terça-feira, 29 de setembro de 2020

Crítica Netflix - Cobra Kai (Primeira Temporada)

Estamos em Abril de 2013: em um episódio da oitava temporada de How I Met Your Mother, o "peculiar" personagem Barney Stinson revela com honestidade que um dos seus maiores ídolos de infância era o Karatê Kid. Mas não, ele não falava de Daniel "San" Larusso (Ralph Macchio) que inclusive ele odiava, e sim de Johnny Lawrence (William Zabka), que em sua visão, era o "garoto do caratê" a qual o título do filme se referia. Barney acreditava que Johnny era um grande herói injustiçado, e ele não se conformava que o restante do mundo não percebia isto.

Pouco mais de cinco anos depois, em Maio de 2018, estréia no YouTube Premium o seriado Cobra Kai, uma continuação direta - mas passada nos dias atuais - do filme inicial da franquia Karatê Kid, de 1984. E não é que para a surpresa do mundo, Barney estava certo? Pois de certa maneira, Johnny Lawrence é o "mocinho" da série.

A história começa nos mostrando o Johnny atual, uma pessoa perdida, fracassada, mas ao mesmo tempo, que também possui bondade. E então passamos a ver os eventos de Karatê Kid - A Hora da Verdade sob seu ponto de vista. E isto se torna uma experiência bem interessante, já que a história é recontada de uma maneira 100% coerente com o filme original. Vejam: Johnny não era de fato "o mal"; por exemplo, no filme ele reconhece humildemente a derrota após perder pra Daniel. E em contrapartida, meio que Daniel San "roubou" mesmo a namorada de Johnny. 

Na primeira temporada de Cobra Kai o filme original é revisitado de várias formas. Não apenas através da visão de Lawrence recontando os momentos principais, como também através de flashbacks, e principalmente, através dos adolescentes da série. As experiências de Daniel e Johnny são repetidas por Miguel (Xolo Maridueña) e Robby (Tanner Buchanan). E no que a primeira vista Miguel seria Johnny e Robby seria Daniel, na verdade não é assim! Os dois garotos são uma mistura dos dois antigos caratecas.

E isso é o maior elogio para se fazer ao roteiro de Cobra Kai: não há o maniqueísmo padrão. Todos os personagens fazem coisas boas e coisas ruins. Todos erram, todos acertam. E assim é a vida real. Esta mudança é muito corajosa e bem sucedida, até porque, repito novamente, nada que é mostrado contradiz os filmes. Mesmo as ações "ruins" de Daniel e as ações "boas" de Johnny.

Os novos personagens adolescentes trazidos para a franquia não me empolgam: em geral não os acho bons atores, e entendo que todos são mal desenvolvidos (eles mudam de atitude e personalidade de maneira muito rápida, sem muita explicação). Ainda assim, reconheço que eles são muito importantes para as relevantes mensagens que Cobra Kai quer passar: todos têm seus bons dias e maus dias; ninguém é 100% bom ou 100% mau; todo bem e todo mal que você faz tem consequências, e ponto final. Mais ainda: como é fácil e perigoso manipular as pessoas; a frase "não existe maus alunos, apenas maus professores" e revisitada na prática o tempo todo na série. E é a pura realidade, com a ressalva de se você for o "aluno" da relação, e agir como um manipulado, isso vai sim ter consequências pra você.

Em termos técnicos, a série é em geral bem feita, sem problemas relevantes. A qualidade da coreografia das lutas varia muito, há boas lutas e outras bem ruinzinhas. Em termos de trilha sonora a série é bem sucedida ao alternar com qualidade a nostalgia e a atualidade. O mesmo não pode ser dito em relação ás locações e figurinos... nisto a nostalgia faz um pouco de falta e quando usada não é feito de maneira orgânica, tudo é feito de maneira muito explícita, com os personagens quase "gritando" um "lembra desse objeto aqui do primeiro filme"?

Cobra Kai foi feito para atender todo tipo de público, tanto os antigos fãs da franquia quanto os jovens que conhecerão Karatê Kid pela primeira vez. E isto é uma decisão acertada comercialmente já que a série está fazendo sucesso para todas as idades.

E digo mais uma vez que entendo e concordo com os motivos de trazer personagens adolescentes para a série. MAS, ao mesmo tempo, esta "junção" é o maior dos defeitos de Cobra Kai: para os "velhões" que viveram a adolescência nos anos 80/90, acompanhar as histórias do "núcleo teens" da série e seus clichês de colegial americano é algo bem chato; eu, por exemplo, não suporto. Por outro lado, os iniciantes que não conhecem nem viveram os filmes originais, perdem bastante das referencias da série... e elas são muitas (mesmo)!

Portanto, acho difícil alguém conseguir gostar / aproveitar 100% da série. Por outro lado, é difícil que ela não te agrade em vários aspectos. Cobra Kai têm duas temporadas disponíveis e está com a terceira anunciada para estrear em Janeiro de 2021. A série acaba de ser renovada para a 4ª temporada, mas seus produtores querem mais: chegar pelo menos até a 5ª temporada e fazer filmes derivados. Com o sucesso que o programa tem feito na Netflix, é bem possível que isto se concretize um dia.

sábado, 26 de setembro de 2020

Crítica Netflix - Enola Holmes (2020)

Título
Enola Holmes (idem, Reino Unido, 2020)
DiretorHarry Bradbeer
Atores principais: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Louis Partridge, Burn Gorman, Adeel Akhtar, Susan Wokoma
Divertida e agradável aventura para todas as idades

A carismática atriz da Eleven de Stranger Things está de volta em outra produção Netflix, o filme Enola Holmes, onde ela interpreta a irmã mais nova de Sherlock Holmes, uma personagem que simplesmente não existe na literatura oficial do famoso detetive britânico (ela foi criada em 2006 pela escritora estadunidense Nancy Springer para uma série de 6 livros).

Na história, Enola (Millie Bobby Brown) viveu toda a infância isolada junto com a mãe Eudoria (Helena Bonham Carter), até que no dia em que completa 16 anos quando sua mãe simplesmente desaparece sem avisar, deixando para a filha apenas uma vaga pista sobre seu paradeiro. Então seus irmãos Sherlock (Henry Cavill) e Mycroft Holmes (Sam Claflin) aparecem para ajudá-la a encontrar a mãe perdida, porém como Mycroft quer colocar Enola em um internato, a garota foge de casa e parte em busca pela mãe sozinha.

Para quem espera ver algo digno das aventuras do Sherlock Holmes original, Enola Holmes te deixará bastante decepcionado. Primeiro porque a descaracterização dos personagens Mycroft e Sherlock é enorme, os dois pouco se parecem com o apresentado nos livros. E segundo porque embora o filme seja sim de "detetive", com Enola assumindo o papel de investigadora, ele é muito mais um filme de ação e aventura do que qualquer outra coisa relacionada a mistério ou tramas policiais.

Millie Bobby Brown é sem dúvida simpática, talentosa e carismática, e somente pessoas assim seriam capazes de conduzir este Enola Holmes. De maneira "fofa", o filme é narrado pela protagonista, que frequentemente quebra a quarta parede falando diretamente com o espectador.

Com um ritmo bem acelerado, o filme constantemente traz flashbacks curtos para enfatizar suas cenas de humor; outro recurso bastante usado é a inserção de rápidas colagens com diagramas e fotos "divertidas" para explicar o que está acontecendo. Bastante ação, boa fotografia e figurino, Enola Holmes é feito para não desagradar e certamente não desagrada, pelo contrário.

É um filme relevante? Não é. Mas é bem divertido e um bom passatempo. Bem humorado, agitado, pra todas as idades, e dando destaque a força e capacidade feminina. Nota: 6,0

domingo, 20 de setembro de 2020

Conheça a nova Ms. Marvel, seus ótimos quadrinhos, e porquê você vai ouvir bastante dela a partir de agora

 

Hoje em dia a maioria das pessoas conhecem a Capitã Marvel, alter ego de Carol Danvers, super-heroína da Marvel Comics interpretada pela excelente Brie Larson nos cinemas. Porém, quando ganhou sua primeira revista em quadrinhos própria, em 1977, Carol era chamada de Ms. Marvel.

Mas desde 2014 o nome Ms. Marvel se refere a outra pessoa bem diferente, e apesar de ser uma personagem muito bacana, somente agora ela passará a ser conhecida pelo grande público. Para começar, a nova Ms. Marvel é um dos principais destaques do jogo de videogames Marvel's Avengers lançado mundialmente no começo deste mês de Setembro para PlayStation 4, Xbox One e PCs. Devido a isso já está se tornando comum ver a personagem em várias mídias da cultura Nerd, e aliás, a foto dela acima é retirada do jogo.

E não para por aí: em 2019 a Disney anunciou que a Ms. Marvel teria seu seriado live action na TV, porém tudo foi adiado devido ao Covid-19. Porém nesta última semana as notícias sobre esta futura série voltaram a aparecer: Ms. Marvel acaba de contratar oficialmente seus roteiristas e diretores, deverá iniciar suas gravações ainda no final deste ano, para estrear com exclusividade na plataforma de streaming Disney+ em algum momento de 2021.

Mas quem é a nova Ms. Marvel? Trata-se de Kamala Khan, uma adolescente de família paquistanesa (embora ela já tenha nascido em solo estadunidense), que ganhou super poderes "Polimórficos" após ser exposta em uma estranha névoa rosa mutagênica. Não é tão fácil descrever os poderes da nova Ms. Marvel, o próprio nome "polimórfico" já mostra que nem seus criadores sabem direito... de qualquer forma, Kamala Khan é muito poderosa, pois consegue esticar seu corpo como elásticos, ficar de qualquer tamanho, mudar seu corpo para assumir a aparência de qualquer outra pessoa, e além de tudo isso, possui força e fator de cura super humanos.

Ms. Marvel / Kamala Khan é bem diferente do que vemos nos quadrinhos estadunidenses pois ela é muçulmana, e suas histórias são escritas pela sua co-criadora G. Willow Wilson: mulher, e igualmente  uma muçulmana nascida nos EUA. Sendo uma ótima escritora, Wilson consegue trazer para os quadrinhos com bastante realismo o preconceito que os seguidores do Islã sofrem nos EUA.

G. Willow Wilson escreve tão bem que consegue misturar de maneira crível as angústias de uma adolescente comum - suas paixões, seus deveres - com partes de ação e "porrada" comuns em qualquer super-herói, além de assuntos como religião e política para todas as idades. E, o mais legal de tudo: embora a Ms. Marvel saia "no braço" com seus vários inimigos, na maioria das vezes ela os derrota usando a inteligência, não sua força física.

Dentre os desafios que a Ms. Marvel já enfrentou, temos problemas familiares, difamação e chantagem via redes sociais, campanha eleitoral para prefeito da sua cidade (Jersey City), o medo de não ser aprovada pelos Vingadores ou pela própria Capitã Marvel (de quem é muito fã) e ainda seguir seu coração e ir contra eles algumas vezes, entender como seus poderes funcionam, etc. E, algo muito importante: em suas aventuras Ms. Marvel demostra um verdadeiro heroísmo que infelizmente não está presente na maioria das histórias de super-heróis atuais.

Após 57 edições mensais e mais algumas poucas ediçoes extras, e considerando que já havia "cumprido seu papel" com a personagem roteirizando-a por mais de 5 anos, Wilson passou o bastão para o também escritor muçulmano e estadunidense Saladin Ahmed. Com sua chegada, a revista se passou a chamar "The Magnificent Ms. Marvel".

O melhor é que TODAS as ótimas histórias da fase de G. Willow Wilson na Ms. Marvel estão disponíveis no Brasil. No total são 12 encadernados, sendo o primeiro de título "Ms. Marvel: Nada Normal" e o último de nome "Ms. Marvel: O Quociente". Publicados pela Panini Comics, os encadernados são de capa dura, papel de luxo, e mesmo assim custam menos de R$ 35 cada em sites de livrarias da Internet. Se você quer ler algo bacana sobre uma personagem feminina, ou simplesmente quer ler algo diferente e bastante contemporâneo, as revistas da Ms. Marvel são uma excelente pedida!


PS.: Miss, Ms. ou Mrs.? Qual a diferença entre estes pronomes de tratamento ingleses? Miss e Ms. (ambos são lidos como "mis") são usados a princípio para mulheres solteiras. Miss é usado para mulheres jovens, ou para mulheres não casadas abaixo dos 30 anos. Já Ms. é um pronome "neutro", usado para mulheres acima dos 30 não casadas, ou ainda, quando você simplesmente não sabe se a pessoa em questão é casada ou não, independente da idade.

Note que para a Ms. Marvel original, Carol Danvers, o pronome Ms. faz todo sentido. Porém para Kamala Khan o mais correto seria usar o "Miss". É por isto que embora Kamala seja majoritariamente escrita como Ms. Marvel, em algumas raras vezes ela também aparece como Miss Marvel.

Já o Mrs. (leia-se "misses") se refere a mulheres casadas. É um pronome bem formal, que indica respeito, também bastante usado para apresentar um casal: "Mr. e Mrs. <sobrenome da família do marido>".

sábado, 12 de setembro de 2020

Star Trek: Lower Decks é o melhor seriado de Jornada nas Estrelas dos últimos 21 anos!


A franquia de Jornada nas Estrelas, ou Star Trek no original, não apenas revolucionou a história da ficção científica e da TV no mundo todo, como também tem novos episódios produzidos para a telinha quase sem interrupções desde 1966 até hoje.

O melhor de seus títulos ainda é a série original, de Kirk, Spock e Dr. McCoy, produzida entre 1966 e 1969. Porém pode se dizer que o período de maior sucesso foi o início dos anos 90, onde nada menos que três seriados distintos eram produzidos simultaneamente: A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager.

No século XXI foram várias as tentativas de reviver as glórias do passado, seja em qualidade ou em audiência. Mas nenhuma chegou perto: Enterprise (2001 a 2005), Discovery (2017 até hoje), Short Treks (2018 até hoje) e Picard (2020) têm seus bons momentos, mas nunca me empolgaram.

Porém parece que as coisas começam a mudar com Star Trek: Lower Decks, uma animação lançada pelo canal estadunidense de TV CBS em agosto deste ano, e contando até agora com 6 episódios (são previstos 10 para a primeira temporada). Do que vi até agora, é a melhor série da franquia desde Deep Space Nine!

O conceito do seriado é bem curioso... mostrar a vida dos integrantes dos "decks inferiores", ou seja, os protagonistas não são as pessoas mais importantes de uma nave estrelar, e sim seus "trabalhadores braçais" de patente mais baixa. Como vimos no primeiro episódio, eles sequer possuem alojamentos próprios, dormindo em beliches nos corredores. As histórias se passam na nave U.S.S. Cerritos, que por sua vez também não tem nada de glamouroso... como o próprio seriado diz, "uma das naves menos importantes da Federação". Inclusive as cenas de abertura / créditos iniciais da série são uma grande piada com a Cerritos, somente mostrando a nave fracassando, seja em batalhas ou em simples viagens.

Sim, fazendo jus ao que se espera de uma animação, Star Trek: Lower Decks foca bastante na comédia, mas ainda assim traz em cada episódio bastante aventura e ficção científica, o que é o que se espera da franquia. Cada episódio traz uma aventura diferente, e segue uma estrutura muito parecida com as histórias apresentadas sobre as equipes do Capitão Kirk e do Capitão Picard.

Apesar dos traços limpos e coloridos, o seriado entretanto não é para crianças, e sim apenas de adolescentes para cima, assim como quase tudo de Star Trek. Só há um "defeito" em Lower Decks, que é o fato de que para apreciá-lo você necessariamente terá que ter assistido no mínimo algumas dezenas de episódios tanto da série Original quanto da Nova Geração para conseguir entender todas as constantes referências. É uma produção feita para fãs bem humorados de Jornada nas Estrelas, que constantemente tira sarro da franquia mas sem ao mesmo tempo exagerar ou desrespeitá-la, e sem perder o espírito de aventura.

Os dois principais personagens são os alferes "Brad" Boimler, um jovem todo "certinho" que sonha em ser capitão de uma nave, e Beckett Mariner, seu completo oposto, que por tanto desrespeitar regulamentos, acaba sempre sendo rebaixada a posição de alferes. São os dois personagens de uniforme vermelho da imagem acima.

Outros dois personagens importantes são os também alferes Sam Rutherford (um engenheiro que acabou de implantar um olho ciborgue no rosto e ainda não se acostumou com isso) e a alferes D'Vana Tendi (assistente da enfermaria). Rutherford é ultra empolgado com tecnologia; já Tendi é ultra empolgada com... bem, com tudo. Eles também são vistos na foto acima.

Porém Lower Decks "trapaceia" um pouco em sua premissa ao também nos mostrar os personagens de mais alta patente da U.S.S. Cerritos, ainda que como coadjuvantes. As interações entre os personagens dos "decks inferiores" e dos "decks superiores" existem principalmente porque Boimler é constantemente solicitado para fazer serviços para a capitã da nave Carol Freeman, e seu imediato, Jack Ransom; e também - oras oras - porque Beckett é a filha da Capitã. Os dois podem ser vistos na foto ao final deste artigo, ambos também com uniformes vermelho. Curiosidade: T'Ana, a médica chefe da U.S.S. Cerritos, é da espécie Caitian, um tipo de felino humanoide que foi introduzido originalmente na franquia via o primeiro desenho animado de Star Trek, produzido de 1973 a 1974. No caso, se tratava da tenente M'Ress, que as vezes substituía a tenente Uhura como oficial das comunicações.

Gosta de Star Trek? Faça um favor a você mesmo e assista Star Trek: Lower Decks!



sábado, 15 de agosto de 2020

Conheça a Trilogia Baztán : 3 filmes espanhóis de suspense policial (e um pouco de fantasia) disponíveis na Netflix


A Trilogia Baztán é uma série de livros da escritora espanhola Dolores Redondo, que alcançou fama em diversos países e é uma das publicações de língua espanhola de maior sucesso da década atual. Os livros acompanham a inspetora Amaia Salazar e suas investigações nos assassinatos cometidos na região do Vale de Baztán, Espanha, e misturam crimes "reais" modernos com um pouco de bruxaria e folclore. O local se trata de uma região montanhosa composta de algumas pequenas cidades, belas paisagens e uma curiosa mitologia fantástica.

A trilogia é composta pelos livros O Guardião Invisível (2013), Legado nos Ossos (2013) e Oferenda à Tempestade (2014), que foram todos adaptados para filmes e disponibilizados na Netflix Brasil neste ano de 2020. Aliás, Oferenda à Tempestade, o filme que encerra a trilogia, chegou há muito pouco tempo por aqui, estreando no final de Julho.

Vamos conhecer resumidamente os três filmes? Depois da sinopse de cada um deles, faço uma breve análise do que achei da trilogia como um todo.

O Guardião Invisível (2017)

Na primeira parte da obra conhecemos um pouco do passado de Amaia e sua família, enquanto a policial tenta encontrar o serial killer que está matando moças da região de sua terra natal. O tal Guardião Invisível do título se trata do Basajaun, uma entidade da mitologia basca que é um hominídio gigante e peludo que vive na floresta protegendo-a, enquanto também ajuda e educa os humanos. Este primeiro filme é o único da trilogia que temos algo de fantasia "explícita", e ainda assim em pequena quantidade.

Legado nos Ossos (2019)

Cronologicamente cerca de um ano e meio após o filme anterior, as "pontas soltas" do caso anterior voltam a assombrar Amaia e acabam se revelando o trabalho de outro serial killer. Aqui aprendemos muito pouco de novo sobre a protagonista, porém vamos conhecendo melhor a história de sua mãe através da descoberta de outras atrocidades cometidas pela mesma. A abordagem da história muda um pouco, e agora estamos diante de um embate mais filosófico entre o "bem" e o "mal", de Amaia contra (ainda desconhecidos) bruxos.

Oferenda à Tempestade (2020)

Encerrando a trilogia, agora Amaia tem um novo foco, destruir a seita de bruxaria que vêm matando bebês em toda a região às margens do Rio Baztán aparentemente há décadas. Aqui os coadjuvantes ganham um pouco de espaço, sendo mais participativos nas investigações policiais. Todas as tramas paralelas se encerram, unificando a história contada nos três filmes.

O que achei da trilogia?

Como um todo, os filmes da trilogia Baztán entregam uma história que prende a atenção e deverá agradar quem gosta de suspense. Os dois primeiros filmes são bons, tensos, e valem a pena assistir. Já o filme final é bastante decepcionante, tudo é explicado, porém as explicações são desanimadoras de tão ruim. Só que depois de ter assistido os dois primeiros filmes, você acaba tendo que assistir o terceiro, para saber como tudo acaba, por pior que Oferenda a Tempestade seja.

O clima de "medo e suspense", e a investigação procurando pelos dois primeiros assassinos em série são as maiores qualidades da Trilogia Baztán. O suspense é bom os suficiente para nos deixar constantemente tensos e interessados no que vêm a seguir. Ainda assim, o clima de suspense é até exagerado... sutileza não é uma qualidade do diretor Fernando González Molina, o mesmo dos três filmes: música incidental dramática o tempo todo, cenas quase todas escuras e sob chuva. além de que algumas "dicas" sobre os vilões da trama são tristemente exageradas. Por outro lado, todo este "clima dark" revela uma ótima produção, tecnicamente temos fotografia e iluminação realmente muito boas nos três filmes.

Em geral, infelizmente, a narrativa é bem descuidada: há muitos personagens envolvidos e a direção não dá destaque suficiente para eles de maneira que nós, espectadores, possamos identificar e diferenciar cada um. Além disto, em alguns momentos, a protagonista visualiza algo importante para a trama porém não fica claro para o público sobre o que se trata, a câmera não mostra o que precisamos ver. É a personagem do filme sabendo mais do que o espectador, e na maioria dos casos isto é um aspecto bem ruim ao se contar qualquer história.

Mas os maiores pontos negativos em relação a trilogia são a absurda interação de Amaia com o juiz Markina, e a inexplicável condescendência do pai de Amaia e sua filha mais velha em relação à mãe. Se estas relações forem similares nos livros, então acho que a escritora Dolores Redondo não merece todo o sucesso que teve...

A Trilogia Baztán, no final, acaba sendo um passatempo interessante para quem curte suspenses, mesmo apesar do final ruim. É como diz o ditado... "a melhor parte de uma viagem é o caminho, não o destino". E as notas que dou para os três filmes são, respectivamente, um 6,0, outro 6,0 e um 4,0.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Notícias de Mulan e Capitã Marvel 2: Mulan será lançado via streaming e entenda porque isto é histórico

Neste post teremos duas notícias que aconteceram no universo "feminino" dos cinemas nesta semana.


Mulan (o live action) estreará no dia 04 de Setembro, via streaming

Após vários adiamentos devido a pandemia mundial de Covid-19 - originalmente a estréia era para o dia 27 de Março - a Disney surpreendeu e anunciou nesta terça feira que fará enfim o lançamento do filme no dia 04 de Setembro. E dentro dos EUA, Mulan será lançado apenas via streaming, pela plataforma Disney+, pelo alto preço de US$ 29,99.

Mercados que já possuem Disney+, como por exemplo Austrália, Canadá e Europa também receberão o filme no mesmo dia, porém o preço para cada país não foi divulgado. E países que ainda não possuem a plataforma da Disney, mas suas salas de cinemas já estão reabertas para o público (leia-se China), terão o lançamento físico nos cinemas este ano, em data ainda não confirmada.

O fato histórico desta decisão é que este live-action Mulan será a primeira super-produção planejada para os cinemas que faz uma estréia em streaming. E o resultado financeiro desta experiência poderá mudar para sempre como os filmes serão lançados futuramente.

De minha parte, espero ver Mulan nos cinemas brasileiros, depois da pandemia, em 2021. Afinal, se trata de um filme épico que merece ser visto na tela grande. De qualquer forma, entendo a decisão da Disney: ela está sem bilheteria significativa há meses, e precisa arrecadar dinheiro com isso.

E falando em Brasil, a Disney noticiou ontem que a data prevista para a chegada da Disney+ na América Latina é de Novembro de 2020.


Data e diretora de Capitã Marvel 2 anunciadas

A existência da continuação do filme da Capitã Marvel foi confirmada na Comic-Con San Diego de 2019, porém desde então pouco se falou a respeito. Particularmente não me surpreenderia se o filme fosse cancelado. Mas foi o contrário: ontem, dia 06, a Marvel anunciou Nia DaCosta como a nova diretora de Capitã Marvel 2, com data prevista de lançamento para 8 de julho de 2022.

Nia DaCosta (que apesar do nome é estadunidense e não é parente nem do Mancha Solar e nem da Fogo) tem uma carreira curta na direção, mas já foi bastante premiada com seu primeiro filme Little Woods e foi indicada por Jordan Peele (dos filmes Corra! e Nós) para o curioso filme de terror A Lenda de Candyman, que ainda não estreou devido a pandemia. Nia será a quarta mulher a dirigir um filme da Marvel, sendo a primeira negra.


sexta-feira, 24 de julho de 2020

O que gostei (SEM spoilers), e depois o que não gostei (COM spoilers) de Dark, série da Netflix


Dark é um seriado alemão de suspense e ficção científica de três temporadas, que se encerrou mês passado na Netflix, e é sucesso de crítica e público. Na trama, que se inicia no ano de 2019 na fictícia cidadezinha de Winden, algumas crianças começam a desaparecer misteriosamente, revelando uma complexa trama que envolve profundamente os relacionamentos entre 4 famílias da cidade: os Kahnwald, os Nielsen, os Tiedemann e os Doppler.

Curiosidade: de fato existe uma cidade alemã de 3 mil habitantes de nome Winden, que também é rodeada pela folclórica Floresta Negra, mas aparentemente as semelhanças param aí.

O que eu gostei (sem spoilers)

Algo que deve ser louvado em Dark é a coragem de seus produtores em contar uma história complexa, com conceitos científicos nada simples, e principalmente, envolvendo dezenas de personagens. E vai além disto: como os personagens são mostrados em várias épocas do passado, então o número de atores que precisamos conhecer / reconhecer se multiplica. Já virou comum nos dias atuais que a capacidade de entendimento do público seja enormemente subestimada. Que deleite ver que Dark não faz isto.

E o que disse acima reflete em montagem e seleção de elenco simplesmente espetaculares. Muito acima da média. Não só porque os atores atuam muito bem, mas pela grande semelhança física e de trejeitos dos atores dos tempos "de hoje" com os dos flashbacks do passado. Para quem quiser uma ajuda para reconhecer os personagens durante o história, indico esta imagem. Mas atenção, recomendo que você a abra SOMENTE APÓS ter assistido a primeira metade da primeira temporada.

Aliás, sobre os personagens, é muito legal ver que todos são falhos, ou seja, todos têm seus erros e acertos. Eles são tão instáveis (e de certa forma tão reais), que a todo momento você muda sua torcida pra quem você quer que "termine bem" ou "termine mal". Ótimo ponto positivo do roteiro.

Outro ponto que merece muitos elogios é a fotografia, realmente muito bonita, e que contribui bastante para o eterno clima de mistério e desarranjo da série. O mesmo poderia ser dito da trilha sonora, porém ela não me agradou tanto por ser demasiado repetitiva.

É difícil não comparar Dark com o antigo seriado Lost. E já vi vários comentando que ao contrário de Lost, em Dark é "tudo fechadinho, sem furos de roteiro". E de fato, fazendo esta comparação, a trama de Dark é mesmo muito melhor explicada, respondendo a praticamente todos os mistérios, e os furos de roteiro são bem poucos. Porém eles existem, e são um dos fatores que me fizeram torcer o nariz.

Em resumo, gostei sim de Dark, que é melhor e teve um desempenho geral mais satisfatório que Lost. Mas se gostei ou não de seu final, e se achei o final dele melhor ou pior que o de Lost, vocês terão que ler isto na parte final do meu texto, que terá spoilers.

O que eu NÃO gostei (COM spoilers)

Eu elogiei anteriormente a coragem de se fazer Dark tão complexo. Entretanto, a meu ver, a série ficou complexa demais. Seus criadores juram que o seriado foi elaborado desde o começo para ter 3 temporadas e 3 realidades paralelas. E eu até acredito, dada a obsessão da mitologia da série com o número 3. Mas isso de acrescentar outras realidades à trama foi um tiro no pé. Ver a mesma história contada várias vezes sob diversas perspectivas e vários tempos diferentes já foi por si só um pouco cansativo. Agora, ao também acrescentar outras realidades na história tudo ficou desnecessariamente longo e complexo demais. Pra mim foi quase uma "encheção de linguiça" pra série durar 3 temporadas.

Outro ponto que não gostei, foram os furos de roteiro. Não tem como citar o maior deles, que é o possibilita o estranho final de Dark: após passar o seriado INTEIRO mostrando dezenas de vezes que não é possível mudar o tempo, mudar o que já aconteceu, tudo isto é jogado fora no último episódio da série, sem nenhuma explicação convincente.

Outro furo que eles tentam explicar - e de maneira aparentemente lógica - foi como tivemos a "duplicação" do Jonas da primeira temporada. As explicações foram bonitas, mas não fazem sentido para mim.

E finalmente, algo que é mais "esquecimento" do que "erro" no roteiro, é que não há nenhuma explicação de como Claudia descobriu existirem 3 realidades paralelas ao invés de 2. Simplesmente nenhuma fala, nenhuma cena, nem nada: o roteiro nem tenta explicar.

Encerrando meu texto, respondo a pergunta que lancei anteriormente: gostei do final de Dark? Não muito. O sentimento que tenho para ele é o mesmo que tive para o final de Lost: encerrou de maneira digna, porém deixando um gosto amargo. Pelo menos o final de Dark não deixa de surpreendente, já que o seriado se encerra e você não tem total certeza se aquilo foi um final feliz ou não.


PS: como bônus, caso você não tenha se aprofundado bastante na relação entre os personagens da série. Há dois parentescos que são explicados apenas por uma breve aparição em fotos, ou seja, é praticamente impossível descobrir apenas vendo o seriado: o ex-marido de Agnes Nielsen, e consequentemente o pai de Tronte, é o estranho sem nome, filho de Jonas com Martha. E o desconhecido pai de Regina Tiedemann, filha de Cláudia, é Bernd Doppler... o fundador da usina e pai de Helge.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Dupla Crítica Filmes Netflix - The Old Guard (2020) e Ninguém Sabe Que Estou Aqui (2020)


Mais dois filmes que acabaram de estrear na Netflix brasileira e que o Cinema Vírgula apresenta pra vocês. Aprendam mais sobre o universo de ambos os filmes, e confiram o que eu achei.


The Old Guard (2020)
Diretor: Gina Prince-Bythewood
Atores principais: Charlize Theron, KiKi Layne, Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari, Luca Marinelli, Chiwetel Ejiofor, Harry Melling, Van Veronica Ngo

Apesar de não parecer, The Old Guard é baseado em uma série de quadrinhos de mesmo nome, escrita por Greg Rucka em 2017. Curiosamente, não é a primeira vez que este quadrinista cria um título baseado em humanos com pequenos poderes especiais: em 2013 ele criou o excelente Lazarus, que ao contrário de The Old Guard já foi publicado no Brasil. Então, não há desculpas para não lê-lo.

Porém se em Lazarus há a mistura de sobre-humanos com a Máfia, em The Old Guard estamos bem mais próximos de uma reinvenção do clássico filme Highlander: O Guerreiro Imortal (1986).

Na história, Andy (Charlize Theron) e mais 3 amigos são um grupo de imortais que ao longo da história agem como mercenários lutando pelo que eles acham justo. Porém quando o ex-agente da CIA Copley (Chiwetel Ejiofor) descobre o segredo do grupo, começa a caçá-los para vendê-los como "cobaias" para uma bilionária indústria farmacêutica.

Mesmo sendo um filme de ação, o foco de The Old Guard entretanto são os dramas e histórias vividos por quem é imortal. E a mitologia deste universo é muito bacana, o ponto alto da produção. Por mim, a história deveria contar ainda mais sobre o passado dos protagonistas em detrimento das cenas dos dias de hoje.

The Old Guard também possui vários problemas - e o que mais detestei foi o quanto os vilões são absurdamente caricatos e unidimensionais - além de uma produção bem simplória: cenários, trilha sonora, cenas de ação, tudo bem genérico e burocrático. Portanto, se você quiser ver um filme com ação de realmente tirar o fôlego, recomendo Atômica (2017), da mesma Charlize Theron, que embora não tenha sido feito pela Netflix, também estreou recentemente por lá. Inclusive, a continuação de Atômica já está em desenvolvimento, e desta vez será feito realmente pela Netflix,

Trazendo um filme de ação razoável mas com uma mitologia acima da média, The Old Guard deverá agradar os amantes do gênero, e principalmente, me deu a esperança de que futuramente poderemos ter uma continuação ainda melhor, pois ainda há muito potencial para ser explorado. Nota 6,0.


Ninguém Sabe Que Estou Aqui (2020)
Diretor: Gaspar Antillo
Atores principais: Jorge Garcia, Millaray Lobos, Luis Gnecco, Alejandro Goic

Primeiro filme original chileno da Netflix, Ninguém Sabe Que Estou Aqui tem como estrela principal o ator Jorge Garcia, o eterno Hurley do seriado Lost, que embora seja estadunidense e morado a vida toda nos EUA, seu pai é chileno, o que talvez justifique sua escalação nesta produção.

Na história, Jorge Garcia é Memo, que foi um cantor prodígio na infância, e que agora vive de modo bastante recluso com seu tio Braulio, às margens de um lago.

A história mostra o básico do sofrimento que crianças passam ao serem exploradas pelos pais e pelo show business, e que no caso de Memo, o traumatizou profundamente, de maneira a ele querer evitar qualquer contato humano. O porquê deste comportamento do protagonista acaba se tornando, então, o mistério do filme. E alternando cenas atuais com flashbacks, aos poucos este quebra-cabeça nos é revelado.

A história de Ninguém Sabe Que Estou Aqui é boa, entretém, mas não é bem executada. Os personagens são mal desenvolvidos, e o comportamento de alguns deles não me parece muito crível em alguns momentos. Há uma grande revelação no final do filme, seu ponto mais alto, porém ela também não é bem trabalhada... o espectador não chega a ficar curioso por ela, pois de certa forma nem desconfia que ela exista.

Melancólica, a história Ninguém Sabe Que Estou Aqui é mal conduzida mas ainda assim emociona em alguns momentos e traz algumas cenas bem bonitas. No conjunto geral, portanto, é um filme de médio a bom, que pode ser assistido sem arrependimentos. Nota: 6,0.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

SEIS quadrinhos Franco Belga além de Asterix e Tintim para você conhecer


Como muitos devem saber, uma das maiores e mais importantes escolas de quadrinhos do mundo é a Franco-Belga, com suas revistas em formato bem característico: álbuns com papel de alta qualidade, tamanho próximo ao A4 (22x29 cm), e em volumes trazendo entre 40 e 60 páginas.

As mais famosas Bande Dessinée ("tiras desenhadas"), ou "BD"s Franco-Belgas no mundo certamente são Asterix (dos franceses René Goscinny e Albert Uderzo) e Tintim (do belga Hergé). Asterix aliás, para mim é uma das melhores franquias de quadrinhos de todos os tempos.

Meu objetivo neste artigo é apresentar para eleitores brasileiros 6 títulos de quadrinhos Franco-Belgas além de Asteríx e Tintim, e que portanto não são muito conhecidos por aqui. Alerto que esta minha lista segue algumas restrições: primeiro que serão apenas títulos infanto-juvenis... o que significa que quadrinhos "adultos" como Blueberry e XIII não entram; além disto, só vou apresentar títulos que continuam disponíveis nas lojas brasileiras para que você possa comprar e ler. Portanto, outros títulos geniais da dupla autora de Asterix, como Umpa-Pá e Iznogud não entram, já que a última vez que elas foram publicadas no Brasil foram respectivamente nos anos 1987 e 1978 (que VERGONHA, hein editoras nacionais?).

Sem mais delongas, vamos à lista dos títulos em ordem alfabética:


Boule & Bill


Boule & Bill
(Boule et Bill no original) é um quadrinho belga criado em 1959 pelo escritor e desenhista belga Jean Roba. Após 28 edições, Roba passou o bastão da publicação em 2003 para seu aluno francês Laurent Verron, que assumiu 100% das ilustrações junto com um grupo de roteiristas. Após 8 novos títulos, Verron saiu do título e passou a publicação para a dupla francesa Christophe Cazenove (roteiros) e Jean Bastide (desenhos).

Boule & Bill foi publicado no Brasil na década de 80 pela editora Martins Fontes. E décadas depois, durante os anos de 2012 e 2013, a editora Nemo trouxe o título novamente para cá, com 5 edições da fase produzida por Laurent Verron. São estas edições que ainda existem para comprar.

Boule & Bill são tirinhas curtas de humor protagonizadas pelo garoto Boule e de seu cachorrinho Bill, de raça Cocker Spaniel. Como principais coadjuvantes, também fazem parte da revista os pais de Boule, e Caroline, sua tartaruga de estimação. Fazendo uma comparação bem grosseira, é como se fosse uma mistura de Calvin e Haroldo com Peanuts (Charlie Brown e Snoopy), porém sendo menos genial que o primeiro e muito menos depressivo que o segundo, até porque Boule é bastante alegre e travesso.

Após começar na revista semanal de quadrinhos belga Spirou em aventuras com 4 páginas, rapidamente Jean Roba passou a fazer histórias de humor com começo e fim em apenas 1 página, formato que popularizou Boule & Bill e se mantém até hoje.

Com tirinhas engraçadas e fofinhas, o título foca nas aventuras e no cotidiano de Boule e sua família. Uma curiosidade de Boule & Bill é que neles os animais conversam normalmente como se fossem humanos; e embora os humanos não entendam o que os animais "falam", o contrário não é verdadeiro, e os animais entendem tudo o que as pessoas falam.


January Jones


A presença de January Jones na minha lista é uma pequena "trapaça", afinal ela não foi criada por franceses ou belgas, e sim pelos holandeses Martin Lodewijk (roteiro) e Eric Heuvel (arte). Ainda assim sua citação na lista é muito justa, primeiro porque o título é bem conhecido no mercado Franco-Belga, mas principalmente porque se trata da obra mais mais próxima de Tintim que já vi: January Jones é um ótimo exemplo das revistas da escola "Linha Clara", desenvolvida pelo próprio Hergé. 

As aventuras de January Jones estão situadas entre as Primeira e Segunda Guerras Mundiais. A protagonista é uma jovem aviadora e espiã, uma mistura das pessoas reais Amelia Earhart e Mata Hari com os fictícios Indiana Jones e Tintim; inclusive, misturar fantasia com fatos e personagens reais é uma das importantes características de January Jones. Voltando a comparar ela com as histórias da maior criação de Hergé, nas HQs de January Jones os confrontos com os alemães (que dependendo da história são anteriores ao partido nazista) estão bem mais presentes, mas ao mesmo tempo a revista é mais bem humorada, repleta de piadinhas. As semelhanças com Tintim são tão grandes que as histórias também possuem o (polêmico) tom colonialista e machista daquele período histórico.

January Jones continua sendo publicada pelos seus criadores: até agora já foram 10 álbuns, com o 11º já programado para ser lançado ainda em 2020 na Europa. Aqui no Brasil o título chegou pela primeira vez em 2016 via AVEC Editora, que até hoje lançou apenas os 2 primeiros volumes da série. Seria muito importante que no mínimo o 3º volume, que se chama O Tesouro do Rei Salomão também saísse por aqui, pois ele continua e encerra a história do volume anterior, O Crânio de Mkwawa.

Outro volume que seria muito interessante que viesse para cá é o 10º, intitulado Flying Down to Rio II, que foi publicado em 2018 e se passa todo no nosso Rio de Janeiro. O nome original deste álbum é o único em inglês (e não holandês), pois se trata de uma homenagem ao clássico filme estadunidense Flying Down to Rio, de 1933. Na história, January é contratada para fazer as imagens aéreas da (fictícia) continuação deste filme. Curiosamente os planos da AVEC eram justamente lançar o volume 3 em 2020 e depois, saltar direto para o número 10, por motivos óbvios. Entretanto os planos foram interrompidos pela pandemia e alta do Euro. Espero que um dia estes planos sejam retomados e aplicados.

É bem fácil encontrar e comprar January Jones pela internet, inclusive pelo próprio site da editora, que para quem não sabe mas se interessa pelo assunto, publica vários outros títulos interessantes de quadrinhos aqui no Brasil.


Lucky Luke


Lucky Luke pode não ser tão conhecido aqui no Brasil, porém em termos de vendas mundiais ele se encontra no Top 3 das revistas Franco-Belgas, ficando atrás de Asterix, mas na frente de Tintim.

Criada em 1946 pelo belga Morris, suas histórias se passam no Velho Oeste americano, onde o cowboy Lucky Luke luta contra todo tipo de crimes e injustiças. Sempre em companhia de seu cavalo Jolly Jumper, ele tem como principais inimigos os atrapalhados e estúpidos Irmãos Dalton. Além de vários coadjuvantes fictícios, Luke também interage com personalidades reais, como por exemplo Jesse James, Billy the Kid e Calamity Jane.

Morris foi outro que começou publicando seu maior sucesso na revista semanal de quadrinhos belga Spirou. No começo de Lucky Luke, Morris trabalhava sozinho fazendo tanto os roteiros quanto os desenhos. Depois de ter publicado o material que se tornaria seus primeiros 8 álbuns, ele deixou os roteiros na mão do genial francês René Goscinny (o roteirista e co-criador de Asterix). Goscinny roteirizou pouco mais de 40 volumes, se tornando o maior e mais importante escritor de Lucky Luke

Com a morte de Goscinny em 1977, Morris começou a trabalhar com vários outros roteiristas, mas se mantendo firme nos desenhos até seu falecimento, em 2001. A partir daí os desenhos ficaram sob responsabilidade do francês Achdé. Lucky Luke continua sendo publicado até hoje, geralmente com um novo volume por ano, e já bateu a marca de 95 edições.

Os quadrinhos de Lucky Luke são bem engraçados, e principalmente na fase de Goscinny, possui tiradas geniais ironizando o comportamento humano. Curiosidade: até 1983 Luke aparecia o tempo todo fumando um cigarro, até que Morris optou por trocar o objeto por uma palha de capim a partir de então. Seu gesto lhe valeu uma medalha de reconhecimento da OMS (Organização Mundial de Saúde), porém descaracterizou um pouquinho o personagem.

Os álbuns de Lucky Luke foram publicados no Brasil com boa frequência, por diversas editoras, nas décadas de 60 a 80 e alcançando dezenas de números. Porém depois de sua última aparição de um álbum seu nas bancas nacionais, em 1986, Lucky Luke só voltaria em 2014, via editora Zarabatana Books.

O formato escolhido pela Zarabatana foi curioso: revistas mais grossas, compilando 3 álbuns originais em um único volume. E não começaram pelo "volume 1", começaram pelo "volume 4", para que a coleção se iniciasse pela fase de Goscinny. Após a publicação do "volume 5" em 2017, os planos eram publicar finalmente o "volume 1" como 3º lançamento. Porém até agora ele não saiu. De qualquer forma, os vols. 4 e 5, que somados dão 6 divertidos álbuns, continuam disponíveis para compra em livrarias nacionais.


Quick e Flupke


Nos primeiros anos em que o autor belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé, publicava semanalmente na revista infantil Le Petit Vingtième as aventuras iniciais de Tintim, ele ainda estava aprendendo e experimentando dentro do mundo das HQs. Portanto, após Tintim começar em 1929, durante os anos de 1930 a 1940 Hergé publicou paralelamente na mesma revista as tirinhas de Quick et Flupke (Quim e Filipe em Portugal): uma dupla de garotos de Bruxelas que viviam aprontando, sempre inventando novas maneiras de se divertir.

Quick e Flupke traz histórias cotidianas de humor, principalmente de humor físico, onde um dos dois garotos acaba se acidentando de alguma maneira, ou fazendo alguma "pegadinha" em terceiros. São histórias curtas, sempre apresentadas em 2 páginas completas.

A coleção completa de Quick e Flupke foi publicada no Brasil alguns anos atrás sob nome de As Diabruras de Quick e Flupke. São apenas 2 volumes em capa dura e papel de luxo, cerca de 160 páginas cada, e ainda estão disponíveis nas lojas.


Os Smurfs


Quem viveu os anos 80 conhece bem estas criaturinhas azuis, pelo sucesso de seu desenho animado da TV, ou pela sua linha de brinquedos e/ou de jogos de videogames. Porém o que poucos sabem é que Os Smurfs começaram nos quadrinhos décadas antes, criados pelo belga Pierre Culiford, mais conhecido pelo seu nome artístico Peyo.

Os Smurfs foram publicados pela primeira vez em 1958, como coadjuvantes em uma história em quadrinhos de Johan et Pirlouit, título também produzido por Peyo, que se tratava das aventuras de um jovem cavaleiro e seu escudeiro/músico em um ambiente medieval que também contava com feitiçaria. Com o sucesso dos simpáticos seres azuis, eles ganharam seu título próprio em 1963, com o álbum Os Smurfs pretos, que no caso era uma coletânea de 3 histórias publicadas anteriormente na revista semanal de quadrinhos Spirou.

Os Smurfs são minúsculos seres humanoides azuis, que vivem em sua própria comunidade dentro de uma floresta, e têm como principal inimigo o humano e mago Gargamel, que quer capturá-los para transformá-los em ouro. Contando histórias que misturam bastante aventura e humor, uma característica incomum do título é que os Smurfs possuem seu dialeto próprio, que basicamente é o uso da palavra "smurf" em substituição a alguns substantivos ou verbos. Por exemplo: "Nós vamos smurfar ao Rio Smurf hoje".

Peyo lançou 16 álbuns de Os Smurfs, sendo o último deles no ano de seu falecimento, em 1992. Os primeiros álbuns eram todos de quadrinhos publicados originalmente em revistas mensais e compilados posteriormente; porém os últimos já eram publicações inéditas, lançadas diretamente como álbum próprio.

Com a morte de Peyo, seu filho Thierry Culliford assumiu os roteiros de Os Smurfs e continua publicando novas histórias até hoje. Somando os álbuns de Peyo e de seu filho, a franquia atingiu neste ano de 2020 o número de 38 volumes, com a publicação de Les schtroumpfs et le vol des Cigognes.

A primeira vez que Os Smurfs foram publicados no Brasil foi nos anos 1975-76 pela Editora Vecchi, com 7 edições em formatinho, e 3 revistas no formato original de álbum europeu, em 21 x 27,5 cm. Depois em 1983, agora pela Editora Abril, novas publicações: 6 revistas também em formatinho.

E finalmente, há alguns anos atrás, a publicação ganhou uma terceira tentativa via Editora L&PM. Em 2011 eles trouxeram 2 álbuns (tanto no formato original de álbum europeu quanto no formato pocket  branco e preto), e em 2013 lançaram mais 2 títulos (agora apenas no formato original). São estes 4 álbuns da L&PM que você ainda consegue comprar em algumas livrarias brasileiras.


Spirou e Fantásio


Spirou e Fantásio têm uma das origens mais curiosas. Spirou foi criado pelo quadrinista francês Rob-Vel, em 1938, para estrelar a revista semanal belga de HQs de mesmo nome. Já Fantásio foi criado pelo quadrinista belga Jijé em 1944, para que o mesmo formasse uma dupla de amigos com Spirou. Sob as mãos de seus criadores, Spirou e Fantásio era apresentado apenas em aventuras curtas, de algumas poucas tiras ou páginas. É então que em 1946 o belga André Franquin assume as publicações dos dois personagens, e rapidamente altera o formato para histórias mais longas, publicáveis em álbuns próprios. Foi sob o comando de Franquin que Spirou e Fantásio se tornou internacionalmente famoso, e ele é considerado o "autor definitivo" da dupla.

Foi dentro da revista Spirou e Fantásio que Franquin também criou Marsupilami, o animalzinho de rabo absurdamente comprido que anos depois ganharia seu título próprio e viraria desenho animado da Disney na década de 1990. Após a publicação de 24 álbuns, André deixou o título em 1969, e a partir de então Spirou e Fantásio passou por vários autores diferentes, e continua sendo publicado até hoje. A última edição, a 55ª, teve o nome de La Colère du Marsupilami e foi lançada em 2016 pela dupla francesa Fabien Vehlmann (roteiros) e Yoann Chivard. Foi o 5º álbum criado por eles.

Spirou começou suas histórias como um camareiro em um importante hotel de sua cidade, enquanto Fantásio é um jornalista. Depois de muitos álbuns Spirou também vira jornalista, trabalhando junto com seu grande amigo. Junto com a dupla temos o esquilo de estimação Spip, e o Marsupilami. Spip conversa normalmente com os humanos das histórias, embora somente nós, leitores, efetivamente entendemos o que ele diz.

De certa forma Spirou e Fantásio se parece um bocado com Tintim, ainda assim em comparação, aqui as aventuras são bem mais cômicas, mais variadas e menos realistas. Spirou e Fantásio teve 3 títulos publicados no Brasil pela Editora Vecchi em 1975-76, sob o bizarro nome de As Aventuras do Xará, e uma publicação pela Editora Manole em 1996.

Mas foi a editora SESI-SP que efetivamente tornou o título disponível para todo brasileiro: de 2016 pra cá a editora paulista já publicou vários álbuns de Spirou: 11 álbuns da série regular, e mais 4 álbuns especiais, da série O Spirou De..., onde outros quadrinistas convidados fazem suas histórias independentes, desconsiderando a série "oficial".

Atualmente dá para comprar facilmente uma edição de Spirou e Fantásio, entretanto como a última publicação da SESI-SP foi em Janeiro de 2019, tenho o receio de que eles tenham abandonado a coleção.



Gostou? Quais destes títulos você já conhecia? Ou não conhecia e agora quer conhecer? Escreva nos comentários! Passe numa livraria e inicie sua experiência nestes diferentes títulos de quadrinhos!

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