Atual terceira maior editora de quadrinhos dos EUA, a Image Comics foi fundada em 1992 por vários artistas saídos da Marvel Comics. Nomes como Todd McFarlane, Jim Lee, Erik Larsen, Marc Silvestri e Rob Liefeld resolveram fundar sua própria companhia por estarem cansados da interferência da editora em seus trabalhos, e também, para que pudessem criar personagens sem ter que ceder seus direitos autorais. Ou seja: diferentemente da Marvel e DC, na Image os personagens ficariam como propriedades de quem os criou.
Os quadrinhos da Image chamavam a atenção pela incrível beleza de seus desenhos, o que não poderia ser diferente, já que eram produzidas por alguns dos melhores desenhistas da época. Eram também quadrinhos maiores (menos quadrinhos por página), o que ajudou a indústria como um todo a abandonar o estilo das comics dos anos 80, repleta de textos e com 9 ou mais quadros por folha. Já a qualidade dos seus roteiros era bem contestada. A Image virou sinônimo de qualidade visual, mas não de escrita.
Passados quase 25 anos de sua fundação, muita coisa mudou. Hoje em dia, longe de ser um simples refúgio para desenhistas, a Image possui uma gama bem diversificada e ótimos títulos. Isto porque ela atrai dois tipos de criadores: novatos talentosos buscando sua grande chance e autores já consagrados que não encontram na DC ou Marvel espaço para produzirem obras autorais, geralmente mais adultas.
É em nome desta empolgante fase da Image com vários ótimos títulos que eu montei esta lista com SEIS títulos atualmente em produção e que recomendo fortemente. O objetivo da lista é apresentar títulos pouco conhecidos pelo público brasileiro. Portanto o
excelente Walking Dead (vendido no Brasil como Os Mortos-Vivos) não está nela, já que este título todo mundo conhece. Confiram abaixo:
Black Science (2013)
Escrita por Rick Remender e desenhada por Matteo Scalera, as histórias de Black Science me lembram aqueles seriados de TV de ficção científica bem antigos, dos anos 60, mas agora totalmente remodelada para nosso tempo. Na trama, o cientista Grant McKay descobre uma máquina que permite viajar através de infinitas realidades alternativas. Quando ele decide apresentar o incrível invento para seus filhos um grave problema acontece: a máquina foi sabotada e todo o grupo é transportado contra a vontade para outra dimensão. Pior, como o aparelho está quebrado, após algumas horas eles são transportados para outra realidade, e assim sucessivamente, sem ter nenhum controle sobre seu futuro destino. Até eles descobrirem como consertar o mecanismo de viagem dimensional, eles serão jogados de uma realidade desconhecida para outra após algumas horas.
Há três coisas que chamam bastante a atenção em Black Science. A primeira são seus desenhos, deslumbrantes, que parecem parecem cenas de filme e a cada edição temos várias páginas duplas aproveitando esta qualidade do título. As duas outras são os temas frequentes do roteiro: muita ação frenética e muitas versões alternativas dos personagens se encontrando entre as realidades. Se você gosta deste tipo de história, Black Science vai agradar em cheio.
A série foi prevista para durar "por volta de 60 edições" e atualmente se encontra na edição 21. Eu já li os dois primeiros arcos (volumes 1 ao 11), e estou gostando bastante. O meu grande receio é que a trama está mais complexa a cada edição. Será que Rick Remender vai conseguir manter sua história coesa e logicamente correta até o final? O título permanece inédito no Brasil.
Chew (2009)
Chew (que se traduzindo para o português seria: "mastigar") seria uma história policial do nosso mundo atual se não fosse por uma pequena diferença: no universo deste título houve um surto de gripe aviária tão forte que só nos EUA matou 23 milhões de pessoas. Este evento resultou em duas mudanças: a carne de frango passou a ser proibida no planeta todo (e passou a ser mais lucrativa para traficantes do que drogas) e também, a partir deste surto algumas pessoas passaram a desenvolver super-poderes relacionados a... comida(!?!). Por exemplo, há um personagem que fica mais inteligente cada vez que come; outro, cujas pinturas - quando comidas - ficam com o exato gosto da comida que foi retratada, etc, e etc.
Escrita e criada por John Layman, e desenhada por Rob Guillory, o protagonista principal desta história doida é o detetive Tony Chu, cujo trabalho é justamente resolver crimes relacionados com a posse de carne de frango. Chu também tem um poder relacionado a comida: quando ele come, ele descobre tudo sobre a vida do objeto devorado. Parece um poder inútil não? Pois é, agora imagine se você está investigando algo e encontra alguém assassinado: se você comer um pedaço do defunto vai descobrir exatamente como ele morreu e quem o matou. Nojento, mas eficientíssimo!
O principal ponto forte de Chew é o humor. A história é muito engraçada e maluca. Os traços de Guillory também ajudam a reforçar este clima cômico. Chew mistura história policial com ficção científica (há alguns eventos na trama que podem ser alienígenas) e também me lembra um pouco o seriado de TV Heroes, já que a história também conta com um vilão com os mesmos poderes e objetivos do Sylar.
Atualmente, a série se encontra na edição 55 e está em seu final, já que deverá acabar na edição 60. Eu já li até a edição 40 e a história traz enormes reviravoltas a cada arco. Bem interessante! O título ainda permanece inédito no Brasil.
Invincible (2003)
Apesar de eu ter barrado o
Walking Dead do Robert Kirkman desta lista, não teve como deixar este criativo escritor de fora, apresentando outro de seus títulos.
Invincible é seu título clássico de super-herói. O personagem principal da revista é Mark Grayson, que é filho do super-herói Omni-Man (uma espécie de Superman deste universo). A história começa quando Mark tem as primeiras manifestações de seus poderes, o que acontece quando ele está no seu último ano do colegial.
Já vi várias tentativas da DC e da Marvel em colocar um super-herói adolescente como protagonista de um título para atrair o público jovem e nenhum deles foi tão eficiente nisto como
Invincible. De assuntos como o primeiro namoro, a ida à faculdade (e tirar notas baixas por estar sempre faltando das aulas para salvar o mundo), e até mesmo o deslumbramento de ter poderes, o personagem de Mark é absurdamente crível e convincente.
Com histórias repletas de humor, ação, drama, reviravoltas, centenas de personagens, e ótimos desenhos de Ryan Ottley - que contribuem com o clima jovem e divertido - já li quase 50 edições da revista e ela continua surpreendente a cada edição. E não estou exagerando!
Kirkman não mostra sinais de cansaço com o título - que já chegou à edição 128 - e por isto não manifestou até hoje nenhum interesse em encerrar a história. Aqui no Brasil a revista chegou com o nome de
Invencível, e teve seus 4 primeiros encadernados publicados pela HQM Editora. Como o último encadernado foi impresso no longínquo ano de 2012, provavelmente o que nos resta é continuar a história através das edições dos EUA.
Lazarus (2013)
Escrita por Greg Rucka e desenhada por Michael Lark, Lazarus é uma história de Máfia em um futuro pós-apocalíptico. A economia mundial entrou em colapso. Bilhões morreram de fome. E agora o mundo é governado pelas 16 Famílias mais ricas do planeta, que se comportam como os mafiosos do século XX. Várias destas Famílias possuem seu Lazarus: um parente escolhido para ser seu super-soldado, que através de melhorias genéticas (ou cibernéticas, ou etc), se torna a maior arma e escudo de cada organização. A protagonista principal é Forever Carlyle, a jovem com cerca de 20 anos portando espada na imagem acima, e que é a Lazarus de sua família.
Diferentemente de seus parentes, a soldado Carlyle possui consciência e frequentemente entra em conflitos morais, principalmente quando tem que fazer seu papel de executora. Pior ainda para ela, Forever nasceu em laboratório, mas nem desconfia. Nas primeiras histórias, metade de Lazarus é acompanhar a interessante jornada de Forever Carlyle. A outra metade são os acontecimentos que todos nós conhecemos sobre mafiosos - disputa entre as Famílias, dois irmãos de Carlyle tentando derrubar o próprio pai do controle dos negócios, etc - porém com uma linguagem ágil e atual. Ah, e não se esqueça que estamos em um mundo onde a maioria da população mundial está morrendo de fome e que temos armas e tecnologias mais avançadas do que as do dia de hoje. Isto também poderá render grandes histórias sociais e científicas no futuro, e já no segundo arco da revista a questão da pobreza é mostrada de maneira bem marcante.
Até agora li as 10 primeiras edições e elas melhoram a cada novo número. Outra coisa bacana é que Rucka se preocupa bastante com a mitologia do título e na sessão de cartas de cada edição há textos explicando o mundo de Lazarus em mais detalhes. O título se encontra atualmente no número 21, não tem previsão de término, e infelizmente até hoje não foi publicado no Brasil.
Morning Glories (2010)
Criada e escrita por Nick Spencer e desenhada por Joe Eisma, a melhor maneira de definir Morning Glories é: Lost (o seriado de TV) se passando em uma universidade. Na trama conhecemos o internato Morning Glories Academy, considerada a melhor escola preparatória dos EUA, e que recruta apenas "garotos prodígios" para suas dependências. Somos apresentados à academia através dos olhos de seis novos alunos em seu primeiro dia de aula: Casey, Zoe, Hunter, Ike, Jun e Jade. Não demora muito para que os novatos descubram que algo está muito errado: tentativas de assassinato, áreas restritas, um diretor aparentemente animalesco que vive trancado longe das pessoas, viagens no tempo, e um regime disciplinar pior que em uma ditadura. Morning Glories tem até seu monstro, que aqui não é uma fumaça assassina e sim um fantasma que consegue se materializar em estado sólido quando quer atacar alguém.
Morning Glories tem uma trama excelente, repleta de mistérios e reviravoltas. Os desenhos até são bons, entretanto Joe Eisma não é tão bom para desenhar rostos, o que me fez algumas poucas vezes ficar em dúvida sobre qual personagem estava sendo mostrado. Este quadrinho é tão instigante quanto Lost e só espero que ao contrário do seriado este título se encerre bem, explicando tudo o que é essencial.
A série foi originalmente foi criada para ter 100 edições porém deverá se encerrar na edição 50, que será lançada neste mês (junho de 2016) nos EUA. A idéia dos criadores é fazer um final que sirva tanto para encerrar a série quanto para continuá-la por mais edições, caso consigam.
Morning Glories já teve os dois primeiros encadernados publicados no Brasil pela editora Panini, um em 2012 e outro em 2013 (juntos eles vão até a edição 12). Ou seja, para nós brasileiros, novamente o jeito é continuar a história através das edições gringas. Eu já li até a edição 25 - ou seja, metade da trama - e continuo bastante empolgado para descobrir as respostas para os enigmas da revista.
Saga (2012)
Saga é escrita por Brian K. Vaughan, que considero um dos melhores escritores da atualidade. É dele as duas excelentes obras
Y: O Último Homem e
Ex-Machina (ambas já publicadas integralmente no Brasil pela Panini).
Saga é uma
space opera vendida (corretamente) como uma mistura de
Star Wars com
Romeu e Julieta com
Game of Thrones.
Na história, temos duas espécies distintas vivendo uma guerra que já dura séculos. Uma raça, bastante tecnológica, vive no planeta Aterro (Landfall); a outra, mais mística e capaz de fazer magias, vive em Grinalda (Wreath), o único satélite natural deste mesmo planeta. É neste cenário em que o ativista anti-violência Marko (de Grinalda) se apaixona pela soldado Alana (de Aterro) e eles tem uma filha. Quando a criança nasce, Marko e Alana são literalmente perseguidos por toda a galáxia. Os governos dos dois povos querem obter esta "criança proibida", e para isto utilizam não só de seus próprios exércitos como também de caçadores de recompensa. A trama, portanto, é da família fugindo pelo espaço, tentando sobreviver e não ser capturada.
Como se pode ver acima, a trama obviamente tem mesmo elementos de Romeu e Julieta e elementos de Star Wars (toda a aventura espacial em si). Já de Game of Thrones, o título empresta os temas de conspiração entre grandes famílias, um pouco de nudez e sexo, e o clima épico. Mais do que tudo isto, a história é fortemente divertida, criativa e maluca! Querem exemplos? Que tal a nave utilizada pelos protagonistas, que na verdade é uma árvore gigante? Ou ainda, que tal o animal de estimação do mercenário conhecido como "O Querer" (The Will), que é um gato espacial que fala "está mentindo" quando alguém mente?
A família protagonista - que vai ganhando amigos ao longo da história - é bem interessante, ficando muito fácil para o leitor se importar com ela. Uma outra coisa bacana é a inversão dos papéis tradicionais de "machão" e "donzela indefesa", afinal Alana é a soldado, usa armas, e isto gera vários conflitos com seu marido pacifista. Além da grande qualidade do roteiro, os desenhos da Fiona Staples são um atrativo a parte. Belíssimos, limpos e ao mesmo tempo bem detalhados, ela é mais um artista que consegue transmitir o clima de filme em seus desenhos.
Saga se encontra atualmente na edição 36 e é atualmente publicado no Brasil pela editora Devir. Isto implica em boas e más notícias. As boas: a revista é de ótima qualidade, com acabamento de luxo e capa dura. A ruim: tanta qualidade implica
em alto preço: R$ 65,00 por edição. Particularmente, eu preferiria papel mais simples e preços mais baixos. Enfim... A Devir já publicou aqui os dois primeiros encadernados de
Saga, o que significa ir até a edição 12, que foi até onde eu li. De todos os títulos que coloquei nesta lista, este é o que tem minha maior recomendação.
Já tinham ouvido falar de alguns destes títulos? Já os leram? Se sim, recomendam? Aguardo vocês nos comentários. Até a próxima!