vendo o seriado: o ex-marido de Agnes Nielsen, e consequentemente o pai de Tronte, é o estranho sem nome, filho de Jonas com Martha. E o desconhecido pai de Regina Tiedemann, filha de Cláudia, é Bernd Doppler... o fundador da usina e pai de Helge.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Dupla Crítica Filmes Netflix - The Old Guard (2020) e Ninguém Sabe Que Estou Aqui (2020)


Mais dois filmes que acabaram de estrear na Netflix brasileira e que o Cinema Vírgula apresenta pra vocês. Aprendam mais sobre o universo de ambos os filmes, e confiram o que eu achei.


The Old Guard (2020)
Diretor: Gina Prince-Bythewood
Atores principais: Charlize Theron, KiKi Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Chiwetel Ejiofor, Harry Melling, Van Veronica Ngo

Apesar de não parecer, The Old Guard é baseado em uma série de quadrinhos de mesmo nome, escrita por Greg Rucka em 2017. Curiosamente, não é a primeira vez que este quadrinista cria um título baseado em humanos com pequenos poderes especiais: em 2013 ele criou o excelente Lazarus, que ao contrário de The Old Guard já foi publicado no Brasil. Então, não há desculpas para não lê-lo.

Porém se em Lazarus há a mistura de sobre-humanos com a Máfia, em The Old Guard estamos bem mais próximos de uma reinvenção do clássico filme Highlander: O Guerreiro Imortal (1986).

Na história, Andy (Charlize Theron) e mais 3 amigos são um grupo de imortais que ao longo da história agem como mercenários lutando pelo que eles acham justo. Porém quando o ex-agente da CIA Copley (Chiwetel Ejiofor) descobre o segredo do grupo, começa a caçá-los para vendê-los como "cobaias" para uma bilionária indústria farmacêutica.

Mesmo sendo um filme de ação, o foco de The Old Guard entretanto são os dramas e histórias vividos por quem é imortal. E a mitologia deste universo é muito bacana, o ponto alto da produção. Por mim, a história deveria contar ainda mais sobre o passado dos protagonistas em detrimento das cenas dos dias de hoje.

The Old Guard também possui vários problemas - e o que mais detestei foi o quanto os vilões são absurdamente caricatos e unidimensionais - além de uma produção bem simplória: cenários, trilha sonora, cenas de ação, tudo bem genérico e burocrático. Portanto, se você quiser ver um filme com ação de realmente tirar o fôlego, recomendo Atômica (2017), da mesma Charlize Theron, que embora não tenha sido feito pela Netflix, também estreou recentemente por lá. Inclusive, a continuação de Atômica já está em desenvolvimento, e desta vez será feito realmente pela Netflix,

Trazendo um filme de ação razoável mas com uma mitologia acima da média, The Old Guard deverá agradar os amantes do gênero, e principalmente, me deu a esperança de que futuramente poderemos ter uma continuação ainda melhor, pois ainda há muito potencial para ser explorado. Nota 6,0.


Ninguém Sabe Que Estou Aqui (2020)
Diretor: Gaspar Antillo
Atores principais: Jorge Garcia, Millaray Lobos, Luis Gnecco, Alejandro Goic

Primeiro filme original chileno da Netflix, Ninguém Sabe Que Estou Aqui tem como estrela principal o ator Jorge Garcia, o eterno Hurley do seriado Lost, que embora seja estadunidense e morado a vida toda nos EUA, seu pai é chileno, o que talvez justifique sua escalação nesta produção.

Na história, Jorge Garcia é Memo, que foi um cantor prodígio na infância, e que agora vive de modo bastante recluso com seu tio Braulio, às margens de um lago.

A história mostra o básico do sofrimento que crianças passam ao serem exploradas pelos pais e pelo show business, e que no caso de Memo, o traumatizou profundamente, de maneira a ele querer evitar qualquer contato humano. O porquê deste comportamento do protagonista acaba se tornando, então, o mistério do filme. E alternando cenas atuais com flashbacks, aos poucos este quebra-cabeça nos é revelado.

A história de Ninguém Sabe Que Estou Aqui é boa, entretém, mas não é bem executada. Os personagens são mal desenvolvidos, e o comportamento de alguns deles não me parece muito crível em alguns momentos. Há uma grande revelação no final do filme, seu ponto mais alto, porém ela também não é bem trabalhada... o espectador não chega a ficar curioso por ela, pois de certa forma nem desconfia que ela exista.

Melancólica, a história Ninguém Sabe Que Estou Aqui é mal conduzida mas ainda assim emociona em alguns momentos e traz algumas cenas bem bonitas. No conjunto geral, portanto, é um filme de médio a bom, que pode ser assistido sem arrependimentos. Nota: 6,0.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

SEIS quadrinhos Franco Belga além de Asterix e Tintim para você conhecer


Como muitos devem saber, uma das maiores e mais importantes escolas de quadrinhos do mundo é a Franco-Belga, com suas revistas em formato bem característico: álbuns com papel de alta qualidade, tamanho próximo ao A4 (22x29 cm), e em volumes trazendo entre 40 e 60 páginas.

As mais famosas Bande Dessinée ("tiras desenhadas"), ou "BD"s Franco-Belgas no mundo certamente são Asterix (dos franceses René Goscinny e Albert Uderzo) e Tintim (do belga Hergé). Asterix aliás, para mim é uma das melhores franquias de quadrinhos de todos os tempos.

Meu objetivo neste artigo é apresentar para eleitores brasileiros 6 títulos de quadrinhos Franco-Belgas além de Asteríx e Tintim, e que portanto não são muito conhecidos por aqui. Alerto que esta minha lista segue algumas restrições: primeiro que serão apenas títulos infanto-juvenis... o que significa que quadrinhos "adultos" como Blueberry e XIII não entram; além disto, só vou apresentar títulos que continuam disponíveis nas lojas brasileiras para que você possa comprar e ler. Portanto, outros títulos geniais da dupla autora de Asterix, como Umpa-Pá e Iznogud não entram, já que a última vez que elas foram publicadas no Brasil foram respectivamente nos anos 1987 e 1978 (que VERGONHA, hein editoras nacionais?).

Sem mais delongas, vamos à lista dos títulos em ordem alfabética:


Boule & Bill


Boule & Bill
(Boule et Bill no original) é um quadrinho belga criado em 1959 pelo escritor e desenhista belga Jean Roba. Após 28 edições, Roba passou o bastão da publicação em 2003 para seu aluno francês Laurent Verron, que assumiu 100% das ilustrações junto com um grupo de roteiristas. Após 8 novos títulos, Verron saiu do título e passou a publicação para a dupla francesa Christophe Cazenove (roteiros) e Jean Bastide (desenhos).

Boule & Bill foi publicado no Brasil na década de 80 pela editora Martins Fontes. E décadas depois, durante os anos de 2012 e 2013, a editora Nemo trouxe o título novamente para cá, com 5 edições da fase produzida por Laurent Verron. São estas edições que ainda existem para comprar.

Boule & Bill são tirinhas curtas de humor protagonizadas pelo garoto Boule e de seu cachorrinho Bill, de raça Cocker Spaniel. Como principais coadjuvantes, também fazem parte da revista os pais de Boule, e Caroline, sua tartaruga de estimação. Fazendo uma comparação bem grosseira, é como se fosse uma mistura de Calvin e Haroldo com Peanuts (Charlie Brown e Snoopy), porém sendo menos genial que o primeiro e muito menos depressivo que o segundo, até porque Boule é bastante alegre e travesso.

Após começar na revista semanal de quadrinhos belga Spirou em aventuras com 4 páginas, rapidamente Jean Roba passou a fazer histórias de humor com começo e fim em apenas 1 página, formato que popularizou Boule & Bill e se mantém até hoje.

Com tirinhas engraçadas e fofinhas, o título foca nas aventuras e no cotidiano de Boule e sua família. Uma curiosidade de Boule & Bill é que neles os animais conversam normalmente como se fossem humanos; e embora os humanos não entendam o que os animais "falam", o contrário não é verdadeiro, e os animais entendem tudo o que as pessoas falam.


January Jones


A presença de January Jones na minha lista é uma pequena "trapaça", afinal ela não foi criada por franceses ou belgas, e sim pelos holandeses Martin Lodewijk (roteiro) e Eric Heuvel (arte). Ainda assim sua citação na lista é muito justa, primeiro porque o título é bem conhecido no mercado Franco-Belga, mas principalmente porque se trata da obra mais mais próxima de Tintim que já vi: January Jones é um ótimo exemplo das revistas da escola "Linha Clara", desenvolvida pelo próprio Hergé. 

As aventuras de January Jones estão situadas entre as Primeira e Segunda Guerras Mundiais. A protagonista é uma jovem aviadora e espiã, uma mistura das pessoas reais Amelia Earhart e Mata Hari com os fictícios Indiana Jones e Tintim; inclusive, misturar fantasia com fatos e personagens reais é uma das importantes características de January Jones. Voltando a comparar ela com as histórias da maior criação de Hergé, nas HQs de January Jones os confrontos com os alemães (que dependendo da história são anteriores ao partido nazista) estão bem mais presentes, mas ao mesmo tempo a revista é mais bem humorada, repleta de piadinhas. As semelhanças com Tintim são tão grandes que as histórias também possuem o (polêmico) tom colonialista e machista daquele período histórico.

January Jones continua sendo publicada pelos seus criadores: até agora já foram 10 álbuns, com o 11º já programado para ser lançado ainda em 2020 na Europa. Aqui no Brasil o título chegou pela primeira vez em 2016 via AVEC Editora, que até hoje lançou apenas os 2 primeiros volumes da série. Seria muito importante que no mínimo o 3º volume, que se chama O Tesouro do Rei Salomão também saísse por aqui, pois ele continua e encerra a história do volume anterior, O Crânio de Mkwawa.

Outro volume que seria muito interessante que viesse para cá é o 10º, intitulado Flying Down to Rio II, que foi publicado em 2018 e se passa todo no nosso Rio de Janeiro. O nome original deste álbum é o único em inglês (e não holandês), pois se trata de uma homenagem ao clássico filme estadunidense Flying Down to Rio, de 1933. Na história, January é contratada para fazer as imagens aéreas da (fictícia) continuação deste filme. Curiosamente os planos da AVEC eram justamente lançar o volume 3 em 2020 e depois, saltar direto para o número 10, por motivos óbvios. Entretanto os planos foram interrompidos pela pandemia e alta do Euro. Espero que um dia estes planos sejam retomados e aplicados.

É bem fácil encontrar e comprar January Jones pela internet, inclusive pelo próprio site da editora, que para quem não sabe mas se interessa pelo assunto, publica vários outros títulos interessantes de quadrinhos aqui no Brasil.


Lucky Luke


Lucky Luke pode não ser tão conhecido aqui no Brasil, porém em termos de vendas mundiais ele se encontra no Top 3 das revistas Franco-Belgas, ficando atrás de Asterix, mas na frente de Tintim.

Criada em 1946 pelo belga Morris, suas histórias se passam no Velho Oeste americano, onde o cowboy Lucky Luke luta contra todo tipo de crimes e injustiças. Sempre em companhia de seu cavalo Jolly Jumper, ele tem como principais inimigos os atrapalhados e estúpidos Irmãos Dalton. Além de vários coadjuvantes fictícios, Luke também interage com personalidades reais, como por exemplo Jesse James, Billy the Kid e Calamity Jane.

Morris foi outro que começou publicando seu maior sucesso na revista semanal de quadrinhos belga Spirou. No começo de Lucky Luke, Morris trabalhava sozinho fazendo tanto os roteiros quanto os desenhos. Depois de ter publicado o material que se tornaria seus primeiros 8 álbuns, ele deixou os roteiros na mão do genial francês René Goscinny (o roteirista e co-criador de Asterix). Goscinny roteirizou pouco mais de 40 volumes, se tornando o maior e mais importante escritor de Lucky Luke

Com a morte de Goscinny em 1977, Morris começou a trabalhar com vários outros roteiristas, mas se mantendo firme nos desenhos até seu falecimento, em 2001. A partir daí os desenhos ficaram sob responsabilidade do francês Achdé. Lucky Luke continua sendo publicado até hoje, geralmente com um novo volume por ano, e já bateu a marca de 95 edições.

Os quadrinhos de Lucky Luke são bem engraçados, e principalmente na fase de Goscinny, possui tiradas geniais ironizando o comportamento humano. Curiosidade: até 1983 Luke aparecia o tempo todo fumando um cigarro, até que Morris optou por trocar o objeto por uma palha de capim a partir de então. Seu gesto lhe valeu uma medalha de reconhecimento da OMS (Organização Mundial de Saúde), porém descaracterizou um pouquinho o personagem.

Os álbuns de Lucky Luke foram publicados no Brasil com boa frequência, por diversas editoras, nas décadas de 60 a 80 e alcançando dezenas de números. Porém depois de sua última aparição de um álbum seu nas bancas nacionais, em 1986, Lucky Luke só voltaria em 2014, via editora Zarabatana Books.

O formato escolhido pela Zarabatana foi curioso: revistas mais grossas, compilando 3 álbuns originais em um único volume. E não começaram pelo "volume 1", começaram pelo "volume 4", para que a coleção se iniciasse pela fase de Goscinny. Após a publicação do "volume 5" em 2017, os planos eram publicar finalmente o "volume 1" como 3º lançamento. Porém até agora ele não saiu. De qualquer forma, os vols. 4 e 5, que somados dão 6 divertidos álbuns, continuam disponíveis para compra em livrarias nacionais.


Quick e Flupke


Nos primeiros anos em que o autor belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé, publicava semanalmente na revista infantil Le Petit Vingtième as aventuras iniciais de Tintim, ele ainda estava aprendendo e experimentando dentro do mundo das HQs. Portanto, após Tintim começar em 1929, durante os anos de 1930 a 1940 Hergé publicou paralelamente na mesma revista as tirinhas de Quick et Flupke (Quim e Filipe em Portugal): uma dupla de garotos de Bruxelas que viviam aprontando, sempre inventando novas maneiras de se divertir.

Quick e Flupke traz histórias cotidianas de humor, principalmente de humor físico, onde um dos dois garotos acaba se acidentando de alguma maneira, ou fazendo alguma "pegadinha" em terceiros. São histórias curtas, sempre apresentadas em 2 páginas completas.

A coleção completa de Quick e Flupke foi publicada no Brasil alguns anos atrás sob nome de As Diabruras de Quick e Flupke. São apenas 2 volumes em capa dura e papel de luxo, cerca de 160 páginas cada, e ainda estão disponíveis nas lojas.


Os Smurfs


Quem viveu os anos 80 conhece bem estas criaturinhas azuis, pelo sucesso de seu desenho animado da TV, ou pela sua linha de brinquedos e/ou de jogos de videogames. Porém o que poucos sabem é que Os Smurfs começaram nos quadrinhos décadas antes, criados pelo belga Pierre Culiford, mais conhecido pelo seu nome artístico Peyo.

Os Smurfs foram publicados pela primeira vez em 1958, como coadjuvantes em uma história em quadrinhos de Johan et Pirlouit, título também produzido por Peyo, que se tratava das aventuras de um jovem cavaleiro e seu escudeiro/músico em um ambiente medieval que também contava com feitiçaria. Com o sucesso dos simpáticos seres azuis, eles ganharam seu título próprio em 1963, com o álbum Os Smurfs pretos, que no caso era uma coletânea de 3 histórias publicadas anteriormente na revista semanal de quadrinhos Spirou.

Os Smurfs são minúsculos seres humanoides azuis, que vivem em sua própria comunidade dentro de uma floresta, e têm como principal inimigo o humano e mago Gargamel, que quer capturá-los para transformá-los em ouro. Contando histórias que misturam bastante aventura e humor, uma característica incomum do título é que os Smurfs possuem seu dialeto próprio, que basicamente é o uso da palavra "smurf" em substituição a alguns substantivos ou verbos. Por exemplo: "Nós vamos smurfar ao Rio Smurf hoje".

Peyo lançou 16 álbuns de Os Smurfs, sendo o último deles no ano de seu falecimento, em 1992. Os primeiros álbuns eram todos de quadrinhos publicados originalmente em revistas mensais e compilados posteriormente; porém os últimos já eram publicações inéditas, lançadas diretamente como álbum próprio.

Com a morte de Peyo, seu filho Thierry Culliford assumiu os roteiros de Os Smurfs e continua publicando novas histórias até hoje. Somando os álbuns de Peyo e de seu filho, a franquia atingiu neste ano de 2020 o número de 38 volumes, com a publicação de Les schtroumpfs et le vol des Cigognes.

A primeira vez que Os Smurfs foram publicados no Brasil foi nos anos 1975-76 pela Editora Vecchi, com 7 edições em formatinho, e 3 revistas no formato original de álbum europeu, em 21 x 27,5 cm. Depois em 1983, agora pela Editora Abril, novas publicações: 6 revistas também em formatinho.

E finalmente, há alguns anos atrás, a publicação ganhou uma terceira tentativa via Editora L&PM. Em 2011 eles trouxeram 2 álbuns (tanto no formato original de álbum europeu quanto no formato pocket  branco e preto), e em 2013 lançaram mais 2 títulos (agora apenas no formato original). São estes 4 álbuns da L&PM que você ainda consegue comprar em algumas livrarias brasileiras.


Spirou e Fantásio


Spirou e Fantásio têm uma das origens mais curiosas. Spirou foi criado pelo quadrinista francês Rob-Vel, em 1938, para estrelar a revista semanal belga de HQs de mesmo nome. Já Fantásio foi criado pelo quadrinista belga Jijé em 1944, para que o mesmo formasse uma dupla de amigos com Spirou. Sob as mãos de seus criadores, Spirou e Fantásio era apresentado apenas em aventuras curtas, de algumas poucas tiras ou páginas. É então que em 1946 o belga André Franquin assume as publicações dos dois personagens, e rapidamente altera o formato para histórias mais longas, publicáveis em álbuns próprios. Foi sob o comando de Franquin que Spirou e Fantásio se tornou internacionalmente famoso, e ele é considerado o "autor definitivo" da dupla.

Foi dentro da revista Spirou e Fantásio que Franquin também criou Marsupilami, o animalzinho de rabo absurdamente comprido que anos depois ganharia seu título próprio e viraria desenho animado da Disney na década de 1990. Após a publicação de 24 álbuns, André deixou o título em 1969, e a partir de então Spirou e Fantásio passou por vários autores diferentes, e continua sendo publicado até hoje. A última edição, a 55ª, teve o nome de La Colère du Marsupilami e foi lançada em 2016 pela dupla francesa Fabien Vehlmann (roteiros) e Yoann Chivard. Foi o 5º álbum criado por eles.

Spirou começou suas histórias como um camareiro em um importante hotel de sua cidade, enquanto Fantásio é um jornalista. Depois de muitos álbuns Spirou também vira jornalista, trabalhando junto com seu grande amigo. Junto com a dupla temos o esquilo de estimação Spip, e o Marsupilami. Spip conversa normalmente com os humanos das histórias, embora somente nós, leitores, efetivamente entendemos o que ele diz.

De certa forma Spirou e Fantásio se parece um bocado com Tintim, ainda assim em comparação, aqui as aventuras são bem mais cômicas, mais variadas e menos realistas. Spirou e Fantásio teve 3 títulos publicados no Brasil pela Editora Vecchi em 1975-76, sob o bizarro nome de As Aventuras do Xará, e uma publicação pela Editora Manole em 1996.

Mas foi a editora SESI-SP que efetivamente tornou o título disponível para todo brasileiro: de 2016 pra cá a editora paulista já publicou vários álbuns de Spirou: 11 álbuns da série regular, e mais 4 álbuns especiais, da série O Spirou De..., onde outros quadrinistas convidados fazem suas histórias independentes, desconsiderando a série "oficial".

Atualmente dá para comprar facilmente uma edição de Spirou e Fantásio, entretanto como a última publicação da SESI-SP foi em Janeiro de 2019, tenho o receio de que eles tenham abandonado a coleção.



Gostou? Quais destes títulos você já conhecia? Ou não conhecia e agora quer conhecer? Escreva nos comentários! Passe numa livraria e inicie sua experiência nestes diferentes títulos de quadrinhos!

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Crítica - Noite Adentro (Netflix) - primeira temporada (2020)


Boa parte das produções originais Netflix que têm agradado não são dos EUA, e sim produções menores em outros países. É o caso deste bom Noite Adentro, seriado de 6 episódios de 37 minutos cada produzido na Bélgica, e com grande aprovação no site Rotten Tomatoes (83%), um dos principais sites de críticas de profissionais para Cinema e TV.

A história é levemente baseada no livro polonês The Old Axolotl, de 2015. Na trama do seriado, um avião que vai decolar do aeroporto de Bruxelas, capital da Bélgica, é sequestrado por um soldado italiano da OTAN. Segundo ele, algo muito estranho aconteceu com o Sol e a partir daquele momento, tudo que entrasse em contato com a luz solar morreria instantaneamente. Transtornado e armado com uma metralhadora, o soldado obriga o avião decolar imediatamente em direção ao "oeste", com o objetivo de ficar constantemente voando durante a noite. E é o que acontece: o avião decola com tripulação reduzida (no momento do sequestro apenas poucos passageiros haviam entrado na aeronave), rumo ao desconhecido.

Em Noite Adentro o drama e as dificuldades não ocorrem apenas devido ao problema que vêm do espaço, dentre os cerca de 15 passageiros a bordo, temos tudo quanto é tipo de nacionalidade, idade, religião e profissões. Então, como sempre acontece em toda boa história de ficção científica, o grande fator da trama é o comportamento humano, e não as condições fictícias e extremas ao redor.

Aliás, talvez Noite Adentro até exagere um pouco nestes dramas... em alguns poucos momentos eles cansam. Eu optaria por ver um pouco menos de conflitos entre os personagens e um pouco mais do mundo em que eles se encontram. De qualquer forma, a trama é boa, e sua principal qualidade é seu suspense... seu inesperado... nunca sabemos quem vai morrer e quem vai sobreviver, e ainda, ao final de cada episódio surge um novo problema ou dilema, e ficamos na expectativa de como ele será resolvido.

Apesar da produção de baixo custo, Noite Adentro não comete nenhum deslize técnico e entrega um produto bem feito. Além disto, conta com bons atores e entretém com seu drama e personagens. Talvez o seriado ganhe nova temporada, pois mesmo com a história se encerrando no episódio 6, ela deixa algumas poucas pontas soltas.

Tendo uma futura temporada ou não, quem gosta de ficção pós-apocalíptica poderá se divertir com Noite Adentro gastando bem poucas horas no mesmo.


quarta-feira, 10 de junho de 2020

Você conhece as Escape Rooms? Pois agora você também pode jogar em sua casa!


Você já ouviu falar das Escape Rooms? Acredito que sim... este passatempo, que literalmente significa "escape do quarto", é um tipo de entretenimento onde pessoas são "trancadas" dentro de uma sala, e possuem o desafio de escapar da mesma dentro de um tempo limitado (geralmente 60 minutos) através da solução de enigmas.

Este tipo de jogo nasceu em 2006 nos EUA, e por exemplo aqui no Brasil, a grande SP conta com cerca de uma dezena de prédios que proporcionam este tipo de diversão. Para jogar, o preço atual é cerca de R$ 90,00 por pessoa, para uma aventura de 1h.

Mas o que poucos sabem é que este tipo de jogo pode ser jogado em casa, através de jogos de cartas ou tabuleiro. E isto inclui nós brasileiros: nos últimos 4 anos as editoras de jogos nacionais trouxeram vários produtos do gênero para cá. Neste artigo irei apresentar as 4 principais franquias de Escape Rooms "portáteis" que se encontram disponíveis nas nossas lojas para qualquer um comprar e jogar.


Escape Room: Board Game
Idade 16+; Duração 60 min; 3 a 5 jogadores; Editora: Galápagos Jogos; Preço médio: R$ 230,00


Começando pelo jogo que traz a experiência mais próxima dentre todos de um Escape Room "real", afinal toda partida precisa ser resolvida em até 60 minutos, e desafio principal depende de descobrir 3 codificações distintas de um conjunto de chaves.

Escape Room: The Game também é o jogo mais caro desta lista, e por um motivo bem simples, a existência dentre os componentes do "Decodificador Chrono", esta caixa eletrônica preta da foto acima, que possui cronômetro, valida as combinações de chaves e permite outras funcionalidades. Por exemplo, se você erra uma combinação, o tempo total restante é diminuído em 1 minuto; e você também pode programar o Decodificador para a cada 5 minutos fazer um "beep", te lembrando para pegar uma dica caso esteja "travado" no enigma atual... igualzinho uma Escape Room real!

Além do Decodificador, a caixa inclui 16 chaves, várias cartas e alguns envelopes e mapas. O jogo também necessita que você baixe um App no celular, mas pelo menos ele contribui tocando músicas de suspense próprias para o jogo.

A caixa base do jogo já vem com 4 jogos (cenários) diferentes e independentes entre eles, em ordem crescente de dificuldade. Ou seja, são 4 partidas! E uma vez comprada este caixa, basta comprar novos jogos "refil", pois o que importa mesmo é ter o Decodificador. Estas novas aventuras extras (e bem mais baratas) ainda não vieram para o Brasil, só existem no exterior (e são 10 novos cenários, por enquanto).

A rejogabilidade deste jogo é baixa, pois uma vez jogado, cada aventura não pode ser jogada novamente. O jogo foi mesmo planejado para você ir comprando novas aventuras avulsas.


EXIT: o Jogo
Idade 12+;  Duração 90 min; 1 a 6 jogadores; Editora: Devir Brasil; Preço médio: R$ 90,00


A primeira franquia de jogos de tabuleiro de Escape Rooms a chegar no Brasil. Até agora já foram publicados 11 volumes (!!) por aqui, cada um uma aventura completa, independente, e diferente das demais. Dentre alguns títulos que já chegaram temos: EXIT: A Cabana Abandonada, EXIT: A Tumba do Faraó (já joguei estes dois, o primeiro é excelente e o segundo é um pouco fraco), EXIT: Morte no Expresso do OrienteEXIT: A Estação Polar, etc. Aqui no site oficial (texto em inglês) você pode encontrar a lista de todos os títulos que já produzidos, classificados por nível de dificuldade.

Cada edição do jogo vem em uma pequena caixa, onde temos geralmente alguns livretos, cartas e um disco de papel repleto de combinações que é usado como "guia" para os enigmas apresentados.

Apesar da caixa dizer "até 6 pessoas", procure jogar em apenas 2 ou 3, do contrário alguns jogadores ficarão ociosos ao longo da partida. Ao final do jogo, o tempo que você levou para terminá-lo, e a quantidade de dicas e respostas que você acabou precisando para vencer, influenciam na sua pontuação final.

A rejogabilidade nesta franquia é zero. Afinal, durante a partida você vai "destruindo" o material (seja recortando-o, ou escrevendo em cima). Uma vez jogado, já era: pode descartar o que sobrou.


Deckscape
Idade 12+; Duração 60 min; 1 a 6 jogadores; Editora: Galápagos Jogos; Preço médio: R$ 80,00


Se os dois primeiros jogos desta lista são Escape Rooms "clássicos", a partir de agora o estilo muda um pouco, afinal não estamos mais presos dentro de uma sala. Ainda assim, a corrida contra o tempo e os vários enigmas para se resolver continuam.

Deckscape é um lançamento recentíssimo, acabou de chegar ao Brasil neste mês de Junho! Também se trata de uma franquia, que lá fora atualmente está em 6 jogos, mas por enquanto apenas os 3 primeiros vieram pro Brasil: Deckscape Hora do Teste, Deckscape Ameaça em Londres e Deckscape Roubo em Veneza.

A franquia Deckscape é a que contempla a menor caixa, afinal ela traz 60 cartas e mais nada! Aqui temos aventuras bastante focadas na história, como se participássemos de um filme. Uma vez jogada, acabou: cada aventura não pode ser repetida porque será sempre a mesma coisa. Porém este jogo pode ser reaproveitado por outras pessoas, já que as cartas que o compõe não são inutilizadas ao longo da partida.

Novamente, aqui também a corrida contra o tempo é menos explícita: o tempo que você levou para terminar o jogo, somado a quantidade de dicas e respostas que você usou na partida, influenciam na sua pontuação final.

Também recomendo jogar este jogo em 2 ou 3 pessoas no máximo; entretanto no caso do volume 3, Deckscape Roubo em Veneza, isto muda: é que a aventura possui 6 personagens diferentes, cada um com suas cartas. Portanto se você estiver jogando em 2 pessoas, cada um terá que pegar 3 personagens... Jogando em 6 cada um terá sua própria função, embora a experiência por jogador fique bem mais curta.


Escape Tales
Idade 14+; Duração 300 min; 1 a 4 jogadores; Editora: Ludofy Creative; Preço médio: R$ 140,00


A última franquia da minha lista é o de duração mais longa, cuja duração esperada da partida é ultrapassar 4 horas. Também aqui não estamos presos em uma sala, porém estamos sempre explorando uma região delimitada. Até agora já foram lançados três títulos desta série, e apenas um deles chegou ao Brasil: Escape Tales: O Despertar, onde neste caso exploramos uma assustadora mansão em busca de uma cura para sua filha, que entrou misteriosamente em coma.

Os jogos de Escape Tales também são de longe os mais focados na narrativa, e com temática mais de terror. A caixa traz como componentes fichas, cartas, e o livro da história. É como se fosse uma versão bem turbinada daqueles Livros-jogo que fizeram bastante sucesso nos anos 80 e 90. Tanto é assim, que uma partida de Escape Tales tem vários finais possíveis, de acordo com as escolhas feitas pelos jogadores. Depois de um desfecho, você pode "voltar" na história e jogá-la novamente, agora indo por outro caminho. Em geral vale a pena você descobrir mais uns 2 finais diferentes, depois disso a experiência fica chata e repetitiva. Ainda assim, jogando Escape Tales três vezes, isto significa que você usufruirá mais de 12h do game.

Este jogo também não "destrói" seus componentes durante a partida, então após jogá-lo você pode passar ele para alguém. E apesar da caixa dizer até 4 jogadores, apenas jogue sozinho ou em dupla, do contrário os demais participantes ficarão olhando sem fazer nada.



E aí? Bora jogar?

É verdade que estes jogos não são baratos, mas ainda assim, parte deles pode ser trocado ou vendido depois. E lembrando que se numa Escape Room real você gasta 90 Reais por pessoa, e nestes jogos um mesmo valor é "dividido" entre os participantes, eles acabam sendo uma opção bem mais em conta. Isto sem falar que você não vai ter que gastar dinheiro para se deslocar até os estabelecimentos que fornecem esta experiência... ou ainda, talvez eles nem estejam abertos devido a quarentena.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Crítica Amazon Prime - A Vastidão da Noite (2019)

Título
A Vastidão da Noite ("The Vast of Night", EUA, 2019)
Diretor: Andrew Patterson
Atores principais: Sierra McCormick, Jake Horowitz, Gail Cronauer, Bruce Davis
Trailer (em inglês)https://www.youtube.com/watch?v=ZEiwpCJqMM0
Nota: 7,0

Bom filme sobre OVNIs com excelente ambientação

O filme A Vastidão da Noite é a primeira produção original Amazon Prime que comento aqui em meu blog. Ele estreou no canal de streaming da Amazon poucos dias atrás aqui no Brasil, em 29 de Maio, e chamou minha a atenção pela grande quantidade de elogios que recebeu na internet pela crítica especializada.

A história segue um roteiro clássico de filmes de OVNIs dos anos 50 / 60. Aliás, as histórias sobre "discos voadores" se iniciaram nos EUA, logo após término da 2a Guerra Mundial, e então faz todo sentido que este filme se passe no início dos anos 50 numa fictícia cidadezinha estadunidense do Novo México (a famosa cidade de Roswell fica justamente neste estado).

Na trama, a adolescente e operadora de telefone Fay (Sierra McCormick) e o jovem radialista Everett (Jake Horowitz) acabam percebendo eventos estranhos em sua cidade, como quedas de energia elétrica repentinas e inexplicáveis, um estranho ruído captado pelas rádios, e relatos de objetos luminosos no céu. Assustados mas ao mesmo tempo intrigados, a dupla se une para descobrir e registrar o que está acontecendo.

A história em  A Vastidão da Noite é boa, porém não longa o suficiente para preencher as 1h e 29min de filme... Desta maneira em alguns momentos a trama chega a cansar. De certa forma, o filme lembra muito A Bruxa de Blair (1999): produção independente de baixo orçamento, onde sua primeira hora é basicamente de diálogos e apenas seu desfecho contém ação. Aliás, os minutos finais de ambos filmes são bem marcantes e impactantes.

Porém A Vastidão da Noite leva algumas vantagens sobre A Bruxa de Blair: primeiro que ele não é filmado com "a câmera na mão", com imagens tremidas e irriquietas; pelo contrário, o filme da Amazon tem imagens bem mais "profissionais", com várias cenas de Plano-sequência onde a câmera desliza com incrível suavidade sob trilhos.

Mas principalmente, a grande qualidade de A Vastidão da Noite é a sua atmosfera, sua ambientação. Ao assistir, temos uma sensação muito forte de estar vivendo em uma cidadezinha dos anos 50. A maneira com que as pessoas agem e pensam, as localidades, até a existência de profissões do passado que hoje já não mais existem é um toque bem pensado.

Grande parte do sucesso desta convincente e impressionante atmosfera vem do som: o ruído alienígena, os sons da cidade... além do (bom) casal protagonista o som também é um essencial personagem em A Vastidão da Noite. O fato dos personagens principais terem como seu sustento a transmissão de áudios está longe de ser coincidência.

A Vastidão da Noite é outro filme que não me empolgou tanto quanto às críticas especializadas, porém ainda assim é um filme bom, diferente, bastante tenso e tecnicamente bem feito. É uma boa história de ficção científica, algo raro e muito bem vindo nos dias atuais. Nota: 7,0

domingo, 31 de maio de 2020

Crítica Netflix - Space Force (2020) - 1ª Temporada


Confesso que quando assisti os trailers desta nova série não fiquei nem um pouco empolgado; aliás, não dei uma única risada. Então, após encarar o desafio de assistir a primeira temporada de Space Force, foi uma agradável surpresa constatar que o seriado é bom!

Nesta nova empreitada de Steve Carell (que é co-criador, co-produtor e ator principal), temos uma comédia baseada no dia-a-dia de uma espécie de NASA comandada pelas Forças Armadas. Além de Carell (o General Mark Naird), como nomes mais famosos no elenco temos John Malkovich como cientista-chefe da Space Force, e Lisa Kudrow - a eterna Phoebe do seriado Friends - como a esposa de Mark, em participações bem menores.

A "piada" principal de Space Force é tirar sarro da atual política dos EUA (leia-se governo Trump), dos militares em geral, e de todos os extremistas que acreditam em coisas como uma Terra plana. Porém, o tom das piadas é bem sutil, praticamente sem ofender.

E é nisto que reside a maior - e grata - surpresa em Space Force, afinal, sendo criada pela dupla formada pelo principal ator mais o criador do The Office estadunidense (Greg Daniels), este seriado é completamente diferente. O personagem Mark Naird é teimoso, antiquado, mas ainda assim competente; bem distinto do completo idiota que é o personagem principal Michael Scott em The Office. O tipo do humor também é diferente; como dito antes, ele é mais leve, sutil, ao contrário do humor de constantemente expor os personagens à vergonha alheia do The Office.

Embora não contando com um elenco muito talentoso, vários personagens são bastante simpáticos, e tendem a ganhar o carinho da audiência. Já Steve Carell e principalmente John Malkovich estão ótimos, e levam a série nas costas com facilidade. Eles formam uma dupla antagônica que representam a paixão/tradição versus a lógica/ciência.

A história de Space Force mostra a luta de um recém-criado programa espacial em busca de retornar a hegemonia mundial nesta questão; e portanto, boa parte do que vemos na série são temas relacionados a política e a conquista do espaço. Ainda assim há um pequeno espaço para os dramas pessoais dos integrantes da família Naird e de alguns outros poucos coadjuvantes.

Space Force, entretanto, ainda está longe de ser um grande programa. O roteiro parece tentar descobrir junto com os episódios sobre que história ele quer contar. Sabe aquele humor "sutil" que citei anteriormente? Pois ele é abandonado na último episódio da temporada, ficando bem escrachado. As piadas - em geral boas - ainda estão em processo de refinamento. Há boas sacadas, mas ainda estão longe de ser geniais e te fazer gargalhar.

Com uma primeira temporada "boa" de 10 curtos episídios, o futuro de Space Force ainda é incerto; mas é promissor. É um seriado de comédia que recomendo para toda a família (14 anos ou mais rs) e que está acima da média dos seriados de comédia originais Netflix.

domingo, 24 de maio de 2020

Feliz 25 de Maio, Dia da Toalha!! Conheça esta importante data e a obra de Douglas Adams


Hoje é 25 de Maio! O Dia da Toalha! E é ESTE o verdadeiro motivo por hoje ser feriado no estado de São Paulo! E vocês achando que era por causa da pandemia... tsc, tsc. O Dia da Toalha é a data mundialmente adotada para homenagear o falecido e genial escritor britânico de comédia ficção científica, Douglas Adams.

A nome da data em questão vem de uma referência de sua obra mais famosa, O Guia do Mochileiro das Galáxias, apresentado pela primeira vez em 1978 como um programa de rádio pela BBC, e que seria adaptada no ano seguinte em livro. Nesta comédia, aprendemos que existem seres de todas as raças planetárias que viajam pelo tempo/espaço do universo em busca de aventuras, e que para eles, o objeto mais essencial de todos é uma toalha(!). A importância deste objeto têm várias justificativas, algumas como estas abaixo:

"(...) a toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo desértico de Kakrafoon; pode usá-la como vela para descer numa mini-jangada as águas lentas e pesadas do rio Moth; pode umedecê-la e utilizá-la para lutar em um combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da Terrível Besta Voraz de Traal (um animal estonteantemente burro, que acha que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você - estúpido feito uma anta, mas muito, muito voraz); você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro; e naturalmente pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa. (...)"

Douglas Adams, o simpático senhor de boné da foto ao lado, faleceu aos 49 anos no dia 11 de Maio de 2001, devido a um ataque cardíaco. Rapidamente seus fãs se organizaram via internet para lhe prestar uma homenagem exatamente 2 semanas depois (25 de Maio de 2001), onde cada pessoa deveria carregar uma toalha durante o dia todo.

Devido o sucesso inicial, a celebração virou um evento anual. Os fãs chegaram a debater se a homenagem deveria ser em outro dia, como por exemplo 11 de Março (dia do nascimento de Douglas),  ou ainda 11 de Fevereiro, por ser o 42º dia do ano (em homenagem à famosa resposta para a vida, o universo e tudo mais), mas no final a data original do dia 25 de Maio foi mantida.

A data do dia 25 de Maio também é mundialmente celebrada como o Dia do Orgulho Nerde comemorada ainda mais pelos os fãs de Star Wars, pois o primeiro filme desta franquia foi lançado em 25 de Maio de 1977. Porém esta comemoração é um PLÁGIO, já que só começou vários anos depois, em 2006!! rsrsrs

Ah, e essa vocês não sabiam: a data de hoje também é celebrada como o "Glorioso dia de 25 de Maio" pelos fãs de Terry Pratchett. Na verdade, a celebração é uma data para conscientização ao combate ao Alzheimer; portanto, os fãs convidam a humanidade a se vestir de lilás e a fazer doações para instituições que pesquisam a cura para a doença. Mas esta coincidência de datas comemorativas é a MENOR das ligações entre Douglas Adams e Terry Pratchett. Quer saber mais a respeito? Leia este artigo até o fim. ;)


A Obra de Douglas Adams

Douglas Adams é mais conhecido pelos seus livros da série O Guia do Mochileiro das Galáxias. A coleção, que possui o cômico slogan de "a trilogia de cinco livros", mistura ficção científica, fantasia, e muito humor baseado em nonsense e críticas a nossa sociedade.

Mas Adams também realizou outros trabalhos importantes: teve pequenas participações escrevendo para o genial grupo de comédia Monty Python, e no final da década de 70 escreveu alguns episódios para o mundialmente famoso seriado de TV, Doctor Who.

Outro trabalho relevante foi a série Dirk Gently's Holistic Detective Agency, com apenas dois livros publicados. A série conta as aventuras de Dirk, um atrapalhado detetive particular que possui uma visão bastante holística do universo, o que lhe permite realizar algumas coisas que também poderiam ser classificadas como "poderes psíquicos". A obra já foi adaptada duas vezes para a TV, em forma de seriado. A última versão delas também levou o nome de Dirk Gently's Holistic Detective Agency e é de 2017, com co-produção da Netflix e Elijah Wood no elenco.


Sobre os livros da série O Guia do Mochileiro das Galáxias


A série de livros O Guia do Mochileiro das Galáxias atualmente contempla sete volumes. Os três primeiros: "O Guia do Mochileiro das Galáxias", "O Restaurante no Fim do Universo", e "A Vida, o Universo e Tudo Mais" são simplesmente excelentes, divertidíssimos, e de certa maneira, juntos formam uma única aventura completa. Os personagens principais desta história são os terráqueos Arthur Dent e Tricia McMillan, o alienígena e mochileiro Ford Prefect, o playboy e Presidente Galáctico de duas cabeças Zaphod Beeblebrox, e finalmente, o robô ultra depressivo Marvin (que já viajou tanto no tempo que sua idade é algumas vezes maior que a idade total do Universo rs). Recomendo MUITO estes livros para quem curte ficção científica repleto de humor britânico.

Já o quarto livro, "Até mais, e Obrigado pelos Peixes!", é um bocado diferente do restante da série. Primeiro, por se passar quase todo ele dentro do Planeta Terra. E principalmente, por ser mais uma história de romance do que aventura. Já o quinto livro, "Praticamente Inofensiva", retoma as confusões épicas dos 3 primeiros livros... porém com a desvantagem que ele deixa alguns pontos em aberto e tem um desfecho meio deprê... Devido à morna recepção ao livro, Adams cogitava escrever um 6º volume, mas ele nos deixou antes disto. Ainda que bons e divertidos, para mim o 4º e 5º livros estão bem abaixo dos anteriores.

Com o falecimento de Douglas em 2001, o sexto livro "O Salmão da Dúvida" é o primeiro póstumo, lançado em 2002. Sendo uma coletânea de trabalhos do escritor, de "Guia do Mochileiro" a publicação não tem quase nada, apenas um pequeno conto de nome "Perfeitamente Seguro", publicado originalmente em 1986, trazendo uma história solo de Beeblebrox quando jovem. O restante? Artigos e crônicas escritas por Adams, e alguns capítulos de "O Salmão da Dúvida", que seria o terceiro volume da série de Dirk Gently. Você lê os primeiros capítulos e... ele acaba, do nada, ficando totalmente incompleto. Sinceramente, odiei este livro e depois de tê-lo lido, me senti enganado por ter feito a compra.

Finalmente, em 2009 foi publicado "E Tem Outra Coisa...", digamos então o "verdadeiro" sexto livro da série. Porém ele não foi escrito por Douglas, e sim por Eoin Colfer, autor da famosa série de livros Artemis Fowl. Este título eu ainda não li.


Recomendação OBRIGATÓRIA para quem gosta de Douglas Adams

E se você que chegou até aqui gosta dos livros de Douglas Adams, tenho uma recomendação a fazer. Você precisa conhecer a obra de Terry Pratchett. Contemporâneo de Douglas, Pratchett também é um escritor inglês falecido, porém pouco conhecido no Brasil. Sua obra mais famosa por aqui é Good Omens: Belas Maldições, escrito em conjunto com Neil Gaiman e transformada em mini-série de TV em 2019, estando disponível para os brasileiros assistirem na Amazon Prime.

Mas o verdadeiro legado de Terry Pratchett é a série de livros Discworld. São mais de 40 livros, naquilo que posso descrever a grosso modo O Guia do Mochileiro das Galáxias dentro de um universo estilo Senhor dos Anéis.

Com o mesmo estilo bem humorado, ácido e inteligente de Adams, ouso dizer que a obra máxima de Terry Pratchett é ainda melhor que a série do Guia dos Mochileiros. Cada livro explora personagens e locais diferentes do mundo de Discworld, na quase maioria dos casos, cada livro traz uma aventura completa e independente. Até o momento que escrevo estas palavras, já li 9 dos livros da série, e os meus preferidos são aqueles que contam com a participação do Mago Rincewind, o desanimado cidadão da foto ao lado. Rincewind até é uma boa pessoa, além de sensata e inteligente; porém, também é bastante azarado, atrapalhado, e péssimo para fazer magias!

Eu já escrevi um pouco sobre Terry Pratchett e Discworld em 2015. Quem quiser conhecer mais sobre ambos, só clicar aqui: recomendo fortemente a leitura.


Pegue sua toalha! Vamos Celebrar!

E é isso. Agora que você leu este brilhante texto, passe a celebrar o Dia da Toalha todo ano, a partir de hoje!! Pegue sua toalha, e carregue-a com muito orgulho por todo lugar que for!

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Breaking News: pela primeira vez na história, um jogo brasileiro é indicado ao "Oscar" dos jogos de Tabuleiro Modernos!!


Saudações a todos! Este não é meu primeiro artigo sobre jogos de tabuleiro modernos (o primeiro foi este aqui), e agora tenho um ótimo motivo para retomar o assunto: nesta semana, pela primeira vez na história o Brasil recebeu uma indicação ao "Spiel des Jahres", o "Oscar" dos Jogos de Tabuleiro.

Spiel des Jahres (ou "Jogo do Ano", traduzido) é um prêmio alemão que existe desde 1978, e é mundialmente reconhecido como a premiação mais importante do mundo dos Jogos de Tabuleiro.

São candidatos ao prêmio principal todos os jogos "pra Família" (family games) que foram publicados na Alemanha no ano anterior ao evento. Porém dado deste critério, jogos mais complexos como os "jogos de guerra", RPGs... ou mesmo jogos mais especializados, como por exemplo os de "colecionar cartas", acabavam ficando de fora da votação. Isto foi resolvido em 2011, quando a premiação foi dividida em 3 categorias: Spiel des Jahres (Jogo do Ano), o Kennerspiel des Jahres (Jogo do Ano para Especialistas), e o Kinderspiel des Jahres (Jogo Infantil do Ano).

E foi na categoria Kennerspiel des Jahres que os brasileiros Jordy Adan (Designer), Luis Francisco e Lucas Ribeiro (Artistas) receberam a indicação pelo jogo Cartógrafos. Concorrendo com ele também foram anunciados os jogos The Crew (Alemanha) e The King's Dilemma (Itália).

Lançado no Brasil em 2019 pela Ludofy Creative (hoje Grok Games), Cartógrafos é um jogo onde como o próprio nome indica... você desenha mapas (ou algo assim). Em linhas gerais, cada jogador recebe uma folha quadriculada (que é o mapa), e a cada rodada uma carta é revelada para todos os jogadores; então cada jogador decide qual dentre as opções de terreno presentes na carta irá desenhar em sua própria folha.


Apesar da categoria indicada, Cartógrafos é um jogo muito simples, e que também lembra um pouco o Tetris. O jogo não tem limite de jogadores, idade indicada de 14+ anos, e cada partida tem a duração estimada em 45 min.

Para quem quiser conhecer melhor o jogo, neste vídeo você pode aprender suas regras, e neste aqui você pode assistir uma partida completa.

Os vencedores serão anunciados no dia 20 de Julho. Fiquem ligados e na torcida!

Gosta de suspense e terror? Você deveria conhecer Locke & Key

Locke & Key é uma série de HQs de terror/suspense que já de cara deveria chamar a atenção devido ao nome de seu escritor: Joe Hill...