segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Crítica Netflix - Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out (2025)

Título
: Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out ("Wake Up Dead Man: A Knives Out Mystery", EUA, 2025)
Diretor: Rian Johnson
Atores principais: Daniel Craig, Josh O'Connor, Glenn Close, Josh Brolin, Mila Kunis, Jeremy Renner, Kerry Washington, Andrew Scott, Cailee Spaeny, Daryl McCormack, Thomas Haden Church, Jeffrey Wright
Nota: 7,0

Rian Johnson completa sua "Trilogia Knives Out" com o melhor dos três filmes

Depois de seu Entre Facas e Segredos (2019) e sua seqüência Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022), o diretor e roteirista Rian Johnson encerra com Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out os dois filmes da franquia "Knives Out" que ele prometeu fazer e entregar para a Netflix vendendo os direitos de exclusividade por absurdos US$ 469 milhões. Quando criou a franquia, em 2019, sua idéia era trazer uma roupagem moderna para histórias de whodunnit, como as de Agatha Christie, e foi o que ele fez.

Além da história de assassinato em si, para cada um dos filmes Johnson quis trazer algum tema para fazer suas críticas. No primeiro filme, a crítica foi dirigida à velha aristocracia estadunidense, a como eles se acham superiores e tratam os imigrantes; no segundo, os ataques foram aos bilionários da tecnologia. E agora, neste Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, o tema escolhido foi o Cristianismo.

Na trama, o jovem padre Jud Duplenticy (Josh O'Connor) é transferido para uma pequena paróquia rural, liderada pelo controverso Monsenhor Jefferson Wicks (Josh Brolin), cujo estranho comportamento e "ortodoxas" pregações mantém sua igreja com um número muito reduzido de estranhos fiéis. Durante uma missa de Sexta-Feira Santa, Wicks é assassinado dentro de uma câmara completamente fechada, o que parece simplesmente impossível. Por isso a chefe de polícia Geraldine Scott (Mila Kunis) convoca o famoso detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig) para investigar a morte.

Comparado com os outros filmes da série, Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out é o que menos se importa em focar em seus múltiplos personagens (mais uma vez um elenco bem numeroso e com várias estrelas) e concentra-se mais na vida do padre e ex-boxeador Jud. E isso também faz com que em sua primeira metade o filme mais discorra sobre igrejas, padres e fiéis desviando do que Jesus pregou, do que temas relacionados a crimes e filmes de detetive. Mas, quando a morte ocorre, tudo muda totalmente e o clima "policial" entra com tudo, de modo bem acelerado, até a conclusão da história.

Contando com objetos misteriosos e várias reviravoltas (e algumas que certamente não vão surpreender, porém outras sim) no final das contas achei a trama aceitável, divertida e interessante para quem curte histórias de detetive / assassinato. Dentre todos os filmes da franquia, é certamente o menos caótico e engraçado, mas vejo isto como qualidade, o resultado final é o melhor filme dos três, certamente o com menos problemas.

Mas por falar em "problemas", vamos ao que me mais me incomodou... a falta de coragem de Rian Johnson. Acho interessante trazer críticas da sociedade atual para os filmes de detetive... mas se vai fazer isto, por que o fazer de forma tão rasa? Veja: por exemplo no filme anterior, onde a critica foi aos "bilionários da tecnologia"... o filme até mostra que eles são "maus" porém a crítica maior não é neles, e sim nas pessoas que os idolatram.

E agora em Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out, o filme começa criticando, de forma clara até, o mal causado por pessoas que usam a fé por motivos pessoais e/ou por poder, e ele até chega a associar isso com política... mas depois, mal toca no assunto, e nunca associa a religião com o dinheiro. É como se o filme começasse com uma forte critica geral (endossada inclusive pelo seu "herói", o detetive Benoit Blanc), e terminasse com um... ah, esqueçam o que eu critiquei... foi só um padre louco mesmo...

Rian Johnson, que desde que ficou famoso a partir de 2012 por dirigir e escrever o bom Looper: Assassinos do Futuro, e na época foi considerado um "gênio promissor", mais uma vez não realizou a promessa; porém desta vez parece ter colocado sua franquia querida nos eixos. Nota: 7,0.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Relembrando / Homenageando o SEGA Saturn e o SEGA Dreamcast


Anos atrás eu publiquei uma lista contando a história daqueles que considero os 10 Melhores Consoles de Videogame de todos os tempos. Ao limitar a lista em uma dezena, acabaram não entrando 2 consoles da SEGA muito queridos - que foram respectivamente surrados pelos PlayStation 1 e 2 - mas que tiveram muitas qualidades e portanto faço questão de também "imortalizá-los" aqui em meu blog. São eles o SEGA Saturn e o SEGA Dreamcast.

Neste texto irei comentar porque a dupla citada fracassou e também, explicar o porque eles eram tão bons e mereciam melhor destino. Bora relembrá-los?



Sega Saturn (Japão, Novembro de 1994, 5ª geração)

Panzer Dragoon 2 Zwei
Após ter enfim igualado as vendas com a poderosa Nintendo na 4ª geração, com seu Sega Genesis / Mega Drive, agora a responsabilidade da SEGA era de se consolidar de vez no mercado de videogames. E novamente ela repetiria a estratégia de sucesso em antecipar a sua rival "Big N" lançando seu console da próxima geração primeiro... O plano poderia dar certo, se não fosse a Sony e seu estreante Playstation, que mudaram completamente o equilíbrio de poder do mundo dos games.

A exposição dos problemas com o Saturn começaram na primeira Electronic Entertainment Expo (a E3), de Maio de 1995, em Los Angeles. O Sega Saturn já havia sido lançado no Japão desde o final de 94, e tudo estava preparado para que o console fosse lançado nos EUA em Setembro de 95; o esperado então era que a SEGA aproveitasse o evento apenas para apresentar melhor seu futuro console. Porém sabendo que a Sony iria entrar com força no mercado também em Setembro, de maneira muito surpreendente (e como veremos a seguir, muito equivocada), o CEO da Sega América, Tom Kalinske, anunciou que o Saturn estava a venda nos EUA "de forma imediata" por US$ 399, e que um primeiro lote de 30 mil unidades já estavam chegando às lojas (ah, após a apresentação da SEGA, a Sony subiu no palco e anunciou seu Playstation por US$ 299... e soubemos anos depois que supostamente Kalinske foi obrigado a fazer este anúncio à contragosto, sob ordens do presidente da Sega Japão).

O resultado é que os lojistas contemplados pelo anúncio inesperado (Toys "R" Us, Babbage's, Electronics Boutique e Software Etc.) não gostaram do "aperto" em que foram colocados e sofreram para se organizar para vender o Saturn às pressas, além de ter que aguentar a reclamação de clientes pois não havia consoles para todo mundo; já as grandes empresas que não receberam o Sega Saturn no primeiro lote, como por exemplo a Best Buy, Walmart e KB Toys, ficaram tão irritadas que resolveram simplesmente boicotar o produto, não vendendo nada do Saturn (nem o console, nem os jogos) para sempre. O tão importante console da 5ª geração da SEGA começaria então sua história nos EUA com cerca de um terço do varejo lhe fechando as portas.

O jogo da franquia de Golden Axe que veio para o Saturn via Sega Titan‑Video não era um beat'em up, e sim um jogo de luta. Criticado pela dificuldade em se aplicar os golpes, Golden Axe: The Duel ficou exclusivo do console.

Sega Saturn até vendeu bem no Japão, e lá, só foi ultrapassado pelo Playstation 1 em vendas em 1997, quando a Sony lançou o jogo Final Fantasy VII; porém no resto do mundo o fracasso foi completo. Por exemplo nos EUA, quando o Playstation de fato estreou por lá, em 2 dias ele se igualou aos 5 primeiros meses de vendas do console da SEGA.

Porém os problemas do Sega Saturn iam além do comercial: desenvolver jogos para este console era muito difícil. Primeiro porque seus gráficos 3D eram renderizados com objetos quadrados, ao invés de objetos triangulares como todos os outros videogames faziam; mas principalmente, porque ao invés de um único processador, o aparelho possuía duas CPUs de 32 bits independentes. A versão mais conhecida desta história é que assim que a SEGA ficou sabendo das especificações técnicas do Playstation 1 (e com foco em 3D), anunciadas no final de 1993, ficou aterrorizada por serem muito superiores ao do seu então Saturn, e então, de maneira totalmente desesperada e sem planejamento, aumentou de 1 para 2 processadores 32 bits em seu console, criando um produto "Frankenstein".

Virtua Fighter e Clockwork Knight foram dois dos primeiros lançamentos para o Saturn

Porém eu defendo outra versão: em Março de 1994 a SEGA estreou no Japão seu novo modelo de placas de arcades, a Sega Titan‑Video, ou seja, antes do Sega Saturn, lançado no oriente em Novembro daquele ano. E a questão é que as especificações técnicas da Titan e do Saturn são idênticas, ambas com as mesmas duas CPUs. Então das duas uma: ou o plano original da SEGA sempre foi esse, de ter um placa de 2 CPUs tanto nos arcades quanto no seu Saturn e o anúncio da Sony não mudou seus planos, OU, os planos eram mesmo outros e, quando o Playstation foi anunciado, não é que a SEGA saiu desesperada adicionando uma 2ª CPU numa placa... ela simplesmente pegou um projeto que já estava praticamente finalizado, o do Sega Titan‑Video, e o "copiou" para a partir de então ser o seu Saturn.

E graças a esta equivalência entre o Saturn e o Titan, falarei finalmente da primeira qualidade deste console: se na 4ª geração dos Videogames o console que mais se aproximava (literalmente) dos jogos de fliperama era o Neo Geo, nesta geração este papel coube ao Sega Saturn (sendo então seu "sucessor espiritual"?). Os jogos que eram lançados para o Titan vinham para o Saturn quase que imediatamente, e quase sem necessidade de conversão. De exemplos vindo do Titan, temos clássicos excelentes e imperdíveis como Die Hard Arcade, DecathleteSteep Slope SlidersVirtua Fighter Remix, Cotton 2: Magical Night Dreams e Radiant Silvergun; sendo que com exceção do primeiro, todos eram exclusivos do console.

Apesar de alguns problemas de renderização, Daytona USA é tão bom que sozinho já justificaria a aquisição do console

E o Saturn não "incorporava" apenas jogos arcade do Titan... ela também trouxe ótimos ports da Capcom (Street Fighter Alpha 3X-Men Vs Street Fighter), SNK (franquia The King of FightersMetal Slug), e principalmente, os jogos de fliperama mais atuais da própria SEGA: Daytona USASega Rally ChampionshipVirtua Cop 2Dead or Alive. Estes últimos jogos arcade 3D tinham algumas limitações gráficas na conversão, mas ainda assim nada tão grave para impedir que estes jogões figurassem entre os melhores jogos do console; aliás jogar Daytona USA em sua casa - que considero um dos melhores jogos de fliperama de todos os tempos - era uma satisfação que não tinha preço.

As dificuldades na programação de jogos - principalmente no 3D - também tiveram bastante impacto, afastando grandes desenvolvedoras. Capcom, Electronic Arts e Konami produziram jogos em quantidade bem limitada, e priorizaram o Playstation. Square e Namco sequer fizeram um único jogo para o console.

A verdade é que se para jogos 3D o Sega Saturn sofreu para acompanhar o Playstation 1, em jogos 2D o console da SEGA era superior, uma super potência. E isso era visto em jogos de luta, jogos de nave, remakes de jogos da geração anterior, e jogos de plataforma. Com a vocação do console em jogos 2D o Saturn teve verdadeiras obras primas (e exclusivas) do estilo, como por exemplo AstalClockwork KnightGalactic AttackGuardian Heroes e Nights into Dreams.

Ainda nas duas dimensões, o Saturn Bomberman é considerado o melhor jogo da franquia Bomberman de qualquer console em todos os tempos, e permitiu o jogo para até 10 pessoas simultaneamente (através do Sega Net Link, um modem que precisava ser comprado separadamente para se jogar via Internet). Jogos de "navinha" que ainda não foram citados mas que não posso deixar de fora são o belíssimo Darius Gaiden, o insano DoDonPachi, o caricato e dificílimo In the Hunt e o excelente Salamander 2. Este último, no mesmo jogo, alternava fases de ação horizontal e vertical.

Ah, mas a SEGA também conseguiu emplacar franquias novas de qualidade no 3D, que é o caso por exemplo dos vários e excelentes jogos Panzer Dragoon e o futurista jogo de ação Burning Rangers.

Dois jogos bem diferentes: Guardian Heroes misturava beat'em up com RPG, já Radiant Silvergun serviu de inspiração para o inovador jogo Ikaruga, do Dreamcast

Mas antes de encerrar a história do Sega Saturn, uma pergunta: e o Sonic? Pois é, essa foi a pergunta que toda a comunidade gamer também fez na época. Como é possível que SEGA não tenha feito um jogo do seu ultra popular mascote para seu novo console?? É inacreditável! Na verdade, já tardiamente, a SEGA chegou a mostrar na E3 de Maio de 1996, as primeiras imagens de um jogo 3D do ouriço, de nome Sonic X-treme. Porém ele nunca foi lançado, sendo cancelado oficialmente 1 ano depois...

Mas o que aconteceu? Sim, obviamente a SEGA queria um novo jogo do Sonic (e em 3D) para impulsionar as vendas do Saturn; porém lá no Japão, o Sonic Team (que tinha feito os jogos do mascote para o Mega Drive) queria desenvolver outros jogos e já trabalhava no Nights Into Dreams; nos EUA, o foco ainda era desenvolver jogos para o 32X. Com isso, tanto os EUA quanto o Japão tinham, em paralelo e independentemente, um time de desenvolvedores criando um novo jogo do Sonic; porém em ambos os países os melhores profissionais estavam dedicados a outras tarefas.

Sonic R (a esq.) e Nights Into Dreams (a dir.) foram o mais próximo de um "novo Sonic" que o Saturn teve

O resultado é que as duas equipes não suportaram a pressão e a responsabilidade, e não conseguiram criar um jogo bom o suficiente do Sonic para ser lançado. No final das contas, o Saturn acabou recebendo alguns remakes de jogos do personagem da época do Mega Drive, e, apenas em Novembro de 1997, teve um jogo novo feito especialmente para o console: Sonic R, um jogo em 3D de corrida (?!), parecido com Mario Kart, porém onde Sonic e seus amigos disputam as provas correndo a pé.

Depois de tantas lambanças (talvez um dos consoles com mais erros de estratégia na história), o Sega Saturn foi descontinuado precocemente após apenas 4 anos, em 1998. Mas isso sem antes de deixar uma vasta biblioteca de cerca de 1000 jogos, e dezenas deles de altíssima qualidade. Praticamente todos que citei acima neste meu texto são excelentes, e altamente recomendados. Nunca fui muito fã dos jogos 3D rudimentares (leia-se feios) da 5ª geração de consoles e sempre achei bem injusto o "abandono" dos jogos 2D pelos jogadores... O tempo passou e enfim as pessoas aparentam ter reconhecido seu "erro": não a toa atualmente o Sega Saturn tem sido um dos consoles cujo interesse mais vem crescendo pela comunidade retrô nos últimos dois anos. O que é bom, dura para sempre.



Sega Dreamcast (Japão, Novembro de 1998, 6ª geração)

SoulCalibur
Após o fracasso do Saturn a SEGA optou por abandonar seu console de 5ª geração antecipadamente e focar todo seu esforço em um console para a geração seguinte. Assim nasceu o Dreamcast, lançado no Japão em Novembro de 1998, e sendo o pioneiro da 6ª geração de consoles, saindo na frente da concorrência em 1 ano em meio (o segundo console desta geração, o PlayStation 2, só seria lançado em Março de 2000).

O console era de fato a cartada final da SEGA, e por isso mesmo a empresa gastou gigantescos US$ 100 milhões no marketing apenas nos primeiros meses do produto. O Dreamcast nascia com algumas peculiaridades bem surpreendentes: por exemplo, o "cast" de seu nome veio de broadcast ("transmitir dados", ou seja, ele foi pensado para jogar online e com isso o aparelho já tinha um modem embutido); outra surpresa era seu estranho controle, um bocado grande, em formato levemente parecido com um disco (ver a imagem no topo deste artigo), e era nele que se acoplava o memory card para gravar o progresso de jogos; porém havia muito mais: o tal "memory card" (de nome VMU - Visual Memory Unit) tinha uma tela própria de LCD, que poderia ser usada como tela auxiliar ao console, exibir mensagens, rodar pequenos jogos, e até um animal de estimação virtual!

A icônica cena da Sonic fugindo da orca em Sonic Adventure foi um dos cartões de visita do Dreamcast

A SEGA aprendeu com seus erros do passado, e com isso antes mesmo do lançamento já foi eliminando os problemas que afundaram o Sega Saturn: para começar, em Agosto de 1998, apenas dois meses do lançamento do Dreamcast, a empresa convocou uma conferência no Japão para mostrar o já 100% jogável Sonic Adventure, desenvolvido (agora sim) pelo Sonic Team, e que seria lançado junto com o console (isso eles mentiram um pouco, houve um pequeno atraso, mas Sonic Adventure já estava disponível nas lojas antes do Natal). A estratégia deu certo e a comunidade gamer entrou entrou em polvorosa.

A empresa do Sonic também já havia feito as pazes com as desenvolvedoras (menos uma, como veremos depois), e seu Dreamcast nascera para que o desenvolvimento de jogos em sua plataforma fosse bem simples. Meses antes do lançamento, mais de 120 softhouses já tinham recebido kits de desenvolvimento para o console, e mais ainda: com uma parceria com a Microsoft, os jogos também poderiam ser desenvolvidos em Windows CE; desta forma inclusive, ficava mais fácil portar jogos do Dreamcast para PC's e vice-versa.

Crazy TaxiSpace Channel 5, franquias da SEGA conhecidas até hoje, iniciaram suas histórias no Dreamcast 

E os problemas com as lojas? Bem, pelo menos os EUA não podiam reclamar. Desta vez o Dreamcast foi vendido na data planejada, de forma organizada, e por um preço muito competitivo: apenas US$ 199; e com uma vantagem: já vindo embutido um modem de 56 kb/s, o dobro do no modelo japonês. Porém os japoneses tinham algo para reclamar... as 150 mil cópias do console disponíveis no lançamento esgotaram no primeiro dia, e devido a falta de chips NEC para os processadores de vídeo do console, a reposição do estoque foi lenta. O resultado dos primeiros meses no Japão foi uma considerável perda de interesse do público local, e números de venda bem inferiores do que a SEGA planejava.

Mesmo não tendo a estréia dos sonhos, aos poucos o console crescia, e imediatamente antes do lançamento no ocidente, o Dreamcast já tinha seus primeiros sucessos de venda: o próprio Sonic Adventure, Seaman (um jogo estranhíssimo, onde você cuida de um peixe com rosto humano em um aquário, e fala com ele por microfone - acessório vendido separadamente), e SoulCalibur, um jogo de luta com gráficos 3D's bem impressionantes.

Lembram que o Dreamcast teria nascido para jogos online? Pois a SEGA demorou um bocado para cumprir esta promessa. Somente um ano após o lançamento do console no Japão, em Novembro de 99, sairia o primeiro jogo multiplayer online: ChuChu Rocket!, um quebra-cabeça de gatos vs ratos que fez sucesso. Demoraria mais um ano, Dezembro de 2000, para aí sim o Dreamcast realizar o prometido, com o lançamento de Phantasy Star Online, um marco da história dos videogames, por ser o primeiro RPG online efetivamente popular e bem sucedido.

Phantasy Star Online foi um marco para a história dos videogames

Com gráficos excelentes, Phantasy Star Online permitia que os usuários criassem seus personagens com muitas possibilidades de customização e se unirem em grupos de até 4 jogadores para realizar suas aventuras. O jogo também inovou ao trazer um conjunto de frases fixas já pré-traduzidas para vários idiomas; deste modo era mais fácil a comunicação com usuários de outros países. Embora o jogo também permitisse se jogar offline, ao contrário da jogatina pela internet que era muito elogiada, o jogo sozinho em casa era bem criticado pela falta de emoção. 

Phantasy Star Online foi um grande sucesso no Japão, e embora não tenha sido tão popular no ocidente, também teve seu público em outros continentes; tanto que anos depois foi criado um Phantasy Star Online Ver. 2, e também o jogo foi portado para outros consoles: o GameCube e o Xbox (além do Windows, disponível desde o lançamento inicial), tudo para manter um bom número de jogadores ativos.

- Shenmue:

Mas se Phantasy Star Online foi surpreendente, não chegou nem perto da revolução que era Shenmue, lançado em Dezembro de 1999. Idealizado e produzido por Yu Suzuki, um dos maiores nomes da SEGA, criador de clássicos como Hang-On, Space Harrier, Out Run, After Burner, Virtua Racing e Virtua FighterShenmue é um dos mais ambiciosos jogos já produzidos em todos os tempos. Com cerca de 3 anos de desenvolvimento, e gastos estimados em US$ 50 milhões entre programação e marketing (o maior valor para um jogo de videogame até então).

Considerado até hoje um dos melhores jogos de sua franquia, Resident Evil – Code: Veronica foi o primeiro e único jogo da série a sair primeiro em um console que não fosse um Playstation. Lançado para o Dreamcast apenas 3 meses após Shenmue e sendo um sucesso, acabou sendo um forte concorrente interno para o jogo de Yu Suzuki

Shenmue foi criado para ser um game de mundo aberto como nunca se viu. Não somente o jogador tinha liberdade para, a qualquer momento, "abandonar" a trama principal e explorar a cidade para fazer atividades cotidianas, como o jogo simulava um mundo real, com passagem do tempo em dia, noite, e eventos climáticos; horários certos para as lojas abrirem e fecharem, e ônibus passarem pelos pontos. O jogo misturava RPG, ação, aventura e luta, tudo com gráficos 3D excelentes e uma trilha sonora elogiadíssima.

Na história de Shenmue você controla Ryo Hazuki, que presencia o assassinato de seu pai por um mafioso chinês chamado Lan Di, que também lhe rouba o Espelho do Dragão. Resumidamente, então Ryo parte em uma jornada em busca de vingança, entender porque seu pai foi morto, e recuperar o espelho.

Em Shenmue, assim como no mundo real, nada acontecia "de graça", então por exemplo, se você quisesse melhorar sua luta, teria que ir em uma academia e treinar; o mundo aberto lhe permitia passatempos diversos, como por exemplo, entrar dentro de uma casa de fliperamas, e lá dentro jogar clássicos (na versão completa!!) da SEGA, como Hang-On e Space Harrier: eram jogos inteiros dentro de um jogo!

Shenmue em 4 imagens: 1) aperfeiçoando a luta na academia; 2) um exemplo de QTE em briga de rua; 3) na loja de fliperama diante de uma máquina de Space Harrier; 4) disputando uma corrida de carros de empilhadeira, dentro do armazém onde Ryo trabalha

Além do assombro que era o mundo aberto em si, Shenmue trouxe outras pequenas inovações, como por exemplo lutas e eventos em Quick Time Events (QTE, quando comandos de direcional e botões surgem na tela e devem ser rapidamente ativados). Sim, é verdade que isso já havia sido explorado em outros jogos antes, como por exemplo em Die Hard Arcade; mas esse formato de exibir na tela um pequeno ícone com o botão a ser apertado, e que hoje é amplamente copiado em jogos atuais, como God of War, etc, surgiu em Shenmue.

Shenmue foi aclamado pela crítica especializada, mas teve recepção mista dos jogadores, pois vários não se acostumaram com tanta liberdade e "tempo real"; o jogo até vendeu bem, cerca de 1,2 milhões de cópias, mas este número foi muito baixo para cobrir o investimento no jogo, que acabou sendo um fracasso comercial, e acabou contribuindo para a crise na SEGA. Anos depois seria lançado Shenmue 2, que por reaproveitar muito do que já havia sido criado em Shenmue, necessitou bem menos investimento; mas por outro lado, ele vendeu bem menos que seu antecessor, também trazendo prejuízos.

- Os novos problemas:

Se a SEGA não repetiu os erros antigos, teve que sofrer com dificuldades novas, e cometeu algumas novas decisões erradas se mostrariam fatais.

Um fator que certamente contribuiu para um menor interesse do publico no Dreamcast foi a ausência dos jogos da Electronic Arts. Sem contrato com a SEGA desde o meio da era Saturn (o contrato entre as duas empresas havia expirado e não foi renovado pois a EA encontrou na Sony melhores condições comerciais e um console de desenvolvimento muito mais fácil), a empresa californiana exigiu para fechar com a SEGA a exclusividade em todos os títulos esportivos do Dreamcast. E como infelizmente a empresa do Sonic havia acabado de comprar o estúdio Visual Concepts por US$ 10 milhões - a responsável pela série de jogos 2K Sports - ela não aceitou a condição e consequentemente ficou sem nenhum jogo da Electronic Arts.

Não que os jogos da série 2K fossem ruins, pelo contrário. Mas ficar sem FIFA, Madden NFLNHL, NBA Live era um golpe duro. A Electronic Arts, empresa que ficou rica e famosa junto com a SEGA na época do Mega Drive, trairia a SEGA com sua ingratidão, e se tornaria um fator relevante para sua última derrocada.

Virtua TennisNFL 2K1 foram dois dos jogos de esporte mais aclamados do console

Mas, claro, o maior problema foi a concorrência da Sony. Quando ela anunciou seu PlayStation 2, o futuro console trazia consigo duas coisas que o Dreamcast não tinha: a retrocompatibilidade com o então videogame mais vendido da história (o PlayStation 1) e, principalmente, um drive de DVD. O fato dos jogos do PlayStation 2 (e posteriormente do Microsoft Xbox, também desta geração) rodarem jogos em DVD foi determinante para o fracasso do console da SEGA. Não somente pela questão técnica (o disco do Dreamcast  tinha 1 GB de capacidade contra 4,7 GB dos DVDs), mas principalmente porque os consoles concorrentes podiam ser vendidos também como tocadores de DVD, permitindo a reprodução de filmes e músicas.

Vale a pena ressaltar que o preço da SEGA em se antecipar tanto ao iniciar seu console de 6ª geração frente seus correntes foi bem alto, ela nunca deixou de ter forte concorrência: nos primeiros anos, ela ainda competia com fortes vendas de consoles rivais da geração anterior, o PlayStation 1 e o Nintendo 64; e quando enfim a geração seguinte chegou para a concorrência, ela vinha com o DVD e com a preferência dos estúdios criadores de jogos; desde o lançamento do PS2 em Março de 2000, ficou mais difícil para a SEGA encontrar estúdios para novos jogos, tendo ela mesma que fazer a maior parte desse papel.

Em Janeiro de 2001 foi anunciado o "fim" do Dreamcast nos EUA, e meses depois, o mesmo aconteceu no Japão. O console ainda teve dezenas de novos lançamentos tanto em 2001 quanto 2002, e a Sega Japão manteve o suporte ao seu produto até 2007, quando o Dreamcast foi encerrado de fato. Também em 2001 a SEGA anunciaria sua retirada definitiva como criadora de consoles, focando apenas no desenvolvimento de jogos. Meses depois ela já licenciaria jogos do próprio Dreamcast para o Xbox e o portátil GBA (os quais não via como concorrentes), mas alguns meses mais para frente também já passou a liberar jogos para o GameCube e o Playstation 2.

- O importante legado:

Ikaruga e Sega Rally 2: dois sucessos de público do Dreamcast

Em seus poucos anos de existência, o Dreamcast teve cerca de 650 jogos lançados, e por vários motivos, acabou sendo um dos consoles que mais trouxe jogos inovadores para o mercado. Além das inovações já citadas anteriormente, é possível citar várias outras: Samba de Amigo e Space Channel 5 (que inclusive tinha uma aparição especial de Michael Jackson), foram jogos de ritmo musical aclamados pela crítica, com relativo sucesso, e que antecederam em anos os famosos jogos do tipo, como Guitar Hero e Rock Band.

Em um mundo onde o cenário dos RPGs era dominado pelas franquias de Final Fantasy e Zelda, a SEGA trouxe o elogiadíssimo Skies of Arcadia, que agradava não só pelo jogo em si, mas principalmente pelos excepcionais gráficos. Dentre a seleta lista de melhores jogos de todos os tempos feita pelos especialistas, três jogos estrearam no Dreamcast: o já citado Shenmue, Jet Set Radio (um jogo de aventura / ação parecido com GTA que você é um patinador e tem gráficos de estilos desenho animado que não consigo descrever de tão incríveis) e Rez (um jogo de tiro futurista em primeira pessoa, muito maluco e visualmente espetacular).

E finalmente, não posso encerrar sem antes citar dois grandes jogos de desenvolvedoras terceiras: Fatal Fury: Mark of the Wolves, da SNK, lançado em 2001, jogo de luta que trouxe uma inovação bem curiosa, o T.O.P. - Tactical Offense Position, que te dava a opção de escolher, antes da batalha, se queria que seu personagem tivesse o "T.O.P." durante o começo, meio, ou final da barra de vida; durante a fase "T.O.P." o personagem ficava mais forte, tinha uma leve recuperação de vida, e tinha um ataque especial extra. O segundo jogo é Ikaruga, da Treasure, um jogo de navinha que quando surgiu em 2002 fez tanto sucesso que deu uma sobrevida ao console. Como inovação ele trazia o conceito de duas cores de tiros, branco e preto, e com o controle você alternava se receber tiro de uma destas cores te dava dano ou recuperava sua energia.

Jet Set Radio: um dos mais icônicos e diferentes lançamentos do Dreamcast

O Dreamcast definitivamente estava a frente do seu tempo, e o injusto fim do console acabou sendo também o fim da SEGA como empresa gigante. Mas ela ainda está viva, e atualmente parece estar querendo ressurgir, fazendo novas versões modernizadas de suas franquias antigas para várias plataformas atuais, e investindo também em levar suas propriedades para os cinemas. Que a velha e querida SEGA tenha sucesso!

domingo, 7 de dezembro de 2025

Curiosidades Cinema Vírgula #050 - Conheça aqui o filme de MENOR bilheteria de todos os tempos!!

Vira e mexe aparece citações na Internet comentando sobre os filmes de maior bilheteria de todos os tempos. Neste caso, descontando a inflação, atualmente o topo ainda é de Avatar (2009), com US$ 2,9 bilhões de arrecadação nos cinemas. Mas se considerarmos a inflação - que infelizmente não é uma conta 100% precisa - com dados até 2024 vemos que Avatar fica em segundo lugar com US$ 4 bilhões, e o topo fica com outro vencedor: ... E o Vento Levou (1939), com seus talvez inalcançáveis US$ 4,45 bilhões.

Mas... e qual seria o filme de MENOR bilheteria de todos os tempos? É bem difícil responder essa pergunta, se formos levar em conta todos os países do planeta, e também, todos os tipos de filme da mais baixa qualidade que existem por aí... De qualquer forma, o Cinema Vírgula traz aqui um fortíssimo candidato ao de filme de pior bilheteria de todos os tempos:


Zyzzyx Rd (2006)

Conheça Zyzzyx Rd, que no Brasil teve o título traduzido para Estrada da Morte. E por incrível que pareça, este nome bizarro tem algum sentido. Na trama, um contador se envolve com uma mulher que já tem namorado, e após acabar brigando fisicamente com ele, acredita tê-lo matado. Então, ele e a mulher saem pela estrada para encontrar algum lugar para despejar o corpo. A tal estrada, é a Interstate 15, que fica na Califórnia, e na vida real ela dá acesso á uma rua de terra de nome "Zzyzx road". Então o filme tem o nome dessa rua... ou melhor, teria.. pois os responsáveis pela produção conseguiram errar o nome dela, colocando um "z" a mais... A foto título do artigo (ver acima) é a placa real da saída para esta rua via Interstate 15.

Zyzzyx Rd, apesar de produção independente, não era também um filme tão caseiro. Ele custou US$ 1,2 milhões (!), e dois dos atores principais do seu elenco eram famosos: Katherine Heigl e Tom Sizemore. O que aconteceu foi que a distribuidora do filme queria primeiro lançar Zyzzyx Rd internacionalmente para só depois lançar nos EUA; e acabou descobrindo que devido a uma regra do Sindicato dos Atores estadunidense, só poderia fazer isso após lançar o filme em salas dos cinemas americanos.

Então, os produtores alugaram uma sala de cinema em Dallas, e exibiram nesta sala, por uma semana, uma única sessão diária, ao meio-dia. Ao longo de todos estes dias, foram vendidos apenas SEIS ingressos. E como cada ingresso custou 5 dólares, a renda foi de US$ 30. E na verdade foi um pouco pior... Destes 6 ingressos, 2 deles foram comprados pela maquiadora do filme e sua amiga, e inclusive elas tiveram o dinheiro reembolsado rs. Portanto, se você procurar na Internet, os sites poderão dizer que a renda total foi de US$ 30 ou de US$ 20.

Depois deste fracasso, a produtora mudou de idéia e nem lançou Zyzzyx Rd nos cinemas internacionais... esta bomba acabou saindo diretamente para DVD no mundo inteiro.


Obs.: The Worst Movie Ever! (2011)

Em 2011 tivemos essa "maravilha" produzida, dirigida, escrita e estrelada por Glenn Berggoetz, que no caso, foi exibido em apenas um cinema de Los Angeles. The Worst Movie Ever! teve apenas UM ingresso vendido em sua primeira semana de exibição (o ingresso custou US$ 11 dólares), batendo então o recorde negativo de Zyzzyx Rd apenas para o caso da semana de estréia.

Porém, o recorde acabou saindo na mídia e trouxe alguma repercussão ao filme, e devido a isso, algumas pessoas começaram a ir no cinema assistir essa tragédia, que ficou alguns meses em exibição e totalizou cerca de US$ 25 mil de bilheteria.

The Worst Movie Ever! teve um orçamento de apenas US$ 1.100 dólares, e foi feito propositalmente para ser ruim. A trama mistura coisas como robôs alienígenas, criaturas que roubam almas, e não há uma história contínua, apenas uma sucessão de cenas desconexas. Felizmente isso nunca chegou ao Brasil, e igualmente felizmente, esse lixo não desbancou o título do grande Zyzzyx Rd, que não trapaceou para conquistar seu lugar na História!



PS: Já viu as outras curiosidades do Cinema Vírgula? É só clicar aqui!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Crítica - Bugonia (2025)

Título
: Bugonia (idem, Canadá / Coreia do Sul / EUA / Irlanda / Reino Unido, 2025)
Diretor: Yorgos Lanthimos
Atores principaisEmma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbis, Stavros Halkias, Alicia Silverstone
Nota: 7,0

Emma Stone brilha em filme mais comportado (porém ainda louco) de Lanthimos

Pelo terceiro ano consecutivo, após Pobres Criaturas (2023) e Tipos de Gentileza (2024) a atriz Emma Stone e o diretor grego Yorgos Lanthimos estão juntos para entregar um filme esquisito. Algo novo, entretanto, é que se a maioria dos filmes de Yorgos usam roteiros originais escritos por ele, este Bugonia na verdade é uma refilmagem do filme sul-coreano Jigureul Jikyeora! de 2003 (Salvem o Planeta Verde!, em tradução livre).

Na trama de Bugonia, somos apresentados à Michelle Fuller (Emma Stone), uma aparentemente insensível CEO de uma megacorporação farmacêutica, que então é sequestrada por dois cidadãos "comuns": o conspiracionista Teddy Gatz (Jesse Plemons) e seu primo Don (Aidan Delbis). O motivo? Teddy acredita que Michelle na verdade seja de uma raça alienígena maligna que está destruindo a Terra, e portanto, quer que ela o coloque em contato com seu líder para negociar o fim desta destruição.

Além dos personagens / atores citados acima, há outro bem importante em Bugonia: a trilha incidental. Forte e marcante, ela dita os momentos de tensão e os surtos psicóticos de Teddy. Portanto é o som de Bugonia que dá ritmo ao filme, e se ele não estivesse presente, o resultado seria bem menos impactante.

A trama vai direto ao ponto, sem muitas enrolações, focando nos diálogos entre captor e vítima; mas ainda assim o filme tem 2h de duração com várias partes clichês... as acusações que Teddy faz mostrando que Michelle é "malvada", e as maneiras que ela, por sua vez tenta enganar seus algozes, já foi mostrado em filmes tantas vezes que chega a ser um pouco tedioso.

Mesmo assim, o elemento "alienígena" traz algumas novidades, e, claro, a trama têm mais de uma reviravolta. A maior delas eu previ, o que foi um pouco frustrante... porém as demais me surpreenderam. A dúvida se Michelle seria de fato alienígena é curiosamente abordada de forma realista e adequada, enquanto que o personagem de Teddy também não é deixado de lado, com sua complexidade sendo revelada aos poucos, ao mesmo tempo que vemos o aumento de suas manipulações sobre o primo; tudo isso também contribui para uma crescente em caos e tensão.

Jesse Plemons e Emma Stone atuam muito bem, especialmente a atriz. Mais uma vez ela mostra o quanto é versátil, e uma das melhores atrizes de sua geração.

Como bônus, Bugonia se encerra contando uma historinha que nos faz refletir e que me entreteve um bocado pela novidade. Não é um dos melhores trabalhos de Yorgos Lanthimos, mas até por não ser uma obra original dele, é um de seus filmes menos bizarros. E principalmente, muito melhor e mais satisfatório que seu anterior, Tipos de Gentileza. Nota: 7,0

domingo, 23 de novembro de 2025

Crítica Prime Video - Éden (2024)

Título
Éden ("Eden", EUA, 2024)
DiretorRon Howard
Atores principais: Jude Law, Ana de Armas, Vanessa Kirby, Daniel Brühl, Sydney Sweeney, Jonathan Tittel, Felix Kammerer, Toby Wallace
Nota: 7,0

Estrelado e com ótimas atuações, filme é baseado em bizarra história real

Lançado nos cinemas mundiais ano passado, Éden, o mais recente filme do prestigiado diretor estadunidense Ron Howard (já vencedor do Oscar pelo filme Uma Mente Brilhante) sequer chegou nos cinemas brasileiros, e por aqui estreou diretamente nos streamings, mês passado, via Prime Video.

A chocante história, que ocorre no início dos anos 1930, é baseada em fatos reais, onde um pequeno grupo de pessoas, por motivos diversos, decidiu recomeçar sua vida na ilha Floreana, a ilha mais ao sul do arquipélago vulcânico que conhecemos popularmente como Ilhas Galápagos, e que já se encontrava desabitada há décadas.

A trama começa com a família Wittmer chegando à ilha: Heinz (Daniel Brühl), Margret (Sydney Sweeney) e o filho Harry (Jonathan Tittel) perderam praticamente tudo e, inspirados pela história dos "heróicos aventureiros" Dr. Friedrich Ritter (Jude Law) e sua companheira Dore Strauch (Vanessa Kirby), que já estavam em Floreana há vários anos, resolveram começar uma nova vida por lá.

Todos eles eram alemães, mas mesmo assim, Friedrich não gostou nem um pouco de receber novos integrantes no local. O clima na ilha ficou tenso, mas ainda controlável. Porém tudo explodiu quando um terceiro grupo chegou: a Baronesa Eloise (Ana de Armas) com seus dois amantes / empregados Robert (Toby Wallace) e Rudolph (Felix Kammerer). A interação entre os três grupos iria escalar a tal ponto de tensão onde a história de Éden chegaria até a mortes.

Como ponto mais forte do filme, o elenco estrelar de Éden faz jus a sua contratação e temos ótimas atuações, só por isto valendo a pena assisti-lo. Os conflitos e clima de constante tensão e imprevisibilidade são mais destacados pelos atores do que pelo próprio roteiro.

O que sabemos hoje do que aconteceu na ilha provêm de 3 fontes: dos relatos de Dore Strauch, dos relatos de Margret Wittmer, e das cartas enviadas via correio por Friedrich Ritter (além, é claro, das evidências encontradas via investigações ao longo dos anos pós incidente). Claro que todos os relatos foram bem parciais e muita coisa ficou sem resposta; com isso, os roteiristas Noah Pink e o próprio Ron Howard, disseram que para escrever o roteiro "simplesmente juntaram todas as histórias para criar a única versão que faria sentido". Mas não é bem assim. E no "PS" ao final deste texto eu conto as maiores diferenças do que o filme conta e o que aconteceu na vida real.

De qualquer forma, em linhas gerais, Éden é bem fiel aos fatos verdadeiros dos fatídicos eventos ocorridos na ilha Floreana, e tudo o que aconteceu lá é perturbadoramente interessante. A lamentar, a escolha do diretor / roteirista de praticamente ignorar o desenvolvimento dos personagens, e focar quase em 100% neles fazendo maldades um com os outros. Isso deu mais espaço para os atores brilharem, porém, enfraqueceu a história, tirando dela seus detalhes, além de praticamente impedir a empatia do público com qualquer um dos humanos em tela.

É uma pena em que Éden fracassou absurdamente nas bilheterias, e os motivos disso foram vários: marketing e divulgação fracos, recepção apenas morna da crítica especializada, e chegada aos cinemas no auge da polêmica quanto ao (racista?) comercial de jeans estrelado por Sydney Sweeney para a marca American Eagle.

Pela enorme audiência que programas de "real crime" alcançam na TV e na Internet, mesmo não sendo literalmente deste gênero, Éden tem tudo para manter o interesse deste mesmo tipo de público, e mais ainda, de despertar o interesse nas pessoas que curtem "mistérios do passado", ou ainda, quem simplesmente gosta de ver grandes atuações. Em suma, Éden poderia e merecia um roteiro melhor, porém sua história real mais que se sustenta por conta própria, e seus atores justificam que ele mereça uma melhor chance. Nota: 7,0.

 

PS: as principais diferenças entre o filme e os fatos reais (são spoilers grandes do filme, leia por conta e risco)

As maiores diferenças são em relação ao "desaparecimento" da Baronesa Eloise e seu amante Robert. O filme mostra todos os homens restantes da ilha em grupo para matá-los, e posteriormente o Dr. Ritter enviando uma carta ao governador acusando Heinz Wittmer de ter assassinado o casal. Para começar, na vida real, esta carta não existiu... ou melhor, existiu, porém de modo diferente... Só depois de 6 meses após o sumiço de Eloise e Robert, foi então que o Dr. Ritter escreveu uma carta contando que a dupla havia desaparecido, mas que ele não pôde enviar a carta antes porque os Wittmer o haviam impedido (ou seja, não houve uma acusação direta de assassinato).

Pelos relatos de Margret Wittmer, a Baronesa lhe disse que havia chegado em um iate para levá-la ao Taiti, e que ela deixaria seus pertences para Lorenz; já pela versão de Dore Strauch, ela comenta que na noite anterior ao desaparecimento ela ouviu um grito, e que não viu nenhum barco no dia seguinte, o que a fez suspeitar que ambos teriam sido assassinados pelo outro amante, Rudolf Lorenz. Hoje, a teoria mais "votada" pelos especialistas no caso é que este teria sido mesmo o ocorrido... Lorenz matado os dois e se livrado dos corpos.

Sobre a morte do Dr. Ritter, oficialmente ficou registrado que ele morreu por intoxicação alimentar e desidratação; mas teria sido ele "assassinado" de verdade por Dore? Não dá para saber. Nos relatos de Margret Wittmer há apenas uma leve indireta sobre isso. Ainda assim parece pouco provável que o Dr. Ritter real tivesse se deixado "enganar" daquele jeito. De qualquer forma, o filme não deixa isso claro, mas a Dore real já odiava Ritter quando as demais pessoas chegaram a ilha. E, de fato, as últimas palavras dele antes de morrer, segundo o livro escrito por Margret, foram realmente ele amaldiçoando Dore Strauch.

E finalmente, outra "mentira" que considero relevante, é que embora os 3 grupos se odiassem (e principalmente, que todos odiassem a Baronesa), não há nenhum relato de que ela mandava roubar provisões dos outros grupos, e que ficasse maquiavelicamente jogando um grupo contra o outro; de qualquer forma, alguns incidentes (como o da morte do burro), de fato aconteceram.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Conheça QUINZE novos ótimos jogos lançados para o Mega Drive nos últimos dez anos

Uma das vantagens de ser um console de videogames tão bom e memorável é que mesmo após mais de 35 anos de seu lançamento, o SEGA Mega Drive mantém uma grande e apaixonada comunidade que continua desenvolvendo novos jogos para seus fãs.

A cada ano temos vários bons jogos inéditos sendo lançados mundialmente, e sendo eu mesmo um destes fãs do Megão, resolvi fazer uma seleção e trazer para vocês 15 dos melhores jogos que vi serem lançados nos últimos 10 anos. A lista segue abaixo, em ordem alfabética.


16Bit Rhythm Land (2019)

Lançada pela desenvolvedora japonesa Columbus Circle, o jogo traz 4 "mini-games" de rítmo, onde você tem que apertar um ou mais botões no momento exato para cumprir alguma ação. Dos quatro, gostei mais dos que trouxe as imagens acima: um onde você tem 3 botões para ativar escudos e se defender de bolas de fogo que vêm do espaço, e outro onde você é um rebatedor no Baseball. Se desde o surgimento de games como Guitar Hero e Rock Band jogos assim ficaram "comuns", para a biblioteca original do Mega Drive este tipo de jogo é praticamente inédito, o que torna tudo mais interessante.


Astebros (2023)


Agora vamos para o primeiro jogo desta lista feito pela Neofid Studios, desenvolvedora francesa que tem feito jogos complexos e de alta qualidade tanto para o Mega Drive quanto para o Super NES. Trata-se de Astebros, que se passa no mesmo universo de Demons of Asteborg, outro jogo da Neofid que se encontra neste artigo, e que aliás foi lançado primeiro, porém devido seu nome, virá depois por motivos alfabéticos..

Astebros é um jogo de plataforma roguelike, ou seja, além de combater muitos inimigos, terá que explorar muitos cenários resolvendo alguns quebra-cabeças. Ele permite até 2 jogadores simultâneos e dá o opção de jogar com 3 tipos de personagens com poderes bem distintos: Arqueiro, Cavaleiro e Mago, sendo esse último visualmente muito parecido com o personagem Gorpo do He-Man (ver na imagem acima à esquerda). São seis fases, e todas elas geradas randomicamente.

O jogo é bem bonito, com arte pixelada, e tem uma dificuldade alta. Ele permite a seleção de vários idiomas inclusive nosso Português e também está disponível para Nintendo Switch e Steam.


The Curse of Illmoore Bay (2021)

Se vocês percorrerem esta lista, perceberão que a maioria dos jogos tem uma abordagem "mais séria", porém este The Curse of Illmoore Bay é uma exceção. Apesar do tema "monstros", já que o jogo é temático de Halloween, o game é bem divertido e descontraído, com gráficos mais alegres e coloridos, tendo um visual mais de desenho animado. O jogo foi criado pela desenvolvedora estadunidense Second Dimension (que outrora se chamava Airwalk Studios), que já fez alguns jogos para o Mega Drive, porém seu maior catálogo são de jogos novos para o Nintendinho (NES).

The Curse of Illmoore Bay é um jogo de plataforma para 1 ou 2 jogadores simultâneos, com 18 fases bem variadas, e onde é possível escolher dentre 3 personagens para jogar. A trilha sonora é agitada e segue o padrão de qualidade do Mega Drive.


The Cursed Knight (2022)

A primeira vista The Cursed Knight aparenta ser apenas mais um jogo de plataforma... Ledo engano. Criado pela empresa francesa GGS Studio Creation, o jogo tem sim sua parte "plataforma", que aliás utiliza bastante de uma interessante mecânica: com um dos botões você altera a gravidade do cenário, fazendo seu personagem ser "puxado" para cima ou para baixo da tela.

Porém, em várias partes do jogo, o "Cavaleiro Amaldiçoado" que controlamos acaba voando e atirando raios nos inimigos, como se fosse uma "nave"; ou seja, The Cursed Knight também tem partes de shoot‘em up!

Com 10 fases distribuídas em 5 estágios, The Cursed Knight tem inimigos variados (e chefões de fase bem desafiadores), você controlando alguns veículos, gráficos e trilha sonora muito boas e abuso (de modo muito bem feito) dos efeitos parallax. Uma boa pedida para quem procura um jogo bem diferente, difícil, mas não muito longo.

 

Demons of Asteborg (2021) 


Agora sim, falaremos sobre o Demons of Asteborg, também criado pela Neofid Studios e que citei anteriormente. Trata-se de um jogo de ação / plataforma em 2D ao estilo Metroidvania. Assim como em Astebros, o jogo também apresenta vários diálogos (e tem Português como opção de idioma) e o herói também precisa resolver alguns quebra-cabeças, porém em quantidade bem menor. Aqui é mesmo bem mais ação que exploração. E assim também igualmente ao posterior jogo Astebros, estamos diante de um jogo longo, difícil, e belíssimo, com arte pixelada e atenta nos mínimos detalhes.

Na trama, você controla Gareth, filho de um lendário guerreiro com uma feiticeira, para impedir a invasão do demônio Zadimus e seu exército que está destruindo a humanidade. É curioso ver que além das homenagens óbvias a jogos como CastlevaniaGhouls’n Ghosts, há uma fase em que o jogo se torna algo similar ao Space Harrier, com tiro em primeira pessoa em 3D, conforme imagem acima, à direita.

Tanto Demons of Asteborg quanto Astebros são jogos que não devem nada em qualidade, duração e complexidade comparado aos grandes jogos clássicos licenciados lançados pelas grandes produtoras de jogos dos anos 90.


Hayato's Journey (2024)

Aqui temos uma surpreendente "continuação" do clássico jogo Kenseiden, do Master System, feito por dois brasileiros: o desenvolvedor Master Linkuei e o compositor Edmo Caldas. Com belos gráficos e trilha sonora, o game aproveita elementos de jogos como o próprio Kenseiden, de Spellcaster (também do Master System) e jogos da franquia Shinobi no Mega Drive.

O resultado foi um jogão de samurais no mais alto nível, confesso que me diverti muito ao jogá-lo. E a ROM do jogo está disponível para baixar gratuitamente no site oficial de Hayato's Journey.


Life on Mars: Genesis (2022)

Mais um jogo do estilo Metroidvania, criado pela desenvolvedora espanhola Kai Magazine Software. Curiosamente, eles são especializados em criar jogos para computador - especialmente MSX - e lançá-los via revista, inclusive criaram e lançaram um Life on Mars para o MSX em 2015. Este Life on Mars: Genesis é uma versão "remake" deste jogo... expandida e com gráficos melhorados, já que foi feita para uma plataforma com mais capacidade, o Mega Drive.

Em Life on Mars: Genesis uma base científica foi instalada em Marte, ela descobre uma bactéria no planeta, e dias depois, para de se comunicar com o exterior. Você é o técnico que foi convocado para entrar na colônia e reestabelecer as comunicações...

O jogo é bem difícil, com mapas extensos e com aquela música de suspense / terror constante para não te dar sossego. Um dos jogos mais difíceis desta minha lista, mas que por ter savepoints, pelo menos terminá-lo se torna possível. Gráficos excelentes, o estilo de jogo lembra os jogos Alien 3 e Abuse, ambos da década de 90.


Hunter Girls (2023)


Lançada pela PSCD Games, uma produtora russa, Hunter Girls lembra o clássico jogo The Lost Vikings pois aqui também controlamos 3 personagens simultaneamente, cada um com uma habilidade bem distinta, e que juntos são usados para superar quebra-cabeças e avançar em fases, outra similaridade é que ambos tem temática de fantasia medieval.

Porém, uma enorme diferença é que Hunter Girls é um jogo de plataforma / ação, e os 3 personagens (as 3 caçadoras, no caso), estão sempre correndo, sem parar, em direção à direita da tela; portanto, resolver os obstáculos do jogo são na verdade uma corrida contra o tempo. Agnes resolve as coisas no corpo-a-corpo: ela possui uma espada e um escudo; Kim atira à distância com seu arco e flecha; e Flora defende o grupo de ataques mágicos. Jogo bem difícil e desafiador, mas um bocado diferente do que existe para o Mega Drive.


Mad Stalker: Full Metal Forth (2020)


Agora vamos ao primeiro jogo da lista que foi cancelado no passado, e que pôde enfim ver a luz do dia décadas depois. Mad Stalker: Full Metal Forth é um beat 'em up de ação lateral desenvolvido pela Fill-in-Cafe e lançado pela Family Soft em 1994 no Japão, para alguns modelos de computadores locais e para o PC Engine Arcade CD-ROM. Desde o início ele foi planejado para também ser lançado para o Mega Drive, porém o projeto foi cancelado devido altos custos.

Em 2020 o jogo foi resgatado, finalizado e lançado pela Columbus Circle. O que eu acho muito empolgante em Mad Stalker: Full Metal Forth é que apesar de ser um jogo de ação lateral, você controla um robô bem grande com direito a muitas variedades de golpes, como se estivesse em um jogo de luta 1 contra 1. O jogo é difícil e bem bonito. Vale bem a pena conhecer!


P-47 II MD (2025)


Lançado neste ano, P-47 II MD se trata da versão para Mega Drive do jogo P-47: The Phantom Fighter, um jogo que saiu em 1988 nos fliperamas, criado pela NMK e publicado pela Jaleco. Os planos eram que ele fosse lançado para o console da SEGA em 1990, mas o projeto foi cancelado. Em 2024 a City Connection Co., empresa japonesa que comprou a Jaleco, contratou a Habit Soft para finalizar o jogo. Para nós brasileiros, a distribuição do jogo é feita pela BUG (Big Uncle Games), que começou a vender o jogo fisicamente em cartucho desde a Retrocon 2025.

O game é um jogo de tiro horizontal para 1 jogador e que se passa na 2ª Guerra Mundial. Você controla um avião modelo Republic P-47 Thunderbolt, e diferentemente da versão arcade, aqui você está sempre acompanhado de 1 ou 2 aviões menores com habilidades diferentes, que soltam bombas ou habilitam escudos, e também enfrenta gigantes chefões de fase. Os gráficos são realmente excelentes; já em termos de som, diria estar na média do console.


Pier Solar and the Great Architects (2010)

Existem dezenas de novos jogos de RPG para o Mega Drive por aí, e optei então por trazer para esta minha lista apenas um deles - talvez o mais famoso - mesmo que seja uma pequena trapaça, já que ele foi lançado em 2010, ou seja, há mais tempo do que os tais dez anos atrás.

Lançado pelo pequeno estúdio independente estadunidense WaterMelon, o jogo é uma superprodução que levou mais de 5 anos de desenvolvimento e resultou em um cartucho de 64 megabits de tamanho, o que o tornou o maior jogo do Mega Drive até então.

Na história controlamos Hoston, um jovem aprendiz de botânica que sai de casa em busca de uma misteriosa erva que "pode" curar seu pai doente. Porém, ao longo de várias aventuras, a trama vai crescendo até ele se envolver com o "Pier Solar e os Grandes Arquitetos".

O jogo é um RPG japonês das antigas, com batalhas por turnos, e foi elogiadíssimo pela crítica especializada pelos seus gráficos, trilha sonora e história. Porém em termos de jogabilidade, teve notas apenas medianas. Como pontos negativos, foram apontados muitos labirintos difíceis e mecanismo de batalha repetitivo. Por outro lado, o jogo ficou tão famoso que foi portado anos depois até para os PlayStation 3 e 4, Wii U e Xbox One. Nada mal para um modesto game indie

Curiosidade: o jogo tem tradução para 6 idiomas, sendo um deles o Português, e isso não foi uma simples coincidência, afinal, um dos principais designers do jogo é o brasileiro Túlio Adriano Gonçalves.


Shaolin Carcará (2022)


Outro jogo brasileiro, criado pelo estúdio Mangangá Team e lançado em cartucho "2 em 1" junto com um jogo bem inferior de nome Irmãos Aratu. Shaolin Carcará é um bom jogo de ação / plataforma onde temos um "monge" lutando contra monstros clássicos de terror e outros que lembram levemente nosso folclore. O game é curto, com apenas 3 fases, mas é muito bem feito e com gráficos de arte pixelada. Ah, e também comporta 2 jogadores simultâneos. Como Shaolin Carcará 2 já está sendo desenvolvido, a ROM deste jogo pode baixada gratuitamente no site oficial dos desenvolvedores.


Tanglewood (2018)

Tanglewood é um jogo indie lançado por um grupo de desenvolvedores britânicos da Big Evil Corporation, e que recebeu muitos prêmios da crítica especializada. Trata-se de um jogo de plataforma, com vários "quebra-cabeças". Nele você controla Nymn, uma criatura parecida com uma pequena raposa, que se perdeu do seu grupo ao entardecer. Seu objetivo é chegar são e salvo até sua casa, sobrevivendo aos perigos da noite e as aventuras da manhã.

O jogo, como se pode ver nas imagens, é belíssimo. E lembra muito os grandes clássicos dos 16 bits dos jogos da Disney. Devido o alto número de prêmios recebidos, e atenção que recebeu da mídia especializada, Tanglewood foi responsável por impulsionar mais desenvolvedoras a criar novos jogos para o Mega Drive a partir de então.


Xeno Crisis (2019)


Lançado pela britânica Bitmap Bureau, o jogo de run and gun lembra clássicos como Smash TV, Alien Syndrome e Mercs. No jogo invadimos locais abandonados, matando centenas de alienígenas e resgatando humanos perdidos. Pode ser jogado em 1 ou 2 jogadores (muito divertido se jogado em dupla), e cada personagem têm a sua disposição diversos tipos de armamentos, sendo todos com tiro limitados (com exceção de sua faca).
 
O jogo tem gráficos bem coloridos e também conta com pixel art. É bem desafiador, com chefões gigantes, prometendo mapas e elementos randômicos. Seu lançamento original foi para o Mega Drive, Dreamcast, Nintendo Switch e Steam, porém depois ele também foi portado para o PlayStation 4, Xbox One e Neo Geo.


Paprium (2020)


E por fim... Paprium. Há um motivo para eu ter deixado ele por último da lista, contrariando a ordem alfabética. Paprium é a cereja do bolo, pela sua qualidade, raridade, e polêmicas...

A primeira e menor polêmica vem do fato de que ele tem gráficos tão elaborados, que para rodar no Mega Drive dentro do seu cartucho (sim, ele foi lançado em mídia física e até hoje só funciona 100% desta maneira) há um chip de processamento extra, chamado de "DT128M16VA1LT". Então com isso pode se dizer que o jogo "trapaceou" para rodar no Megão? Não necessariamente, já que o jogo de corrida Virtua Racing, lançado oficialmente pela SEGA em 1994, também tinha um chip de processamento extra dentro dele, o "Sega Virtua Processor" (SVP), e nem por isso houve na época qualquer contestação de que não seria um jogo legítimo do console.

Outra polêmica é sobre o produto entregue em si: Paprium, que também foi produzido pelo ambicioso estúdio WaterMelon, o mesmo do jogo Pier Solar, vendeu seu game via financiamento coletivo, no qual arrecadou quase 1 milhão de dólares. Após quase 8 anos de adiamentos, muitos compradores receberam seu jogo direitinho, porém muitos outros nunca receberam seu produto até hoje.

Além disso, existiram várias reclamações de usuários de que Paprium não rodava em seu Mega Drive. A WaterMelon retrucou dizendo que o jogo foi feito para rodar apenas em consoles nativos da SEGA e, de fato, a maioria das reclamações vinham de consoles mais novos produzidos por outras empresas, como por exemplo a Analogue, que se deu ao trabalho de lançar um firmware para corrigir o problema. Conforme este vídeo de gameplay feito por um brasileiro, o jogo rodou no Mega Drive modelo 1 da TecToy de 1992, e inclusive já automaticamente se configurou para o idioma Português. Em 2021 a WaterMelon lançou outra campanha no Kickstarter, agora para lançar seu Paprium no Steam, PlayStation 4 e 5, e Nintendo Switch. A promessa de entrega era pra Dezembro de 2022... mas até agora o jogo não saiu para nenhuma destas plataformas...

Polêmicas a parte, Paprium é um jogo de beat 'em up para 1 ou 2 jogadores, com gráficos e som espetaculares, e inspirado em Streets of Rage (principalmente) e Final Fight. Pode se dizer que as "homenagens" destes jogos foram até exageradas, pois há quem acuse que o visual de vários inimigos de Paprium foram "copiados" destes dois jogos. Ah sim: com sua chegada, Paprium superou Pier Solar e passou a ser o maior jogo do console em tamanho de dados: 80 megabits.

Os 5 personagens do modo "Original" e os 3 do modo "Arcade"

Para quem jogou Paprium, a análise é que o jogo é realmente bom, embora falte originalidade em termos de gameplay. O maior destaque fica mesmo para gráficos e som, estes sim acima de tudo que se espera para um console 16 Bits. O game pode ser jogado com o controle original de 3 botões, mas foi feito para ser jogado com o controle de 6 botões. São 5 personagens distintos para se jogar no modo "Original" (maior, mais difícil, e com direito a breves cutscenes) e outros 3 personagens para se jogar na versão "Arcade". Além dos tradicionais itens de "comida" para recuperar sua vida/energia, há também "pílulas" de uma substância que te deixa mais forte e aplicando apenas golpes especiais por um tempo bem limitado.

Ah... e lembram que eu disse acima que o jogo só funciona 100% em mídias físicas? Pois é... mesmo tendo sido lançado em 2020, até hoje não conseguiram emular ele direito. Depois de muito esforço da comunidade gamer, somente no final do primeiro semestre de 2025 conseguiram realizar o feito... mas com restrições. A emulação de só funciona em um RetroArch modificado, e ainda assim, com alguns pequenos bugs gráficos e principalmente sonoros.



PS (jogo bônus): a imagem que aparece no título deste artigo não é de nenhum dos quinze jogos da lista, e sim do ainda inédito jogo Earthion, cujo lançamento para o Mega Drive, incluindo em mídia física, está previsto para 2026. O jogo foi lançado em Julho de 2025 na Steam, e em Setembro de 2025 para PlayStation 4 e 5, Xbox Series X/S e Nintendo Switch.

O grande diferencial de Earthion é que sua trilha sonora é feita por Yuzo Koshiro, lendário compositor e produtor de músicas de videogames, responsável pela trilha sonora de dezenas de jogos, dentre elas os das séries Ys, The Revenge of Shinobi e Streets of Rage. Ainda assim, o brilho de Earthion não deve ficar só na música... seus gráficos prometem ser excepcionais, e com uso incrível de efeitos parallax.

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